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História
Personagem: José Alves de Souza
Por: Museu da Pessoa, 31 de outubro de 2007

Fazendeiros, me escutem!

Esta história contém:

Fazendeiros, me escutem!

Vídeo

Eu tinha um irmão desaparecido. Já tinha uns dez anos que ele tinha saído do Piauí pra trabalhar no Maranhão. Ficamos sem contato, sem nada. Aí eu e outro irmão mais velho resolvemos sair à procura desse irmão. Encontramos! Ele ficou muito feliz! Porque ele saiu de casa ainda um adolescente, quando chegamos ele já tava bem adulto, Então ele teve a ideia da gente ur buscar a família toda pra morar aqui no Maranhão e a gente fez isso, né? Aí fomos buscar o outro que morava em São Paulo também, que tava também um bocado de tempo sem contato. E aí agora estamos aqui, todos reunidos aqui. Pertinho.

Meu primeiro trabalho no Maranhão foi roçar, depois passei a ser pedreiro, muito tipo de serviço… Até chegar na carvoaria. Lá onde a gente morava, no Piauí, não tem esse tipo de serviço e eu achei muito estranho, muito pesado, muito diferente. Eu trabalhei por três dias e pedi pro patrão: “Rapaz, eu vou embora que eu não aguento.” Ele disse: “Nada! Você não tá acostumado”, mas aí eu me acostumei mesmo, só que é uma coisa muito pesada. Eu tinha 20 anos.

Eu carregava as toras no caminhão, tirava do forno, enchia o forno, ia pegar água pra apagar o forno, entrava no forno quente, descalço… Eu passei muito mal. Trabalhei em várias: um mês em uma, depois dois meses em outra… E sempre saía deixando metade do dinheiro porque nunca que eles pagam tudo. A maioria das carvoaria não paga tudo completo. E nem sempre eu conseguia sair. Em uma eu fui cobrar o que tinha pra receber aí fui ameaçado. Vim embora a pé, dormi na estrada, andei 30 quilômetros a pé, caminhando, depois pra chegar na pista, no asfalto, andei mais 72 aí cheguei em casa, com fome, pé inchado de andar e triste.

Ah, minha vida mudou muito depois que eu comecei a participar da Cooperativa Para a Dignidade. Hoje já tenho lugar, já tenho muitas amizade, mudou muita coisa. Na cooperativa cooperativa tem que cooperar, né?...

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Dados de acervo

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P/1 – Oi Zé.

R – Olá.

P/1 – Zé, pra começar eu quero que você me fale seu nome completo, a cidade e o local onde você nasceu, oh, a cidade a data onde você nasceu.

R – É, eu moro, como?

P/1 – Seu nome completo?

R – Meu nome completo. José Alves de Souza, moro no Piauí, morava no Piauí, cidade São João da Serra.

P/1 – Em que ano você nasceu?

R – 76.

P/1 – E a data?

R – É, dois mil e… Como é que é?

P/1 – A data do seu nascimento?

R – No, em 2006, né?

P/1 – A data do seu nascimento?

R – Tô meio perdido.

P/1 – O dia e o mês?

R – Agora não sei... Corta isso aí.

P/1 – Tá. E a sua mãe e o seu pai, o nome deles?

R – O nome deles é Domingos Alves de Souza e Maria das Neves Alves da Conceição.

P/1 – Certo. E quando você era pequeno lá em, como chama a cidade mesmo?

R – São João da Serra.

P/1 – São João da Serra? Você morava com seus pais?

R – Morava até um determinado tempo, antes deles falecer eu morava com eles.

P/1 – É? E como você lembra, assim, lá da sua casa quando você era pequeno?

R – Quando eu tinha meus dez anos meu pai faleceu, né, eu passei a cuidar dos menino pequeno juntamente com minha mãe, aí depois a gente veio pra cá pro Maranhão e ela faleceu aqui já no Maranhão e já passou a se virar já por conta, cuidar dos menores, os maiores cuidar dos menores, e assim.

P/1 – E antes do seu pai morrer você costumava fazer o que lá?

R – Costumava só estudar mesmo.

P/1 – Você estuda desde pequeno?

R – Desde pequeno. Já parei agora grande, mas estudei desde pequeno.

P/1 – E as brincadeiras?

R – Ah, eu não tinha tempo pra brincar assim muito não.

P/1 – Mesmo antes do seu pai morrer?

R – Ahãm. Sempre trabalhando, assim, em casa mesmo, fazendo alguma coisa em casa.

P/1 – Como que era seu dia quando você era pequeno?

R – Ah, o meu dia era meio cansativo, tinha que estudar, tinha que olhar as criança.

P/1 – O que...

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Título: Fazendeiros, me escutem!

Data: 31 de outubro de 2007

Local de produção: Açailândia, Ma

Personagem: José Alves de Souza
Autor: Museu da Pessoa

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