Projeto SOS Mata Atlântica 18 Anos
Depoimento de Rui Barbosa da Rocha
Entrevistado por Rodrigo Godoy
Embu, 20/01/2005
Realização Museu da Pessoa
Código de depoimento: SOS_HV037
Transcrito por Thaís Cechini
Revisado por Ligia Furlan
P/1 - Boa tarde, Rui.
R - Boa tarde.
P/1 - Para iniciar nossa conversa, eu queria que você dissesse seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Então, meu nome completo é Rui Barbosa da Rocha. Eu nasci em Valença, no estado da Bahia, exatamente ao sul de Salvador na costa do Baixo Sul da Bahia. Eu nasci em 27 de julho de 1966.
P/1 - Certo. Você cresceu em Valença?
R - Meus primeiros dez anos de vida foram nessa cidade.
P/1 - Seus pais são de lá?
R - Meus pais são de municípios próximos, naquela região ali do Baixo Sul onde tem Cairu, Nilo Peçanha.
P/1 - Nessa região, em torno?
R - Em torno de Valença, exatamente.
P/1 - O seu pai fazia o quê?
R - Meu pai foi um profissional liberal, dentista. Hoje ele é aposentado, tem hoje 93 anos. É uma pessoa que viveu todo o século XX, quase todo ele. Mas minha mãe trabalhou em casa cuidando dos filhos, uma família grande. Foi meio professora nossa, também. Ela abortou uma carreira de professora e se dedicou a nos ensinar.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Eu tenho cinco.
P/1 - Cinco irmãos.
R - Eram seis filhos. Um morreu, mas fomos, até pouco tempo atrás, seis irmãos.
P/1 - E como é que foi essa convivência com tantos irmãos, uma família numerosa? Como era o convívio, na sua infância, com os seus irmãos?
R - Então, isso dá uma experiência muito rica, né? Familiar, social e também de temperança, de habilidade de diálogo, de diplomacia e de entendimento. Então acho que essa experiência familiar com muitos irmãos teve esse proveito.
P/1 - E como é que era Valença na época da sua infância?
R - Eu vivi, digamos, o final, a segunda metade dos anos 60 e primeira metade dos anos 70 em Valença, entrando na segunda metade do...
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Depoimento de Rui Barbosa da Rocha
Entrevistado por Rodrigo Godoy
Embu, 20/01/2005
Realização Museu da Pessoa
Código de depoimento: SOS_HV037
Transcrito por Thaís Cechini
Revisado por Ligia Furlan
P/1 - Boa tarde, Rui.
R - Boa tarde.
P/1 - Para iniciar nossa conversa, eu queria que você dissesse seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Então, meu nome completo é Rui Barbosa da Rocha. Eu nasci em Valença, no estado da Bahia, exatamente ao sul de Salvador na costa do Baixo Sul da Bahia. Eu nasci em 27 de julho de 1966.
P/1 - Certo. Você cresceu em Valença?
R - Meus primeiros dez anos de vida foram nessa cidade.
P/1 - Seus pais são de lá?
R - Meus pais são de municípios próximos, naquela região ali do Baixo Sul onde tem Cairu, Nilo Peçanha.
P/1 - Nessa região, em torno?
R - Em torno de Valença, exatamente.
P/1 - O seu pai fazia o quê?
R - Meu pai foi um profissional liberal, dentista. Hoje ele é aposentado, tem hoje 93 anos. É uma pessoa que viveu todo o século XX, quase todo ele. Mas minha mãe trabalhou em casa cuidando dos filhos, uma família grande. Foi meio professora nossa, também. Ela abortou uma carreira de professora e se dedicou a nos ensinar.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Eu tenho cinco.
P/1 - Cinco irmãos.
R - Eram seis filhos. Um morreu, mas fomos, até pouco tempo atrás, seis irmãos.
P/1 - E como é que foi essa convivência com tantos irmãos, uma família numerosa? Como era o convívio, na sua infância, com os seus irmãos?
R - Então, isso dá uma experiência muito rica, né? Familiar, social e também de temperança, de habilidade de diálogo, de diplomacia e de entendimento. Então acho que essa experiência familiar com muitos irmãos teve esse proveito.
P/1 - E como é que era Valença na época da sua infância?
R - Eu vivi, digamos, o final, a segunda metade dos anos 60 e primeira metade dos anos 70 em Valença, entrando na segunda metade do século XX. E Valença, assim como Cairu, Nilo Peçanha, essa região dos meus pais, ele forma, hoje... Ela é um complexo de ecossistemas associados à Mata Atlântica, onde você tem todos os ecossistemas básicos da costa da Mata Atlântica: os manguezais, as restingas, os campos, campos salinos; todos esses tipos de vegetação que nós temos – de certa forma da Mata Atlântica costeira – estão nessa área. Então eu passei a minha infância brincando nessas áreas, brincando em manguezal, brincando em restinga, brincando nas matas, e isso foi um pouco a base da minha formação no meio natural. A minha formação em contato com a natureza se deu nesse ambiente, e meu pai e minha mãe também tiveram uma história muito forte de relação com isso, com aqueles arquipélagos de Tinharé, Boipeba, Morro do São Paulo, de Cairu, de Valença: são os municípios que dominam esses ambientes estuarinos ali.
P/1 - E nessa sua primeira infância, nesses primeiros dez anos que você passou em Valença, você estuda nessa cidade também?
R - Isso. Estudava em uma escola pública, junto, inclusive, com filhos de pescadores da região, junto com filhos da classe média, é uma coisa bem misturada. Não havia ainda essa coisa de escola particular separando os ricos dos pobres ou a classe média dos pobres. A gente tinha uma escola plural, onde tinha gente da classe média, gente da roça que migrou para a cidade recentemente, ou filhos de pescadores daquela área. E foi uma experiência, claro, com muita complementação do ensino em casa, da minha mãe, mas criando uma boa base de ensino primário fundamental sobre leitura, e meio que antenado também com a política nacional, no que estava acontecendo com o país na época do regime militar. Os meus pais sempre foram pessoas interessadas em política e críticos, então eu acabei vivendo também essa realidade não só de uma formação escolar em uma escola pública plural, mas também uma formação em casa, digamos, de um nível de consciência crítica com relação à situação do país, a situação do mundo.
P/1 - E Valença não é uma cidade que tem uma cultura popular presente, forte lá? Porque você disse que estudava também com filhos de pescadores. Tem esse lado cultural forte em Valença?
R - Com certeza, com certeza. Valença, assim como Cairu e Nilo Peçanha, são sítios urbanos, são sítios onde o Brasil começou como país, como nação. Começou nessa região, o recôncavo e no baixo sul da Bahia. E aí você tem, por exemplo, uma cultura riquíssima ligada à construção naval, à pesca artesanal e à exploração desses ambientes estuarinos. Então isso é muito presente naquela região. O consumo de camarão, de caranguejo, aratu e todos os frutos do mar. A coleta, pode-se dizer, sustentável em bases artesanais desses recursos, e a construção naval de séculos que se deu nessa região ainda hoje perdura em Valença no estuário do Rio Una com a construção de saveiros, escunas. Esse contato da minha infância com essa região... Agora eu estou, inclusive, percebendo melhor isso. Estou começando a digerir a relevância, o significado, a cultura do dendê, né? O azeite de dendê se dá nessa região. A cultura da piaçava, a vassoura de piaçava, as fibras. O caju que se dá nas restingas, naturalmente lá. Então tem um universo cultural impressionante nessa área. Eu imagino que todos os lugares do Brasil têm um universo cultural muito rico, mas essa especialmente, você tem uma história viva do país. E toda uma cultura também religiosa com origem Ibérica, que gera também muitas distorções, né? Um ambiente de hipocrisia, e que acaba dando fundamento também a uma sociedade que não tem... Ainda não construiu uma identidade muito clara, não tem uma trajetória muito clara. Então acaba que a Mata Atlântica, ela sofre também dessa necessidade de uma percepção de uma identidade com o seu meio natural, com a sua existência humana, que eu acho que eu também tenho essa reflexão de como ter uma identidade a partir dessa realidade, mas de uma maneira mais verdadeira, mais autêntica.
P/1 - Aí aos dez anos você sai de Valença, não é isso?
R - A família toma uma decisão radical de se mudar para a metrópole baiana – que é Salvador – por conta das deficiências de ensino em uma cidade pequena. Uma cidade que na época tinha 20 mil habitantes, 15 a 20 mil habitantes, ir para uma cidade que tinha um milhão de habitantes já com o polo petroquímico de Camaçari em pleno vapor, né? Já não era a Salvador provinciana dos anos 50, mas a Salvador dos anos 70, com o polo industrial, com um centro administrativo ativo e com importância política nacional. Então a gente sai para outra realidade, mas a gente manteve ainda vínculos muito fortes com essa região, porque nós tínhamos uma... Mantivemos um vínculo com Morro de São Paulo no extremo norte dos municípios de Cairu, que é uma vila turística. Nessa época era apenas uma vila de pescadores e uma vila de veraneio, um turismo mais local. Então a gente mantinha um pé em Salvador, estudava, passava todos os meses do ano em Salvador, mas passava o verão inteiro em Morro de São Paulo. Aí passava por Valença, tinha contato com familiares, amigos. Então acabou que eu passei a minha infância, minha adolescência, a fase universitária, mesmo morando um pouco distante, ali nas cercanias, e voltando para Morro de São Paulo, para Tinharé e Boipeba, visitando aqueles lugarejos. Então isso foi permanente, assim. Meus 20 anos, minhas duas décadas de vida... Eu estou chegando perto dos 40, meus primeiros 20 anos de vida, [tive] um contato muito forte com essa região.
P/1 - E qual foi o impacto quando você chegou a Salvador? Porque, como você mesmo disse, realidades totalmente diferentes: de uma cidade de 15, 20 mil habitantes para a capital, que era uma capital grande já, na época...
R - Até antes disso eu diria que a minha relação com cidade, até com a cidade de Valença – que é uma pequena cidade – sempre foi um pouco traumática também, porque nós tínhamos acesso a uma fazendinha no estuário de Valença com Morro de São Paulo, que tinha exatamente esse contexto de manguezal, restinga, floresta. A gente, para ir à praia, passava por dentro de uma floresta. E a gente passava quase quatro meses nesse lugar, uma casinha na beira do estuário. Quando eu voltava para Valença para estudar, uma cidade de 15 a 20 mil habitantes, me chocava chegar na cidade depois de passar quatro meses no meio do mato, e ver carros, fusquinhas passando na ponte do Rio Una. Quer dizer, a cidade já oferecia certo impacto. Dessa vida um pé no meio natural, um pé no meio da cidade. Mas ir para Salvador foi mais choque ainda, porque, embora Salvador seja uma cidade muito privilegiada, com ambientes florestais ainda dentro da cidade, e principalmente todo o mar tanto do oceano quanto da Baia de Todos os Santos cercando a cidade, dando a ela uma vida natural também muito forte, a ilha de Itaparica, da ilha de Todos os Santos, mas Salvador já era uma cidade de porte de um milhão de habitantes. Eu fui estudar em um colégio particular jesuíta, um colégio que tinha... A igreja do colégio era maior do que a igreja da minha cidade. Então foi um choque, e eu, a partir daí, ia lidar com a burguesia, a classe alta, a classe média alta de Salvador ligada à política, ligada à indústria, ligada à construção civil. Então isso também foi um choque de contexto sociocultural muito forte. E curioso, porque nesse contato sempre com a nova realidade, essa fase de formação de personalidade, a gente às vezes não tem a nossa base como referência de identidade para você se posicionar, digamos, existencialmente. Pelo contrário. Muitas vezes essa nova realidade te oprime, você se desvaloriza ao invés de se valorizar. Então eu vinha de uma cidade que foi o berço da Bahia, o berço do Brasil, cultura do dendê, da construção naval. Cinco séculos de conhecimentos em mar, a construção naval do Brasil colonial, de Portugal e Algave se dava nessa região, quer dizer, todo esse berço cultural, ao se defrontar com a cidade, com a urbanização brasileira, nós acabamos... Tu não tinha isso como um valor, né? Pelo contrário isso era algo que me diminuía. Eu estou vindo de uma cidade pequena, inexpressiva, ninguém conhece, pouca gente... Morro de São Paulo ninguém conhece Morro de São Paulo. Meus amigos de infância, meus amigos de escola em Salvador passava férias na Disneylândia, em Terra do Fogo, sempre em lugares internacionais que apareciam na televisão. Então o meu lugar de férias, de veraneio, era um lugar que ninguém conhecia. Morro de São Paulo só nos anos 80 é que passa a ser um lugar conhecido nacionalmente. Então isso é... Por isso é que eu te falo que comecei a me perceber culturalmente, dentro da minha terra, meu lugar, só um pouco mais para frente, quando eu começo a ver que essa origem tem um significado muito especial.
P/1 - E como foi para você estudar em um colégio de jesuítas? Tinha uma questão com relação à autoridade, disciplina? Porque de um colégio religioso tende-se a pensar isso, de que a disciplina é muito mais rígida do que nos outros tipos de colégio, na grande parte das vezes.
R - Sim, com certeza. O colégio jesuíta nos anos 70 talvez já fosse um pouco mais liberal. Então a liberalidade, inclusive, ela criava uma dualidade. Por exemplo, com 12 anos, 13 anos, eu comecei a ter uma formação religiosa da igreja católica, como explicar o mundo, os dogmas, etc. Catálogos e ao mesmo tempo ter acesso à história e geografia de professores de vanguarda que questionavam a igreja, questionavam a história ocidental. Então isso, você tem acesso, na verdade, a duas informações no mesmo lugar: informações contraditórias, inclusive. Então nesse momento, 13, 14 anos, eu fiquei ateu, e achei que na verdade tudo isso tinha uma orquestração de domínio, e na verdade a gente estava tendo uma formação não espontânea, não autêntica, mas uma formação mesmo de domínio. Então, na verdade, foi uma experiência. E eu acho que, de fato, a própria atmosfera do colégio com esse conceito mais ou menos liberal criava oportunidade para isso. Uma visão crítica até da própria igreja. Então isso foi uma experiência, eu diria, até rica, de estar em um colégio que tinha um nível de escolaridade top assim, muito bom e ao mesmo tempo ter possibilidade de ter visão crítica disso tudo. Eu acho que a minha família também ajudou. Os meus pais tinham, sempre tiveram visão crítica na área política, na área... Embora não sejam pessoas de grande vanguarda, mas havia também um espírito liberal em casa. Os meus pais não foram casados formalmente. Tinha uma união muito forte, estável, mas meus pais tinham uma outra experiência conjugal, e por conta disso, nos anos 50, 60, eles não casaram outra vez formalmente. Era uma família muito integrada, união estável mas não tinha casamento formal. Então isso já dava também um espírito de rebelião interna dentro de casa. Quer dizer, esses conceitos muito rígidos não necessariamente têm... Então a gente começou a ver, e minha adolescência já foi também dentro de um contexto de não enquadramento, de ver as coisas de uma maneira um pouco alternativas.
P/1 - E onde você morava em Salvador nessa época?
R - Então, a gente morou em dois lugares em Salvador. Moramos em um bairro central de Salvador, que é um bairro curiosíssimo, Brotas, onde tinham chácaras que foram sendo convertidas em áreas residenciais. Foi a primeira fase de vida em Salvador, assim, bem dura. E morando em um pequeno apartamento, dois quartos pequenos, a família inteira ali... Dureza mesmo. E ao mesmo tempo essa vida de economia, classe média, praticamente classe média baixa. Eu estudei em um colégio de ricos, e nesse bairro assim, vivendo também essa urbanização intensa dos nos 60 e 70. E depois a gente foi morar na Graça, que é um bairro um pouco melhor de Salvador, já um dos bairros nobres de Salvador. Também morando em um pequeno apartamento. Mas a gente também foi se descobrindo e vendo que a vida abre possibilidades, então a gente foi começando a se sentir mais pertencendo a Salvador. E no início meio que chegando a uma cidade grande sem pertencer àquilo, quase como se estivesse exilado. Depois a gente vai começando a se descobrir. Começa a dominar a costa, começa a arranjar um barquinho, começa a mergulhar. Começa a ter esse sentimento de pertencer à cidade. Então passamos esses dois momentos assim em Salvador.
P/1 - E durante a sua adolescência, quais eram os seus programas? O que é que você fazia em Salvador da década de 70?
R - Olha, eu diria que a nossa família praticamente não tinha vida social. Era uma vida de estudo. Meu pai praticamente colocou todo o recurso que ele tinha na nossa formação. Não tinha sobra, não tinha, era estudar e estudar. E o grande escape da gente era ir para Morro de São Paulo no verão. Aí eu surfava, aí eu tinha total liberdade para andar na ilha, andar o dia inteiro até o outro vilarejo, pegava a canoa e atravessava para a outra banda do estuário. Aí realmente era o momento de vida social, de conhecer namorada, aí eu era gente. Em Salvador eu era estudante, então teve essa vida também dual, de momento de estudo o ano inteiro, ralação, e momento de liberdade total, de surfar, de mergulhar, de velejar, de andar em trilha. Então foi essa...
P/1 - No verão, né?
R - É.
P/1 - E me fala uma coisa. Você estudou até o colegial nesse colégio dos jesuítas?
R - Isso. Eu, até os 17 anos, essa vida em Salvador, o estudo tal, primeiro e segundo grau. E aí fui para a universidade, né? A partir dos 18 anos fui para uma universidade em uma cidade próxima à Salvador, dentro do recôncavo, que é Cruz das Almas, tem um campus da Universidade Federal na área de agronomia. E eu fui seguir um pouco o caminho do meu irmão mais velho, Pedro, que ele fez agronomia. Eu gostava muito desse contato com a natureza, com terra e etc., então a gente seguiu. Ele foi e fez o primeiro curso e eu fui na sequência e fiz agronomia nesse lugar. Mas na verdade eu estava buscando exatamente isso, contato com a natureza. Era aí que eu me identificava, era aí que a minha existência era plena. Então eu queria ter uma formação profissional ligada... Talvez se eu tivesse feito alguma coisa ligada ao mar, Oceanografia, Engenharia de Pesca ou coisa parecida, porque nossa vida sempre foi muito ligada a isso. Mas, como a Bahia não tinha, nessa época, nenhum curso de biologia marinha, e também a gente tinha que ter uma visão meio aplicada – nós não tínhamos muita posse –, então tinha que ter uma visão mesmo de onde é que eu vou trabalhar. Oceanografia, nessa época, além do curso ser muito longe e envolver outras despesas, eu tinha que... Era um curso que não tinha muita perspectiva profissional nessa época. Não sei de mudou. Mas a gente tinha essa ideia de que se eu fizesse oceanografia, não ia ter trabalho, e no máximo eu poderia virar um pesquisador, fazer mestrado, doutorado e ser professor, mas vida profissional não tinha. Então agronomia abria um pouco mais o horizonte. Mas eu fui fazer agronomia no recôncavo, nessa cidade de Cruz das Almas, mas sempre pensando no mar, pensando no Morro de São Paulo. O fim de semana era sonhando em pegar o ônibus e já no contato não só de verão, mas a cada 15 dias, a cada semana ia a Morro de São Paulo surfar, passar o inverno lá, surfando. Aí eu comecei uma relação muito mais intensa, até porque tinha mais independência, mais liberdade como universitário de viajar, de...
P/1 - E em que ano foi isso? Em que ano você entrou na faculdade?
R - Isso foi em 85.
P/1 - 85? E quando você começou, quando você se deparou com o curso... Porque você disse que uma motivação também para escolher essa área foi a questão da natureza e tal. O curso supriu essa sua expectativa?
R - Então, o curso de agronomia, nessa época... Hoje eu diria que o curso de agronomia tem uma concepção um pouco diferente, mas naquela época a agronomia era uma ciência muito ligada à revolução verde, à práticas, tecnologias muito hard, muito duras. Então, por exemplo, eu tive aula de entomologia, estudo de insetos onde basicamente a leitura do curso era combater insetos, Bayer. “O que é Bayer é bom”. Então defensivos agrícolas, né? O nome não era nem agrotóxico, era defensivos agrícolas. Então área de fertilidade do solo, que é uma área belíssima, a gente tinha um enfoque muito de adubação, NPK, uso de nitrogênio, fósforo e potássio. Então a questão da produção orgânica era uma coisa totalmente marginal romântica. O que havia de básico no curso de agronomia realmente era uma formação produtivista e também com uma comunidade estudantil de vários lugares da Bahia com uma formação muito dura também, gente que não tinha muita sensibilidade ambiental, também pouca sensibilidade para música. Gente que tinha, realmente... Era futebol e cachaça. Beber cachaça de noite ou no fim de semana, alcoolismo. Muito problema de alcoolismo na universidade, com professores universitários, funcionários públicos. E eu tinha uma trajetória muito de valorizar saúde, esporte, contato com a natureza. De repente eu me defronto com um ambiente universitário bem limitado nessa área. A formação de conhecimento também muito restrita, então eu comecei a buscar algum horizonte. Não desistir do curso, mas algum horizonte dentro daquilo ali que pudesse me dar sentido existencial também. E eu gostava muito da questão social, política, econômica. Eu comecei a focar o meu curso de agronomia para a economia de natureza, economia rural. Ou seja, todo esse contato do agrário com o ambiente, com o social, com a sociedade. E comecei a fazer pesquisa na universidade com um professor que foi meu orientador na época, Amilca Baiardi, uma pessoa com uma boa formação política e com doutorado em economia aqui na Unicamp. Então isso foi dando um sentido maior na minha formação profissional na escola, e curioso também. Na Universidade eu comecei a frequentar um restaurante natural com um cozinheiro, o chefe do restaurante, o dono do restaurante, em uma cozinha artesanal, uma pessoa só tocando tudo. Mas um cara absolutamente alternativo teve uma experiência de mudança de vida, de rock, drogas e sexo, drogas e rock and roll para uma vida espartana de quase um discípulo de Jesus e Krishna, mistura. Uma pessoa de uma vida espartana. Dormia quatro horas por dia, alimentação absolutamente natural, uma pessoa muito rica culturalmente, filosoficamente. Então foi uma experiência muito intensa de quase como se fosse um professor, na época, junto aos outros professores. Alguém que tinha conhecimento de alimentação, nutrição, fibras, vegetais, todo esse universo da gastronomia saudável. Então foi um contato muito rico também, interessante na escola, na universidade. Isso foi me dando uma direção para pesquisa, para meio ambiente, economia rural e meio ambiente. E aí já era final dos anos 80. Quando eu já estava concluindo o curso, 1989, 1990 o que é que acontece? A morte de Chico Mendes. Quer dizer, os anos 80 já foi uma época de percepção ambiental crescente, inclusive com a democratização e tudo. No final dos anos 80 isso desemboca na morte de Chico Mendes, e o tema Amazônia explode em escala mundial. Grandes queimadas na Amazônia naquela época, também em 1989, junto com a morte de Chico Mendes. Eu comecei a ver a Amazônia como um grande tema da minha vida profissional, de um lugar de aprender coisas, de aprofundar o meu conhecimento em economia de recursos naturais, economia de meio ambiente. E é assim que eu me formo, “nem vou pegar o diploma”. Peguei depois, mas nem fui para a formatura. Peguei um ônibus e atravessei o sertão brasileiro para ir morar em Belém... Na verdade em Ananindeua, uma cidadezinha ao lado de Belém, e trabalhar em uma ONG que estava começando. Tinha meses de criada, e chamada IMAZON, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia, uma ONG muito interessante que desde o início já tinha uma pretensão muito grande de pensar a Amazônia, fazer estudos aplicados sobre a Amazônia. E eu pude conviver com um grupo de jovens pesquisadores, também com dois pesquisadores mais experientes, com PhD, americanos que estavam focados, tendo uma série de estudos sobre a Amazônia. Então eles começaram a nos formar, com isso viabilizar aquela Organização não Governamental. Isso em 1990.
P/1 - E você foi para Belém com o contato já estabelecido com essa ONG ou foi e...
R - Na verdade foi o seguinte. Eu tinha uma namorada no curso de agronomia que começou a fazer contatos na Amazônia, no Museu Goeldi, fez um estágio lá e depois acabou conhecendo esse grupo que estava pensando a ONG, pensando a criação da IMAZON. Aí ela foi alguns meses antes e eu fui depois, a gente trabalhou um tempo juntos lá nessa instituição. Ela voltou depois para Campinas para fazer um mestrado, mas eu fiquei lá durante três anos. Ela tomou outro rumo, eu tomei o meu. Mas fiquei na Amazônia por três anos trabalhando nessa instituição.
P/1 - E como foram esses três anos? Quais eram as frentes de atuação, os projetos, programas?
R - A experiência na Amazônia foi fortíssima. Era quase como um mestrado, uma mistura de um mestrado e um doutorado informal, sem reconhecimento do MEC. Porque os pesquisadores Seniors... Tinha o Christopher Uhl, um grande especialista em floresta e ecologia vegetal; o David McGrath, que é um grande pesquisador – um geógrafo também – tinha feito um brilhante estudo. A sua tese de doutorado era sobre a Amazônia, sobre a Várzea. Então dois grandes profissionais, jovens profissionais, mas já com uma boa formação científica e que começaram a treinar um grupo de dez jovens como eu, saído de um curso de biologia, agronomia, engenharia florestal, economia; toda essa turma, dez pessoas, mais ou menos, depois foi aumentando e passou para 20, fazendo pesquisa de ponta sobre a Amazônia, escrevendo intensamente, aprimorando análise de dados, coleta de dados de campo usando as melhores ferramentas de computação, de sensoriamento remoto, análise estatística de dados. Então a gente acabou tendo uma experiência profissional riquíssima, e lidando com um grande tema que é a Amazônia, o desmatamento na Amazônia. De uma maneira muito aplicada, então, eu, por exemplo, estudei muito dados censitários brasileiros sobre a Amazônia usando sensoriamento remoto, usando Excel, trabalhando com geoprocessamento. O outro colega estudava manejo florestal, então estudava a capacidade de regeneração da floresta sob manejo da madeira, da extração madeireira, lidando com agências de financiamento, com as agências mais avançadas nessa temática de meio ambiente. Então lidava com a Fundação Ford, com Conservação Internacional, com a USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional], com WWF... Quer dizer, todas essas pessoas estavam pensando a Amazônia, a gente começou a lidar com elas. Eu com 20 e poucos anos dialogando com... Então foi uma experiência muito interessante. Só que, embora profissionalmente fosse muito rico, a vida na Amazônia é uma vida muito dura também. Mesmo morando na principal metrópole da Amazônia, que é Belém, para mim que vinha do sul da Bahia, de um ambiente de costa, águas limpas, ambiente coralíneo, velejar, surfar, né? Tudo isso. Na Amazônia era restrição total. Água marrom, um calor permanente, e vida cultural restrita também. Contato com pessoas também restrito, a não ser no âmbito profissional. Então foi um período existencialmente difícil, de muito sacrifício, com um salário bem modesto, o suficiente para sobreviver, para pagar conta, ônibus, comprar comida. Mas foi interessante, porque nesse momento eu comecei a refletir sobre onde é que eu poderia contribuir. A minha história profissional nos próximos 40 anos, sei lá, onde é que eu poderia dar uma contribuição. Eu percebi que não seria na Amazônia, eu deveria voltar para o sul da Bahia, voltar para a minha terra, e lá tinha floresta também. Então os temas também tinham correspondência com o que eu vi na Amazônia, a questão da floresta com usos da terra, com sistemas agroflorestais, quer dizer, a biodiversidade. Tudo aquilo o sul da Bahia contemplava e fazia muito mais sentido para mim estar ali na minha região do que na Amazônia. Mas eu comecei a me empolgar muito com um tema que ainda hoje é uma preocupação minha: “qual é a questão da agricultura familiar?” As comunidades rurais, pequenos agricultores. E na Amazônia isso é um tema muito pertinente. Quer dizer, houve muita colonização ou oficial ou não oficial de pequenos agricultores rurais para a Amazônia. E eu achei que isso deveria ser o meu tema de mestrado, eu deveria fazer, construir uma linha de pesquisa nisso aí. Então eu pequei a minha bicicleta e fui para Viseu, um município na fronteira do Pará com Maranhão. Na verdade eu comecei a fazer um estudo dos trabalhos do IMAZON sobre agricultura no interior da Amazônia oriental, principalmente. Então transamazônica, sul do Pará, e eu comecei a ver em campo, com dados do IBGE o que é que estava acontecendo com a agricultura familiar e a agricultura também mais empresarial, a pecuária. Mas eu comecei a achar que a questão da agricultura familiar é uma questão chave na Amazônia, e visitei várias experiências e iniciativas, e me chamou muito a atenção uma experiência em Viseu, um município bem pobre e pequeno na fronteira com o Maranhão que uma comunidade rural ligada à igreja, ligada a um técnico vinculada à igreja católica, montaram uma experiência de desenvolvimento rural muito interessante, cheia de progressos na área produtiva, na área ambiental, no arranjo produtivo, na comercialização dos produtos. E eu falei: "Pô, então eu vou estudar isso aí". Então eu peguei a minha bicicleta, fui para lá e fiquei três meses visitando os agricultores em uma área bem grande, casa a casa entrevistando os agricultores e sabendo como é que acontecia, o que aconteceu nos últimos anos com eles. A partir disso comecei a formular indicadores para medir transformação no sistema agrícola e no agro-ecossistema na agricultura familiar. Isso foi interessante até em termos de metodologia, e para ter a visão mais conceitual e mais aplicável de como trabalhar sociedade de desenvolvimento e meio ambiente. A agricultura familiar é uma questão emblemática, né? Essa questão de sociedade na natureza. E experiência na Amazônia, a agricultura familiar é chave, e eu comecei a enveredar por isso, fui fazer um mestrado no Rio de Janeiro em 1994, 1995 com essa visão de estudar a economia de recursos naturais com ênfase sobre sustentabilidade e agricultura familiar. Saí da Amazônia com os meus dados debaixo do braço, uma coleta de dados muito interessante. Foi uma experiência riquíssima, sem financiamento. Ninguém financiou esse trabalho. Custou pouco também, porque eu fiz tudo de bicicleta e comia na casa dos agricultores. Então cheguei no Rio de Janeiro com praticamente os dados da minha tese de mestrado já coletada, com um orientador super animado, com o que eu tinha coletado de informações, e aí fui retomar a minha relação com o mar no Rio de Janeiro.
P/1 - Esse contato com o seu orientador você já tinha feito anteriormente a chegar no Rio de Janeiro ou você chegou e estabeleceu contato?
R - Quando eu estava no IMAZON eu pude, como eu te falei, conhecer muita gente de agência de financiamento, cientistas, e através dessa relação eu conheci Peter May, que foi meu orientador no mestrado, um economista de recursos naturais bastante respeitados aqui no Brasil, que ajudou a fundar a Associação Brasileira de Economia Ecológica e hoje está ligado à REBRAF, a Rede Brasileira Agro-Florestal. Uma pessoa muito ativa junto à academia e ao Movimento Ambientalista, com essa visão mais acadêmica. E pude beber um pouco dessa formação nessa área de economia de recursos naturais com o Peter, e junto ao curso de desenvolvimento de agricultura do CPDAC, que está dentro da rural do Rio de Janeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas no centro do Rio, na Presidente Vargas, ali. Então um grupo de professores também de vanguarda, sempre com uma visão muito crítica, uma visão de desenvolvimento rural brasileiro muito interessante, eles estavam ligados antes à Fundação Getúlio Vargas. Então era um grupo de excelência nessa área, ainda hoje eles são muito bons. Ao mesmo tempo, conviver com o Rio de Janeiro, uma cidade imensa... As minhas experiências urbanas foram as mais diversas, né? Desde uma cidade de dez mil, 15 mil habitantes, com vila, como o Morro de São Paulo, uma vila de pescadores; Salvador, com um milhão de habitantes. Belém, Ananindeua com, nessa época, caminhando para um milhão e meio. Hoje Salvador já tem quase... Aliás, a grande Salvador já tem quase quatro milhões de habitantes. Mas Belém e depois Rio de Janeiro com quase dez milhões de habitantes... Mas sempre cidades, curiosamente cidades com forte ligação com o meio natural. Valença, obviamente, Salvador, Belém – com a Amazônia em volta – e no caso o Rio de Janeiro também é uma cidade onde a mata está dentro da cidade, onde o mar está muito presente. São Paulo, por exemplo, eu sempre tive medo de São Paulo, porque não está muito claro a relação de São Paulo com a natureza. Parece que o limite é muito bem definido. Já Rio [de Janeiro], Salvador, Belém, essa relação é mais expressiva.
P/1 - E você ficou no Rio de Janeiro até quando?
R - 1994 e 1995.
P/1 - E depois você foi para onde?
R - É, então. Aí nesse tempo eu redescobri uma namorada de Morro de São Paulo que marcou minha vida, meu coração, e falei: "Eu vou atrás dessa mulher". E ela era mineira, ela é uma mineira, e a gente acabou se reencontrando depois de muito tempo, depois de seis anos. Aí eu terminei o meu mestrado e fui morar em Belo Horizonte com ela. Casamos lá. É uma história à parte. Mas aí morei em Belo Horizonte uns nove meses, analisando, terminando de analisar os meus dados e apresentando a minha tese, e foi o tempo necessário para eu captar um recurso e começar o meu trabalho no sul da Bahia nessa nova ONG que estava surgindo lá no sul da Bahia chamada IESB, uma ONG com certa semelhança com o IMAZON, uma ONG com esse contato com pesquisadores americanos, com a conservação internacional. Ou seja, uma ONG local, mas com vínculos com cientistas de outros lugares. Eu cheguei no início da vida dessa instituição, do IESB, com o foco na Mata Atlântica, mas com uma visão mais ampla de pensar agricultura, de pensar ecoturismo, pensar a reforma agrária, políticas públicas, infraestrutura. Então uma realidade ambiental e de construção do cenário muito rica, muito aberta. Eu começo uma nova vida aí. Começo... Volto à minha região, já uma outra cidade, Ilhéus, que está um pouco ao sul de Valença, uma cidade de 150 mil habitantes, cidade média mas muito pequena ainda, provinciana ainda, mas que dá... Tem características muito interessantes, porque é uma cidade que tem um aeroporto, que tem uma vida cultural mínima, tem um fluxo de turistas que dá certo ar de cosmopolita à cidade. E também uma natureza extraordinária. O sul da Bahia com a costa de Tacaré, com a costa de Una, Canavieiras, com as Serras do Cacau, rios impressionantes, matas altas. Então é um ambiente natural maravilhoso, muito rico. Praias belíssimas e também um ambiente profissional muito interessante.
P/1 - E IESB o que significa a sigla?
R - Então, IESB é uma ONG que começou nessa época, em 1995, e é uma sigla imensa. É Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia, nome que é difícil até das pessoas saberem o que é que significa. Mas hoje é uma ONG de referência no Sul da Bahia, o IESB. Produziu muita coisa em pouco tempo. Está fazendo dez anos agora, mas já tem experiências em ecoturismo, em conservação da biodiversidade, pesquisa e trabalho prático em conservação da biodiversidade, unidade [de] conservação, sistemas agroflorestais, certificação. Na verdade é um grupo que hoje deve ter uns 20 pesquisadores profissionais fazendo pesquisa e ao mesmo tempo – principalmente – trabalhando diretamente com conservação da Mata Atlântica.
P/1 - E aí você foi de Belo Horizonte para Ilhéus e começou a trabalhar nessa instituição?
R - Exatamente. E assumi um trabalho chave na instituição, que era atuar em políticas públicas para a conservação da floresta. Então quando eu cheguei lá, chego exatamente no meio da mais séria crise. Talvez uma das crises rurais mais sérias do Brasil, talvez na América, que foi a crise do cacau com a vassoura-de-bruxa, com a doença da vassoura-de-bruxa, e ao mesmo tempo queda de preço do cacau no mercado internacional, junto com estiagens prolongadas assim, muitos anos sucessíveis de pouca chuva. Também alta de juros, o sistema de crédito brasileiro radicaliza com altas taxas de juros. Então aquela região entra em um colapso econômico terrível, e eu chego exatamente nesse momento. A crise começa em 1989, e em 1995, 1996 é o momento em que aquela sociedade entra no seu momento mais baixo, e é exatamente aí que eu chego. Lidar com Mata Atlântica nesse contexto de crise regional, forte desemprego, 200 mil trabalhadores rurais desempregados com a crise do cacau, ocupando as periferias das cidades, as áreas de manguezal de encosta, invadindo fazendas de mata, quer dizer, as medidas e grandes fazendas de florestas foram ocupadas por sem terra. A atividade madeireira entrando fortemente nas cidades... Então cidades que antes não cortavam madeira, os fazendeiros de cacau não admitiam tirar madeira de suas fazendas e de uma hora para outra eles passam a vender madeira escandalosamente. Então as matas começam a ser cortadas de todo o lado por assentamentos de reforma agrária, expansão da pecuária, porque o cacau já não valia, então vamos botar pasto aí. Aí vem o café, quer dizer, todo esse contexto de destruição, e com alguma legitimidade social econômica, porque como a região entrou em crise e colapso, a prioridade humana e social no meio desse debate de política começa a valer mais do que a questão da biodiversidade, a questão da floresta, dos micos e etc. Entrar com uma agenda de conservação da natureza nesse ambiente foi uma experiência muito rica, muito forte para mim. E eu tive que, ainda jovem, terminando o mestrado com 28 anos, tive que encarar isso, encarar produtores velhos, produtores já com 60 anos, já com muita história na região, diálogo com o governo, diálogo... E dialogar com esses produtores rurais nessas circunstâncias, criando com eles um debate de conservação da Mata Atlântica. Foi uma coisa muito forte, e graças a Deus a gente conseguiu alguns resultados. De 1996 para 2004, por exemplo, a gente conseguiu criar no sul da Bahia a noção de que Mata Atlântica é um bem, é algo de valor. Os assentamentos de reforma agrária, por exemplo, passaram a ser priorizados em fazendas de pasto de pecuária ou fazendas antigas de cacau, e não mais naquelas fazendas onde dominavam a floresta. A gente começou a construir avanços em cada área. Por exemplo, na área de turismo, o sul da Bahia em 1995, o turismo era baseado nas praias, na barraca de praia. Hoje, em 2005, você tem um turismo na Bahia associado a ecoturismo, à visitação, a cachoeiras, a trilhas. Você tem hoje um contexto de ecoturismo muito mais presente, com Itacaré, por exemplo, sendo um dos polos de turismo de natureza no Brasil, aparecendo sempre na mídia. Isso foi um pouco o resultado desse esforço de uma nova trajetória para o desenvolvimento regional. Hoje você tem no sul da Bahia muitas reservas particulares de patrimônio natural, RPPNs, com produtores tradicionais de cacau que fizeram suas matas serem RPPN. Hoje a gente tem um caminho interessante que é uma cooperativa de produtores de cacau produzindo chocolate e produzindo chocolates vinculados à conservação da floresta, que é a marca Cabruca, né? Uma marca que eu creio que futuramente vai ser mais conhecida no Brasil. É uma produção local de chocolate, obviamente venda de cacau orgânico para indústrias na Europa, mas eles estão hoje na produção de chocolate orgânico e vinculado à conservação da biodiversidade. Experiência única no Brasil de agricultura fortemente vinculada à conservação da biodiversidade e com esse conceito de alimento sadio também. E isso foi construído nesse ambiente de crise que a gente viveu.
P/1 - Então vocês contribuíram para essa mudança no perfil da região?
R - Ah, eu creio que sim, creio que sim.
P/1 - E Rui, voltando só um pouquinho, eu queria te fazer uma pergunta. Bom, na década de 70, final, meados da década de 70, 80 – que foi exatamente o período em que você estava se mudando para Salvador e tendo o contato com a cidade –, como é que era tratado o assunto meio ambiente? Existiam já organizações que tratavam do assunto e que você tivesse conhecimento?
R – Salvador, nessa época, tinha um ambientalismo urbano com influencia européia muito forte. Então os anos 70, com a industrialização de Salvador e a industrialização brasileira, o milagre brasileiro, eu acho que o movimento ambiental brasileiro começa com a discussão da agenda marrom mesmo. Da poluição, o exemplo de Cubatão em São Paulo, o exemplo da indústria nuclear na Europa que movimenta o movimento ambientalista na Alemanha. Então isso acaba sinalizando para os poucos ambientalistas de Salvador que a questão ambiental era essa da poluição, da energia nuclear. E eu lembro assim, eu tenho uma influencia muito legal de um ambientalista de Salvador, um cartunista chamado Paulo Serra, que é uma pessoa de um esforço muito pontual. Praticamente toda semana ele faz um cartoon no jornal A Tarde, um jornal lá da Bahia, Mero na luta ecológica. É um personagem que ele cria, o Mero, que era um ambientalista de coração e fazia de tudo. Esse personagem era um cartoon dele para salvar qualquer coisa da natureza, até as areias das dunas de Itapuã. Tem um cartoon belíssimo que ele fez desse Mero com o seu filho indo visitar as dunas de Itapuã, aquela região de Lagoa do Abaeté, e aí Mero chega em casa e vai tirar o sapato e vê que tinha areia no sapato dele, e que era a areia das dunas de Itapuã. Naquela época, inclusive, as dunas de Itapuã estavam sendo destruídas com a retirada de areia para a construção civil e tal. Então ele criou uma imagem belíssima desse Mero, que é um grande ambientalista, indo para as dunas, voltando para a casa. Viu a areia no sapato, ficou preocupadíssimo, voltou com aquele tênis até as Dunas de Itapuã e jogou a areia de volta. Então essa experiência ainda daquele ambientalismo romântico, autêntico e sem muito racionalismo, mas de muita coerência, de muita sensibilidade. Era um pouco esse tipo de... E o meu irmão mais velho, o Pedro, que já faleceu, um ambientalista histórico lá da Bahia, é muito ligado a SOS Mata Atlântica também, velejador e tudo. Ele participava desse movimento ambientalista. Ele era afiliado do Grupo Ambientalista da Bahia, o Gambá, que é uma ONG histórica no Brasil e está muito ativa nos últimos 20 anos com a questão da Mata Atlântica. E Pedro era ligado ao Gambá. Então garoto ainda ia para reuniões do Gambá, aí via aqueles caras barbudos lá discutindo energia nuclear, discutindo campanhas pelo mar, "Amar o Mar", que foi um campanha que eles fizeram nos anos 70. Paulo Serra, que é esse cartunista aí, era ativo lá nesse grupo. Eu fui começando a ver, a entender um pouco o que era a Organização não Governamental, o que era Grupo Ambientalista nessa vida de Salvador.
P/1 - E isso na década de 70?
R - Isso na década de 70.
P/1 - E quais ações que você mais... Que mais te marcaram no Grupo do Gambá.
R - Olha, eu acho que uma coisa que me chamou atenção, principalmente nos anos... Início dos anos 80, mais do que nos anos 70. Acho que nos [anos] 70 não tinha nada. Isso foi lá a partir de 1984, 1985, 1983, 1984. Mas uma campanha muito bonita que o Gambá fez, que eu lembro foi "Amar o Mar". Realmente uma mobilização para a despoluição das praias. Mobilização pelo ambiente costeiro limpo. E como eu e meu irmão, a minha família tinha muito contato com o mar, aquilo me sensibilizou muito. A questão da mata, da Mata Atlântica ainda não era uma coisa. Inclusive a gente... Isso é até interessante, essa ligação com a SOS Mata Atlântica, porque a Mata Atlântica não era uma coisa percebida como tal, como ela é hoje. A gente tinha uma ideia de “bom, ali tem uma mata, tem uma floresta. Ali tem mangue. Ali tem uma matinha de beira de praia que a gente hoje chama de restinga. Ali tem uma área de campos mareal.” Mas esse formato que a gente tem hoje da Mata Atlântica, com a floresta e os ecossistemas associados, e o manguezal, a restinga e etc., isso não era visto por nós. Então o próprio movimento ambientalista também não tinha essa compreensão. O Salvador, o Gambá, o Germem, os grupos ambientalistas por lá podiam perceber a questão da poluição marinha e tal, e a SOS Mata Atlântica já trazendo um pouco nessa questão da SOS, ela foi pioneira nisso de reunir pessoas que puderam conceber a Mata Atlântica como tal e de veicular isso em escala nacional de uma maneira muito forte. Com uma carga simbólica ligada à bandeira do Brasil, ligada ao verde brasileiro. Então a gente começa a ver a Mata Atlântica no cenário, começa a se perceber como filho da Mata Atlântica.
P/1 - E esse contato com a SOS foi quando?
R - Olha, eu me lembro da SOS Mata Atlântica, a primeira vez, lendo uma revista, não sei se Horizonte Geográfico ou uma coisa assim, uma dessas revistas sobre natureza no Brasil, e tinha uma página com a propaganda da SOS Mata Atlântica. Eu escrevi pra lá para dar informações, e eles mandaram um catálogo de como se filiar, como ajudar. Mas na época eu não tinha dinheiro nenhum, e eu falei: "Poxa, e quero participar disso mas não tenho dinheiro, não tenho como me filiar a isso, o valor mínimo também é caro para mim". E acabei só desejando me envolver com a SOS naquele momento. Mas meu envolvimento com a SOS acabou vindo na sequência, com Pedro, meu irmão já entrando em um ambientalismo mais profissional, já como agrônomo, e ele acabou entrando em uma diretoria de meio ambiente do município de Valença. Ele voltou para Valença e começou a ajudar a prefeitura, um prefeito mais avançado a trabalhar meio ambiente, e ocupou a diretoria de meio ambiente, criou uma agenda ambiental no município, criou área de proteção ambiental. E nesse contato de Pedro com o ambiente no município, ele conheceu o Mário Montovani. Na época, se não me engano, o Mário estava ligado à... Acho que ele era um funcionário aqui no estado, e estava ligado à Associação Nacional de Município de Meio Ambiente, a NAMA. Houve um encontro de municípios de meio ambiente em Valença, Mário conheceu Pedro e houve uma... O Pedro veio para São Paulo fazer um curso aqui sobre Mata Atlântica, e acabou que aí o Mário começou a frequentar nossa casa. Ele chegava lá em casa, na casa dos meus pais, abria a geladeira e falando: "Cadê a sopa, Dona Diva?". E a gente começou a se conhecer, o Mário cobrando de mim: "Porra, você só quer saber de surfar, rapaz? O pessoal está destruindo isso aqui e você não faz nada?". E eu comecei a abrir os olhos para a questão ambiental, na militância ambiental nessa época, já com 18, 19 anos. O Mário frequentando a nossa casa, Pedro envolvido com meio ambiente já em Valença e a grupo ambientalistas – o Gambá, especialmente. Essa relação foi sendo estabelecida. Nos anos 80, final dos anos 80, e depois mais a frente, quando eu vim no sul da Bahia trabalhar com a Mata Atlântica pelo IESB.
P/1 - Ô Rui, e a gente disse que o contato com a SOS Mata Atlântica também se aprofundou com o IESB.
R - É. Esse trabalho de políticas públicas que a gente fez para tentar administrar a crise do cacau e os impactos na Mata Atlântica, isso passou por uma articulação do IESB, do nosso trabalho lá em Ilhéus também com os atores a nível nacional e a nível internacional. Então o IESB já tinha uma coisa muito forte com a conservação internacional, inclusive com apoio técnico, financeiro, cooperação e tal. A gente percebeu que a SOS Mata Atlântica seria um parceiro nacional muito importante, seria estratégico para a gente acompanhar e ter uma cooperação mesmo, inclusive na área de política pública e tal. Então um dos assuntos assim, que era um assunto chave, foi a questão do turismo, porque a política de turismo na Bahia é muito forte, muito presente. O Estado da Bahia investe fortemente no turismo, e essencialmente na região costeira. Naquela época, 1996, por exemplo, a gente começou a estudar uma obra pensada para a região de Itacaré, porque era estrada a rodovia Ilhéus/Itacaré. Essa é uma rodovia com o dinheiro do Banco Interamericano, e a gente tinha que fazer uma articulação para, talvez, mudar um pouco o conceito da estrada e ter uma medida de compensação ambiental mais clara junto com a rodovia, porque ela ia passar por regiões de mata muito expressivas, que é a região de Itacaré. Nesse momento, a gente começou a dialogar com o Mário Montovani, com a SOS Mata Atlântica mais diretamente. E ter a SOS como parceira junto com o CI [Conservation International], junto com as outras instituições também para mover o Governo do Estado, mover o Bird, o Banco Interamericano em uma outra direção. A gente foi muito bem sucedido nisso, porque, embora rodovia e turismo sempre gere algum impacto... Mas a gente criou naquela rodovia uma ideia de uma estrada ligada à conservação da floresta, ligada à criação de um parque, à implementação de uma área de proteção ambiental e ligada ao ecoturismo. Então Itacaré acabou nascendo como destino turístico, com um conceito de um destino de natureza muito forte. É claro que isso gera uma tensão muito forte. A cidade de Itacaré cresce e ocupa áreas de mata. A cidade está espremida do meio da floresta, então qualquer expansão da cidade acaba entrando em áreas de mata e etc. A gente tem uma tensão ainda muito presente aí. A própria estrada... Mas o apoio da SOS naquele momento foi estratégico para a gente, e depois isso teve repercussão em nível nacional, porque essa política de turismo que tem foco na Bahia também estava em outros estados do nordeste. Pernambuco, Ceará, quer dizer o Prodetur, Programa de Desenvolvimento de Turismo para a Costa Brasileira, principalmente costa nordestina, tinha em Itacaré apenas um esforço pontual. Aquilo que a gente conseguiu fazer em Itacaré e Ilhéus repercutiu para todo o nordeste, e a gente começou a ser requisitado para discutir o que é que aconteceu em Itacaré, como a gente conseguiu montar uma trajetória diferente do que foi Porto Seguro, do que foi até Morro de São Paulo e outros destinos turísticos, criando alguma salvaguarda, alguma agenda ambiental junto com a política de turismo. E isso foi nos aproximando. Um outro contato que houve com a SOS foi por conta do "Clique e Abra". A gente começou a ver que, volta àquela questão da agricultura familiar, o sul da Bahia tem muitos pequenos agricultores que ocupam a área de floresta. Estão em assentamentos, estão em comunidades rurais tradicionais, então a gente precisava ter uma abordagem com os agricultores, porque inclusive são eles que estão herdando a terra, são eles que conseguem estar na terra de uma maneira mais permanente, através de gerações. Você tem uma transferência da cultura rural muito forte na agricultura familiar. Então a gente começou a ver que era estratégico pensar a Mata Atlântica – ainda mais no sul da Bahia –, pensar a questão da floresta com a agricultura familiar. Não necessariamente levando os agricultores para dentro da floresta e acreditando que a agricultura familiar seria compatível com a floresta, necessariamente, mas saber que a gente precisava ter áreas protegidas, precisava ter unidade de conservação, e de repente ter uma sociedade rural tendo agricultores familiares como elemento chave dessa sociedade rural, e com uma visão de conservação, com uma visão de usar as menores... De ser mais eficiente no uso da terra, de agregar mais valor aos seus produtos. E com isso a gente começou a germinar um projeto que hoje a gente chama de Floresta Viva, um programa de conservação de floresta aliado ao desenvolvimento rural dentro de uma visão até não simplória, mas uma visão mesmo... Até quase sofisticada de pensar planejamento de paisagem, pensar parque, pensar área de proteção ambiental, pensar reservas legais, pensar áreas de preservação permanente e produção de hortaliças, produção de frutas, sistemas agroflorestais, comercialização, produção de doces, cooperativismo. Realmente uma coisa articulada, engrenada e vinculada à indústria de turismo. Porque uma coisa que a gente viu é que a indústria de turismo no nordeste – acho que no mundo inteiro – é muito movida pela escala, grandes resorts, grandes hotéis, e acaba que os insumos dessa hotelaria são praticamente... Vêm dos grandes centros urbanos, da agricultura de grande escala, e você tem o entorno desses hotéis excluídos do processo. Então a gente achou que poderia criar uma trajetória em diferente Itacaré, com unidades hoteleiras menores, mais familiares. Até empresariais mais... Com um perfil de integração com o entorno, com as comunidades rurais. E a gente começou a pensar isso. Conservar floresta, incluir o agricultor, envolver o ecoturismo, envolver o agricultor no ecoturismo, produzir hortaliças orgânicas, produzir mudas de Mata Atlântica para a recuperação de áreas. Aí entrou o Clickarvore. O Clickarvore poderia ser um meio... Através da SOS Mata Atlântica, a gente gerar renda com a produção de mudas para os agricultores, e dentro do sistema agrícola deles a renda seria... Entre outras fontes, você poderia ter uma renda advinda da produção de mudas de Mata Atlântica. Isso é uma reviravolta completa, porque os agricultores sempre aprenderam que dinheiro se ganha com o desmatamento, com a abertura de áreas, com abertura do roçado e a queima da floresta. A ocupação da terra, onde tinha mata, vai ter roça. E a gente começou a inverter isso, a gente falou: "Não, vocês vão ganhar dinheiro agora com a floresta. A floresta é que vai dar dinheiro. A agricultura também, mas as sementes da floresta, as mudas da floresta e a recuperação da floresta vai ser uma forma de vocês ganharem dinheiro". A gente tem que quebrar esse discurso de que tem que conservar, tem que conservar. Mas pô, como é que eu vou conservar? Então vamos fazer com que a floresta seja algo atraente economicamente para o agricultor, com que ela possa gerar renda para o agricultor. E vem o Clickarvore com essa possibilidade. Junto a isso a gente juntou outro projeto de reflorestamento nas margens da rodovia, da estrada Ilhéus/Itacaré. Conseguimos 100 mil reais, conseguimos 60 mil reais, não sei. Do Clickarvore juntamos algum dinheiro e criamos, durante um ano, uma economia de viveiro de mudar. Cada agricultor... 60 agricultores naquela região passaram a ter viveiros no fundo do quintal e ter uma produção anual de 1500, 2000 mudas, cada muda valendo 70 centavos, um real. Isso representava uma injeção de 2000 reais por ano na economia de agricultura. Então isso representava realmente um ingresso significativo. E junto a isso a gente começou a trabalhar ecoturismo. Alguns agricultores passaram a receber turistas para visitar trilhas na floresta deles. Então a floresta passou a ser visitada, e cada turista paga dez reais a sua visita. Então isso é um ingresso... Às vezes 50 reais, 60 reais em um dia. É claro que isso não é para todo mundo, mas para alguns agricultores é um potencial ingresso de receita. Mas especificamente a SOS começou a apostar nisso, e acabou que a Floresta Viva virou um projeto dentro do IESB, que ganhou dimensão maior até do que o próprio IESB, no sentido de ter uma grande visibilidade. A gente fez uma marca com floresta viva, dias árvores e uma casinha no meio para mostrar que o agricultor poderia ter uma relação positiva com a floresta. E esse projeto hoje virou instituição. Chegou uma hora que a gente falou: "Pô, esse projeto precisa ser conhecido, precisa ser melhorado, aprofundado para fundar essa experiência". E dentro de uma instituição que tem várias outras iniciativas, trabalho de ecoturismo na região de Una, trabalho com o corredor central da Mata Atlântica, trabalho com pesquisa biológica. Quer dizer, a gente precisava ter uma instituição para abrigar a Floresta Viva e potencializar essa experiência com a agricultura familiar e com o ecoturismo na região de Itacaré. Acabou [com] a gente criando o Instituto Floresta Viva, e vemos essa experiência... Hoje eu saí do IESB e migrei para o Instituto Floresta Viva, que hoje está com pé na universidade também. Passei no concurso da Universidade Santa Cruz – que é uma universidade regional – e, vendo uma relação nova com a Mata Atlântica... Ou seja, uma abordagem para a Mata Atlântica no futuro passa por essa relação com a agricultura, com o reflorestamento, com a recuperação florestal, com a recuperação da Mata Atlântica. E estabelecer uma relação muito clara com os agricultores, com os que têm a terra, com os que têm a Mata Atlântica.
P/1 - E Rui, com base em tudo isso que você me disse agora, dos projetos que vocês desenvolvem no sul da Bahia, eu queria que você me dissesse qual é a situação da Mata Atlântica no estado, hoje. No Estado da Bahia, em que pé está?
R - Então, a Mata Atlântica baiana tem uma expressão territorial. A gente tem, talvez, algo em torno de um milhão de hectares. Esse número é meio difícil de precisar, mas é alguma coisa nessa ordem de um milhão de hectares, e o Brasil hoje tem cerca de dez milhões de hectares em Mata Atlântica. Nós tínhamos uma área original de 120 milhões de hectares – o domínio original –, e hoje a gente tem 7%, que corresponde aproximadamente a dez milhões de hectares. Então, desses dez milhões de hectares, mais ou menos um milhão de hectares está na Bahia. Está na Bahia dentro de uma realidade agrária, rural, única. Porque uma coisa é você ver a Mata Atlântica em São Paulo na Serra do Mar, ou você ver isso no Rio de Janeiro. Ou seja, floresta em áreas de alta declividade, muito inclinadas, sem nenhuma... Baixíssima aptidão agrícola, a pressão imobiliária, a pressão agrícola sobre essas áreas é mínima. Mas a Bahia, curiosamente, mesmo sendo o estado mais antigo na colonização do Brasil, ela ainda possui floresta em áreas de forte potencial agrícola e residencial nas áreas litorâneas, nas planícies, nos tabuleiros. E os agricultores, que são proprietários dessas áreas e também entremeada com cacau que envolve serra, envolve áreas de planície de planalto e tal, mas são áreas onde o interesse humano sobre a floresta é claro. A percepção de que aquilo é delas e que elas podem usar, tem legitimidade para usar, é muito claro. Diferente do que você tem em Cananéia, em ambientes... Claro, tem algum conflito de interesses com os caiçaras e tal, com os agricultores do Vale do Ribeira, mas, de um modo geral, quando você olha o centro sul brasileiro, onde está a Mata Atlântica, talvez 80% da Mata Atlântica do centro sul está em áreas de pouco pressão humana. Porque estão nas serras, estão nos estuários e tal. No caso da Bahia, do sul da Bahia, é diferente. E tem várias razões para explicar isso, mas o que eu quero me ater é... Ou seja, qual é o estado atual dela? Ela está sob pressão, fortemente pressionada pela expansão dos pastos, e isso ainda pela substituição do cacau por pastagem que ainda ocorre, está ainda sob pressão. Inclusive os assentamentos de reforma agrária que foram implantados nas áreas de mata, esses assentamentos ainda têm poções de floresta. Houve um desmatamento nos primeiros anos, mas eles ainda têm áreas expressivas de floresta lá. O Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] nos deu a informação, por exemplo, que em assentamento de reforma agrária nós temos cerca de 20 mil hectares de floresta. Então 20 mil hectares, que representa uma unidade de conservação expressiva. Tem unidade de conservação de dez mil hectares, então 20 mil hectares estão em posse de assentado de reforma agrária. Obviamente espalhados em diferentes lugares, mas se você soma tudo é uma área muito grande. A reforma agrária no sul da Bahia, eu fiz alguns estudos sobre isso. A evolução dos assentamentos de reforma agrária na Mata Atlântica do sul da Bahia, a gente teve uma perda de aproximadamente 30 mil hectares nos últimos 20 anos por conta da reforma agrária. Hoje o sul da Bahia tem cerca de 120 assentamentos formais instituídos, sem considerar as áreas de ocupação, de beira de estrada e tal. Então tem 120 assentamentos rurais onde cada assentamento tem uma área aproximada entre 500 e 2000 hectares. Se você somar tudo isso, vamos dizer que a gente tenha... Tenhamos 100 mil hectares em áreas de assentamento. 120 assentamentos em uma área média de 1000 hectares. Então tem cerca de 100 mil hectares do total de três milhões de hectares de toda a região do sul da Bahia. Mais ou menos 100 mil hectares estão em área de assentamento, e dessas áreas, uma parte importante delas era floresta ou ainda tem algum remanescente florestal. Então a gente tem esse risco muito grande sobre os remanescentes florestais em áreas de assentamento e em fazendas médias e grandes que têm interesse em converter em pastagem nas regiões costeiras, com restinga, com a pressão imobiliária do turismo. Então na verdade você tem um ambiente de forte tensão. Agora, acho que houve um avanço de 1995 para cá, quando a crise chegou em um nível muito alto, para agora. O que eu percebo é que existe uma nova percepção da sociedade do sul da Bahia, da sociedade rural urbana em que a Mata Atlântica passa a ser um valor, passa a ser um ativo ainda não muito explícito em algumas áreas, muito mais explícito do que outras. Mas por exemplo, a gente tem em Itacaré um fenômeno curioso, uma área de floresta, um hectare de floresta, ele vale mais do que um hectare de pasto. Para novos proprietários que compram essas terras com a visão do turismo, do ecoturismo, eles vêem a floresta hoje com mais valor do que uma área agricultura, uma área degradada. O que é uma inversão de valores do que era no passado, quer dizer, a floresta, a terra em região de floresta, ela vale muito menos do que uma terra aberta para o pasto. Inclusive o movimento de desmatamento é muito por conta disso, se eu desmato a minha terra vale mais, eu estou valorizando a minha terra, estou criando benfeitoria quando eu desmato. Então a região de Itacaré está vivendo outro fenômeno agora. Eu já vi vários interessados em comprar terras em Itacaré que chegam na propriedade, não tem mata e ele fala: "Eu não quero comprar essa fazenda porque não tem mata. Eu queria uma área que tivesse floresta, porque eu teria água limpa, porque eu teria fauna, porque eu teria coisas que não se tem mais". Agora, óbvio que isso não é uma coisa regionalizada ainda. Mas a gente vê que as florestas mais bem conservadas no sul da Bahia começam a ser cobiçadas como são, como floresta preservada. E eu acho que esse fenômeno que ocorre em Itacaré pode ser disseminado em alguma medida na região. Mas isso vai depender muito do que a gente quer para a Mata Atlântica no futuro. Se eu tenho uma perspectiva do mercado de consumo de alimentos, por exemplo, em que o produto rural está vinculado a ecossistemas, a biodiversidade, a natureza, a floresta junto com a produção de leite, com a produção de cacau, a produção de chocolate, passa a ser uma boa companhia. Eu compro um chocolate não mais um chocolate amorfo, impessoal, mas um chocolate que vem do sul da Bahia, de um proprietário que tem floresta. Essa pessoalidade de um alimento, de um produto rural que começa a ganhar fôlego, que começa com a indústria de vinhos... A indústria de vinhos é o agronegócio mais pessoal que existe, porque quanto mais pessoal, mais ele tem valor. Quando mais impessoal um vinho, mais barato ele é. E essa tendência do caso do vinho que caminha para o azeite de oliva também, o azeite de oliva que é certificado, que é orgânico e que tem uma origem em uma fazenda específica do sul da Argentina ou em uma região, sei lá, do sul do mediterrâneo. Essa tendência do mercado de alimentos, da descomoditização, onde você tem o extremo da soja transgênica, que pode ser feita lá nos Estados Unidos ou na Argentina, uma soja impessoal, commoditiy, a uma soja que conserva o serrado. Quer dizer, essa nova tendência no mercado de alimentos pode ter reflexo sobre a agricultura na Mata Atlântica, e o sul da Bahia talvez possa ser pioneira enquanto região agrícola para conectar a produção agrícola com a conservação da mata. Isso já acontece com o ecoturismo. Quer dizer, se eu tenho um hotel em Itacaré em uma fazenda que tem mata, que tem cachoeira, com certeza isso é um ativo, isso é um fator de diferenciação desse hotel. A hotelaria, o turismo já está caminhando muito forte, e acho que isso pode acontecer com o cacau, com o chocolate, pode acontecer com sei lá, com produção de hortaliças, com outros produtos que estão no sul da Bahia, graviola. E a gente começa a ver possibilidades da floresta ter produtos da floresta. Eu, por exemplo, acredito que nos próximos 30 anos a Mata Atlântica precisa ser vista não só como área de conservação, como área de recuperação para uso. Eu posso ter uma pastagem na minha propriedade no sul da Bahia e olhar essa pastagem como “pô, isso aqui eu posso ter uma floresta”. Eu vou transformar a minha pastagem em uma floresta, vou deixar com que o processo de regeneração aconteça, eu vou manejar isso para que seja mais rápido e eu vou produzir madeira nessa área. Onde era pasto, onde tinha uma cabeça de gado a cada três hectares eu vou ter uma floresta manejada com madeiras de lei. E ali eu vou colher, a cada cinco anos, a cada três anos, uma quantidade de madeira, mas ali vai ser uma floresta, vai ter água, vai ter bicho, vai ter pássaros, vai ter a conservação do solo, eu vou produzir sementes, eu posso ter óleos fitoterápicos, posso ter uma série de produtos da floresta naquela área. Eu vou ter uma espécie de agricultura florestal com as espécies da Mata Atlântica. Então eu acho que a gente tem que trilhar em uma escala nacional nesse movimento, nessa direção. Conservar o que existe, recuperar o que é possível e recuperar em uma direção de conservação de uso. Acho que o sul da Bahia está estrategicamente bem situado para ir à frente nessa história. Então, respondendo à sua pergunta, “como é que está a Mata Atlântica do sul da Bahia?”, ela está ainda... Ela é expressiva, tem uma área muito grande entremeada com a agricultura, muito fortemente por conta da sua inserção da paisagem na história regional com o cacau e etc. E você tem essa pressão [na] madeireira, essa pressão no pasto, mas ao mesmo tempo essa possibilidade de um uso da floresta, um uso generoso da floresta e ao mesmo tempo conservacionista dela.
P/1 - E fazendo um balanço, Rui, do movimento ambientalista desde que você passou a ter contato com ele até hoje, qual seria o saldo? É um saldo positivo da atuação, das vitórias? Do movimento em si, o que é que você tem a falar sobre esse balanço?
R - Especialmente na Mata Atlântica, eu diria que o movimento ambientalista foi muito bem sucedido em dar identidade a esse bioma, a essa floresta. Ela tem nome, ela tem uma definição, tem um nível de conhecimento muito alto do que representa a Mata Atlântica hoje para a sociedade na produção de água, de conservação de paisagem, da vida silvestre que está aí e que tem ligação com a nossa cultura, os pássaros, as árvores. Eu acho que isso se materializou, e a gente conseguiu mobilizar o estado em termos de legislação, em termos de organismos ambientais, no mínimo para dizer: "Olha, isso aqui tem que ser conservado". Mesmo que isso não seja completamente, existe uma percepção geral da mídia de que a Mata Atlântica é algo que precisa ser conservado. Isso foi a grande conquista. A gente está discutindo, nesse momento, agora começando 2005, e pensando no que é que a gente vai fazer agora com a Mata Atlântica, que tipo de orientação nós precisamos dar a essa floresta. E eu defendo a ideia de que nós temos que ser ambiciosos com relação à recuperação da Mata Atlântica. A gente está há muito tempo falando que a Mata Atlântica só tem 7%. Antes era 8% e agora está em 7%, e fica batendo nessa tecla de que a Mata Atlântica só tem 7%. Eu acho que o movimento ambientalista agora tem que assumir um novo discurso, um novo desafio de falar: "Nós queremos recuperar a Mata Atlântica". A própria bandeira da SOS Mata Atlântica é sintomática: “estão tirando verde da nossa terra.” É uma frase pessimista, é uma frase de alerta, mas é uma frase que mobiliza para você evitar o desmatamento. Mas a gente precisa criar outro movimento junto com esse da conservação do que sobrou, de recuperar a floresta, e essa recuperação no sentido, inclusive, de resgatar a nossa identidade como povo. As árvores da Mata Atlântica nos dão sentido existencial. O Pau-brasil, o Jacarandá, o Jequitibá, o Cedro. Todos esses nomes fazem parte da nossa cultura. É patrimônio cultural. E se eu tenho no meu quintal, na frente da minha casa uma árvore da Mata Atlântica e não uma árvore do sudeste asiático... Nada contra, é uma espécie exótica que tem valor, mas aquilo que é nosso, aquilo que estava aqui originalmente, tem um valor especial. E isso precisa ser vivido pela sociedade que está na Mata Atlântica. Eu acho que a gente tem que fazer esse trabalho de construção de identidade de sociedade que está vivendo nessa região, com o seu bioma, com a sua floresta, e fazer isso também, principalmente, não só com o ser urbano, mas fazer com o homem rural. O movimento ambientalista na Mata Atlântica é essencialmente urbano. A SOS Mata Atlântica é uma organização urbana, paulista, paulistana, é um movimento de olhar da cidade para o campo vendo que a mata está sendo destruída, e isso tem toda uma importância, porque na verdade o Brasil se urbanizou. 80% do povo brasileiro vive na cidade, isso é reflexo de onde estão as pessoas. As pessoas estão na cidade e viveram essa degradação em pouco tempo, então é da cidade que parte a crítica, essa sensibilização. Mas o homem do campo, o agricultor, o pecuarista, a empresa rural, ela tem que ver a Mata Atlântica com os olhos também da conservação. E a gente precisa construir isso. Por exemplo, nós temos 7% de Mata Atlântica, em nível nacional. A lei brasileira, a lei rural brasileira diz que nós temos que ter 20% de reserva legal, então se todo brasileiro rural tivesse 20% de reserva... Que é uma lei lá da década de 30, foi reformada em 1965, e isso não pega. Por que é que não pega? Porque o homem rural não percebe a Mata Atlântica como ela é. Então precisa atuar fortemente no meio rural. Por isso é que eu achei importante essa coisa da Floresta Viva de ir para o agricultor, fazer com que o agricultor tome atitudes de recuperação, ganhe dinheiro com a recuperação, ganhe dinheiro com a visita à mata e passe a olhar a mata com outro valor. Essa é a direção que eu acho que a gente tem que dar.
P/1 - Rui, e qual é o peso que a questão ambiental, o movimento ambientalista tem na sua vida?
R - Olha, eu trabalhei até aqui, e eu imagino que vá continuar até o final no terceiro setor. A minha vida profissional toda foi no terceiro setor. Eu sou um profissional do terceiro setor, mesmo em uma era do desmonte do estado. Veio aí a Era Collor, em 90, exatamente com essa direção, e o mundo inteiro com o liberalismo. Gerou essa onda de um novo estado, de uma nova sociedade onde a sociedade civil, o setor privado são fatores de grande influência muito mais do que foi o estado. Eu sou filho dessa era, onde a SOS Mata Atlântica, IMAZON, IESB, WWF, Conservação Internacional, o Gambá, são organismos vitais ativos e do mesmo jeito que você tem uma pluralidade no campo das empresas. A gente fala em carro e a gente pensa em Volks, em Ford. Quer dizer, a gente lida muito fácil com uma diversidade, uma pluralidade no setor privado. Acho que o terceiro setor precisa também desenvolver isso. Essa pluralidade, diferentes ONGs, diferentes pessoas que estão trabalhando no setor público que têm um envolvimento, de alguma forma, com o terceiro setor, participam de alguma ONG, seja na área de saúde, seja na área de, sei lá, alfabetização ou conservação da natureza ou conservação... Mas eu acho que isso, na minha cabeça, é algo muito natural. Está profissionalmente ou voluntariamente atuando no terceiro setor. E é um ambiente profissional muito claro para mim.
P/1 - Rui, a gente está chegando no fim já do seu depoimento e eu queria saber se talvez... Alguma coisa que você gostaria dizer e não tenha sido perguntado, algum assunto que não tenha sido abordado e que você acha necessário de deixar registrado?
R - Então, uma coisa que eu acho que eu não falei nesse diálogo, foi talvez o porquê eu seja ambientalista, por que é que eu me envolvi com isso. Talvez tenha ficado meio claro, meio subentendido, mas eu faço uma reflexão assim, de estar envolvido com ambientalismo no Brasil, no sul da Bahia na Mata Atlântica, tem muito a ver com uma espécie de padrão ambiental de infância. Eu tive a oportunidade – eu imagino que outros cidadãos brasileiros tiveram também essa oportunidade – de sentir natureza em outro padrão diferente do de hoje. Então alguém que vive hoje em São Paulo, a percepção ambiental dela é muito baixa. A noção de rio às vezes, para uma criança que vive na cidade, é de esgoto. Eu acho que uma criança urbana de São Paulo, Rio de Janeiro que chega a beira de um rio limpo que sai da mata, eu acho que ele fica... Ele não entende. Ele fala: "Isso aqui é o quê? O que é que é isso? Essa água é limpa?". Eu já vi inclusive depoimento de criança em Itacaré que vê um riozinho caindo na água limpa e ele fala: "Pai, mas isso aqui não é o esgoto? Essa água é limpa?". E o pai ter que falar para ele: "Não, isso aqui é um rio de água limpa, porque isso aqui é natural. O esgoto é uma...". Então eu tive uma infância onde a natureza estava em – e ainda está, em alguma medida, nessa região – um estado ambiental muito bom. Eu passei a infância nadando junto com golfinho. Siri, muito siri no rio. Ia pescar caranguejo no mangue. Para ir à praia tinha que passar dentro de uma mata. Quer dizer, esse padrão ambiental foi a minha... É o que eu vivi, então é como se eu quisesse trabalhar com meio ambiente, trabalhar com Mata Atlântica, é como se eu quisesse garantir que esse padrão ambiental fosse perpetuado, fosse mantido. Eu acho que a gente precisa ter esse tipo de sentimento. Aonde a gente quer chegar com isso? A gente quer realmente manter a nossa casa em condições dignas, com qualidade? Acho que isso é uma coisa que vai muito além da racionalidade. Não dá para fazer isso, isso não é um entendimento racional, é um entendimento realmente de existência, de percepção muito profunda do que é a vida.
P/1 - Rui, então para finalizar você gostaria de deixar alguma mensagem para a SOS em razão da comemoração desses 18 anos da fundação?
R - A mensagem que eu queria deixar para a SOS – como filiado, inclusive, da SOS Mata Atlântica – é que essa organização ela dê muitos frutos no sentido da recuperação da Mata Atlântica. Ela deu muitos frutos, eu acho no sentido de alertar a sociedade brasileira para conservar o que sobrou, e acho que essa direção da SOS nos últimos 18 anos criou uma mobilização em toda a sociedade, muitos ambientalistas nessa direção de salvar o que sobrou. Mas eu acho que a SOS tem uma responsabilidade agora, nos 18 anos, chegando à maturidade, de mobilizar a sociedade brasileira para recuperar a Mata Atlântica, e essa recuperação fazer parte da vida dos brasileiros a partir de agora.
P/1 - Então muito obrigado pelo seu depoimento.
R - Obrigada vocês.
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