P/1 – Então, senhor Reinaldo, primeiramente muito obrigado por aceitar o nosso convite, pela participação no nosso projeto. Pra começar a nossa entrevista eu gostaria que o senhor dissesse pra gente seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Reinaldo Pedro Correa, sou paulistano, nasci na capital de São Paulo em 26 de fevereiro de 1953, é a data do meu nascimento.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – José Correa e Gemma, com dois ‘m’s, Colombo Correa, sou neto de português e neto de italiano.
P/1 – E o senhor tem irmãos também?
R – Tenho irmãos: Francisco Correa, o mais velho na escala; Paulo Correa, que já faleceu; José Cláudio Correa, também infelizmente não está entre nós, esses três.
P/1 – E o senhor nasceu em São Paulo, mas em qual bairro que o senhor nasceu?
R – Olha, nasci basicamente ali na Água Rasa, na Rua Itamaracá, 170. Naquela época acho nem hospital foi, era parteira mesmo, viu?
P/1 – E o senhor também passou a sua infância nesse bairro?
R – Não, sou criado lá, até hoje a gente comanda a bagunça naquele bairro. Eu sou ali, a loja ta do lado onde eu nasci, então até hoje, criado.
P/1 – Quais são as suas lembranças na infância, quando o senhor era bem criança ali, como que eram as brincadeiras, como é que era o bairro naquela época?
R – Naquela época algumas ruas de terra, é difícil você... A infância praticamente, como eu era o caçula, então, era filhinho de papai. Meu pai não queria que eu fizesse nada, estudasse só e fosse advogado, essa era a vontade do meu pai. Meu pai era dumas duas, três pessoas na época que tinha uma condição financeira melhor naquele local, então, a gente tinha todo o conforto do mundo. E eu não saia, eu fui criado dentro da loja porque a loja era na Avenida Álvaro Ramos, eu morava na Itamaracá, então como é que funcionava? Eu descia da Itamaracá pra ir buscar meu pai na loja, que às vezes era dez, onze horas da noite ele tava dentro da firma trabalhando na parte escriturária, então, eu ia lá, batia na porta, ai depois voltava com ele, que eu tinha interesse também. A gente parava no bar da esquina, ai era lanche, era não sei o que, ele pedia as coisas e a gente, como caçulinha, ele fazia tudo que eu queria. Ai ia buscá-lo à noite lá na loja normalmente.
P/1 – E o senhor mencionou que o senhor era caçula, então, o senhor só tinha que estudar, os seus irmãos mais velhos tinham que trabalhar, tinham que ajudar o seu pai?
R – É, o pessoal, que hoje é um, eu posso te falar que não é bom isso porque... mas to te falando coisa de 1960, né, a década de 60, o meu pai mantinha os filhos na loja, entendeu, então praticamente os três trabalhavam na loja.
P/1 – E o que que eles fazia lá?
R – Ah, era parte de vendas, parte administrativa, então tudo ali, tudo dentro e em função da empresa.
P/1 – Mas sobrava tempo pra brincadeira, pra jogar bola, essas coisas?
R – Eu tinha um irmão que jogava bola, tanto é que nesse time, que era o juvenil do Santos da Água Rasa na época, coisa que a gente comemora esse ano 50 anos de fundação e é na MC que a gente faz a festa, e ele jogava bola. E dali saiu Fernandinho do Vasco, saiu esse, o Sérgio Gomes que foi goleiro do Guarani, do Ceará, saiu alguns profissionais, mas jogava bola normal, né. Só esse meu irmão que deu pra bola, eu não dei pra nada e meus outros irmãos também não.
P/1 – E o senhor chegou a trabalhar na loja um pouquinho mais crescido também ou não?
R – É, veja bem, eu, praticamente que que eu fazia? Eu ia limpar as latinhas, né, um 32 de tinta, ficava lá distraindo, esperando meu pai pra ir embora. E a loja foi minha vida porque eu fui criado lá dentro, eu ia sempre lá, eu voltava da escola, fazia a lição, depois ia lá, vivia a minha vida dentro da loja. Brincadeira com os amigos era natural, mas gostava de ficar lá, né, a gente participava de, era muito criança. E na época eu via futebol, naquela época televisionava direto futebol, meu pai era são-paulino doente, então, ficava às vezes no colo dele assistindo jogos na TV Record naquela época, quando eu tinha sete, oito anos de idade, né, e tudo na Rua Itamaracá, 170 e a loja na Avenida Álvaro Ramos. Então era tudo, minha vida hoje é tudo em função da loja, né, eu fui conhecido, eu sou o que eu sou hoje em função da loja.
P/1 – E o senhor mencionou que gostava de tomar um lanche ali com o seu pai, além dessa lanchonete tinha algum outro comércio daquela época que o senhor se lembra especialmente?
R – Tinha, ali do lado tinha uma fábrica de brinquedos Brasil, pra você vê que tinha alguma venda, alguma coisa. Meu pai chegou a ser sócio dessa fábrica de brinquedos também, né, ali tinha fábrica de brinquedos, naquela época tinha muita revenda de caminhões nessa Avenida Álvaro Ramos, né, e o Cemitério da Quarta Parada que existe hoje antigamente era cocheira da prefeitura, que era naquela época o cemitério não era daquele tamanho, ele teve uma amplidão maior nessa parte nova. Naquele tempo passava o rio onde é a Salim Farah Maluf e tinha um clube de várzea chamado Lestinho Futebol Clube, foi campeão varzeano em 1958 e meu pai era presidente de honra desse clube, né, então meu pai sempre, esse juvenil do Santos da Água Rasa meu pai participava, a gente ia ver jogo de caminhão, né, em cima da garupa e tal, era uma farra total, era uma delícia, chegava no domingo não via, comer aquele churrasquinho de mãe, né, à beira do campo, aquilo era normal, né?
P/1 – O senhor mencionou que descende de portugueses e italianos, o senhor sabe a história da chegada da sua família, tanto da parte portuguesa, parte de italiano, sabe mais ou menos como é que foi?
R – É, não sei, por parte dos pais dos meus pais eu não sei porque o meu avô faleceu logo, minha vó já era falecida quando a gente começa a ter sentido nessa vida. Eu tive mais contato com minha vó materna, que ela faleceu em 69, essa que eu tive mais contato; meu avô também, quando eu nasci, quatro meses depois faleceu, materno, então, eu não tenho de memória da onde eles vieram, mas eu sei que eles vieram da Itália e foram se estabelecer no Belenzinho, na Rua Artur Mota, e ali eles trabalharam no Crespi. Eu lembro porque a minha mãe contava muito isso ai, né? Agora, os pais do meu pai já não lembro porque não tinha muito assunto e como eu perdi o meu pai eu tinha 13 anos de idade, naquela época não se comentava muito com isso, né?
P/1 – E a história, o seu pai, foi ele que abriu o comércio, como é que foi?
R – O meu pai quando resolveu ser comerciante, eu não lembro de antes porque eu não o via, mas parece que ele montou uma loja no centro da cidade em 48, ficou acho que só dois anos com uma loja de tinta no centro da cidade, bem no centro, não sei te falar aonde. Agora em 1950 quando ele fundou essa loja na Avenida Álvaro Ramos, que vendia parafuso, crucifixo, vendia tudo, a Mooca naquela época era periferia, então era uma loja que abria de domingo, de sábado, como acontece hoje nas nossas periferias, a loja mais próxima a nossa de tinta era na Penha, pra você ter uma ideia. Naquela época, pra você ter uma ideia, Tintasil, que era lá no Belém, toda a produção de tinta óleo esmalte eles produziam pro meu pai, depois que iam vender no mercado. Então, era um giro violento na loja, ele tinha um poder aquisitivo impressionante naquela época. Ele montou essa loja, eu sei porque essa loja eu tenho nos arquivos da empresa o contrato social, quatro de agosto de 1950, a loja ta fazendo 62 anos esse ano, então, ali praticamente foi quando ele deixou essa herança pra nós, né?
P/1 – A tradição desses bairros que estão historicamente ligados a sua família, Mooca, Belém, a tradição cultural deles é muito vinculada a imigração italiana e aos operários de fábrica. O senhor enxergava indícios dessa cultura na época nesses bairros? Que que o senhor enxergava, assim, referente a isso?
R – Praticamente essa informação a gente não tinha, né, o que a gente mais focava era, sabe como é que era antigamente? Você trabalhava pra ganhar o teu dinheiro, pra viver, então, você não tinha muita informação. É diferente do leque que você tem hoje, né, então era um negócio bem preservado ali mesmo, no bar, coisa de bar, coisa de várzea. Essa parte de imigrantes você nem ouvia falar praticamente, sabia que os teus avós vieram da Itália, de Portugal, mas nada. Hoje você tem uma informação melhor, se é bom, se é ruim, naquela época você não tinha muito esse tipo de informação, era muito sedentário naquela época.
P/1 – E o comércio ali da região do Belenzinho, da Mooca, ele bastava pras necessidades da sua família ou vocês costumavam comprar, fazer compras também no centro da cidade, tinha essa comunicação com o centro?
R – É, o centro da cidade era passeio, eu lembro que chegava a época de natal, por exemplo, um pouquinho antes, e eu lembro que teve um fato, bem garoto, eu não lembro minha idade se era sete ou oito, minha mãe me perdeu no centro, foi uma apavorada, eu me perdi dela e tal. E a gente ia pro centro da cidade, era uma farra, pô, aquelas lojas lotadas, você podia andar pra cima e pra baixo. Então, você quando tinha uma compra mais forte você ia pro centro da cidade, era característico isso porque além de passear de ônibus, né, você tinha de tudo na cidade. O bairro lá não é que não tinha, mas não dava pra comparar. Hoje você tem ali próximo, você tinha o Belém que era um bairro bem desenvolvido, né, tinha a linha do trem que cortava, né, e a Avenida Álvaro Ramos, se você pegar, praticamente o comércio era depois do cemitério pra baixo, um pedaço, porque o que acontecia? O cemitério queimava ali, né, e depois do cemitério, pra baixo, em 1967, 68 nasceu uma loja chamada Loja das Bagunças, lá na Álvaro Ramos também, que é hoje a atual loja Preçolândia.
P/1 – Como é que o senhor descreveria, assim, o seu pai e a sua mãe na sua infância, como é que eles te educavam pra ser um comerciante, pra algum dos seus irmãos assumir o comércio um dia, eles tinham essa preocupação?
R – O que eu observava era o seguinte, eu não podia reclamar muito, meu pai era uma pessoa que a gente... convivi com ele só 13 anos, muito pouco pra pegar um pouco da experiência comercial que ele tinha, né, cultura primária, né, como era, minha mãe é filha de italiano, filha única, tinha já uma cultura um pouco diferente, mas era prendas domésticas, dependia do meu pai, meu pai foi um comerciante bem sucedido acho que pela própria capacidade pessoal dele, entendeu? Pela experiência dele, que eu não sei te falar e nunca ele induziu eu ser comerciante, o foco dele comigo era que eu estudasse, entendeu, que eu fosse o advogado da família, essa era o pensamento dele. E com relação a minha mãe não tem nem o que falar, mãe é meio complicado você falar de mãe, que não da, mãe é mãe, pô, ainda mais caçulinha, não tem comentário nenhum, né?
P/1 – E os seus irmãos, eles sofriam uma influência pra um dia se tornar comerciantes também?
R – É, eu não sei se era agradável eles estarem lá na loja, hoje a gente tem essa experiência, que se tivesse que dar conselho pra alguém, uma empresa familiar é muito complicado e você manter a tua equipe fazendo parte de família é muito ruim. Mas naquela época ele comandava, então você tinha o chefe, ele tinha o bastão na mão, então ele tinha os filhos, três lá, ele sustentava os três e os três trabalhavam pra ele, gostavam de trabalho, estudavam do mesmo jeito. Meu irmão era, que faleceu, o Paulo, era um pintor fantástico pra pintar quadros, e o outro meu irmão, José Cláudio, que também faleceu, não era muito de escola, mas era um cara prendado, tava lá participativo, não saia da loja, e esse meu irmão que é vivo até hoje, o Francisco, sempre foi o de vendas, sempre foi o cara que saia pra vender, pra negociar, fazer os contatos, era ele que fazia os contatos externos.
P/1 – Bom, o senhor que, o seu pai, essa preocupação com os seus estudos, em qual escola o senhor estudou quando era criança?
R – Tudo por ali, eu fiz o primário ali no Queiroz Teles, que hoje está na Rua Itaquiri, foi na época que eu fiz; estudei no São Paulo Apóstolo, que é na Tobias Barreto, ali perto, né; ai fiz a outra parte que eles falam agora curso lá no Plínio Barreto, que era na Rua Siqueira Bueno, até hoje; ai quando eu me formei no Plínio prestei Direito na Faculdades Integradas de Guarulhos, naquela época era FIG, e eu entrei na FIG quando ela mudou pra Guarulhos, até então ela tava na Ponte Pequena, ali, ai mudou pra Guarulhos, eu fui um dos que inaugurou aquela faculdade, que naquela época tinha só Educação Física e Direito só, hoje é um complexo enorme, né. Fiz Direito os quatro anos pra cumprir até uma meta do meu pai e depois eu fiz Administração de Empresas na São Judas, que ai foi a época que eu casei, então ai eu já procurei estudar mais próximo de casa.
P/1 – E o senhor chegou a pensar em seguir nessa carreira de Direito mesmo, lá durante o curso você percebeu que...?
R – É, a carreira de Direito eu fiz, o meu professor aonde eu cumpri o estágio de Direito foi o Wilson Olivetto, o Wilson Olivetto era pai do famoso Washington Olivetto, ele me conhece pelo Reinaldo das Tintas, o Washington, sabia que o pai dele era muito amigo, tava sempre, porque a minha afinidade sempre foi com as pessoas de mais idade, sempre foi na época, então quando eu tinha 30 eu tinha amizade com o de 60. Então o doutor Wilson passava pra tomar café lá, porque o escritório dele era no Belém, mas ele passava pra tomar um cafezinho comigo, tava sempre comigo, ele vendeu pincéis pro meu pai em 1953, 52, então, quer dizer, nem advogado era; então estagiei no escritório dele, aprendi muito lá com ele e era um grande parceiro. Advoguei, fiz algumas ações, não teve problema nenhum, só que a minha meta pela empresa na época era fazer Administração, era uma necessidade que eu tinha na época.
P/1 – O senhor já tava decidido nessa época a um dia assumir a empresa?
R – É, a empresa funcionou assim, meu pai faleceu em 66, eu tinha 13 anos, um anos antes, ele foi fazer uma operação em Campinas de catarata. Antigamente uma operação de catarata você ficava uma semana internado, e nessa semana que ele ficou lá no preparatório antes e depois, quem ficou com a parte administrativa da empresa na casa da minha mãe - porque o escritório não era na loja, era na casa, na Rua Itamaracá, ficava lá dentro- era eu, meus irmãos vendendo e eu fiquei lá. Quando ele voltou eu continuei fazendo alguma coisa do lado dele, só que quando ele faleceu quem sabia tudo era eu, entendeu? Então eu com 13 anos passei a assumir a parte administrativa da empresa lá na casa da minha mãe, então eu ficava lá, eu que fazia tudo, cheques, pagamentos, era tudo comigo, meus irmãos só preocupados em vender. Então, eu passei a assumir a empresa já com 13 anos de idade.
P/1 – Como é que foi esse aprendizado pra conseguir lidar com essa situação?
R – Ah, foi com ele o pouco tempo que eu tive, de lançamento de livro, conta, comprar, vender. Naquela época você, veja bem, eu costumo falar até hoje, administrar dinheiro é muito fácil, cara, é difícil administrar dívida, né, e naquela época, bem ou mal, com 13 anos de idade eu administrava dinheiro. Meu pai tinha dinheiro, então não tinha problema, pagava tudo em dia, a maioria das coisas era a vista, chegava caminhão ali era a vista, não tinha problema nenhum. Então você administrar dinheiro é fácil, então eu acho que por isso que eu consegui tocar. Lógico que se você analisar, 66, a loja teve um crescimento de 66, 69, 70 ela teve um crescimento enorme no mercado, mas em 1974 nós tivemos a crise do petróleo, com a crise do petróleo houve uma redução nos prazos pra pagamento na época; como o nosso setor era especializado, era tinta, sempre foi tinta, então 99% era multinacional, dependia do mercado externo, então ai o que que aconteceu? Crise do petróleo, nós tivemos problema, problema com prazo. Então eu passei uma fase difícil financeira de 75 até 79, que não foi mole, eu não dormia de noite, fugia de gerente de banco, nunca deixei de pagar ninguém, nunca peguei dinheiro em banco, a loja tem 62 anos e nunca peguei dinheiro pra comprar tinta em banco, sempre com capital próprio, nunca peguei capital de giro, nada. O único dinheiro na história da Correa que foi pego em banco foi pra fazer o prédio onde nós estamos hoje, que foi numa ORTN, que ele acabou, o gerente era meu amigo, me pôs na parede, falou: “Ou pega ou larga que vai encerrar hoje”, numa sexta-feira, peguei: “Dois anos ou um ano?”, falei: “Um ano porque eu não vejo a hora de pagar”, foi quando eu paguei a última e levei a promissória na mesa do gerente pra ele ver que tava tudo pago, ele falou: “Pô, não precisa nem me mostrar”. Mas pra mercadoria, capital de giro, nunca a loja fez desconto de duplicata, nada, nada, nada, sempre capital próprio.
P/1 – E durante a sua faculdade de direito o senhor já fazia, se dividia entre a administração da loja e a faculdade?
R – Isso, então veja bem, você tem uma certa facilidade, entrei na faculdade no meio do ano, entrei em 73, eu já administrava a loja, mas quando você é patrão é mais fácil no quê? É diferente, você é funcionário, sabe o que é isso, você fica trabalhando o dia inteiro e à noite vai pra faculdade. Eu não, se eu tivesse que sair quatro horas da tarde pra estudar um pouco antes de fazer uma prova eu tinha essa liberdade, eu ia pra casa da minha mãe, estudava e ia, não deixa de ser uma facilidade, coisa que uma pessoa normal não tem. Então eu estudava e ficava na empresa, eu fui baterista de conjunto. Lá no bairro tinha um conjunto que era do tempo do Atuco, que era um conjunto mais famoso, mas era baterista dos Papadox. Eu toquei essa bateria 12 anos nesse conjunto, então eu ensaiava lá na Rua Itamaracá com o pessoal lá. Às vezes tinha que parar o ensaio pra fazer cheque pra pagar fornecedor, era o maior barato e ai chegava o cobrador, ai parava o ensaio, ia lá, fazia o cheque, recebia, ia embora, continuava o ensaio. Era tudo na casa da minha mãe, que a minha mãe fazia bolo, fazia não sei o que, então era uma beleza.
P/1 – E ai o senhor decidiu fazer a faculdade de Administração visando se aprimorar na administração da empresa?
R – É, não, ai eu fiz naquela época, porque não tinha informática ainda na época, por eu ter já um curso superior eu acabei fazendo Administração de Empresas em dois anos. Tenho CRA, tenho tudo, como eu tenho a OAB, tudo direitinho, mas eu tive um percurso menor por ter algumas matérias que consta da Administração que já tinha no Direito. E eu fiz e me ajudou muito pra administrar a empresa. Só que eu volto a falar pra você, administrar dívida é complicado, é muito complicado. Nós passamos uma fase maluca, uma fase do mercado, que naquela época tinha uma comunicação de reuniões, não é que nem agora, chegou a comentar que, naquela época - porque aquela época era G Correa, GC Correa, que era o nome da minha mãe, né, G Correa, GC Correa e tal, Casa Brasil que todo mundo conhecia - a gente não ia aguentar, entendeu? Então quando eu vi essas coisas que a gente não ia aguentar, eu devia muito na Suvinil, que não ia aguentar, que ia quebrar e que me motivava mais pra superar. E eu dei a volta por cima, né, e como é que fiz? Foi simples, eu lembro até hoje: eu peguei um bolo de duplicata com 60 dias, vence hoje, hoje é dia 11, peguei as duplicatas de hoje, falei: “Tem 60 dias de duplicata”, deixei separado lá fora: “A partir de amanhã eu vou pagar tudo em dia, esses daqui”, chamei tudo lá pra negociar, paguei todo mundo, eu me matei, negociei juros, naquela época se falava em 3% eu falava que era um absurdo e tal, acertei tudo, paguei todo mundo e assim que eu comecei, dei a volta por cima e voltou ao normal de novo, mas foi difícil.
P/1 – Isso foi um aprendizado prático ou foi um aprendizado que o senhor levou da faculdade?
R – Olha, não foi da faculdade, não, acho que foi da minha cabeça mesmo, eu falei: “Eu vou dar uma parada aqui”, porque eu preciso dormir às vezes, né: “Vou dar uma parada aqui, vou pagar daqui pra frente tudo em dia, daqui pra trás avisar os caras pra não mandar pra cartório e começar a vir aqui negociar comigo”. Eles confiavam em mim e até naquela época eu lembro que o pessoal fala, aliás falam até hoje os mais antigos, que a loja só não quebrou por causa minha, mas eu não acho que é isso, não, é uma série de fatores somados, né. Eu até agradeço que eles falam isso, mas...
P/1 – Desde muito cedo o senhor já foi pra essa parte administrativa, 13 anos, né, o senhor chegou também a experimentar as outras funções de um comércio, por exemplo, atender, ser vendedor, o senhor chegou a pelo menos experimentar essas funções?
R – Sou um péssimo vendedor, cara, é gozado, eu sou mais administrador, não sou de balcão, é muito difícil essas coisas. Hoje essa necessidade eu já procuro, mas nossa, meu negócio é... tanto é que até mil novecentos, minha mãe faleceu em 85, até 1986 eu era enfiado dentro da loja, cara, focado só na loja, um erro, não devia ser assim. Ai depois que abriu um leque dali pra frente, que depois a gente vai falar sobre isso.
P/1 – E com o passar do tempo os seus irmãos continuavam te auxiliando com as mesmas funções, como é que foi se desenvolvendo, assim, essa atividade familiar comercial?
R – É, você imagina na parte financeira, que o mais velho era casado, o outro casou, o outro era solteiro, tinha namorada e eu administrando dinheiro, você tem ideia o que é isso? O caçula mandando nos mais velhos. Mas o quê que acontecia? A loja tava em nome da minha mãe, a loja só passou a ter o nome dos filhos com ela em 1974, só. Então até lá tava em nome da minha mãe. Ela acabou me emancipando pra maioridade e passou uma procuração pra mim, então ela confiava imensamente em mim. Eu assinava os cheques e administrava tudo. Então era difícil, esse negócio de vale, briga, você sabe, o irmão tira um dinheiro a mais que ganha, é natural a empresa familiar. Era os atritos de sempre com os meus irmãos, mas eu consegui levar, to aqui até hoje, né? Tá bom.
P/1 – Com a sua administração o que que mudou essencialmente na loja ali, muita coisa?
R – Ah, teve uma época, por exemplo, aquilo era... a gente tinha alguns imóveis, era aluguel, aquilo entrava tudo dentro da empresa, aquela tal da administração, entrou aluguel, entrou tudo, tira tudo daqui e tal. Eu na época o que eu consegui fazer foi separar tudo, entendeu? Tipo, não, que aluguel que vai entrar é da minha mãe, pô, ta lá, a retirada dela é essa, quem correu atrás da aposentadoria dela, fui com ela. Aquela época se pagava um mico, né, e o cara chegava, eu não ia deixar ela lá com um monte de documento pra fazer prova, então ia lá, duas, três vezes, até que uma hora o camarada: “Não, aqui falta...”, “Não, não falta, tá aqui”, até que saiu a aposentadoria dela. Então, ela vivia da aposentadoria e dos aluguéis, os aluguéis não tinha que entrar pra empresa. Tudo essas coisas eu separei, empresa é só empresa, deixava ela com a vidinha dela tranquila. Graças a Deus essa parte eu fiz.
P/1 – Como o senhor descreve pra gente, assim, fisicamente como é que era a loja quando o senhor começou a assumir e como é que ela foi se transformando fisicamente com o passar do tempo?
R – É uma loja que o estoque era fantástico pelo poder aquisitivo que o meu pai tinha, super estocada. E o excesso estava na minha casa, então você tinha estoque até em cima do telhado, no forro, tinha muita mercadoria, tudo pago, e ai o que aconteceu? Com o falecimento dele, tudo, o passar do tempo, as coisas vão mudando, você toma muito cano. Naquela época não era nada diferente de hoje, lógico que naquela época valia um pouquinho mais a palavra, hoje já não vale mais nada, você assina já não vale, imagina... e dava pra trabalhar até a hora que a gente começou a ter algumas modificações comerciais, ai começou a atrapalhar um pouco, ta entendendo? Então o que aconteceu? Em 1969, três anos após o falecimento do meu pai, os proprietários do imóvel da Álvaro Ramos pediram o imóvel, então, pô, eu que tinha que resolver, você tem ideia, em 1969 eu tava com 16 anos e ai eu consegui um imóvel na mesma rua, quase na esquina, no 1948. Ai nós mudamos pra lá, você tem aluguel, tudo eu que tratava, eu que negociava com imobiliária, tudo eu que fazia. E passamos pro 1948 e ali teve uma modificação, a loja era maior, o movimento maior, então é aquele negócio, eu cheguei a ter 13 funcionários na loja, só que ao mesmo tempo que era bom era ruim, o controle não é que nem hoje, então você tinha funcionário que vendia lata na porta da loja, já pegava o dinheiro e punha no bolso. Era muito complicado que você tinha funcionário de confiança também, né. E naquela época nós ficamos nesse local até 81 quando eu mudei pra onde nós estamos hoje, coisa que era um sonho meu ter a loja própria. Naquele imóvel meu pai tinha comprado dos irmãos, tava lá uma casa praticamente abandonada na Rua Serra de Jairé, que ai eu resolvi, cismei em 79 fazer uma loja lá. Construtora lá perto, a Francisco Alves, também amigo da gente, vamos ver, vamos ver, mas não tinha dinheiro, não tinha como fazer, ai passado um ano, ai vamos fazer, acabei fazendo. Foi quando saiu a loja, foi a melhor coisa que eu fiz porque se não, se estivesse de aluguel até hoje teria fechado, não tinha como pagar um aluguel comercial trabalhando, porque hoje ela é uma empresa pequena que trabalha ali sazonalmente, só em volta ali, nada de vender, porque hoje o que você tem que fazer? Você tem que dimensionar, hoje é trânsito que não anda, é um monte de coisa, então compensa? Não, lógico que não compensa. Então você da um atendimento de excelência na tua volta, num raio de uns dois, três quilômetros, sei lá; e manter cliente, que a nossa loja é bem antiga, tem clientes de mais de 40 anos, essa era a ideia, né.
P/1 – E imagino, eu estou pressupondo que antigamente você tinha uma menor variedade na oferta de tintas, então tinha uma preocupação em expor uma marca específica ou havia espaço pra expor de tudo?
R – Não, a gente sempre teve a linha de frente, que hoje é a Suvinil, Coral, Sherwin Williams, a gente sempre trabalhou. Eu trabalhei com a Sherwin Williams quando a matéria prima era toda americana; a Sherwin é uma empresa americana, empresa forte, comprou inclusive a Coral hoje, né, então eles têm um grupo fortíssimo. Mas a preocupação era de ter a linha, quando nós ampliamos, de 69 pra 70 a repintura automotiva, naquela época tinta de carro você comprava pronta e são seis quartos de cada cor, então todo ano que entrava novo, você imagina ter oito cores por ano de cada fabricante de cada marca, olha a loucura que era! Você empatava o capital violento, caríssimo. Hoje você tem máquina que faz tinta na hora, você mantém só as bases. Mas mesmo assim hoje, no século XXI, está voltando a preferência por tintas prontas, que é onde eu to tendo que empatar um capital maior, porque sai um pouco mais em conta e o pessoal ta voltando a comprar algumas tintas prontas, tintas tradicionais. Porque aqui, o Brasil é um país atípico, pra nós que somos brasileiros é ótimo ta aqui, mas não pode passar na tua cabeça que você tem uma linha Volkswagen preta com cinco tonalidades de preto, só aqui no Brasil, né? Porque fora lá o preto é o preto, é um só, aqui não, são cinco tonalidades de preto, você tem o Fox 2008, você entra na tela do computador, que hoje é mais moderno, ta lá, tem cinco versões do preto. É brincadeira, né? Você tem que ser o técnico pra vender tinta.
P/1 – O senhor tinha mencionado que a loja na época do seu pai vendia de tudo um pouquinho, de crucifixo, né, quando é que foi essa especialização só em tintas, como é que foi essa decisão?
R – É, veja bem, vendia. Naquela época você vendia querosene solto, nós tínhamos três tambores de duzentos litros cada, você tinha uma torneira nos tambores, então entregava o caminhão pipa, que nem entrega água hoje, enchia, a gente pagava e o pessoal comprava de litro, você tinha muita lamparina, aquela época comprava a granel. A gente tinha balança pra pesar... alvaiade era a granel, não tinha essas embalagens tudo pronta naquela época, isso dava um lucro violento, isso trabalhava muito bem, né; e aos poucos ele foi se especializando em tinta, já na época dele, em 1964 ele chegou a montar uma filial na Conselheiro Justino, que é a Praça Kennedy hoje, não existia a Radial Leste, e era só de tinta, então ele se especializou, ele foi tirando isso ai, entendeu. Já na minha época de garotinho já era mais só tinta, praticamente já tinha eliminado isso ai já, ferragens, essas coisas já tinha saído fora. Então basicamente o nosso enfoque era tinta, sempre foi tinta.
P/1 – E essa opção se deu por qual motivo?
R – Não tenho nem ideia, isso acho que foi mercado mesmo, afinidade que ele tinha com alguma indústria, né? O pessoal da Sil era muito amigo dele, basicamente tinta imobiliária. Ele foi um dos primeiros que lançou a tinta pra pintura automotiva no mercado, na revenda, né, era coisa, além de ser caro, era muito difícil você vender tinta de carro.
P/1 – O senhor mencionou que a Mooca, essa região na época era periferia, né?
R – Periferia.
P/1 – Com o passar do tempo foi sendo engolida por essa massa urbana, né, acabou se tornando quase uma região central praticamente hoje.
R – Hoje é.
P/1 – Como é que isso transformou o comércio de vocês, eu imagino que vocês ganharam bastante concorrência, como é que foi, como é que se alterou a rotina de vocês?
R – É, transforma, o bairro hoje é um centro da cidade, né, a Mooca, você não pode falar, o que que transforma? Antes você abria de sábado o dia inteiro, domingo até meio-dia, uma hora; hoje não, hoje de sábado você fecha uma hora, to até repensando e analisando se compensa ainda abrir de sábado. Como tem a feira lá perto, todo mundo me conhece, então aquilo é uma bagunça, às vezes to na porta é um, é outro, você conhece todo mundo, você foi criado ali. Como eu te falei anteriormente, então vai, até é interessante, você acaba abrindo, mas de domingo eu não abro mais. Hoje a concorrência, a cada três, quatro quarteirão qualquer lojinha, até loja de calçado vende tinta hoje, então é uma bagunça, não há critério nenhum, não tem. Hoje você tem as redes grandes de tinta, de shopping que tem tudo quanto é produto diversificado, então mudou muito o quadro, aquele quadro de lá pra cá. Hoje o conhecimento é maior, aquele enfoque, você quer comprar tinta compra em loja de tinta de fato ainda prevalece e tal, porque ali tem um cara técnico que pode te informar direitinho, né? Eu ainda continuo batendo que os shoppings, eles têm tudo, tem o conforto, mas não tem o cara pra te informar a tinta certa praquilo que você precisa, isso você encontra ainda na loja de tinta, entendeu? Que é o cara criado nisso ai e tal. Por mais que eles tentem reciclar e fazer e trocar é complicado, o camarada que ta naquele setor não é o feeling do cara, mas eles não tem outra maneira de fazer. E tem aqueles, hoje qualquer um pinta, a facilidade, antigamente você tinha pintores, quem ia comprar tinta na tua loja eram os pintores profissionais, então mudou muita coisa, o perfil mudou, o próprio perfil do consumidor, pelo amor de Deus, mudou pra melhor, não tenha dúvida disso, né, eu acho que...
P/1 – Falando nisso o senhor mencionou a importância do vendedor conhecer do que está vendendo, o senhor oferece um treinamento, como é que o senhor faz pra procurar novos funcionários, novos vendedores, a pessoa tem que saber minimamente do assunto, como é que é?
R – É, eu tenho o pessoal lá, hoje eu to com três funcionários, mas eu perdi um o ano passado que tinha 31 anos de casa, fez muita falta. Mas peguei um rapaz com pique novo e tem uma menina que ta há 30, agora 31 lá comigo. Então já tem uma escola ali, hoje com três eu trabalho, garoto a gente ensina, lógico que quando tem alguma novidade no setor, antigamente tinha muito curso de tinta, agora tem às vezes, mas é mais pra pintores de automóveis. Quando tem a gente procura participar pra tentar atualizar, eles aceitam isso, e é muito bom, mas praticamente a escola da loja mesmo, o camarada acaba, o consumidor vai lá porque conhece eles: “Ô, você ta aqui ainda, tantos anos e tal”, aquela coisa toda.
P/1 – E quais tipos de tintas vocês vendem ali, quais tipos de cliente, quem vai procurar as tintas ali, é o pessoal da indústria, é uma pessoa física, é uma empresa, quem é que procura vocês?
R – É, por eu não ter telemarketing, lá não tem indústria, basicamente é consumidor e pintor de automóvel, esse é o meu perfil de consumidor, o que tem as oficinas de pintura. A gente procura depois de tantos anos de vida vender pras melhores sempre, lógico, eu trabalho com produto de primeira linha, produtos caros, e a pessoa que conhece sabe o que que é trabalhar com coisa de primeira, não é como a gente falava, as bombas de porco. Hoje a gente evita isso. E o consumidor da tinta decorativa, ele tem nada mais nada menos que a confiança na loja, por quê? O pintor da a relação, ele fala: “Não, vou comprar lá no Reinaldo porque é meu amigo, eu sei que lá não tem problema”, ai ele vem e compra. O pintor se ele pedir latas a mais, alguma coisa, eu não vou vender porque ele já vai me dar a metragem, mais ou menos nós vamos vender o que ele necessita, que normalmente acontece diferente em outras lojas, o camarada vai lá e compra o que o pintor mandou. Não é o nosso caso, a gente faz com que o cara compre a mercadoria que ele necessita, o essencial pra ele. Não vendemos nada a mais que não tem interesse e ainda com a hipótese, o que ele não usar, tiver fechado sem mexer, pode trazer de volta, não tem problema nenhum.
P/1 – A tinta é utilizada praticamente em tudo: tecido, parede, quadros. Vocês já pensaram em ampliar o leque, em vender tintas pra outros tipos de atividade, já chegaram a comercializar tintas pra outras atividades?
R – Praticamente nosso enfoque foi esse: decorativa, que eu te falo que é imobiliária, e a repintura automotiva, esse era o enfoque forte, e acessórios que você é obrigado a ter, esse tipo de acessórios você é obrigado a ter. Mas hoje, hoje eu tenho um pouquinho de material de construção que é obrigado, o camarada fazer um reparo depois vai pintar. Eu tava perdendo esse cliente pra depósito de material de construção porque o perfil do depósito de material de construção antigamente, que era no tempo que a gente tinha loja de tinta, material de construção raramente vendia tinta e quando vendia era muito mais caro, então prevalecia a loja de tinta. Hoje o perfil é outro, hoje o material de construção ele tem razoavelmente, pouco diferença, o mesmo preço que tem uma loja de tinta, então você acaba sendo obrigado a mudar o enfoque da empresa. Então, eu tenho areia, peça pra casa, essas coisinhas, nada de caminhão de areia, isso ai não, não é minha área.
P/1 – Eu queria que o senhor dissesse pra gente também de que forma essas inovações tecnológicas, por exemplo, o telefone celular, a internet principalmente, de que forma isso afetou, ajudou ou não a sua atividade, o advento da internet?
R – Essa parte de venda, parte que o pessoal usa a internet, lógico que as lojas mais avançadas já se utilizaram disso, não é o nosso caso, não é o meu perfil pra isso, o meu perfil é, como eu te falei, atender a área ali, entendeu? Não é o meu perfil, mas eu acho super interessante, super moderno. Hoje é muito mais prático, tanto é que o pessoal incentiva a compra pela internet com preço muito mais barato do que você comprar na loja, já tive observando isso, né? Mas como eu to naquele perfil de consumidor, lógico que numa classe A, eu não tenho perfil do consumidor que vai comprar uma lata de tinta de oitocentos reais, essas lojas têm, no perfil internet, que a mulher quer o vermelho não sei do que e esse vermelho na máquina sai oitocentos reais uma lata de tinta, esse perfil eu não tenho lá, eu tenho o perfil de uma lata normal, alguma coisa diferente, então eu tenho esse perfil. Agora, quem tem o perfil um pouco mais caro eu acho que funciona bem internet, mas isso é uma necessidade, isso hoje faz parte do nosso dia a dia, não tem jeito. O que ajudou a parte eletrônica, lógico que ajudou, hoje eu tenho telefone fixo, hoje eu tenho rádio Nextel, hoje você tem celular, tudo isso agiliza, é muito mais rápido você ter contato com as pessoas, é muito mais fácil. Hoje você tem que se adaptar ao mundo pessoal, mas esse mundo atual que a gente ta hoje, ele vai muito rápido, cara, você não pode parar não que ele já ta andando lá na frente. Mas não é a minha ideia, pode até ser futuramente, mas não é minha ideia essa venda pela internet do setor de tinta. Eu acho que tem muito a produzir ali no balcão ainda, contato, pessoa, sei lá, é uma coisa meio que antiga um pouco, a coisa mais avançada. Eu tenho uma filha que é da área de vendas de produtos, que ela é veterinária, produtos pra.. nossa, eu vi que é completamente, é coisa de maluco, não tem nem como, tudo telefone, já ta ali no cara, nossa, uma loucura.
P/1 – Mas dos clientes o senhor chega a sentir essa vontade, essa...?
R – Não, do meu pessoal lá não, você percebe que é um pessoal tradicional. Lógico, a internet por que você usa? Email confirmando, hoje você vende pra algumas entidades que você passa o email, pede cotação, você volta, devolve, isso é muito mais prático, antigamente era tudo papel, vai e volta, mandar no correio, agora não, você vai e volta, o cara ok, você já ta entregando, né, então facilita muito, bastante.
P/1 – E sobre essa coisa da entrega a domicilio, o senhor também já sentiu a pressão pra entrar nisso também, o senhor utiliza isso?
R – Sempre fiz, sempre fiz, procuro limitar ali em volta, um caso ou outro, mas procuro. Quando é muito longe, às vezes é um amigo que faz questão de comprar, então eu utilizo lojas de amigo, que tem mais redes de loja, é mais fácil, ai eu faço uma ponte, eles entregam pra mim.
P/1 – E como é que funciona, o senhor tem um carro próprio, é o senhor que entrega?
R – Eu tenho, eu tenho o carro da empresa e tem o rapaz que trabalha lá dentro, ele também é motorista. Eu procuro pegar funcionário que é motorista, também dirige moto. Os dois tem moto, então fica mais fácil, entrego por ali, procuro facilitar.
P/1 – O senhor tem uma loja que é tradicional no bairro ali, que ela é fortemente localizada, clientela da região. O senhor já chegou a pensar em abrir umas filiais no próprio bairro ou em áreas próximas, tem esse plano?
R – Meu sonho era abrir Itaim Bibi, abri uma loja em 75 na Tabapuã quase com a Bandeira Paulista. Era uma loja muito boa, vendia bem, outro, elitizado, mulherada dirigindo carro, naquela época era meio raro, pro lado de casa você não via quase. E vendia areia já naquela época, as mulheres tinham gato no apartamento, então precisa comprar areia, um negócio meio diferente. Mas quando entrou o plano do Sarney, em 85, 86, você tinha que equiparar os preços que você vendia na matriz na filial, você não podia ter preço diversificado. E lá o bairro o poder aquisitivo era completamente, meu preço lá era um, o preço na Mooca era outro, então eu fechei a loja depois de uns dois anos porque ai não dava pra manter o custo, o aluguel era muito caro, tinha gerente lá. Foi complicado, mas cheguei a ter filial, fechei, e ai não me passa na cabeça, não. Veja bem, o que que acontece? Meu irmão, pela experiência que eu tive de empresa familiar, eu sou meio contra isso, então não deixei os meus sobrinhos entrarem lá porque o problema de empresa familiar é dinheiro, aquela coisa toda que a gente já conhece, cada um tem uma vida. E minha filha partiu pra um outro campo, então a minha ideia, esse ciclo Correa Tintas a tendência é terminar comigo, a tendência é essa. Então por isso que eu não tenho ideia de ampliar nada, ta bem do jeito que ta, eu preciso é manter a loja com um volume que ela se pague automaticamente, que eu fique satisfeito, tanto é que ali a gente ta tentando acertar algumas coisas familiares de espólio, uma coisa pra eu ficar só com aquilo ali só, só eu ali e o resto eu abro mão de tudo porque eu não quero nada. Eu nunca tive muito, não sou muito ligado com dinheiro, não, a expectativa muito...
TROCA DE FITA
P/1 – Atualmente o Brasil ta passando por um período de fortalecimento na economia, a gente observa também um boom imobiliário muito forte, né, muitas construções, isso de alguma forma ajuda o seu negócio? De que forma isso ta influenciando a sua atividade?
R – É, esse boom imobiliário do jeito que ele é divulgado da a impressão que a gente ta participando dessa novela toda ai, mas não é bem assim, como é que funciona isso? Esses programas Minha Casa, Minha Vida, PAC I, PAC II, é super importante, foi muito bom, o Programa de Aceleração do Crescimento, mas pra atingir o varejo, como é que atinge o varejo, que é aonde a gente participa? Funciona assim: qualquer obra, independente de ser obras do governo ou não, casas populares ou casas, qualquer obra você concorda comigo que vai material de construção, tudo o que vai, vai direto da indústria pra essa obra, o comércio não tem participação, aonde que o comércio tem a participação? O camarada que comprou imóvel novo, que deixa o velho e vai morar no novo, provavelmente o que ficar no velho, que comprar no velho, provavelmente ele vai precisar fazer uma manutenção, vai ter que arrumar, ou o que comprou o novo fazer uma parede diferente, uma cor diferente, ai entra o comércio varejista, é ai que entra o comércio. Essa aceleração na área imobiliária, essa aceleração na construção civil, atinge muito a área da indústria, por isso que eu me debato sempre com esses índices que aparecem, que eu não defendo esses índices no varejo, é completamente diferente, então a ponta só atinge no final, então atinge na reforma, precisando algum reparo, algum coisa assim mas de cara, no começo dessas obras, de jeito nenhum, não tem como pegar, então é motivação pro setor? Não tenha dúvida, Copa do Mundo, estádios, vai ser tudo motivação, eles vão fazer estádio do Corinthians lá, poxa, ali vai agitar o comércio, vai agitar um monte de coisa em volta, isso é bacana, mas não que o comércio vai fornecer ali, é meio complicado, na área nossa, né, material de construção, tinta e tal. Eles compram direto, hoje um prédio compra direto da indústria, a indústria vende direto, né, infelizmente, mas é a realidade. Isso é uma briga que eu tenho de anos, é uma briga que uma vez eu fui, quando teve o plano do Sarney, o primeiro congelamento, nós resolvemos fundar uma associação dos revendedores de tintas naquela época, a ARTESP que existe até hoje. E eu fui o segundo secretário na época da fundação, pegamos as lojas principais e tal e o presidente ficou um ano e depois, o mandato era de dois anos, ai eu fui eleito já o próximo presidente, fiquei com dois anos no mandato. Eu peguei todos os planos, cara, eu fui um cara iluminado, peguei o Verão, peguei o Bresser, peguei tudo, só bucha. E eu brigava com as fábricas naquela época, eu não era amigo das fábrica como a ARTESP é hoje, parceira, jantares, banca tudo. No meu tempo eu não pegava um centavo deles, não aceitava, inclusive lá na FIESP, tentaram várias vezes fazer isso e eu não concordava. Então era a loja de tinta que eu defendia, foi um desgaste violento, aquela época chegamos a fechar, em 1989 chegamos a fechar 70% das lojas no Estado de São Paulo, saiu até na primeira página do Estadão na época, protesto, porque o que aconteceu? Quando saiu o congelamento eu provei pra eles que a indústria um dia antes mexeu no preço, nós estávamos congelados, era fácil de pegar isso ai, entendeu, levei a prova, mostrei tudo e eles não tomaram conhecimento, tomaram conhecimento, mas você sabe como é que é a influência, quando eu digo, de multinacional perto de nós que não éramos nada. Eu nunca vou esquecer, teve funcionário lá que prometeu um monte de coisa, isso ao vivo, junto das indústrias e assim que eu virei as costas, eles devem ter combinado, pediram que eu não desse entrevista, a reportagem toda lá fora, porque não ia ser legal, que eu saísse da Receita Federal por um elevador privativo pra evitar a imprensa, ai ele vai, esse cara que eu não quero nem citar o nome dele, que ele deve ta até hoje lá, um cara novo, inclusive muito sacana ele foi, ele vai, da entrevista, diz que quando punha a fábrica e a loja junto não acontecia nada, ninguém falava nada, isso no dia seguinte, quase eu tenho um infarto porque eu queria matar o cara porque ele não deixou eu dar entrevista pra ninguém. Pelo contrário, eu falei pra ele, eles andaram, me perseguiram, mais de 15 dias com a loja fechada, tentaram ver se eu tava vendendo por fora, foi uma loucura, você não tem ideia. Então esses planos eu passei todos quando eu era presidente da Associação dos Revendedores de Tinta, isso tudo pra melhorar o nosso setor porque tava, o que manda é o poder, hoje você ta vendo que é complicado, mas naquela época eu defendia muito o pequeno, como eu defendo até hoje pelo SINCOMAVI, que eu represento. Eu to sempre nesse bolo ai dos pequenos, é comigo mesmo, não tem jeito.
P/1 – Ainda falando um pouquinho brevemente sobre esse boom imobiliário, falando no caso específico da sua loja, que se localiza ali no Belenzinho.
R – Ta.
P/1 – E o Belenzinho é um bairro que passou por uma verticalização muito forte nos últimos anos.
R – A própria Mooca.
P/1 – A própria Mooca também. Mesmo essa proximidade física não chegou a influenciar o comércio de tintas, de construção civil, mesmo esse comércio, isso ficou vinculado à indústria?
R – Muito pouco, um ou outro que mexeu no apartamento do jeito que recebeu acaba procurando a gente, muito pouco, que é exatamente em cima daquilo que eu te falei, porque esses produtos são comprados diretamente da indústria, que é, como eu te citei essa associação, eu peguei nos anais dessa associação, ela existiu em 65, 66 e naquela época já se brigava com a venda direta das indústrias pra essas construtoras. Porque o que acontece, cara? É uma concorrência completamente desleal, a indústria, quando ela vende pra construtora, o IPI é mais baixo, não tem substituição tributária, o parcelamento eles dão mais prazo do que dão pra nós, e nós pagamos tudo, então nosso custo é mais alto, então é uma concorrência completamente desleal e vendem até hoje, a coisa mais normal do mundo. Então não da pra você vender pra uma obra, da pra você vender pro consumidor final que entrou no prédio, entrou no apartamento e ai no reparo ele vai fazer, então você concorda que no volume não é lá essas coisas, ajuda, mas não é muita coisa, acho que ajuda mais o imóvel usado, que é aquele que o cara vai mexer, vai, ai sim, esse o impacto no varejo é maior.
P/1 – A eliminação dessa concorrência desleal é uma das bandeiras do sindicato, da associação?
R – Olha, isso é muito complicado você mexer, hoje o cenário atual é muito diferente, eu não, pelo SINCOMAVI eu não posso ficar, esse lobby ta bem pulverizado. Tem uma ou outra indústria que prefere fornecer direto pro varejo e não fazer esse tipo de coisa, são critérios comerciais de cada empresa, mas hoje são duas, três multinacionais que comandam o mercado, não adianta você criar problema pra esse pessoal que não, isso não resolve hoje. Hoje não tem como você bater de frente, nada, ta bem pulverizadas as lojas, tem loja em todo lugar, então acho que cada um tem que se adaptar à realidade de hoje e trabalhar com aquilo que ele tem. Isso ai você não vai conseguir combater em hipótese nenhuma.
P/1 – Eu queria que o senhor comentasse agora pra gente como é que foi quando o senhor atuou nessas associações, como é que o senhor foi se encaminhando pra essa área, quando é que começou, por qual motivo?
R – Tudo está ligado a loja. Como eu falei pra você, com o falecimento da minha mãe em 85, em 86 me convidaram pra fazer parte da Associação dos Revendedores de Tinta, foi quando ela foi fundada, em abril, e com a fundação da ARTESP, que é Associação dos Revendedores de Tinta do Estado de São Paulo, eu abri um leque maior, com esse leque o que que foi? Passei a ta conhecido, divulgação, que a gente trabalhava, tem um pique. Naquela época e com a ARTESP, o pessoal do Jornal do Pintor era muito amigo do pessoal de São Paulo, o Homero Bellintani me conheceu, me levou pro São Paulo, ai me levaram pro Rotary, nesse meio do caminho o SINCOMAVI me conheceu, o presidente me chamou lá e viu que era um cara ativo, me chamou pra fazer parte como diretor adjunto e ai existia a Federação do Comércio, que administra o SESC, SENAC e o Centro do Comércio. Por coincidência a Correa Tintas era sócia do Centro do Comércio, me levou pra ser diretor suplente do Centro de Comércio e assim esse leque foi abrindo, você ta entendendo? Ai entrou Rotary, com o Rotary o Juvêncio me conheceu, me chamou pro Juventus também, então eu comecei a ter um leque aberto na parte social com clubes, no caso o Rotary Club São Paulo Mooca, o Juventus e o São Paulo Futebol Clube. E no caso comercial, além da ARTESP, o SINCOMAVI, e a ARTESP ainda hoje, como hoje o atual presidente é um dos homens da Tintas MC, muito amigo meu, em contrapartida é meu diretor tesoureiro, então ele me pediu que eu fizesse parte dessa diretoria dele, eu pra colaborar to fazendo parte, mas eu sou do conselho nato, eu sou ex-presidente, a ARTESP foi uma passagem na minha vida. Hoje a mentalidade é outra, completamente diferente do que era no meu tempo. Hoje o meu enfoque é mais no SINCOMAVI, é mais na Federação do Comércio e eu procuro me limitar a área comercial ligada, essas entidades tem um peso maior, a gente procura agora ta num outro patamar, né?
P/1 – Como é que o senhor atua, com reuniões, debates?
R – No SINCOMAVI eu to praticamente na presidência, a gente é Grande São Paulo só, não é estadual, é Grande São Paulo. E hoje eu sou diretor lá na Federação do Comércio também, faço parte do Conselho Varejista a gente faz parte porque são todos os sindicatos de varejo do Estado de São Paulo, né, faço parte do conselho do SESC hoje também, e praticamente na área comercial é essa. Hoje eu represento a Federação do Comércio na Junta Comercial do Estado de São Paulo, to lá porque pediram que eu fosse, mandato até 2015, então basicamente minha vida é a loja, o SINCOMAVI, que está, quando eu falo SINCOMAVI, ligado Federação do Comércio, SESC, SENAC, esse pessoal todo ai que a gente tem uma certa afinidade.
P/1 – E como é que, quais são as ações de inclusão social previstas pelo sindicato, pelo SINCOMAVI?
R – Eu fiz um lançamento de inclusão social na Casa do Cristo, lá em Itaquera. Nós fizemos junto inclusive com o superintendente regional do trabalho na época. A realidade não é bem essa, o que o povo tem conhecimento é que esse pessoal não consegue emprego e tal, tem uma série de coisas, deixa eu lembrar algumas, por exemplo: pra empregar esse pessoal, que ninguém sabe, não é divulgado, mas esse rapaz que tem uma deficiência física ou mobilidade precária, pra você empregar um camarada desses ele vai ter que abrir a mão de um benefício que ele recebe do governo, ele não quer abrir mão disso, às vezes ele até quer porque socialmente pra ele é melhor ta trabalhando, só quem não quer é a família e a família pressiona porque a família vive daquele dinheiro que ele recebe do governo, então isso é um problema seriíssimo. Quando você tenta legalizar alguma coisa, por exemplo, as cotas pra deficiente físico que o governo exige, que fala, você não consegue cumprir cota, a gente ta fazendo o cão e gato pra tentar cobrir as cotas, principalmente nas grandes redes, porque tem acima de cem funcionários, porque o camarada, ele, você não consegue... tem redes, lamentavelmente, que contrata esse cara, mas deixa o cara em casa pra dizer que ta cobrindo a cota, então por quê? Por causa da dificuldade, por causa de você tirar o benefício, porque quando você tenta legalizar esse tipo de profissão você esbarra na previdência, tem um monte de secretaria, acho que umas quatro, que eu não lembro agora, que tem que passar, então a burocracia é que é muito grande. Por isso a dificuldade do comércio em preencher as cotas, pessoas com deficiência, infelizmente essa é a realidade. Mas eu fiz um trabalho no SINCOMAVI, to ligado nesse trabalho, eu, a Britcham, atualmente sou vice presidente, me convidou, é amigo também, que é a Câmara do Comércio Brasil – Reino Unido, comércio e serviços, a gente faz parte, também apoia a gente nesse tipo de setor. Eu to tentando fazer alguma coisa mais solidificada, mas é muito nó e muito entrave pra você tentar mostrar pra esse pessoal que você tem boa vontade, não com o próprio deficiente físico, com tudo o que vem em volta. Você pega a VAP, a FENAVAP, que forma esse pessoal com deficiência pra por no mercado de trabalho, a gente faz alguns convênios, mas é complicado, não é fácil porque eles não quer abrir mão de algumas vantagens. Você sabe como é que é, o brasileiro é complicado.
P/1 – A partir dessas ações vinculadas ao seu comércio o senhor mencionou que acabou participando de sindicatos, associações, mas também o senhor participou da vida de alguns clubes de futebol. Eu queria que o senhor comentasse com a gente como é que foram essas passagens pelo São Paulo Futebol Clube e pelo Juventus que o senhor atuou, como é que foi?
R – O Homero Bellintani, não é do teu tempo, mas foi, não chegou a ser presidente, gozado que foi um fato fantástico no São Paulo, ele disputou a presidência com o Galvão e perdeu por três voto. Mas ele era conselheiro vitalício, emérito, era tudo aqui no São Paulo, ele era do tempo do Olavo Matel, do Cícero Pompeu de Toledo. E ele era do setor de tinta, ele era ligado com tinta, muito amigo desse dono do Jornal do Pintor que era o Morrel, que era um grande irmão mesmo, grande amigo meu, que: “Não, Reinaldinho é São Paulino”, acabou me levando pro São Paulo: “Você é sócio do São Paulo?”, eu falei: “Não, não sou, tenho só a cadeira cativa que o Poe me vendeu quando fechou o Morumbi”, “Não, então você tem direito ao título de sócio olímpico, que é só você que vai e tal”, ai eu regularizei esse título, que até então eu não tinha o título de sócio, regularizei e comecei a pagar. Ai participei do conselho do São Paulo, na época tinha os 40 biônicos que era indicado, na época eu tava no meio. Mas ai o atual presidente nosso, melaram, porque teve uma votação na época, em 1988, pra eleger o presidente e a eleição empatou, houve empate e no empate o estatuto do São Paulo é claro, entra o mais velho, no caso era o Galvão, só que tinha um voto em apartado, que o presidente do conselho falou, o voto apartado, que era um funcionário do clube, cara tendencioso que teria, lógico, que votar com a administração atual porque ele tinha interesses, salário, e normalmente um outro presidente do conselho, que dirigia as eleições, não deixaria esse voto, estaria eleito o mais antigo, só que ele por interesse também deixou que abrisse e o voto do funcionário, lógico que votou no atual presidente nosso que era o Juvenal Juvêncio naquela época, que fez um mandato de dois anos sub judice, que o Galvão posteriormente, que isso é assim que funciona aqui no Brasil, infelizmente, ganhou, ou seja, ele teria que ser o presidente e não o Juvenal na época e esses dois anos eu tive uma amostra desse atual presidente do São Paulo, né. E em 90 o Pimenta foi eleito, que não é nenhum santo também, mas era um presidente que tentava se compor politicamente pra conseguir, que ajudava a conseguir. Ele tinha tudo que ele conseguia, ele tinha uma diretoria boa lá, pessoal bacana, eu fiz parte, eu era da área de manutenção, era adjunto, mas a gente observava bem o pessoal de futebol porque tudo é ligado no futebol. E ai passei a frequentar mais vezes lá, tinha mais cadeiras cativas, hoje eu tenho quatro, sócio do São Paulo, aquela coisa toda. E passei a frequentar mais vezes lá. O São Paulo na gestão do Pimenta ganhou tudo, ganhou por, não, tinha uma bela, tinha uma comissão técnica perfeita. Você tinha uma comissão de três caras notáveis ao meu ver, que era Telê Santana, Valdir Joaquim de Moraes e Moraci Santana. Porque o departamento médico do São Paulo naquela época era terceirizado, então era esse trio que comandava aquela uniformização que o São Paulo tinha na época, é o time das estrelas, que eles falavam, do universo, então era comandado por Telê Santana, Moraci Santana e Valdir Joaquim de Moraes, que é meu amigo até hoje, é uma pessoa que foi injustiçada agora no Palmeiras, ta desempregado com a idade que ele tem ta muito triste, mas é um cara que eu tenho contato até hoje. O Moraci parece… eu tive com o Moraci na Feira Internacional da Construção o ano passado, o Moraci parece que ta com o Zico na Grécia, parece, está em atividade ainda. E o Telê foi uma perda irreparável no futebol. Naquela época em 1990, você vê um cara honesto, de um caráter ilibado, era o Telê Santana, honesto e de um caráter, ele, naquela época, conseguiu indicar dois jogadores, ele indicou o Palinha e o Ronaldo Luiz pro São Paulo e nunca mais ele disse que ia indicar mais ninguém porque falaram que ele tinha levado dinheiro, então pra evitar de que se falasse alguma coisa então ele nunca mais indicou. E eu falava sempre pra ele: “Pô, eu vou ter muita história se tiver que contar história sua, eu vou te muita”, então onde a gente ia muito jantar? No Bar do Elias que era um bar palmeirense, o Elias era o nosso amigo, perdemos o Elias faz pouco tempo, como perdemos o Elídio a semana passada, que é lá da Mooca. E as grandes comemorações do São Paulo daqueles vários títulos que o São Paulo ganhou foi dentro do Bar do Elias, com o presidente, vice, diretoria, que o Elias permitia e o Elias sempre foi palmeirense, sempre foi. Então era bacana, não havia essa bagunça, então o São Paulo foi uma escola, a nível de eu ver o que via lá com alguns amigos e tal, o interesse, que hoje ta pior, a honestidade desse homem, o caráter que esse homem tinha era impressionante. Como eu comentei com o Galvão uma vez, o Galvão você lembra, dono da Bardal e tal, ele chegava no vestiário, a gente chegava à noite, saia pra tomar um aperitivo ou comer alguma coisa, quando voltava, uma hora da manhã, deixava ele no CT, às vezes subia pra ir no banheiro, ele desligava a luz do banheiro. O Telê naquela época ele ganhava 50 mil reais naquela época, ele ganhava 35 mil reais do São Paulo e 15 mil da TAM, do Rolim, que era muito amigo dele. Então ele apagava a luz do banheiro, isso é um detalhe assim que me chamou a atenção, o homem ganhando o que ele ganhava naquela época se preocupando que o jogador deixou a luz do banheiro ligada. Então essas coisinhas, esses detalhes me chamavam a atenção, aprendi muito com ele e ele falava o seguinte: “Reinaldo, eu gosto de você porque você não precisa nada de mim e eu não preciso nada de você, então por isso que a gente se da bem”, não se falava de futebol dentro do carro quando a gente ia embora a não ser que ele começasse, e foi uma pessoa que eu tive mais afinidade com a família, o Ivã, o Neto, o Rene, a Sandra, tinha muita afinidade com eles. Fui convidado no 70 anos dele, já debilitado, fiquei muito triste, na bodas de ouro dele estive presente, até por coincidência com o Raí, a gente ficou conversando e foi muito bacana a convivência com esse rapaz. O futebol não tem mais gente que nem tinha, pena que eu conheci o Telê em 90, né, que foi muito pouco tempo, mas a convivência, como é que eu conheci o Telê? Por que eu era diretor do São Paulo? Não, eu descendo com o meu carrinho ali a Cidade Jardim, indo embora pra casa depois de um jogo qualquer, São Paulo e não sei o que, num sábado, ele parou com a Mercedes do lado, acho que ele lembrou de me ver no vestiário, começou a falar comigo, ia pro Rio e tal, assim nós ficamos amigos e um cara que acabou adoecendo muito rápido, deu um azar violento, tava bem assessorado, mas deu azar, acontece, tinha que ser assim, mas um cara fantástico, brigou com todo mundo, o que ele falava do presidente da Federação era verdade, o que ele falava da bola, o que ele falava do campo, era tudo verdade, então era um cara muito correto e foi uma lição de vida na área do futebol. No Juventus, por coincidência, ai já ligado com o Rotary Club São Paulo Mooca, por se reunir no Juventus, um grande amigo meu, o senhor Áureo, que é vivo ainda, conselheiro do Juventus, chegou pro Zé Ferreira Pinto e falou: “Precisamos trazer o Reinaldo pra cá”, ai o Zé me trouxe, eu fui suplente, fui não sei o que, depois ele me colocou vitalício naquela época, hoje é diferente, me colocou vitalício, que eu to no clube até hoje, um clube bacana. E lógico, bem ou mal o Zé administrava o clube tinha dinheiro, ele deixou o clube quando ele faleceu com 7 milhões e meio, oito milhões naquela época, o clube quebrou, teve um monte de problemas, que infelizmente a pessoa que administra acaba desviando, fazendo as coisas, né? Então eu tenho muita saudade daquele tempo, o Zé já era mais político, o Zé era um cara mais: “Por que que você não vai ser presidente da Federação Paulista de futebol”, “Ah, porque...”, porque era melhor o Juventus, entendeu, mas ele mandava no Farah, ele mandava no presidente da Federação Paulista, então pra mim era muito difícil, por exemplo, ta na Sala do Zé Ferreira Pinto, ele ligando pro Farah e mandando ferrar o Telê na minha frente, e eu tendo que ir no vestiário depois de um jogo e tendo julgamento na Federação numa segunda-feira, ter que falar pro Telê: “Pelo amor de Deus, te peço pela nossa amizade, não abra a boca lá que ta tudo armado pra te ferrar” e graças a Deus, eu chamava ele de velho, que o velho ficou quieto e não arrumou encrenca. Mas podia, já tava armado pra dar uma ferrada nele. Então foi algumas passagens do futebol. Hoje dificilmente eu vou ver jogo, mudou muito, o Juventus quando joga contra o Maria de Villares, porque ta ali perto e tal, hoje a locomoção pra você ir pra um lugar, pra outro, precisa ta com muita disposição, então é complicado. Mas tenho muito orgulho de ser são-paulino, meu pai me levou quando eu era garotinho, então tudo o que eu conheço nessa parte, também tudo em função da loja, que acaba atrelando associação de time e acabou levando as entidades que eu participo hoje.
P/1 – Voltando a falar da loja, como é que o senhor atua na loja hoje, o senhor ainda é o administrador, o senhor já ta delegando pra alguém, como é que ta hoje a sua atuação?
R – Hoje a loja é gozado, na época que eu tava no SINCOMAVI eu fui indicado pra ser juiz classista do trabalho naquela época, e fiquei na justiça do trabalho por oito anos, dois mandatos, seis anos, aliás, três e três. E foi uma amizade com juiz, foi outro aprendizado. Por ser advogado pra mim era muito mais fácil, e foi bom, deu pra ajudar muita gente. Algumas passagens interessantes, por exemplo, uma ação que o camarada ganhou e por coincidência ali próximo, João Batista de Lacerda, próximo da onde eu tava, num sábado ele veio lá na loja, sabia que eu era de lá, me conheceu e veio perguntar quanto ele me devia, achei muito interessante isso, eu falei: “Ó, você não me deve nada, quem me paga é o Estado e tal”, foi uma passagem interessante. Outra passagem interessante, do tempo do Banestado, que a gente teve alguns, o camarada era, tinha a cara de pau de por até o disque-pizza, que ele pedia pizza pra casa dele, a cargo de diretor. Ele não se dignificava de pegar a nota de outra pizzaria, não, ele pegava da Avenida Europa mesmo, onde ele morava, que era vizinho, acho que o cara dava nota pra ele, quer dizer, umas coisas que marcou muito, algumas ações que a gente fez, o pessoal do SBT na época e tal, também foi um outro aprendizado que foi na justiça do trabalho. Atualmente eu to na Junta Comercial, também indicado pela Federação do Comércio, duas vezes por semana, então o que que é a minha vida? A loja é o primordial, hoje eu estou divorciado há uns 18 anos, o meu problema na minha família também foi a loja, por quê? Porque na minha cabeça sempre foi o seguinte: jamais entrava na minha cabeça que era primeiro a família e depois a loja, por quê? Porque a loja que sustentava a minha família, então tinha que ser primeiro a loja depois a minha família. Normalmente a tua esposa não aceita um negócio desse e essa vida de cara que vai pro futebol e chega de madrugada todo dia perde a mulher, porque não tem jeito, não tinha. Bom, ainda mais a mulher corintiana, ai piorou tudo. Mas é brincadeira, é uma fisioterapeuta bacana, mãe da minha filha, fantástica, me dou muito bem com a mãe dela, com todo mundo, são gente bacanas. Mas eu acabei divorciando por sempre prestigiar a empresa, sempre foi assim. Então hoje a loja, por exemplo, você fala: “Pô, mas você vai na Junta Comercial duas vezes por semana, de terça e quinta, você tem plenária e tem turma” , ta, ai o pessoal: “Pô, da pra você chegar mais cedo?”, “Não, não da, cara”, primeiro eu tenho que abrir a loja, tenho que ver o que eu tenho pra pagar, quando tiver tudo resolvido ai eu saio tranquilo, porque se tiver rolo aqui eu não saio, ai eu volto pra loja, quando é de segunda, quarta e sexta eu faço o SINCOMAVI como presidente, vou de metrô que é mais fácil, mas depois volto pra loja de novo, ou seja, raramente eu fico sem voltar na loja, a não ser quando tem a reunião da Federação do Comércio que acaba às 18, ou quando tem alguma inauguração de alguma unidade que você tem que prestigiar e tal. Só que ai já deixo tudo prontinho e não volto. Mas a loja é a minha vida, cara, a loja pode não representar nada pros meus sobrinhos que não entendem nada disso, mas pra mim é tudo que eu tenho hoje eu devo à loja. Então a loja todo dia estou lá, ou de manhã ou no final da tarde é fatal, não tem. Raramente você me pega viajando muito tempo porque eu não sou muito de viajar também, sou mais caseiro, mas lógico que se for um caso que precisa ir a gente vai, mas o máximo que você me pega às vezes as reuniões em Bertioga que a gente faz da diretoria que vai numa quinta-feira e volta no domingo é onde você me pega. Só que eu já deixo tudo que tem pra pagar na quinta, na sexta na loja tudo engatilhado, senão não saio sossegado. A loja ta sempre liderando, ta na frente, né?
P/1 – O senhor já falou que o senhor imagina que a Correa Tintas vai parar no senhor, né?
R – É, acredito que sim.
P/1 – O que que o senhor imagina pro futuro dela, o senhor vai passar pra alguém, vai?
R – Não, eu não sei. Minha filha, por ser da área de vendas, ela é empolgada nisso ai, apesar do setor dela ser de alimentação de animais. Ela trabalha numa empresa francesa, a Virbac, então não sei, sei lá, ela já andou me falando algumas vezes.
P/1 – Mas ela já chegou a atuar pela empresa, pela Correa Tintas?
R – Não, o que acontece é o seguinte: eu tive um probleminha de saúde agora o ano passado e tive que fazer uma ponte de safena, tava entupido de novo, quer dizer, eu falei pro médico: “Pô, tudo o que eu faço, me entupiram outra vez”, então essas coisas, você acaba se reaproximando mais de algumas pessoas e ai você... e eu acabei me aproximando mais ainda da minha filha, mais do que eu já era. E ela chegou a comentar algumas vezes sobre isso, achei até legal, bacana, mas ela ta num emprego muito bom, ela ta acima de gerência, uma pessoa que vai pro exterior, tem um inglês fluente, é uma pessoa, sei lá, que nem agora, ela vai viajar agora, então a Virbac sabendo que ela vai fazer dois, três países, como a matriz é na França, ta em Paris, cem quilômetros da capital, então vão pagar o translado, tudo, pra ela ficar uma semana, conhecer a matriz. Então eu acho isso muito bacana como reconhecimento do trabalho que ela faz pela empresa, então eu acho legal, mas ela já me falou algumas vezes que tem ideia de continuar ali a empresa, de ser dona do negócio dela. Mas pra acontecer isso ai eu tenho que desvincular esse irmão que eu tenho, to acertando tudo pra ficar só eu como majoritário ali pra poder ficar tranquilo, quando acontecer alguma coisa comigo ela já assumir, ai eu não vejo problema nenhum.
P/1 – Agora a gente vai se encaminhando já pro final da entrevista, eu gostaria que o senhor dissesse pra gente como é que é o seu dia a dia hoje, o senhor até mencionou rapidinho, mas queria saber, além das atividades do SINCAMAVI, na loja, o senhor tem algum hobby também, o senhor tem alguma coisa que o senhor goste mais de fazer fora?
R – Basicamente a loja, o SINCOMAVI, Federação do Comércio, SESC, SENAC, basicamente os amigos que eu tenho no Juventus, que são imperdíveis. Amizade não tem preço que pague, é muito difícil você ter amigo sincero hoje, a maioria cola em você por interesse, não sei que tipo de interesse, mas sempre tem. Mas basicamente é isso, diversificação muito pouca, eu sou meio tradicionalista nas coisas. Então é gozado, eu acho que hoje eu me considero mais caseiro do que quando eu era casado, é gozado porque quando você é casado você não vê a hora, demora pra chegar em casa, agora você ta sozinho,chegar na tua casa, não tem ninguém pra te encher o saco, ai você faz o que você quer e pronto. Gozado, é uma experiência diferente que eu tive. Mas basicamente eu vivo em função disso, me sinto bem feliz. Eu tive uma outra oportunidade de vida, nunca tinha feito cirurgia na minha vida, você apaga, some e volta, então isso é tudo uma lição de vida. Eu acho que eu tenho muito o que aprender, eu acho que você tem com toda a experiência que eu adquiri desde garoto e com a amizade que eu tenho com as pessoas mais antigas, que eu sempre tive, eu acho que hoje você aprende muito com a turma nova, a turma nova é muito rápida hoje, então eu acho que é muito bacana. Eu faço reuniões, eu escuto, eu tenho, ali não tem empregado, tem funcionário, entendeu, eu sempre tratei eles bem, tanto é que eu nunca tive problema trabalhista nenhum em 62 anos, né? A minha preocupação é, por exemplo, com a Fátima, que ta há 31 anos lá, de aposentar, deixar ela bem; o Carlos infelizmente eu não consegui, que ele acabou indo embora antes, novo, com 52 anos, mas a minha ideia é deixar eles bem, tranquilos, encaminhados. Mas aprender muito com essa moçada, com esse pique. Ultimamente tenho escutado muito, você escuta muito e assimila alguma coisa, usa um pouco a experiência, que é sempre o que eu falo, né, eu acho que aqueles: “Não, eu to certo, to certo”, não é bem assim, você tem que aprender com os novos e os novos acabam pegando um pouco da tua experiência de vida. Só que hoje a informação é muito rápida e daí o pouco que você para você fica pra trás, essa é uma realidade, a tendência é cada vez aumentar mais.
P/1 – E de fazer compras, o senhor gosta?
R – Não ligo muito, tem o mercado lá perto, eu vou fazer e tal. Agora, compra fora isso ai não, isso ai normalmente minha filha viaja, traz pra mim, mas quando há necessidade, um terno, alguma coisa, eu vou fazer, to ali no centro, eu acabo indo. Como eu me movimento muito de metrô também não ligo pra isso, entendeu? Eu gosto muito da ralé, cara, então eu acho o maior barato, quando tem os cara muito rico ainda eu sacaneio, faço palhaçada, eles ficam uma arara porque às vezes é um lugar fino. É lógico que é relativo, se tiver em algum lugar chique, tal, mas se puder sacanear, ai é isso que o pessoal gosta, que não é normal isso ai. O cara vê presidente, o cara não sei o que, pô, completamente diferente. Eu faço de tudo pra deixar as pessoas bem à vontade, não parecer aquele... na própria justiça do trabalho, que eu era um dos juízes, deixava o pessoal a vontade lá fora: “Aqui não tem nada de juiz, que juiz, não sou nada” e tal, coisa que não é normal no ser humano. O ser humano eu costumo falar que quando ele pega algum cargo mais importante se for presidente de alguma coisa, até do clube de futebol da esquina, ele pega aquela doença que é presidite, entendeu? E essa doença é o cão, cara, ai o cara não olha nem pros lados, que ele é o dono do pedaço. Isso ai é esses que eu gosto de judiar um pouquinho porque nós estamos de passagem aqui, não tem isso ai, ninguém é mais nada que ninguém. Eu acho que compra mesmo, gostar de fazer compra, shopping, essas coisas, eu evito. Pelo amor de Deus, isso é coisa pra mulher, é verdade que tem homem que gosta.
P/1 – Pro seu futuro, pra sua vida pessoal, fora o comércio, o que o senhor deseja ainda pro senhor, viajar, comprar alguma coisa, o que o senhor deseja pra você?
R – Olha, eu me sinto um cara realizado por essas duas oportunidades que Deus me deu há 20 anos uma angioplastia e ano passado essa ponte de safena, uma malha que eu fiz; tenho uma filha maravilhosa, independente, não depende de mim pra nada. Eu acho que ta tudo bem, a empresa ta de pé, que falaram que ia quebrar, não quebrou, 62 anos de comércio num bairro não é fácil. O maior orgulho da minha vida é isso, tenho uma vida pessoal boa, tranquila, sem muita agitação, tenho alguns amigos fantásticos em vários locais, se eu quiser atividade eu tenho de segunda a segunda. Eu não sou, não tenho problema de solidão, de depressão, graças a Deus não tenho nada disso. Eu me sinto realizado, eu quero concluir o quê? Uma confusão de espólio em família, que eu preciso montar e terminar, e deixar tudo tranquilo pra minha filha, pra não ter problema nenhum de ficar atrás de coisa de antigamente, coisa que eu tive quando meu pai faleceu. Então, evitar de deixar essas coisas pra ela, eu me sinto um cara realizado, as coisas acontecem às vezes comigo sem eu esperar, eu perco um negócio aqui de repente aparece outro lá sem eu pedir, então se eu te falar alguma coisa. Pra tudo na vida, cara, isso ai o valor é com o tempo, você tem que ter saúde, se você não tiver saúde não adianta dinheiro, não adianta nada, vai tudo embora, então não adianta essas coisas, se você tiver saúde tudo anda normalmente, só que infelizmente o pessoal não enxerga assim, então fica difícil.
P/1 – Pra finalizar eu gostaria que o senhor falasse pra gente se tem alguma coisa que a gente não perguntou, que a gente não abordou, mas que o senhor acha importante registrar, que o senhor talvez queira aproveitar a oportunidade pra deixar registrado, tem algo assim ou...?
R – Não, eu acho que você perguntou praticamente minha vida toda. Achei fantástico o modo como você dirigiu a entrevista, muito bom porque acaba surgindo o assunto pelas perguntas, né? E agradecer as pessoas que eu conheci, que já foram, me deixaram, e as que estão aqui. E só agradecer quem está na minha volta, agradecer a filha maravilhosa que eu tenho, acho que não tem nada que acrescentar. Minha vida é um livro aberto, não tem problema nenhum e acho que tudo o que eu tenho hoje, tudo o que eu faço hoje, vivo da área comercial, então eu, como eu digo pra você, eu tenho orgulho de falar que eu sou comerciante: “Qual a sua profissão?”, eu não falo que sou advogado, um advogado com OAB, um administrador com CRA, mas eu falo que eu sou comerciante. Eu acho que é o maior orgulho da minha vida, tudo o que eu tenho eu devo ao comércio.
P/1 – Então em nome do SESC São Paulo e do Museu da Pessoa eu agradeço muito a sua participação, muito obrigado.
R – Eu que agradeço o convite.
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