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História
Por: Museu da Pessoa,

Fuga da escravidão

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Fuga da escravidão

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A cidade em que eu nasci se chama Floriano. Fica no Piauí. A cidade é bonita, tem uma ponte, o rio descendo. Tem umas coisas muito bonitas lá. Comecei a estudar, e não deu certo lá porque a minha mãe, as condições eram fracas. Não tinha como eu estudar, e eu deixei lá os meus estudos. Daí, eu disse para ela: “Mamãe, vou atrás de melhorar a nossa vida.” E saímos eu mais minha tia, eu mais ela. Quando a gente chegou em Açailândia, ela foi embora, e eu fiquei. E agora eu estou com dois anos sem ir para casa, sem ter notícias da minha mãe.

Aqui, em Açailândia, eu comecei a trabalhar... Não tive muito serviço, não. Tinha um serviço de pastéis, mas eu não peguei, não. Eu peguei logo uma carona com um boiadeiro desses aí, eu parei no arame. Ele parou lá. E, quando eu parei lá, eu dando a volta, passei, tinha um cara apreciando, e ele me chamou. Aí ele disse: “Rapaz, você não quer trabalhar?” Eu disse: “Eu quero.” Eu fui para lá, trabalhar com ele, e estou com dois anos lá. E saí agora. Sendo humilhado lá dentro. Se o cabra fala de ir embora, ele diz que quer matar o cabra, vira a costa da foice na cabeça do cabra, de facão. E o cabra fica com medo. E lá também tem arma, tem fuzil, tem 12, tem 20.

Lá é perigoso, a pessoa fica com medo. Eu saí de lá ontem às quatro horas da manhã. Saí “de” pesão. E, toda vez que eu via um carro, eu entrava dentro da mata. Eu pensava: “Será que são eles, que vão me matar?” Eu entrava dentro da mata e deixava o carro passar. E, quando eu cheguei na pista, ia vindo um carro, eu só perguntei de onde era, e ele dizia: “Não, eu vou para Buriticupu.” Eu entrei, e quando chegou lá no posto, o cara me disse: “Cadê o dinheiro, cara?” “Rapaz, eu não tenho, não, pode chamar a polícia.” Ele foi e disse: “Rapaz, pois tu vai ficar.” Eu disse: “Tá bom.” Mas ele também...

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Projeto Memória dos Brasileiros

Depoimento de "José" (pseudônimo; não há permissão para citar o nome verdadeiro)

Entrevistado por Cláudia Leonor, Winny Choe e Júlia Basso

Açailândia, 31/10/2007

Realização: Museu da Pessoa

Entrevista número MB_HV_077

Transcrito por Winny Choe

Revisado por Viviane Aguiar

Publicado em 13/10/2008

P1 – José, eu queria que você me contasse onde você nasceu, qual a cidade de sua infância?

R – A cidade em que eu nasci se chama Floriano.

P1 – Floriano fica no Piauí é isso?

R – É, fica no Piauí.

P1 – E você cresceu em Floriano?

R – Cresci em Floriano.

P1 – Descreva para a gente um pouco da sua cidade.

R – A cidade é bonita, tem uma ponte, o rio descendo. Tem umas coisas muito bonitas lá. Muito, como é que se diz? Muito artesanato, muitas artes lá.

P1 – Que rio passa ali?

R – Rio Parnaíba.

P1 – Você ia pescar no Parnaíba?

R – Ia, ia pescar muito.

P1 – Que peixe tinha por lá?

R – Tinha mandi, piau da cabeça gorda, piranha, curimatã. Tinha um bocado de peixinho por lá.

P1 – E você brincava do quê quando era criança?

R – Eu brincava com pneu, colocava um cabo de vassoura, enchia o pneu d’água e saía brincando. No meio da pista, correndo, dizia: “Piii, olha o meu carro, olha o meu carro!” Aí, eu andava brincando.

P1 – Quem ficava brava era a sua mãe?

R – É, mamãe brigava. Aí, logo me matriculou, e fui estudar. Comecei a estudar, e não deu certo lá porque também a minha mãe, as condições eram fracas também. Não tinha como eu estudar, e eu deixei lá os meus estudos. Daí, eu disse para ela: “Mamãe, vou atrás de melhorar a nossa vida.” E saímos eu mais minha tia, eu mais ela. Quando a gente chegou em Açailândia, ela foi embora, e eu fiquei. E agora eu estou com dois anos sem ir para casa, sem ter notícias da minha mãe.

P1 – Faz dois anos que você está aqui em Açailândia?

R – Faz dois anos.

P1 – Mas vamos voltar um...

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Título: Fuga da escravidão

Local de produção: Açailândia

Autor: Museu da Pessoa

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