Eu, Thirley Rocha de Almeida: trajetória de uma professora em formação. Meu nome é Thirley Rocha de Almeida, nasci dia 03 de março de 1987, em algum lugar de Rio Branco – Acre. Filha de um mecânico de motos, chamado José Edilberto Torres, mais conhecido como (Pardal) e de uma mulher, cujo nome que eu sei é Tereza. Cheguei a este mundo sem ser planejada e muito menos esperada, assim como acontece com muitas pessoas. Minha mãe já carregava uma filha em seu ventre quando conheceu meu pai, criança que ele assumiu e registrou como filha. Pouco tempo depois do nascimento dessa minha irmã, minha mãe engravidou de mim, é tanto que, quando minha irmã completou seu primeiro ano de vida, dia 22 de fevereiro, nove dias depois eu nasci. Meu pai, na época, tinha problemas com alcoolismo, e foi ele que escolheu meu nome. Segundo o que ele conta, meu nome veio de uma música que ele escutou em um boteco, como eram chamados os bares da época, em Rio Branco. A música “Feelings”, em inglês, era de um cantor chamado Morris Albert, que a lançou nos anos de 1975. Meu pai, sob efeito de álcool, escutava a música e entendia que o cantor chamava o nome Thirley, ao invés de Feelings. Nasci, e ele me registrou como Thirley Torres, pois, nessa época, era tradição familiar os filhos serem registrados apenas com o sobrenome do pai. O meu nascimento não havia sido planejado, assim como minha chegada, e, para o meu azar, nasci com uma má formação congênita chamada popularmente de lábio leporino, que é uma fissura do lábio superior, normalmente, logo abaixo do nariz. Até onde eu sei, após o meu nascimento, minha mãe ficou por pouco tempo comigo e me deu para a sua irmã, que trabalhava em uma escola e havia uma mulher conhecida dela de 24 anos que gostaria de ser mãe e não podia. Então, minha tia me deu para esta mulher, que se chama Maria Elia Rocha de Almeida. A palavra “Feelings”, onde se deu origem ao meu nome, significa...
Continuar leituraEu, Thirley Rocha de Almeida: trajetória de uma professora em formação. Meu nome é Thirley Rocha de Almeida, nasci dia 03 de março de 1987, em algum lugar de Rio Branco – Acre. Filha de um mecânico de motos, chamado José Edilberto Torres, mais conhecido como (Pardal) e de uma mulher, cujo nome que eu sei é Tereza. Cheguei a este mundo sem ser planejada e muito menos esperada, assim como acontece com muitas pessoas. Minha mãe já carregava uma filha em seu ventre quando conheceu meu pai, criança que ele assumiu e registrou como filha. Pouco tempo depois do nascimento dessa minha irmã, minha mãe engravidou de mim, é tanto que, quando minha irmã completou seu primeiro ano de vida, dia 22 de fevereiro, nove dias depois eu nasci. Meu pai, na época, tinha problemas com alcoolismo, e foi ele que escolheu meu nome. Segundo o que ele conta, meu nome veio de uma música que ele escutou em um boteco, como eram chamados os bares da época, em Rio Branco. A música “Feelings”, em inglês, era de um cantor chamado Morris Albert, que a lançou nos anos de 1975. Meu pai, sob efeito de álcool, escutava a música e entendia que o cantor chamava o nome Thirley, ao invés de Feelings. Nasci, e ele me registrou como Thirley Torres, pois, nessa época, era tradição familiar os filhos serem registrados apenas com o sobrenome do pai. O meu nascimento não havia sido planejado, assim como minha chegada, e, para o meu azar, nasci com uma má formação congênita chamada popularmente de lábio leporino, que é uma fissura do lábio superior, normalmente, logo abaixo do nariz. Até onde eu sei, após o meu nascimento, minha mãe ficou por pouco tempo comigo e me deu para a sua irmã, que trabalhava em uma escola e havia uma mulher conhecida dela de 24 anos que gostaria de ser mãe e não podia. Então, minha tia me deu para esta mulher, que se chama Maria Elia Rocha de Almeida. A palavra “Feelings”, onde se deu origem ao meu nome, significa sentimentos, e quem diria que aquela criança que nasceria inesperadamente seria tão rodeada de sentimentos (como Amor). O destino da pequena criança mudou, eu fui adotada, minha mãe chegou em casa comigo no colo, vestida somente com uma calcinha de crochê, seu marido, que se chama Antônio Paixão de Almeida, nem sabia que ia ser meu pai, ele tomou um susto quando me viu, e mandou a minha mãe me devolver, ele havia dito que minha estadia lá poderia trazer-lhes problemas. Mas, ela disse que não, e o fez ir ao mercado comprar mamadeira e fraldas pra mim. E, assim, a criança que poderia trazer problemas ao casal ficou e só trouxe felicidades. Cresci em meio a educação, minha mãe, apesar de ser formada como professora, sempre trabalhou em escola, mas na parte administrativa, meu pai era professor atuante. Os anos se passaram, eu fui crescendo e, aos 12 anos, em uma disputa na justiça, fui declarada oficialmente filha dos meus pais adotivos, tendo o registro anterior cancelado. A trajetória escolar de uma professora em formação Trato, nesta seção, da história da minha escolarização, desde o ingresso na Educação Básica, até terminar o Ensino Médio. Minha trajetória escolar foi apenas em escolas públicas, minha mãe trabalhava na escola Ramona Mula Pastor de Castro, localizada nas imediações do Bairro Sobral. Porém, a escola era de ensino fundamental, então, eu não podia estudar lá, e fui matriculada na escola Afonso Pinto de Medeiros, que era uma escola de Ensino Infantil. Após concluir a pré-escola, fui matriculada na Escola João Paulo II, nesta escola, fiz da 1ª a 5ª série, como era chamada essa etapa na época. Após concluir a 5ª série, fui para a escola Serafim da Silva Salgado, onde cursei a 6ª série, e, logo após, por algum motivo que desconheço, ingressei no Projeto Poronga, onde fiz a 7ª e a 8ª série juntos. Após esse período, aos 16 anos, comecei o 1º ano na escola Humberto Soares da Costa, nessa época, mesmo sendo muito nova, casei. Passei para o 2º e o 3º ano, ambos no Colégio Estadual Barão do Rio Branco (CERB). O 3º ano foi bem difícil concluir, porque engravidei aos 18 anos, do meu primeiro filho, que veio a falecer 2 meses após seu nascimento, em 2005. Após concluir o ensino médio aos 18 anos e perder um filho, parei os estudos. Fiquei até os 20 anos sem fazer nada, então, engravidei novamente de uma menina que hoje tem 14 anos e se chama Thalyta Thiely Almeida da Silva. Passei muitos anos perdida no tempo, separei e casei novamente, foi quando as coisas começaram a mudar. Conheci meu atual esposo, Rodrigo Silva de Mendonça, que me incentivou a estudar, e me disse: “É o estudo que abre portas”, então, eu realmente o escutei. Da Faculdade Privada para a Universidade Federal Era dezembro de 2017, eu realmente estava disposta a mudar de vida. Em 2018, fui em uma faculdade particular em Rio Branco – Acre, chamada de Euclides da Cunha, fiz minha matrícula no curso de Pedagogia. Eu estava tão empolgada! Chegou o natal, estávamos reunidos em família na casa de minha vó, quando comentei com meu irmão, Igor Rocha de Almeida, que cursava Pedagogia na Universidade Federal do Acre (UFAC), que havia me inscrito no curso de Pedagogia de uma faculdade particular, foi nesta conversa que ele me falou sobre as vagas residuais da UFAC. Falou que eu poderia cursar o 1º período e pedir transferência, eu me interessei e assim fiz. Concluí o 1º período, pedi transferência para a UFAC, e em Julho de 2018 eu estava entrando em uma Universidade Federal!!! Segundo e Primeiro Período Cheguei na universidade em Julho de 2018 e fiquei encantada! Tudo era tão novo e assustador ao mesmo tempo, a universidade pública era diferente da particular. Comecei o 2º período. Você deve estar se perguntando: Começou o 2º período? É isso mesmo! Se você acha que é difícil começar o 1º período, imagina chegar na universidade e começar no 2º. O resultado desse início foi quase que o fim para mim, pois, de início, já fui muito ruim em duas disciplinas, tirei notas muito baixas, fiquei triste e desanimada, pensando se aquele lugar era pra mim. Os professores responsáveis pelas disciplinas me chamaram, conversaram comigo, disseram palavras de apoio e incentivo, e resolveram me dar uma 2º oportunidade, então, eu agarrei com unhas e dentes, e provei para mim mesma que conseguiria. Apesar do início ter sido bem difícil, a universidade tinha seus pontos positivos, pois, além de estar buscando um futuro melhor, eu ganhava dinheiro nos corredores, vendendo o meu (dog é hot), era assim que chamavam o cachorro quente que eu vendia. Todos os dias, lá chegava eu na universidade, com um isopor cheio de cachorro quente e 1 litro de refrigerante. E foi assim, carregando meu isopor que fui avançando e me superando a cada disciplina feita, passando do 2º ao 1º período, sem reprovação nenhuma. Essa trajetória de período em período não foi fácil, pois como eu não era regular, tinha que ficar pulando de salas em salas, fazendo disciplinas avulsas e me adaptando em cada turma que passava. Quarto e Terceiro Período Em Julho de 2019, o 3º período para mim, na verdade, era 4º, pois estávamos no semestre par. Nesse 4º período, eu consegui fazer poucas disciplinas, pois muitas delas tinham pré-requisitos do 3º. Porém, fiz o que deu, e, apesar de estar fazendo poucas disciplinas eu tive uma vida bem corrida nesse ano, pois, fazia um curso de Leitura e Escrita no Sistema Braille a noite, no Centro de Apoio Pedagógico (CAP). O curso começava as 19:00 horas, e as aulas terminavam as 18:50, eu tinha menos de 10 minutos para chegar no curso, era tudo muito corrido, saía do curso às 10:00 horas da noite, foi assim durante 3 meses. Após concluir as disciplinas do 4º período, chegamos em 2020 com aquela empolgação, eu ia fazer, enfim, o 3º período. Começamos o 3º período dia 02 de Março de 2020, dia 03 foi meu aniversário, minhas amigas fizeram uma surpresa! Me esperaram na coordenação com um bolo lindo, com o tema de girassol. Dia 19 de Março as coisas mudaram, o mundo foi atingido por uma pandemia, chamada de covid-19. Tivemos que parar, o mundo parou e assim permaneceu por meses. Foram meses de tristeza, vendo apenas pela televisão essa doença assolando o mundo. Em Outubro de 2020, voltamos a nos encontrar de forma remota, e fomos dando continuidade às aulas. Fiz o 3º período de Outubro a Janeiro de 2020. Foi um período novo e desafiador, tivemos que nos reinventar e aprender a usar as novas ferramentas do ensino remoto, sem qualquer curso ou tutorial. Posso afirmar que não foi fácil, mas eu consegui. Após concluir o 3º, voltei para o 4º período em Março de 2021, para concluir as disciplinas que ficaram pendentes, e isso de forma remota. Eu chamo o 4º período de (O sinistro), pois foi nesse período que eu conheci o que são as marcas deixadas por uma universidade. Foi um período muito difícil, minha bolsa da Ufac encerrou, eu não tinha e nem tenho renda fixa, e tento ajudar em casa como posso, então, eu tive que arrumar um emprego, afinal, a sociedade esquece que um universitário, também tem contas a pagar. Arrumei um bico que eu chamo de lascado, pois tive que trabalhar embaixo de um sol escaldante de terça a domingo, em um centro de bronzeamento natural. Foram dias amargos de muitas lutas, tive que me equilibrar entre trabalho, aulas, atividades das aulas e os afazeres domésticos. E, além de tudo, precisei ser forte, pois, o mundo estava sendo assolado por um vírus, eu vi pessoas morrendo todos os dias, e eu estava em constante contato com as pessoas no ambiente de trabalho. Mesmo sendo obrigada a viver esse momento, ainda tive o desprazer de conhecer um professor que eu posso chamar de (opressor). Com esse professor adquiri crises de ansiedade, coisa que nunca tinha tido ao longo dos meus 34 anos. Enfim, um período torturante, porém, eu consegui vencer com êxito, como todo bom guerreiro que não foge da luta. Quinto período Quando comecei o 5º período, saí do centro de bronzeamento e consegui um estágio em uma escola particular de Rio Branco. Acreditei que seria uma experiência única, e realmente foi. Apesar de não ter sido fácil, pois eu moro no Tucumã, a escola é no Tropical, eu gastava 20 minutos para chegar à escola e ganhava 600,00 reais, para trabalhar o mês inteiro de 7:00 da manhã às 12:30. O trabalho era puxado, tinha que fazer planos de aula, enfeitar as salas, painéis, fazer as atividades com as crianças, trocar as fraldas e manter tudo em ordem. Mesmo com todos os pontos que mencionei sobre a parte difícil, a parte da experiência única foi o acompanhamento que tive que dar a um aluno autista que tinha em minha sala. Ele era um autista com um grau mais severo, daqueles que não olham fixo nos olhos, batem, mordem, enfim...Foi nessa experiência que percebi que preciso estudar mais, fazer outros cursos e adquirir conhecimentos sobre o assunto, pois, eu, futura professora , não consegui ajudar o meu aluno autista. As Marcas de uma universidade Hoje, dia 02 de Janeiro de 2021, estou aqui escrevendo minha autobiografia, e tentando resumidamente contar um pouco sobre minha história de vida e minha trajetória de professora em formação. Nesse percurso, ouvi pessoas dizerem que eu não merecia estar aqui, somente porque não passei no (Enem), ouvi o opressor dizer que eu não sabia ler um texto e nem fazer um trabalho acadêmico. Porém, cada palavra dessa serviu como um degrau de uma escada, para que eu subisse e mostrasse o tamanho da minha força de vontade de crescer! Tenho muito orgulho de cada passo que dei até aqui, mesmo carregando comigo as marcas dessa universidade. Para finalizar essa autobiografia, eu digo: para as dificuldades de ontem (OBRIGADA!), para o hoje: (GRATIDÃO!) e para o futuro: eu sei dos embates que encontrarei com a realidade, e dos desafios que ainda estão por vir. Mas a vontade de ser uma professora é uma escolha, e, no momento que decidi segui-la, tinha consciência de que deveria fazê-la com comprometimento.
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