Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores – PRONAC 28976
Depoimento de Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
Entrevistada por Tereza Ruiz
São Paulo, 31 de julho de 2014.
NCV_HV42_Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Moisés
MW Transcrições
P/1 – Então, primeiro, Marie, vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento. Nasci em São Paulo, capital. No dia treze de abril de 1976.
P/1 – Agora, o nome completo dos seus pais e se você se lembrar, a data e o local de nascimento dos dois.
R – A minha mãe se chama Dulcineia Antônia da Silva. Ela nasceu em Garça, interior de São Paulo. Meu pai se chama Hugo Lourenço da Silva, nasceu dia 29 de fevereiro de 1948, mas meu pai já é falecido, e nasceu em Birigui, interior de São Paulo, também. A minha mãe nasceu dia 22 de março de 1948, também.
P/1 – O que seus pais faziam, profissionalmente?
R – A minha mãe, ela sempre trabalhou em escola, daí que veio minha paixão, inclusive, por escola, por educação, porque a minha mãe trabalhava como inspetora na escola. O meu pai, ele trabalhava com a parte administrativa de empresas, então sempre trabalhou no ramo de Administração, mas ele focou em áreas de supermercado. Então, ele sempre trabalhou como gerente de supermercado, sempre nessa área de alimentação, alimentício. A minha mãe não, sempre foi escola mesmo.
P/1 – Fala um pouco pra gente como sua mãe é e como seu pai era, de temperamento, de personalidade.
R – Bom, a minha mãe sempre foi a brava, em casa. (risos) A minha mãe sempre foi a que puxava mais as rédeas. Eu acho que o fato de eu ser filha única, meu pai acabava cedendo muito mais, né, menina, única filha. Eu era única neta também, por parte do meu pai, a única menina também. Então isso fez com que o lado do meu pai sempre quisesse...
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Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores – PRONAC 28976
Depoimento de Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
Entrevistada por Tereza Ruiz
São Paulo, 31 de julho de 2014.
NCV_HV42_Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Moisés
MW Transcrições
P/1 – Então, primeiro, Marie, vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento. Nasci em São Paulo, capital. No dia treze de abril de 1976.
P/1 – Agora, o nome completo dos seus pais e se você se lembrar, a data e o local de nascimento dos dois.
R – A minha mãe se chama Dulcineia Antônia da Silva. Ela nasceu em Garça, interior de São Paulo. Meu pai se chama Hugo Lourenço da Silva, nasceu dia 29 de fevereiro de 1948, mas meu pai já é falecido, e nasceu em Birigui, interior de São Paulo, também. A minha mãe nasceu dia 22 de março de 1948, também.
P/1 – O que seus pais faziam, profissionalmente?
R – A minha mãe, ela sempre trabalhou em escola, daí que veio minha paixão, inclusive, por escola, por educação, porque a minha mãe trabalhava como inspetora na escola. O meu pai, ele trabalhava com a parte administrativa de empresas, então sempre trabalhou no ramo de Administração, mas ele focou em áreas de supermercado. Então, ele sempre trabalhou como gerente de supermercado, sempre nessa área de alimentação, alimentício. A minha mãe não, sempre foi escola mesmo.
P/1 – Fala um pouco pra gente como sua mãe é e como seu pai era, de temperamento, de personalidade.
R – Bom, a minha mãe sempre foi a brava, em casa. (risos) A minha mãe sempre foi a que puxava mais as rédeas. Eu acho que o fato de eu ser filha única, meu pai acabava cedendo muito mais, né, menina, única filha. Eu era única neta também, por parte do meu pai, a única menina também. Então isso fez com que o lado do meu pai sempre quisesse me poupar um pouco. A minha mãe não, não se importava que eu fosse filha única. Ela que queria corrigir. Então do meu pai eu nunca levei uns tapinhas, mas da minha mãe eu já levei uns tapinhas sim. (risos). Então, o temperamento do meu pai já era muito mais calmo, mais fechado, na verdade, também; e minha mãe sempre foi muito falante e mais brava, também, na parte da educação, de cobrar mais, notas na escola, de querer que eu mostrasse resultado. Meu pai já, não. Meu pai já... “Tudo bem. Normal.” Meu pai já era mais assim.
P/1 – É que filha mulher, a única, é xodó pro pai...
R – Principalmente pro meu pai. A minha mãe... É claro, por ser filha, ela tem um amor de mãe, né, um amor incondicional de mãe, mas a minha mãe sempre foi mais exigente, podemos dizer, que ela que me cobrava melhores resultados na escola, porque a minha mãe não teve oportunidade de estudo, meu pai já teve oportunidade. Então, ela queria que eu pudesse ser alguém na vida, que eu pudesse conquistar coisas que ela não teve oportunidade de conquistar. Não que meu pai não quisesse. Claro! Ele queria também. Só que ele era mais leve, ele: “Não. Isso vem aos poucos. Isso é com calma.” Minha mãe já era mais ansiosa. Acho que essa é a palavra certa. Minha mãe era mais ansiosa, meu pai era mais passivo, era mais calmo. (risos).
P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família?
R – Da família da minha mãe, veio de descendência italiana. O do meu pai, eu não sei muito. O do meu pai, na verdade, o que eu sei é que os meus bisavós, eles eram índios, tanto que o meu pai, a família do meu pai, ele tem uma cor mais indígena, são morenos; que eu não puxei nada. (risos). Eu puxei muito mais pra família da minha mãe, né, com essa pele bem branca; mas o meu pai tinha os olhos verdes e minha mãe tem os olhos castanhos, eu puxei muito mais pra minha mãe, mas o meu pai é de descendência indígena, o que eu sei mais, assim.
P/1 – Quando você era pequena, na fase da infância, conta pra gente como eram as refeições na sua família. Quem que cozinhava? O que vocês comiam? Como que era o momento, mesmo, das refeições.
R – Tá. Em casa, minha mãe e o meu pai sempre fizeram muita questão da gente almoçar, principalmente nos finais de semana, almoçar na mesa todos juntos. Então, nunca teve esse negócio da gente tá almoçando, um tá almoçando no sofá assistindo TV, outro tá no quarto, nunca foi assim. Porque os meus pais faziam questão que fosse à mesa, mesmo. Nos dias de semana não, porque cada um trabalhava, eu estudava, praticamente período integral. Então, não tinha como mesmo, a gente tá se reunindo no meio da semana para almoçarmos juntos. Mas de final de semana, era regra, número um (risos). Tínhamos que almoçarmos em casa. Quem cozinhava em casa, era sempre a minha mãe, mas meu pai se atrevia a fazer algumas coisas, só que a comida do meu pai era muito sem sal (risos). Por quê? Porque o meu pai era diabético e tinha pressão alta e por causa disso, ele fazia umas refeições um pouco mais lights mesmo, mas isso não significava que ele se cuidava muito não, porque ele era diabético, comia muito doce; mas ele fazia sem sal por causa da pressão. Então, eu detestava a comida do meu pai (risos), porque era sem sal. E minha mãe não, minha mãe sempre teve uma mão mais pesada pra sal e eu sempre gostei. Mas, aí, conforme eu fui crescendo, amadurecendo, eu fui vendo a importância de uma alimentação saudável. Eu fui fazendo, também, os meus alimentos pra poder diminuir, balancear um pouco, com um pouco menos de sal, comidas mais integrais, coisas que a minha mãe não fazia ideia muito de como utilizar esses alimentos integrais. E eu tenho uma amiga que é nutricionista, ela foi me dando alguns toques, algumas dicas. Foi aí que eu fui comprando, fui tendo o meu emprego, fui comprando as coisas, mostrando pra ela que é bem mais legal alimentos lights, com menos gordura, alimentos integrais, e ela foi adquirindo essa prática e foi trazendo dentro de casa pra gente também, mas até antes não. Era bem à moda italiana. Aquele macarrão, aquele molho bem vermelho, com bastante sal, bastante queijo parmesão. Então, era bem gordinho, assim, mesmo, a alimentação.
P/1 – A casa em que você passou a infância, Marie, foi em São Paulo?
R – Foi em São Paulo.
P/1 – Conta um pouco pra gente como era a casa, descreve mesmo, o bairro.
R – Tá. Eu morava num bairro chamado Cidade Ademar. Quando eu era pequena, a casa era bem pequeninha mesmo, nessa época, nós morávamos numa casa com quarto, cozinha e banheiro. Era uma casa simples, onde nós morávamos. Vivíamos uma vida simples e conforme a minha mãe, ela foi... Os meus pais, na verdade, conseguiram empregos melhores, né, eles conseguiram construir. Então, aí, aumentou a casa, fez um quarto pra mim, mas até os nove anos de idade, eu dormia com meu pai e com a minha mãe, eu não tinha quarto. Meu pai, ele começou trabalhar numa rede de supermercados na qual ele foi transferido pro Rio de Janeiro, e lá no Rio de Janeiro foi quando eu tive meu primeiro quarto. Moramos lá por dois anos, num apartamento. Saímos de lá, depois voltamos pra São Paulo, pra essa casa que a gente construiu pra crescer, aumentar, eu ter o meu quarto. Ela era bem grande. Então, tinha um quintal grande. Nesse quintal, tinha uma casa construída, mesmo, com tijolo, pra cachorro. Então a gente tinha cinco cachorros no quintal. Tinha quatro pastores alemães e um pastor belga, que a gente amava de paixão. Meu pai sempre foi um apaixonado por cães, muito. A minha mãe sempre gostou de cachorro, mas como ela tinha que limpar, ela não gostava muito. Tínhamos uma cozinha muito grande. Todos os cômodos da casa eram bem grandes. Então, dava pra correr bastante, dava pra brincar, se divertir. Eu brincava muito no quintal. Brincava de fazer comidinha, tinha minhas panelinhas, tinha meu fogãozinho, eu lembro até hoje do meu fogãozinho de ferro que eu tinha pra ficar cozinhando, e fazia minha mãe comer a comidinha, ainda. Então, era bem gostoso a casa por ser grande. Nós não gostávamos muito do bairro porque era um bairro perigoso, na época. Então, as pessoas conheciam a gente, não mexiam com a gente. Nossa casa nunca, nunca mexeram na nossa casa, mas não era um bairro muito confiável. Era bem perigoso. Então o que a gente sempre almejava, tinha como objetivo, era mudar dali, pra um lugar melhor, pra um bairro mais tranquilo que não fosse tão perigoso como ali.
P/1 – Você mencionou um pouco das brincadeiras de infância nessa casa, eu queria que você contasse do que você brincava e com quem você brincava.
R – Então, por eu ser filha única, geralmente eu brincava muito sozinha porque eu não tinha, mesmo, assim, né, não tinha irmãos, mas eu tinha um primo que a minha mãe, praticamente, criou ele; tanto que ele chamava minha mãe, no começo ele chamava a minha mãe de “mamãe” também, aí eu dizia pra ele que não era a mãe dele, que a minha mãe era a minha mãe. Mas ele brincava muito comigo. A gente tem cinco anos de diferença, mas era com quem eu brincava demais, brincava muito. E tinha uma vizinha também, que era uma menina, que também brincava comigo. Eu também tenho uma amiga que desde quando minha mãe estava grávida de mim, a mãe dela estava grávida dela. Elas eram amigas. Aí, eu nasci em abril, ela nasceu em agosto, e a minha mãe conta que desde quando eu tinha cinco, seis meses, que eu comecei já interagir, eu e ela já brincava, olhava uma pra cara da outra, dava risada e nós temos contato até hoje. Graças a Deus, existe Facebook pra gente continuar mantendo contato. Eu brincava muito de casinha, eu gostava muito. Nunca gostei de muitas brincadeiras mais perigosas, pra mim, por exemplo, uma brincadeira perigosa era pular corda. Eu tinha certeza que eu ia tropeçar e ia cair. Então eu tinha muito medo. Virar cambalhota, eu morria de medo também. Então, as minhas brincadeiras sempre foram voltadas pro lar. Então, era fazer comidinha, brincar de boneca, que eu tava nanando a neném, eu chegava até dar o peito, que eu tava amamentando a minha neném. Então, as minhas brincadeiras sempre era dessa forma. Nunca tive brincadeira de adultos, como hoje, por exemplo, sou professora e eu vejo as meninas com brincadeiras mais adultas. Então, brincadeiras que já tá casada, “esse é meu marido”, e eu não tinha esse tipo de brincadeira, minha brincadeira era com as minhas bonecas e fazer comidinha. Geralmente, era mais assim. E com meu primo, Tiago, que a gente brincava bastante, e com essa minha amiga de infância também, a gente brincava muito, e quando eu ia viajar, que era o momento que eu mais amava. Quando eu ia pra Birigui, pra casa dos meus avós, por parte de pai. Lá era a realização da minha vida. Lá, eu tinha todas as meninas do mundo na vizinhança, tinha muitas amigas, a casa da minha avó era muito grande. Eu era neta única, mulher, por parte do meu pai, então eu tinha todo o xodó da minha avó. Quando eu chegava lá, minha avó fazia bala de coco, que ela mesmo fazia. Ela puxava com a mão aquela coisa quente, aquela pasta quente, eu via ela fazendo aquilo, cortando depois a bala de coco. E ela vendia aquilo na cidade, então ela era muito conhecida como a senhora que fazia as balas de coco da cidade, e uma cidade muito pequena, Birigui. Então, eu amava as balas de coco da Dona Dulce (risos) que era muito gostoso mesmo. E o meu avô, chamava Miguel, ele mexia com máquinas de costura, aquelas antigas ainda. Então ele era o único que arrumava na cidade aquelas máquinas. Eu tinha um orgulho muito grande porque meu avô saía no jornalzinho da cidade, a minha avó saia no jornalzinho da cidade porque ela fazia as balas de coco. E no fundo do quintal da minha avó tinha a horta, então tudo era fresquinho, tudo colhido na hora, as frutas, pé de jabuticaba, que eu lembro que era uma maravilha, a gente subia no pé de jabuticaba, eu e o meu primo, pra gente chupar jabuticaba. Então coco, minha avó chuchava do coco lá mesmo tirava, com esse coco que ela fazia as balas de coco, então era muito gostoso. Quando eu vinha embora pra São Paulo, eu ficava muito triste, porque eu queria continuar lá, mas não dava, eu tinha que voltar pras aulas, já começava as aulas, eu tinha que voltar mesmo, mas todas as férias batia cartão lá na casa da minha avó.
P/1 – Delícia, né?
R – Era muito bom, era muito gostoso mesmo. Eu torcia pra chegar logo as férias, pra poder estar lá com ela, era muito bom. E sempre viajava eu, uma tia minha, o meu primo, Tiago, e o meu pai e minha mãe. Aí, quando meu pai e minha mãe não podiam ir, eu só com a minha tia, mas eu ia lá. Todas férias eu tava lá.
P/1 – Você mencionou a escola, quantos anos você tinha quando você começou a frequentar a escola?
R – Eu comecei com a escola, com quatro anos de idade. Eu estudava numa escola de padres... É estranho porque a maioria das pessoas acham que escola de padre só tem menino, e na verdade, nessa minha escola, não, nessa minha escola, chamava, que existe até hoje, uma escola que cresceu bastante, é Escola São Francisco de Assis. E lá tinha meninos e meninas. Então eu comecei aos quatro anos, no jardim, no começo foi bem difícil, como toda criança, eu queria ficar com minha mãe, então eu chorava muito, eu lembro de como eu chorava. Mas a minha mãe foi superpaciente, nessa época não existia aquele momento que a professora chamava a mãe ou o pai pra fazer uma adaptação. Não. Deixava na escola e você tinha que ir embora. Hoje em dia é completamente diferente. Hoje em dia, eu como professora até, sei como funciona. Você tem que chamar o pai ou a mãe, ou alguém pra fazer a adaptação pra criança, com a criança na escola. Nessa época, não. Você deixava lá, dava beijinho, “tchau, tenha boa aula.” Mas eu fui me adaptando, eu gostava muito da professora. Foi ali que eu fiz toda a minha pré-escola. Depois de lá, eu fui pra uma outra escola, onde eu comecei a primeira série, nessa época, né? Foi em outra escola já, e assim foi indo. Depois, eu estudei numa escola adventista. Depois dessa escola adventista, eu fui pra uma escola de freiras que é onde minha mãe trabalhava e eu tinha bolsa de estudo. Então, nessa escola, foi na sétima série, e foi quando eu comecei a estudar lá, nessa escola de freiras. Então, na escola de freiras a gente tinha que andar de saia, não tinha menino, a língua principal era o francês, francês e inglês. Aí, depois, no outro ano já saiu o francês, e começou a ter só o inglês e era uma escola muito gostosa, mas era muito rígida, com o ensino muito rígido, porque era de freiras e elas queriam o melhor estudo, era o Colégio Emilie de Villeneuve. Então, eles ficavam bem no pé mesmo, assim. Aí começou a entrar os meninos, aos poucos. Então, teve uma época na escola que a minha sala só tinha mulher, não teve nenhum homem. Quando começou a entrar os meninos na sala, a gente tinha até medo um pouco, assim: “Ai, Meu Deus! E agora?”. E era complicado mesmo, porque a gente usava saia e a gente tinha que fechar a saia, porque a gente subia as escadas e os meninos queriam olhar embaixo. Mas foi bacana porque a gente tinha que ter essa interação com todos, com os meninos, com as meninas, e a escola abriu espaço pra entrar os meninos também. A minha época de escola foi bem gostosa, eu gostava muito de ir pra escola, e na escola eu estudava período integral. De manhã, era aula normal e a tarde a gente tinha laboratório e aula de Educação Física, também.
P/1 – Você teve algum professor marcante, ou mais de um professor marcante, na vida escolar?
R – Eu tenho professores que eu tenho até hoje contato. Eu tenho uma professora que na época eu morria de medo dela, mas ela marcou minha vida por ela ser tão guerreira. Ela teve câncer de mama, minha professora de Matemática, professora Vera, Vera (Mikenviksius ? – 0’19’’36’’’), e ela teve câncer e ficou um período fora. Depois de muito tempo fora, fazendo o tratamento, ela voltou pra dar aula, ela não desistiu. Eu me formei no terceiro ano do colegial com ela me dando aula desde a sétima série. Ela sempre foi a minha professora, com aquele braço inchado por causa do câncer, mas ela pedia ajuda dos alunos pra apagar a lousa. Eu tenho ela como uma guerreira, então isso me marcou bastante. Uma outra professora que me marcou foi uma professora de Literatura, professora Patrícia, que eu achava ela muito inteligente. Ela conhecia de tudo, sobre literatura, língua portuguesa, ela falava muito bem o português. Então isso me marcou bastante também, porque eu olhava pra ela como um espelho, eu queria ser inteligente daquela forma. Conhecedora de lugares, ela viajava pra França. Então, quando ela falava de literatura pra gente, ela falava com propriedade, de lugares que ela já tinha conhecido, então ela era a minha inspiração. E uma outra professora, era a professora de Biologia, que era a professora Verinha. O que me marcava nela era o carinho. Ela era muito carinhosa. Então, eu peguei, desses meus três professores, eu peguei uma característica. Como uma era guerreira, a luta dela, então eu queria ser daquele jeito, guerreira como ela foi, a Vera. A Patrícia, a inteligência dela. E a Verinha, o carisma dela. Então, hoje eu sou professora. Nessa época, eu não imaginava que eu ia ser professora, porque eu nem tinha feito magistério. Porque nessa época pra você ser professora era obrigatório você ter o magistério, mas eu não fiz o magistério. Quando eu saí de lá, eu fui fazer Administração de Empresas, quando eu tava no segundo ano de Administração de Empresas, eu vi que não era nada daquilo, que eu não queria fazer aquilo, e eu decidi ser professora. Comecei a perceber como eu me dava bem com as crianças, como era gostoso ensinar, porque eu comecei frequentar a igreja e, lá na igreja, eu ensinava as crianças, e comecei a ver como era gostoso. Aí, eu falei assim: “Eu acho que quero ser professora.” E foi quando eu fui atrás. “E aí, eu tenho que fazer magistério de novo?” Eu vi que não precisava mais, porque a nova lei tinha que você fazer Pedagogia. Aí, eu fiquei muito feliz. Fui atrás, agarrei essa oportunidade com unhas e dentes, fiz a Pedagogia. Comecei a dar aula e peguei essas três características, dessas minhas três professoras. Quero ser lutadora, quero ser inteligente pros meus alunos e quero ser cativante, também. Quero que meus alunos não me achem só aquela pessoa que cobra, mas aquela pessoa que também ama os seus alunos e que se preocupa com eles também.
P/1 – Você lembra, nessa fase de infância, o que você queria ser quando crescesse?
R – Médica (risos). Eu dizia que eu queria ser médica. Sempre tava voltado pra área da saúde. Teve uma época que eu falava que eu queria ser obstetra, que eu queria muito fazer nascimento de criança, era meu sonho. Aí, mudei. Falei que eu queria ser dentista. Quando eu tava no colegial, eu dizia que queria ser dentista. Só que aí, a minha professora, a Verinha até, ela me explicou que na faculdade dela de Biologia, ela manuseava cabeça de defunto, que existia alguns defuntos até que chegavam com barba, assim, sabe, metade a carne e metade a barba. Aquilo me deixou tão apavorada que eu desisti na hora. Eu falei: “Eu não quero saber disso!”. Então, eu fiquei até o terceiro ano do colegial decididíssima a ser dentista. A partir da hora que eu fiquei sabendo disso foi imediato, eu desisti. Não quis mais saber e, aí, eu fiz Administração, na verdade, por falta de opção. Eu falei: “Eu não sei o que que eu vou fazer. Não quero sair da faculdade e ficar um ano parada, ou fazer um cursinho.” Até mesmo pra não decepcionar os meus pais, porque eu tinha medo que eles achassem que eu não ia mais estudar. Então, eu fui e fiz Administração, passei. Só que nesse meio tempo, foi quando eu comecei a dar aulas na igreja, né, mas aulas bíblicas, ensinos religiosos, né? Eu comecei a perceber o quanto era gostoso essa interação professora e aluno. Então, eu falei assim: “Eu quero isso todos os dias da minha vida.” Foi quando eu fui atrás de Pedagogia, consegui, né, ver que eu poderia dar aula, fazendo Pedagogia, fui atrás e comecei. Comecei como auxiliar de sala, trocando fralda de criança do berçário. Fui crescendo, fui mandando currículo. Meu sonho era ser concursada, passar num concurso público. Prestei, consegui passar num concurso público. Hoje, profissionalmente, eu posso dizer que eu to realizada.
P/1 – Eu vou voltar nessa parte profissional mais recente, mas agora eu vou voltar um pouquinho atrás. Ainda nessa fase de infância, pra fechar, eu queria saber se tem alguma memória, alguma lembrança de um caso, uma história, que você tenha vivido, que tenha sido marcante, nessa fase de infância. Uma coisa que tenha ficado na lembrança.
R – Coisas boas?
P/1 – Qualquer coisa. Uma coisa marcante.
R - Tá. O que me marcou bastante na minha infância não foi uma coisa muito legal, na verdade. É que, quando nós fomos embora pro Rio de Janeiro, o meu pai sofreu um acidente de carro e tinham dado o meu pai como morto já. Então, eu tinha nove anos de idade, ele entrou em coma, ficou um mês em coma, e eu tava em São Paulo quando aconteceu isso, porque nós estávamos vindo na casa dos meus avós pra passar férias. Nessa época, um amigo do meu pai, lá do Rio de Janeiro, pegou o primeiro avião, veio pra São Paulo pra avisar que o meu pai tinha sofrido um acidente. Não tinha celular na época (risos). A gente foi embora e realmente meu pai tava entre a vida e a morte. Ele ficou no hospital. O carro dele capotou. Ele teve traumatismo craniano. Então isso marcou muito. É uma história que pra mim... Eu lembro dessa história, sempre eu lembro dessa história, às vezes eu sonho com essa história, até. E o meu pai, ele... Os médicos comentaram que o meu pai, quando ele chegou no hospital, ele chegou andando, porque um amigo dele levou, falou: “Não, Hugo. Você tem que ir pro hospital.” Quando ele chegou lá no hospital, ele desmaiou. Aí eles perceberam que ele tinha entrado em coma. Só que eles foram dar uma injeção de glicose no meu pai e meu pai nesse momento, quando eles estavam preparando a injeção de glicose, ele acordou do nada e falou assim: “Doutor, eu sou diabético.” E desmaiou de novo. Então foi uma história que me marcou demais, que realmente não era o momento dele morrer, porque ele poderia ter levado uma injeção de glicose, porque ele era diabético, e ele ter morrido naquele momento. E não. Ele acordou, avisou. Suspenderam a glicose, não deram a injeção nele e aí ele ficou em coma por um mês. Quando ele acordou, a primeira palavra que ele falou que ele queria ver era a Marie. “Cadê a Marie? Cadê a minha filha? Eu quero ver a minha filha.” Eu apareci. Ele me abraçou, enfim, ficou tudo ótimo. Ele viveu, depois, muitos anos, mas infelizmente, em 2002, meu pai faleceu por causa da doença, diabete, e ele teve um infarto, também, fulminante que foi na minha frente, inclusive, também. Foi bem triste, bem chato, mesmo. E assim, uma coisa que hoje, por causa disso, eu me preocupo muito com a minha alimentação e a alimentação da minha filha, porque tanto da minha parte, como da parte do meu marido, tem diabéticos. Então, o meu pai era diabético e o pai do meu marido era diabético, também. Então a Manuela, minha filha, ela tem uma forte tendência a ser diabética. Então, eu não sou, meu marido não é, mas a gente toma muito cuidado com a alimentação. Nós iniciamos agora a papinha com ela, então eu to tendo um super cuidado, visitando a pediatra sempre, procurando a nutricionista, porque eu não quero que ela passe por isso. Então, eu cuido bastante da alimentação dela, agora, por causa disso. Pra mim é muito importante, pra ela não ser diabética.
P/1 – Marie, quando você sai dessa fase da infância, entra na fase da adolescência, o que muda na sua vida em termos de amizade, de lazer, se você passa a sair, pra onde você vai, o que você fazia pra se divertir, nessa fase de adolescência e juventude?
R – Tá. Na minha fase de adolescência, foi uma fase que foi quando eu tive mais amigos porque eu ia pra escola, então lá, a escola é um meio social incrível, né, então, você acaba não tendo muito... Muitas vezes você não vai nem na casa da pessoa, mas você vê todo dia na escola, acaba se tornando seus melhores amigos, as pessoas com quem você mais convive. Então, eu convivi muito com o pessoal da escola, principalmente porque nossa escola era período integral. Não todos os dias, mas três vezes por semana era período integral. Então, a gente convivia de mais um com o outro. Então, realmente, nós éramos uma família, e era muito gostoso. Então, a minha mãe era mais, como a minha mãe sempre foi um pouco mais brava, mais exigente, ela não me deixava muito ir pra balada, com meus amigos. Ela não gostava muito. Então, o que a gente fazia pra se divertir mais, nessa época, era mais mesmo, sair pra McDonald’s, né, uma lanchonete. A gente fazia muito isso. De passear durante o dia. Durante a noite, nossos pais, nessa época, já era mais... Tá na hora de dormir. Bem diferente de hoje, né? Hoje em dia, não. Durante o dia, fica em casa, à noite, os adolescentes vão sair com o namorado, né, vai pra balada, se divertir. Na minha época, não. Então, era mais pra você durante o dia se divertir, à noite dormir. Aí, depois, eu comecei a ter muita amizade com meus amigos que eram da igreja, que eu frequentava com a minha família. Foi quando eu tive uma amizade, um vínculo muito forte mesmo, foi com esses adolescentes. Eu posso dizer que foram os que mais me ajudaram na formação do meu caráter. Eu tenho uma amiga específica que me ajudou muito ser o que eu sou hoje, me ajudando com conselhos, com advertências. Então, foi muito divertido. Nossos passeios eram praia, de sábado à noite nós íamos a lanchonete, cinema, andar no shopping, passear na 25 de março, era nossa diversão. E é muito gostoso, era muito bom. Hoje em dia, é muito mais complicado porque todos são casados, filhos. Então, hoje em dia é mais difícil a gente tá, né, mas mesmo assim sempre tem uns momentos que nós chamamos de “momentos das meninas”. Por mais que já somos casadas, temos filhos, mas nós falamos isso. “Hoje, é o encontro de meninas.” Então, nós vamos nos encontrar, sempre quando a gente pode, mesmo com filho chorando no berço. Vai lá, coloca, nina ele, coloca chupeta e bate papo de novo, e vai conversando. E hoje em dia, o que ficou dessa antiga amizade, desse vínculo, até hoje nós temos, pra nos encontrarmos, comer, brincar, rir do passado, e assim vai.
P/1 – Você citou mais de uma vez essa questão do vínculo com a igreja, a questão de como te ajudou a perceber a sua vocação pra lecionar. Essa questão agora, da amizade forte. Eu queria que você contasse um pouco. A igreja chegou na sua vida num determinado momento, é isso? Porque parece que, a partir de um determinado momento. É isso mesmo? Contasse um pouco como é essa relação com a religião, quando é que isso entrou na sua vida e como foi essa experiência.
R – Na verdade, ela entrou, naquela história que eu contei quando o meu pai teve traumatismo craniano e ficou em coma. Então, eu tinha nove anos de idade, mas não entendia muito bem o que era isso. Eu sabia que existia, que eu sempre aprendi com os meus pais, que existia um Deus, que esse Deus ia te proteger em todos os momentos da sua vida. Não entendia muito bem como era essa relação direito por ser criança, né, não entendia muito bem, mas a minha mãe, ela sempre foi católica, o meu pai também. Depois que o meu pai teve esse acidente de carro, o que marcou muito essa parte da religião foi que a minha mãe uma vez tava assistindo televisão e ela... E tinha um programa de televisão que um pastor na igreja disse assim: “Se você tiver algum familiar que tá doente e tá no hospital, desenganado, põe uma peça de uma roupa dele aqui e põe um copo de água, e leva pra essa pessoa que tá enferma.” E minha mãe, naquele desespero de saber se meu pai ia sobreviver, se meu pai não ia, ela fez isso. Então, ela colocou uma blusa do meu pai, colocou um copo de água e ali ela fez a oração do jeito que ela sabia fazer mesmo. E nesse mesmo dia, ela pegou esse copo de água colocou numa garrafinha, pegou essa blusa do meu pai, e nós fomos pro hospital. E o meu pai em coma, minha mãe pegou um pedaço de algodão e colocou na água que tinha orado pela TV, e colocou na boca do meu pai, assim. Nesse mesmo dia, o meu pai, voltou. Então, é impressionante. Muitos podem dizer: “Ah, mas foi coincidência!” Mas nesse momento, pra gente, não foi coincidência, entende? Porque foi muito de imediato, foi horas depois. Então, eu acredito, eu creio que se não tivesse colocado essa aguinha, eu acho que meu pai não teria voltado. Então colocou no período da tarde, à noite meu pai voltou perguntando onde estava Marie. Então, é por isso que a partir desse dia eu percebi que, realmente, esse Deus era um Deus muito poderoso. E que eu queria seguir esse Deus poderoso, porque ele praticamente ressuscitou o meu pai. Então eu falei: “Eu quero!” Eu fui crescendo, minha mãe continuou indo, frequentando a igreja, o meu pai também começou a frequentar a igreja. Eu cresci gostando daquilo, não desisti daquilo. Foi quando eu fui pra... Na adolescência eu fui pra Igreja Cristã da Família, que chama a nossa igreja. Foi onde eu comecei a adquirir amizades, ter meus amigos que eu sou amiga até hoje. Por isso esse vínculo, porque nós passamos por vários momentos juntos, momentos da adolescência, momentos de confusão, de dúvidas, que adolescente é cheio de dúvida. Então, elas são minhas amigas não só porque minha ajudaram em momentos com oração, como também momentos de sabedoria mesmo, de dizer: “Olha, Marie, eu acho que a melhor forma de agir nessa situação é fazendo assim...” Na igreja foi fundamental, pra que eu pudesse crescer, pra que eu pudesse pensar de uma forma... Pensar, na verdade, fazer eu pensar, porque antes eu acho que eu agia muito pela minha emoção, pela minha razão. E a igreja me fez parar, pensar, refletir, como agir em determinado momento. E uma amiga minha específica que chama Priscila, que ela sempre me direcionou, assim, um pouco. “Ah, Marie, eu acho melhor você fazer assim. Eu acho melhor você fazer assado.” Então, sempre foi assim. Foi bem importante essa fase da minha vida.
P/1 – Você mencionou, de uma forma geral, os momentos que foram importantes ou decisivos ou coisas que vocês viveram juntos. Conta pra gente, uma história, um episódio, algum momento que tenha sido marcante, forte, pra você nessa fase de adolescência, de juventude.
R – Momento forte?
P/1 – É. Um episódio, uma história, uma coisa marcante...
R – De adolescência...
P/1 – Ou dessa fase de juventude. Eu falei um momento forte, mas pode ser uma coisa leve também, pode ser uma história, essas histórias que você sempre se lembra, ficam marcadas, uma coisa que talvez depois você vá contar pro seus filhos.
R – Ah, eu tenho uma história engraçada. Uma história foi que, eu estava na praia com essa minha amiga, Priscila, e a gente tava de carro. Eu tinha tirado carta há pouco tempo, era novinha. Tinha acabado de tirar. Então, a gente resolveu ir pra praia. Quando eu cheguei lá, na praia, eu estacionei num lugar proibido (risos). Não sabia que aquele lugar era proibido e meu carro foi guinchado, foi na Praia Grande. Ah, esse momento foi bem legal! E o meu carro foi guinchado. Só que eu não sabia que o meu carro tinha sido guinchado. Então a gente ficou lá, tomando sol, conversando, batendo papo. Quando a gente voltou... Só que a gente ia passar o dia na praia, bem coisa assim mesmo de farofeira (risos). E a gente ia passar o dia na praia. Quando a gente voltou, de biquíni, amarrado a canga. Cheguei lá no local: “Cadê meu carro?”. Aí, tinha um rapaz sentado, e falou assim pra mim: “Você tá procurando um Gol branco que tava aqui?” Eu falei: “Tô.” “Então, ele foi guinchado.” Eu falei: “Não acredito! Como assim ele foi guinchado?” “Foi guinchado porque aqui é local proibido, não podia.” Eu falei: “Ué, não tinha reparado.” Ele falou: “Então, eles deixam sempre telefone pra ligar.” Eu fiquei desesperada. Liguei pra esse número, eles falaram assim: “Seu carro tá guinchado. Vai ficar no pátio, você vai ter que vir aqui pra pagar.” E eu falei assim: “Mas a minha bolsa ficou no porta-malas, eu to sem dinheiro, eu to sem nada.” Eu fiquei apavorada nesse dia. Tava passando uma viatura da polícia. E a gente acenou, eu e Priscila acenamos pra esse policial, o policial veio e perguntou o que estava acontecendo, eu expliquei pra ele. Ele falou: “Não, a gente leva vocês até lá.” Ele levou a gente, só que tinha que pagar. Eu falei: “Meu Deus, e agora, o que quê a gente faz? Eu não tenho dinheiro nem pra voltar pra São Paulo.” Aí, o policial falou assim: “Olha, nós estamos indo pra São Paulo. Vocês querem carona?” E a gente de biquíni, então imagina a situação, né, só com amarrado aqui, de chinelo. Falei assim: “Ah, mas onde você pode deixar a gente?” “Ah, a gente deixa vocês numa estação de metrô.” Então, eles deixaram a gente, acho que foi na Barra Funda, lotado, horário de pico. Foi assim, aquela coisa. Ele deixou a gente lá, realmente ele levou a gente. Quando a gente chegou lá, tava lotado, e a gente de biquíni. Pensa na situação. Quando a gente foi tentar entrar dentro do metrô, o metrô fechou a porta, e fechou a porta segurando o chinelo da minha amiga, ela tava com o chinelo na mão e segurou o chinelo da minha amiga. O metrô foi andando e ela foi junto, com o chinelo. Eu comecei a gritar: “Priscila!!” E segurei na cintura dela, e a gente foi indo, e ela indo com o metrô, até que ela puxou e a gente caiu e todo mundo ria, todo mundo achou engraçado aquela situação e a gente morrendo de vergonha. Se tampando, porque tava de biquíni e tava muito, mesmo, assim. E nesse dia, o mais engraçado, é que nesse dia ela precisava chegar mais cedo, porque ela tinha um encontro que hoje é o marido dela, mas um encontro com o namorado, que ia pedir ela em namoro, na verdade, ia ser o primeiro encontro deles. Então, a gente chegou em casa apavorado. Até ela se arrumar, até, né, tomar um banho, se arrumar, tudo, pegar uma roupa, ia demorar muito pra acontecer isso. Mas, enfim, a gente chegou em São Paulo. No outro dia, o meu pai foi com a gente até a praia e aí eu consegui resgatar o meu carro do pátio, mas foi uma história que até hoje, quando chega uma amiga nova no nosso grupo, a gente conta essa história, pra todo mundo dar risada, porque foi uma história que marcou a gente mesmo, uma história bem engraçada.
P/1 – Mas aqui...
R – Não, imagina? A gente na Barra Funda de biquíni e eles sabiam que a gente tava de biquíni, porque a gente tava com a canga amarrada, aqui, assim, e todo mundo de roupa, normal. Estavam voltando do trabalho, era no meio de semana, e a gente lá caindo do metrô, segurando o chinelo dela, e eu segurando na cintura dela, pra ela não ir embora com o metrô.
P/1 – Um aperto.
R – Mas foi engraçado, foi bem divertido. A gente ri muito.
P/1 – Fiquei curiosa também, você falou que essa experiência de dar aula na igreja, fez pensar que essa era a sua vocação, né? Você se lembra dessa primeira experiência, que é na igreja? De algum momento, assim, de alguma situação que tenha te dado um clique. Quando você percebeu isso? Quando é que você sentiu isso?
R – Então, foi a primeira vez...Eu tinha uma vizinha que essa minha vizinha ela me levou pra um cultinho, que é chamado, que é essa escolinha pras crianças aprenderem a palavra de Deus, a bíblia. Então, ela me levou, por quê? Porque ela tinha filhos pequenos, na época, três filhos pequenos que frequentavam todos os domingos de manhã, que chamavam de EBD, que é Escola Bíblica Dominical, e ela me convidou. “Você quer ir pra conhecer? Vamos lá.” Aí, eu fui com ela pra conhecer, gostava muito dessa minha vizinha, a Marisnaide, e fui ver como que era. Quando eu vi a professora ministrando lá na frente, que a gente chama ela de tia Elisa, quando a gente viu... Eu vi ela falando e cantando musiquinha, ensinando, fazendo concurso com as crianças pra ganhar prêmios, eu achei muito bacana. Aí, eu comecei a querer frequentar todos os domingos, mas como ouvinte, que nem as crianças. E comecei a frequentar todos os domingos de manhã. Todos os domingos de manhã, eu ia com a Marisnaide e com os três filhos dela, pra tá vendo a Escola Bíblica Dominical. Até que um dia, a tia Elisa, ela chegou pra mim, ela falou assim: “Você quer me ajudar? Você quer ser a minha ajudante?” Eu falei assim: “Ah, eu posso?” Ela falou assim: “É claro! Pode vir.” E aí ela me deu um microfone, eu comecei a cantar as musiquinhas com ela. E aquilo me encheu de satisfação, me encheu de orgulho, eu me senti super útil, me senti uma professora daquele momento, né, ministrando ali, na vida das crianças. Eu comecei a todos os domingos ajudar ela. Até que um dia, ela não pôde ir. E aí ela pediu pra que eu pudesse ministrar pras crianças, sozinha. Deu aquele calafrio, aquele frio na barriga, deu tudo, né? Mas eu fiz. Gaguejei, mas foi a minha primeira vez e ali eu senti que a minha vocação era com crianças. Foi isso que eu senti. Eu percebi naquele momento que eu não queria mais largar as crianças de alguma forma. Eu não sabia como ainda, mas eu queria estar no meio das crianças. E aí todos os domingos eu fui ministrando, e aí começou a ter escala. Então um domingo era ela, um domingo era eu, de manhã. À noite, também, começou a ter à noite. Aí, eu comecei todos os domingos à noite fazer a ministração para as crianças também, e aquilo foi só aumentando a minha vontade mesmo de dar aula. E eu fazendo faculdade de Administração. Aí, eu fui percebendo cada dia ainda mais que eu trabalhava nessa época num escritório de telemarketing. Eu ia todos os dias pro escritório de telemarketing com aquele peso nos meus ombros, que eu falava: “Ai, meu Deus, cadê minhas crianças?” E até que um dia, eu falei assim: “Realmente, não é isso que eu quero.” Foi quando eu fui lá, tranquei a matrícula. Minha mãe ficou doida nessa época porque foi a minha mãe que pagava minha faculdade, então, imagina, né, ela sentiu que eu joguei o dinheiro dela no lixo por dois anos. Mas eu tranquei a faculdade, saí desse escritório de telemarketing e fui atrás de alguma escola. Eu lembro que nesse dia, que eu pedi a conta do escritório, eu comecei a andar ali pelas ruas do Brooklin e vi uma escolinha. Cheguei lá, eu falei assim: “Olha, vocês tão precisando de ajudante, alguma coisa pra trabalhar com criança?” Nem sabia direito como que pediria esse emprego. O currículo eu não ia ter pra dar, porque eu não tinha experiência nenhuma na área de Educação. Aí, ela pediu pra eu entrar. Quando ela pediu pra eu entrar, ela me deu uma provinha, um teste, com perguntas pedagógicas. Eu sei que eu inventei várias coisas que eu achava. “O que quê é isso?” Eu lembro que uma das perguntas, era: “O que é construtivismo?” Eu inventei algo, baseado na palavra “construtivismo”, mas não era aquela resposta. Eu falei assim: “Ah, pronto, eu não vou conseguir.” Mas pra minha surpresa meu telefone tocou no outro dia, falando assim: “Marie, eu percebi que você não foi bem na prova, mas eu percebi uma força de vontade, uma vontade de querer estar aqui, tremenda. Então, nós decidimos investir em você. Você aceita trabalhar como auxiliar de professora?” Eu falei: “Nossa! Demorou! Lógico!” Aí, fui, era uma escola que as crianças ficavam o dia inteiro lá. Então eram crianças que eu alimentava, que eu dava sopinha, que tava naquela fase e sopinha, que as mães tinham acabado de sair de licença de maternidade, e estavam colocando as crianças lá. Então eu dava sopinha pra elas, trocava fralda. Foi lá que eu aprendi a trocar fralda. Depois de lá, eles me colocaram numa sala mais de pré, então eu comecei a ver atividades, anotava tudo num caderno, pra poder um dia, almejando já ter a minha sala, já saber que atividades eu poderia dar pras crianças, o que aquela atividade estava desenvolvendo nela. E foi assim que eu fui fazendo. No final do ano, eu prestei vestibular, passei. Entrei na faculdade. Aí, a partir daquele dia, já entrei com tudo. Entrei numa escola chamada Móbile, que fica ali em Moema, e foi ali que eu posso te dizer que foi uma segunda faculdade na minha vida. Ali, eu aprendi ser professora, ali eu aprendi como lidar com os alunos, como falar com eles, em diversos tipos de situações, em situações mais complicadas pro aluno, em situações legais. Então, ali foi uma grande escola. A diretora de lá me ensinou muita coisa, as professoras me ensinaram muita coisa. E ali eu fiquei por quatro anos, ali. Então, foi muito bom, foi onde eu aprendi muita coisa.
P/1 – Esse trabalho na Móbile, foi seu terceiro emprego? Foi isso? Você falou que você estava na firma de telemarketing...
R – Isso.
P/1 – Aí, depois, teve essa escola menor que te recebeu, que abriu as portas, depois a Móbile.
R – A Móbile.
P/1 – Eu queria saber, pode ser num dos três, ou no escritório de telemarketing, se você se lembra o que você fez com os seus primeiros salários? O que você comprou? Você comprou alguma coisa que você desejava?
R – Sim. Engraçado, o meu primeiro salário eu comprei uma cesta de fruta pra minha mãe, mas uma cesta grande, assim, aqueles armarinhos de fruta, na verdade. Então, minha mãe queria ter e eu comprei isso. Depois disso, aí eu fui atrás de roupa. Eu quis roupa. Eu comprei várias calças pra mim, blusinhas porque eu queria, né, tá me vestindo bem, foi meu primeiro salário. Então eu fazia isso, e queria também, muitas vezes... Eu passava no supermercado, comprava coisas, eu queria mostrar que eu tinha ficado adulta, sabe, que eu tinha ficado mocinha. Então, eu ia atrás disso. Eu ia no sacolão, comprar frutas, verduras, legumes. E também ir no supermercado, também, fazer essas coisas. E comprar coisas pra mim. Nossa! Brinquinho, anel, pulseira. Vivia fazendo isso.
P/1 – Na Móbile, você falou que você aprendeu muito lá, de como agir com criança, com a prática mesmo, da professora, pedagoga. Eu queria saber se você tem alguma história, também, algum exemplo desse aprendizado. Alguma coisa que você tenha vivido lá, que seja um momento que ilustre, mesmo, isso que você tá dizendo pra gente do aprendizado, uma situação que você tenha vivido.
R – Então, umas das coisas que eu aprendi na Móbile é que pra você nunca dar uma resposta pronta pra criança. Então se, por exemplo, uma criança chegar pra mim, principalmente porque lá, a Móbile, não é uma escola que fala de alguma religião específica. Então, se uma criança chegasse pra mim e perguntasse, assim: “Professora, Deus existe?” Em vez de eu falar, assim, pra ela: “Não. Deus existe sim. Ele existe, ele é poderoso...” Todas essas coisas. Não! Você perguntava pra criança: “O que você acha? Você acha que ele existe.” “Ah, eu acho ele existe.” “Ah, então, ele existe.” Então, eu lembro que o modo de falar com a criança que fazia toda a diferença. A rotina é uma coisa que eu aprendi muito na Móbile. Toda criança tem necessidade de uma rotina, isso faz com que se torne um adulto com menos ansiedade. Então, isso me preocupava bastante em manter essa rotina com a criança. Então desde as crianças de três anos até as crianças mais velhas, de seis anos, que saíam dali, iam pra primeira série, com sete anos, todas elas tinham uma rotina. Elas já sabiam o que esperar, depois de alguma atividade. E saber o que aquela atividade tá realizando naquela criança. Ela tem que ter significado, então isso eu aprendi muito também, na Móbile. Não é dar uma atividade por dar. Não é você passar um desenho animado, só pra passar o tempo, porque hoje em dia, a gente vê muito isso, infelizmente, a educação no Brasil é assim. A escola pública fez com que a as professoras dessem qualquer tipo de conteúdo pra criança. E elas, muitas vezes, dão e nem sabem qual o objetivo daquela atividade. E na Móbile foi o que eu aprendi: nunca dê, nem que for um desenho animado, sempre tem que ter significado pra criança. Se você tá dando, sobre a Chapeuzinho Vermelho, então, o que você quer ensinar com aquela história? As cores? Ah, então tá. Que cor que é o casaco que a Chapeuzinho Vermelho está usando? Vermelho? Então, vamos estudar a cor vermelha. Todas as coisas tem que existir significado. Isso eu trago pra mim, até hoje. Então, eu dei aula pra crianças... Até o ano passado, eu dei aulas pra crianças com deficiência intelectual. Eu sou especialista em deficiência intelectual. Então, não tinha uma atividade com as crianças, nenhuma, que eu não tivesse em mente um significado, um objetivo pra aquela atividade, desde soltar uma bolinha de sabão no meio do pátio, até uma atividade mais complexa.
P/1 – Queria perguntar se nessa sua experiência como professora você teve algum aluno marcante, alguma história marcante?
R – Eu tive. Foi na Móbile. O meu primeiro aluno com deficiência intelectual, que foi o Mateus. Ele foi uma criança que me marcou muito porque até então eu sempre lidei com crianças que falam, ditas, normais, né? E de repente eu comecei a lidar com uma criança PC, que teve paralisia cerebral. Então, foi com ele que eu percebi o quanto uma criança, ela é capaz de realizar coisas quando ele tem vontade mesmo, de realizar. O Mateus tinha muita força de vontade, muita vontade de viver, muita vontade de aprender. Então, ele era uma criança que muitas vezes tem crianças que nem andam quando tem uma deficiência, né, ele não. Ele usava um aparelho nas pernas, mas ele andava, ele brincava, ele corria atrás das crianças como os outros estavam correndo. Ele não conseguia jogar uma bola, chutar, mas sempre as próprias crianças mesmo jogavam a bola pra ele. Nunca teve essa discriminação. Sempre brincavam, jogavam. E ele brincava e ele ria, ele tinha um prazer enorme de viver. Então, o Mateus me fez perceber o quanto eu também queria me especializar na área de deficiência, não queria apenas só ser pedagoga, queria ser mais, eu queria trabalhar com crianças deficientes. Foi quando eu fui atrás. Foi por causa do Mateus. Então, ele me marcou bastante. Eu comecei a trabalhar em salas de recurso, em salas especiais, que aí na sala só tinha crianças com deficiência, aí eu tive diversos tipos de alunos. Tive crianças com Síndrome de Down, eu tive crianças com paralisia cerebral, tive crianças com hidrocefalia, então eu tive diversos tipos de síndromes, com as quais eu tava ali lidando todos os dias. E nunca eu vou dizer, e nunca disse, que a aquela criança não tinha, não tinha condições de conseguir algo. Não! Todas têm condições. Pode demorar, não é no mesmo tempo que os outros, mas ela vai conseguir sim. Então, o que eu percebia muito é que quando tem algum aluno com deficiência numa sala com outros alunos, a professora fica meio desesperada. Quando ela já tá inclusa numa sala de ensino regular, ela fica apavorada, porque às vezes ela está ensinando uma conta de divisão, e como ensinar uma conta de divisão para um aluno que é PC, por exemplo? Só que existem outras maneiras de ensinar, não precisa ser da mesma maneira que você ensina aquela criança, mas todas as crianças, todos nós, na verdade, cada um aprende de uma forma. Tem uns que são mais visuais, tem outros que são mais auditivos, e a mesma coisa uma criança especial. Ela vai aprender, mas de uma forma diferente, como todos nós também aprendemos de formas diferentes. Então, foi quando, cada dia mais eu fui me especializando, cada dia mais eu fui trabalhando, tive momentos felizes, assim, maravilhosos, com meus alunos. Tive um momento muito triste o ano passado, que foi a perda de uma aluna, que ela faleceu com nove anos de idade, porque ela teve quinze convulsões seguidas. Então, são momentos tristes também, que a gente tem que lidar nessa área, também. A gente acaba se apegando com essa criança, né, porque a gente fica com ela todos os dias, sabe dos problemas dela, sabe os momentos que ela... Ela fala do dia a dia dela pra você, ela te conta as coisas, ela te ama, de verdade. É um amor sincero dessas crianças pra você. Não só dessa, mas como todas as crianças. Criança não é falsa. Aí, foi uma perda muito grande, principalmente porque ela faleceu no dia do meu aniversário. No dia do meu aniversário, eu tava no cemitério, velando ela. Mas é uma área muito gratificante. Este ano eu depois de oito anos dando aula pra deficiência, eu voltei pra educação infantil. Então, agora, eu to com crianças de pré-escola, eu voltei pra área de pré-escola, mas não significa que eu não vou lidar ainda com elas, porque dentro de uma escola tem a inclusão. Então, as salas têm um ou outro com uma deficiência. Então, eles sempre me chamam: “Marie, me socorre! Eu to com um aluno que é deficiente. Você precisa me ajudar.” Então, eu vou lá, dou uma mão, socorro aquela professora.
P/1 – Você lembra de alguma história de conquista desses alunos com mais dificuldades? Uma coisa que você tenha acompanhado?
R – Sim. Eu tive um aluno que ele tinha paralisia cerebral também, e ele não conseguia comer sozinho. Então, na escola ele almoçava na escola, né? Então sempre alguém que tinha que dar a comida pra ele. Então, eu adaptei a colher dele, né, com a ajuda de uma outra professora, que teve a ideia também, e pegamos essa colher, fizemos o cabo mais grosso e adaptamos na mão dele, assim. Ele conseguiu colocar a colher, a gente ficou naquela torcida, naquela expectativa, colocou a colher no prato, e conseguiu levar até a boca. Aquele momento foi um momento muito bacana, muito legal mesmo. Foi uma conquista, porque antes da criança conseguir colocar a mão em um objeto, levar até a boca, são vários tipos de atividades que a gente vai fazendo, pra ele conseguir adquirir uma coordenação motora fina. Pra você pegar uma coisa pequena, é uma coordenação motora fina, coordenação motora grossa. Então a gente tava trabalhando já com essa criança pra ela conseguir adquirir essas habilidades. De repente, nós conseguimos fazer com que ela pegasse uma colher, colocasse até a boca, foi uma verdadeira vitória, foi uma conquista muito grande pra gente.
P/1 – Incrível, né?
R – Foi incrível.
P/1 – Marie, queria trazer um pouquinho pra sua vida pessoal, e perguntar quando você conheceu o seu marido e como vocês se conheceram?
R – Nossa!
P/1 – Em que momento, que idade você tinha? Como é que foi esse encontro?
R – Tá. Eu conheci o meu marido no dia do falecimento, que fazia um ano que meu pai tinha falecido. Então, naquele dia eu tava bem triste, porque fazia um ano que meu pai tinha falecido. Eu saí da escola, minha mãe trabalhava na mesma escola, falei pra minha mãe que eu já tava indo embora e que eu ia me arrumar, ia me maquiar, ia ficar bem bonita, naquele dia, pra poder... Eu não tinha namorado. Então, eu falei assim: “Eu vou fingir que eu tenho namorado, e nesse dia eu vou me arrumar de ficar bem bonita, e vou ficar em casa.” E foi o que eu fiz, eu me arrumei, eu fiquei super arrumadinha, bonita, maquiada. Aí, eu não tinha o que fazer, eu fui jogar o lixo da cozinha no prédio, eu morava num prédio, e eu fui jogar. Nisso, quando eu fui jogar o lixo na cozinha, abriram a porta do elevador e bateu no meu ombro, junto com a minha cachorrinha que eu mais amava na vida, a minha poodle, que já faleceu, que ela tava... Naquele época, eu acho que ela tinha, eu não sei agora, uns nove, dez anos, mas ela faleceu com dezessete anos. Eu sei que ele bateu a porta do elevador em mim, e ele pediu desculpa, ele falou pra mim, assim: “Ai, desculpa!” Eu falei: “Não. Tudo bem.” Aí, ele falou: “Você precisa de ajuda?” Abriu a porta, assim, joguei o lixo lá. Ele veio perguntar da cachorrinha, quase pediu o telefone da cachorrinha, mas perguntou se a cachorrinha era brava, ela chamava Tasha, né, perguntou se ela era brava. Eu falei que não, que ela era mansinha, ele foi brincando com a cachorra, e a gente começou a conversar, conversar, até que ele me confessou que já fazia algum tempo, ali no prédio, que ele já estava de olho em mim, que ele estava me olhando já fazia bastante tempo e que ele tava apaixonado. Eu falei assim: “Você é louco! Você nem me conhece! Como assim, que você tá falando que tá, né, apaixonado?” Mas, enfim, quando chegou no outro dia, ele voltou lá, no meu apartamento, tocou a campainha, perguntou se eu queria tomar um sorvete com ele. E assim ele foi me conquistando aos poucos, porque não foi amor a primeira vista. Eu achei ele lindo, na hora, falei assim: “Nossa! Que rapaz é bonito.” Mas nada de: “Ah!”, né? De cair apaixonada, né, mas ele foi me conquistando aos poucos. Aos poucos ele foi me conquistando. Eu sei que em um ano e meio a gente namorou, noivou e casou. E hoje a gente... Esse ano vai fazer dez anos de casados.
P/1 – Foi rápido.
R – Foi. Foi bem rápido. A gente resolveu rápido, assim, também. Eu tinha namorado, né, eu já tinha tido um namorado que durou dois anos e pouco. Não deu certo o namoro. Não quis namorar mais também. Ele também tinha tido uma namorada, não deu certo também. E aí também a gente começou a namorar e já casou, também.
P/1 – Conta como é que foi o casamento, então, como vocês decidiram se casar e como é que foi o casamento?
R – Com seis meses de namoro, ele já falou pra mim: “Vamos ficar noivos.” Nossa! Eu fiquei assustada na hora. Eu falei: “Meu Deus!” Mas ficamos noivos. Ele falou assim: “Olha, a gente vai casar, eu quero casar com você.” Eu lembro que só tinha eu, e minha mãe, então minha mãe queria, falou assim: “Olha, aqui só tá eu e a Marie de mulher, então não é porque aqui só tem duas mulheres que não tem regras não, viu, Roberto?”, falou pra ele. “Tem regras!” Ele falou: “Não. Lógico, né?” Mas ele sempre respeitou os horários de casa, sempre respeitou a minha mãe. Quando a gente saía, me trazia no horário certo, que a minha mãe era exigente com isso. Então, a gente começou planejar. “Olha, quando que a gente vai casar?” Ah, olhamos no calendário e buscamos uma data. A gente resolveu casar no dia quatro de dezembro de 2004. Nisso, a gente teve um ano, mais ou menos, pra arrumar tudo. Eu fui atrás de modelos de vestido de noiva, mas eu não tive dúvida quando eu cheguei na loja, eu falei: “É esse que eu quero!” E não tive esse problema que todas as noivas do mundo tem. “Ai, qual o meu vestido ideal.” Não. Eu não tive. Eu cheguei lá, bati o olho. Era um vestido que já estava pronto, mas nunca ninguém tinha usado o vestido, era novo. Eu falei: “Mas é este o meu vestido!” Eu vesti aquele e foi aquele que ficou mesmo, assim. Então, ele ficou sendo ajustado no meu corpo por um ano, porque eu comprei ele logo quando a gente falou que ia se casar. A gente foi atrás de buffet, as minhas cunhadas... O meu marido, ele tem cinco irmãs mulheres, então, ele é o caçula. Todas têm habilidades manuais, assim. Pra alguma coisa. Uma é pra comida, outra é pra fazer trabalhos manuais mesmo, assim, como biscuit, sempre alguma coisa assim pra área da arte, pintura de quadros, tal, costura. Todas elas me ajudaram a organizar, tanto que o nosso noivado foi uma festa. A gente fez uma festa. Uma delas que fez o meu bolo, com pasta americana, todo moldado, bonito, fez um fundo, parecia casamento, mesa de casamento, mas era mesa de noivado. Foi gostoso porque a gente ficou durante o ano todo saindo atrás de lojas, comprando coisas, indo atrás de lugares pra alugar talheres, alugar pratos, pesquisar músicas. Minha amiga, essa minha amiga que eu falo, a Priscila, ela toca, a irmã dela também toca, então eu escolhi ela pra tocar no meu casamento. Um amigo e uma amiga pra cantar no meu casamento, que tinha uma voz linda. Foi um ano de preparação mesmo. Elas ensaiaram, né, pra poder fazer o melhor no dia. Foi um dia que eu queria muito fazer o dia da noiva. Então pra mim foi perfeito o meu dia da noiva. Aí foi me buscar lá, né, com carro lindo na porta do salão. Então, foi um dia, pra mim, assim, muito especial. Foi um dia que eu me senti uma verdadeira rainha. Do jeito que eu sonhava, do modo que eu sempre sonhei, foi realizado. Tudo que eu queria aconteceu mesmo, assim, do jeito que eu queria, né? A gente não tinha muito dinheiro pra fazer as coisas da época, mas a gente conseguiu adaptar, ir atrás de fornecedores, não tinha uma pessoa que organizasse isso pra mim, né, na época. Eu e minhas cunhadas que fazíamos isso, em especial uma das minhas cunhadas, a Cristiane, ela que ia com carro comigo, a gente andava pra cima e pra baixo atrás de lugares, onde a gente podia ver, comprava revista pra gente vê. “Ai, que mesa linda! Ai, vamos comprar o tecido, assim.” E a gente ia na loja de tecido pra comprar. Então, os preparativos foi gostoso. O dia foi um dia de sonho, um dia de, realmente, realização do meu sonho. Foi tudo que eu esperei, aconteceu mesmo. Eu acho que, hoje em dia, já me perguntaram até, se eu mudaria alguma coisa do dia da festa, tal. Eu costumo dizer que a única coisa que eu mudaria é a minha coroa, só. Mas de resto, tudo foi perfeito. O meu vestido, eu casaria com o mesmo vestido, e casaria com o mesmo marido também (risos).
P/1 – Conta um pouco pra gente como foi o dia... Você falou que tinha amigo tocando, cantando, assim, onde foi a cerimônia, o que tinha de música. Quais são as lembranças que você tem da cerimônia, do dia mesmo?
R – Eu sempre amei demais contos de fada, sempre amei. Mundo Disney pra mim é algo muito forte, assim uma coisa de princesa mesmo. Então, eu fiz questão junto com a minha amiga, de escolher muitas músicas dos contos de fadas, mesmo, né? Da “Bela e a Fera”. Então, eu quis... Mas a música de entrada eu quis a música tradicional, a marcha, mesmo, nupcial. Essas duas amigas minhas que tocaram, elas me indicaram, inclusive essas músicas que eu falei que eu queria. Teve música de um cantor que a gente gosta muito, que é o Michael W. Smith, também, que também teve algumas músicas dele, também. Mas pra mim foi um mundo encantado mesmo, assim. Então, as músicas, desde as músicas até a festa, tudo teve, assim, pra mim, tudo foi meio mágico, meio encantado mesmo.
P/1 – A festa foi bacana? Vocês se casaram na igreja, a cerimônia?
R – Isso. A gente se casou numa igreja, que foi uma igreja Assembleia de Deus, ali do Brooklin. Nós fomos lá, com essa mãe dessa minha amiga, que ela tinha contato com os pastores de lá. Nós não fazemos parte dessa igreja, mas eles cedem a igreja pra casamentos. Nós fomos lá, ela conversou com um responsável pela igreja, pelo pastor responsável, e ele, nossa, ficou super honrado de realizar nossa cerimônia lá. Eu queria uma igreja com carinha de igreja mesmo, aquelas carinhas de igreja de interior. Então, que tivesse aquela porta de madeira que abrisse, assim, eu queria muito uma igreja assim, e aquela igreja é perfeita. Ela existe até hoje lá na Vila Olímpia, é verdade. Foi perfeito. Então, nós fomos lá, ele falou que tava permitido, que a gente podia, eu fui atrás dos floristas. Aí, ele foi na igreja, me deu diversas ideias de como decorar a igreja, eu quis flores do campo. Então, pra mim essa coisa de: “Ah, capelinha de interior.” Eu fiz até na decoração mesmo, porque eu queria mesmo. Não coloquei véu, assim, coloquei uma, tipo um arranjo verde, assim mesmo de folhas, que eu coloquei. Então, foi tudo muito verde, um arco de flores, assim, também, pra eu entrar. Eu prestei atenção em cada detalhe. Eu fiz questão de ir junto pra escolher as minhas flores. Eu fui no Ceasa pra escolher, pessoalmente, levantei de madrugada, fui lá escolher as minhas flores e ficou tudo do jeito que eu queria mesmo. Então, foi nessa igrejinha ali na Vila Olímpia, foi do jeito mesmo que eu queria, naquela igreja, com um pastor que eu queria, que eu escolhi pra ser quem ia fazer a cerimônia do meu casamento. Foi isso.
P/1 – Vocês tiveram lua de mel?
R – Sim. Nós fomos, todos os padrinhos se juntaram pra nos dar um presente. Falaram assim: “O que quê vocês precisam mais, assim?” Nós falamos assim: “Ah, o que a gente precisa é da lua de mel, né, assim, a gente vai fazer, mas a gente que vai pagar.” Aí, todos deram pra gente um hotel chiquérrimo, lindo, maravilhoso, lá em Ilha Bela. Nós fomos pra Ilha Bela. Pegamos nosso carro e fomos pra Ilha Bela e ficamos num hotel maravilhoso lá, muito gostoso mesmo e foi muito bom. A gente ficou uma semana lá e eu não conhecia, na época, Ilha Bela. Não! Eu fui uma vez pra Ilha Bela nessa época, desculpa, foi uma vez que eu tinha ido pra Ilha Bela, e eu tinha gostado muito. Então, eu quis retornar pra lá e foi muito gostoso. Meu marido não conhecia, mas ele também amou. Foi bom, foi legal.
P/1 – Marie, eu queria saber, depois de vocês se casarem, a vida de casados, quando que veio a gravidez? Qual a história da gravidez?
R – A história da minha gravidez é bonita. É bem bonita, porque a gravidez a gente desejava ter bebê desde quando a gente tava, mais ou menos, com três, quatro anos de casado. Então, nós tentávamos ter bebê e eu nunca engravidava. Fiz diversos exames pra ver se tinha alguma coisa errada, e não tinha nada de errado. Não via nada de errado. Aí, pediu pro meu marido fazer os exames, enfim... Eu sei que eles colocaram, os médicos colocaram como “infertilidade não descritiva”, sem motivo, eles não tinham... Sem causa. Era “infertilidade sem causa”. Foi o que colocaram no exame. Então, a gente não tinha como. Como a gente já tava casado há oito anos, e a gente não engravidava, e eu não tomava nenhum método anticoncepcional, eu tava realmente tentando nesses oitos anos ficar grávida. Então, eu passei na médica, e ela falou assim pra mim: “Marie, como faz oito anos que você tá tentando, a gente não vai tentar mais oito anos. A idade vai chegando, então não pode tentar. Então, a gente vai ter que fazer uma fertilização.” Só que a fertilização era muito cara. A fertilização é cara. Eu tenho uma amiga que ela é biomédica e eu encontrei ela num domingo, e ela falou pra mim assim: “Marie, eu conheço um lugar que eu tenho uma amiga lá, ginecologista, e que lá é um valor bem mais barato.” Ela me deu o nome, que é a fundação ABC, em Santo André, e eu fui lá. Encontrei com a médica, doutora Simone, e lá foi que ela falou assim: “Deixa eu ver os seus exames.” Olhou, realmente ela viu que era infertilidade sem causa. E ela falou assim: “Então, no seu caso vai ter que ser fertilização in vitro, nem inseminação não vai dar, vamos fazer fertilização.” Ah, então tá. Então foi quando eu tomei remédios, comecei aplicar as injeções na minha barriga e aquilo pra mim era tudo muito novo, né? Eu não sabia se ia dar certo, pra mim era muito longe ainda, né, ter um bebê. Foi quando eu fui fazer ultrassom, aí lá na ultrassom constou que eu tava dezoito óvulos. Eu tinha ovulado demais. Fui pra clínica, tiraram os óvulos. Eles te sedam total, você não vê nada. Tiraram os dezoito óvulos, dez eram férteis, os outros não, podia ser descartado. E aí eu fiz um pedido. Meu pedido era que não fecundasse todos os óvulos e deixasse bebês congelados, que pra mim embrião é vida, né? Têm pessoas que não consideram, mas eu, particularmente, considero embrião já uma vida. Se eu pegasse aqueles embriões, dez bebês, eu não ia ter dez filhos. Então eu poderia descartar. Descartá-los pra mim seria como se fosse um aborto, mas seria um aborto num laboratório. Então, o meu pedido era que fosse fecundado apenas o número que eu ia colocar no meu útero. Então, a primeira vez foram quatro óvulos que fecundaram e viraram quatro embriões, só que dois vingaram e dois não vingaram. Esses dois foram colocados em mim. Esperei doze dias pra fazer o exame de gravidez, o Beta, e não deu positivo. Foi uma decepção, foi supertriste, aquele momento. Depois disso, ela falou assim pra mim: “Você quer tentar novamente, seguida?” Eu falei assim: “Sim. Quero tentar em seguida.” Acabou o período menstrual, que você tem que esperar, voltei lá e ela fecundou mais quatro. Desses quatro, ela falou: “Marie, eu não tenho uma boa notícia. Desses quatro óvulos, apenas um vingou, os outros quatro não cresceram. E assim, ó, é muito melhor serem dois, porque se um não gruda lá no seu útero, o outro gruda, colocando só esse, a chance dele grudar é menor. Não é impossível, mas é menor.” Eu fiquei naquela dúvida, e meu marido decidiu, ele falou assim pra mim: “Não. A gente precisa de um filho. Se for pra ser, vai ser.” Então, ela falou assim: “Então, tá?” Eu falei: “Então, eu vou pôr.” Fui lá no laboratório, ela colocou esse um que foi a Manuela (risos). Doze dias depois, eu tive certeza que eu tava grávida. Eu senti na minha barriga, queimando, assim, do meu lado esquerdo, uma coisa que eu nunca tinha sentido na vida, e eu falei: “Não. Isso não é TPM. Não é. Isso, eu tenho certeza que é gravidez.” E foi tiro e queda. Eu fiz o exame e constou que eu tava grávida. Só que a gravidez, pra mim, ela foi um sonho e ao mesmo tempo gerou vários medos, porque no passado eu tive um problema de saúde, chamado síndrome do pânico. E essa síndrome do pânico fez com que eu tivesse que tomar remédios pra poder equilibrar serotonina no cérebro. E por causa disso eu tive muito medo que os remédios, dois remédios específicos que eu tava tomando, fizessem mal na gravidez, dos meus filhos nascerem com algum tipo de deficiência, principalmente porque eu trabalhava na área. Eu sabia como era difícil a vida deles e dos pais também. Então, eu tive muito receio de isso acontecer. Conversando com a minha ginecologista, de anos já, ela falou assim pra mim: “Marie, a dose que você toma é muito pequena. Isso não vai fazer mal. Te garanto que não vai fazer mal. Existem pacientes que são esquizofrênicas, por exemplo, que tomam remédios fortíssimos e que têm filhos. Então, não se preocupe que você toma uma dose muito pequena. Não precisa se preocupar.” Então, eu confiei, eu agarrei nisso que ela me disse, com toda força do mundo e fui em frente. Foi quando eu comecei, mesmo, a fazer os tratamentos, mas a gravidez eu ficava o período todo com receio de acontecer alguma coisa, pedindo a Deus, todo momento, que minha filha tivesse saúde física, mental, psicológica, tudo. E graças a Deus, ela nasceu perfeitinha, muito esperta, a única coisa que eu não pude fazer foi amamentar. Foi a única coisa, mesmo, porque o remédio não passava a barreira do útero, mas ele ia direto pro leite. Então, o que quê ia acontecer? Ela ia ficar sonolenta por causa do remédio, porque ela é muito bebezinha, e eu não tenho sonolência, porém, ela ia ter por ser muito pequeninha. Então, nós decidimos, num comum acordo, secar o meu leite e ela ter que tomar NAN da Nestlé, inclusive, né, pra poder... Desde o berçário, desde lá da maternidade, ela já toma o complemento, já, porque eu não pude amamentar. Mas pra mim foi tranquilo, porque o que eu estava preocupada era com a saúde da minha filha. Eu não me desesperei: “Ah, eu não vou poder amamentar!” Não! Não fiquei desesperada por isso. Pra mim foi bem tranquilo, tá dando complemento, principalmente o NAN que era algo que já faz tantos anos que existe, que eu sei que é muito bom.
P/1 – Como é que foi o parto?
R – O parto foi supertranquilo. Foi muito tranquilo. Eu tava super nervosa, muito nervosa. Eu marquei, foi cesária. Eu marquei a data do nascimento dela. Só que era muito perto do Carnaval, e aí a minha ginecologista ia estar, mas a equipe dela não estaria. Então, a gente tinha marcado pro dia sete de março, mas não ia dar. Então eu fiquei muito frustrada na época, porque eu queria muito que ela nascesse em março, mas não deu. A gente conseguiu no hospital, uma vaga lá, né, pra dia vinte e seis de fevereiro. Eu queria que ela nascesse de manhã, também não foi possível, ela nasceu no final da tarde, seis e cinquenta e sete. Eu cheguei lá muito nervosa, com medo da anestesia, se ia doer, porque todo mundo sabe que a gente tem que dar na coluna, então, você fica assim desesperada. Você fala: “Meu Deus, vai doer muito isso!” Mas a anestesista mesmo, chegou pra mim, falou assim: “Ó, fica tranquila.” Minha médica falou pra mim, doutora Dani falou assim: “Marie, fica tranquila, eu garanto pra você que não dói. Dói muito mais o que dá aqui na mão, do que dá aqui. Confia em mim.” E eu super confio nela, sempre confiei, passo com ela há anos. Então, eu confiei no que ela disse. Realmente, foi verdade. A que deram aqui na minha mão foi que mais deu uma dorzinha, aqui não senti nada e a anestesista, tudo que acontecia, tudo que ela falava acontecia, realmente. Então, ela dizia, assim, pra mim: “Olha, eu vou aplicar, agora, e você vai sentir a sua perna formigar.” Ela acabava de falar, minha perna formigava. “Agora, você vai sentir sua perna esquentar.” Ela acabava de falar, minha perna esquentava. “Agora você não vai sentir mais nada. Então, vamos deitar ela.” Aí, todo mundo me deitou, colocou já aquela cortininha, né, e a minha preocupação era pra saber se o pessoal do vídeo tava lá pra filmar o parto e onde tava o meu marido, porque ele não viu me dando anestesia. Ali, ele entrou. Quando ele entrou, eu chorei, né? Eu tinha certeza que o meu marido ia desmanchar de chorar, porque eu sempre tive desejo de ser mãe, mas eu confesso que o desejo muito maior era dele. Era muito grande o desejo dele. Ele até chorava, me pedindo, querendo um filho. Então, ele entrou, eu falei assim: “Ele vai morrer de chorar quando a Manu nascer, né?” E não. Foi totalmente o contrário. Quando ela foi alcançando, ela foi cortando, ali, minha barriga, ela foi falando: “A gente tá chegando. A gente tá chegando na Manuela.” Quando apareceu o cabelinho dela, ela perguntou: “Roberto, você quer vim ver?” Aí, ele falou: “Quero!” Foi lá ver ela ainda dentro da minha barriga. Ela puxou. Quando ela puxou, ela fez assim: “Marie, é a cara do papai.” (risos) Eu escutei o choro dela, ela já gritou, tem um pulmão ótimo. Gritou muito, muito, muito. A início, eu já me desmanchei de chorar, e ele não, ele não chorou! E eu falei: “Meu Deus, eu não acredito que ele não chorou, e eu to morrendo de chorar.” Aí logo me trouxeram ela, né, pra eu ficar com ela, e ficou. Eles foram suturar a minha barriga, ele ficou o tempo todo comigo e a médica me explicou que pode ser que eu ia ter uma coceira por causa da morfina, né, que eles dão. Eu esperando a coceira chegar, e a coceira não chegava, o que me deu foi tremor, por causa da anestesia. Eu tremia, tremia, eu falava assim: “Mas, cadê a coceira?” Mas não tinha coceira. Tinha tremor. Eu tremia. A enfermeira: “Não. É por causa da anestesia, vai passar.” Me cobriu, eles foram supercarinhosos, foi no Hospital São Luiz, no Itaim. Eles foram muito carinhosos comigo. Cuidaram bastante de mim. Quando eu cheguei no quarto, era umas oito e pouco, o quarto estava lotado. Todo mundo acha que se você ter filho à noite, ninguém vai te visitar. Não! A minha vida é totalmente igual aquele filme, “O casamento grego”, é totalmente. A família toda tava lá. Amigos, por parte do meu marido, por minha parte. Tava todo mundo lá, ansioso pra me ver e pra ver a Manu. Ele ajudou a dar o primeiro banho nela, foi bem especial. Foi muito especial. A única coisa que foi chatinha é que eu tive muito sangramento depois. Eu tive anemia. Então, eu quase precisei de transfusão, mas graças a Deus, a minha médica, muito competente, ela falou: “Não. Não vamos fazer transfusão. Vamos tentar na alimentação, que eu sei que hoje em dia a transfusão ela é muito segura, porém existe um por cento de chance de você adquirir certas doenças, hepatite, enfim. Então, eu prefiro que seja com alimentação.” Aí, foi direto. Eu vim pra casa, e foi alimentação. Ela falou assim: “Se não conseguir com alimentação, Marie, infelizmente, você vai ter que fazer transfusão.” E aí foi carne de fígado todos os dias. Suco de couve com laranja, de manhã, de tarde e de noite. Eu sei que ela disse que eu ia ficar bem em dois meses. Em um mês, eu fiquei bem. Em um mês, eu fiz os exames, a minha hemoglobina já tinha subido, que é o que vê o ferro. O normal é doze, o meu tava 6.4. Quando eu fiz o último exame, deu 11.7. E agora, subiu de novo, tá 14.1. Agora, eu to ótima (risos). Mas eu fiquei branca, branca, branca, fraca, muito fraca mesmo. O começo foi bem difícil com a Manu em casa, se não fosse a ajuda da minha mãe, eu não sei se eu conseguiria ter cuidado da Manu, de tão fraca que eu fiquei da anemia mesmo, foi bem difícil o comecinho com a Manu, os primeiros vinte dias, foi bem complicado pra mim, bem mesmo. Só chorava.
P/1 – Você se lembra como foi a sensação de segurar ela nos braços, de vê-la pela primeira vez?
R – Sim. Foi inexplicável. A primeira coisa que veio na minha cabeça é: “Meu Deus, eu gerei uma pessoa. Eu gerei um bebê. Como, né, possível crescer um bebê dentro de você?” E aquela sensação de querer proteger, de querer cuidar, e foi assim que aconteceu. Quando, chegamos no quarto, já tinham dado banho nela, e tudo, e a minha vontade era de ficar com ela no colo pra proteger mesmo. Eu achava que no meu colo ela ia ficar protegida, principalmente porque lá naqueles bercinhos do hospital, eles deixam ali e eles assustam muito, né? Esse começo, eles sempre assustam. Então, eu queria ficar com ela, apertadinha no meu braço, pra ela não se assustar, pra ela ficar que nem apertadinha no útero, eu queria deixar ela apertadinha no meu braço. Só que eu não conseguia levantar, porque se eu levantasse, eu desmaiava, por causa da anemia, então eu lembro que isso pra mim foi muito triste. A primeira vez que eu consegui segurar ela foi no segundo dia, de madrugada, no outro dia já ia embora. Eu consegui segurar ela em pé, e foi uma emoção muito grande. Eu chorei porque eu segurei ela pela primeira vez, depois de tanto sangue que eu perdi, eu consegui segurar ela pela primeira vez. Foi então, foi muito gostoso, uma sensação, assim: “Eu fiz ela. Nossa! Eu que fiz esse narizinho, essa orelhinha, essa boquinha, esse olhinho dela. Foi eu que fiz.” Então, essa é sensação que você tem.
P/1 – Delícia, né?
R – É. Foi muito bom.
P/1 – Eu queria perguntar agora, um pouco dessa coisa da relação com a Nestlé. Entrar nessa parte. Quando é que você começa... Bom, desde a amamentação. Você falou que você dá o NAN, desde pequeninha. E como é que é essa aproximação com a Nestlé e o contato com o blog, como é que você descobriu o blog, quando é que você começou a ler?
R – Então, logo quando eu engravidei, eu já comecei a me interessar por coisas de mãe, então eu comecei a curtir várias páginas no Facebook pra poder entender um pouco, sobre, como é mãe, ler livros, você já começa a ler tudo. Foi quando eu entrei no blog. Comecei ver a parte de alimentação. Quando você tem neném, os primeiros cuidados com o neném. Então, o blog, ele vai desde a gravidez até o momento da alimentação. Cada fase, você vai num ícone. Se você tá na fase da gravidez, você não vai olhar de jeito nenhum a parte da alimentação ainda, então eu ficava na parte da gravidez. Quando chega a parte, agora, principalmente na fase que ela desde a maternidade começou a usar o NAN, eu me preocupei pra saber se ela ia se adaptar com o leite. E o leite que ela mais se adaptou foi o NAN Confort. Então, eu tive amigas, uma amiga que ela é nutricionista e que ela me indicou o leite, disse que ia ser muito bom pro intestino dela, que o NAN Confort não prendia o intestino e realmente é isso mesmo, que ela falou. Eu comecei a usar e nunca o intestino dela ficou preso, e desde a maternidade é quando ela usa mesmo, né? Então, o blog, ele me ajuda a tirar diversas dúvidas. “Mas, peraí! Quanto o bebê mama nessa fase?” Então, eu entrava lá pra ver. Sempre tinha alguma coisa que ela postava que falava sobre amamentação. Agora, essa semana agora, ela começou entrar com papinha de frutas. Ainda não começou com as salgadas ainda, começou com a das frutas. Então, eu já to lendo papinha salgada, né, porque eu quero saber como vai ser. Então, pra mim, foi muito bom, por quê? Por que a primeira fruta que eu dei pra ela foi banana, que a pediatra indicou a banana, mas ela fez muita cara feira. A pediatra falou que ia fazer cara feia, no blog também tava escrito que ela ia fazer cara feia, mas na hora que você é mãe e que você tá dando, você fala assim: “Eu acho que ela não gosta de banana. Ah, não. Ela não gosta de banana.” Aí, lá no blog, também eu vi, que precisa de 16 vezes, dar 16 vezes a mesma fruta ou o mesmo cardápio pra criança, pra saber se realmente ela não gosta de determinado tipo de alimento. Eu falei: “Não. Eu não dei 16 vezes banana pra ela.” Eu dei três vezes banana pra ela. Na época, eu tinha dado duas vezes banana pra ela. Aí, na terceira vez, eu descobri que eu tava amassando a banana, mas ficava ainda uns pedacinhos e no blog dizia que era interessante, muitas pessoas além de amassar, passavam na peneira. Aí, eu passei na peneira também, e eu vi que umas amigas minhas também passavam na peneira. Eu falei: “Eu vou passar na peneira.” Passei. E ela aceitou. Aí, ela comeu toda a bananinha naquele dia. Daí há três dias ela começou com pera, passando na peneira também. Tá comendo tudo, também, a ponto de abrir a boquinha pra querer mais. Já comprei já frutinhas também, papinha de sobremesa da Nestlé também, de banana com aveia, de maçã, pra poder ela experimentar também. Vai experimentar, também, o suco de laranja. Então, eu to nessa fase, agora, de expectativa. Ela largando mais a mamadeira, que é o que ela fazia, né, todos os dias, pra começar já, com os alimentos sólidos, né? Então, pra mim, me traz bastante ansiedade, assim. Eu sempre to pesquisando, sempre tô entrando no blog pra ver se tem alguma novidade, se tem alguma dica bacana pra que eu possa tá usando com a Manuela.
P/1 – Qual que você acha que é a importância, Marie, do seu ponto, de existir um blog como esse, por exemplo, pras mães?
R – Justamente pra saciar essa ansiedade, diminuir a ansiedade, porque quando você tá sozinha, e não tem nada pra você ler, ou pra você conversar com alguém, você não sabe se tá agindo certo, se tá fazendo da maneira correta. Então, o blog, existir um blog direcionado pra isso, traz um alívio muito grande pra mãe, porque você vai ter a certeza que você tá fazendo certo ou que você tá fazendo errado, e corrigir esse erro. E saber também que não é só o seu filho que se comporta daquele jeito. Isso é muito legal, porque às vezes a sua filha chora demais, por exemplo, e você fala: “Meu Deus, será que só a minha filha?” Aí, você olha lá, vê vários depoimentos de mães que falam: “Nossa, porque a minha filha quando via uma pessoa diferente, chorava demais.” “Ufa! A minha também.” Então, é um alívio muito grande existir esse tipo de comunicação pra gente, leitores, porque diminui a sua ansiedade demais, porque toda mãe... Eu costumo dizer que quando nasce uma mãe, nasce uma culpa. E é verdade, né? Todo mundo diz isso, me falavam isso, eu como professora não tinha essa noção. “Ah, imagina!” Mas quando eu virei mãe eu percebi. Se o filho não come: “Ah, meu Deus, o que eu fiz de errado?” “Ah, ela tá fazendo cara feia, o que quê eu fiz?” De repente, você percebe lendo um blog que é normal que todas as crianças fazem isso, que uns comem mais, que outros comem menos, que um come uma banana inteira, outro não come nem meia banana, então é normal, e vamos que vamos.
P/1 – Que ótimo!
R – É.
P/1 – Marie, eu queria saber se no blog você já fez alguma consulta. Tem espaço pra isso? Pra você fazer alguma consulta, você já usou dessa maneira?
R – Não. Eu sempre uso pra comentar aquilo que já tá postado. Então, se ela posta um determinado tipo de assunto, eu comento: “Ah, comigo deu supercerto isso. Ou comigo não deu certo.” Eu uso esse meio. Pra perguntar não. Eu geralmente pergunto mais pra pediatra. Eu faço, às vezes, comentários, do tipo: “A minha pediatra disse que pode se fazer assim, também, tal.” Eu sempre faço esse tipo de contato com o blog, né? Com o blog, com algum grupo, que eu participo, de mães também. Eu sempre procuro não por nada, não faço, eu acho que é o meu estilo mesmo, eu não faço perguntas e sim comentários daquilo que foi postado.
P/1 – Você acha que no caso dos comentários, por exemplo, ajuda a compartilhar experiências com outras mães?
R – Muito, porque você comenta um assunto, de repente, vem outra mãe: “Ah, a minha também.” “Nossa, a minha não.” “Ah, a minha quando tinha essa idade, também fazia isso.” Aí, você ali naquele blog, você monta uma comunidade, uma comunidade de mães, mesmo, ali. O legal é isso, é a troca de experiência. Elas falam que: “Ó, meu filho quando tinha cinco meses, tinha seis meses, começou assim também.” Eu, por exemplo... A minha tem cinco meses, ela começou com as papinhas de frutinhas agora. Eu sempre achei que ia começar com seis, mas aí a pediatra explicou: “Não. Por ela não ter tido leite materno, e ter tido complemento, então a gente começa antes, pra já adquirir as vitaminas antes já.” Então, eu não sabia disso. Aí, eu comentei no blog também, que a minha começou com...
P/1 – Só retomando, Marie, você estava contando da questão das papinhas de fruta, né, que você compartilhou, porque a pediatra...
R – Como ela não teve o leite materno desde o início. Então, ela preferiu que a gente começasse aos cinco meses, pra já começar adquirir as vitaminas, os nutrientes necessários. E é uma coisa que eu não sabia, era um assunto que eu não sabia. Aí, eu compartilhei no blog também faltando isso, quando tem um ícone lá, que ela postou, falando sobre a alimentação, a alimentação saudável e tal. E aí eu aproveitei e coloquei: “A minha vai começar com cinco meses, devido, tal, tal, tal.” Aí, eu comecei a explicar. Então, eu sempre comento. Meu intuito, meu objetivo sempre, nos blogs ou grupos, é sempre fazer comentários da minha vida, do que tá acontecendo de acordo com o tema que ela postou, claro.
P/1 – Tá certo. Eu vou começar encaminhar, então, pras perguntas finais, agora. A gente tem sempre três perguntas finais, mas antes de encaminhar, eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar. Gostaria de deixar registrado, qualquer coisa.
R – Acho que não. Acho que eu falei tudo que era necessário. Uma coisa que era muito importante que eu queria falar, era disso, que eu não pude amamentar. Outro fato, também, foi o medo que eu tinha por ter tido um problema de saúde, que foi a... Se eu não tivesse comentado sobre isso, se eu não tivesse entrado sobre isso, eu acho que ia... Ia ser importante eu ter comentado porque eu vejo muita gente com muito medo, dúvidas: “Eu posso engravidar? Eu tenho depressão. Eu tenho síndrome do pânico, eu tenho TOC, transtorno obsessivo compulsivo.” Então, eu me compadeço muito das pessoas que tem isso e falam: “Não. Eu nunca vou poder ser mãe.” E não é bem assim, entendeu? Quando eu descobri que eu mesmo que eu tive síndrome do pânico, e precisei tomar remédios pra isso, eu poderia engravidar, se caso eu tivesse uma recaída, porque a gravidez é picos de hormônios, assim né? Então os hormônios poderiam tanto estabilizar, como muitas vezes me trazer uma depressão, até mesmo depressão pós parto. Então, eu tinha muito receio disso, de acontecer isso. Eu tenho, como eu tive síndrome do pânico, eu poderia ter propensão a ter uma depressão pós parto, e isso a médica tinha até me avisado, mas não, foi a fase que eu senti maior êxtase na minha vida, foi uma fase maravilhosa. A única coisa ruim da minha gravidez foi o número de enjoos que eu senti. Eu enjoei de mais, de mais, de mais, mesmo. Eu emagreci sete quilos na minha gravidez. Eu acho que o que eu queria deixar registrado é as mães que falam assim: “Não, mas eu quero amamentar. Meu filho não vai ter saúde se eu não amamentar com leite materno.” Leite materno é importante, sem sombra de dúvida, nunca vou dizer ao contrário, mas se alguma mãe não puder amamentar, por “n” motivos, não se desespere! Manuela tá aí, com saúde, forte, nunca ficou doente. E foi tomando complemento, foi tomando NAN, desde a maternidade, no copinho que a enfermeira dava no copinho por que ela não deu em mamadeira. Ela dizia que tinha que ser no copinho, que a mamadeira a mãe escolhia depois em casa, né? Então, em casa foi com mamadeira. Ela tá aí com saúde, forte, corada, superbem. Isso mostra quanto, realmente, o leite, o NAN, ele é muito semelhante ao leite materno. Tem o DHA, que é importante pro desenvolvimento cerebral da criança que o leite materno também tem. Eu fico muito feliz por isso e quero deixar essa mensagem pras mães. É isso.
P/1 – Agora, a nossa penúltima pergunta: quais são seus sonhos?
R – Os meus sonhos? Bom, os meus sonhos, assim, muito... Na verdade, eu tinha um grande sonho, e os meus sonhos tão sendo realizados, né? O meu primeiro sonho era conhecer a Disney (risos). E eu conheci. Eu fiquei muito feliz naquele lugar. Meu segundo sonho era ter uma filha e eu queria uma menina, e pra pôr o nome de Manuela. E um dia vestir ela de Cinderela. Então, a filha eu já tive, é menina, é Manuela, agora falta eu vestir ela de Cinderela (risos). E eu vou vestir, um dia. Eu quero que a Manuela ela tenha, eu quero que ela tenha muita saúde. Eu quero que ela seja muito inteligente. Eu quero que ela possa ter... Ela gostar de estudar, gostar de ler, que ela possa ser alguém na vida, que ela possa estudar bastante, mesmo. Eu quero que ela saiba falar inglês fluente, tanto que até hoje, eu já... Todos os desenhos que ela assiste, eu coloco tudo em inglês. E um dos meus sonhos já foi realizado que foi quando eu passei no concurso público, e era um grande sonho meu. Eu consegui, passei, entrei. Agora eu to de licença maternidade, mas já vou voltar, já tô voltando, agora, no mês de agosto, já vou entrar. Tenho só mais dez dias.
P/1 – Qual é o concurso? Conta pra gente, que eu não te perguntei isso...
R – É, então... Eu prestei pra ser professora, pedagoga, em escola da Prefeitura. As provas sempre foram muito difíceis, então eu estudei bastante. Aí, teve algumas que eu fiz, não consegui passar. Me matriculei em alguns cursinhos preparatórios, e estudei, consegui, e passei no concurso. Então, quando eu passei no concurso, eu sempre falava assim: “Você quer ver que quando eles me chamarem, eu vou estar grávida?” E foi dito e feito. Quando eles me chamaram, eu estava grávida, aí eu fiquei morrendo de medo de eles falarem pra mim que “não apta”, né, quando você vai fazer os exames, tal. E eu tava de... Eu tava afastada do trabalho porque eu tive deslocamento de placenta, então eu precisei ficar um tempo em casa. Então eles colocaram pra mim “não apto”, na época, até acabar a licença. Depois que acabasse a licença, eu poderia voltar e eles iam me dar “apto”, normalmente. Mas eu fiquei desesperada, porque foi tantos anos de luta, foi um sonho que eu tinha tão grande de passar na Prefeitura que eu tive muito medo de perder. Então, mas não perdi. Entrei, também dei aula pouco tempo, já tive a Manuela em fevereiro, porque foi ano passado que eu assumi a sala. No final do ano passado. Aí em fevereiro ela já nasceu. Peguei esses seis meses de maternidade, e vou voltar agora em agosto. Então, só vou sentir o gostinho do que é trabalhar com a educação infantil novamente, que já faz oito anos que eu não trabalho com educação infantil. Eu trabalhava com as crianças com deficiência, e eu vou começar agora. Então, pra mim vai ser um desafio, lidar também, de novo, novamente, com essas crianças, todas pequenininhas ainda. Vai ser bom, mas pra mim também é um grande ansiedade, porque eu fico o dia inteiro com a Manuela, com a minha filha o dia todo, aí, agora ela vai ficar com a minha mãe. Então, a minha mãe fica aqui em casa, vai cuidar dela. Isso é um alívio, porque eu não vou ter o trabalho de entrevistar babá, ou então, ter que colocar em alguma escolinha, que se fosse necessário eu escolher, optar por pôr numa escolinha, num berçário bom, ná? Mas como eu tenho a minha mãe, nada melhor do que ela ficar com ela, e quando ela tiver uma idade certa, aí sim, matricular ela numa escola.
P/1 – Tá certo. Então, pra fechar, eu queria saber como é que foi contar a sua história?
R – É muito bom partilhar. Eu sempre gostei muito de falar. Eu acho que é por isso que eu optei por ser professora também, né? Eu sempre tenho muita vontade de compartilhar minha vida, minha história. Teve uma época que eu tive um blog, mas era um blog só meu, que eu contava a minha história de vida. Depois, eu desisti. Aí, voltei pra um caderno de diário, pra contar. Então, eu contei minha gravidez, as sensações do dia. Então, eu gosto muito de contar a minha história. Eu acho que minha história tem fatos interessantes, até, né, modéstia à parte. Eu acho bonita essa fase principalmente da fertilização, do desejo de ser mãe, e contar pras pessoas isso. O desejo de entrar num concurso público e dizer: “Não. Você é capaz. Você pode fazer.” Não é só pra algumas pessoas. Todos podem fazer isso. Eu acho gostoso compartilhar com as pessoas, dizer, principalmente, essa fase difícil que eu tive da minha vida, que foi síndrome do pânico. Não poder amamentar a minha bebê, por conta disso. Então, eu acho legal porque eu tenho certeza que muitas pessoas, mesmo hoje, com a facilidade que nós temos de internet, televisão, muita gente ainda, eu vejo perguntando, principalmente em grupos de Facebook. “Eu tenho tal coisa. Eu nunca vou poder ser mãe.” E não é assim. Então, eu gosto de compartilhar principalmente coisas que vão acrescentar na vida das pessoas. Então, pra mim é uma experiência muito boa, foi uma experiência muito boa ter vocês aqui, pra tá compartilhando isso, de não ter medo de julgamentos, porque muitas mães julgam porque não amamentam. E não ter vergonha e nem medo de dizer: “Eu não amamentei. Eu não pude amamentar.” E minha filha tá bem, graças a Deus.
P/1 – Tá certo. Tá ótimo. Obrigada, Marie.
R – Imagina.
P/1 – A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA
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