Meu nome é Olívia e essa é minha história…
Ela começou em 12 de janeiro de 2010, inconscientemente. Naquele dia aconteceu uma das maiores tragédias deste século, um terremoto muito forte atingiu o Haiti. Mais de 200 mil pessoas morreram e outras 1,5 milhão ficaram desabrigadas.
Na época, eu era operadora de telemarketing e vendia assinaturas de um grande jornal. Fiquei muito chocada com as notícias e fotos que vinham do Haiti. Dá uma sensação de impotência. Depois de algumas semanas da tragédia, o fato já não interessava mais a mídia.
Entrei no curso de jornalismo. Em 2012, fiz um curso de jornalismo em situações de conflitos armados, e nessa época, o fluxo imigratório de haitianos estava começando a se intensificar em São Paulo, conversei com quatro deles para escrever uma matéria. Aquilo me marcou. Dali em diante, continuei a ler, pesquisar e fazer reportagens sobre o Haiti.
O trabalho dos militares brasileiros na Minustah, Missão da ONU no Haiti, acabou virando o tema do meu TCC, escrevi um livro. Eu vinha tentando ir para o Haiti, conseguir uma viagem. Então, eu ficava sempre no 'pé' do Ministério da Defesa para tentar ir ao país.
A viagem ia acontecer em junho, mas teve a Copa e a segurança no país precisou ser reforçada. Algumas vezes eu tive o alarme falso da viagem. E nada da tal viagem.
Quando foi 2 de março deste ano, de manhã, vi o DDD 61 no meu celular, que é de Brasília, não sei o que era, mas eu senti, tive a certeza que era uma boa notícia. ‘Alô, Olívia. E aí, ainda quer ir pro Haiti?’, disse o coronel. Tive que correr contra o tempo, foram uns 15 dias para preparar tudo, conversar com o chefe, criar e as pautas, marcar entrevistas, falar com os haitianos aqui.
Uma das minhas principais pautas no Haiti era reconstruir histórias de famílias que estão separadas, dos que vivem aqui para trabalhar e dos que estão sendo beneficiados com isso por lá.
Dos haitianos que entrevistei em São...
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Meu nome é Olívia e essa é minha história…
Ela começou em 12 de janeiro de 2010, inconscientemente. Naquele dia aconteceu uma das maiores tragédias deste século, um terremoto muito forte atingiu o Haiti. Mais de 200 mil pessoas morreram e outras 1,5 milhão ficaram desabrigadas.
Na época, eu era operadora de telemarketing e vendia assinaturas de um grande jornal. Fiquei muito chocada com as notícias e fotos que vinham do Haiti. Dá uma sensação de impotência. Depois de algumas semanas da tragédia, o fato já não interessava mais a mídia.
Entrei no curso de jornalismo. Em 2012, fiz um curso de jornalismo em situações de conflitos armados, e nessa época, o fluxo imigratório de haitianos estava começando a se intensificar em São Paulo, conversei com quatro deles para escrever uma matéria. Aquilo me marcou. Dali em diante, continuei a ler, pesquisar e fazer reportagens sobre o Haiti.
O trabalho dos militares brasileiros na Minustah, Missão da ONU no Haiti, acabou virando o tema do meu TCC, escrevi um livro. Eu vinha tentando ir para o Haiti, conseguir uma viagem. Então, eu ficava sempre no 'pé' do Ministério da Defesa para tentar ir ao país.
A viagem ia acontecer em junho, mas teve a Copa e a segurança no país precisou ser reforçada. Algumas vezes eu tive o alarme falso da viagem. E nada da tal viagem.
Quando foi 2 de março deste ano, de manhã, vi o DDD 61 no meu celular, que é de Brasília, não sei o que era, mas eu senti, tive a certeza que era uma boa notícia. ‘Alô, Olívia. E aí, ainda quer ir pro Haiti?’, disse o coronel. Tive que correr contra o tempo, foram uns 15 dias para preparar tudo, conversar com o chefe, criar e as pautas, marcar entrevistas, falar com os haitianos aqui.
Uma das minhas principais pautas no Haiti era reconstruir histórias de famílias que estão separadas, dos que vivem aqui para trabalhar e dos que estão sendo beneficiados com isso por lá.
Dos haitianos que entrevistei em São Paulo, a Abel foi uma que me marcou muito. Ela tem no braço até hoje cicatrizes de quando ficou soterrada no terremoto. Mas não é por isso, como a maioria do povo haitiano, que ela deixa de exibir um sorriso no rosto. Mas isso some quando ela fala dos dois filhos, de 8 e 12 anos, que não vê há três anos. A Abel não consegue trazê-los para cá para por uma série de burocracias do consulado, de documentos que não têm.
Então, eu desembarquei no Haiti em uma terça-feira, na quarta fui para rua. Por mais que você lê, se informe--fiquei três anos fazendo isso, mas pisar e sentir o cheiro do lugar é outra coisa. É intenso. Mas essa é a função do jornalismo, comunicar. A gente não muda o mundo.
Então, chegou o dia de conhecer os filhos da Abel, que vieram de longe, oito horas de viagem. Acho que nunca vou esquecer do olhar vazio e triste da Marthilinda, do choro dela ao falar da mãe. Um choro que se encontrou com o da mãe, sem saber.
No jornalismo, a gente não deve se envolver com as histórias, o que não é fácil, somos humanos. Voltei. Escrevi as reportagens. E a Abel ficou bem feliz com o meu trabalho, uma semana depois o consulado chamou seus filhos para agilizar o visto. Mas ainda não deu certo, ela teve problemas com os documentos.
Depois do Haiti, as coisas mudaram. Em toda reportagem, a gente amadureci profissional e pessoalmente um pouquinho, mas essa foi um 'poucão'. Hoje, eu reclamo menos da vida, do transporte lotado… admiro ainda mais o povo haitiano, amo mais minha profissão e tenho a certeza do quão importante ela é para a sociedade.
Ah, o Haiti, você sai do Haiti, mas o Haiti não sai de você. E eu quero voltar.
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