Olá, me chamo Maiza da Costa de Lima, segunda filha dentre as quatros filhas de Mary Rose Ferreira da Costa e Raimundo Nonato Firmino de Lima. Nasci no interior do Acre, em um município chamado Brasiléia, mas fui criada até meus 13 anos de idade no município vizinho, chamado Epitaciolândia e, desde então, estou morando em Rio Branco – Acre.
Iniciei meus estudos na colônia em que fui criada, em uma escola multisseriada, onde uma única professora prestava conta da merenda, da educação, segurança de várias crianças, com isso, pude iniciar meu lado docente, eu ajudava a professora na escola e, em casa, eu e meus amigos fazíamos uma escolinha com merenda, quadro de escrever e troca de conhecimentos, inclusive, minha irmã aprendeu a ler comigo brincando de ser professorinha.
A segunda etapa do ensino fundamental eu iniciei ainda na colônia, acordávamos às 04;00 da madrugada e, na maioria das vezes, para dormimos mais, já íamos para a cama com o uniforme escolar. A estrada até o ponto onde o caminhão dos alunos passava dava um bom percurso, levando em consideração os perigos e as onças que ouvíamos rosnando (não sei como eu tinha tanta coragem; hoje em dia, tenho medo de andar em estradas até durante o dia, quem dirá pela madrugada, com tudo escuro).
Minha mãe se separou e viemos para Rio Branco – Acre escondidas do meu pai, ele começou a ser muito agressivo e até a ameaçar todas nós de morte, eu estava no 9º ano na época. Enfim, concluí todas as etapas da educação básica em 2016 e, por não ter meus documentos (RG, CPF...), eu não fiz o ENEM no 3º ano. Em 2017, iniciei um curso técnico de Enfermagem, mas engravidei logo em seguida e tive que ficar até o 5º mês de gestação em repouso para não perder minha filha, ou seja, precisei trancar o curso. No final de 2017, eu fiz o ENEM pela primeira vez e consegui passar em História na Universidade Federal do Acre (era o que eu queria na época), mas eu não acompanhei e...
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Olá, me chamo Maiza da Costa de Lima, segunda filha dentre as quatros filhas de Mary Rose Ferreira da Costa e Raimundo Nonato Firmino de Lima. Nasci no interior do Acre, em um município chamado Brasiléia, mas fui criada até meus 13 anos de idade no município vizinho, chamado Epitaciolândia e, desde então, estou morando em Rio Branco – Acre.
Iniciei meus estudos na colônia em que fui criada, em uma escola multisseriada, onde uma única professora prestava conta da merenda, da educação, segurança de várias crianças, com isso, pude iniciar meu lado docente, eu ajudava a professora na escola e, em casa, eu e meus amigos fazíamos uma escolinha com merenda, quadro de escrever e troca de conhecimentos, inclusive, minha irmã aprendeu a ler comigo brincando de ser professorinha.
A segunda etapa do ensino fundamental eu iniciei ainda na colônia, acordávamos às 04;00 da madrugada e, na maioria das vezes, para dormimos mais, já íamos para a cama com o uniforme escolar. A estrada até o ponto onde o caminhão dos alunos passava dava um bom percurso, levando em consideração os perigos e as onças que ouvíamos rosnando (não sei como eu tinha tanta coragem; hoje em dia, tenho medo de andar em estradas até durante o dia, quem dirá pela madrugada, com tudo escuro).
Minha mãe se separou e viemos para Rio Branco – Acre escondidas do meu pai, ele começou a ser muito agressivo e até a ameaçar todas nós de morte, eu estava no 9º ano na época. Enfim, concluí todas as etapas da educação básica em 2016 e, por não ter meus documentos (RG, CPF...), eu não fiz o ENEM no 3º ano. Em 2017, iniciei um curso técnico de Enfermagem, mas engravidei logo em seguida e tive que ficar até o 5º mês de gestação em repouso para não perder minha filha, ou seja, precisei trancar o curso. No final de 2017, eu fiz o ENEM pela primeira vez e consegui passar em História na Universidade Federal do Acre (era o que eu queria na época), mas eu não acompanhei e perdi a vaga. Em 2018, fiz o ENEM pela segunda vez e consegui uma vaga no curso de Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal do Acre.
Então, em 2019 iniciou-se minha jornada como futura pedagoga, foi um ano maravilhoso, havia tranquilidade e comunicação entre professores-alunos e alunos-alunos, eu fui, inclusive, nas tão sonhadas festinhas universitárias, com meus colegas e alguns professores. Ninguém podia prever que já em 2020 iniciaria uma pandemia e o que seria apenas 15 dias se tornou longos 2 anos de pandemia. Nesse período eu tive muita dificuldade em me concentrar, mas tentei ao máximo acompanhar de forma online os professores, no entanto, a minha ansiedade não favoreceu, eu ficava ansiosa com as atividades, datas, questões pessoais, filha, casa.
A péssima comunicação, a falta de empatia, o egocentrismo e até mesmo a hipocrisia de alguns professores foram os maiores divisores de águas, eu estava quase desistindo de fazer o curso no formato remoto, mas eu preciso de trabalho e sou movida por essa necessidade. Claro, não me orgulho nem um pouco de estar tão dispersa assim e isso me deixa mais ansiosa ainda. Atualmente, em 2021 estou estagiando e colocando de certa forma o que eu aprendi em prática e, além disso, aprendendo a cada dia mais como funciona esse meio pedagógico em uma instituição escolar.
E mesmo estando apenas no 5º período a pressão é grande, de 4 anos de graduação para “só Deus sabe quando vou me formar”. Mas, enquanto isso sigo na luta, o TCC está cada vez mais próximo e eu não sei nem a qual professor recorrer para ser meu orientador, sem contar que a minha “panelinha” se desfez há muito tempo, no caso, só eu me afastei deles, não posso nem fazer em grupo nesse caso.
Em 2022 eu espero conseguir resolver esses impasses sociais que a pandemia me trouxe, afinal de contas, eu precisei trancar duas disciplinas (da mesma professora) porque só passava trabalhos em grupos e a maioria das “panelinhas” não aceitam “alguém de fora”. Apesar de tudo, não tive tantas dificuldades assim, isso porque, na minha família, a educação foi sempre motivo de orgulho, meu avô de consideração era e é o que mais leva educação a sério, após concluir seus estudos com muito esforço, ele veio da Bolívia para o Brasil em busca de emprego, conseguiu ser mecânico técnico na Eletronorte e ganha muito bem até hoje. Desde pequena ele me incentivava a estudar e até propunha que eu fosse estudar medicina em Cuba, por ser um dos melhores lugares, no entanto, não é o que eu quero, também posso contar com a ajuda da minha mãe, avó, e também de alguns professores que eu amo muito e são exemplos de como lecionar e amar o que fazem.
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