Histórias Que Reciclam
Depoimento de Katiomise Averna
Entrevistada por Lucas Torigoe
São Paulo, data
Realização Museu da Pessoa
HQR_TM02_Katiomise Averna
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Katio, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Katiomise Averna. Nasci em nove do dez de 1994.
P/1 – Onde?
R – Haiti.
P/1 – Em que cidade do Haiti?
R – Porto Príncipe.
P/1 – Porto Príncipe. E como que era em Porto Príncipe?
R – É bom. Lá a coisa é bom. Pra mim é bom, não sei pra você porque você nunca foi pra lá, não?
P/1 – Não.
R – É bom. Porque mio país, lo gusto como é.
P/1 – E quando você veio pro Brasil? Em que ano?
R – Em fevereiro passado. Esse ano mesmo.
P/1 – E por que você veio pro Brasil?
R – Não, porque eu tá lá em Venezuela, passa sete anos em Venezuela porque la coisa dela não tá muito bom, tá ruim, então seria melhor venha a viver aqui, mais tranquila. Porque a la não tem muita seguridad, seguridad tá ruim e também a coisa lá não tá muito bom.
P/1 – E você fazia o que na Venezuela?
R – Vendendo e trabalhando em um mercado que se chama Mercado Bolivariano. Antes.
P/1 – Antes. E lá você aprendeu castelhano, foi isso?
R – É, ala. Porque passou, como passou sete anos lá e passou quatro anos estudiando.
P/1 – E quando você estava na Venezuela qual que era a imagem que você tinha do Brasil?
R – Imagem?
P/1 – O que lhe falavam do Brasil?
R – Não, nunca. Porque tem muita pessoa que vive antes em Venezuela e vem morar aqui no Brasil e quando vem de Brasil à Venezuela e falam bem de Brasil, que Brasil tá bom, que Brasil é muito bom e que Venezuela tá ruim. Então yo decidiu que só vem pra ver, se naquilo que la gente estão me dizendo tem que, tem a ver.
P/1 – E você morava com mais pessoas na Venezuela, com parentes?
R – Com a minha tia.
P/1 – Sua tia. E ela está aqui?
R – Não. Passou quatro anos eu vivendo...
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Histórias Que Reciclam
Depoimento de Katiomise Averna
Entrevistada por Lucas Torigoe
São Paulo, data
Realização Museu da Pessoa
HQR_TM02_Katiomise Averna
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Katio, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Katiomise Averna. Nasci em nove do dez de 1994.
P/1 – Onde?
R – Haiti.
P/1 – Em que cidade do Haiti?
R – Porto Príncipe.
P/1 – Porto Príncipe. E como que era em Porto Príncipe?
R – É bom. Lá a coisa é bom. Pra mim é bom, não sei pra você porque você nunca foi pra lá, não?
P/1 – Não.
R – É bom. Porque mio país, lo gusto como é.
P/1 – E quando você veio pro Brasil? Em que ano?
R – Em fevereiro passado. Esse ano mesmo.
P/1 – E por que você veio pro Brasil?
R – Não, porque eu tá lá em Venezuela, passa sete anos em Venezuela porque la coisa dela não tá muito bom, tá ruim, então seria melhor venha a viver aqui, mais tranquila. Porque a la não tem muita seguridad, seguridad tá ruim e também a coisa lá não tá muito bom.
P/1 – E você fazia o que na Venezuela?
R – Vendendo e trabalhando em um mercado que se chama Mercado Bolivariano. Antes.
P/1 – Antes. E lá você aprendeu castelhano, foi isso?
R – É, ala. Porque passou, como passou sete anos lá e passou quatro anos estudiando.
P/1 – E quando você estava na Venezuela qual que era a imagem que você tinha do Brasil?
R – Imagem?
P/1 – O que lhe falavam do Brasil?
R – Não, nunca. Porque tem muita pessoa que vive antes em Venezuela e vem morar aqui no Brasil e quando vem de Brasil à Venezuela e falam bem de Brasil, que Brasil tá bom, que Brasil é muito bom e que Venezuela tá ruim. Então yo decidiu que só vem pra ver, se naquilo que la gente estão me dizendo tem que, tem a ver.
P/1 – E você morava com mais pessoas na Venezuela, com parentes?
R – Com a minha tia.
P/1 – Sua tia. E ela está aqui?
R – Não. Passou quatro anos eu vivendo com ela. Quatro anos e cinco meses.
P/1 – E onde ela está agora?
R – Está em Venezuela agora.
P/1 – Qual é o nome dela?
R – _____ 0:03:02 _____. Ela me entrou em Venezuela com a sua filha.
P/1 – E como é que você foi do Haiti pra Venezuela?
R – Foi de Haiti pra Venezuela porque minha tia, porque minha mãe morreu desde pequena, eu estava pequena, e minha tia que me criou. Entonces ela falou com minha pai e me dá assinatura dela que pode venir pra Venezuela. De Venezuela aqui lutando, lutando, lutando, eu sozinha, sem pessoa. Passo quatro anos e cinco meses com ela, não quis viver com ela mais porque me tava maltratando muito, entende? Estava maltratando muito a mim então yo preferia viver sozinha.
P/1 – E quando você veio para o Brasil aonde você foi morar?
R – Quando eu vim para o Brasil eu morava em Boa Vista. Entende Boa Vista, em Brasil?
P/1 – Sim.
R – Com uma amiga minha. Entonces eu estava com essa persona, com essa família. Então se passou e eu ia em discusión entonces comprar uma passagem pra vim morar aqui em São Paulo.
P/1 – E você gostava de Boa Vista?
R – Gostava Boa Vista. Porque lá em Boa Vista eu estava em um trabalho em casa familiar, é muito bom. La moça, mi patrón, me tratava como sua filho, me tratava bem. Eu gosto.
P/1 – E o que você gostava de Boa Vista? Como é que era a cidade?
R – Era cidade. Ê. Tá muito bom, tá muito bom, bom, bom, bom. Porque a la uno faz una coisa a fazer, compra lá, de Venezuela vem comprar. Foi comprar Venezuela e vem vender aqui em Brasil. É mais fácil pra nós. Porque nós é estrangeira, tu sabes como é estrangeira? É fazer outra coisa, pra pegar dinheiro mais fácil.
P/1 – Sei, entendi. E aqui em São Paulo você foi morar aonde?
R – Ah, na Lapa de Baixo.
P/1 – Na Lapa de Baixo? Onde fica?
R – Aqui mesmo.
P/1 – Aqui perto da marginal?
R – Eu venho aqui a pé todo dia. Aqui mesmo. Sabe a Polícia Federal?
P/1 – Sim.
R – Que está ali? É aqui mesmo.
P/1 – Sim. E você mora com quem?
R – (Risos) Agora yo, sabe que yo tenho um namorado agora mesmo. Então mora com hermana de ele, irmã dele é como cunhada.
P/1 – Você mora com ela?
R – É.
P/1 – Como é que é morar com ela?
R – É bom.
P/1 – É bom?
R – É bom. Porque agora é ela que é minha parente aqui, não tenho mais ninguém. Eu tenho um irmão que tá aqui em Brasil, eu _0:06:46_ que eu nasci.
P/1 – Certo. E o seu namorado.
R – Tá no Haiti.
P/1 – Tá no Haiti. Ah, entendi. E ele não quis vir para o Brasil?
R – Ele vai vir.
P/1 – Vai vir? Qual é o nome dele?
R – O nome dele?
P/1 – Sim.
R – É difícil, tem que avisar você (risos).
P/1 – Mas pode falar.
R – É difícil, você não vai acordar todo esse nome, é longe.
P/1 – E você sente saudades dele? Como é que está?
R – É. Tenho saudades dele porque ele me faltava muito. Porque desde 15 anos saiu de Haiti à Venezuela, de Venezuela a Brasil, é um tempo que passou.
P/1 – Quantos anos você tem agora?
R – Eu? Vinte e dois.
P/1 – Vinte e dois. E como é que você conheceu a Cooper Viva Bem?
R – Ah, eu estava buscando trabalho, então caminhava buscando trabalho passou como três meses sempre buscando, buscando, buscando. Aí entonces viu e até me falou também: “Aqui tem uma cooperativa que estão pegando gente pra trabalhar, você pode ir lá já pra fazer uma ficha pra ver se puede pegar pra você”. Esse mesmo dia que eu venho aqui com cinco pessoas e na _0:08:30_ que pegar, fazer ficha, falar comigo, fazer tudo muito bem.
P/1 – E você achou que iria demorar mais pra encontrar emprego?
R – Demorar mais. Porque aqui em Brasil não cresce agora, não tem trabalho nenhum lado porque la coisa está, agora la coisa tá ruim em Brasil. É você toda vez, a coisa tá ruim, não tem trabalho, tem que passar muita, muita miséria pra ter um trabalho, pra conseguir trabalho, passa cinco meses, seis meses, sete meses buscando trabalho e não poder encontrar.
P/1 – E você trabalha com o quê aqui?
R – Com o quê?
P/1 – É.
R – É produção, é material. É se fazer um saco como latinha, você sabe latinha?
P/1 – Sim.
R – Entonces é assim: quando termina de vender esse material ainda tem porcentagem pra nós.
P/1 – Certo. De coleta?
R – De coleta.
P/1 – Entendi. E o que você acha do trabalho?
R – Como, que acha?
P/1 – O que você pensa?
R – Se gostou?
P/1 – Se gosta.
R – Ah, porque não é minha profissão. Vou falar bem pra você entender, não é minha profissão. Minha profissão yo tenho que lutar mais adelante, entende? Pra fazer coisa da minha profissão. Tem que estudiar mais, tem que dar-me tempo pra meu estudio. Agora não está estudiando ainda, busca trabalho pra ver se pode fazer um dinheiro pra guardar, antes que estudia.
P/1 – E o que você pensa sobre reciclagem? Você acha importante esse trabalho? Como você vê?
R – É bom, pra mim é bom porque a minha família tudo está em Haiti. Dinheiro que eu ganho aqui é muito pouco pra mandar pra eles, entonces agora não vou fazer pra mandar dinheiro pra ninguém porque esse é pra mim sozinha, não vou poder fazer nada pra ninguém que está lá. Entonces vou ver, gosto, gosto. Vou ver quando estar estudiando eu vou ver como está la coisa aqui é muito bom, se é muito pior ou se é muito ruim vou ver o que vou fazer.
P/1 – E qual é a sua área que você quer estudar?
R – Quando está em Venezuela não terminei estudo ainda, tem que terminar porque no mês que eu vou terminar eu vim morar aqui em Brasil, não terminei quinto ano. Tem que fazer quinto ano outra vez pra poder ir pra universidade.
P/1 – E você foi bem recebida aqui no Brasil? Você acha que é bem tratada?
R – É, é bem tratada. Como que não viu, não é minha raça, todo mundo, até yo é racista também, como que, eu não digo que brasileiro é racista, entonces. Se não é mi país como que não vou gostar? Como que vou ver que me trata bem? La persona não me trata bem, não vou ver isso, não. Porque vou fazer la coisa bem praquela gente me tratar bem. Se eu quero respeito, eu tenho que buscar respeito primeiro pra que una persona poder respeitar vocês.
P/1 – E hoje qual é o seu plano pro futuro?
R – Mi plano? Agora quando eu terminar de estudiar o quinto ano vou ir pra universidade pra estudiar Medicina. Después vamos ver se vou casar, casar com meu namorado pra viver com ele. E mi plano pra seguir adelante, pra seguir adelante porque la vida não é tão fácil como eu pensei, eu pensei que é fácil, mas não viu lá vida. Pensei que é fácil e não é fácil de verdade, é muito difícil, tem que ter força pra seguir adelante.
P/1 – Tá certo. Obrigado, viu?
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
R – _____ 0:03:02 _____. – Página 2.
Eu tenho um irmão que tá aqui em Brasil, eu _0:06:46_ que eu nasci. – Página 3.
Esse mesmo dia que eu venho aqui com cinco pessoas e na _0:08:30_ que pegar, fazer ficha, falar comigo, fazer tudo muito bem – Página 4.
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