Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Arthemisa Freitas Guimarães Costa
Entrevistada por Tereza Ruiz
São Lourenço 10/06/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV025_Arthemisa Freitas Guimarães Costa
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Arthemisa, eu vou pedir pra você dizer pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Arthemisa Freitas Guimarães Costa, eu nasci no dia 28 de abril de 1977, aqui em São Lourenço.
P/1 – E agora o nome completo e, se você lembrar, também data e local de nascimento do seu pai e da sua mãe.
R – A minha mãe é Cássia Maria Junqueira de Souza, ela nasceu em 17 de dezembro de 1953, aqui em São Lourenço. O meu pai é Hergos Duarte Freitas, e eu não sei o local de nascimento e nem lembro agora a data.
P/1 – Tudo bem.
R – Que ele faleceu, eu tinha nove anos.
P/1 – Conta pra gente então o que seus pais faziam.
R – A minha mãe é biblioteconomista, e o meu pai estudou até o último ano de Engenharia Mecânica, mas ele não concluiu o curso.
P/1 – E como eles eram? Como sua mãe era e como seu pai era, do que você lembra, de temperamento?
R – Quando eu nasci, bem pequenininha, nenenzinha, eu fui morar em Belo Horizonte com eles. Que minha mãe ficava só em casa, cuidava de mim, meu pai fazia faculdade de Engenharia. Eles eram assim, bem revolucionários, lutavam contra a ditadura, num movimento de redemocratização. Só que meu pai quando tava no último ano de Engenharia, ele usou uma droga e ficou esquizofrênico. Desencadeou a esquizofrenia e a gente voltou pra São Lourenço, eu tinha três anos. E eles acabaram se separando, mas eu sempre convivi com meu pai. Só que quando eu tinha nove anos, ele faleceu.
P/1 – E como sua mãe é de temperamento, de jeito? Como é a relação de vocês?
R – A minha mãe sempre me ajudou bastante. Quando a...
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Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Arthemisa Freitas Guimarães Costa
Entrevistada por Tereza Ruiz
São Lourenço 10/06/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV025_Arthemisa Freitas Guimarães Costa
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Arthemisa, eu vou pedir pra você dizer pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Arthemisa Freitas Guimarães Costa, eu nasci no dia 28 de abril de 1977, aqui em São Lourenço.
P/1 – E agora o nome completo e, se você lembrar, também data e local de nascimento do seu pai e da sua mãe.
R – A minha mãe é Cássia Maria Junqueira de Souza, ela nasceu em 17 de dezembro de 1953, aqui em São Lourenço. O meu pai é Hergos Duarte Freitas, e eu não sei o local de nascimento e nem lembro agora a data.
P/1 – Tudo bem.
R – Que ele faleceu, eu tinha nove anos.
P/1 – Conta pra gente então o que seus pais faziam.
R – A minha mãe é biblioteconomista, e o meu pai estudou até o último ano de Engenharia Mecânica, mas ele não concluiu o curso.
P/1 – E como eles eram? Como sua mãe era e como seu pai era, do que você lembra, de temperamento?
R – Quando eu nasci, bem pequenininha, nenenzinha, eu fui morar em Belo Horizonte com eles. Que minha mãe ficava só em casa, cuidava de mim, meu pai fazia faculdade de Engenharia. Eles eram assim, bem revolucionários, lutavam contra a ditadura, num movimento de redemocratização. Só que meu pai quando tava no último ano de Engenharia, ele usou uma droga e ficou esquizofrênico. Desencadeou a esquizofrenia e a gente voltou pra São Lourenço, eu tinha três anos. E eles acabaram se separando, mas eu sempre convivi com meu pai. Só que quando eu tinha nove anos, ele faleceu.
P/1 – E como sua mãe é de temperamento, de jeito? Como é a relação de vocês?
R – A minha mãe sempre me ajudou bastante. Quando a gente voltou pra São Lourenço, ela ainda não era formada, não tinha estudado ainda, aí a gente foi morar com a minha avó e ela começou a estudar, fez magistério, começou a trabalhar na Biblioteca Municipal, e depois fez Biblioteconomia. Uma relação boa, ela não tem muitos tabus, é bem resolvida, e atualmente ela é aposentada e mora em Belo Horizonte.
P/1 – Bacana. Conte-me um pouco como era... Não, antes de perguntar isso, eu queria saber se você sabe qual a origem da tua família.
R – Eu sei. A família da minha mãe foi um das fundadoras, na verdade, da cidade de São Lourenço, porque o pai da minha bisavó veio pra cá antes ainda da descoberta das Águas e eles tinham a fazenda, que é ali na Praça da Federal. Agora já demoliu a casa que era sede da fazenda, que era o chalé, e a Praça da Federal era o curral da fazenda. E depois os bairros, cada filho ficou com um pedacinho de terra, que foram os bairros. E a minha bisavó contava até que os viajantes quando descobriram as Águas, os viajantes vinham, as pessoas vinham e pediam até hospedagem na casa dela. E ela casou, o meu bisavô era italiano. Eles vieram da Itália e eles tinham um açougue na estação, mexia com essa parte de carne e tudo. Então é uma família bem histórica aqui de São Lourenço. A família do meu pai, a minha avó é baiana, e o pai do meu pai, eu não lembro exatamente, eu sei que eles vieram pra cá, aqui tem a Eubiose, ele foi um dos fundadores da Eubiose, junto com o professor Henrique. E veio pra cá assim, por conta mesmo da Eubiose, tudo, e ficaram aqui.
P/1 – Ficou.
R – É.
P/1 – Conta um pouco como era a casa em que você passou a infância, como era o bairro, como era a cidade na época.
P/1 – Então, é o que eu te falei, era ali o chalé na Pracinha Federal, e a família, os meus tios, toda a família, quase, morava bem próxima. Era a casa da minha avó que eu passei a minha infância, e morei lá até a vida adulta, na verdade.
P/1 – E como era a casa assim? Descreva um pouco.
R – A casa era... Era não, a casa é. A casa ainda tá lá, é uma casa grande, tem quatro quartos, tem quintal, tinha pé de mexerica. Assim, a casa que a gente tem mais afetividade, lembra mais, é o chalé, que agora já foi demolido. Depois que a minha bisavó morreu, foi vendido e eles construíram um prédio. E lá no chalé tinha jabuticaba, manga, figo, fruta-do-conde. E a gente brincava de circo, colocava serragem, subia na árvore, era muito gostoso.
P/1 – E a cidade, na época, era muito diferente? Como era o bairro? Que região era essa de São Lourenço?
R – É ali na região entre a Federal, quando termina a Federal, e inicia o Centro. Tem uma praça, é a Praça da Federal. E a cidade era bem mais tranquila, a gente brincava na rua, a rua ali não tinha saída, então era bem tranquila mesmo. Tinha poucos prédios ali na avenida principal, que dava para o Parque das Águas, quase não tinha prédio. E era assim.
P/1 – E quais eram... Você citou algumas brincadeiras, quais eram as brincadeiras de infância? Com quem você brincava e do que você brincava?
R – Eu brincava muito com os meus primos. A minha avó é a filha mais velha e a minha mãe é neta mais velha, então na verdade eu não tinha nenhum primo de primeiro grau. Eu brincava e convivia sempre com os meus primos que na verdade eram primos da minha mãe, porque eu era da idade deles. E eu era muito moleca, gostava de correr, brincar de pique. Nunca fui muito de brincar de boneca, arrumar bonequinha, eu gostava era de fazer arte mesmo, subir em árvore, esse tipo de brincadeira.
P/1 – E as refeições na sua casa nessa época? Quem cozinhava? O que vocês comiam? Qual era a base da alimentação?
R – Quem cozinhava era a minha avó. E era comida normal, arroz... Meu avô comia todo dia angu com açúcar e goiabada e leite, às vezes a gente comia um pouquinho também. Arroz, feijão, carne, salada, era basicamente isso.
P/1 – Você tinha um prato preferido?
R – Eu era muito magrinha e não era muito chegada em comida, não. Então às vezes eu chegava da escola, não queria almoçar, minha avó batia um copão duplo de vitamina de banana e eu tomava.
P/1 – E café? Você lembra se vocês consumiam café?
R – Sempre. A gente gostava muito de café. Meu avô sempre fez o café na casa da minha avó. Ele era o primeiro que levantava, ia à padaria, buscava pão, coava o café. E a gente sempre tomou e a gente ainda tem esse hábito, de manhã é café preto com pãozinho com manteiga.
P/1 – E você sabe de onde vinha o café que vocês consumiam?
R – De Carmo de Minas.
P/1 – E como era preparado? Você falou que ele coava, como era a preparação?
R – Ele coava. Às vezes ele trazia os grãos e tinha uma Café Rizza, que tinha aqui em São Lourenço, e ele levava. Às vezes ele trazia o grão mesmo do Carmo, levava lá ao Bar do Ponto também, eles tinham esse serviço, eles moíam o café na hora.
P/1 – Que delícia.
R – É (risos).
P/1 – E esses momentos de refeição na família, como eram? Vocês se reuniam? As refeições eram feitas em conjunto, a família toda? Conta um pouco.
R – Assim, era mais com a minha avó e com meu avô, que eu lembre. Porque minha mãe trabalhava e estudava, então o horário de almoço, eu ia... Minha avó é professora, e eu ia pra escola junto com ela. Então que eu lembro era sempre a gente almoçando, eu, meu avô e minha avó. E depois a gente ia pra escola. Meu avô tinha um caminhão, trabalhava na pedreira, e ele levava a gente de caminhão pra escola e ia trabalhar.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você começou a frequentar a escola?
R – Ah, eu era bem pequena. Eu tinha dois aninhos. Lá em Belo Horizonte ainda. Depois eu vim pra cá e continuei.
P/1 – Quais são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Então, de Belo Horizonte, eu lembro pouco. Aqui em São Lourenço, eu entrei no Colégio das Irmãs, eu devia ter de três pra quatro anos, e tenho a lembrança que foi uma professora que marcou muito a minha vida, que foi a irmã Sirlei, e a gente é amiga até hoje. Hoje ela mora em São Paulo, trabalha lá no colégio... Esqueci o nome do colégio de freiras lá. E sempre que eu vou a São Paulo, eu visito. Ela já morou nos Estados Unidos, a gente trocava carta. E foi a minha primeira professora, que eu amava, e tenho muita lembrança.
P/1 – E por que ela foi marcante?
R – Ah, ela era doce, carinhosa, muito afetuosa, sabe? Era aquela coisa assim que aconchegava mesmo.
P/1 – E o colégio como era? O Colégio das Irmãs, você falou, né?
R – Colégio das Irmãs.
P/1 – Conta um pouco como era, assim, o espaço...
R – Ah, o colégio sempre foi muito gostoso. Tinha bastante espaço ao ar livre, na época que eu era pequenininha lá a quadra ainda não era coberta, tinha um parquinho delicioso, todo gramado, com árvore. Bem gostoso. Eu estudei lá até o jardim. Depois minha avó dava aula numa escola pública muito boa, que era a Nossa Senhora de Fátima, e eu acabei indo com ela porque facilitava. Como minha mãe estudava e tudo, era difícil. E com ela, eu já ia e voltava, era mais tranquilo. Estudei até a terceira série nessa escola. Na quarta série, eu voltei para o Colégio das Irmãs e depois fiz até o magistério lá também.
P/1 – Você tinha uma disciplina favorita, uma matéria preferida?
R – Matemática. Sempre gostei muito de Matemática. Não gostava de Português. Fui gostar de Português no magistério por conta de uma professora também que foi muito marcante, que é uma professora também que tem história aqui na cidade, que é a dona Margarida, e ela me fez passar a gostar do Português. E hoje eu trabalho muito mais com o Português do que com a Matemática.
P/1 – E a dona Margarida foi importante, era marcante, por quê?
R – Assim, a gente teve pouca convivência, mas eu gostava muito dela. Foi só um ano e meio, dois anos no magistério, mas ela foi professora da minha mãe, professora da minha tia, era uma professora antiga. Quando ela me deu aula, ela já era aposentada, já era bem idosa, mas ela era assim, muito especial no tratar, na forma de ensinar.
P/1 – Era uma boa professora.
R – Uma boa professora.
P/1 – E dessa fase de infância, assim, antes de entrar na adolescência, tem alguma história marcante, um causo que tenha que ficado marcado na família ou entre os amigos, uma coisa que você sempre conte, conte para os seus filhos?
R – Não. Assim, quando eu tinha 13, 14 anos, nasceu uma priminha. E assim, eu sempre gostei muito de criança. E eu sempre me relacionava muito com os meus primos, mas eu sempre gostei de relacionar mais com adulto. Da minha idade, eu tinha poucos amigos. E quando essa minha priminha nasceu, eu fiquei apaixonada por ela, era uma amor que até doía assim. E os pais dela me chamaram pra ser madrinha. Eu tinha 13, 14 anos, nem sabia se a igreja ia deixar, e tudo, e acabou que deu certo, eu fui madrinha dela. Então foi assim, uma relação muito forte. É minha única afilhada, na verdade, chama Patrícia.
P/1 – Foi uma coisa...
R – É. E aí foi até eu ter meus filhos, eu casei, ela tá em todas. Ela foi minha daminha de casamento, tá em todas as fotos minhas de casamento e tudo.
P/1 – E nessa passagem pra adolescência, você falou que ficou no Colégio das Irmãs depois até o magistério.
R – Isso.
P/1 – Queria saber o que mudou no seu cotidiano, no lazer, no grupo de amigos, o que você fazia pra se divertir.
R – Então, a gente saía, a gente gostava de tocar violão, de ouvir MPB. Eu tinha poucos amigos, mas assim, umas amizades bem intensas, que eram amigos de verdade, que iam pra cá, iam pra lá. Antes de eu fazer magistério, eu comecei a fazer magistério, mas depois eu falei: “Eu acho que não é isso que eu quero. E quero estudar fora”. E eu comecei a namorar meu esposo com 15 anos. Eu fui pra Belo Horizonte pra começar estudar, fazer o ensino médio lá, mas acabei não aguentando ficar. Eu falei: “Ah, não, quero ir embora, não quero ficar aqui”. E voltei. E voltei para o colégio, fiz o magistério, e namorei dos meus 15 aos 18 anos. Com 18 anos eu fiquei grávida e casei. A gente já pretendia casar, na verdade, porque eu formei o magistério com 17. Só que a gente tava programando, comprando móvel, aquela coisa toda, e aí eu fiquei grávida, e “vamos casar”, e adiantamos um ano o casamento.
P/1 – Vou te perguntar depois como você conheceu o seu esposo, mas queria saber um pouco... Nessa fase de adolescência, vocês iam pra festa? Tinha bares aqui em São Lourenço? O que era diversão? Tocava violão onde?
R – A gente tocava em casa. A gente tinha o grupo de amigos e às vezes a gente ia pra barzinho, pra algum lugar, mas a gente gostava muito de reunir nas casas dos amigos. A gente reunia pra jogar Imagem & Ação, eles jogavam truco, faziam churrasco, mais nas casas mesmo dos amigos.
P/1 – E o que vocês gostavam de ouvir? O que você gostava de ouvir?
R – Milton Nascimento, Chico Buarque, Maria Bethânia. Mas meu cantor favorito é o Milton.
P/1 – E tinha uma canção preferida nessa época que tenha sido marcante? Ou uma canção especial?
R – Olha, eu gosto muito Nos bailes da vida, já gostava também, Paulo e Bebeto, mas assim, são muitas canções, a gente ouvia bastante.
P/1 – Então conta como você conheceu o seu marido. Foi o seu primeiro namorado?
R – Foi. Meu primeiro namorado. Assim, já tinha paquerinha de sair, tal, tal, tal, mas namorado mesmo, foi meu primeiro namorado. Na verdade, a minha prima namorava um amigo dele e eles tinham uma loja ali, que toda vez que eu ia pra escola, eu passava em frente à loja e ele tava sempre na porta. E eu sentia que às vezes ele dava uma olhadinha, e aí um dia falei com a minha prima, ela também falou com o amigo, ele falou: “Ah, to interessado, tal”. E ele me chamou pra sair, a gente saiu e começou a conversar e namorar.
P/1 – Vocês namoraram três anos, foi isso?
R – Três anos.
P/1 – E como foi o namoro? O que vocês faziam juntos? Conta um pouco.
R – A gente gostava bastante de sair, o pai dele tinha uma caminhonete, que a gente chamava de jubiraca, aquelas caminhonetes bem antigonas. E a gente ia pra São Thomé, a gente ia pra rancho, saía com o pessoal, com os amigos. Era assim.
P/1 – Passeavam pela região assim?
R – Passeava pela região. Gostava muito de sair final de semana, comer sanduíche. Que aqui tinha uma lanchonete, que era o Mickey, e eles faziam uns sanduíches supergostosos, aí todo final de semana a gente saía do trabalho sexta-feira, ele, a gente ia lá para o Mickey, comia sanduíche, depois começava o final de semana.
P/1 – Deixe-me te perguntar outra coisa, nessa época você só estudava ou você já... Em que momento você começa a trabalhar? No magistério ou só depois do magistério?
R – Então, eu me formei, eu tinha 17 anos, no magistério.
P/1 – Durante o magistério, você trabalhou, ou não?
R – Não, eu dava aula particular. Ajudava na escola assim, todos os conteúdos. O próprio colégio indicava, eu tinha alguns alunos fixos que eu ajudava a fazer tarefa, dava uma explicaçãozinha das matérias, aquela coisa mais do dia a dia mesmo. Com 17 anos eu me formei, em dezembro, em fevereiro eu consegui um contrato na prefeitura de auxiliar de biblioteca. Eu passei de fevereiro a dezembro trabalhando numa escola lá no Carioca, que chama Doutor Emílio, na biblioteca, de auxiliar. Em fevereiro eu comecei a trabalhar, em março eu fiquei grávida. Eu trabalhei até novembro, em novembro meu filho nasceu. Quando foi no ano seguinte, que o Gabriel já tinha nascido, eu consegui um vaga de professora aqui na Escola Ismael Junqueira, que é a escola que eu trabalhei depois por 18 anos. Eu vim pra cá pra uma turminha de primeira série, de alfabetização. O Gabriel era pequenininho, eu peguei essa turminha na Ismael e comecei a fazer faculdade à noite.
P/1 – Esse primeiro trabalho, de auxiliar de biblioteca, que você teve, você lembra o que você fez com os primeiros salários? Se você comprou alguma coisa que você desejava muito? Como você gastou os primeiros salários?
R – Então, o que aconteceu? Eu comecei a trabalhar em fevereiro, aí em março eu descobri a gravidez, aí eu casei no dia 28 de abril, que foi no dia do meu aniversário de 18 anos. Então, assim, eu acho que todo o salário foi pra casamento, pra gastos assim. Eu já sabia também que eu tava grávida, começar a comprar enxovalzinho. Foi isso.
P/1 – E como foi que você descobriu a gravidez? Conta um pouco como foi essa descoberta, como foi esse momento.
R – Eu comecei a passar mal e tudo, e essa minha prima, que é muito amiga minha, a Débora, ela morava em Itajubá, eu falei: “Débora, eu to passando mal, eu acho que posso estar grávida, minha menstruação atrasou e tal”. Ela falou: “Ah, vem aqui em Itajubá”. E meu tio era bioquímico aqui o hospital. Então eu falei: “Eu não tenho coragem de fazer exame aqui em São Lourenço em lugar nenhum, porque meu tio é bioquímico, a cidade é pequena, eu tenho medo de ele ficar sabendo antes de mim”. Ela falou: “Não, vem aqui pra Itajubá, tem um laboratório aqui, você faz o exame aqui”. A gente pegou o carro do pai dela, na época eram Corcel, emprestado, e a gente foi pra lá, eu e com o que hoje é meu esposo. Fiz o exame lá, deu positivo, voltei descabelando. Eu falei: “Ah, meu Deus, e agora?”. E contei.
P/1 – Contou pra sua família?
R – Contei.
P/1 – E como foi?
R – Ah, minha mãe ficou... Levou um choque, porque ela não esperava que acontecesse isso, queria que eu estudasse primeiro. Eu tava no primeiro ano da faculdade, começando a vida e tal. Mas foi só naquele momento também, depois foi tudo dando certo.
P/1 – Como é o nome do seu esposo?
R – Adalberto.
P/1 – Adalberto. Você saiu do magistério e já prestou vestibular? Como foi isso? Como foi sua decisão de fazer a faculdade e como você escolheu o curso? Já tinha tudo a ver, mas...
R – Então, na verdade, eu não comecei fazendo Pedagogia. Eu fiz magistério e comecei fazendo Administração. Porque tinha muito aquela coisa assim: “Ah, faz um curso que depois você vai poder fazer um concurso bom, e tal, tal, tal”. Aí acabei fazendo. Fiz dois anos de Administração.
P/1 – Aqui em São Lourenço mesmo?
R – Aqui em São Lourenço. Era a única faculdade que tinha aqui, que na época era a Faculdade Santa Marta. Enquanto tava na parte da Administração de mais Matemática, Contabilidade, eu tava gostando. Quando terminei a metade do curso, começou aquela parte de Marketing, de... Aí eu já fui desinteressando, falei: “Ah, não é isso que eu quero”. E eu já tinha começado a trabalhar na escola também, já tinha tido a experiência na biblioteca e na sala de aula, comecei a fazer cursos na área da educação. Eu falei: “Ah, não é isso que eu quero”. Eu falei: “Olha, mãe, não quero Administração, vou passar pra Pedagogia”. Eram os dois cursos que tinham aqui. Fui, conversei com a diretora da faculdade, nenhum semestre eu consegui levar, só quatro matérias, e aí fiz Pedagogia. Fiz mais dois anos e meio de Pedagogia.
P/1 – E como foi a faculdade de Pedagogia?
R – Eu gostei bastante. Assim, eu reencontrei muitos colegas. A gente fazia disciplinas separadas, então colegas que a gente sempre estudou junto. E apesar de a faculdade ser aqui em São Lourenço mesmo, eu tive ótimos professores. A maioria dos professores muito bons. E eu aprendi bastante, gostei muito do curso de Pedagogia.
P/1 – Você trabalhou no Ismael todo o tempo em que você fazia o curso de Pedagogia?
R – Todo o tempo. Só no primeiro ano, que eu fazia Administração, eu tava na Doutor Emílio. Quando eu fui pra Ismael, eu ainda tava na Administração, depois eu passei pra Pedagogia. Quando eu terminei a faculdade de Pedagogia, que foi em 99, saiu o concurso da prefeitura. Porque até então a gente era contratado. No final de 99 saiu o concurso. Eu falei: “Bom, eu vou fazer de manhã” – era pra professora. E à tarde eu poderia fazer pra supervisora pedagógica. Aí eu fiz. Fiz de manhã, estudei bastante pra passar no de professora, que eu tinha que garantir meu cargo, e almocei, à tarde voltei, tentei pra supervisão também. Aí passei nos dois. Quando saiu o resultado, eu tinha que optar. Na época, eles não permitiram o acúmulo de cargos. Eu optei pela supervisão. Meu diploma nem tinha ficado pronto, eu fui com uma amiga que tinha passado também lá em Juiz de Fora, Faculdade de Juiz de Fora, pra buscar o diploma, pra conseguir apresentar na época da documentação do concurso. E aí comecei como supervisora lá na escola mesmo.
P/1 – Na Ismael?
R – Na Ismael.
P/1 – Tá. Deixe-me só voltar um pouquinho. Antes de falar um pouco do seu trabalho como supervisora, eu queria saber como foi o seu casamento, primeiro.
R – Então, como eu te falei, eu comecei a namorar com 15 anos, muito novinha e tudo. E a gente se gostava muito, mas tinha muito ciúme, principalmente do meu esposo. E ele era bem ciumento e tudo. E a gente viveu bem. Quando meu primeiro filho tinha cinco anos, a gente se separou, por essa questão mesmo de ciúme e tal. Ficamos separados um ano e meio. Divorciamos no papel e tudo. Mas acabamos voltando a conversar, a gente se relacionava por conta do filho também e aí a gente acabou voltando. E a gente voltou e programou, depois de... Quando o Gabriel já tava com dez anos, a gente programou o segundo filho, que foi o Emanuel, que hoje tem oito anos.
P/1 – E o casamento de vocês mesmo, assim, um pouco a cerimônia. Vocês fizeram uma cerimônia religiosa? Teve festa? Como foi isso?
R – Então, na época, o padre aqui de São Lourenço tava fazendo casamentos coletivos. Ele resolveu implantar isso aqui. E como foi tudo muito rápido, a gente acabou entrando nessa. Eu acho que a gente casou com mais quatro casais. Uma semana antes, eu casei no civil, no dia do meu aniversário de 18 anos. Casei na casa da minha avó mesmo, a casa que eu fui criada, e a gente fez uma cerimônia mais assim para os padrinhos, pra família mais próxima. E no sábado seguinte, eu participei do casamento coletivo na igreja matriz. Que, assim, eu acho que por ter sido coletivo, eu não achei muito bom, não, porque tinha muita gente que não tinha nada a ver com a gente. A igreja tava cheia, mas de gente que a gente não conhecia direito. Mas foi assim.
P/1 – Mas faz ao mesmo tempo, casamento coletivo?
R – É.
P/1 – Como é? Conta...
R – Eu acho que acabou isso. Não sei se não deu certo, eu sei que entrei nessa. Entrava uma noiva, depois a outra noiva, acho que três, quatro noivas. Ficavam no altar as noivas todas com os esposos, e o padre fazia o casamento. Então, quer dizer, a igreja muito cheia, porque tinha ali cinco pessoas casando, mas um monte de gente que não tinha muito a ver com você.
P/1 – E vocês fizeram festa depois?
R – Depois do casamento da igreja, não. A gente fez a festa no civil, que foi uma semana antes. Depois que a gente casou, a gente foi pra lua de mel, que foi aqui pertinho também, num hotel fazenda ali em Pouso Alto. Mas que também eu tava passando muito mal da gravidez, então foi penosa a lua de mel.
P/1 – Porque tava nos primeiros meses, né, que são mais...
R – É. É.
P/1 – E como foi o nascimento do seu primeiro filho? Conte-me assim, como foi o parto, como foi a sensação de vê-lo pela primeira vez.
R – Então, ele nasceu, na verdade a cesárea foi programada. O médico falou assim: “Amanhã, dez e pouco da manhã, você vai para o hospital, que a gente vai fazer um exame”. Na verdade foi assim. Eu fui. Cheguei ao hospital, ele falou: “Vamos?”. Eu falei: “Vamos aonde?”. Ele falou: “Ter esse neném?”. Eu não tinha levado mala, não tinha levado nada. Eu falei: “Nossa, mas você falou que era um exame”. Ele falou: “Não, eu falei só pra você não ficar assustada, mas vai lá rapidinho, pede pra alguém ir lá pegar as coisas”. Eu já tinha deixado as coisas separadinhas, eles foram. Foi tranquila a cesárea. A melhor sensação do mundo é quando tira o neném e coloca aquele rostinho quentinho, você sente aquela pele quentinha. Maravilhoso.
P/1 – E como foi ser mãe?
R – Então, eu tinha 18 anos, era muito nova. Eu tinha essa facilidade, gostar muito de criança, aquela experiência que eu te falei com aquela afilhadinha quando eu era... Assim, os pais dela, eu dormia na casa deles, à noite eu cuidava dela pra eles dormirem. Então eu já tinha assim, sabia trocar, dar mamar. Não foi aquele susto. Eu praticamente brinquei um pouco de boneca. Mas, assim, foi muito tranquilo. Bem pequenininho, eu já coloquei na natação, atravessava a cidade de bicicleta com ele na cadeirinha da bicicleta pra levar pra levar pra natação. Com um aninho, ele já mergulhava comigo. Foi assim, bem aventura mesmo. Tinha o maior pique, dançava, pulava, brincava, pintava no muro. Tinha um quartinho lá da casa, que era de passar roupa, deixava pintar a parede, rabiscar a parede, fazer tudo que queria.
P/1 – Vocês foram morar onde logo que vocês casaram?
R – Então, logo que a gente casou, a gente foi morar primeiro... A gente morou um pouco com a minha avó. Depois, na parte debaixo da casa da minha avó tinha outra casa, aí a gente morou lá um tempo com a minha mãe, que era onde tinha esse quartinho. É uma casa também que eu morei um pouco da minha infância. Porque nessa casa debaixo, quando meu tio foi estudar fora, minha avó precisou alugar a casa de cima pra mantê-lo na faculdade, e aí a gente mudou pra casa de baixo. Então parte da minha infância, eu passei nessa casa também. Moramos lá um pouco, depois a gente mudou, alugou uma casa e tal. Foi assim.
P/1 – Conte-me... Eu vou voltar então pra esse momento que você começa a trabalhar como supervisora. Queria que você me contasse como foi esse início de trabalho como supervisora. O que é exatamente o trabalho de uma supervisora na escola? E como foi sua experiência?
R – Então, eu trabalhei quatro anos como professora lá na Ismael. E nessa época, nesses últimos dois anos que eu tava como professora, a gente teve uma diretora muito boa, que foi a Maria Antônia, que assim, mudou a cara da escola, muito envolvida, muito dedicada, e eu sempre a observava muito. E a escola não tinha supervisora na época. Quando a Maria Antônia entrou na escola, ou ela teria uma vice, ou ela teria uma supervisora, e na época ela optou por ter uma vice. E, assim, ela fazia a parte da supervisão, mas ainda faltava um pouco, porque não tem como ser diretora e dar conta de tudo na supervisão. E eu sempre observando, sempre trazendo ideia, alguma coisa da faculdade, tal, tal, tal. Então quando eu terminei o curso e houve a oportunidade do concurso, ela falou assim: “Ah, faz, se você conseguir, você vem pra cá”. E foi isso que aconteceu mesmo, eu fiz o concurso, passei, e fui trabalhar lá com ela. Ela me ajudou bastante. E a gente sempre quis levar muita cultura para as crianças, a gente sempre quis fazer algo diferente, sabe? Que a escola marcasse mesmo a vida das crianças, que fosse um diferencial para as crianças. Porque na escola, a gente tinha um público muito diferenciado. A escola surgiu... Na verdade, a escola chama Escola Municipal Ismael Junqueira de Souza. O Ismael Junqueira de Souza é irmão da minha bisavó. Aquela história que eu te contei dos irmãos, cada um ficou com um pedacinho, ele ficou com as terras aqui da Federal. E ele doou o terreno, na época, pra prefeitura construir a escola. Ele doou o terreno tanto da rodoviária, quanto ali da escola. Porque ele tinha os funcionários da fazenda e a escola mais próxima ficava muito longe da fazenda. Então, na verdade, a escola começou com um público rural, da zona rural. Na verdade, não foi nem ele que doou, foi a família dele. Acho que na época ele já tinha falecido. Então a escola sempre teve essa característica, que atendia crianças da zona rural e atendia as crianças da cidade. Então a gente sempre teve vontade de fazer projeto de cultura, de teatro, de viagem, pra que essas crianças tivessem a oportunidade de conhecer, de ter acesso a essas coisas. E a equipe sempre foi muito boa. Então a Maria Antônia conseguiu fazer essa união, a equipe trabalhar de forma bem cooperativa, e a gente veio acrescentar mesmo. Trabalhando com o colegiado escolar, montando o projeto pedagógico da escola com os próprios professores. Que foi nessa época que antes... Assim, às vezes até hoje acontece, não sei, de a escola pegar um projeto pronto de outra escola, copiar. Não acontece tanto mais, mas era muito comum na época que “ah, a escola agora tem que montar o projeto político-pedagógico e tudo”. E a gente conseguiu fazer isso com o grupo, pra que eles realmente sentissem assim, que pertenciam, trazer a comunidade pra escola, trabalhar junto. Foi isso. O trabalho da supervisão, basicamente, é cuidar do planejamento, da avaliação, junto com os professores. Estar monitorando, trazendo projetos mesmo, enriquecendo o trabalho da escola.
P/1 – Qual a faixa etária que o Ismael...
R – Da educação infantil até o quinto ano.
P/1 – Educação infantil e Fundamental I.
R – É de quatro anos, e o Fundamental I, que vai até dez anos, às vezes fica até 12, dependendo da criança.
P/1 – Conte-me um pouco como que... Nesse contexto agora que você explicou pra gente, como começou o relacionamento com a Nestlé assim? É o Programa Cuidar que vocês tinham um...
R – É. Na verdade, a primeira parceria foi com o Programa Nutrir, que era um programa de alimentação saudável. Esse programa, eu não participei muito, porque foi justamente na época que o meu segundo filho nasceu, o Emanuel, então eu saí de licença. Mas eu sei que tinha um material didático que eles forneceram, tinha curso de capacitação para os professores, e os professores desenvolviam o projeto na escola com alimentação saudável, com receitas com as crianças, trabalhando mesmo essa questão da alimentação. No segundo projeto, eu já tava na escola. Eu não lembro se eu tava no último ano da supervisão ou se eu já tinha sido eleita diretora. O Projeto Cuidar foi muito legal, porque veio uma equipe e trabalhou a questão das brincadeiras infantis, resgate das brincadeiras, das cantigas de roda. E teve um curso muito bom para os professores, que a gente fez lá no Parque das Águas, todo de vivência, de ter contato com a terra, contato com semente, resgatar as brincadeiras, trabalhar em roda. E tudo que foi desenvolvido com os professores, com a equipe da escola, na verdade tinha acho que quatro representantes da escola, depois a gente voltava pra escola e multiplicava com todos os funcionários e com todos os professores. E depois de trabalhar com os funcionários e professores, a gente fazia o projeto com as crianças. Então a gente fez o projeto com as crianças, com os pais das crianças. Então cada dia foi uma família com os filhos para o Parque das Águas e a gente fez todo o trabalho lá no bosque, brincando na terra, fazendo casinha de graveto, foi muito gostoso mesmo.
P/1 – Essa formação que você falou, que você descreveu agora, no Parque das Águas, que foi com algumas pessoas da escola, quem participou da escola e quem participou da Nestlé? Queria entender quem são as pessoas envolvidas mesmo. Não digo nem os nomes, necessariamente, mas assim, qual era a função dessas pessoas.
P/1 – Então, da escola foram, assim, as pessoas... Eu acho que tinha... Eu não lembro exatamente se eram três ou quatro vagas. Foi a supervisora, um professor da tarde e um professor da manhã. Da Nestlé, eu lembro até... A Delsin e tinha outro. Eles vieram acho que contratados mesmo. Eles trabalhavam com essa questão. Eles são autores de livros, artigos, trabalhavam com a questão da educação ambiental e com as brincadeiras antigas, então eles vieram fazer esse trabalho com os professores, com os educadores da cidade. E foi aberto não só para as escolas municipais, como para as estaduais também. Então lá no grupo tinha professores de várias escolas.
P/1 – Era um grupo grande?
R – Ah, era um grupo grande, de 30, 40 pessoas.
P/1 – Descreva um pouco como foi, qual era a dinâmica, o que vocês fizeram. Como foi essa formação?
R – Então, era muita dinâmica, eles entregaram também um material riquíssimo de apostila, de livros, e era muita interação. Que eu te falei, era brincando mesmo, brincar com a terra, brincar com o graveto, brincar com a semente, muita brincadeira de roda, de cantiga. Que o objetivo era despertar o amor mesmo pela natureza. Então assim, no contato, na vivência, sabe? Não tinha tanto “ah, precisa preservar, precisa isso”. Não, era viver mesmo. Através da vivência, despertar esse cuidado.
P/1 – Sensibilizar. Um trabalho de sensibilização assim.
R – Sensibilizar. Exatamente. É.
P/1 – E depois você multiplicava isso dentro da sua...
R – A gente multiplicava na escola, primeiro para os funcionários, e depois com os professores. E os professores trabalhavam com as crianças. A gente também no recreio, porque, por exemplo, lá na escola, sempre no início da aula a gente reúne, aí a gente canta antes de ir pra sala. A gente canta, a gente conversa, tal, tal tal. Aí a gente passava a cantar as brincadeiras, brinquedos cantados. Então tinha uma parte que a gente mesmo fazia, que tinha feito o curso, eu na supervisão, na direção, a gente fazia em geral com as crianças, e depois o projeto específico de cada sala trabalhando. Que era um projeto da escola, mas cada professor trabalhava com a sua sala. E foi aí que a gente decidiu envolver os pais. Então todos os pais, naquele ano, participaram do projeto, foram convidados, e cada dia era uma família com as crianças que iam ao parque, que sentavam, que brincavam. A gente tem tudo registrado.
P/1 – Você lembra alguma dessas... Só te interromper. Por curiosidade, você lembra alguma dessas cantigas de roda? Você se lembra de alguma delas?
R – Lembro. Lembro.
P/1 – Você cantaria um trechinho (risos).
R – A gente... (risos) Tem uma que é assim... É em roda, a gente brinca: “Pom, pom, pom. Quem será? Dona Mariquinha. Pode entrar. Olê, olê, olê. Olê, olê, olá. Olê, olê, olê. Olê, olê, olá. Oi ‘cumpadi’. Oi ‘cumadi’. Smack, smack, smack”. A gente fazia assim primeiro. Depois, em roda, a gente abria, dava a mão para o amigo, aí brincava: “Pom, pom, pom. Quem será?”. E aí fazia na roda. E tinha outras. Muito assim, muito movimento, expressão corporal, risada. Assim.
P/1 – Conte-me um pouco como foi, depois desse momento que vocês tiveram a formação, esse grupo menor, e vocês foram multiplicar isso dentro da escola, como foi a recepção disso por parte dos funcionários da escola. Eram só os professores que participavam ou tinha mais funcionários envolvidos?
R – Não. Quando a gente levou pra escola, a gente convidou todos os funcionários. Lá na escola, a gente tem muito essa característica, de trabalhar com projeto e de envolver todo mundo. Porque a gente sempre considerou que todo mundo que tá dentro da escola é um educador. Você trabalhar na limpeza da escola não é a mesma coisa de você trabalhar na limpeza de um restaurante. Não, você tá limpando, você tá tendo contato com a criança, você tá educando aquela criança. A forma como você conversa com a criança, que você pede pra criança colocar o lixo dela no lugar certo. A mesma coisa da merendeira. A cozinheira da escola, é totalmente diferente a forma como ela recebe a criança, que ela entrega o alimento pra criança. Então a gente sempre teve essa concepção de que todo mundo ali tá educando. Então a gente sempre envolvia todo mundo nos projetos. E a recepção foi muito boa, porque era muita alegria, muita espontaneidade. Acho que todo mundo precisa um pouco disso, de se sentir acolhido, envolvido. Então foi bem legal.
P/1 – E nesse momento, vocês tinham a presença de alguém da Nestlé, ou esse momento era um momento só de vocês com a comunidade escolar?
R – Não. Na escola, o momento era só nosso com a comunidade escolar.
P/1 – Só pra eu entender, em termos de conteúdo, era tudo ligado à educação socioambiental, era isso?
R – Tudo. É. Quando chegou à escola, a gente sempre fazia um projeto. O projeto de repente era do bimestre. Aí era bem interdisciplinar. Em todas as matérias, a gente selecionava temas que dessem pra trabalhar com o Cuidar. E a gente fez um projeto que no ano seguinte, eu acho que foi no ano seguinte, eles fizeram um concurso. Logo depois que acabou, eles fizeram um concurso, o Cuidar. Fizeram aqui e parece que fizeram em Ubatuba também, que é outra cidade que teve o programa. E tinha várias escolas aqui que tinham projetos ambientais até melhores que o nosso, porque o espaço físico da escola, assim, é pouca parte área verde. A gente fez um projeto de reciclagem, de separar o lixo, tudo. E a gente acabou ganhando. Foi assim, uma surpresa. E quando eles falaram que a escola... Que eles deram a notícia e foram à escola dar o prêmio, eles falaram que o que sensibilizou foi justamente o envolvimento de todo mundo. Que não era um projeto isolado de uma professora de Ciências, ou um projeto isolado de uma pessoa envolvida com as causas ambientais. Era um projeto que conseguiu sensibilizar todos os funcionários, envolver os alunos e envolver as famílias. Que na verdade, essa é uma característica da escola, é esse envolvimento da comunidade escolar na escola.
P/1 – Conte-me um pouco sobre o projeto que vocês fizeram, como ele foi elaborado, como ele foi implementado, quais eram as pessoas envolvidas, como elas estavam envolvidas.
R – Então, o projeto era de reciclagem do lixo. E as crianças levavam o lixo, a gente separava o lixo na escola. E gente depois vendia o lixo, eles iam buscar uma... Porque não há coleta seletiva de lixo em São Lourenço. Então naquela época eles estavam querendo implantar e tinha um determinado dia da semana que eles buscavam o lixo na escola. E as crianças levavam muito lixo. E lá na própria escola mesmo, eles tinham essa... A gente fez uma patrulhazinha, umas crianças que ajudavam a coordenar, ensinavam os coleguinhas menores onde jogava o lixo, e também cuidar da escola e dos arredores da escola. Então na rodoviária tem um muro de alambrado com a escola e tem um jardinzinho, as crianças circulavam ali com o professor de Educação Física, faziam a limpeza ali, colocam luvinha, faziam a limpeza ali do ambiente e tudo. E, além disso, tinha as ações de ir ao parque, de trabalhar com elementos da natureza, desenvolver trabalhos artísticos, de levar a família. Basicamente isso.
P/1 – Essa questão do projeto do lixo, você falou que as crianças levavam o lixo. Elas levavam de casa?
R – De casa. Eles levavam o lixo de casa. Então, assim, a gente mandou, explicou para as famílias e tudo, e a gente tinha lá os latões e eles levavam de casa mesmo. Chegavam com a sacolinha do lixo de casa, que como eu te falei, não tinha coleta seletiva na cidade, e eles levavam o lixinho, separavam lá, e o caminhão buscava.
P/1 – Como vocês encaminhavam esse lixo classificado?
R – Eles buscavam. Eles que compravam, eles tinham o caminhão e eles iam lá e buscavam.
P/1 – Era uma cooperativa?
R – Era uma cooperativa. Que eu acho que a Nestlé também deu um apoio na época, não lembro. Dessa parte eu já não sei. Mas eu acho que tinha também relação com essas cooperativas de reciclagem.
P/1 – Você lembra o nome, ou não, da cooperativa?
R – Não lembro. Mas era bem próximo ali da escola.
R – Que bacana.
P/1 – É.
P/1 – E essas ações de... Eu queria que você contasse um pouquinho, desenvolvesse um pouco essa questão do envolvimento da família dentro do programa e dessas ações no parque, de sensibilização, que aí vocês que faziam. O que era exatamente? O que era feito? Dê uns exemplos de algumas atividades.
R – Então, na verdade, a gente ia para o parque com as crianças e desenvolvia brincadeiras. Sabe? Eram assim, momentos de carinho entre os pais e as crianças relacionados com a natureza. Então eles iam para o bosque... Eu tenho algumas fotos. Eles sentavam com as crianças, montavam casinhas de gravetos, iam para o parque, brincavam de roda. Era bem assim, essa integração da família num ambiente nosso aqui, que é o Parque das Águas, bem natural.
P/1 – E durante o programa e os projetos que vocês foram desenvolvendo dentro da escola, o que você sentiu de transformação? Se você sentiu alguma transformação nessa questão da educação ambiental mesmo. Com as crianças, com os pais, com a comunidade escolar, e que tipo de mudanças.
R – Então, as crianças, eu acho que elas se envolvem, assim, estão ligadas. Você falou, você explicou, elas estão sedentas por fazer diferente e tudo. O que eu sinto, assim, a gente ainda não tem uma infraestrutura de cultura mesmo, sabe? Que já podia ter avançado bastante nessa área. Assim, poderia ter coleta seletiva, poderia... E na verdade, ainda não existe. Então eu acho que são ações da educação que potencializam muito uma mudança de atitude, mas em contrapartida, às vezes a infraestrutura que precisa pra dar continuidade nas ações ainda falta. Sabe? Então é sempre um recomeçar, na verdade, porque não fica natural. Por exemplo, se a gente tivesse uma coleta seletiva, ia dar continuidade àquela ação. Mas de repente é uma ação que acontece na escola e que depois não tem continuidade no dia a dia da pessoa.
P/1 – Mas em termos de consciência assim, você sente que... De conscientização mesmo.
R – Ah, com certeza.
P/1 – Como você sente isso assim? Você acha que teve alguma mudança?
R – Teve.
P/1 – Pensando no antes e no depois mesmo.
R – Teve. Teve muita. Assim, as próprias crianças querem, se sentem incomodadas, sabem fiscalizar, sabem, querem fazer diferente.
P/1 – Você se lembra de alguma história, dentro desse contexto do programa, que envolva a criança, ou professor, enfim, alguma história que tenha sido marcante?
R – Ah, não tem uma história específica. O que eu acho marcante é que você propõe aquilo para as crianças e as crianças entendem a necessidade de aquilo acontecer e elas vestem a camisa mesmo. Então elas levam, elas vão até o fim, elas se envolvem. Eu acho que isso é muito legal na criança.
P/1 – Em que ano começou o Programa Cuidar, especificamente?
R – Eu acho que foi em 2008. Foi em 2008.
P/1 – E ele tem um tempo de programa, ou ele tá ativo até hoje? Como funciona?
R – Não, ele... Assim, foi dada a capacitação e tudo e a gente desenvolveu. Não tem um tempo. Sabe? Depois teve esse concurso, que acho que foi em 2009 e aí não teve uma nova ação. Não em relação ao Cuidar. A gente teve depois outras parcerias na área de cultura, de teatro e tudo.
P/1 – Tá. Mas você acha que essa formação do Cuidar e o desenvolvimento dentro da escola deixaram ações que...
R – Uma sementinha, eu acho.
P/1 – Ah, é isso que...
R – É.
P/1 – E na questão dos pais? Como era esse envolvimento com os pais? Era fácil chamá-los pra dentro da escola? Tinha certa resistência?
R – Não. Não tinha resistência. Assim, a gente não chamava... A gente não pode chamar tão frequentemente, porque a gente sabe do trabalho e tudo. Mas assim, todas as vezes que a gente chamou foram planejadas, avisadas com antecedência. Os pais sempre se envolveram demais. É uma característica, como eu te falei, da escola, esse envolvimento das famílias. Agora, a frequência não pode ser muito grande por conta dos afazeres mesmo da vida.
P/1 – Eles não têm tanta disponibilidade assim.
R – É. Mas todas as vezes que a escola chama, eles participam bastante.
P/1 – E pensando assim nos pais e na comunidade da escola, você acha que teve... Não sei se você lembra também de algum fato nessa questão da consciência, do aprendizado mesmo, de consciência ambiental. De descoberta. Então de repente você mesmo, pessoal, teve alguma coisa durante esse processo do programa que você tenha aprendido?
R – Então, o que eu achei muito legal, que a gente saiu um pouco daquela questão do discurso, de falar de educação ambiental, de “tem que isso, tem que aquilo”, pra prática, pra vivência. E, principalmente, essa questão afetiva, de sensibilizar, de estar ligando mesmo à questão da afetividade, da brincadeira, do lúdico. Eu acho que isso ficou muito forte.
P/1 – E você acha que isso é mais eficiente?
R – Eu acho. Eu acho mais eficiente.
P/1 – Porque é uma vivência, é isso?
R – É uma vivência. Exatamente.
P/1 – Entendi. Queria que você falasse um pouco... Bom, a gente vai encaminhando um pouco para as questões finais assim. Mas antes disso, eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não perguntou, que você gostaria de acrescentar.
R – Então, tem uma parceria que a gente desenvolveu também, que foi a questão do teatro na escola. Lá na escola, a gente sempre gostou muito de trabalhar com teatro, com dança. A gente tem vários projetos na escola de atividades no contraturno, que a própria comunidade escolar viabiliza, a gente aluga placa, faz eventos. E a própria comunidade, as crianças têm aula de música, tem um coral, tem aula de teatro, fanfarra, tudo que a própria comunidade arca. E nesse projeto de teatro, a gente procurou uma parceira e conseguiu, que foi do patrocínio da peça em relação às fantasias, ao cenário. E a gente já desenvolveu, a gente participa do Festival de Artes Cênicas. Durante todo o tempo que o festival foi por premiação de primeira colocação, segunda colocação, a escola sempre obteve vários troféus de melhor peça, melhor ator, melhor figurino. Depois acabou, virou só uma mostra. E a gente sempre teve essa parceria. A gente fez Os Saltimbancos, depois a gente fez O Pequeno Príncipe, um musical O Pequeno Príncipe, O Mágico de Oz, e o ano passado a gente fez Dom Quixote.
P/1 – Com quem é a parceria?
R – Com a Nestlé. Com o Parque das Águas.
P/1 – Com a Nestlé. Ah!
R – É. Com o patrocínio das fantasias e do cenário.
P/1 – E qual é esse festival que hoje em dia é mostra?
R – Festival de Artes Cênicas de São Lourenço. A gente teve acho que quatro anos de parceria no festival.
P/1 – E esse festival é promovido pelo município?
R – Pelo município, pela Casa da Cultura em parceria com a Secretaria de Educação. Ele é aberto às escolas e às entidades, então escolas públicas, estaduais, particulares, entidades, quem quer participar. Todos recebem convite. E é uma semana de festival, atualmente acontece num clube, eles alugam um clube, tudo, e é muito bacana. Então, assim, é uma coisa que a gente gosta muito na escola. Depois a gente sempre apresenta no Parque das Águas. Depois que passa o festival, mais no final do ano, a gente marca um dia e apresenta lá na Catedral de Bambu para os turistas, convida escola também. É um projeto muito bacana.
P/1 – E como... (corte no áudio).
R – [...] é Teatro na Escola.
P/1 – Teatro na Escola.
R – E o Teatro na Escola é assim, ele começa em março, tem os professores que trabalham, que a comunidade escolar paga, e quando chega em agosto, o tema do projeto é o teatro. Então na biblioteca, os alunos... Há todo um contexto, por exemplo, O Pequeno Príncipe, na biblioteca eles estudam a biografia do Exupéry, contextualiza a França. Se é O Mágico de Oz, contextualizou também o autor, a cultura, tudo isso. Aí trabalha na biblioteca com a história de diversas formas. Se tem filme, a gente trabalha o gênero do filme, se tem livro, eles fazem um resumão da história ou contam a história. Na sala de aula, os professores contam o livro mesmo através de novela, um pouquinho a cada dia, a cada semana. E no final do bimestre, as crianças estão totalmente contextualizadas na história, no porquê daquela peça, por que foi aquilo, faz uma comparação de cultura do Brasil com aquele país da onde veio aquela história, e os alunos fazem trabalhos artísticos. Não só artísticos, não só artísticos, por exemplo, eles fazem produção de texto, história em sequência, fantoche, fazem várias atividades. E aí a gente leva para o clube onde vai ser o festival. E além do teatro que as famílias vão assistir, as crianças também, há exposição do trabalho de toda a escola dentro daquele tema que foi proposto.
P/1 – Bem bacana.
R – Então quando acontece o teatro, você não escuta um mosquito, porque eles estão doidos pra ver a peça. Porque eles já trabalharam dois meses, e aí aquela coisa: como ficou?
P/1 – Como vocês selecionam qual vai ser a peça?
R – Então, Os Saltimbancos, eu sempre tive vontade de fazer, aí foi um dos primeiros que a gente fez. Depois, O Pequeno Príncipe, teve um grupo, um CD maravilhoso, um CD clássico de um grupo de Belo Horizonte, que quando eles comemoraram 50 anos do grupo, eles produziram com orquestra e tudo. A gente gosta muito de musical. O Mágico de Oz também foi um musical. O ano passado foi ideia do professor de teatro. E esse ano eles estão trabalhando... Eu não estou mais na escola, como eu te falei, mas esse ano eles estão trabalhando uma questão de regionalismo, tá bem legal também. Tem uma mãe também da comunidade que entrou agora, que trabalhava com essa parte de cultura, de teatro mesmo, de dança, e agora tá lá ajudando também.
P/1 – E nesse projeto então, que é o Teatro na Escola, você disse, a Nestlé entra como parceira no patrocínio de fantasias, é isso? E nessa apresentação no Parque das...
R – É. Tem um valor. É. Tem um valor que eles dão. Eu não sei esse ano como tá, porque eu não to lá, mas até o ano passado eles ajudavam, tinha um valor que eles davam pra escola e depois a escola apresentava no Parque das Águas.
P/1 – E como é essa experiência das crianças com o teatro?
R – Ah, é maravilhosa. As crianças adoram. A gente é aberto a partir do terceiro ano, terceiro, quarto e quinto. E no começo do ano a gente fala do teatro, tudo, e eles entram, e assim, o número de crianças que quiserem participar são as crianças que vão participar. Acaba que no começo tá mais cheinho, depois uns gostam mais, outros menos, acabam saindo, porque tem várias atividades na escola. E os que ficam têm o ano todo de teatro, praticamente.
P/1 – E no que você acha que essa experiência ajuda na formação deles?
R – Nossa, ajuda demais no autoconhecimento, no desenvolvimento da oralidade. Ajuda em várias áreas. No vocabulário, na relação interpessoal. Muito bom.
P/1 – Bacana. Eu queria que você contasse pra gente um pouco essa sua mudança. Porque tem essa... Essa esfera que é pessoal também.
R – É. Antes de eu contar isso, eu queria contar também, que é um projeto muito legal da escola e que a gente... Esse não é só patrocinado pelo Parque, pela Nestlé, são vários patrocinadores. Que a gente em... Pegar aqui. Deixe-me ver o ano. Esse não tem o ano, mas eu acho que foi 2006. A gente resolveu fazer um jornal da escola, então o jornal, a gente fez várias sessões aqui e tinha projetos escolares, calendário cultural, a gente contava tudo que aconteceu na escola durante o semestre. E esse aqui foi o primeiro jornal, olha, preto e branco, bem assim. E esse aqui não teve patrocinador, não, a escola pagou. Depois a gente falou assim: “Ah, vamos tentar patrocínio, melhorar a qualidade do jornal e tudo”. E a gente conseguiu passar pra essa qualidade aqui, olha.
P/1 – Todo colorido.
R – E a gente fazia o jornal colorido, com essa folha melhor, e os patrocínios da própria comunidade a gente colocava no final do jornal. A gente conseguiu fazer 11 edições desse jornal. Depois da 11º edição, a gente resolveu mudar, falou: “Ah, jornal agora a gente já fez bastante, vamos tentar fazer uma revista? Em vez de fazer a revista semestral, a gente faz a revista anual”. E a gente já conseguiu fazer a segunda revista. Aqui, olha, essa aqui foi a primeira, Biblioteca em Ação, que foi a principal, que conta também todas as ações desenvolvidas. E essa segunda, do ano passado, que foi esse tema Talento e Arte, que também desenvolvendo essa questão artística com os alunos.
P/1 – Quem produz os textos dessas publicações?
R – Então, os textos são produzidos pelos funcionários, pelas crianças, coletivamente em sala de aula, ou texto mesmo de algum aluno. E sempre tem o diretor, a supervisora, cada revista tem a contribuição do pessoal da escola mesmo. Sabe? O projeto que os alunos realizam. Então tem tudo aqui, o Cuidar tá aqui, o ano que foi feito, as fotos... (troca de cartão).
P/1 – Você quer acrescentar alguma coisa em relação às publicações?
R – Não, acho que já falei, não falei? Da revista, do jornal, do teatro.
P/1 – Falou. Falou. Sim.
R – Acho que é isso.
P/1 – Tá. (pausa) Então retomando, Arthemisa, eu queria que você contasse pra gente como foi essa transição. Você saiu, né, da Ismael?
R – É.
P/1 – Queria que você contasse por que você saiu e o que você tá fazendo agora profissionalmente.
R – São Lourenço, só pra contar um pouquinho de história aí, foi a primeira cidade de Minas Gerais a promover a eleição pra diretor de escola pública, em 1983, antes da Constituição. Depois veio a Constituição. A experiência de São Lourenço serviu de base pra Constituição Estadual de Minas Gerais, sabe? Só que depois de muitos anos, na década de 90, o prefeito decidiu acabar com a eleição e promover como cargo de confiança do prefeito. E aí a gente ficou até 2009 dessa forma, voltando dessa forma de escolha pelo prefeito de diretor da escola. Quando o prefeito Zé Neto entrou na prefeitura, ele decidiu voltar com a eleição de diretores, então em 2009 ele realizou a primeira eleição pra diretores, e aí eu fui eleita. Eu já tinha sido professora, supervisora, vice-diretora, e aí eu fui eleita diretora da escola.
P/1 – Como é essa eleição? É dentro da comunidade escolar?
R – É. Participam os professores, os funcionários e o colegiado escolar. Que não é toda comunidade que vota, só os pais que são representantes da comunidade dentro do colegiado escolar. E nessa época também eu cursei a especialização em Gestão Escolar na UFMG pela escola de gestores. Eu fui eleita por dois anos e depois eu fui reeleita por mais dois anos. Então eu fiquei na direção até dezembro de 2012. A lei, ela prevê que o diretor fique quatro anos, mas como ele regulamentou a lei mesmo em 2012, o que ficou pra trás zerou, então eu poderia novamente candidatar, mas eu optei por não candidatar por dois motivos: primeiro, porque eu já tinha ficado quatro anos, e eu acredito que esse tipo de cargo só tem valor democrático mesmo se ele tiver alternância na função; e, segundo, também porque eu queria estudar, e na direção você vive pra escola. Você trabalha de manhã, à tarde, preocupa à noite, final de semana. Você vive em função da escola. Então por esses dois motivos, eu optei por não candidatar. Quem candidatou foi o Ailton, que é auxiliar de biblioteca, um professor maravilhoso também, totalmente envolvido com as questões da escola. E aí o Ailton candidatou e eu voltei para o cargo de supervisão em 2013. E comecei a estudar pra entrar no mestrado. Eu faço parte de um grupo de pesquisa em São Paulo e tentando entrar no mestrado. E aí surgiu, o Instituto Federal de Educação tá abrindo um campus aqui, que seria em São Lourenço, mas acabou indo pra Carmo de Minas por conta do local, que tinha que ser doado, e lá eles já tinham um prédio federal, e abriu concurso pra pedagoga do instituto, e eu resolvi fazer o concurso. E era uma vaga só, acabei passando. Não esperava, porque eu tava estudando, na verdade, era pra entrar no mestrado, mas acabei passando no concurso. Então eu acho que tudo aconteceu assim, de uma boa forma. Porque se eu tivesse candidatado, tivesse continuado na direção, seria um impacto muito grande, tanto pra escola, quanto pra mim. Como eu saí no ano de 2013, trabalhava só de manhã, novas lideranças surgiram na escola e tomaram a frente e tudo. E mesmo assim, passando no concurso, eu achei que fosse ser chamada dali um ano, meio ano. E acabou que eu tive o resultado em novembro, em dezembro homologou e em janeiro eu fui chamada. Então foi tudo muito rápido. E eu acabei assumindo sem retornar pra escola, que eu tomei posse dia 27 de janeiro. Acabou meu período de férias e eu já tomei posse.
P/1 – E como é o seu trabalho lá no instituto? Você tá trabalhando então já, né?
R – Eu estou trabalhando, sou pedagoga do instituto. E o instituto tá nascendo aqui na nossa região. Na verdade, ele tem polos de rede hoje em quatro cidades, que é São Lourenço, Caxambu, Itanhandu, e agora tá começando em Carmo de Minas. A gente vai abrir uma segunda turma agora, e o campus tá em reforma, que é um lugar lindo também, de muita área verde, que é a antiga Funabem, mais de cem mil metros quadrados, tem área preservada, casarão histórico. Então ele tá passando por essa reforma pra ser realmente implantado com toda infraestrutura em Carmo de Minas. E eu trabalho na área da pedagogia, que é esse trabalho mesmo de assessoramento do professor, de projeto pedagógico, de atendimento ao aluno. E agora...
P/1 – Qual é o... Ah, desculpa, pode continuar. Depois eu te pergunto.
R – A gente pretende desenvolver todos esses projetos que eram desenvolvidos com as crianças, a gente consegue trabalhar com isso também com o adolescente, com o adulto, num outro formato. É só a estrutura ficar pronta que a gente vai tentar sensibilizar pra desenvolver esses projetos também.
P/1 – É isso que eu ia te perguntar. Qual é o público que o instituto atende assim?
R – Então, aqui é educação profissionalizante. É ensino médio subsequente. Tem Técnico em Informática, Técnico em Administração, Técnico em Segurança do Trabalho, Técnico em Contabilidade e Técnico em Meio Ambiente, que é em Itanhandu. E ainda haverá audiência pública pra definir os eixos tecnológicos que serão atendidos, que provavelmente vai trabalhar também na área de alimentos e da agroindústria por conta do contexto da região, do café e tudo isso.
P/1 – Tá certo. Então eu vou encaminhar para as duas perguntas finais. Tudo bem? Você quer acrescentar mais alguma coisa?
R – Não.
P/1 – Não? Eu queria saber quais são seus sonhos hoje.
R – Então, meus sonhos hoje continuam sendo estudar, ingressar no mestrado. Eu tenho paixão por leitura, por estudo, por poder transformar essa atividade intelectual numa atividade prática que melhore a condição de vida dos alunos, da educação e tudo.
P/1 – Você tem um tema específico no mestrado?
R – É a minha área de gestão. É na área de gestão. Eu tinha um tema, mas agora eu to desenvolvendo outro por conta da mudança mesmo da educação infantil, fundamental, para o ensino profissionalizante. Eu pretendo desenvolver um novo tema pra trabalhar a questão da evasão escolar na área da educação profissional. E cuidar dos meus filhos, dar estrutura pra eles crescerem. E isso.
P/1 – Tá certo. E, por fim, então, como foi contar a sua história aqui? Como foi dar esse depoimento?
R – Ah, eu tava assim um pouco receosa, ansiosa como seria, mas eu gostei. Foi um olhar pra dentro, pensar na sua história. Achei muito bacana.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada então.
FINAL DA ENTREVISTA
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