Entrevista de Roberto Cristino Marcos
Entrevistada por Torigoe / Daniela
14/07/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FUNAS_HV020
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 – Qual que é o seu nome, onde você nasceu e em que data, Roberto?
R – Meu nome é Roberto Cristino Marcos, eu tenho 42 anos e nasci no Rio de Janeiro, na capital.
0:28
P/1 - E por acaso os seus pais te contaram como é que foi o seu nascimento? Como é que foi a gestação?
R - Eu sei pouco. O que eu sei é que eu tive um pouco de pressa na hora de sair, a bolsa estourou, e minha mãe entrou no carro e aquela confusão toda de chegar logo no hospital. 2 horas da manhã, minha mãe chegando na Clínica, mas deu tudo certo.
1:10
P/1 – Você nasceu de 9, 8 meses, ou foi antes até?
R – Não! Eu nasci no prazo correto, só que ela não esperava. Estava em casa dormindo, a bolsa estourou, ela teve que sair correndo para o hospital.
1:24
P/1 – Me conta o nome inteiro da sua mãe e como é que a família dela? Os seus avós por parte de mãe, de onde eles são, o que eles fazem?
R - Minha mãe se chama Neide Antônio Cristino Marcos. Ela infelizmente já não esta aqui conosco, ela faleceu em 2014. Todos eles são aqui do Rio de Janeiro. Eu não conheci a minha avó, minha avó também, ela faleceu um pouco antes de eu nascer, mas eu convivi um pouco com meu avô. Meu avô, ele é português, ele veio para o Brasil no inicio do século, no caso, no século passado, conheceu minha avó, o nome dele é Francisco Cristiano. E ele era mecânico, trabalhava numa oficina mecânica. Português, veio aqui para o Brasil e ficou no oficio de oficina de carros.
2:28
P/1 - Qual que é o nome do teu pai, como é que é a família dele também?
R - Meu pai se chama Roberto também. Roberto da Silva Marcos, meu pai conheceu minha mãe na infância. Ele e mais 3 irmãs, ele era o único homem da família. O meu avô faleceu muito cedo, então ele teve que assumir a guarda das minhas tias. E ele foi torneiro mecânico, se formou e começa a trabalhar na empresa Atlas Schindler, como torneiro. E foi o único emprego da vida dele. Ele fez a faculdade de engenharia, foi crescendo lá dentro, e terminou como gerente da sessão de métodos e processos, como Engenheiro Mecânico.
3:22
P/1 - Sabe como a sua mãe e seu pai se conheceram, Roberto?
R - A minha mãe era seis anos mais velha que meu pai. E aí na época, ela era professora, eles eram vizinhos, e ela ia até a escola e o meu pai ficava da sacada só olhando, aquela menina mais velha, ficava admirando, “um dia ainda vou namorar essa menina”. Mas era aquele sonho de adolescente, porque ela já era adulta assim, tal. Teve um projeto do governo, era um projeto, se eu não me engano, era o projeto Rondon, e ela viajou para região norte, para dar aulas. E aí eles ficaram um tempo sem se ver. E aí o meu pai começou a escrever cartas para ela, ela respondia. E aí quando ela voltou desse projeto, ele a pediu em namoro. E aí eles começaram a namorar. No começo ela não queria, porque ela era bem mais novo, mas meu pai de tanto insistir, eles acabaram ficando juntos.
4:41
P/1 - Foi quanto tempo até nascer o primeiro filho do casal?
R - Eles se casaram em 1977, no dia 13 de agosto. Foi até uma sexta-feira treze, foi até engraçada essa história, “vai marcar e casa numa uma sexta-feira 13”. Mas foi, casaram na sexta-feira 13. E um ano depois, 9 de agosto de 78 eu nasci. Então assim, quase que foi no mesmo dia do casamento. Mas eu estava com pressa né, acabei saindo um pouquinho antes.
5:22
P/1 – E você tem irmão Roberto?
R – Sim! Eu tenho uma irmã mais nova, o nome dela é Rita de Cassia, ela é 5 anos mais nova que, nos somos um casal. Ela hoje, ela é assistente social, da prefeitura. Bom, ela é minha vizinha aqui, a gente está sempre junto.
5:50
P/1 – Você tem alguma memória assim, que você fala, essa é uma das primeiras memórias que eu tenho da minha vida?
R – Uma das primeiras memórias que eu tenho, deve ser por volta de 2, 3 anos de idade. Numa antiga casa que a gente morava em Higienópolis, na verdade era um prédio, era de 3 andares, 4 no máximo. E aí eu lembro dessa infância, de ir para a escolinha ali, da creche, até os vizinhos. Eu tinha uma mania de criança, minha mãe botava um cercadinho para não poder ir para a cozinha, um cercadinho de madeira. E eu gostaria de botar um baldizinho para ficar conversando com ela, subia no baldizinho, e tal, na casa de taco, antiga, essas primeiras memórias que eu tenho de criança.
7:01
P/1 - E quando você nasceu então, seus pais moravam aonde? Você ficou muito tempo numa casa só? Se tem alguma casa de Infância assim, como é que é?
R – Bom, quando eu nasci, eles ainda moravam na mesma rua onde eles se conheceram. Mas foi por muito pouco tempo. E aí nós morarmos num segunda casa, um 6 meses, 1 ano, e aí fomos para essa casa que eu lhe falei. Que essa realmente, é a primeira casa que eu me lembro, que eu tinha essa memória de Infância. Fiquei lá até os 5 anos, foi quando a minha irmã nasceu. E aí nós nos mudamos para o Méier e eu estou no Méier, desde os 5 anos de idade, nunca sai daqui.
7:57
P/1 - E me conta como que era o dia a dia da tua família, na sua infância? Mudou quando a sua irmã veio? Como é que era o dia a dia?
R - Quando nós viemos aqui para o Méier, nós viemos para um prédio, que tinha uma área de lazer muito grande. E tinha muitas crianças no condomínio, tinha área, tinha quadra, tinha piscina. Então assim, o meu pai saia para trabalhar muito cedo. Ele tinha que pegar no trabalho 7 horas da noite, e chegava em casa por volta das 7 também. Saia às 7 horas da manhã, até às 7 horas da noite. Minha mãe era professora, então ela dava aula, alguns dias na semana, e a gente costumava ficar com ela. Quando a minha irmã veio, ela veio nesse período de mudança. Então assim, para mim foi tudo novo, foi uma coisa nova, tanto o prédio novo, quanto a minha irmã. Eu não senti muita diferença, porque tinham muitas crianças aqui no condomínio, então era mais uma para a gente brincar, assim no caso. Foi uma infância boa, pode andar de bicicleta, pique, jogar bola, brincar na piscina, soltar pipa.
9:27
P/1 - Vocês brincavam disso então? Vocês assistiam muita TV, ouvia rádio também, como é que era?
R – Assistia muita TV, naquela época só tinha TV aberta. Então era aqueles desenhos clássicos dos anos 80, que pessoal fala, é o Thundercats, é o He Man, é o Comandos em Ação. Aí claro, tinha que ficar dividindo com ela, porque tinha o Pequeno Pônei, aí tinha um Moranguinho, tinha Xuxa, a Barbie, os Ursinhos Carinhos. Então assim, a casa sempre teve essa divisão, ter que dividir o tempo, tanto das coisas femininas, quanto das coisas masculinas também, as brincadeiras dos dois. Tinha a época do vídeo game também, o Atari, aí depois veio o Nintendo. Foi uma infância divertida, aproveitei bastante.
10:26
P/1 - Tem alguma história que você se lembra com carinho assim, que seja por qualquer motivo que você passou na infância, seja na rua, seja em casa?
R - Eu era muito arteiro com a minha irmã, eu fazia muitas pegadinhas com ela, hoje em dia. Então assim, a minha mãe, saia para trabalhar, e me deixava tomando conta dela. E aí eu lembro, que algumas das brincadeiras que eu mais gostava, era brincar de luta, eu gostava muito daquele desenho Ultraman, aquele seriado. Então eu ia para a cama do meu pai, dos meus pais, e eu dizia que eu era o Ultraman e minha irmã era o monstro. E a gente brigava, eu derrubava ela na cama, dava aqueles golpes. E a minha irmã nunca contou nada para a minha mãe, para os meus pais, só depois de velho, conversando em família, que ela foi contar. “Minha filha você nunca contou isso”? “Não, mas era brincadeira”. E realmente era brincadeira, só que eu aproveitava e dava aqueles golpes de caráter, era bem divertido.
11:46
P/1 – E você acha que era uma infância mais na rua ou mais em casa, como é que era naquela época?
R - A minha infância foi sempre no prédio, eu não tinha o hábito de sair na rua para brincar. Então assim, como eu falei, a gente tinha uma área de laser muito grande. Então assim, tinha quadra, tinha o play, tinha aqueles brinquedos de parquinho, tinha a piscina. Então sempre tinha coisa para fazer no prédio. A gente andava de bicicleta no prédio, tinha época do skate, época do patins. Então assim, foi uma infância muito de ficar fora de casa, até os 14, 15 anos, eu fazia muita coisa no play, brincando, jogando bola, tal. Aí depois começa o meu segundo grau, aí depois veio a faculdade, aí a gente passa a brincar menos, a se divertir menos. Mas a infância foi na rua, praticamente, fora do apartamento.
12:45
P/1 - Você se lembra o que você gostava de ouvir de música, nessa época? O que seus pais ouviam? Vocês cantavam juntos? Vi que você tem vários instrumentos musicais aí, que era a boa na época?
R - A minha mãe gostava muito de Roberto Carlos e Julio Iglesias. Então assim, todo aniversário, dia das mães, fim de ano, tinha aquele show do Roberto Carlos, ganhava o LP, não era nem CD naquela época. Eu confesso que eu não escutava muita música, eu escutava rádio, nessa época, tinha a Transamérica, tinha Jovem Pan, Rádio Cidade. Eu não sabia tocar nenhum instrumento, aprendi a tocar instrumento muito mais tarde, posso até contar depois. Mas enfim, meu pai gostava muito de Emílio Santiago e a minha irmã sempre teve aqueles discos da Xuxa, Angélica e tinha o Balão Mágico. Eu que não era muito na pegada música naquela época, só depois, a medida que eu fui crescendo.
14:01
P/1 – E você gostava mais de brincar do que? Videogame, jogar bola, como é que era?
R - Era bem dividido. A gente tinha aquela fase de jogar futebol na quadra, acordava, tomava o café e descia. E aí mais para noite, tinha a hora do videogame, a gente jogava muito também aqueles jogos de tabuleiro, detetive, banco imobiliário, jogo da vida. Brincávamos muito também de corrida de chapinha, não sei se já ouvi falar, desenhava um circuito de jeans na areia, ou na no chão. Bolinha de gude também, enfim tiveram as fazes. Como foi sempre no mesmo prédio, morei 18 anos no mesmo prédio. Então eu cresci... então assim, os gostos foram mudando, as brincadeiras foram mudando. A gente pegou todas essas fezes, desde bolinha de gude até videogame, futebol, piscina.
15:08
P/1 – Roberto, quem que era a turma? A gente sabe que nessa época sempre junto uma gangue de moleque, de menina. Quem eram seus amigos na época?
R – Eu lembro o seguinte... claro, tem sempre aquele que é o mais esquentadinho da turma, tem aquela galera mais velha, que naquela época a gente não sabia, mas que fazia o tal do bullying. De ficar, pega o chinelo daqui, daqui e joga lá, aí não devolve a bola do futebol, e aí na hora da brincadeira não escolhe, deixa de fora, inventa um apelido. Tinha o Dinho, tinha o André. Eu gostava também muito de brincar de Comandos em Ação, que eram uns bonequinhos da época, tinha um desenho e tinha os bonecos. E aí eu lembro que de vez em quando pegavam os bonecos e escondiam, e aí a gente não achava, aí a mãe descia, aí brigava. Então assim, claro, os maiores faziam com os menores, e aí a gente pegava os menores ainda para fazer o bullying. A gente sofria o bullying e também fazia o bullyng com os mais novos, era sempre assim.
16:30
P/1 - E vocês costumavam viajar de férias? Você lembra de alguma viagem que vocês fizeram nessa época, que te marcou?
R - Nessa época de infância, eu não costumava muito viajar. Nós tínhamos muito hábito de ir para a casa dos meus tios, que morava em Jacarepaguá. Eles tinham uma casa grande lá, até perto da subestação de Furnas. Nos não tínhamos muitas condições financeiras de ficar viajando, a gente começou a viajar mais, no final da minha adolescência. Quando a minha mãe aposentou, tal, a gente conseguiu melhorar essa parte de viagens. Mas antes não tinha muito hábito de viajar. A gente não tinha telefone em casa na época, uma coisa engraçada, a gente passa a ter telefone muito tempo depois. Sempre que chamava, tinha que ir na vizinha atender telefone.
17:40
P/1 – O Méier se não me engano, é zona norte do Rio né?
R – Isso! Zona norte.
17:47
P/1 – Vocês iam para a praia no próprio Rio, ia descer lá para a zona sul, ou ia para outras regiões do Rio, centro? Ou ficava mais no Méier mesmo?
R – Minha mãe gostava de ir à praia, só que nós gostávamos muito de piscina, porque nos tínhamos piscina no prédio. Então assim, a gente não saia muito, mas ela gostava. Então o que ela fazia, as vezes, nos sábados a tarde, ou nos domingos a tarde, nos íamos para aquela região da reserva na barra, uma região mais isolada. Que ainda é isolada, mas sei lá, a 30 anos atrás, era muito mais. E ai nos costumávamos ver o por do sol lá. Então assim, chegava lá por volta de umas 16h, ficava até umas 18h, 18h30. Alguns passeios de domingo eram esses, na praia.
18:44
P/1 – O que você se lembra de você na escola? Como é que você era na escola? O que você gostava de estudar? O que você não gostava, por exemplo?
R - Na escola eu sempre fui aquele aluno em CDF, eu era aquele cara que não estudava, mas tirava nota boa. Aí eu lembro que assim no início, tinha aqueles campeonatozinhos, os próprios da escola, melhores notas ganhava uma medalhinha, tal. Mas sempre gostei de esportes, até o pessoal falava: pô, você joga bola, como é que você arruma tempo para tirar nota boa. Aí eu falava: não, mas eu presto atenção na aula. Então assim, eu era mais de prestar atenção na aula e não estudar muito, sempre foi assim. Até chegar à faculdade e tomar bomba direto, mas essa aí é outra história. Mas assim, primário, ginásio e o segundo grau, foram tranquilos, sempre aquele cara que estudou pouco, mas tirava notas boas.
19:52
P/1 - Roberto, em que escolas você estudou, no primário, no ginásio, como é que foi essas escolas por onde você passou?
R – Eu só estudei praticamente em dois colégios. Eu estudei, claro, no maternal até o Jardim de Infância em um, depois eu fui para um colégio aqui perto, de Freiras, se chama Instituto Francisca Paula de Jesus, fiz a 1º série e sai na 8º. Depois, aqui perto mesmo do Méier, começou a criar o colégio da cidade, que era daquela Universidade, de uma faculdade que até já não existe mais. E aí na época, meio que todo mundo combinou de ir para essa escola. Então a gente falou com os pais, “vamos juntos, tal”. Então assim, eu tenho amigos desde aquela época que a gente estudou, tipo dos 7 anos de idade até os 14. Pegamos toda aquela sequência de primeiro e segundo grau juntos. E aí na segunda escola, fiz o 1º, 2º, 3º ano. E aí fiz vestibular, e fui para a faculdade. Então foram praticamente duas escolas.
21:14
P/1 - E quem você dizia na época, ou pensava que eram seus melhores amigos, nesse período de escola?
R - Alguns dos meus melhores amigos, eu ainda conheço até hoje. Só que na verdade assim, depois da escola a gente meio que se distanciou, e voltamos a nos reencontrar agora, depois das redes sociais, Facebook, tinha aquele Orkut também, que já não existe mais. Mas eu tenho um carinho... uma amiga Michele, que mora em Minas Gerais, tem Ana Paula, que mora aqui no Rio, em Botafogo, ali perto de onde era Furnas. Tenho um amigo chamado Diogo, também, que tenho amizade até hoje, jogo vôlei com ele. Enfim, alguns deles se mantêm, a gente conseguiu manter um vínculo.
22:13
P/1 - E você falou que você jogava muita bola. Você tem algum time de coração, que você acompanhava? Acompanha algum time do Rio, do Brasil?
R - O meu pai é Vascaíno. Então, até os 2 anos de idade, os 3 anos de idade, eu tinha uma camisa do Vasco, eu vestia a camisa do Vasco. Aí eu brinco com ele... quando eu entrei na escola... eu entrei na escola para aprender coisas novas, e ser uma pessoa melhor, aí quando eu entrei na escola, eu virei flamenguista. Porque foi a época do Zico, a época que o Flamengo ganhava tudo, e ai eu vi aquela alegria de todo mundo pessoal, bom, virei flamenguista. E fiquei assim até hoje, lógico. E hoje com certeza o Flamengo é o melhor time do Brasil, não tenha dúvida disso.
23:14
P/1 – E tem algum jogo do Flamengo que te marcou na tua vida, o da seleção brasileira, que você assistiu e se lembra até hoje, você se emociona?
R - Primeiro jogo que eu me emocionei mesmo, foi o final da Copa do Mundo de 94, Brasil e Itália. Que eu fiquei vendo sozinha, não aguentei ver com as pessoas, fui para o meu quarto, liguei a televisão, fiquei lá acompanhando assim. E o segundo jogo foi há pouco tempo, foi a conquista da libertadores do Flamengo. O gol do Gabigol ali, a gente estava perdendo de 1X0, a gente virou no finalzinho do segundo tempo. E aí eu quebrei prato, eu pulei, quebrei copo, foi aquele negocio assim, de gritar, ir para a varanda e berrar, fez um sugerada aqui em casa. Mas foi assim, os dois jogos que mais me emocionaram.
24:14
P/1 – Você tem professores que ter marcaram na sua vida, Roberto? Durante a escola?
R – Sim! Na infância, no primário, tinha a inspetora chamada dona Marley, a gente chamava ela de dona Marley, era o xerife da escola. Era aquela que quando falava, falava alto, gritava e tal, a gente fazia muito bagunça. Mas era um amor de pessoa, a gente só vai descobrindo isso depois de velho. Na época a gente tinha um medo, ela falava, eu ficava caladinho, abaixava a cabeça. Eu não queria escutar o meu nome sendo falado por ela. Depois que a gente fica velho, e aí fui visitar a escola, aí eu tive até um pouco de convivência com ela, ai você descobre aquele carinho... na verdade ali é um papel, ela tinha que tomar conta da gente, então não tinha jeito. Era o jeitão dela. E outra também, que era uma professora de religião, chamada irmã Carolina, era nossa professora de religião, também era muito doce, tanto que depois eu fui para igreja, aí fui fazer primeira comunhão, fiz Crisma. E ela passou me acompanhar um pouco, pedi para ela ser minha madrinha, cheguei a ter um convívio também um pouco com ela. Forma as duas pessoas que me marcaram nessa fase.
25:51
P/1 - E você, a sua família, são desde sempre muito cristãos? Vão para igreja, como é que essa parte da sua vida?
R – A minha família é muito religiosa, meus pais sempre foram muito religiosos. Nós sempre íamos as missas aos domingos. Eu não gostava muito, vou ser sincero, queria ficar em casa brincando, ficando no play. Na verdade assim, a gente vai criando um hábito. Então depois, mais velho fiz a crisma, aos 15 anos. Aí eu comecei a participar de grupo de jovens. Foi onde eu conheci a minha esposa, comecei a namorar com ela. Foi nessa época também que eu passei a aprender instrumentos musicais, para tocar na igreja. Aprendi a tocar violão, aprendi a tocar baixo, um pouco de teclado. Passamos a tocar nas missas, passei a tocar em casamentos também, 15 anos, bodas. A partir da minha adolescência e inicio da fase adulta, aí eu realmente eu vi a minha vocação de participar mais da igreja, dos movimentos da igreja. Aí eu já não ia obrigado, eu ia por gostar.
27:25
P/1 – E você toca e canta, ou você acompanha mais no baixo, ou no violão?
R - Eu toco e canto também. Na verdade eu comecei cantando, e aí depois do canto, é que eu comecei a fazer aula de violão. Na verdade não foi aula de violão, eu aprendi com um amigo meu. E aí como ele já tocava guitarra, e tinha um amigo que tocava bateria, bom, vou comprar um baixo, que também é instrumento que eu gosto, e aí vou passar a aprender. Aí eu tive aula de baixo, e aí a gente tocava nas missas, eu baixo. Aí tocava e cantava, ele tocava e tinha... ao todo nos éramos 6, 3 percussionista, bateria, baixo e guitarra, e tinha mais três cantando também, três meninas. Uma delas era minha namorada, que depois se tornou minha esposa.
28:25
P/1 – As musicas que vocês tocam, são aquela músicas, tipo assim, Padre Zezinho, renovação?
R – Isso!
28:38
P/1 – Tem alguma que você gosta mais?
R – Na verdade, assim, já faz tempo que eu não toco. Depois que a minha filha nasceu, a gente teve que parar um pouco. Então assim, já tem mais de 10 anos que eu não toco na igreja. Mas assim, eu vou dizer que, dos 18 aos 32, a nossa vida era igreja, era cantar. E aí participava de renovação carismática, grupo jovem, viajávamos juntos para Canção Nova, que fica no interior de São Paulo. Íamos também a Aparecida. Participamos do coral do Papa, quando o Papa veio aqui ao Brasil, no Maracanã. Enfim, nós éramos... já fizemos shows na praça do Méier, em Copacabana, algumas igrejas. Enfim, nos tínhamos uma vida bastante ativa, mas, ai veio trabalho, veio gravidez. Até o finalzinho da gravidez a gente ainda participava. E aí depois a gente deu uma parada. Ai todo mundo passou a casar, ter filho, e aí foi natural assim, que as coisas foram se desfazendo. Mas a gente não deixou de ir a missa, só deixou de participar mais intensamente do movimento.
30:05
P/1 - Posso te pedir para cantar alguma dessas músicas, se você lembrar de cabeça, se puder dá uma palinha para a gente? Uma que vem na sua cabeça agora.
R – (Cantando...)
32:37
P/1 – Eu te pedi porque eu tocava também, eu aprendi a tocar violão em grupo de jovens da igreja, tocava essa música também.
R – Legal! Foi a que veio mais assim...
32:54
P/1 – Na cabeça né?
R – É! Foi uma música que marcou muito uma fase da vida, assim... aí eu tenho ela decor.
33:05
P/1 – Por que essa em especifico, você acha?
R - Eu acho que foi num momento que eu estava conhecendo a canção nova, e foi um dos primeiros retiros que eu participei. E eu não conhecia a música. Então quando o Dunga, que é o intérprete que cantava essa música. O momento em si da oração, aquilo ali me chamou muito, marcou muito uma fase ali, por volta dos 19, 20 anos. Então a partir daí, eu comecei a treinar, e em alguns momentos eu tocava essa música.
33:47
R - E qual que é o nome da sua esposa, que era namorada na época? Como é que você conheceu ela? Você já me falou que foi no grupo de jovens, mas me diz assim o momento você conheceu ela?
R - Quando eu terminei a minha Crisma, com 15 anos, eu já conhecia, porque ela era namorada de um amigo meu. Ela era ajudante lá da crisma, e aí eu me afastei um pouco da igreja, naquele período ali. Eu continuei com os amigos, só ia as missas, eu não tinha nenhum movimento. Quando o meu primo foi fazer a Crisma, eu achei que era a hora de eu voltar também. Então ele foi fazer Crisma e eu fui pro grupo jovem. E nessa época quem era a coordenadora do grupo de jovens, era a minha futura esposa, era a Ana no caso. E aí na época ela já não namorava mais, e nós fomos nos conhecendo melhor. Ela era 3 anos mais velha que eu, então ela achava que não devia, não sei o que lá. Mesma coisa do meu pai com a minha mãe, “há, mais eu sou mais velha, não, nada haver”, não queria nada comigo. Até um dia de eu falar, que tinha conhecido uma menina que era mais nova, fui falar para ela, ela ficou cheia de ciúmes. Não me falou nada na hora, mas eu fiquei sabendo que ela ficou triste e cheia de ciúmes. E aí eu fui ter uma conversa com ela. O nome dela é Ana Cristina. Infelizmente nos não estamos mais juntos hoje. Mas tivemos uma vida... nós nos conhecemos eu tinha 19 anos, namorarmos por 7 anos, nos casamos, tivemos a nossa filha. E infelizmente, não deu certo, nós nos separamos em 2013, no final de 2013. Mas moramos na mesma rua, temos uma boa convivência, a nossa guarda é compartilhada. Então assim, nós nos vemos praticamente todos os dias. Tem o respeito, nos mantivemos o respeito e o carinho, que acho que é o mais importante.
36:26
P/1 - Você nessa época da Crisma, do grupo de jovens, você tinha alguma coisa que você falava, eu quero ser isso, eu quero essa profissão, quero fazer esse curso, como é que era isso?
R – Quando a gente é pequeno, passamos por várias fases. Tinha a fase que queria ser médico, veterinário, até biólogo. Eu sempre gostei muito dessa parte de humanas. Meus pais até se surpreenderam um pouco, porque quando chegou no segundo grau. Eu mudei um pouco para aquela parte de informática, T.I. Acho que comecei a ver negocio de videogame, de computadores, parte de eletrônica também, aquilo ali foi me cativando, eu passei cada vez mais gostar desse tipo de coisa. E no segundo grau, eu participei de um projeto, que se chamava projeto Sapiens, que era como se fosse um vestibular ao longo dos anos, eu fazia provas, do 1º até o 2º ano do 2º grau. E no final você escolheria qual faculdade você queria entrar. Nessa época eu optei por informática, na época. E fui fazendo os 3 anos para informática. Chegou no ultimo ano... realmente isso foi uma fase que eu não lembro porque, vou ser bem sincero. Chegou na época de faculdade, eu quis escolher engenharia, eu mudei. Eu não sei se era porque tinha amigo que o pai engenheiro, trabalhava na IBM, eu não lembro ao certo por que. Mas ai eu escolhi engenharia eletrônica, engenharia de telecomunicações e engenharia mecânica, para fazer. Meu pai e engenheiro mecânico, só que eu gostava mais de coisas voltadas para eletrônica. Eu vi que as telecomunicações era uma área promissora, naquela época, eu optei por isso. E foi isso. Fiz o vestibular de engenharia e acabei passando.
39:13
P/1 – Roberto, nessa época você trabalhava também ou você conseguiu se dedicar integralmente para a faculdade? Onde você fez faculdade de engenharia?
R – Na época do vestibular, eu prestei vestibular para engenharia de telecomunicação na UFF. Engenharia mecânica na URFJ e na UERJ, só que aí eu preferi fazer engenharia de telecomunicação na UFF. Meus pais sempre foram contra eu trabalhar, apesar de eu querer ganhar o meu dinheirinho. “Olha, é difícil”. Por experiência própria. Meu pai fez isso, ele foi técnico, começou a trabalhar e fez a faculdade à noite, durante o trabalho. “Olha, eu não quero isso para você, se dedica aos estudos, não precisa, a gente te banca”. Tudo bem. E aí a minha faculdade, era uma Faculdade assim, praticamente integral, eu ia muito cedo para lá, e tinha muitos buracos nos horários, então eu não conseguia, mesmo que eu quisesse no início, eu não conseguia ter um horário para trabalhar. Quando chegou no 4º período, 4º, 5º período, eu não aguentei, falei: eu quero ganhar o meu dinheiro. E ai eu arrumei um trabalho de 16h da tarde, até às 22 horas da noite. Conversei com alguns professores, para não assistir aula. E foi o meu pior ano da faculdade. Em média, eu fazia 7 matérias por período. Então assim, eram 14 matérias no ano. Eu lembro que nesse ano eu só fiz 4 matérias. Eu tranquei, eu não conseguia, eu trabalhava em Botafogo, ali na Lima Barreto, saia 22h da noite. Ia para casa, para o Méier, chegava aqui 23h30, comia alguma coisa, dormia, para 6:30 da manhã acordar para ir para Niterói. Então assim, foi muito desgastante, foi um aprendizado, eu vi o quanto é difícil a pessoa estudar e trabalhar, dou muito valor a quem, infelizmente, tem que fazer esse tipo de coisa. Mas graças a Deus meus pais conseguiram me manter durante a faculdade. Então eu sai do emprego, e retornei normalmente, sem precisar trabalhar. Só voltei a trabalhar no final da faculdade.
42:00
P/1 - E como é que era a UFF naquela época? Como é que era o campus, os professores, o clima, os seus colegas? O que te marcou ali, nesse período?
R – A minha primeira visão que eu tive de tudo, quando eu entrei, logo no 1º semestre, teve uma greve, e a greve durou 2 meses. Então assim, eu nunca tinha saído do Méier, ei sempre estudava no Méier. Então às vezes a gente tinha que ir lá para Niterói, não sabia se ia ter aula ou não, a gente ficava meio sem saber o que fazer. Então muita das vezes... foi bom a minha primeira impressão, mas por conta da greve, eu fiquei assim um pouco desmotivada. A greve durou 3 meses, mas depois que teve essa greve grande, as coisas entraram no eixo, eu passei a aproveitar mais. Foi uma época assim... como eu falei, eu gostava muito de jogar futebol, então a gente fazia campeonato, a gente tinha um grupinho lá, grupo da engenharia, contra o grupo da farmácia da farmácia, contra o grupo da arquitetura. Então assim, a gente estava sempre fazendo alguns eventos. Lógico, tinha as chopadas também, lá no campus do Gragoatá. Então assim, foi uma fase boa, eu só não aproveitei mais, porque eu morava muito longe, aí às vezes tinha que ir embora, porque no outro dia. Meus pais, apesar de eu ser praticamente adulto, meus pais não deixava eu dormir fora de casa. “Não, vem para casa, não sei o que lá”. Eles eram rigorosos ali comigo. Mas foi bom, mas foi bom. Valeu a pena!
43:57
P/1 - Esse teu primeiro trabalho, que era das 16h às 22h, era aonde, você fazia o que?
R - Esse trabalho, foi num empresa chamada Citelum, era uma empresa francesa, e ela tinha ganho um contrato de prestação de serviços para Light. E o trabalho era basicamente com banco de dados, e como eu gostava de informática. Apesar de eu fazer engenharia, eu era muito ligado a informática, sistemas operacionais, banco de dados. E aí eu tinha um amigo que trabalhava nessa empresa e me chamou. E aí eu comecei a ajudar nesse trabalho, só que como eu falei, era um trabalho bastante árduo para mim, em termo de tempo de estudo. Eu tinha pouco tempo para estudar, as vezes estudava no ônibus, estudava quando chegava em casa, e ai acabou que não deu muito certo.
45:02
P/1 – Foi no final então da sua faculdade que você conheceu Furnas, que você acabou entrando na empresa, é isso?
R – Isso! No final da minha faculdade, eu vi alguns concursos públicos para fazer. Um deles era da Eletronuclear, e o outro de Furnas. Eu fiz o da Eletronuclear, eram 25 vagas para engenheiros telecomunicações, eu passei em segundo lugar. No de Furnas, o concurso foi adiado, não teve o concurso. Isso foi no final de 2002, estava me formando. E quando saiu o resultado de segundo lugar em engenharia de telecomunicação, para a Eletronuclear, eu não pensei mais em Furnas. Ei comecei a trabalhar, com um amigo meu na parte de T.I. também, terminei a faculdade, fiquei na parte de T.I., esperando ser chamado para Eletronuclear. Em 2004, veio uma carta pelos correios, para quem tivesse interesse, em resgatar taxa de inscrição da prova de Furnas, tinha que ir em determinado local e apresentar a documentação, para ressarcir o dinheiro. E eu perdi esse prazo. Eu não queria entrar em Furnas, eu já tinha garantido a Eletronuclear. E aí eu perdi dinheiro, tudo bem, deixei para lá. Um dia chegou o comunicado lá em casa, era uma terça-feira, me lembro muito bem, dizendo o seguinte: prova de Furnas próximo domingo comparecer... Uma carta de comparecimento. Eu falei para os meus pais, “pai, eu estou trabalhando, já passei no concurso público, não vou fazer essa prova, não estudei nada, estou 1 ano sem estudar, sem ver isso, não tem nada a ver com o meu trabalho”. Ai ele falou: filho, faz a prova, não custa nada, vai lá, faz, estuda essa semana, vê o que você consegue. Falei: tá bom! Peguei conselho da minha mãe, do meu pai. Peguei alguns livros antigos, ai e estudei de terça, quarta, até sábado. E fui fazer a prova com alguns amigos da faculdade que também fizeram esse concurso. Bom, enfim, passei em 7º lugar. Isso foi em fevereiro de 2004, até hoje não fui chamado para a Eletronuclear e fui chamado para Furnas. Então assim, graças a Deus que eu perdi aquele prazo de inscrição e meus pais me incentivaram a estudar, tentar fazer essa prova, que não custava nada. Então assim, a minha história da entrada de Furnas, foi isso, foi por acaso. Quer dizer, não sei se é por acaso, mas foi dessa forma. Foi sem querer.
48:42
P/1 - E você prestou esse concurso, qual que era o cargo? Você ia ser designado para trabalhar onde em que gerencia, em que superintendência, Roberto?
R – O concurso era para engenheiro de telecomunicações, nível A, que eles diziam que era sem experiência. Ou seja, eu estava me formando, naquela época. Só que houve uma demora entre o concurso e a data da prova, então quando eu fui contratado, eles unificaram, com experiência, sem experiência. E eu acabei entrando como engenheiro de telecomunicações tipo B, que era com experiência de 3 anos. Eles unificaram os salários. E eu não sabia aonde eu ia trabalhar, eu sabia que era polo Rio. Então eu fui fazer uma entrevista em Botafogo, e aí eles me disseram, você vai trabalhar aqui no bloco E, nessa parte de telefonia. E foi um caso engraçado, pelo seguinte, eu me casei no dia 18 de setembro de 2004. Eu entrei em Furnas, dia 6 de outubro de 2004, ou seja, foi menos de um mês depois. E quando eu recebi a carta para comparecer para fazer os exames, era na segunda-feira, 20 de setembro, que era dia que eu tinha marcado minha lua de mel. Ou seja, eu casei e tive que me apresentar na segunda. Então assim, foi uma mudança totalmente, de vida. Estava saindo da casa dos meus pais e estava começando um emprego novo. Então eu tive que ligar para a agência de viagem, para remarcar a viagem, pelo menos para não perder o valor. Aí eu consegui me apresentar na segunda-feira, fiz alguns exames naquela semana, e viajei a lua de mel na semana seguinte. Com medo de ser chamado a qualquer momento e ter que voltar. E ai na quinta-feira da viagem da lua de mel, me ligam, pedindo para eu me apresentar na semana seguinte. E aí eu já voltei da lua de mel, apresentei lá a documentação que precisava e entrei em Furnas no dia 6 de outubro.
51:23
P/1 – E como que foi o seu primeiro dia?
R – O primeiro dia eu lembro até hoje, eu achei que foi uma pegadinha. O que aconteceu. Eu cheguei lá na empresa, e falaram assim para mim: olha, você vai lá no bloco B, na sala tal e vai procurar o moreno. Procurar o moreno? Já achei aquilo ali meio esquisito. Moreno não, Marrom. Vou procurar o Marrom? Tá bom! Fui lá eu procurar o Marrom. Já achando aquilo ali meio estranho. Realmente, acho que o sobrenome do seu Hélio, era Marrom. Gente boa pra caramba, me falou da empresa. “Olha, eu estou vendo aqui que você vai para Berê”. Berê? Cara, esse pessoal está de onda comigo. Beré o que? É Berenice? “Não, Berê. Se não tiver a Berê, você fala com o Pinel”. O que, Pinel? Ai eu fiquei na duvida, eu não sabia o que falar, fica assim, Berê, Berê, Pinhel, Pinel. Chegando lá eu fui apresentado ao Pinhel, que era o Alexandre Pinhel, que trabalha comigo até hoje na empresa. E é uma cara assim, bem diferenciado, o cara de 10 palavras, 9 são palavrões. E eu sempre fui um cara meio que mais tímido, de falar pouco, não falar palavrão. E ai ele: você que é o Roberto? Aí começou a falar aqueles palavrões. Eu não sabia se era Pinhel, se o apelido dele era Pinel, se o nome era Pinhel. Enfim, “a Berê não está aqui, mas eu vou te entrevistar. O que faz, não sei o que... você trabalha com T.I.? Então aqui que você trabalhar. Trabalhou com banco de dados? Você vai me ajudar aqui num projeto, é aqui mesmo, telefonia, tá certo, tá contratado, vai ficar aqui”. E ai eu vi que não era nada de pegadinha, mas foi uma situação assim, o Marrom, o Pinel, a Beré, foi uma coisa meio louca, o primeiro dia de trabalho.
53:38
P/1 – E aí, você foi trabalhar na parte de telefônica, é isso?
R – Isso, isso! A princípio nossa divisão, era divisão de equipamentos eletroeletrônicos e de telefonia. No inicio, como eu não tinha muita experiência na área, eu acabei sendo um suporte ali para o que as pessoas precisavam. Como o próprio Alexandre Pinhel, ele tinha os projetos que precisava um pouco de coisas de computador, de programação. Eu trabalhava com programação também, então fiz alguns programas. E a partir daí, com um tempo, eu fui passando a trabalhar na central telefônica. Fiz alguns cursos para me capacitar. Mas a principio, eu entrei numa área de telefonia, mas trabalhando com banco de dados, com programação, esse tipo de coisa.
54:42
P/1 – O que você achava dos equipamentos, do nível tecnológico que você tinha em Furnas naquela época? Como é que você analisava quando você chegou ali?
R – Eu não tinha muito conhecimento técnico dos equipamentos, quando eu cheguei. Nunca tinha trabalhado com centrais telefônicas. E a impressão que eu tinha... eu peguei uma fase de modernização das centrais, eles chamavam centrais eletroeletrônicas, aquelas centrais que o cara identificava o defeito pelo barulho do relé de equipamento lá, que ficava, parecia um tic tac de relógio. E passaram a ser centrais baseadas em chips, processadores, computador, tal. Então, quando eu cheguei eles estavam fazendo essa migração, essa atualização tecnológica. E ai já foi uma coisa, que eu já dominava um pouco mais. Acompanhei no inicio bastante coisa dessa migração, fiz algumas viagens para aprender, para fazer algumas. Eu lembro que uma das minhas primeiras viagens foi para Furnas, depois foi para Foz do Iguaçu. Para acompanhar essa modernização dessas centrais. E hoje em dia, muitas dessas centrais, nos temos até hoje, nos ainda damos manutenção nelas. E a medida que o tempo passal, nos vamos modernizando, a mediada que a gente consegue.
56:21
P/1 – Você se lembra a primeira vez que você foi visitar um usina, uma subestação? O que você pensou, o que você sentiu, Roberto?
R – A primeira usina que eu visitei foi a de Furnas, o departamento foi fazer um seminário de medições óticas. Então, todo mundo foi para Ribeirão Preto, foi a segunda vez que eu tinha andado de avião na vida. Primeira vez tinha sido na lua de mel, a segunda vez foi viajando para Furnas. Lá pegamos o carro até a usina. E assim, é uma coisa impressionante, para quem nunca viu uma usina de perto, uma barragem, realmente, é uma coisa monstruosa. Não tem como descrever, a pessoa tem que estar lá para ver mesmo. Aí você vê a grandiosidade que é a hidrelétrica, a usina hidrelétrica. Quando você vê aqueles reatores enormes. Bom, enfim, foi marcante, por isso, pela grandiosidade, a primeira usina, a usina de Furnas. E você vê o quanto de tecnologia foi empregado naquela construção ali, mesma coisa de 50, 60 anos atrás.
57:52
P/1 – Me conta onde que está a área de telefonia, dentro da hierarquia da empresa? Na gerência, superintendência?
R – Nos agora, em 31 de maio, Furnas passou por uma reestruturação. E aí foi criado, dentro da diretoria de interações, uma superintendência de telecomunicações. E o nosso departamento, ele está atrelado a essa superintendência. Eu costumo dizer que trabalho a 16 anos em Furnas e eu nunca sai da divisão, eu sempre trabalhei no mesmo setor. Mas eu já mudei de nome algumas vezes, os nomes foram mudando, as caixinhas foram para outros lugares, mas a essência está ali. Hoje nos somos da DTR, que é departamento de telecomunicações, que faz parte da superintendência de telecomunicações, que está dentro da diretoria de operações.
59:03
P/1 – Então é um departamento que está ligado com o campo né? Como é que é esse trabalho?
R – O nosso setor, ele é responsável pela manutenção e suporte das centrais telefônicas de Furnas. A minha área especifica de telefonia. Então assim, cada subestação e cada usina, tem seu ponto técnico, de eletroeletrônica, que faz a operação da sua central. Nós somos o que a gente chama de nível 2, nos domos suporte aos técnicos de campo. E também somos responsáveis por toda a parte de programação, das rotas e da numeração dos ramais de Furnas. Todos os ramais, todas as rotas de ligação, as interligações entre centrais de Furnas, e de nossa responsabilidade. Por exemplo, a Dani falou que hoje caiu uma torre. Nós temos um serviço, nos levamos um contêiner de telecomunicações para as operações, para as emergências. E lá montamos uma infraestrutura de rede, e de telefonia, interligada ao sistema de telefonia fixa, da empresa. Então a pessoa está com o telefone lá, mas na verdade ela está dentro da nossa rede de telefonia, com ramal. E ela consegue se comunicar com qualquer um dentro da empresa. Além de acessar os serviços da rede coorporativa através da internet. Isso tudo através de um link de satélite. Esse é um dos braços da nossa responsabilidade.
1:01:25
P/1 – Quando cai uma torre no meio do nada, vocês são a comunicação com o restante do mundo, é isso?
R – É isso que acontece! Muitas das vezes, as emergências, elas são em áreas remotas, no meio de fazendas, no meio de estradas, onde dificilmente você tem uma rede de celular. E aí nos somos o único lugar assim, que a gente consegue para as pessoas se comunicarem. O ponto focal para as pessoas se comunicarem.
1:02:07
P/1 – O que tem nesse contêiner? Você se lembra a primer vez que você teve que ir numa emergência, como é que falaram para você, “olha Roberto, aconteceu isso”, como é que foi?
R – Dentro desse contêiner, o que possui? Possui equipamento de telefone, sem fio, que nos distribuímos para supervisores da área, existem equipamentos de rede switches roteadores e firewall, e o que a gente chama de um gueto de telefonia, que é um equipamento que transforma o sinal de telefonia em dados, para ser transmitido via satélite, parcialmente é isso. Claro, a gente coloca o notebook ali, às vezes coloca uma impressora para dar um apoio, para as pessoas poderem imprimir alguns documentos técnicos, esse tipo de coisa. A minha primeira emergência, foi em 2014, foi uma emergência que teve aqui no interior do Rio de Janeiro, em Resende. Uma das mais difíceis que eu já vi, porque numa região muito montanhosa, ali perto de Penedo. E a operação durou quase 25 dias. Se eu não em engano, foram 25 dias de operação, só que eu não fiquei o tempo todo, nos ficamos nos revezando, como era perto do Rio de Janeiro, então eu fiquei 5 dias, depois o outro da equipe vinha me cobrir, depois a gente fez o revezamento. Mas foi assim, estava bastante quente, era uma região com muito mosquito, muitos insetos. Não tinha uma infraestrutura boa assim de colocar barraca, nós nos abrigarmos assim, tinha uma coisa de gado que a gente aproveitava para fazer uma sombra e tal. Foi uma experiência diferenciada. Eu diria que foi a pior emergência que eu fui, a primeira, pelo aspecto geográfico do local. Infelizmente, nessa emergência teve um falecimento, teve um acidente fatal. Então assim, foi uma coisa bem triste para as pessoas. Eu não estava presente no local, mas quando eu sai que aconteceu o acidente.
1:04:38
P/1 – Você imaginou algum momento da sua vida que você iria estar naquele lugar, por exemplo?
R – Definitivamente não! Na verdade assim, eu costumo dizer que Furnas, abriu as portas para mim para o Brasil. Por quê? Furnas me deu essas possibilidades de conhecer o interior do Brasil, de conhecer outras culturas, conhecer outras cidades. Eu comento assim com as pessoas: cara, tem dias que você está num evento, num hotel super luxuoso em Florianópolis, ou no Rio de Janeiro, em São Paulo, ali na Avenida Paulista. E tem dias que você tá no meio do mato, comendo uma quentinha, sentado numa pedra, chovendo, batendo terra e lama, e chuva, e com mosquito, e com pernilongo. Assim, essa disparidade, hotéis bons, eu já tive que ficar em posto de gasolina, porque não tinha hotel, tive que dormir com barulho de cama rangendo, briga de gente na rua. Eu diria assim, que é uma mistura muito grande, e uma vivência, e uma experiência de vida muito grande. Eu acho que eu nunca diria assim: a, vou trabalhar em Furnas para ter isso. Mas acho que isso foi o que mais me agregou na minha vida. Foi essa troca de experiência nessas viagens.
1:06:30
P/1 - Além dessa emergência em Resende, que outros lugares você conheceu do país, por conta de Furnas? Quais viagens te marcaram mais?
R - Eu já viajei para bastante lugares. Começando do Sul, Curitiba, Foz do Iguaçu, interior de São Paulo, Ibiúna, Mogi, Campinas. Subindo para interior de Minas também, Furnas, Goiás, Cuiabá, a usina de Manso, Brasília, Brasília Sul. Assim, toda região centro-oeste, região sudeste, região sul. Praticamente toda a região onde Furnas atua. Não pelas emergências em si, mas também por projetos de implantação, de equipamentos, de projetos.
1:07:45
P/1 – Roberto, você tem algum projeto que na sua cabeça foi mais desafiador, ou você fica agradecido por ter feito parte? Qual que te marcou mais?
R - Esses serviços de emergência, ele é um dos projetos que eu vejo assim, que tem mais relevância, para o convívio da empresa. Que nos atuamos como apoio para as equipes das linhas de transmissão que estão consertando as torres, colocando as torres de volta em operação. Mas eu tenho alguns projetos relacionados a telefonia, telefonia em usinas e subestações, que também se tornam muito desafiador, que você coloca... Hoje em dia, os operadores, e a medida que o tempo passa, está tendo menos pessoas para subestações, e os operadores tem que atuar fora da sala de controle, fazendo vistorias no campo. Nós implantamos um projeto de telefonia sem fio, via rede de dados. Nós implantamos rede wi-fi em volta de toda subestação, e operador sai da sala de controle com o telefone, ele faz a vistoria toda do local, com esse P100, com a comunicação com Furnas. E o desafio foi como implementar uma rede de wi-fi, numa situação onde tem muita interferência eletromagnética, devido aos equipamentos de energia. É um projeto que ainda está em implantação, a gente começou isso em 20013, se eu não me engano. E por vários motivos a gente teve que dar uma parada e tal, mas a ideia é implantar isso em todas subestações e usinas de Furnas.
1:10:01
P/1 – E como é que tem sido a sua trajetória dentro da empresa? Sempre como engenheiro, você falou.
R – No inicio eu não conhecia muito do setor de telefonia, o que eu conhecia mais era essa parte de programação. Então eu comecei a fazer projetos relacionados a tentar resolver problemas do nosso departamento ali, da nossa divisão. Uma das coisas que eu fiz, a gente implantou um projeto, para controlar defeito em equipamentos. Na realidade o seguinte, o equipamento dava falha, aí nos tínhamos o contrato com os fornecedores de reparo e tal, nos tínhamos que fazer um banco de dados para controlar os contratos, tempo de reparos, esse tipo de coisa, vê se esta dentro do acordado com o fabricante, se o problema está recorrente, se não está. Então fizemos um trabalho de principio nessa área. Depois tivemos outros trabalhos relacionados a condutância de baterias. Nós criamos um software também, que foi registrado em INPI, depois nós cedemos direitos para Furnas, para poder até comercializar no futuro. Mas não foi muito para a frente. Nós tínhamos uma solução de manutenção, e o software fornecido pelo fabricante não nos atendia. Então nos produzimos uma solução interna, que ficou melhor. Aí tentamos comercializar isso, só que na época nos não tivemos uma... Furnas ainda não estava preparada para esse tipo de negocio, software e tal. Nós cedemos o direito ao registro em INPI, mas ficou em stand by. A partir daí, eu comecei a operar realmente na parte de telefonia. E hoje eu sou o especialista, nessa parte em telefonia em IP de Furnas. Então assim, toda essa parte de telefônica relacionada a telefonia em IP, eu estou a frente desse projeto.
1:12:35
P/1 – Como que você se lembra dos blocos do antigo prédio de Furnas? Você tem alguma história que você viveu ali?
R – Eu sempre trabalhei no Bloco E, que é aquele bloco que ficava mais atrás ali na operação. Realmente nos éramos ali uma grande família. Éramos uma grande área técnica de engenheiros, trabalhando ali muito homem junto, então era zoação o tempo todo, era um pregando peça no outro. Teve caso ali de histórias de deixar um preso, o outro ficar preso e sair, coisa de fazer pegadinha com o estagiário. Hoje em dia, acho que ia meter um processo na gente. Mas naquela época era permitido ainda, não tinha muito disso. Então a gente tramava histórias, para falar com o estagiário, fazia que estava errado, mandava repetir o trabalho várias vezes. Construir equipamentos que não existia. Mandava fazer pesquisa de equipamentos que não existia, que eram impossíveis ser criados. Enfim, a gente se divertiu bastante ali.
1:14:12
P/1 – Você pode dar um exemplo dessas pegadinhas, Roberto?
R – Eu não vou me recordar muito bem o nome do equipamento que a gente fez, mas a gente pediu uma vez par um estagiário, construir uma máquina, que era medidor de frequência, a gente pegou tudo quanto era entulho, que a gente tinha ali de sobra de equipamento, materiais velho, sem uso, botamos tudo dentro de uma caixa se papelão. E pegamos os manuais de equipamentos que não existiam mais, coisa em inglês, coisas em alemão, tinha coisa em português, mas era muito pouco. Parecia aquelas listas amarelas de antigamente, listas telefônicas. A gente colocava aquilo ali tudo, e falava: você tem que estudar isso daqui, o material está aqui, e o manual está aqui, você tem que construir esse medidor de frequência . O estagiário que estava chegando lá, não tinha noção do que era um medidor de frequência, não existia medidor de frequência. A pessoa olhava, ficava ali, não sabia o que fazer. A gente largava mão e saía, e ficava observando de longe, as expressões do cara, via o que o cara fazia, tentando ler aquele manual, tentar entender alguma coisa. Lógico, passava um tempo a gente dizia que não era nada daquilo, mas a gente se divertir com isso.
1:15:56
P/1 - Me descreve como que era o escritório, como que era o bloco, como que era a rua onde ficava lá em Botafogo?
R - O nosso prédio, o lugar onde a gente ficava, ele era um lugar diferente, porque ele não tinha janelas, era uma sala de equipamentos que ficava no segundo andar. E era todo cheio de equipamentos, e nós ficávamos com bancadas ali dentro, nos terminais de serviço olhando para a Central Telefônica. Depois nós passamos a utilizar um almoxarifado que foi desativado, construímos um escritório ali para gente, com baias, computadores ali. E no primeiro andar ficava a gerência e os outros funcionários. A rua em si, nós ficávamos atrás, tinha o poeirão, que era o estacionamento do escritório central, tinha a rua São João Batista, que ficava atrás. Na frente tinha a Rua Real Grandeza, com os restaurantes dali, naquela parte de cartório, jornaleiro. Inclusive eu me tornei muito amigo do jornaleiro, comprava muitas revistinhas, inclusive essas coleções que eu tenho aqui, algumas eu comprei com ele. A gente chegou uma amizade de viajar junto para Teresópolis, eu conheci a casa dele. Então assim, foi uma amizade que veio ali do trabalho, dia a dia passando, aí compra uma balinha, uma revista, aí conversa daqui, “gosto de Teresópolis”. “Eu tenho uma casa lá”. “Quando você for, você me liga”. Hoje inclusive somos vizinhos, porque eu acabei adquirindo um quartinho lá em Teresópolis, nessa pandemia, que é uma outra coisa que mudou muito, essa nova experiência de trabalho remoto, onde você pode estar em qualquer lugar. Então às vezes buscar um lugar mais agradável, mais ligado a natureza, para você poder trabalhar. E é isso, foi assim, essa amizade com o jornaleiro ali, que se tornou um amigo de vida.
1:18:32
P/1 - Disseram que muito do bairro, daquelas ruas da região, funcionavam muito por conta de Furnas, os restaurantes. Como é que era, vocês revezavam os dias onde vocês iam comer, o que vocês iam fazer?
R - Nós tínhamos um grupo de amigos, que íamos sempre almoçar no mesmo lugar Que era um amigo nosso, que chamava Edson, que adorava comer num restaurante que chamava Ipiarte, então se ele estava junto, a gente tinha que ir no Ipiarte. Se não fosse no Ipiarte, tinha que ser na picanha que ficava ali na rua também, praticamente em frente. Então era assim, Ipiarte ou era a picanha. Depois que ele se aposentou, aí sim, a gente começou a visitar outros lugares, passamos a comer no restaurante da frente. Então assim, cada dia tinha, tinha um "vamos aonde”? “Vamos em tal lugar”... Ipiarte, sei que lá, Picanha, Costela, vamos na Cobal, Joaquina. Então era mais ou menos assim. Depois que ele se aposentou que a gente começou a visitar outros lugares, porque enquanto ele estava lá, se a gente fosse almoçar com ele, era Ipiarte ou Picanha, não tinha jeito.
1:20:08
P/1 - Me conta uma coisa é uma pergunta minha ingrata, que a gente sempre faz, de você registrar algum amigo, algum colega, algum funcionário da empresa que te marcou. E se você puder dizer por que essa pessoa te marcou lá dentro?
R - É bem difícil escolher um funcionário.
1:20:43
P/1 - Não precisa ser um não, pode ser quando você quiser.
R - Mas marcou em que sentido assim? No sentido de conhecimentos técnicos ou de amizade?
1:20:58
P/1 - Que marcou de forma negativa ou positiva.
R - Uma pessoa que me marcou muito foi a gerente, a minha primeira gerente, que foi a Berê, que foi a Maria Bernadete. Essas coisas do destino, eu já conhecia a irmã dela, porque a irmã dela a irmã dela tocava na mesma igreja onde eu tocava. Então assim, eu já tinha um vínculo sem saber. Nós pegamos uma amizade muito grande, ela com a minha família, nós éramos ali em um grupo que costumávamos almoçar juntos, viajamos juntos também para alguns lugares de férias, em grupo, íamos em aniversários da família, esse tipo de coisa. Ela foi a primeira pessoa assim que eu tive um contato maior de amizade dentro do trabalho, por eu ser novo e não ter pego direto trabalho de telefonia. Eu fiquei muito sendo uma ajudante, dando um suporte nesse serviços mais burocráticos, administrativos. E essa parte de informática também. Então eu diria assim, quem marcou no início foi a Maria Bernadete.
1:22:43
P/1 - E você acha que os funcionários de Furnas tem algum perfil, tem um jeitão próprio deles, que diferencia de funcionários de outras empresas? O que você acha?
R - Eu acredito que não! Eu diria que Furnas é um mundo assim, onde a gente vê de tudo, seria uma mostra do que é a nossa vida. Por eu ter viajado bastante, você ver aquele cara que é mais pessimista, você vê aquele típico, que chamam até de modo pejorativo, funcionário público que não quer trabalhar, você vê aquele cara que carrega o piano mais que os outros, você vê aquele cara que está doido para se aposentar. É uma mistura, não tem como dizer o funcionário de Furnas é assim. Eu estaria falando mentira aqui no caso.
1:23:48
P/1 - Você tem muito contato com o pessoal, os funcionários de campo mesmo, que levantam as linhas de transmissão, que fazem a manutenção e tal. Como é que são eles? O que você acha do trabalho que as pessoas fazem? Se você puder comentar um pouco.
R - Eu tenho muito contato com o pessoal da parte eletrotécnica, que são as pessoas que trabalham nas subestações, dando apoio nos equipamentos. Na parte de linha de transmissão, só tenho contato durante as emergências. Mas o que eu vejo, é o seguinte, nas áreas, nas subestações, eles lidam com uma infinidade enorme de sistemas, tanto de telefonia, como proteção e controle, quanto parte de energia, parte de rádio. Então assim, eles tem que ser uma equipe multidisciplinar. E eles não conseguem ser especialistas em tudo. Então assim, eles são altamente capacitados, que eles conseguem trabalhar numa Gama enorme de equipamentos, sabendo um pouquinho de cada e tendo que trabalhar com todos, fabricante diferentes, sistemas diferentes, sabendo que aqui no escritório, que aqui no Rio de Janeiro, eles têm um apoio bem mais específico para área, no nosso caso, de telefonia. Se eles não conseguem resolver, eles ligam para gente, nós somos os especialistas daquela área. Como tem área de rádio, tem o especialista também que trabalha conosco, parte de proteção e controle, parte de fibra ótica. Então assim, é como se nós fossemos o suporte desse pessoal que trabalha na área.
1:25:54
P/1 - E quando contactam vocês, geralmente o que eles falam? O que eles pedem, como é que é essa relação?
R - Hoje em dia por conta da pandemia, acabou que a gente deu os nossos telefones celular, WhatsApp, esse tipo de coisa. Então eles ligam direto para gente, não precisa nem mandar e-mail, qualquer hora eles ligam. Antigamente mandava o e-mail, ou até ligava para o ramal, “olha, estou tentando fazer isso, não estamos conseguindo fazer ligações DDD para Brasília”. Não estamos conseguindo falar com a subestação de Itumbiara. Aí nós entrávamos na central junto com eles, já fizeram essas verificações? Já viu se o link está funcionando? Se a fibra está rompida? Nós fazemos algumas verificações básicas com eles, e a atuávamos em cima da central em si, em cima do equipamento para ver se a gente conseguia resolver o problema. Basicamente era isso. Nós éramos acionados quando eles não conseguiram resolver o problema por conta própria.
1:27:05
P/1 - Se você puder me descrever como é uma operação dessas? Como é essa experiência de uma emergência, Roberto?
R – A experiência da emergência, é uma experiência única em Furnas. Começando na comunicação da emergência, a medida que a gente sabe que tem a emergência, a gente só sabe na verdade de uma coisa, que a gente vai ter que ir para casa arrumar a mala, e partir para onde for necessário. Agora, aonde vai dormir, como vai chegar, isso tudo a gente vai fazendo à medida que o tempo vai passando. A gente vai para casa, arruma a mala, as vezes sem saber qual é o voo que vai pegar. Então assim, uma coisa muito dinâmica, muito rápida. Por quê? Porque na verdade, a equipe de telecomunicações, ela vai junto com os primeiros técnicos responsáveis, os engenheiros da parte de linhas, que eles têm que chegar no local e ver o estado de como está a região, de como está a torre, a situação da torre. Chegar lá, geralmente tem lugares que passaram por chuva, tem árvores caídas, o acesso é difícil, às vezes tem muita lama. E aí você chega ali sem uma infraestrutura pronta, você chega no local, na verdade você está vendo como construir a infraestrutura. Aí eles ficam no aguardo ali. Enquanto o kit de Telecomunicações não chega, nós temos que chegar antes dele né, para quando ele chegar a gente conseguir colocar funcionando o mais rápido possível. Vão sei lá, 10 pickups, você monta duas tendas enormes, e aí tem serviço de logística com comida, quentinha, refrigerante, água, frutas, pão. E aí monta banheiro químico, e aí chama guindaste. Às vezes você tem que contratar tratores para abrir um pedaço para poder entrar os caminhões com o maquinário. Aluga tratores, aí faz aquele suco na plantação, faz o preparo de todo ambiente. Chega as ambulâncias também, fica sempre uma ambulância apostos, caso tenha algum acidente. Realmente é um evento assim, em termos de Furnas para mim é o maior evento que tem quando acontece... é onde a gente consegue mostrar a produtividade e a eficiência, e a competência dos nossos funcionários. Quando uma emergência dessa ocorre. Aí você vê que a empresa toda ela se une naquele objetivo ali, você vê psicólogo, você vê médico de segurança do trabalho, você vê engenheiro, você vê técnico, você vê enfermeiro. Uma gama de profissionais ali, para fazer aquele evento acontecer e dá tudo certo no final.
1:31:03
P/1 - Esses eventos acontecem com que regularidade mais ou menos? Você sabe contar quantas emergências você teve que participar, Roberto?
R - Eu participei de 5 emergências. Em média acontece, eu diria assim, uma época que costumava acontecer, final do ano, outubro, novembro, não sei se tem a ver com alguma coisa climática, condições climáticas. Mas eram períodos que sempre aconteciam. Então eu lembro que tinha aniversário da minha sobrinha, teve aniversário do meu pai, era final de ano, era batata, tinham emergência, eu tinha que ir. Então era mais ou menos nesse período. Claro, aconteceu em outras épocas, como aconteceu uma hoje. Mas hoje não foi nem devido eventos climáticos, foi um acidente mesmo. Mas acidente de clima, de chuva, de vento, era nessa época do ano. Final do ano era mais complicado.
1:32:34
P/1 - Como é que está o seu dia a dia hoje na pandemia? O que mudou? Como é que você está sentindo trabalhar em casa nessas condições?
R - No início, eu digo assim, a gente não sabia muito o que fazer, a gente estava muito habituado a trabalhar resolvendo problemas de pessoas nas áreas. A medida que as pessoas não estavam nas áreas, a gente ficou um tempo sem demanda, a gente ficou as primeiras semanas ali, fazendo só o nosso serviço de organização, mexendo em alguns equipamentos. Mas a gente não teve aquela demanda de resolver problemas das localidades. Eu senti uma certa dificuldade de trabalhar em casa, no início, em termo de foco, de ficar em casa e não ter... Apesar de eu ter um local adequado para trabalhar, não é a mesma coisa, você está conversando diretamente com seu colega do lado, e aí acorda, conversa. Você não só trabalha, você conversa de outros assuntos. E a impressão que eu tinha dentro de casa, muita das vezes é que eu não estava sendo produtivo. Eu ficava em casa, eu fazia alguma coisa, mas eu não estava vendo resultado, eu não tinha um foco assim. A medida que o tempo foi passando... E a pandemia veio num momento muito ruim, que foi na nossa mudança de sede, nós estávamos saindo de Botafogo, indo para IBM. E o sistema de telefonia ainda tinha que ser implantado na IBM. E como é que nós faríamos? Nós faríamos a migração da central que tem Botafogo para lá. Sendo que essa mudança ele tinha que ser feita de uma forma que não perdesse os sistemas que já estavam funcionando. Então como que a gente ia garantir que os equipamentos fossem para lá? E outra, o bloco E, ele não ia todo para o escritório da IBM, o bloco E, os equipamentos foram para Grajaú. Então assim, as pessoas foram para a IBM e a Central Telefônica foi parte para Grajaú e parte para IBM. Então você imagina, uma Central Telefônica que dar apoio a todo escritório central, teve que ser dividida em dois, todos os links das operadoras, os links para as outras unidades de Furnas, chegavam ali no bloco E, tiveram que ter esse desmembramento. Então assim, fazer tudo isso no meio de uma pandemia, foi algo assim desafiador, porque no início a gente não sabia como atuar, uso de máscara, a parte de trabalhar num ambiente fechado, não tinha janela. Então assim, quantas pessoas poderiam ficar aqui? Pô, mas tem que carregar a central, tem que desmontar. Então assim, fazia teste de covid tal, mas com aquela insegurança de ter que trabalhar em uma pandemia, fazendo sistema de operação. Eu diria que o grande desafio de carreira, assim, meu em Furnas, foi trabalhar nesse, a gente chamou de movie. Foi a desativação daquele bloco E, e a instalação dos equipamentos na IBM e na subestação de Grajaú. No tempo que a gente fez, e como a gente fez, eu diria que foi uma coisa sem precedentes na empresa.
1:36:33
P/1 - Esse tipo de mudança, acontece muitas coisas que as pessoas nem imaginam que teriam que acontece né? É como você falou, se não faz essa mudança nesse tempo, não teria como empresa funcionar né, que o centro da comunicação é a central né?
R - Isso mesmo! O que aconteceu também, é que os projetos, eles eram projetos separados, nós tínhamos o projeto da implantação da IBM, nós tínhamos o projeto da migração do bloco E para subestação de Grajaú. Infelizmente, por conta da pandemia, isso ocorreu no mesmo período. Na verdade isso aconteceu, um casado com outro praticamente. Então a gente teve que criar uma forma, uma estratégia... Então assim, ficou parte da Central Telefônica na IBM, parte permaneceu em Botafogo, e parte foi para subestação do Grajaú. E aí depois, numa segunda etapa, que nós fizemos o translado final, para subestação do Grajaú. E eu lembro o seguinte, a data de 18 de dezembro de 2020, foi a data da formatura da minha filha. Quando muda do primário para o ginásio, o quinto ano que eles chamam. Então ela tinha uma missa às 18 horas, tinha formatura em seguida, às 19 horas. Isso tudo no meio de uma pandemia, então você tinha lá, uma série de máscaras, um cerco menor, com menos pessoas, não podia chamar todo mundo. A partir dali, eu saí para Botafogo, para fazer o movie, para fazer o desligamento da Central, dos equipamentos. Chegando lá tinha uma quantidade enorme de pessoas, 25, 30 pessoas no ambiente, todo mundo de máscara, aqueles estresse de álcool na mão, máscara, luva. E todo mundo tentando manter um certo distanciamento, mas muita das vezes, infelizmente a gente não conseguia ter. E aí a estratégia que a gente adotou, foi o seguinte, a central ela vai ser desligada num dia e vai ser remontada no dia seguinte. Então a gente fez... 2 horas da manhã a gente estava mais ou menos terminando as instalações da central, guardar a central. E nas 6 horas da manhã, o caminhão ele não podia trafegar a noite. Ele saiu de Botafogo para o Grajaú, e tinha uma outra equipe recebendo essa Central. E no dia 19 de dezembro, era aniversário da minha enteada. Então assim, foi uma sequência, comecei 5:30 da manhã, 6 horas, fiquei até 2 horas da manhã, voltei 9 horas da manhã, fiquei trabalhando até 11 horas da noite. E aí o pessoal ficou me esperando na casa para cantar parabéns, tipo assim, eu cheguei dia 19, 11:30 da noite, estava lá o bolinho, eu cansado, fui tomar um banho rapidinho, só para tirar aquela... ficar dia inteiro trabalhando. Para cantar o parabéns. Então assim, foi uma correria enorme naquele dia, e que assim, não só da minha parte, deve ter tido várias histórias ali, que as pessoas não conhecem, porque assim, as pessoas estavam em casa, enquanto a gente estava fazendo todo esse trabalho the background, de desmontagem, de mudança. Foi bem desafiador.
1:41:01
P/1 - Como é que foi para você se despedir do prédio, se despedir daquele bairro? E você chegou a conhecer a nova sede? Se ambientar ali?
R - Sim! Na verdade nós passamos aí na nova sede, muito antes dela ser preparada. Eu tenho foto dos andares sem forro de gesso, sem os computadores, o chão ainda para fazer. Porque a gente tinha que preparar essa infraestrutura. Então assim, eu já conhecia o prédio. E tivemos que ir a medida... instalar os telefones, configurar os telefones. Nós ainda tivemos um processo, o terceiro processo, que eu não comentei. A gente estava tendo uma modernização de uma outra Central Telefônica, que é a central que hoje está na IBM. Então assim, a central era para entrar uma central nova, no prédio novo, só que por conta do calendário da pandemia, nós tivemos que usar a central antiga, na IBM, passar todo o cabeamento, instalar todos os ramais. Que a gente não sabia quando as pessoas iriam voltar a trabalhar. Chegou a central nova, a gente está instalando a central nova, agora já trocamos os telefones. Ou seja, foi um retrabalho que nós tivemos, por conta da pandemia, o calendário, ele meio que se sobrepôs. Então foi um retrabalho que foi tido la na IBM. E assim, eu ainda não me despedi do bloco E, de Botafogo, porque existem algumas coisas ainda ali, alguns equipamentos, coisas assim, menores. Eu procuro ainda ir lá, quero ir lá ainda, para tirar uma última foto, ou ter aquela última visão ali. Toda vez que eu ia ali durante a pandemia, eu tinha uma visão ali, que é virado para o Cristo né. E toda vez que eu ia lá, eu tirava uma foto, “eu não sei qual é a próxima vez que eu venho aqui”, então vou tirar uma foto, ia tirar uma foto, da sala. Tinha ali, perto da gráfica, existiam ali uns painéis, Tinha umas fotos, de Emergências, ou de alguns eventos de Furnas, “Eu não sei qual dia eu vou vir aqui”. tirava foto daqueles quadros ali. Então assim, era uma coisa meio saudosista, já me preparando para essa saída. Uma coisa muito marcante que eu tive também, foi quando eu estava presente no dia que tiraram lá de Furnas, uma torre de metal que tinha na frente da empresa. Poderia ter tido um evento ali, mas foi uma coisa fria, chegou um caminhão, desceram lá uns pedreiros, uns técnicos, começaram a desmontar aquele símbolo. Na verdade aquilo ali é um símbolo da empresa, uma torre de transmissão. Eu tirei algumas fotos da desmontagem, mas assim, dá um pouco assim, um pouco de tristeza, ali, o escritório central, ele era uma marca de Furnas. Foi onde a grande maioria ali começou a trabalhar, e tinha um simbolismo para região, para empresa como um todo. Eu não sei como vai ser hoje lá na IBM.
1:45:04
P/1 – Roberto, me conta que história é essa, foi quando você foi ser pai, é isso?
R - Isso! Exatamente! O pessoal lá costumava pregar peças em todo mundo, pessoal muito brincalhão. E aí quando descobriram que eu ia ser pai. E como eu trabalhava muito na parte de telefonia, o que eles fizeram, eles foram na farmácia, compraram uma fralda, pegaram um telefone, embalaram o telefone com a fralda, compraram uma chupeta, botaram a chupeta no telefone, e colocaram em cima da minha mesa. “Olha aqui o seu filho, nasceu, é o papai do ano”. Aí eu tirei foto, lógico mantive como uma recordação do momento, achei bem legal.
1:45:58
P/1 - Como é que foi descobrir que você ia ser pai? E como é que foi o nascimento do seu filho ou da sua filha?
R - A vinda da Sofia ao mundo, a gente costuma dizer que foi um milagre. Por que a gente fala isso? Porque nós não conseguimos ter filhos, estávamos casados já há uns 4, 5 anos, e a gente não conseguir engravidar. Bom, vamos tentar ver o que, o que pode ser, vamos tentar fazer um tratamento. E a minha ex-esposa na época, foi fazer o exame viu que ela tinha endometriose, que é um problema que tem no útero, que o óvulo não consegue se prender a parede do útero. Então vamos fazer um tratamento, vamos juntar o dinheiro e tal. Juntamos o dinheiro, fizemos todos os exames. E aí quando estava tudo preparado para ser feito o exame, já tínhamos o dinheiro para fazer o tratamento. Me vem a notícia que ela engravidou, que ela conseguiu. E ela ficou muito emocionada, porque assim, a gente não aguardava, era uma coisa muito aguardada, mas a gente não esperava que iria vir sem o tratamento. E aí ela fez lá um depoimento. Nós fomos a igreja, pedimos orações para as pessoas, elas falaram que foi um milagre, foi aquela emoção. Acabou que o dinheiro do tratamento, a gente aproveitou para trocar de carro, comprar um carro maior, a gente precisava agora de mais lugares, mais malas no carro, esse tipo de coisa. O pior, que dizer o pior, na verdade a gente não sabia que ela estava grávida. Então nós tínhamos o hábito de fazer trilha, fazíamos campeonatos de trilha, que você vai para alguns hotéis fazendas, ou lugares assim. E você tem lá, você ganha uma bússola, você tem lá os passos, você tem um mapa, e você tem que... eram uns campeonatos que tinham de amadores. Nós tínhamos ido numa trilha, na semana passada, anterior a descoberta da gravidez. E ela tomou um tombo enorme, ela caiu de um barranco, escorregou, se molhou toda, ficou toda suja. E já estava grávida ali, naquela hora. Cara, foi assim, foi uma coisa de Deus mesmo, não ter perdido a criança naquele momento ali. Mas enfim, a Sofia veio ao mundo, hoje ela está com 11 anos, super saudável, brincalhona, divertida, é o meu tesouro eu digo que é o meu tesouro.
1:49:13
P/1 - E como é que foi o dia que ela nasceu, Roberto?
R – O dia que ela nasceu, eu estava trabalhando em Furnas, numa segunda-feira. E por conta da pressão alta, que a Ana desenvolveu durante a gravidez, ela teve que marcar a cesárea, ela se internou um dia antes. Sai do emprego, lá de Furnas, em Botafogo, passei em casa, busquei a Ana e levei para o hospital. Ela passou a noite no hospital, ali em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, na Perinatal. E na manhã seguinte, às 8 horas... eu quis acompanhar o parto, nunca tinha acompanhado, pai de primeira viagem. Mas eu queria olhar, “você vai aguentar”? “Vou aguentar, vou ficar quietinho, fico aqui do seu lado”. Aí fiquei. Daqui a pouco, vem aquele cheiro de carne queimada. Cara, eu nunca tinha sentido aquele negócio na minha vida. Abrindo assim, para tirar, e aí eu comecei a ficar enjoado, comecei... “tá tudo bem”? “Não, tá tudo bem”. Fiquei branco, lábio roxo, “você tá bem mesmo”? “Tô bem, a pressão caiu, mas eu tô bem”. Aí a Sofia nasceu, eu fui ainda cortar o cordão umbilical, com a tesourinha ali, apresentei ali para Ana. Bom, foi isso! Foi uma experiência única também. Eu nunca imaginei que seria dessa forma, achei que seria mais tranquilo.
1:51:00
P/1 - Como é que é ser pai Roberto? O que mudou na sua vida depois do nascimento da Sofia? Como é que é cuidar dessa vida?
R - Eu diria o seguinte, que até ser pai, eu não tinha descoberto a minha vocação ainda. Eu acho que eu nasci para ser pai, e pai de menina mesmo. Eu queria ter dois filhos, um casal, mas se eu pudesse escolher hoje, eu preferia ter só a menina mesmo, e tá ótimo. Olhar para aquele ser pequenininho ali, e ver dependente de você, e ver ter uma infinidade de possibilidades ali, você tem que cuidar, você tem que dar uma educação, você tem que dizer para ela o que é o bom o que é o mal, como se portar e ver o desenvolvimento da criança. Eu acho que todo mundo deveria ter essa experiência na vida, ser pai ou ser mãe. Eu acho assim, que é marcante, é marcante.
1:52:16
P/1 - Você tem algum sonho hoje? Você tem algum desejo que você quer realizar ainda? O que você pensa?
R - Sinceramente eu não tenho sonhos e desejos. Eu gosto muito de viajar, eu acho que a gente tem que viver mais experiências, quero viver algumas experiências na vida, poder conhecer outros lugares, com as pessoas que eu gosto ao meu lado. Nada coisa de material assim, só momentos, momentos em família, às vezes tomar um café da manhã, fazer um lanche da tarde num lugar legal, esse tipo de coisa. Não tenho assim, grandes ambições. Eu acho que assim, Furnas me permitiu ter o meu apartamento, ter a minha família, a minha filha. Eu consegui prover para eles um certo conforto. E hoje em dia o que eu prezo mais, são por experiências de vida, assim.
1:53:32
P/1 - E você está com uma nova companheira?
R - Sim! Assim que eu me separei, eu conheci uma mulher, uma menina em Furnas. Mas foi assim, o nome dela é Patrícia, nos já estamos há 6 anos juntos. E foi um caso assim engraçado, porque ela já trabalhava a muitos anos lá em Furnas, e eu nunca tinha visto. Ela trabalhava no bloco C, não, bloco A, desculpa. E nós nos conhecemos num evento em Curitiba, de Furnas. Então assim, nós fomos apresentados por um amigo em comum, nos conhecemos ali, “você trabalha aonde”? “Nunca te vi, não sei o que lá”. E aí quando nós voltamos para Botafogo, conversa vai, conversa vem. E aí fui para uma emergência, logo em seguida, que foi essa lá de Rezende. E aí a gente ficou se falando muito, chegava no quarto falava, sei que lá, saudade, saudade do que não aconteceu ainda. E aí quando voltei da emergência de Resende, e que a gente começou a namorar. E estamos juntos até hoje. E eu acho engraçado, porque assim, muita gente, “a vocês não vão se casar, vocês não vão juntar”? Não, tá bom! Eu na minha casa, ela na dela, somos eternos namorados. Ela tem a vida dela lá com a filha dela durante a semana. Às vezes a gente se encontra no meio de semana. Eu tenho aqui com a Sofia. E final de semana a gente está sempre junto.
1:55:39
P/1 - Ainda mais que agora nessa pandemia, vocês teriam que ficar o dia inteiro juntos mesmo né?
R - Exatamente! Acaba que, com escola, as duas meninas fazendo escola remotamente, e os dois trabalhando remotamente, tendo reunião, conversa. Em uma casa só, acaba que fica com pouco espaço para esse dividir aqui o ambiente.
1:56:07
P/1 - Como é que você vê a empresa na sua história. Desde que você chegou em 2004, você acha que ela passou por mudanças nesse período em que você está nela? E você acha que mudanças vão acontecer para o futuro, como é que você analisa isso, Roberto?
R - Falando internamente... nos assuntos internos, eu acredito assim, a pandemia, ela veio para mudar o ambiente de trabalho no mundo todo. As empresas, elas perceberam, que elas não precisam estar com funcionários no mesmo local, todos juntos no mesmo local trabalhando, que é possível essa divisão, parte em casa, parte no escritório, isso acho que vai ser uma tendência mundial, e acho que Furnas vai ser uma tendência daqui para frente. No cenário político, eu vejo o seguinte, a pouco tempo saiu, o presidente aprovou ontem a medida provisória. Eu vejo assim, que Furnas perdeu muito, os funcionários de Furnas perderam muito, os processos, eu acho que essa coisa começou lá atrás. Eu já vinha, não gostando assim do ambiente, a medida que os contratados, foram as pessoas que... uma época que não havia concurso, eram pessoas que estavam lá e que se dedicaram a empresa como se fossem funcionários concursados, elas davam o sangue dela. Eu trabalhava com pessoas terceirizadas, elas trabalhavam bem, muitas vezes até melhor que pessoas concursadas. Então assim, não era uma discriminação, existia realmente um trabalho conjunto ali. E a política da empresa, ela veio assim, veio todo um processo de saída desses funcionários. Eles saíram faz dois anos, em 2019, se eu não me engano. E eu acho que Furnas perdeu muito, perdeu muito da sua força de trabalho, da sua história, da essência da empresa. E de lá para cá, essa parte da privatização... Eu acredito assim, que ela está indo para uma direção, que pode ser até boa, para o mercado, pode ser boa para os grandes empresários, para os acionistas. Mas eu não estou vendo uma boa... um horizonte, pelo menos a pequeno prazo, não estou vendo assim, uma melhora nas condições de trabalho. Está gerando uma certa aflição, uma certa angústia nas pessoas. Elas não sabem o que está por vir. Veio muito misturado essa pandemia, com esse cenário político de privatização, acho que isso foi negativo para os funcionários.
1:59:51
P/1 - Tem alguma coisa que você gostara de falar antes da gente terminar? Tem alguma pergunta que eu não fiz que você acha que eu poderia ter feito? Que você acha?
R - Acho que não! Eu anotei algumas coisas, deixa eu ver se você... você falou até muito mais, acho que você passou da conta até. Tinha pensado em algumas coisas assim, mas você abordou tudo de forma bem ampla. A única coisa agora, que teve assim, por conta da pandemia, e por conta desse cenário de todo mundo está em casa. Eu acabei buscando, adquirir um imóvel, pequeno, em Teresópolis. Passei a apreciar, tive outros hábitos, tipo assim, lá perto de Teresópolis, tem um haras. Aí eu passei a visitar o haras e andar a cavalo. Minha filha passou a gostar também. E aí de vez em quando, quando dá, uma vez por mês, a gente tenta visitar lá os cavalos. Que a Patrícia também adorou, então assim, são pequenas mudanças que vem na nossa vida, que hábitos estão incorporados, que acha que faz parte do processo mesmo da vida, é isso.
2:01:33
P/1 - Você aproveitou então um pouco a pandemia para aprender alguma outra coisa, é isso?
R – Isso! Exatamente! Ficar mais em contato com a natureza, porque ali é uma região, perto do Parque da Serra dos Órgãos, então você tem muito verde, é um lugar mais aberto. Aqui no subúrbio é uma coisa de ficar mais dentro do apartamento. E ia do apartamento para o trabalho, do trabalho para apartamento, e fim de semana que eu fazia alguma coisa diferente. Então já teve casos de eu ir para lá durante a semana, e trabalhar de lá, entendeu. Você fica na beira, olhando a paisagem, é um clima mais frio, é outro tipo de vida. Por isso que eu acho que daqui para frente, nós vamos ter um novo modo de trabalhar, novas perspectivas de trabalho.
2:02:29
P/1 - O que você achou de contar um pouco da sua história para gente, um pouco da história da empresa, Roberto? Como é que foi?
R - Eu acho que foi melhor do que eu esperava! Eu achei que ia ficar gaguejando, que eu não ia saber falar direito assim, sei lá! Não sou muito de ficar fazendo entrevista, de conversar assim. Foi até engraçado, eu tenho que resgatar coisas. Quando vocês falaram, vou ser bem sincero, a minha primeira resposta, “não, isso daí não é para mim não, sou muito tímido, não gosto de aparecer, de falar”. Aí eu falei para a Patrícia, a Patrícia já é o meu oposto, ela é toda expansiva, ela e comunicativa, “que ótimo, vai ficar para história, vai ser muito bom, para mostrar para os filhos, para os amigos”. Aí eu falei com a minha, minha irmã, “faz sim, faz sim”. Falei: gente, eu, tem certeza? Aí fui resgatar as fotos, caramba quanta história. Fiquei pensando em datas, aí vem as lembranças das histórias, aí você não consegue condensar naquelas fotos. Vocês falaram 10 fotos, “gente, como é que eu vou fazer em 10 fotos, não tem como”. E aí eu conversando com ela, vindo história de coisas, eu vi a foto lembrava da história, “caramba, tem isso que eu já tinha esquecido”. Então assim, foi uma semana que eu fui relembrando essa caminhada de Furna, já foi bom por isso.
2:04:22
P/1 - E para a gente também foi ótimo também Roberto agradeço muito deu tempo, a disposição. E a empresa também com certeza agradece, porque vai ficar para história mesmo, muito obrigada mesmo, foi ótimo, foi um prazer.
R - Eu que agradeço também. Obrigado pela escolha, por eu ter sido selecionado. Apesar de não ser muito minha praia, de ficar falando assim, de contar sobre a minha vida, eu achei que foi bem proveitoso.
Recolher