Sou a Maria Oliveira, natural de Tarauacá, cidade do interior do Acre onde fiz todo o ensino fundamental em escola pública. Sou a filha mais nova de dez irmãos, meus pais faleceram quando ainda era criança, fui criada pela minha irmã mais velha a quem devo tudo que me tornei até hoje. Com 15 anos vim morar em Rio Branco – Acre para trabalhar como babá e neste período morei no emprego, eu trabalhava durante o dia e fazia o ensino médio a noite, até então sem muita expectativa de vida, sem ter noção do real valor e necessidade de estudo na vida.
Quando estava no último ano do ensino médio surgiu a necessidade e preocupação sobre o que eu faria da vida após, pois eu não queria passar a vida toda ganhando pouquíssimo e trabalhando apenas para sobreviver. Foi aí que comecei a pensar sobre faculdade e o que eu queria fazer. Nesse tempo, não sabia nem o que era, e para o que servia o exame nacional do ensino médio Enem (ENEM), então comecei minha jornada acadêmica no ensino superior, em uma faculdade a distância e particular, mas na metade do curso e com o aumento semestral do valor da mensalidade estava ficando inviável continuar no curso. Eu pude entrar pela as vagas residuais na Universidade Federal do Acre através de minha prima que conseguiu entrar na mesma Universidade anteriormente, ela me contou sobre as vagas residuais e me incentivou a fazer a inscrição, me ajudando com a documentação em todo o processo (confesso que não estava muito confiante, pois nunca tinha ouvido falar dessas vagas), mas minha prima foi explicando sobre como tudo funcionava e como era os estudos na universidade federal do Acre, foi aí que comecei a querer muito estudar lá. Consegui passar no processo seletivo, lembro como fiquei feliz e realizada por ter conseguido isso.
Entrei oficialmente como acadêmica do curso de licenciatura em pedagogia no dia 18 de março de 2019. A parte que eu não sabia e nem minha prima é que não explicam que você entra...
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Sou a Maria Oliveira, natural de Tarauacá, cidade do interior do Acre onde fiz todo o ensino fundamental em escola pública. Sou a filha mais nova de dez irmãos, meus pais faleceram quando ainda era criança, fui criada pela minha irmã mais velha a quem devo tudo que me tornei até hoje. Com 15 anos vim morar em Rio Branco – Acre para trabalhar como babá e neste período morei no emprego, eu trabalhava durante o dia e fazia o ensino médio a noite, até então sem muita expectativa de vida, sem ter noção do real valor e necessidade de estudo na vida.
Quando estava no último ano do ensino médio surgiu a necessidade e preocupação sobre o que eu faria da vida após, pois eu não queria passar a vida toda ganhando pouquíssimo e trabalhando apenas para sobreviver. Foi aí que comecei a pensar sobre faculdade e o que eu queria fazer. Nesse tempo, não sabia nem o que era, e para o que servia o exame nacional do ensino médio Enem (ENEM), então comecei minha jornada acadêmica no ensino superior, em uma faculdade a distância e particular, mas na metade do curso e com o aumento semestral do valor da mensalidade estava ficando inviável continuar no curso. Eu pude entrar pela as vagas residuais na Universidade Federal do Acre através de minha prima que conseguiu entrar na mesma Universidade anteriormente, ela me contou sobre as vagas residuais e me incentivou a fazer a inscrição, me ajudando com a documentação em todo o processo (confesso que não estava muito confiante, pois nunca tinha ouvido falar dessas vagas), mas minha prima foi explicando sobre como tudo funcionava e como era os estudos na universidade federal do Acre, foi aí que comecei a querer muito estudar lá. Consegui passar no processo seletivo, lembro como fiquei feliz e realizada por ter conseguido isso.
Entrei oficialmente como acadêmica do curso de licenciatura em pedagogia no dia 18 de março de 2019. A parte que eu não sabia e nem minha prima é que não explicam que você entra sem um período específico e vai sendo encaixada em disciplinas de semestres avulsos, já entrei fazendo disciplinas do terceiro período, fiquei totalmente perdida, mas com o tempo fui me adaptando e conhecendo pessoas legais que me orientaram e ajudaram muito no curso. Durante esse primeiro ano estudei pela manhã, tarde e noite, fazendo disciplinas isoladas para tentar conseguir acompanhar e me encaixar em algum período, eu praticamente morava na Ufac e passeava em casa., Eu comecei a morar de aluguel e sobreviver graças as bolsas e auxílios da Universidade.
Só que toda essa correria e preocupação ativou um gatilho no meu psicológico, a ansiedade atacou e junto veio as crises depressivas, procurei ajuda profissional, mas na rede pública é bem escasso e demorado então estou até hoje na fila de espera por uma consulta psicológica, tentei inclusive na Universidade onde eles também atendem no curso de psicologia e também fiquei numa fila infinita. Foi através da ajuda de uma amiga que conheci do curso, que me apoiava e me incentivava como podia, fazia de tudo para me alegrar e me levar um pouco de esperança, que não desisti de tudo e sou extremamente grata a ela. Todo o apoio e incentivo que nunca tive na minha família, encontrei com ela, não que minha família seja ruim, mas a grande maioria já tem sua família, seus próprios problemas e também estão tentando sobreviver. Voltando a minha vida acadêmica, consegui finalizar o ano graças a Deus, achei que o pior já tinha passado (ah como eu estava enganada), iniciamos as aulas no ano de 2020, não lembro exatamente, mas acho que não chegamos nem a um mês de aula, foram interrompidas por uma pandemia que estava se espalhando pelo mundo e matando muita gente, até então não se sabia quase nada sobre, apenas que era extremamente contagiosa, o que mais tarde viria a ser chamada de pandemia do Corona vírus. Aulas suspensas, Universidades fechadas, todos apavorados e sem garantia de nada, pessoas próximas morrendo, o mundo todo assustado e com medo.
Passaram se os meses e decidiu-se iniciar um período não obrigatório de aulas remotas, achei que conseguiria fazer, sem muitos problemas, pois já tinha tido experiência com aulas assim, mas a realidade foi bem diferente, não conseguia me concentrar e acompanhar todas as disciplinas, foi bem nesse período que passei por uns problemas familiares tão críticos que só sobrevivi acredito que por Deus. Acabei trancando algumas disciplinas, consegui finalizar outras, reprovei também,. Nesse período acabei perdendo uma pessoa da família, muito próxima, acho que após isso cheguei no esgotamento total, não queria mais fazer nada, sair da cama era algo extremamente difícil para mim, mas continuava tentando e falhando na grande maioria das vezes.
Iniciou o ano de 2021, minha vibe era a mesma, o ensino online remoto se tornou obrigatório e o que não estava bom, ficou pior., Tenho consciência de que não fiz minha parte da maneira que deveria, mas quando a cabeça e emocional está um caos nada flui bem e a falta de empatia, diálogo e até humanidade de alguns professores foi assustadora para mim. Segui tentando apesar das adversidades, lutando contra a mente o tempo todo, mas segui.
Na metade do ano, no mês de agosto iniciei um estágio não obrigatório e remunerado, em uma escola particular, comecei a vivenciar a rotina escolar na prática do dia a dia, os primeiros meses achei que definitivamente não era para mim a vida docente, mas os tempos foram passando, fui pegando o ritmo e me afeiçoado aos alunos, comecei a me imaginar professora e fui gostando da ideia, chegou a um tempo em que a parte mais alegre do meu dia era com eles na escola. Confesso que não era meu sonho fazer o curso de licenciatura em pedagogia, escolhi por ser uma área em que se diz ter mais chances de empregabilidade, mas foi através dessa experiência que comecei a gostar e querer me tornar uma boa professora.
Espero que 2022, as coisas melhores, as aulas voltem a ser presenciais pois o ensino remoto nem de longe se compara ao presencial,. Tento ter como exemplo alguns professores excelentes, que amam ensinar e quando estou prestes a cair lembro do por que não desisti até hoje. Na minha família, de dez irmãos fui a primeira a entrar em uma faculdade, o que acabou espelhando meus irmãos mais velhos a voltar a estudar, agora já tenho um irmão estudando na Universidade Federal do Acre, também e de certa forma eu sei que foi graças a meu exemplo. Vou seguir tentando, por eles e por mim com esperança de conseguir chegar ao final, me formar e ser uma boa professora, que ama o que faz.
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