Projeto: Memória dos Brasileiros - Módulo Maués - Saberes e Fazeres
Depoimento: Victor Nogueira
Entrevistado por: André Machado e Thiago Majolo
Local: Maués, 23/01/2007
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista: MB Maués HV 006
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Thiago Majolo
P/1 – Seu Victor, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Então, para começar, eu gostaria que o senhor dissesse para a gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – O meu nome completo é Victor Nogueira. Eu nasci em Cobija, Pando, na Bolívia. Em seis de dezembro de 1930.
P/1 – Queria que o senhor falasse um pouco sobre a origem dos seus pais.
R – O meu pai era cearense de Limoeiro. E minha mãe era amazonense de Canutama. Eu nasci na Bolívia, mas meus pais brasileiros me registraram no Consulado Brasileiro. Então eu sou brasileiro nato. Eu fiz a maior parte dos meus estudos foram na Bolívia, né? Porque meus pais se radicaram lá. Desde o tempo da borracha meu pai veio do Ceará para cá, para a borracha. E lá se radicou lá, morou, casou lá também com uma, essa, minha mãe. Brasileira daqui, amazonense. Só que casou no Acre, em Brasiléia. Lá eles se radicaram. Moraram muitos anos. Depois meu pai viajou já depois de uns 30, 40 anos ele viajou para Belém. E lá ficou morando o resto da vida dele. E minha mãe veio para Manaus. Foi onde ela morou o resto também da vida dela. Eu nasci em Cobija. E a maior parte dos meus estudos foram na Bolívia. Fiz o primeiro e segundo grau em Cobija, e o curso superior em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia. Da Universidade Gabriel René Moreno. Tive o meu primeiro emprego na própria Bolívia mesmo. Logo assim que regressei. Logo assim que terminei meus estudos. Tive meu primeiro emprego. Eu ia ser, eu ia me empregando no Banco Agrícola de Cobija. Mas depois me jogaram para a Agência de Fomento Agrícola, onde permaneci mais de um ano. Logo em seguida fiquei na Sanidade de Reparo. E em 58 viajei para Rio Branco, Acre. E fiz uma entrevista lá com o Governador do Acre. O Valério Caldas de Magalhães. Naquele tempo era governador do Acre. Eu tinha um tio muito influente lá junto ao governo, Zeca. José Vieira. E ele me levou, me apresentou ao governo, ao Governador Valério Caldas. E eu, e fui logo, se eu quisesse trabalhar no outro dia já podia começar. Mas eu voltei à Cobija parar trazer as minhas coisas. Aí voltei à Rio Branco. Onde fui, permaneci um ano em Rio Branco, Acre, como chefe da estação experimental. Fiz bonitos trabalhos lá. Eu desisti de permanecer no Acre porque naquele tempo quem dominava lá era a estévia. Pagavam de seis em seis meses o ordenado. Eu não agüentei ficar seis meses sem dinheiro, comprando fiado. Eu tinha que fazer lazer também. Não agüentei.
P/1 – E lá no Acre era para mexer com seringa, é isso?
R – No Acre eu mexi com seringa. Mexi com tudo no Acre. Fruticultura, fiz experimento com leguminosas, castanha, e fiz um viveiro grande de cítrico. Fiz, é, não trabalhei mesmo em seringa lá no Acre, em Rio Branco. Mas eu trouxe, eu já tinha feito, passado, já tinha ficado seis meses no Serviço Agrícola Interamericano Borracha, em Riberalta, Beni, Bolívia. Onde lá eu fiz esse curso de seringa. E fiquei bem em seringa. Quando eu vim para o Acre eu queria trabalhar em seringa junto ao, naquele tempo o diretor da seringa era o José Zaguri. Hoje eu não sei, parece que ele deve estar em Belém. Não sei. E mas, o governo achou por bem me jogar para a Estação Experimental. E fiquei lá um ano. Eu desisti porque o pagamento era de seis em seis meses, eu não agüentei. Quando eu saí de lá do Acre a minha intenção era ir para Belém para trabalhar em seringa. Eu estava bom em seringa. Estava bom, eu posso dizer que estava bom em seringa. E quando cheguei em Manaus a minha irmã - eu tenho uma irmã em Manaus - ela disse: "Victor, não viaja pra Belém, fica aqui com a gente, tal. Tu vai arranjar um emprego aqui, fica com a gente." E me deu aquela coisa, assim, com o que minha irmã estava dizendo. Eu, naquele tempo quando eu cheguei em Manaus não tinha ônibus. Tinha um tipo um ônibus, dava outro nome. Bonde, parece, bonde. Um negócio assim. Eu estava na fila, só tinha uns três bondes em Manaus. Manaus não tinha carro. Hoje quem te viu quem te vê Manaus, uma beleza, Manaus.
P/1 – Para entender, o senhor saiu da Bolívia para o Acre em que ano?
R – Foi.
P/1 – Mas em que ano que foi?
R – Em 58.
P/1 – Aí o senhor vai para Manaus em que ano?
R – Aí fiquei um ano no Acre. Aí eu pedi a demissão porque não agüentei esse negócio de receber de seis em seis meses. Eu digo: “Eu vou é-me embora daqui." E saí de lá e fui para Porto Velho, fui para Porto Velho querendo, ah foi aí aonde eu queria trabalhar em seringa. Era no, em Porto Velho. Aí fiz uma visita ao governo de Porto Velho. Era um militar. Aí ele disse: "Victor, nós temos uma boa referência sua. Mas eu só posso lhe empregar em janeiro. Porque tem uma lei do Juscelino que ninguém pode empregar nem desempregar. Admitir, nem demitir." Eu disse: "Tá bom." "Se você tiver paciência de esperar até janeiro." Isso era já setembro. Aí eu disse: "Poxa vida, esperar até janeiro? Não, não vou ficar aqui não. Eu vou é-me embora - aí digo - vou para Belém." Foi quando eu viajei. Peguei um navio, Leopoldo Peres, em primeiro de novembro de 59. E viajei durante cinco dias no navio. Cheguei em Manaus, eu tinha essa irmã, levava o endereço. Procurei. O bonde passou, onde eu tinha que, aonde eles tinham que parar para me deixar. Eu pedi para a moça lá: "Eu quero ficar nessa..." "Pois não, a gente passa lá onde o senhor vai ficar." "Tá bom." Passou. Eu digo: "Olha, eu..." "Ai, meu senhor, é verdade. Já passamos, mas na volta eu lhe deixo." "Tá bom." Na volta ele me deixou. Na bola. Aí já era a rua, né? Eu tinha que procurar o número. Rua dos Milhares. E o número. Dei com o número. Era um comércio. Tinha um senhor lá, um já meio coroa. Olhava para o número, eu digo: "Mas é esse mesmo." Eu olhava. "Meu senhor, o que é que o senhor procura?" Eu digo: "Olhe, eu tenho um endereço aqui, de uma irmã. A rua é esta e o número é este aqui." "Ah, meu senhor, aqui é uma vila só. O número é o mesmo. Ela mora lá no fundo." Aí eu fui lá, era, minha irmã morava lá atrás. Aquela alegria, tal. Foi quando ela disse: "Fica, não vai para Belém. Fica aqui em Manaus. Tu vai arranjar emprego.
P/1 – Deixa eu perguntar uma coisa, senhor Victor, essa era a única irmã que o senhor tinha?
R – Não.
P/1 – O senhor teve quantos?
R – Em Manaus a única que morava em Manaus. Ela foi para Rio Branco, em Rio Branco ela se casou e foi para Manaus.
P/1 – E o senhor teve quantos irmãos no total?
R – Nós éramos oito irmãos.
P/1 – E eles seguiram que profissões? Tem outros engenheiros agrônomos na família?
R – Não, não tem. Não tem. Eles fizeram, atingiram o segundo grau mas nunca...
P/1 – Só o senhor que fez o superior?
R – Só eu que tive aquele privilégio, aquela sorte, né, de...
P/1 – Por que, qual foi a...?
R – Eu não sei. Às vezes eu fico pensando, eu escrevi assim em um caderno: "Meu Deus ajuda-me a arranjar uma profissão." Com poucos dias, isso, eu fico pensando, de vez em quando vem isso à tona e fico pensando. Pede, antes de tu pedir já vem. Então eu pedi, não demorou menos de um mês o banco teve duas beca. Lá dá o nome de beca. Bolsa. Duas beca. Louçano, Louçano e eu. Aí nós viajamos para Santa Cruz. Tudo pelo Banco da Amazônia. O Banco da Amazônia.
P/1 – Que atuava lá na Bolívia.
R – É. Era boliviano. Da Amazônia. Porque a Amazônia. E nos mandaram, nós dois. Nós viajamos para Santa Cruz. Tudo por conta do banco. Pagava uma mensalidade, alimentação. Sobrava uma coisinha para lazer, aquela coisa toda. Lavagem de roupa.
P/1 – E por que é que o senhor escolheu ser engenheiro agrônomo?
R – Era o que viesse. Eu queria era uma profissão. Mas eu já gostava de planta desde criança. Eu gostava muito. Arrancava assim plantas e levava para a minha mãe : "Mamãe, olha essa planta bonita." Dava para ela. Minha mãe gostava muito de planta.
P/1 – O senhor entrou na faculdade com quantos anos, mais ou menos?
R – Quatro anos.
P/1 – Durou quatro anos. Mas qual era a sua idade quando o senhor entrou na faculdade?
R – Quando eu entrei na faculdade eu tinha 19 anos. Saí com 23, mais ou menos.
P/1 – Era bem jovenzinho então.
R – Jovem.
P/1 – E o que é que o senhor fazia além de estudar e trabalhar?
R – Como?
P/1 – Além de estudar e trabalhar nessa época, o que é que o senhor fazia?
R – Não, só fazia estudar mesmo.
P/1 – Só estudava?
R – Eu não tinha emprego. Porque o banco...
P/1 – Ah, tá...
R – ...custeava toda a despesa. Dava alimentação. A alimentação era próprio colega lá, tinha lá. Tinha um que fazia contato de alimentação. Lavagem de roupa tinha uma senhora. Eu fiquei lá, lá mesmo, quatro anos.
P/1 – A sua família então não foi junto para Santa Cruz.
R – Não, não. A minha família ficou em Cobija. Minha mãe , meu pai.
P/1 – E o que é que o senhor fazia lá para se divertir, por exemplo?
R – A sobra do dinheiro da refeição, da, é que a gente ia ao cinema. Naquele tempo estava no auge o cinema, né?
P/1 – Hum, hum.
R – O cinema, aos clubes.
P/1 – O que é que o senhor gostava de ver no cinema?
R – Eu gostava de ver assim aqueles filmes americanos, Clark Gable era um grande artista naquele tempo, né? Ator, aquelas artistas muito americanas. Onde tinha um filme americano eu ia lá.
P/1 – O senhor se lembra assim...
R – Mexicano também, eu gostava muito também. Filme mexicano, Jalisco, né? Eu gostava muito.
P/1 – E tinha bastante cinemas por lá?
R – Ah, muito, e bonitos. Em Santa Cruz, né? Era uma cidade já bem avançada.
P/1 – Mas então aí senhor estava contando para a gente que o senhor chega em 59 em Manaus, não é isso? E encontra sua irmã.
R – Foi. Em 59. Em cinco de novembro, mais ou menos. Cinco de novembro de 59. E eu estava na fila esperando o bonde, bonde, né? Eu tinha conhecido um rapaz, o Guálter, ele tomava conta dos viveiros de seringa em Rio Branco, Acre. Era, ele conhecia Zaguri, Zaguri era o chefe dele, né? Elias Zaguri. Bateu no meu ombro, eu estava lendo jornal, procurando emprego no jornal. "Hei, Victor, o que é que tu faz aqui?" "Guálter, tu aqui rapaz? Poxa." "O que é que tu faz aqui, rapaz?" Eu digo: "Eu estou indo para Belém." "Tu vais para Belém?" "É, eu vou atrás do Zaguri." Era o chefe dele. "Não rapaz, não vai não. Zaguri está em Salinas. Fica aqui que eu vou te apresentar o Solon Gonçalves, que é o diretor da Papel Amazon. Que tem um fomento agrícola que está precisando de agrônomos. Quem sabe ele não te leva lá, te apresenta, e... Domingo o Solon Gonçalves vai fazer uma visita em Água Fria, nos viveiros de lá de seringa. Vais com a gente." Eu digo: "Tá, eu vou." "Tu espera no mercado grande." Eu digo: "Eu espero." Aí madruguei, fui esperar. Lá esperava, olhava para um lado e para outro e nada. Até que chegaram. O Solon Gonçalves com o Guálter. "Poxa vida, houve um atraso e tal, mas estamos aqui. Aqui é o diretor da Papel Amazon, Solon Gonçalves e tal. Vamos?" "Vamos." Nós seguimos para, tinha que atravessar o Rio Negro para ir para o outro lado, né, Água Fria. E aí tinha que ir a pé. Nós fomos a pé. E batendo papo. Todo o tempo, com o Solon, tal. Aquela risada do Guálter. E chegamos lá no viveiro do Guálter. Muito bonito, o Guálter entendia mesmo de seringa. "Então, aqui que é o nosso viveiro de seringa." Falei: "Está muito bonito, Guálter, parabéns. Bonito." "O Victor quer ir para Belém, ô, Solon, trabalhar em seringa." "Não, agüenta a mão aí que eu vou te apresentar o Caeté para ti. Que é o chefe do Fomento Agrícola." Eu digo: "Tá ok." "Amanhã você me espera em tal parte que nós vamos lá." Tá bom." Aí nós fomos, segunda-feira. Chegando lá entramos lá dentro da, estava lá o Caeté. Ele era paraense. Benedito Caeté Ferreira. Benedito Ferreira Caeté. Aí o Solon diz: "Esse é o Victor que está, veio do Acre, ele quer seguir para Belém trabalhar com seringa. E eu falei para ele que ia te apresentar. Porque tu foste ao Rio atrás de agrônomos e eles não quiseram vir trabalhar no Amazonas, porque dizem que aqui todo mundo é índio." Foram essas palavras mesmo. E eu só na escuta. "Tá bom, você..." Aí eu digo, aí batendo papo com Caeté: "Você venha..." Eu sei que coincidia com o Ano Novo, e mais sábado e domingo, eu tinha que voltar dia quatro de janeiro lá com ele. Aí eu voltei dia quatro de janeiro. Ele disse: "Vai lá naquela sala, pegue uma cadeira e se sente lá." Eu digo: "Tá bom." Fiquei lá sentado o dia todo. Levantava só para descansar. Tomar uma água. Era a Sessão de Pessoal. "Você vai ser o nosso chefe aqui da nossa sessão?" Eu digo: "Não, me mandaram sentar aqui, eu não estou sabendo de nada." "O senhor vai ser o nosso chefe?" "Não, não estou sabendo de nada. Me mandaram para cá. Que pegasse uma cadeira e me sentasse aqui." Passei três dias nessa agonia de sentar lá. Eu não agüentei e fui lá: "Dá licença?" "Pois não." "Olhe, eu não estou agüentando mais não. Eu quero é trabalhar." Aí ele disse: "Então se prepare que nós vamos lá para o horto, Parque Dez. Eu disse: "Tá bom." Aí me levou para lá. Aqui tem um propagador agâmico para enraizamento. Tome conta dele. Eu quero enraizamento de castanheira, baunilha, cacau." Eu digo: "Tá bom." "O chefe daqui do horto é o Dantas." O Dantas era chefe da, chefe da Escola Agrícola de Manaus. Chegou a ser diretor por muitos anos. Não sei se ainda é. Mas deve estar velho igual eu. Aí me dei logo com o Dantas. Eu falei assim: "Dantas, eu vou fazer uma limpeza nesse propagador." "Toma conta dele Victor, faz aí o que tu quiseres." "Tá bom." Aí eu fiquei lá . Fiz uma limpeza boa no propagador, nas caixas. São 10 caixas. Uma limpeza bonita mesmo. E enchi com areia e comecei a colher, forrei as tampas com sarrapilha. Tudo. O Dantas me dava toda cobertura. O que eu precisava ele me dava. O sistema de irrigação lá era por capilaridade. Bonito. Eu já sabia trabalhar com esse tipo de propagadores. Eles trabalhavam também com cacau. E enraizavam o cacau. E lá eu aprendi manejar o propagador. Tipo torrealba. E montei o propagador com tudo. Castanha, pedaço de estaca, pedaço de baunilha, cacau. Tinha mais outros lá que eu não me lembro mais. Aí era a minha loucura. Morava ali ao lado do propagador. Não podia enxugar. Tinha que permanecer úmido às tantas, era aquela agonia. Sábado e domingo, feriado eu estava lá. Faltou água. Eu disse: "Puxa." que vinha pelo reservatório, né? Faltou água. Aí fiquei doido. O Caeté aparece: "Como é que está aí?" Eu digo: "Está bom, só que faltou água." "Como?" "Faltou água. E se faltar água eu não vou ter sucesso. Porque me disseram que ele está fazendo um teste comigo." Então fiquei maluco. Eu tinha que segurar meu emprego. Era aquele momento. Aí ele foi e ralhou com o pobre Dantas. Porque tinha faltado água. Ai, só faltei chorar. O Dantas era meu amigo. Pensou que eu estava fazendo fuxico para eu ficar como chefe do posto do Parque 10, né? Quando ele foi embora eu digo: "Ô, Dantas, não leve a mal. Não foi proposital o que eu disse para ele que faltou água." "Não, eu vi tudo. Não te preocupa que Caeté é assim mesmo." Eu aliviei, né? E continuei mais dois dias. Aí lá vem Caeté. Todo dia ele estava lá. No carrão dele, bonito. "Você quer ir lá para Maués? Nós temos um posto lá. Lá é monocultura. Quem se dedicar à cultura de lá, que é o guaraná, vai ficar bom, feito na vida." Eu digo: "Eu quero." Eu estava na vida era para tudo. Eu digo: "Eu quero." E, eu digo: "Eu quero." Eu nem sabia de Maués nem nada, nem aonde ficava nem nada. Cheguei em casa: "Maura...", Maura, olha, minha filha... É: "Meire, o Caeté quer me levar para Maués, diz que tem um posto lá." "Vai, Victor, lá é cidade bonita, tem praias lindas. Vai para lá, vai. Aproveita. Ela me deu aquela coisa, aquela força. Eu cheguei lá eu digo: "Eu quero ir mesmo." "Então se prepare, depois de amanhã nós vamos viajar." "Tá bom." "Você mora na rua tal assim." "É, bem em frente o Dantas lá." 'Tá bom, eu passo cinco horas da manhã para pegar o avião no aeroporto e nós vamos para lá." "Tá bom." Peguei uma maletinha, arrumei minhas roupinhas e já fiquei na beira da, naquele tempo não tinha assaltante, não tinha nada. Era uma beleza Manaus. Fiquei na beira. Escuro, ainda meio escuro. Fiquei na beira dos bilhares esperando a passagem do Caeté, do carrão dele, para me levar para o aeroporto. Tinha o chofer dele. Que ele ia viajar também, vinha comigo. Lá vem eu digo: "Deve ser Caeté." Aí parou. Entrei. Nós fomos para o aeroporto. Era daqueles aviões que a Quatiza, né, Catalina. Chegamos em Maués. Entra na catraia a remo, de coisa. Lá no Acre chamam catraia. Deve ser a mesma coisa. Manaus tem ainda alguns, né? Que na faia, falha. Eu cheguei, nós fomos em um restaurante do, na Furna da Onça, do Edmundo tomar um café. Nós tomamos café, aí me levou pegou transporte da prefeitura para nos levar lá para o posto, que é aonde é a Embrapa. Ali era um posto onde é a Embrapa. Ali era um posto agropecuário.
P/1 – Isso já era que ano?
R – Aí já era em 60.
P/1 – 60.
R – Cheguei em Maués 26 de janeiro de 60.
P/1 – E qual foi a primeira impressão que o senhor teve da cidade?
R – Não foi mal não. Gostei. Olhei assim, só que não era como hoje é. Hoje Maués é bonita.
P/1 – O que é que era diferente?
R – A cidade ainda não tinha, ainda era pequena. O pessoal de Maués era muito assim amigo. Logo se davam com a gente. Eram acolhedores. Um pessoal acolhedor assim. Conseguiram logo amigos. Quando chegava uma pessoa, naquele tempo maués era pequeno, quando chegava uma pessoa de fora todos caiam em cima e tal, querendo saber, aquelas coisas todas. Para onde vai? O que é que vai fazer? E pronto. Comecei a gostar da cidade. Caeté me levou para o posto agropecuário Adolpho Ducke, o nome do posto. Aquele naturalista, né? "Victor, é aqui o nosso posto. Aqui só se trabalha em guaraná. Aqui só se fala em guaraná. Se dedique, o que você fizer pelo guaraná você vai se sentir bem. Porque ninguém sabe nada de guaraná ainda. É uma cultura que ninguém sabe ainda nada. Tem pouca coisa escrita." Ele é inteligente, o Caeté. "E eu vou voltar amanhã. Você fique aqui. Tem um jipe novo aí. Ainda não tem nem um ano. Tem essa casa aqui de morada. Você pode ficar aqui morando."Aí morar sozinho eu tinha medo. Mas era o jeito. O capataz do posto morava lá em frente. Seu, o Olavo Silva - aí seu Olavo batia um papo comigo até oito horas da noite, assim e vinha para casa. Ele era paraense. Aí ia embora. Eu fechava tudo bem fechado para poder dormir. A minha família, a Meire fez uma viagem para lá, para cá, já fazendo uma visita. Já eu como chefe do posto, tal. Ficou uns dois, três meses comigo. Ela mais, nesse tempo já, chegou outra irmã minha em Manaus. A Daiure. Aí ela foi para lá com a Dai. A Meire com a Dai. Ficaram lá comigo. Ficou mais bacana, já tive companhia delas. Elas cozinhavam, aquela alegria toda. Tinha o jipe novo, eu aprendi a dirigir aqui em Maués. Tinha o Jayme Benchaya, me ensinou logo a dirigir. Peguei logo. No mesmo dia eu já comecei a dirigir o, no mesmo dia que eu cheguei o Jayme Benchaya me ensinou a dirigir. E fiquei dirigindo o jipe. Mesmo em primeira, só andava em primeira. Depois de quase uma semana passei para a segunda. Para a terceira demorou. Mas aí já deu para andar. Eu tinha que fazer, meus primeiros dois meses eu tinha que fazer refeição na cidade. Vinha fazer refeição na cidade. Aí eu viajava no jipe sozinho e voltava. Almoçava, jantava.
P/1 – Porque era muito distante o posto do...
R – É, da cidade até lá na Embrapa são cinco, quase seis quilômetros. Não conhece a Embrapa? Aqui em Maués?
P/1 – A gente já passou em frente já.
R – No posto? O posto?
P/1 – Mas, isso. Já passou lá.
R – Na beira do Igarapé?
P/1 – Mas, é, o centro que o senhor fala é aonde hoje é o que?
R – O centro?
P/1 – Da cidade.
R – Ah, o centro que a gente dizia era ali onde tinha a igreja matriz, né, a praça de guerra. Ali era considerado o centro da cidade.
P/1 – E era muito diferente as casas, as ruas?
R – Era. As ruas de um modo geral todas eram feitas de palha. Eu estou falando mal de maués, né?
P/1 – Não.
R – Eram feitas de palha. As paredes de palha, as portas de palha, as janelas de palha. A pobreza, né? Hoje não existe mais. A não ser na beira mata. Acho que nem lá não existe mais. Uma casa feita toda de palha. Parede de palha, cobertura de palha, janela de palha, porta de palha. Era muito bonito. Mas isso acabou. Hoje já mudou tudo. Mas era, assim viviam. Tinha muita. Quase 60 ou 70% eram de palha. Só a frente, a frente que é a área comercial, é que tinha as casas melhores.
P/1 – Conta para a gente como que as pessoas plantavam guaraná quando o senhor chegou? Como é que era o método?
R – Quando eu cheguei em maués, aí eu digo: "É esse o pé do guaraná?" "É." Eu cheguei estava em plena colheita. Estavam colhendo lá no posto. Tinha um pessoal lá colhendo fruta. Tinha um guaranazal que quando a prefeitura doou o posto para o fomento, tinha um guaranazal lá, de uma senhora. Ela indenizou e ficou lá. Estavam colhendo os frutos desse guaranazal. Aí ia para lá, ver colher. Depois peguei um paneiro, paneiro pequeno, comecei a colher também. Aprender. Aí eu via como colhiam, né, se maltratavam muito, caíam os frutos no chão. Eu digo: "Por que não..." Feria a mão. Porque aquele raque, o talo central do guaraná é duro, e fere a mão. Eles tinham que fazer força ou tinham que fazer isso. Aí ficava com a mão toda ferida. Eu digo: "Por que não usam tesoura?" Consegui tesoura, no outro ano já. Tesouras de poda. Boas tesouras. Caeté me mandou. Pedi tesouras de poda porque eu queria introduzir a tesoura na colheita. Aí me mandou tesouras boas. E comecei a colher com tesouras. Não sei se alguns ainda aqui na região estão colhendo com tesoura. Eu sei que aqui dentro daqui, é só na tesoura. E assim eu fiz a, começamos a colher os frutos de guaraná lá, desse guaranazal. Só com tesoura. Só com tesoura. O pessoal naquele tempo plantava o seu guaraná com plantas retiradas das capoeiras da mata. Mudas. Sem saber a sua origem e a sua idade. Arrancavam, afofavam um pedaço de área dentro da mata, tipo um canteiro para plantar hortaliça. E deitavam, eles, o maço de guaraná, cortavam com assim, um feixe de 30 mudas assim, eles cortavam um pouco da raiz com um terçado. E cortavam todas as folhas. Ficava praticamente a mudinha que era arrancada da mata, ficava totalmente só mesmo o caule. Essas mudas eram deitadas naquele canteiro afofado. Na terra afofada. E cobriam com terra dali mesmo. Cobriam e deixavam só a pontinha da mudinha do guaraná, o terminal fora. Quando, isso eles faziam em dezembro, novembro, dezembro. No começo das chuvas. Com a sombra da mata mais as chuvas forçava a enraizar de novo o guaranazeirozinho e emitir ramos. Brotar. Vinha o lançamento. Aqueles que estavam lançando, quando chegava janeiro, fevereiro, eles achavam que o mês melhor para plantar era fevereiro. Eles iam lá dentro da mata, viam qual estava lançando, estava vivo, tiravam a terra de cima e puxavam a muda de novo, e plantavam aquelas mudas que estavam lançando. Usavam de um modo geral duas mudas. Faziam a cova com enxada, como quem vai plantar uma cana, pedaço de cana. E pegavam duas mudas e unia assim raiz com raiz, uma para cá, outra para cá, e jogavam terra. Sem pisar nem nada. Terra só a terra mesmo. Ali ela enraizava e, plantava de duas porque se uma morresse a outra, né? Era difícil morrer as duas. Daí que os guaranazais aqui, de um modo geral, eram de dois pés, juntos. Por causa disso. E eram mudas oriundas da mata, sem saber a sua origem, nem sua idade. Era assim que os guaranaicultores plantavam o seu guaranazal. Foi o que eu encontrei aqui, como era o sistema. E eu perguntei a seu Olavo, que era nosso capataz: "Seu Olavo, aqui nunca fizeram mudas de guaraná?" "Não, a semente não nasce." Ele disse 'nasce', né? "A semente não germina." Eu digo: "Por quê?" "Hum, só o senhor vendo." Eu digo: "Tá bom." "Levam semente daqui para o sul do país, chega lá quando vão plantar - ele disse plantar - não nasce." Eu digo: "Não. Será que demora muito, seu Olavo?" "Não, chega lá na hora eles já vão plantar e não nasce." "Tá bom." Aí eu peguei semente, peguei mil sementes, arranjei umas caixas de madeira, mandei fazer, com furos. E deixei a semente em cima assim de uma mesa, e cada dia, de uma planta só, cada dia eu plantava 100. Na areia, naquelas caixas. 100. No outro dia 100. E assim plantei, fiz a semeadura das mil sementes nas caixas. Aquelas do primeiro dia, segundo dia, uma germinação estrondosa. 93%, do segundo dia 80 e poucos. Aquelas do terceiro dia 70, e foi diminuindo. Foi diminuindo. No oitavo dia zerou, não germinou mais. E todo cuidado eu dava à irrigação, não umedecer demais, o calor, tudo. Não germinou mais. Daí eu digo: "Poxa vida, o guaraná tem o poder germinativo muito curto. É por isso que não germina lá fora. É por isso que aqui não fazem mudas de guaraná, de semente. - eu digo - Vou estratificar." Eu sabia estratificar semente, de ciclo assim, poder germinativo curto. A gente faz estratificação em areia, em camadas, e conserva ali a semente, o poder germinativo dela. Aí eu consegui, o poder germinativo, a primeira vez que eu fiz consegui 50 dias. Quando tira a semente da areia parece que colheu a semente naquele dia.
P/1 – Para você fazer isso você só mistura com areia, é isso?
R – Faz camada. Joga areia, joga uma camada de semente. Joga areia, quatro centímetros de areia, joga outra camada de semente. Joga outra camada de quatro centímetros de areia, a terceira camada de semente. Só. Termina com 20, 21, 22 centímetros de altura a caixa. Controla a umidade, não pode encharcar. Tem que ter uma temperatura, pouca, mas é, não muito calor. Daí que a gente tem que levar para debaixo de cobertura. E consegui. Depois já consegui 70 dias. Cheguei a conseguir 70 dias de conservação do poder germinativo da semente. E passei a formar mudas. Às vezes, atraso de viveiro, e fiz muito. Todos os anos a gente fazia aqui a estratificação de semente para, o viveiro atrasava. Não tinha palha, não tinha madeira, alguma coisa acontecia. E a semente já estava lá.
P/1 – E aí já existia a seleção de sementes?
R – É. No campo, no guaranazal a gente escolhia as plantas de mais produção, produtivas, sadias. Já fui sabendo mais ou menos como era o guaranazeiro. As doenças que atacavam. Tem esse, eu indaguei muito aos guaranaicultores daqui da região. Eu fazia visita. Pegava o jipe e disparava. Eu só não gostava ir navegando. Mas porque aqui dentro da cidade mesmo tinha muito guaranazal. Antigos, novos.
P/1 – Até que década teve muito dentro da cidade?
R – Depois que eu cheguei ainda permaneceu, mais ou menos, uns 15 anos a 20 anos. 15 anos, ainda permaneceu aqueles guaranazeiros, aqueles guaranazais. Depois foram desaparecendo. Desaparecendo. Hoje quase não tem aqui na redondeza quase não tem. Aqui dentro da área de Maués, mesmo, aqui mesmo não. Tem bem pouco. Mas tinha muito guaranazal naquele tempo. Foi quando nós fizemos aqui uma seleção de matrizes, primeira vez. Pedindo dos guaranaicultores a doação de plantas, só para colher o fruto. E era devolvido em sementes torradas para eles. Tanto eles davam dez quilos de semente crua, a gente devolvia para eles dez quilos de semente torrada. Eles ganhavam já torrada, não tinham o trabalho de colher e torrar. E um quilo cru é equivalente a meio quilo torrado, né?
P/1 – Meio quilo torrado.
R – Um quilo cru, lavado, quando torra fica em meio quilo. Um quilo, meio quilo.
P/1 – Esse trabalho que o senhor fazia ainda era no posto, é isso?
R – Era no posto, era.
P/1 – Então, só explica para a gente, para quem não conhece a história, não existia a Embrapa ainda, não é isso?
R – Não, não existia, não.
P/1 – Como é que chamava antes?
R – Era fomento agrícola mesmo.
P/1 – E fazia mais ou menos a mesma função que a Embrapa, é isso?
R – Era fomento. Era fomento. A gente formava mudas, começamos a formar mudas. Ela distribuía semente de juta, outras sementes. Tudo gratuito. Ferramentas. Formicidas para combate da saúva. Tudo era fomento. Ela dava tudo. E eu comecei a formar mudas por primeira vez, de semente em saquinhos. Pedi do Caeté que mandasse saquinhos, ele mandou, muitos saquinhos veio. E comecei a formar as mudas. Raspava o terriço de dentro da mata, o terriço, eu não pegava qualquer terra.
P/1 – O que é terriço?
R – O terriço é a camada superficial do solo, de dentro da mata. Roçava, tirava o grosso do lixo, né? E raspava. Transportava para fora, onde podia transportar em carreta. E levava lá para perto do viveiro. Lá enchia o saquinho e semeava. Tirava a semente da, já da areia. Ah, depois que tirava da areia tinha que lavar, espalhar a semente em um pano branco, em uma saca branca, e ela por sim mesmo ela mesmo se condenava que não ia germinar. Porque a areia grudava nela, na semente. Aquela que estava com areia grudada, podia apertar que ela já estava danificada. Ela já não germinava mais. Então a gente fazia seleção. Tirava da areia, fazia seleção, para não falhar muito. E fazia a semeadura no saquinho. Duas sementes por saquinho. Comecei a usar. Germinava as mudas, uma, duas juntas. Mas falha bem pouco. E comecei a formar muda. Cinco mil, dez mil. E o pessoal começaram a saber disso e começaram a, todos os anos o pão quente era a muda de guaraná do fomento. Muda de guaraná do fomento agrícola.
P/1 – Eu ia perguntar exatamente isso. Porque o senhor começou a freqüentar os guaranazais, conhecer as pessoas. Ver como é que era, trocar as sementes por semente torrada. Mas como é que foi isso? Foi aceito assim fácil desde o começo? Uma pessoa ir lá e falar: "Olha, por que você não faz assim? Por que você não faz assado?" Qual a impressão que os guaranazeiros tinham do senhor, logo no começo?
R – Não, eles davam grande valor à muda de semente. À muda proveniente de semente. Porque naquele tempo ninguém falava em clonado. Enraizamento de estaca de guaraná. Ninguém falava. No terceiro ano, então eles aceitavam, a muda feita de semente era tudo para eles. Era uma muda bonita, né? Porque o terreno da mata é fértil. Não era preciso nem adubar. A própria, o solo, o terriço da mata era fértil, a muda crescia muito bem. Então eles achavam uma muda bonita. Eu nem pulverizava. Nem pulverizava porque não encontrava doença nenhuma. Não tinha antracnose. Não tinha inseto. Ainda não existia o trite, eu não conhecia e não existia. Porque eu procurava inseto, não achava. No viveiro. No guaranazal no campo a gente encontrava alguns sugadores. Que é o pulgão, é o chifrudinho, que é sugador. Pois bem, então eles aceitaram as mudas, aceitavam. E a propaganda foi indo, foi indo, foi indo e o pessoal já iam lá, constantemente fazer visita. Que queriam muda para plantar. E a gente tendo, dava mesmo. Era dado. Nada de vender. Formava cinco mil, dez mil, ia embora todas as mudas. Levavam mesmo. Eles arranjavam transporte, de todo jeito eles levavam. Às vezes eu dava transporte de lá mesmo. Nós tínhamos um caminhão, um caminhão pequeno, F-350. Transportava no jipe, de todo jeito.
P/1 – Mas como que era assim o processo, detalhadamente. O senhor pegava a semente, aí como é que era, quanto tempo demorava até você ter uma muda mesmo?
R – A muda de semente, de um modo geral, leva um ano para se formar. Um ano. Isso não tem jeito. É bem diferente da muda clonada que leva seis meses, máximo sete meses, que está uma muda formada. Boa mesmo para levar para o campo definitivo. Como essas aí, né? É, para formar uma muda de semente, sempre eu partia do campo. Fazia visita nos guaranazais, selecionava as plantas, produtiva, sadia. Eu partia, a minha partida era essa. Sadia. Quando era para colher os frutos, só colhia dos cachos adensados. Cachos adensados, cheio. Dentro dos cachos eu só colhia os frutos, a semente dos frutos que tinha duas sementes, três sementes. Aquelas que tinha uma só semente eu não, ninguém escolhia para fazer o viveiro. E assim a gente formava. Fazia uma seleção assim no campo, depois na, nos cachos, uma conformação boa, adensado. Tirava a semente. Catava as sementes para fazer a estratificação. Semente que tinha manchas depois de lavada, ela tivesse manchas assim muito, aquelas manchas que elas tem, né? Não aproveitava aquela semente. Usava só semente totalmente sadia, inteirinha, pretinha. E fazia a estratificação. Depois da retirada da areia, tornava a fazer a seleção da semente. Para ter segurança na germinação. Usava duas sementes. Só fazia a limpeza, nem adubava. Eu não adubava as mudas. E formava. Levava um ano, nove meses, um ano para formar uma muda boa. Adquirir uma altura de 50, 60 centímetros de altura. Muito bonita, com umas folhas com um aspecto vegetativo muito bom. O pessoal gostava muito. Levavam e elogiavam muito. Tinha pouca doença naquele tempo. Antracnose e inseto. Eu acho que o inseto , hoje em dia, contribui para a doença. Com antracnose. Debilita a planta, porque ele é um grande sugador, debilita a planta e entra a doença.
P/1 – Seu Victor, deixa eu perguntar uma coisa, essas intervenções que o senhor fez da semente, da muda, ela também permitiu que você plantasse o guaraná fora de Maués, não é isso?
R – Foi.
P/1 – Foi a partir daí que começou a se plantar em outros lugares?
R – Aí o guaraná começou a ter preço bom. Vinha gente de fora, de outros estados atrás de semente de guaraná. E eu comecei a estratificar. Chegava pessoas do Acre, do Pará, da Orlândia, ou Belterra, não sei. E, atrás de semente. Dez quilos, vinte quilos. E foram levando. Bahia levou daqui, Bahia levou. Mas era através de estratificação. Tinha que estratificar em areia. Depois para viajar tinha que ser em isopor com serragem úmida. Fazia a salada, tirava da areia, lavava bem, catava. E fazia a salada na serragem.
P/1 – Esse pessoal dos outros estados comprava essas sementes do posto de fomento agrícola?
R – Não, não. Eu passei a estratificar e já ter semente estratificada minha mesmo. Eu comprava semente do pessoal da redondeza e fazia a estratificação. Vinha o pessoal de fora, eu tinha semente estratificada e vendia a semente. Mas aqui não, nunca nós vendemos nada, nem semente e nem muda. Lá no fomento. Nunca nós vendemos nada. Era só mesmo dado, dado mesmo. Forma as mudas e tudo era dado.
P/1 – Teve algum lugar...
R – E, e lá no terceiro ano, estando lá no Fomento lá, no quarto ano, já conheci o Okawa. Aí o Okawa disse: "Victor, vam´bora tentar enraizar?" Eu digo: "Vam´bora, Okawa. Eu já fiz enxerto mas eu não tive sorte. Eu já plantei guaranarana, e quando teve uma grossura ideal eu enxertei e não tive sucesso. Já fiz a alporquia na própria planta, enraíza, mas isso é coisa, quando a planta é de alto valor a gente faz isso. Mas estaca mesmo, Okawa, eu nunca fiz não." "Vam´bora construir aqui, tu sabe aqueles propagadores agâmicos?" Eu digo: "Eu sei trabalhar com propagadores agâmicos. Trabalhei como propagador no Horto. Mas só foi uns dias, me trouxeram logo para cá. E a gente pode. Ele construiu, mandou, veio o programa de, ele trouxe um projeto: "A problemática do Guaraná", Okawa. "Victor, nós vamos instaurar isso aqui." Era um projeto de três anos. "Nós vamos selecionar matrizes no campo, e vamos seguir a produção, anotar a produção, pesar lá mesmo, tal." Eu digo: "Tá bom."
P/1 – Seu Victor, só para quem não conhece a história, conta para a gente direitinho. Quem que era o Kioshy Okawa, que o senhor está falando?
R – Kioshy Okawa era filho de japonês. Nascido no amazonas. Ele se formou em Agronomia em São Paulo. E veio trabalhar no Fomento onde eu estava trabalhando. E aí nós nos conhecemos. Eu ia para Manaus: "Bom, Victor, tu trabalha aonde?" Eu digo: "Eu estou no posto agropecuário lá em Maués." "Que tal é lá, é bom?" "Eu digo: "É." 'Está se dando bem lá?" Eu digo: "Estou." "O que é?" "Okawa, lá só mexe com guaraná. Não plantam mais nada." "Só guaraná?" Eu digo: "Só." Bom, e assim aquele papo, toda vez que eu ia para lá. Mas ele não vinha a Maués. Quando ele veio a Maués disse: "Victor, eu estou com um projeto aí, da Problemática do Guaraná. Parece que vai sair. Nós vamos instalar aqui em Maués. Tu me ajuda?" Eu digo: "Ajudo. O que eu puder ajudar, ajudo." Aí trouxe o projeto: A Problemática do Guaraná. Nós fizemos essa seleção de matriz, 230 pés na redondeza. Coletamos a semente durante três anos. Balança lá no campo mesmo. Acompanhava a balança, pesava o bruto e deixava lá o fruto. Porque a gente já tinha os oito por um, né? Oito quilo bruto, um quilo torrado. Só colhia e deixava o fruto lá mesmo, para o agricultor. Não trazia nenhuma semente. E formamos mudas de semente. Mandou construir nove propagadores agâmicos, nove, para mudar o sistema de semente para clonado.
P/1 – Mas o que é que é esse propagador que o senhor está falando?
R – Esse propagador era uma, era tipo assim um tanque. Era um tanque em alvenaria retangular, e que na boca do tanque pegava dez caixas de madeira furados. As caixas era, tinha, os propagadores tinha nove metros de comprimento por dois e pouco de largura. Pegavam dez caixas de um metro quadrado, madeira forte, de taúba, furados. A parede do meio era dividido. No meio tinha uma divisão, ela passava do nível das paredes do tanque, mais ou menos umas, 80 centímetros além da superfície. No final dessa parede fazia uma canaleta em cimento forte, para não haver vazamento. Uma ligação de água, tubulações, de meia polegada, com uma bóia para não derramar a água. A bóia era tudo. Essa canaleta permanecia cheia com a água. As tampas, aí quando passava a parede do meio, passava, mais ou menos 80 centímetros das caixas, de lá nasciam as tampas. Cada uma caixa tinha uma tampa. Era forrada com sarrapilha
P/1 – O que é que é sarrapilha para quem não conhece?
R – Essas estopas, essas sacas que tem essas estopas, é sarrapilha. Dá o nome de sarrapilha. A gente fazia as tampas, forrava as tampas, fazia o marco de madeira e a tampa forrava com sarrapilha. Com dobradiça, abrir e fechar, das tampas, das caixas, das tampas. Cinco para cada lado. Lá em cima estava a canaleta com água, da canaleta nós colocava, eu colocava pedaço de sarrapilha em toda a extensão da canaleta. Por capilaridade a água, e essa, um extremo da sarrapilha, do pedaço de sarrapilha dentro da canaleta ia para o outro extremo na superfície da tampa de sarrapilha também. Por capilaridade essa água vinha, descia por, pelo pedaço de sarrapilha e umedecia a tampa, que era de sarrapilha. Então formava uma umidade constante da parte interior do propagador. Essa umidade constante era a que forçava enraizamento. E começamos a cortar ramos, pedaço de estaca. Eu ia, eu sabia cortar estaca, mas não de guaraná. Mas ali era, a gente tinha que bolar o jeito, qual o tamanho, qual isso, como. E fazíamos de todo jeito. Pedaço do ramo, de todo tamanho. Pedaço do ramo com uma folha inteira. Que a folha do guaraná é composta. Se compõe de cinco folíolos, dois a dois. Dois, dois, termina em um. Cinco folíolos. E plantava um pedaço de estaca com a folha composta inteira, sem cortar nada. Um pedaço de estaca com os folíolos cortados pela metade. Pedaço de estaca com os folíolos cortados um a um teste. Pedaço de estaca eliminando três folíolos, ficando só com os dois primeiros folíolos da base. Uma estaca com os dois primeiros folíolos cortados no meio. Ou seja, dois meio folíolos, que é hoje como nós usamos aqui. Pedaço de estaca com dois meio folíolos. Pedaço de estaca com dois terços de folíolos. E a gente fazia de tudo. Tinha nove propagadores, fazia de tudo. Sem hormônio, sem hormônio. Nós não tivemos sorte de ter hormônio naquele tempo. Nós lutamos uns cinco anos mais ou menos fazendo propagação. E a gente não tinha grande porcentagem de enraizamento. Em cada caixa a gente colocava 20 a 25 estacas, pedaço. Enraizava uma, duas, bem pouco.
P/1 – Quanto tempo demorou para dar certo?
R – A gente sabia que enraizava. Mas a percentagem é que ninguém sabia. Era dureza. Aí: "Victor, isso, vamos fazer assim." "Vamos." Eu sei que o que mais se saiu bem foi os pedaços de estaca com uma gema, acompanhando uma gema na parte terminal com dois meio folíolos. Foi o melhor que se saiu bem. Enraizava em dois, três, às vezes até quatro por caixa. E a gente sabia que enraizava. Isso foi lá. Quando nós viemos para cá, ele veio para cá. Primeiro, a abertura daqui foi ele, o Okawa. Com um mês ele me arrancou de lá. Eu ainda estava no Fomento. Me arrancou. Passei dois anos já com o Ipeaoc.
P/1 – O que é o Ipeaoc?
R – Acabou o Fomento, veio o Ipeaoc.
P/1 – O que é que era o Ipeaoc?
R – Instituto de Pesquisa da Amazônia Ocidental.
P/1 – Ainda era do governo?
R – Era. Era. Aí eu fiquei lá dois anos. Acabou o Ipeaoc, veio a Embrapa. Até hoje está a Embrapa aí. Peguei dois meses de Embrapa, até chegar o chefe de lá. Fiquei lá. Quando chegou o chefe, que assumiu lá, eu vim para cá, já de vez.
P/1 – Deixa eu entender. O Kioshy chega aqui em Maués em que ano?
R – Isso foi em 70.
P/1 – Ele não vem para trabalhar no posto?
R – Não.
P/1 – Ele vem trabalhar em Maués para onde?
R – Instalar o projeto, executar o projeto. O projeto A Problemática do Guaraná. Kiyoshy Okawa, né?
P/1 – Isso, o Okawa. Mas ele vem instalar aonde esse...
R – Lá no Posto Agropecuário.
P/1 – No Posto.
R – No Posto Agropecuário. Não tinha nada, isso não existia. Era lá. A gente trabalhava no mesmo Ministério. Na Dema. Departamento Estadual do Ministério da Agricultura. Aí ele executou a Problemática do Guaraná lá no Posto. Junto comigo.
P/1 – E foi lá que vocês conseguiram as mudas, as primeiras mudas.
R – As primeiras mudas enraizadas em propagadores agâmicos.
P/1 – Isso era 70, 71?
R – Sem hormônio nem nada. 70, levamos até 73, por aí. Enraizando. Colocava. A gente não parava. Tentava de todo jeito. Mas só conseguia pouco. Pouco enraizamento.
P/1 – Deixa eu perguntar para o senhor.
R – 70, foi. Aí de lá foi que já veio para cá.
P/1 – Para cá onde?
R – Aqui para, já era Samasa, não era Ambev ainda. Ainda era da Antarctica. Aí ele me convidou para trabalhar junto com ele: "Victor, vai trabalhar comigo." Eu digo: "Okawa, eu vou pensar, Okawa. Não é muito certo que eu..." O meu negócio, o meu sonho era ficar lá, porque lá eu tinha tudo para fazer mais alguma coisa pelo guaraná, né? Eu estava sentado, eu estava sentado. Lá eu já estava sendo conhecido e tal. Mas ele fez tudo e me arrancou de lá. "Tu vai ganhar tanto, vai isso." Eu digo: "Tá, eu vou para lá." Aí dei um jeito de pedir minha demissão e vim para cá.
P/1 – Mas antes de chegar na fazenda Santa Helena, só voltando. Então vocês em 71 mais ou menos vocês conseguem as coisas das mudas, já conseguia da semente. Então já tinha gente comprando isso para outros estados. O senhor chegou a falar para mim que foi convidado para acompanhar a instalação de guaraná em outros estados. O senhor podia contar isso um pouco?
R – Bom, trabalhar em guaraná foi o, nós tivemos a visita do governador do, de Roraima. Até, governador atual, de novo. Já foi não sei quantas vezes. Mas bem umas quatro vezes ele foi governador. Agora é o mesmo, né? Já está idoso. Eu estou com uma cunhada minha que veio de lá. Diz: "O Oto está velho, já. Mas está firme ainda." Ele veio aqui comprar semente de guaraná, e mudas de guaraná. Naquelas alturas eu era, estratificava semente para mim e vendia, né? Aí ele veio atrás de semente. Chegou aqui, me procurou. Ele queria 700 quilos de semente de guaraná. Eu digo: "Eu não posso lhe arranjar, o meu guaranazal é pequeno." "Mas o senhor dá um jeito de..." Eu digo: "Eu tenho um rapaz aí que ele estratifica também. É o Luiz Canindé." "Embora lá?" "Vam' bora." Nós fomos lá no Luiz. O Luiz estava lá na casa dele, nos atendeu. Preparou guaraná ralado, o diacho. E: "Eu sou governador de Roraima, e eu vim aqui comprar semente de guaraná, e o Victor indicou você." "Não, ele é que tem. Eu não tenho. Eu tenho pouco. Ele é que tem." Eu digo: "Não, eu também tenho pouco, Luiz, não tenho muito não. Eu só posso arranjar, ele quer 700 quilos, eu só posso arranjar uns 300 quilos." "Rapaz, parece que é isso que eu tenho, por aí, uns 400 quilos." Aí ele, nós conseguimos e comprou os 700 quilos. E as mudas do Luiz, Luiz tinha umas mudas meio avacalhadas, toda feia, toda cheia de, com antracnose. Ele não cuidava bem. E o governador comprou aquelas mudas todinha. E caro. Me cutucava assim: "Me ajuda Victor, me ajuda." Eu: "Não, eu acho que tu vai vender, rapaz. Não é preciso minha ajuda não." Vendeu. Ganhou muito dinheiro naquele tempo. Eu, com aquele dinheiro eu comprei uma casa em Manaus, com aquelas sementes que eu vendi para o governador. Se eu tivesse 700 quilos eu tinha um bangalô lá em Manaus e um outro aqui. Mas eu não tinha mais semente. Eu não ia enganar também. Só vendi a semente boa.
P/1 – E deu certo o plantio lá?
R – Aí ele queria me levar, o governador. "Você quer ir comigo, Victor, trabalhar lá comigo? Tomar conta disso aí?" Eu digo: "Vou pensar, eu digo depois." "Tá bom, qualquer coisa você me diz aí." Mas não fui não, fiquei por aqui mesmo.
P/1 – Teve um motivo?
R - Eu já estava casado, já com os filhos. Estava gostando do meu trabalho. E tudo. Eu já estava com uma loucura pelo guaraná, que eu ia melhorar cada vez mais. Porque a produção era baixa. Muito baixa por pé, pé por área. Eu digo: "Mas não pode, um pé, um guaranazeiro é gigante e só dá 50 gramas, 100 gramas. - eu digo - Não pode." Lutei. Essa vida toda para o aumento da produção do guaraná. Veio o clonado, melhorou. Veio o clonado melhorou a produção. Outras práticas, melhorou a produção. Mas ainda não estou satisfeito não, com a produção do guaraná.
P/1 – Agora, seu...
R – Ainda não parei não. Eu continuo lutando por ele. Não sei até quando mas eu luto. Eu vou instalar agora uns experimentos. Talvez eu tenha sorte, não sei. Pelo guaraná eu já fiz tanta coisa. Em tudo eu estou dentro, eu estou lá. Tudo que de avanço ou de melhora sobre a cultura do guaraná eu estou lá. Eu estou no meio. Mas isso aí eu já fiz. Não, isso aqui eu já fiz. Isso aqui eu já vi. Isso aqui eu já observei. Isso aqui já não quero nem pensar mais nisso. Mas e ainda tem algumas coisinhas que a gente tem que fazer para melhorar a produção do guaraná. Isso é verdade. E eu não vou parar. De jeito nenhum. Eu já disse para a Miriam: "Só tem umas coisinhas aí, Miriam, que eu fazer ainda. Eu quero sua autorização e eu vou fazer agora." Amanhã, amanhã eu vou começar.
P/1 – Seu Victor, então se plantou guaraná em vários lugares, só que muita gente já disse para a gente que o guaraná daqui de Maués é diferente que o dos outros lugares. Isso é verdade?
R – O guaraná tem o seu clima e o seu solo. É tudo. E o solo é tudo. Então Maués tem o seu solo para o guaraná. É lá o solo pesado, amarelo pesado, poroso, drena bem. Percola bem. Não encharca. Apesar nas chuvas torrenciais que tem maués, seis meses de chuva, mas a água não permanece na superfície, percola. Então o guaraná quer esse tipo de solo, poroso. Ele quer muita oxigenação. Muita. Daí que um solo compactado, mal trabalhado ele sente muito. Não desenvolve bem. Foi que nos primeiros anos daqui, as primeiras quadras que nós metíamos os tratores de esteira, os tratores pesados, compactou algumas áreas aqui. E que nós não tivemos sucesso com os plantios. Encharcava a área, e os guaranazeiros iam e morriam. Tudo pela compactação. E aqui hoje ninguém mete mais máquina pesada dentro de uma área para guaraná, para evitar a compactação. O guaraná quer isso. Quer solo livre, livre de qualquer erva daninha na superfície do solo. Livre de qualquer outra planta que cubra a sua copa, como a erva-de-passarinho, a batatarana, a morceguinho, a ortiguinha, o piri-piri. Todas são plantas que gostam da copa do guaranazeiro. E chegam até matar o guaranazeiro por asfixia. Como a erva-de-passarinho quando cobre uma copa de guaraná ele morre. Automaticamente ele morre. Batatarana também, é muito agressiva. É uma leguminosa silvestre. Ela é agressiva demais, que quando cobre o guaranazeiro o guaranazeiro não desenvolve vai morrendo, e morre. Mas o pior de todos é a erva-de-passarinho, porque ela gruda nos ramos e é uma simbiose. Vive à expensa do guaranazeiro. Porque gruda as suas raízes. Aí mata o guaranazeiro. O guaranazeiro então maués tem seu solo e tem seu clima. As propriedades que o guaraná aqui de Maués tem é bem diferente. Ou os outros tem um, os outros que se dedicam à cultura do guaraná - como Bahia, Mato Grosso, outros estados - eles não encontram o solo que Maués tem. Não encontram. Então as propriedades do guaraná fogem. Fogem. As respostas são outras. Eu tomo guaraná. Eu não vou tomar guaraná da Bahia, né?
P/1 – Por quê?
R – Que não tem as mesmas propriedades que o guaraná de Maués tem. Clima e solo.
P/1 – O senhor podia falar as diferenças entre um guaraná e outro?
R – Bom, eu nunca tomei do guaraná da Bahia. Mas eu acredito que sim. Eu, deve ter outro gosto. Mas isso não é tanto. O negócio é as propriedades. O daqui tem mais cafeína, o guaraná de maués tem mais cafeína. Nós temos clone aqui dentro de alto teor cafeínico. Nós temos uns cinco clone que o teor cafeínico é alto. Quem sabe, futuramente, a Ambev só vai se dedicar a plantar só mesmo desses clones. Porque ela quer é a cafeína. No extrato. Ela quer o teor cafeínico. Então tem diferença, tem. A gente toma um guaraná aqui de maués a gente sente um guaraná, quando a gente toma um guaraná bom de Maués a gente sente uma resposta. A gente tem a resposta. A gente olha para os antigos moradores da região que toma guaraná de manhã e a tarde, normal mesmo, bem diferente. Poucas rugas, uma tez, uma pele limpa, bonita. As mulheres que tomam guaraná elas se conservam sempre jovial. Porque o guaraná é vitalizante, é rejuvenescente. Então ela se mantém, a mulher quando toma guaraná ela se mantém sempre bonita. Uma pele limpa, sem rugas. Custa, 60, 70 anos ainda não tem ruga. A minha própria mulher, ela toma guaraná junto comigo desde que, quase o mesmo tempo meu. 40 e poucos anos a gente toma guaraná. Todo dia sem falhar. E minha mulher tem 61, 62 anos, não tem uma ruga. Então uma observação profunda eu tenho. Ela não tem uma ruga. Parece um rosto de moça. Estou exagerando, mas não tem mesmo. Eu atribuo ao guaraná. E assim os outros. Eu, logo do começo eu tomava só uma vez o guaraná. Eu tomava só uma vez. E eu fumava. Depois eu, um belo dia fui pegar a garrafa grande de café para colocar na minha garrafinha pequena de um quarto de litro e não tinha café feito. Aí eu reclamei: "Poxa, vocês não fizeram café." "Não, papai, não tinha pó." Aí não fizeram e eu não levei. Eu disse: "Poxa, os antigos moradores daqui da região tomam duas vezes por dia guaraná, por que é que eu não vou tomar?" preparei guaraná ralado e levei na garrafinha. Tomava um gole e fumava. Tomava um gole de guaraná e fumava. Tomava um gole de guaraná e fumava. Eu gostei e passei a tomar duas vezes por dia. Já não tomava o gole, deixei de fumar. Deixei de fumar que eu, um senhor veio comprar guaraná em Maués e ele ficou em casa. "Victor, tu fuma?" Eu digo: "Fumo." "Tu toma guaraná?" Eu digo: "Tomo." "Tu deixa de fumar e toma só guaraná. Tu vai ver o que é que tu vais ganhar na vida. Uma saúde medonha." Não foi tanto por ele, né? Mas eu também lembrava dele. Estava me fazendo mal o cigarro. Deixei o cigarro e ganhei muita coisa. Ganhei saúde mesmo. Ganhei coisas fora de série. Guaraná é um negócio. Passei a tomar duas vezes por dia. Eu tive resposta para muita gente. Será que o guaraná é afro? Eu digo: "Rapaz, ele é." "Será, Victor?" "É."
P/1 – O senhor quer dizer que ele é afrodisíaco, é isso?
R – É, afrodisíaco. "Será que tu garante isso aí? Tu afirma?" "Eu digo." "Como?" Eu digo: "Eu tomava guaraná só uma vez, de manhã. E o dia que passei, a tarde era café e fumar. Um dia não teve mais café, passei a tomar duas vezes por dia o guaraná. Eu ganhei. Eu ganhei saúde, com as coisas mais vitalizantes. E posso dizer que ele é afro mesmo. É afrodisíaco mesmo. Com certeza. Porque quando eu passei a duas vezes eu comecei a ter mais apetite sexual mais a vontade." "É mesmo?" "É." E foi mesmo. Com certeza, parece mentira, mas é. Eu estou com 76 anos e ainda estou em forma.
P/1 – (riso) E se usa o guaraná para outras coisas fora essa questão de rejuvenescer, de ser um afrodisíaco?
R – Se ele me faz bem nisso eu não sei. Porque eu não fico me olhando, aquela coisa toda. Mas o pessoal, o indicador é o pessoal. É os amigos: "Pô, Victor, tu não fica velho rapaz?" Então, será que é o guaraná. Tem isso. Mas eu tiro pela minha mulher. Eu observo minha mulher. Tem 62 anos, ela é de 44. É, 62 anos para 63. E não tem uma ruga. O Barrô conhece a minha mulher.
P/1 – Mas tem gente aqui que toma como remédio para algum tipo de doença?
R – É, ele é antidiarréico, é um contralô geral. Dizem que é bom para o coração. Eu ainda não sinto nada. Bom, eu mesmo dizer que eu não sinto nada, eu posso dizer, né? Mas eu tenho feito já exames do coração. Ultimamente eu fui a Manaus, fiz exames do coração, não atestou nadinha. E fui com um médico bom. Aristóteles, e ele disse: "Olhe, eu faço o exame. Mas eu não quero fazer com você. Eu quero nessa clínica, você vai lá." Porque ele já conhecia Maués e começou a bater um papo comigo, Aristóteles, e gostou de mim e disse: "Você, eu quero que você vá nessa clínica e procure esse médico para fazer o exame." e eu fui lá e esse médico fez. Não deu nada. Então eu não quero dizer que seja o guaraná, eu não sei.
P/1 – E como é que o senhor toma o guaraná? Explica para a gente como se fosse uma receita. Como é que faz?
R – No começo eu comecei a ralar. Era bastão, era o pão quente era o bastão. Até hoje. Bastão de guaraná. Ralava em língua de pirarucu. A gente compra a língua do pirarucu e rala. É uma lima. Em língua de pirarucu. Que é igual uma lima, rala bem. E eu ralava todo dia. Diz Okawa, era um bom exercício. Okawa tem suas boas. Era bom conhecer o Okawa. Ele tem uma boa bagagem sobre guaraná. Ele dizia: "Victor, ralar guaraná de madrugada é um bom exercício." De fato é mesmo, né? É meio cansativo. O primeiro dia a gente cansa. Depois já se acostuma. Mas depois Maués passou a vender guaraná em pó. Tira o casquilho e mói e fica igual, bem moído, igual um café. E o povo, o pessoal começaram a vender o guaraná em pó. E o pessoal procura, e muito, o guaraná em pó. É o pão quente é o guaraná em pó. Mas eu ainda tomo guaraná em bastão. Depois de certo mês, depois de maio, abril, maio, junho, já estou pensando no bastão. Porque ele sempre é o guaraná mesmo, puro. Não fracassa, sempre tem aquele aroma. Sempre tem tudo. Ele não tendo toca, que é uma fenda dentro do bastão que cria fungo, então pode tomar o guaraná que é uma beleza. É gostoso todo tempo. E o pão quente é o pó. A gente compra guaraná em pó. Eu só compro guaraná bom. Eu já sei os locais bons onde vende guaraná em pó bom. E vou lá e: "Cadê o guaraná em pó?" "Está aqui. Tem essa semente aqui que eu vou moer amanhã." "Deixa eu ver. Eu quero dela, eu quero dois quilos." "Tá legal, vou reservar para ti." Porque eu já vi a semente que é boa mesmo. Bem torradinha, legal. Tudo em forma, beleza, bem catadinho. Aí eu compro desse. Então a gente tem que tomar um bom guaraná, para ter uma boa resposta. Isso é verdade.
P/1 – Mas aí o quanto que o senhor faz, quanto de água, quanto de guaraná?
R – Eu uso uma colherinha, essas colherinhas pequenas de café, não de chá. De café é pequenininha, tem uma chá que é maiorzinha. E tem a sobremesa que já é grandinha. Então a de chá, meia rasa, não muito de cabeça, meia, nem rasa. Assim, meia cheia. Num copo com água bem gelado. Tem que ser bem gelado. Se a água não estiver gelada, jogue uma pedra, duas pedras de gelo lá dentro para ajudar. E jogue uma colherinha de chá de pó do guaraná dentro.
P/1 – por que é que tem que ser gelado?
R – É gostoso. Se estiver assim meio morno, meio frio, não é tão gostoso. Eu acho que é bem gelado. Eu preparo, de madrugada, cinco horas da manhã eu preparo para mim e para minha mulher. Ela ainda está deitada eu levo lá para ela. Deus o livre se ela não tomar guaraná ela é capaz de pegar a vassoura e me cacetar. "Cadê o meu guaraná?" E reclama. É bem gelado, tem que ser bem gelado.
P/1 – Põe açúcar ou não?
R – Põe. Coloco açúcar. Eu já tenho a dosagem. Cinco colherinhas de chá. A mesma que uso para uma colherinha de pó de guaraná, a mesma eu uso para o açúcar. Cinco colherinha de chá de açúcar. Em um copo de guaraná bem gelado, com pedra de gelo ou não. É muito gostoso. É gostoso demais. Eu não gosto de tomar gut-gut: "gut, gut, gut, gut, gut" é aos gole. Ah, beleza. E melhor se a gente sai fora de casa e fica no quintal aos gole. Apreciando. A Maura só toma assim. Vai lá para o quintal, fica aos gole olhando para o céu, e, ah, beleza.
P/1 – E tomar guaraná pode fazer mal?
R – Diabético se queixam muito. Porque eles começam a adoçar com açúcar, faz mal. Tem que usar aqueles, como é? Adocyl? Aqueles que... Outra, a gente não pode abusar em tomar muito. É uma colherinha, é uma colherinha mesmo. Toma duas vezes, é só duas vezes mesmo. Não tome três. Não abuse não.
P/1 – O senhor conhece o caso de alguém que abusou?
R – Tinha um rapaz, no tempo que eu trabalhava no Fomento, tinha um rapaz, o Zé, adventista. Hoje ele é guarda do Banco do Brasil. A gente estava descarregando a barcaça, era uma lancha que trazia produtos para nós lá do Fomento. E a gente vinha para lá, descarregar a barcaça e transportar. Nós estávamos torrando o guaraná. Ele pegou uma mão cheia de semente de guaraná torrada, e colocou no bolso. Aí tirava a sementinha, o tegumento, o casquilho e botava a amêndoa na boca. E ficava mastigando e engolindo. Aí ele caiu em um campo de vôlei que nós tínhamos lá, de voleibol, ele caiu, tipo um epilético. Se batendo todo. E se babando todo. Eu digo: "O que é que está acontecendo com o Zé?" Todo mundo em cima, e "o que é, o que é? Vai morrer. Vamos levar ele para o hospital e ..." Voltou. "Sabe o que foi que aconteceu contigo?" "Não sei." "Sempre te dá isso?" "Não, primeira vez. "E o que, tu comeste alguma coisa?" "Eu botei um bolo de guaraná no meu bolso e de vez em quando botava uma semente na minha boca." Eu digo: "Ah, então foi isso rapaz. Tu abusaste. Embarca aí no jipe eu vou te levar lá para a tua casa." Levei ele lá: "Que foi que aconteceu com meu filho?" A mãe, né? "Olha, ele abusou com guaraná, ele botou uma mão cheia no bolso. De vez em quando metia um grãozinho na boca, e foi engolindo, engolindo e deu isso. Ele caiu desmaiado no, lá no chão." "Tragam ele para cá." Fez uma limonada forte e deu para ele. Ficou bonzinho. É o melhor antídoto para assim, dar um exagero de guaraná é tomar uma limonada. Muito bom. Essa eu aprendi. Outro dia tinha um rapaz aí ele disse: "Rapaz, eu tomei uma dose de guaraná muito forte, estou me sentindo ruim." "Toma uma limonada. Faz uma limonada para ele, rapidinho." Aí partiram limão, ficou bom. É bom mesmo. O limão para cortar o efeito do excesso do guaraná que tomar.
P/1 – Seu Victor, eu queria voltar um pouquinho na coisa do Kioshy Okawa, ainda. Então ele vem para a Fazenda Santa Helena, o senhor vem com ele. Eu gostaria que o senhor contasse que tipos de intervenções ele foi promovendo. Ele ficou aqui quanto tempo?
R – Ele, nós ficamos assim no Ministério um bocado de tempo. Se conhecendo, trabalhando. Trabalhamos junto com aquela Problemática do Guaraná. Fizemos muito pelo guaraná, sobre enraizamento, adubação. Espaçamento. Espaçamento de guaraná. Então o que nós fizemos foi a problemática. Espaçamento, adubação, formação de mudas. E enraizamento de guaraná que tentamos muito mas nunca nós conseguimos sucesso. Enraizava bem pouco. E ali nós nos conhecemos. Ele veio para cá, então ele foi convidado para vir para cá, para tomar conta do grande projeto da Samasa, sobre a, o plantio do guaraná aqui. E ele achou por bem, também, depois que estava aqui já um mês, dois meses, me convidar. "Victor, vai trabalhar comigo. Pede a demissão daí e vai trabalhar comigo. Teu ordenado é xis." Eu digo: "Okawa, vou pensar, Okawa." "Rapaz, tu ganhas tanto aqui, que eu estou sabendo. Lá eu vou te dar o dobro. O que é que está pensando?" "É, Okawa, deixa eu pensar." De novo em cima de mim, de novo em cima de mim até que me arrastou de lá. E vim para cá. Mas aqui, quando já vim de vez para cá nós começamos a trabalhar mesmo, valendo mesmo. Ele achou por bem que logo no primeiro ano tinha que fazer um plantio de guaraná. A semente estava no fim. A semente de guaraná, da colheita do guaraná, de um modo geral no município, estava difícil já, não tinha mais semente. Eu não tinha semente estratificada, não tinha nada. "Victor, nós temos que plantar esse ano uma quadra, 20 hectares. Tem que a arranjar semente." Eu digo: "Mas Okawa, aonde eu vou arranjar?" "Vê aí aonde teu vai arranjar." "Nessas alturas, Okawa, já não tem semente boa para selecionar." "Tu tem que arranjar. Dá um jeito. Viaja, vê, vai nas beiradas de estrada. Olha aqui um pouco, olha outro pouco aqui, outro ali e vê aí." Me botou em uma boa. Eu tinha que dar um jeito. Tudo era semente, se não tivesse semente ninguém plantava. Arranjei a semente, estratifiquei. "Tem que, agora tem que esquadrejar a área da mata. Tirar a quadra." 20 hectares dentro da mata. "Tu parte da perimetral, a partida é esta. Tem uma castanheira que derrubaram, no centro tem um prego, lá na frente a 200 metros tem outro marco de madeira. No centro dele tem um preguinho. A partida é essa." Eu digo: "Okawa, eu vou lá. Okawa tem que ir ver estas castanheiras e ver o marco." "A 50 metros tu deixa uma faixa de 50 metros de mata e começa a fazer a picada. Tira 90 graus e vai embora." Eu digo: "Tá bom. Okawa, se eu encontrar esses pregos dentro da castanheiro, e o marco de madeira lá na frente a 200 metros, tal como está aqui, eu vou lá. Do contrário vai sair tudo errado." Eu fui lá e encontrei o preguinho no centro da castanheira. Estava o toco da castanheira grande. Tinha derrubado para passar. E lá a 200 metros estava o marco de madeira, no centro tinha um preguinho. Botei uma baliza lá, outra baliza aqui na castanheira. Tirei, balizei bem legal e tirei o 90 graus. Com trena mesmo, três, quatro, cinco. E deixei 50 metros de faixa, que já era a reserva. Para começar a tirar a primeira quadra. Que foi a quadra um. Tirei os 20 hectares dentro da mata, a picada. "Okawa, está pronto. A quadra está toda, estava a picada." "Agora tu vais levar o empreiteiro lá e tu mostras a mata para ele, a quadra. A mata." "Tá bom." levei o empreiteiro. Dei a volta toda. Ele foi com o okawa, fizeram o contrato lá. E o empreiteiro entrou para fazer a derruba, broca e derruba, né? O desbravamento. Fez a broca e derruba e com um mês ele entrou lá para queimar. Queimou. Na queima eu não fui não. Fui no outro dia para ver. Tinha queimado mais ou menos. Entrou os tratores. Um trator de esteira, G-7. E naquele tempo não existia ainda a motos serra. Era roladeiras, dois homens, serrotão. Para seccionar as árvores grandes em toras para poder o trator esteira tirar. Porque uma árvore grande o trator esteira não tinha força. E assim retirou todas o, o resto da queima, o resto vegetal, destocou. Novamente nós coivaramos manual. Retiramos com carreta. Sei que nós limpamos a área toda. Eu entrei de novo para esquadrejar a área já pronta. Esquadrejar de novo, dentro, a área já limpa. Fazer a marcação das covas, o fechamento na questão das covas. Já entrou o empreiteiro já para fazer as covas. Nessas alturas nós já tínhamos, os primeiros viveiros nós estávamos fazendo lá fora. Porque aqui ainda não, mata, tudo isso era mata.
P/1 – Eram viveiros ainda com semente?
R – De semente. Eu arranjei semente. Um pouco daqui, um pouco dali, e consegui a semente. Para uma quadra de 20 hectares. Fiz cálculo, dava. E formei as mudas. Lá fora, na filial.
P/1 – Esses guaranazeiros existem ainda hoje?
R – Não. Não existe mais. Já se acabaram. Se acabaram mesmo.
P/1 – E quando é que vocês conseguem finalmente o processo de estaquia? Conseguir fazer por muda.
R – Aqui nós nunca tivemos um mês certo para tirar. Sempre nós tivemos aqui um pouco de atraso. Mas a época melhor para retirada de estaca, de material para enraizamento, devemos acompanhar o ciclo vegetativo da planta. Então os ramos secundários, quando chega, ele se dá de março até junho. Ele leva dois meses e meio, três meses e meio, três meses, para adquirir, para conseguir uma vara, um ramo secundário de dois metros, dois metros e meio. Três metros. Ele leva dois meses e meio, três meses. Para chegar atingir o momento ideal para poder coletar material. Que é os ramos semi-lenhoso, semi-lenhoso. Porque os ramos tenros é baixo, não é bom. E os lenhosos também não é bom. Então o bom é entre um e outro, que é o semi-lenhoso. Então ele se dá de março até junho. Ele lança e leva esse tempo todo para ficar no ponto de, ficar semi-lenhoso. Então é o momento de tirar, o melhor tempo de tirar material. Para enraizamento é maio, junho. Segunda quinzena de maio e todo mês de junho. Porque em julho já se dá, já vem a floração. Então a retirada de material durante a floração, já a planta já está, o galho já está atendendo a floração. Já não tem aquele vigor. Então já é duvidoso. Já não tem aquele vigor. Já é duvidoso mais um lançamento desse. Já está atendendo a floração, não demora já vai atender o fruto, o deslocamento. E então já não é bom. Então a melhor época que nós achamos para a retirada de material para enraizamento é a segunda quinzena de maio, todo o mês de junho, julho se dá já a floração. Mas pode fazer até a primeira quinzena de julho. Já para lá, não. A segunda quinzena de julho, agosto, setembro, já melhor nem. Mas nós sempre temos atrasos. A gente coleta, faz essa retirada do material nesses meses de julho, agosto, setembro. Mas é dura a parada conseguir todo o material que a gente quer. Tem que andar muito, procurar. Aí já é trabalhoso conseguir material.
P/1 – Mas seu Victor, quanto tempo vocês demoraram aqui na Fazenda Santa Helena, finalmente, já para conseguir fazer com que desse certo essa plantação por muda?
R – Olha, aqui mesmo nós não, nós não fizemos isso. Nós trabalhamos muito aqui com o Okawa. Ele passou aqui dez anos. E durante esses dez anos todos os anos nós lutávamos pelo enraizamento de guaraná. Mas nunca ele conseguiu o hormônio ideal para trazer para a gente conseguir um bom enraizamento. E outro sistema de irrigação. Esse sistema de irrigação é um negócio. E o único que nós fizemos aqui, a Embrapa fez, ainda não era Embrapa, ô, ainda não era Ambev. Ainda era Samasa, era da Antarctica. Nós fizemos, o Giovani era depois do Okawa, veio o Giovani. Assumiu. Aí o Giovani chegou comigo e disse: "Victor, nós queremos selecionar umas matrizes. Dá para você fazer isso para nós?" Eu digo: "Dá." "Que é que você precisa?" Eu digo: "Preciso umas quatro pessoas comigo. É só. E aí ele com um terçado tiramos as varas, e vai comigo. Lá pelas alturas nós tínhamos pouca quadra, ainda. Tinha que tirar dessas quadras daqui. Parece que nós tínhamos umas dez quadras. Ainda estávamos, parece, no projeto um. Eu entrei para selecionar matrizes. Dois e dois. Quatro. "Olha, tu vais nessa carreira guaraná, tu voltas na mesma. Se tu enxergar um pé de guaraná carregado de fruta, tu chega aqui e me diz. Tu faz a mesma coisa." Ok, eles entraram. "Eu encontrei uma planta carregada." Eu digo: "Vamos lá." Eu chegava lá olhava para a planta, eu digo: "Não, deixa ela para lá." "Eu encontrei duas plantas." o outro. "Vamos lá." "uma é essa." "Não." "A outra está mais ali." "Vão bora lá." Aí eu olhava para ela, dava a volta nela, olhava as folhas caídas no chão. Se tinha, porque tem ano que dá, nós tem ano que não dá. Tem ano que as plantas são sadias. Não totalmente sadias. Não existe planta sadia. Mas se as folhas do chão estivessem todas necrosada, mesmo seca, mas com aquela necrose de antracnose já podia deixar. "Não, essa não." Embora naquele ano elas estivessem sadia. Mas se a folha dela estiver sadia, o chão, as folhas velhas no chão também não tinha sinal de antracnose e uma produção, cacho adensado, bonito, coloração tudo legal, marca. Assim a gente fazia a seleção. Fiz 230 pés selecionados. Matrizes. "Pronto Giovani, está 230 pés." 'Victor, tem que coletar os frutos todos durante três anos." "Tá legal. Eu vou fazer a planilha tudo direitinho." "Tá bom." Durante três anos nós conseguimos coletar os frutos dessas matrizes. E foi para a estatística lá. Foi embora. Mandou para Manaus, para a Embrapa. Já a Embrapa tomou conta das matrizes e os frutos colhidos e pesados, tudo, tudo. A Embrapa tomou conta. A Embrapa veio aqui no outro ano, coletou material dessas plantas e levou para Manaus. Tudo rápido. Passou não sei quantos anos, uns 15 anos mais ou menos. Aí chegaram uma lancha, uma balsa, mudas clonadas.
P2 – Era assim já que eles chamavam?
R – Já.
P2 – Explica para a gente o que é que é essa muda clonada, o guaraná clonado. O que é que é exatamente tecnicamente isso?
R – Ó, o clone, ele tem a finalidade mesmo do clone mesmo é transmitir todos os caracteres da planta mãe . Esse é o clone. Se a mãe é produtiva, se a mãe é sadia, se a mãe é bonita, se a mãe é isso tudo beleza, a filha, o filho vai sair igual. Então é isso. O clone é isso. Clonou.
P2 – E o processo é por estaquia, é isso?
R – Estaquia, não pode ser só estaquia. Pode ser enxertia, pode ser a alporquia. Pode ser a estoloni. Pode ser de outro jeito. Uma parte da planta, e não semente. É propagação assexuada. E sexuada é quando é só semente.
P/1 – Explica assim para quem não conhece, você, o processo de estaquia, vamos escolher um dos processos. O processo de estaquia, como é que faz? Arranca um pedaço? Como é que faz a?
R – Aqui a gente entra com um pessoal. Nós temos um pessoal já com tarimba, já prático mesmo, já conhece qual é o galho que tem que cortar, o ramo que tem que cortar. Semi-lenhoso, não é lenhoso e nem herbáceo. O herbáceo é tenro, é flexível, é molezinho. A folha ainda não atingiu a madurez. E o lenhoso, o ramo é todo marrom em sua totalidade. E duro o ramo. O ramo do guaraná depois que atinge ser lenhoso é um ramo duro. É uma madeira dura. Até para quebrar, para rachar. E o semi-lenhoso foi o ramo, até hoje, que tem dado certo é o semi-lenhoso. E isso foi no tempo do Okawa nós lutamos por isso. Foi o que nós ganhamos, foi isso. Qual o ramo melhor? Se o herbáceo, nós trabalhamos de todo jeito. Eu expliquei, né? Herbáceo, semi-lenhoso, lenhoso, uma folha inteira composta com dois folíolos inteiros. Folíolos cortados no meio, folíolos cortados só um terço. Então nós notamos que as estacas melhores era a semi-lenhosa e com dois meios folíolos. Os dois primeiros folíolos cortados no meio. Eles, o Okawa viajava muito, tinha uma amizade medonha, se entrosava em tudo. Levou lá para a Embrapa e disse: "Olha, a melhor estaca para enraizar é essa aqui. É a semi-lenhosa com dois meios folíolos." A Embrapa segurou e aprovou. E começou a usar a semi-lenhosa. Acho que ela fez também lá, com herbácea, lenhosa, e viu que Okawa estava certo. P/1 – Aí você pega esse pedaço da planta e coloca na terra, é isso?
R – Pega, prepara, ela tem que acompanhar uma gema, um apical, aquela parte que vai ficar fora, fora do saquinho tem que ter uma gema. Uma gema cilar. Só tem essa. A responsável é essa gema, vegetativa. Ela é a responsável. Só acompanha essa gema. Às vezes os internos são curtos. Mas a estaca tem que ter um comprimento mais ou menos ideal, então às vezes acompanha duas gemas. Mas não é bom.
P/1 – A gema é o que, é a parte que não vai na terra, é isso?
R – Não, a gema é, existe, a gema é a responsável pela emissão de um futuro ramo. Ou é a responsável pela futura planta mãe , a futura planta. Ela é tudo. Se ela for castrada, machucada, danificada, acidentada. A estaca está, não vale mais. A estaca sem aquela gema vegetativa não é nada. Ela pode ser bonita, robusta, belezinha, a estaca daquele ramo ou daquele galho. Mas se não acompanhar aquela gema, vegetativa, porque ela é conicazinha, bem na, acilar, bem mesmo no pé da folha. Então se não tiver aquela gema, quer dizer, não vai ter uma futura planta.
P/1 – Vocês põe na terra, e põe mais alguma coisa na terra?
R – É, a gente faz o, a gente colhe o substrato. Consegue a terra. Hoje em dia ninguém raspa mais terra da mata. É até proibido. Consegue terra. Essa terra é peneirada. Não usamos matéria orgânica. Só a Miriam agora que ela está com a idéia de usar o, a torta, né? Que é o bagaço. Não é nem torta, é bagaço.
P/1 – Bagaço do guaraná?
R – Do guaraná. É o resíduo que sai da essência. Tirou a essência e fica o bagaço. Que é a semente triturada, saiu a essência fica o bagaço. Em usar, misturar com a terra. Mas estamos nessa. Usa, não usa. Eu não gostaria de usar. Porque o bagaço, mesmo já é bagaço, mas forma uma liga junto com a terra, forma uma liga impermeável. A água da irrigação ou da chuva, não drena fácil. Fica na superfície da boca do saco. Encharcando. Quando é semente, apodrece a semente. Se é estaca, é perigoso também. Então eu ainda não sou a favor de usar uma, o bagaço junto com, formar o substrato para enraizamento junto com o bagaço.
P/1 – Agora, por que é que o senhor acha que existe tanta resistência de muitos guaranazeiros em usar esse guaraná clonado?
R – É...
P/1 – Senhor Victor, existe resistência de muitos guaranazeiros a usar o guaraná clonado. Porque o senhor acha que existe essa resistência?
R – Bom, a partida para formar mudas clonadas, matrizes clonadas, a partida foi quando se faz a seleção de matrizes, sempre a gente olha essa parte de saúde da planta e a sua produção. Daí que para fazer essa seleção de matrizes, a gente de um modo geral a gente faz na época da frutificação. Se ela estiver bem frutificada e sadia, nós dividimos em três nível. Nível um, nível dois, nível três. O três é bastante antracnose, super-brotamento, essas coisas todas. As suas folhas não são bem desenvolvidas. Então a gente olha muitas coisas. Então a partida é essa. É produção e resistência. "tem pouca doença?" "Tem." "Quase nada?" "Quase nada." "É nível um?" "É." vai uma equipe. Vai uma equipe e faz a escolha da matriz no campo. Cada um sempre é três, quatro pessoas. E aqui sempre me levam como, testar assim, para: "Tá, seu Victor, essa aqui?" Eu digo: "Rapaz, essa aqui eu acho que não. Porque tem isso, isso e isso." "Tá, então tá. Vamos para outra." Aí a gente vai para outra matriz, outra planta, e olha para ela, e dá volta nela, isso, aquilo. Vê sua produção, vê a conformação dos seus frutos. Vê as suas folhagens, o seu aspecto vegetativo. Vê a parte de doença. A frutificação. "Que tal essa aqui?" "Rapaz, essa aqui é boa. É bom selecionar. É bom marcar. Vamos marcar." A gente parte com essa seleção, mas durante três anos a gente faz nova seleção. Às vezes naquele ano não apareceu antracnose nela. Mas no outro ano tem. Este ano ela não tem superlotamento, no outro ano tem. Elimina. De 200 planta, no final de três anos consecutivos a gente fica só com, de 200 plantas a gente fica só com 50. 50 plantas. Então, quer dizer, elas são selecionadas pelo seu, sua essa parte de doença e a parte de produção. Ela tem que ter todo o requisito para uma boa matriz. E só quem faz é quem já tem muita vivência, né? Conhece bem a planta, conhece bem o, é só quem faz. Aqui, só quem faz...
P/1 – Então, senhor Victor, o senhor estava explicando que o, as mudas de guaraná clonadas são selecionadas. Então elas dão produtividade maior. E por que é que existe então a resistência de muitos guaranazeiros em usar clonada?
R – Por que é que existe...?
P/1 – Por que é que muitos plantadores não querem usar o guaraná clonado. Eles preferem continuar usando o guaraná tradicional?
R – Olhe, em dias de campo, em dias de campo eu já tentei mudar a idéia, tirar isso da cabeça deles. Do guaranaicultor. Muitos ainda têm essa idéia do, dizer que o guaraná do mato é o melhor ainda. O guaraná em semente é o melhor. E foi em um ano em que a Embrapa lá estava com aquele clone que é famoso, que é o 871. Que produz muito. E é sadio. Nós também aqui temos uma área plantada com 871. E produz já bem, e é sadio também. Eles viram os plantios da Embrapa, eles viram os plantios de lá da Embrapa e viram a sua produção desse clone. Viram aqui na quadra 28 o plantio desse clone, a sua produção e sua, a saúde das plantas, produzindo bem. Então no dia de campo daqui eu disse: "Gente, é o seguinte, antes de começar o que me toca aqui, que é a parte de beneficiamento, eu quero pedir. Miriam, eu quero quebrar o tabu desse negócio de mudar a idéia do guaranaicultor que ainda pensa em plantar mudas provenientes da, arrancadas na mata, sem saber a sua origem e sua idade. Não tem cabimento isso, Miriam." "Vai, seu Victor, pode falar o que quiser." Eu digo: "Tá bom." Aí: "Gente, antes de começar a minha parte aqui de beneficiamento que é a debulha, a despolpa, o lavado, a torragem, eu quero comentar aqui um negócio para vocês. Tem muito guaranaicultor ainda, muito agricultor que ainda está com aquela idéia que a muda tirada do mato é ainda melhor para plantar. Que a muda proveniente de semente, plantar da semente, ainda é a melhor. Vamos acabar com isso, gente. Vocês viram lá da Embrapa? Aquela produção daquele clone tão bonito.vocês subiram lá na plataforma? Para ver a beleza? Eu subi também. Eu sou acostumado ver guaraná. Produzindo bem. Mas eu subi para ver a beleza. Vocês foram lá na nossa quadra 28 e vocês viram também a produção daquele clone produzindo muito bem. Agora, vocês estão vindo de lá. Gente, vam´bora mudar essa idéia. Acabem com isso. Plantem clonado. Mudas boas clonadas." foi assim que eu expliquei para os guaranaicultores para mudar a idéia, mudar essa idéia de... Porque tem clones que não produz aquilo que eles desejam que produza. Acha que tem que produzir bastante, sei lá. E não sei, a idéia do guaranaicultor de ter ainda aquela idéia de plantar mudas do mato, e de mudas de semente. Depois de ver umas mudas, uma plantação de clone produzindo tão bem, não tem, não sei. É para mudar de idéia.
P/1 – Não existe nenhuma desvantagem em plantar o guaraná clonado?
R – Se tem?
P/1 – É. Nenhuma desvantagem?
R – Uns perguntam: "Será que o guaraná clonado tem uma vida longa? Como o de semente." eu digo: "Tem, o guaraná é longevo. Ele tem uma vida longa. Se tiver uma diferença entre a muda de semente e a muda clonada, a planta clonada e a planta de semente deve ser meses, ou um ano. Uma diferença, ou elas por elas. Ninguém pode dizer nada. Mas que tanto um como o outro são longevos. Tem uma vida longa, produzindo." a Embrapa acha que uma vida útil de uma planta clonada deve ser 25 anos. Eu atribuo que deveria ser muito mais. 35 anos, 40. Quando eu cheguei em maués tinha planta de 70, 80 anos produzindo ainda bem. Álvaro Zola foi aonde nós colhemos lá o, fizemos seleção de matrizes, tinha uma planta lá produzindo nove quilos torrado, torrado. Deu oito e meio, deu nove quilos, e deu nove e meio. A média de três anos nove quilos torrado. Grande planta. Eu ia lá só para visitar. Bonita, linda. É pena que essa planta quando o Okawa entrou, que nós fomos lá o seu Álvaro Zola já tinha morrido. Abandonou tudo. Não existia mais a planta. O mato tomou conta e se acabou.
P/1 – E deixa eu perguntar para o senhor: para quem planta existe diferença de cuidados, quem usa o guaraná clonado ele tem que tomar cuidados que o outro não precisa?
R – Tanto faz um como o outro é a mesma coisa, os cuidados são iguais. Eu acho que deve ser a mesma coisa, tanto um como o outro. Tanto faz na abertura da cova, a adubação da cova, adubações futuras. As suas pulverizações no combate aos insetos e às doenças. Doenças não se combate, não se cura. Nem adiante pensar em doença que é caríssimo. Em viveiro tudo bem. Mas hoje em dia já nem se faz mais muda de semente para pensar em pulverizações como combater a doença. Como era a antracnose. Que a gente combatia com berlate, gitane, semanal. Pontual. Se falhasse a doença vinha. Hoje não é mais de, ninguém pensa mais em semente. As mudas clonadas não é preciso pulverização com fungicida, só com inseticida. Porque os insetos atacam mesmo. A gente pensa só em pulverizações com inseticidas, e não fungicidas. Porque ninguém planta mais por semente. E mudas clonadas já, quando elas vêm desde a sua origem bem selecionada, com aquela resistência, aquela produção, não é preciso estar pulverizando contra fungos. Doenças fungosas. Só mesmo com inseticida. Isso tem que pulverizar quinzenal, cada 20 dias. Mensal. Tem que começar a pulverização no viveiro. Porque ataca o viveiro que acaba com tudo. Aí nós estamos pulverizando de 15 em 15 dias. E com tamaron, que é muito mais forte que o outro, acefato. É muito mais forte. Do tamaron para o acefato. Então a gente pulveriza com tamaron que tamaron acaba mesmo. Mas não demora com 15 dias já está de novo.
P/1 – Agora, já finalizando, a gente está meio que coletando também causos, histórias aqui da região. Queria saber se o senhor tem alguma história, um causo que envolva o guaraná que o senhor acha que valeria ser registrado.
R – Alguma história?
P/1 – Isso. Que o senhor fala: "Nossa, essa história é só aqui em Maués."
R – Bom, tudo que atinge o guaraná, né? Nós temos o artesanato que é tudo vem do guaraná, da sua, eles formam aquela massa da semente e fazem aquelas figurinhas. O Barrot é o número um em artesanato. Ele deve ter tudo de artesanato em termos de guaraná. O Barrô. Eu acho que o indicado aqui em Maués é só ele mesmo. Acho que ele monopoliza tudo quanto é artesanato por aí. Orquestras de macaco, papagaio, araras, índios, salvas, essas coisas todas que dão o nome assim. Ele deve ter tudo. Fora os artesanatos dos índios mesmo. Ele é o único indicado para dizer outras coisas sobre guaraná, o que sai do guaraná. O que sai. O artesanato que sai de lá. Quem é que disse que da massa, a semente triturada, misturada com água, e puxado forma uma liga, batem em cima de uma mesa. Rola. E sabem o teor já quando está pronta para fazer o boneco. É uma coisa. E como é que endurece e serve como um enfeite, um adorno de uma sala de, é um negócio. Só uma visita lá no Barrot que a gente sabe muita coisa.
P/1 – Tá certo, seu Victor. E, por fim, eu gostaria de saber o que o senhor achou de contar essa história?
R – De contar essa história?
P/1 – Sua história.
R – Aqui toda a que eu falei hoje aqui? Olhe, não foi, não posso dizer que foi, foi surpresa. Mas já, eu já tinha tido notícia de que vocês viriam aqui, né? Através, você veio aquele dia, disse que viria um dia aqui. Mas já equipado. Através de um, pelo Correio recebi um envelope grande, bonito. E lá tinha na leitura que vocês viriam aqui, e que eu me preparasse e tal, aquelas coisas todas. Eu estou achando assim, eu fico até emocionado. É, foi um negócio para mim muito, de muita assim, sei lá, além da surpresa, já nessa idade em que estou, receber uma equipe como vocês para levar de mim alguma coisinha que eu tenho na minha vida. Onde eu trabalhei, trabalho, da onde através dela lutando, trabalhando sempre só a favor dela, lutando por ela, que é a cultura do guaraná, sai o meu sustento da vida. Da minha família toda. Do guaraná. E desde o primeiro dia em que pisei em maués eu comecei a lutar por ele. E ainda não terminei. Eu disse para a Miriam: "Miriam, eu ainda não terminei não. Eu quero concluir fazendo uma coisa só. Embora apareçam outras, muitas coisas ainda pelo guaraná, que a sua produção ainda não está boa não. Esse bolo aí não é assim não. Ele não pode ser esse bolo de copa assim. Tem que ser uma coisa mais bonita, mais coisa. Mais raleado, mais luz, produzindo bem. Guaraná não precisa ser copado assim tão grande para produzir. Apenas poucos galhos para produzir bem. Então a gente ainda tem que bolar alguma coisa para melhorar a produção. Não é só nisso que a gente faz hoje em dia, que é o suficiente. Não, ainda tem muita coisinha ainda." Hoje nós temos clones bons, mundialmente conhecidos. Clones mesmo de que, poxa, a gente olha para ele parece mentira. Olhando para uma plantação de semente, produzindo bem. Saúde, não é preciso pulverizar. Só pulveriza porque o inseto é medonho. É uma praga. Que o trite, que é a maior praga do guaranazeiro. Esse a gente tem que combater mesmo. Se não combater, a produção pode ser clone super, não vai produzir nada. Mas é, que o clone é o caminho, é. No início do clone eu esperei três anos para ver. Eu digo: "Eu quero ver como é que se comporta o clone" quando eu vi que se comportou bem, eu digo: "Agora tem que melhorar." Nós temos aqui um grande, grandes clones. Alto teor cafeínico, bons mesmo. Eu estava dizendo para o Barrot que esses, essas, esses clones, inclusive, o trite não gosta dessas plantas. Eles fogem. A gente procura eles nessas plantas, não tem. Quem sabe não vai ser, futuramente, a solução. Produzir bem, até sem ataque de insetos. Então gente, eu agradeço a vocês arrancar de mim, é, algumas coisinha que eu tinha comigo e que vocês estão levando. Muito obrigado.
P/1 – A gente que agradece.
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