Projeto Nestlé - Ouvir o Outro Compartilhando Valores – PRONAC 128976
Depoimento de Ana Maria D’Angelo
Entrevistada por Rosana Miziara e Gabriel Romito
São Paulo, 24 de Fevereiro de 2014.
Realização Museu da Pessoa.
NCV_HV01_Ana Maria D’Angelo
Transcrito por Iara Gobbo
P/1 – Data de nascimento?
R – Eu sou Ana Maria D’Angelo, sou de São Paulo, e eu nasci em 25 de Janeiro de 1950.
P/1 – Como que é o nome dos seus pais, do seu pai e da sua mãe? Você nasceu aonde? Em São Paulo?
R – Em São Paulo.
P/1 – Capital?
R – Capital. O nome do meu pai é Américo Batista da Graça e a minha mãe é Maira Aurora Amaral da Graça.
P/1 – Ambos são de São Paulo?
R – Ambos são de São Paulo. Minha mãe já é falecida.
P/1 – Vamos falar um pouquinho da família do seu pai, depois da sua mãe. Os seus avós são de São Paulo? Os pais deles?
R – Todos. O dele eu não sei. O meu avô, da minha mãe, veio de Portugal. O do meu pai eu não lembro se veio de Portugal, mas são todos portugueses.
P/1 – Por que seu avô, pai de sua mãe, saiu de Portugal?
R – Ah, 18 anos, né, saiu acho que pra não fazer o serviço militar. Ele veio com 18 anos e ficou em São Paulo. Ficou no Rio, depois veio pra São Paulo.
P/1 – E por que ele escolheu o Brasil?
R – Eu não sei, isso eu não sei te dizer. Mas ele devia ter parentes aqui, porque toda a família do meu avô é daqui. Todos os irmãos vieram, todos.
P/1 – E o que seus avós maternos faziam? O seu avô, o que que ele era?
R – A minha avó era dona de casa e o meu avô era motorneiro, isso da parte da minha mãe. E da parte de meu pai eles, que eu me lembre, eles não trabalhavam. Não me lembro do meu avô ter trabalhado, então acho que ele já era aposentado.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Eram vizinhos e moravam na mesma rua, diferença de quatro ou cinco casas e aí eles se conheceram. Quer dizer, eles foram criados juntos, a...
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Depoimento de Ana Maria D’Angelo
Entrevistada por Rosana Miziara e Gabriel Romito
São Paulo, 24 de Fevereiro de 2014.
Realização Museu da Pessoa.
NCV_HV01_Ana Maria D’Angelo
Transcrito por Iara Gobbo
P/1 – Data de nascimento?
R – Eu sou Ana Maria D’Angelo, sou de São Paulo, e eu nasci em 25 de Janeiro de 1950.
P/1 – Como que é o nome dos seus pais, do seu pai e da sua mãe? Você nasceu aonde? Em São Paulo?
R – Em São Paulo.
P/1 – Capital?
R – Capital. O nome do meu pai é Américo Batista da Graça e a minha mãe é Maira Aurora Amaral da Graça.
P/1 – Ambos são de São Paulo?
R – Ambos são de São Paulo. Minha mãe já é falecida.
P/1 – Vamos falar um pouquinho da família do seu pai, depois da sua mãe. Os seus avós são de São Paulo? Os pais deles?
R – Todos. O dele eu não sei. O meu avô, da minha mãe, veio de Portugal. O do meu pai eu não lembro se veio de Portugal, mas são todos portugueses.
P/1 – Por que seu avô, pai de sua mãe, saiu de Portugal?
R – Ah, 18 anos, né, saiu acho que pra não fazer o serviço militar. Ele veio com 18 anos e ficou em São Paulo. Ficou no Rio, depois veio pra São Paulo.
P/1 – E por que ele escolheu o Brasil?
R – Eu não sei, isso eu não sei te dizer. Mas ele devia ter parentes aqui, porque toda a família do meu avô é daqui. Todos os irmãos vieram, todos.
P/1 – E o que seus avós maternos faziam? O seu avô, o que que ele era?
R – A minha avó era dona de casa e o meu avô era motorneiro, isso da parte da minha mãe. E da parte de meu pai eles, que eu me lembre, eles não trabalhavam. Não me lembro do meu avô ter trabalhado, então acho que ele já era aposentado.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Eram vizinhos e moravam na mesma rua, diferença de quatro ou cinco casas e aí eles se conheceram. Quer dizer, eles foram criados juntos, a infância toda e casaram. Agora minha mãe é falecida, mas meu pai ainda é vivo. Ele tem 83 anos.
P/1 – Em que bairro que eles eram vizinhos?
R – Da Penha. Aí eu nasci na Penha e morei lá até os 17 anos.
P/1 – Aí eles se casaram e moraram na Penha. E o que seu pai fazia, qual era a profissão dele naquela época?
R – O meu pai primeiro ele trabalhava, naquela época tinha uma loja chamada Almeida Silva, ele trabalhava nessa loja, ele era motorista.
P/1 – Chamava como?
R – Almeida Silva. Era uma loja de eletrodomésticos, ali na Ladeira porto Geral. Não existe mais. E depois disso...
P/1 – Vendia o que?
R – Eletrodomésticos, móveis. Era um magazine, né? E depois ele saiu...
P/1 – O que que ele fazia lá?
R – Motorista de caminhão. Aí depois, que eu me lembro, saindo de lá aí ele comprou um bar ali mesmo, na mesma rua que nós morávamos.
P/1 – Como é o nome da rua?
R – É Rua Santo Antero. E aí a minha infância toda foi lá. Fiz primeira comunhão na Igreja Nossa senhora de Fátima.
P/1 – Como que era o bairro, quando você era pequena?
R – Ah, uma delícia. Era rua de terra, então a gente podia brincar na rua e eu me lembro, meu pai tinha uma lambreta. A gente andava pra lá e pra cá. Todo lugar que ia – ele não tinha carro – então todo lugar que ia, ia de lambreta. Então ia ele, a minha mãe, eu e o meu irmão, que eu tenho um irmão mais novo, quatro anos mais novo. Então vivemos ali. Depois meu pai teve o bar, depois ele comprou o que na época se chamava venda, seria um empório. Então nós tínhamos o bar e o empório. Aí eu acho que isso foi muito bom. Eu acho que amadureci muito, porque quando você trabalha no comércio, a criança fica mais esperta. Ela, não é que conhece a vida, mas ela sabe o manejo. Como era só eles dois, com dois negócios, eu acabei tomando conta de um, que era...
P/1 – Com quantos anos você começou ajudar seu pai?
R – Acho que eu tinha uns seis, sete anos. Sete anos!
P/1 – O que que você fazia?
R – Então, eu tomava conta da venda, eu vendia as coisas e o meu pai... Porque era, assim, tinha o bar, depois duas, três casas pra lá, do outro lado da rua, tinha esse emporiosinho. Daí eu ficava no empório e meu pai ficava ali no bar. Então acho que com isso eu amadureci bastante. Fiquei um pouco esperta, eu acho. Me ajudou porque você aprende fazer conta, a lidar com o público. Eu acho isso muito bom para as pessoas. Não é uma criança, assim, que fica em casa, sossegadinha, eu acho que não fica tão esperto. Eu ia pra escola, levava meu irmão, não tinha esse negócio. Agora você não pode deixar criança nem na porta, né? E eu morava ali na Santo Antero e estudava no centro da Penha, no Largo Sete de Setembro. Eu estudei no Grupo Escolar Santos Dumont, eu ia sozinha, e é longe! A gente ia, sabe, não tinha perigo. Ia, voltava. As pessoas tomavam conta, né?
P/1 – Você ia a pé? Ia de ônibus?
R – A pé. Não tinha, depois mais pra frente teve ônibus ali, mas não tinha. Ia a pé.
P/1 – Deixa eu voltar um pouquinho. Como que era sua casa de infância, essa que você morou?
R – Primeiro nós moramos com o meu avô. Então é uma casa, nossa, muito grande, um terreno muito grande! Eu não sei, eu calculo assim, pelo que eu conheço hoje, devia ter uns 60 metros de fundo. Era muito grande! E aí pomar, então a gente subia nas árvores, tinha criação de porcos. Então meu vô, quando era em Janeiro, ele comprava um porquinho assim pequetitico e ele criava o ano todo. Em Dezembro, matava. Aí chamava meus tios, porque são quatro filhos, e aí tem um tio que é da irmã do meio, da minha mãe, e ele que matava o porco. Aí era muito engraçado, porque a criançada fica torcendo pelo porco. E ele falava: “Sai, não pode ficar aqui porque se vocês ficam com dó o porco não morre”, sabe essas coisas? E a gente ficava lá, todo mundo ia pra sala, rezava pro porquinho não morrer, mas o porquinho morria, não tinha jeito. Aí era dividida. Quer dizer, fazia a ceia, tudo, e depois essa carne era dividida entre os quatro filhos. Nossa, uma vida maravilhosa.
P/1 – E você tinha quantos irmãos, você falou.
R – Um só.
P/1 – Você tem um mais velho?
R – Eu tenho um mais novo, quatro anos.
P/1 – Mais novo. Você é a mais velha.
R – Eu sou a mais velha. Aí essa tia do meio tem duas meninas, a mais nova tem dois meninos também e o tio mais velho uma menina.
P/1 – E vocês brincavam todos juntos?
R – Todos juntos.
P/1 – Esses tios moravam perto?
R – É. Depois eles começaram a ir morar longe. Então essa que eu tenho mais amizade até hoje, são duas primas, a Ivani e a Irani, elas moram na Vila Formosa, mas vinham. A gente tava sempre junto. Morava, mas no final de semana era tudo na casa do avô. Aí quando meu pai comprou o bar, ele comprou o bar e depois comprou o prédio, então nós mudamos. Mas, assim, né, você desce a rua, duzentos metros, então nós morávamos, aí o bar é na parte de baixo, é um sobrado, e tinha a casa em cima.
P/1 – Esse porco que vocês comiam quando? Na ceia de Natal?
R – É.
P/1 – Que festas vocês costumavam comemorar em família?
R – Todos. Assim, tudo ali na casa do meu avô. Tinha o Natal, o Ano Novo, aí tinha a Páscoa, Carnaval, festa junina que aí meus tios faziam um balão, tudo, soltava balão e... É, todas essas sempre ali com o meu avô. Já não tinha a minha avó, porque quando a minha avó faleceu, eu tinha acabado de nascer e ela me conheceu acho que com um mês. Eu nasci em Janeiro e ela morreu em Fevereiro, alguma coisa assim. Então meu vô ficou com os filhos. Depois ele casou novamente, a gente chama ela de madrinha. Então ele casou com a madrinha, e ela cuidava da gente como vó mesmo. Ela tinha os filhos dela, mas aí depois vinham os dela também. E ali era muito grande, né, muito quintal. Não é que a casa era grande... A casa era dividida: você descia e então pro lado esquerdo tinha a cozinha, tinha um quarto que depois morou a mãe do meu avô. Ela morreu eu acho que ela tinha uns 105, 106 anos e do outro lado tinha a sala, os quartos. Depois tinha mais uma casa que era da minha mãe. Aí a gente descia umas escadas, aí tinha aquele quintal. No fundo tinha um rio e tinha eucalipto.
P/1 – Tinha rio?
R – Tinha, tinha um rio, que agora lá provavelmente eu acho que é uma avenida, que a li a gente chamava de Hortolândia e tem uma avenida que agora tem o metrô Penha, e acho que eles fizeram lá no fundo, aterraram esse rio e fizeram isso. Então a gente ficava sempre ali, porque a família é tudo perto. A do meu pai também era do outro lado da rua, com casa grande assim, porque lá as casas eram todas assim. E também as festas, ia um pouco aqui, um pouco ali. As festas eram sempre com toda a família junta.
P/1 – E dentro da sua casa, como é que era? Quem que exercia autoridade? O seu pai ou sua mãe?
R – O meu pai. Meu pai é muito bravo (riso), não deixava sair. Então eu, assim, eu sempre gostei muito de estudar. Então eu fiz o colégio Santo Afonso, e aí eu fiz o Santo Afonso. Quando eu saí do Santos Dumont, eu saí com medalha assim, porque eu gosto mesmo de estudar. E eu tinha direito, porque naquela época era difícil você entrar num colégio do Estado. Só se você tivesse uma boa nota, porque tinha o grupo escolar, depois você vai pro colégio do Estado, e eu ganhei. Mas o meu pai não deixou eu ir, porque fazia educação física, de shortinho e era assim, perto da rua. Papai falou: “Você não vai lá”, e não deixou. Aí eu fui pro Santo Afonso, que era de padre. E eu não saía, ele não deixava eu sair. Então quando eu saía, o meu irmão tinha que ir junto. E aí eu falei: “E agora? Então o meu jeito é estudar”. Então eu fui: eu sou formada em corte e costura, eu sou cabeleireira formada. Pra poder sair de casa, então eu fui estudar. Aí eu estudei um monte de coisa. Aí eu fiz, depois aí eu fui pra Nutrição. Eu fiz primeiro... como chama? Não sei o que doméstica, esqueci o nome, que são quatro anos, Economia Doméstica! Isso eu já fiz no Belém, que eu tenho uma tia que mora no Belém, a mais nova da minha mãe, e eu fui fazer lá. Então eu ia de ônibus, tal. Então eu fiz Economia Doméstica, depois é que eu fui fazer então cabeleireiro. Fui junto com a minha prima, que era essa irmã do meio da minha mãe. Aí ela montou o salão, mas eu não, eu não queria, eu só queria estudar pra poder sair de casa.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe sempre trabalhou. Minha mãe era tecelã e sempre trabalhou. Eu estudei também no colégio Espírito Santo, ali no Tatuapé, que a minha mãe trabalhava ali perto. Então eu vinha de manhã com a minha mãe, às cinco horas da manhã, aí ela me deixava com as irmãs, e me pegava cinco horas da tarde. Agora tem o metrô Tatuapé do lado. Então eu também estudei ali.
P/1 – O seu pai tinha a venda e o bar?
R – Tinha.
P/1 – E a sua mãe era tecelã?
R – A minha mãe era tecelã. Depois com a compra do bar, tudo, ela deixou a tecelagem e ficava no bar. Depois o meu pai vendeu, ele foi feirante, aí nós vendíamos cereais em feira. Isso até meus 17 anos.
P/1 – Na venda, era venda do que?
R – Cereais: Arroz, feijão, óleo. É um empório, de tudo um pouco. Eu sei que nisso tudo, quando eu fui pra...
P/1 – Como era o nome do empório?
R – Não me lembro. Acho que não tinha nome, naquela época acho que não tinha nome.
P/1 – Vocês tiveram alguma formação ou educação religiosa?
R – Católica. Fiz, fiz a primeira comunhão na Nossa Senhora de Fátima. E tive agora, acho que faz uns 15 anos que eu fui, estive em Fátima. Então a minha formação é... Assim, não é que eu tô sempre dentro da igreja, mas eu vou todo domingo na missa, mas a formação é católica. Então é isso!
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância?
R – Eu sempre fui moleque, então brincadeira de rua, bicicleta, bola, adoro jogar bola. A rua não era asfaltada e depois ficou sendo, então tinha aqueles canos na rua, então a gente brincava dentro daqueles canos. Ah, todas essas brincadeiras, amarelinha, pular corda, subir em árvore nossa, adoro. Manga, chupar manga, chupar mexerica, caqui, na casa do meu avô tinha, a gente vivia em cima das árvores. Eu tive uma infância muito boa! Porque as crianças hoje são mais fechadinhas. Não, me diverti muito. Apanhei muito também, porque eu era muito levada.
P/1 – O que que você aprontava?
R – Ah, eu aprontava tudo. Eu era assim, eu era um pouco briguenta e o meu irmão é mais novo, e meu irmão, assim, não vou dizer que ele é bobinho, quieto. E aí ele apanhava dos meninos e aí eu tinha que bater nos meninos, porque se ele vai pra casa chorando, eu que apanhava, né? Então tinha que bater, então eu vivia brigando porque ele se metia em encrenca. Não tinha jeito, ele era encrenqueiro, mas apanhava. Aí lá ia a Ana Maria ajudar ele. Aí então por isso que eu sou.... Então minha mãe não gostava muito de eu ficar na rua, porque eu arrumava encrenca. Como a gente tinha o bar e a venda, então eu tinha tudo em casa, de alimento, tudo. E sempre eu gostei de cozinha, então com a madrinha... A madrinha pra brincar com a gente e tudo, ela pegava e fazia a panelinha de lata de manteiga, de lata de óleo e fazia o fogãozinho lá com tijolinho e eu gostava disso. Então a minha mãe comprou aquele livro Dona benta e aí falava: “Vai Ana, vai fazer alguma coisa”, que era pra eu não ir na rua. Então eu pegava tudo as coisas, porque não precisava comprar. Então eu via o que tinha na receita, ia lá e fazia. Ah, eles diziam que era bom. Às vezes saía bom, outras vezes não. Mas eu acho que foi aí que eu peguei, assim, o gosto pela culinária. Então eu fazia, por exemplo, tinha aniversário, eu me lembro que eu fazia muito bolo colorido, porque a minha mãe vendia os corantes. Então eu fazia assim: um bolo verde, um amarelo. Não sabia fazer recheio, eu só punha leite condensado, um bolinho em cima do outro, mas eu não saía de casa, ficava na cozinha. Depois eu ajudava, porque a minha mãe fazia pernil, pastel, essas coisas, e eu ajudava ela. Ah, levava pastel, trazia, porque no óleo ela não deixava, mas ela fritava tudo e depois eu colocava no lugar, ajudava a abrir a massa e acho que isso foi com que eu começasse a gostar desde cedo.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Sete, oito anos. Aí foi, depois eu fui crescendo. Mas aí sempre eu gostei e depois eu já namorava, minha sogra gostava, e a minha sogra fazia um curso que tinha na Pirani. Tinha as Casas Pirani ali no Brás, a minha sogra ia no Brás. E tinha curso de culinária, curso de bordado e aí quando eu comecei a namorar, acho que ele contou que eu gostava, tal, e ela falou: “Ah, fala pra ela que tem cursinho aqui”. Aí eu comecei a frequentar e foi aí que eu comecei a embalar e depois de uns dois ou três anos, eu já comecei a dar aula. Foi aí que eu fui embora.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. E na escola? Você contou dessa primeira escola que você entrou.
R – Santos Dumont?
P/1 – Santos Dumont foi a primeira, né? Que lembranças você tem desse período?
R – Ah, da dona Eponina, a minha primeira professora. Ah, uma fofa, uma senhorinha, nossa, uma atenção, eu gostava muito. Eu sempre gostei muito, nunca tive problema assim, com professor, sempre eu gostei. Mas ela, eu acho que foi a primeira, né? Ela era bem velhinha, tadinha, porque era tudo preenchido à mão, e então o livro de presença, às vezes ela errava, ela levava um vidrinho assim, com água sanitária, aí ela tirava a tinta, punha de novo, né? E eu sempre sentei na frente por ser baixinha, senão eu não enxergava. E aí eu sempre assim, ajudava a professora, gostava, aí então ajudava, limpava o caderno dela, então eu sempre gostei muito. Ela é a que eu tenho mais lembrança desses quatro anos. Mas sempre foi muito bem, nunca...
P/1 – O que que você mais gostava na escola?
R – Matemática. Eu brincava, mas eu sempre levava muito a sério. Eu era, assim, bem centrada. Na escola eu não era bagunceira, sempre eu fui quieta, sentava na frente. Então nunca fui bagunceira, nada. E sempre, assim, fui de fazer amizade. E como eu estudava e tinha boas notas, aí sempre você tem amigos, então a escola é muito boa. Nessa época era assim de carteira dupla. E então uma semana uma criança leva – tinha uma capa branca, uma semana leva uma criança, outra semana leva outra. Então a gente sempre tinha um amiguinho. Ah, um tempo muito bom, eu lembro, bem legal. Tinha muitos amigos e depois a gente saía e ia embora aquela turma. O guarda, porque tinha um guarda que ficava atravessando as crianças. O guarda, nossa, é o seu Pedro, porque os quatro anos foi o mesmo guarda. Acho que era seu Pedro o nome dele. Aí ele atravessava, chamava a gente pelo nome, muito legal. Aquilo, se hoje fosse daquele jeito, bem legal mesmo, viu? E não tinha esse negócio, professor não faltava, e assim, era tudo misturado. É porque é o primário, né? Então é um professor o ano todo, não tinha divisão de professores. Depois quando eu fui pro... Nossa, eu esqueci o nome agora, eu falei o nome agora há pouco. Aí lá teve a divisão de professores, mas eu gostava muito. Aí lá o professor que eu gostava mais era o de inglês, muito legal. Mas, assim, como eu gosto de escola, então eu me dou bem com todo mundo. Quando eu fiz, assim indo lá na frente, quando eu fiz o técnico em nutrição, eu fiz no São Camilo ali no Ipiranga. Nossa, todo final de semana era festa. A Kátia, eu tinha a Kátia pequena, porque eu fiz em 85, eu acho. Nossa, me dava muito bem com a turma. Como eu fazia isso, eu já dava aula, tudo, então a gente levava as coisas, dividia, no laboratório. Nossa, tem livro do São Camilo, onde a gente desenvolveu as receitas no laboratório. Então sempre eu me dei bem mesmo com a turma, mais por causa disso, porque eu gosto mesmo.
P/1 – Vamos voltar. Daí você fez esses quatro primeiros anos. Aí ginásio você fez aonde?
R – Isso, no São... que eu não me lembro o nome. Eu falei agora há pouco, São...
P/1 – Santos Dumont?
R – Não, Santos Dumont foi o primário. Santo Afonso. No Santo Afonso eu fiz o ginásio.
P/1 – E como foi o ginásio?
R – Ah, foi ótimo, adorava o ginásio! Porque aí era outra coisa. Aí você já se sentia mais... Eu fui pra lá com 11 anos, eu me formei com dez no Santos Dumont. Aí dos 11 aos 14, pra fazer 15 é que eu fiquei lá. Então já tinha a divisão, tudo, mas sempre eu fui muito boa em matemática. Geografia e história não gosto muito, porque eu não gosto de data, eu não guardo data, e é bem difícil. Fiz, depois de lá eu fui fazer economia doméstica. A economia doméstica foi no Liceu Leão XXIII. Foi ali perto do Largo do Belém, na Rua Julio de Castilhos, esquina com a Cajuru. Aí foram quatro anos.
P/1 – Por que economia doméstica?
R – Porque eu gostava e lá tinha a parte de costura, de como você cuidar da casa, tal, e eu gostei. E é uma lição de vida, você aprende muito. Puericultura, eu gostava muito de puericultura. Eu fiz e depois de lá, eu fiquei um tempo sem estudar quando eu fui trabalhar na feira. Depois com 17...
P/1 – Como é que foi trabalhar na feira? O que você fazia?
R – Eu ficava no caixa da banca, porque eu já tinha 17 anos, então meu pai e os funcionários vendiam e eu só ficava no caixa.
P/1 – Como que você se divertia na adolescência? O que você fazia? Quais eram os programas?
R – Não tinha (riso). O muito que eu conseguia era ir no cinema. O meu pai não deixava sair, eu nunca fui de baile. A tia mais nova da minha mãe, às vezes me levava no final do ano, quando tinha formatura. Eu ia ali no salão do Aeroporto de Conginhas. Ela morava no Belém, então tinha formatura do Sarmiento e tal, que depois por uma coincidência, eu fui acabar casando com um aluno do Sarmiento, mas não tinha nada a ver. Minha tia não conhecia ele, nada, mas ele era aluno de Sarmiento. Mas o meu pai nunca deixou sair. Então onde eu me divertia? Casamento, festa de aniversário, mas assim, balada, essas coisas, eu nem sei se tinha, porque eu não conhecia. Eu fui conhecer já com meus 18 pros 19 anos, que meus pais foram pro interior e eu fiquei morando com essa minha tia mais nova, no Belém. Eu morei acho que quase dois anos, depois eles retornaram.
P/1 – Por que eles foram pro interior?
R – É, o meu pai queria ir pro interior. A minha tia não tinha filha, ela só tinha filho, ele não tinha menina. E eu, como era mais velha, a gente não tinha muita diferença de idade. Ela me criou, praticamente, porque ela é irmã mais nova da minha mãe, a minha mãe ia trabalhar, ela ficava comigo. Então ela me tinha como filha. Ela falou: “Ah não, então deixa ela ir morar comigo”, tudo, e eu fui morar com ela. Aí é que eu conheci, aí eu ia no bailinho todo sábado ia no baile.
P/1 – O que que tocava?
R – Johnny Rivers... Era o baile da Tuco, era na Mooca, o baile. A gente ia todo sábado, eu a e minha prima. Aí tinha Creedence. Creedence já foi mais pro final, mas era mais Johnny Rivers mesmo. Elvis, Beatles, e a minha tia deixava, mas assim, o meu tio ia levar, a gente ficava lá. Depois falava “oito horas termina”, porque era quase uma matinê. Começava às seis e ia até umas nove. Aí às nove ele ia buscar. Aí saía do baile, a gente ia na Ideal comer pizza, que existe até hoje, eu vou até hoje, eu vou na Ideal. Meu noivado foi lá e é uma pizzaria que tem na esquina da Álvaro Ramos com a Padre Adelino. Todo sábado depois do baile a gente ia lá comer pizza, e depois ia pra casa. Então como eu não acostumei a sair antes, eu não sentia falta. Eu sempre fui quieta, né? E depois com meus 19 anos que eu comecei a namorar e casei com 22.
P/1 – Como você conheceu seu marido? Foi o primeiro namorado?
R – Foi e único! Eu tive um antes, mas aí era imposição da família, sabe? Porque família portuguesa tem muito disso. De unir, não de unir as pessoas, mas de unir a fortuna. Então esse tem, naquele tempo tinha... Aí teve um assim, mas eu sempre fui meio assim, eu quero, quero; não quero, não quero! E aí não deu certo, não. Então ele foi o meu primeiro namorado.
P/1 – Como que você conheceu ele?
R – Estudando, porque depois que eu fiz a economia doméstica, eu fiquei um tempo sem estudar e depois eu queria, eu queria fazer faculdade e tudo. Então eu fui fazer o que chamava de... como que chama? Nossa, esqueci. Que seria o estudo resumido, porque eu não tinha feito o colegial, só tinha feito o primário e depois o ginásio, e o colegial eu não tinha feito. Então eu fui fazer Supletivo, e ali na Silva Jardim. E ele também, e foi lá que nós nos conhecemos. E aí nós fizemos, depois nós fizemos exame lá em Guaxupé, que era mais fácil do que aqui em São Paulo. Depois ele foi fazer, eu fui fazer então Nutrição. Aí fiz técnico.
P/1 – Aí depois do supletivo, nutrição que você fez é faculdade ou técnico?
R – Eu fiz o técnico e antes eu fiz o SENAC, aí eu fiz...Era na Avenida Tiradentes, não é onde ele é agora. E eu fiz Comida Brasileira e Comida Internacional.
P/1 – No SENAC?
R – No SENAC.
P/1 – Desde sempre então você queria seguir essa área de culinária.
R – Sempre, sempre. Porque eu procurei o SENAC nessa época, pra ir para Águas de São Pedro. Eu queria fazer Águas de São Pedro, só que essa época, Águas de São Pedro era só masculino, então mulher não podia. Aí então eu fui fazer o SENAC. E depois, mais pra frente pode, eu cheguei a ir pra lá, cheguei a fazer um tempo, depois eu fui pra Unicamp, aí eu fiz Industrial na Unicamp.
P/1 – Mas faculdade?
R – É, a parte de Engenharia de Alimentos, mas eu não me formei engenheira, não era isso que eu queria. Eu queria a parte de geleias, compotas e a parte de laticínios. Aí eu fiz durante dois anos toda essa parte, até eu fiz com a moça que tava formando a Sapore. E aí nós fizemos lá.
P/1 – Na Unicamp?
R – Na Unicamp.
P/1 – Como é que você morava lá? Vinha e voltava?
R – A minha sogra tinha casa lá, eu ficava lá. Até então ela não era sogra. Aí depois meu marido foi estudar, ele fez Publicidade, depois nós casamos, aí ele fez Direito, e eu fui fazer Nutrição.
P/1 – Quando vocês casaram vocês foram morar onde?
R – No Tatuapé, na Anália Franco.
P/1 – Você quando foi pra Unicamp estudar essa parte mais técnica, era faculdade?
R – Faculdade.
P/1 – Mas você chegou a se formar?
R – Cheguei, dois anos.
P/1 – Era uma faculdade de dois anos?
R – De dois anos.
P/1 – Que matérias que você tinha?
R – Tinha Engenharia de Alimento, tinha Microbiologia, Macrobiologia, tinha Psicologia, tinha não Matemática, Química – odeio Química, mas tinha Química. E que mais? Acho que é isso. Depois isso também me facilitou quando eu fiz o técnico na São Camilo.
P/1 – Esse do São Camilo não era faculdade, era técnico?
R – É técnico, dois anos.
P/1 – Então você já tinha faculdade, depois você foi fazer o técnico?
R – Depois fui fazer o técnico.
P/1 – Por que você escolheu a São Camilo?
R – Porque eu acho a melhor. Eu, né? Acho melhor do que a USP também. E aí eu não queria fazer quatro anos de Nutrição, porque eu já era casada e eu já tinha a Kátia. Então eu falei, “não, só isso dá”. Porque eu queria saber assim, como eu dava aula nessa época, eu já tinha mais de dez anos de dar aula, e aí eu pensei: eu dava muita aula e que envolvia química, porque eu faço desenvolvimento das receitas, então se alguém me pede alguma coisa, eu não vou procurar a receita; eu pergunto pra pessoa o que ela quer, o que ela quer fazer com aquilo e eu desenvolvo a receita. Eu sempre tive muita facilidade para fazer isso. Por isso eu fui trabalhar no Mesa Brasil e no Nutrir, porque as pessoas têm o alimento e eu desenvolvo a receita pra ela aproveitar aquele alimento. É isso! Mas aí eu queria saber por que eu unindo uma coisa com a outra, dava um determinado resultado. E só você fazendo o técnico é que você fica sabendo. Aí eu aprendi muito na engenharia de alimentos e na química, apesar de eu não gostar de química. Então eu fui fazer. Achei que era suficiente, que eu não precisava da Nutrição, porque Nutrição tem a parte de hospital e eu não ia trabalhar em hospital, eu só queria dar aula. Então achei que era suficiente e aí eu fiz os dois anos e comecei dar aula, depois eu fui pra televisão.
P/1 – Começou a dar aula onde?
R – Na minha casa. Eu comecei montar aula. Porque assim, eu comecei dar aula assim, por um descuido: Eu fui participar de um programa que chamava Revista Feminina. Eu assistia todo dia, antes de Ofélia e tal.
P/1 – Passava aonde?
R – Passava na Bandeirantes, era com a Maria Thereza Gregori. Eu assistia toda tarde esse programa, e aí uma vez ela perguntou se alguém sabia, conhecia uma pessoa tal, que fazia um bolo chamado bolo de letras. E eu fazia esse bolo, eu tinha aprendido no Rio! Porque tinha aula, assim, que eu sabia alguma coisa diferente, eu ia. Não importava onde, eu pegava o ônibus e ia embora. E eu sabia fazer o bolo. E eu nunca tinha ido em televisão, nada, aí eu falei assim: “Ah, vou ligar, falar que eu sei. Talvez eles queiram fazer o bolo, alguma coisa, né?”. Aí liguei, então a produção depois deu retorno e falou que então queria fazer uma entrevista, então que eu fosse lá, que eu fizesse o bolo e levasse o bolo. Então eu levei, tava perto do dia das mães, eu escrevi a palavra mãe e levei o bolo. Eu fui entrevistada então pela Maria Thereza, que na época era a minha “ídola”. E ela queria saber, então eu expliquei e tudo, e no final ela falou assim: “Bom, essa é a Ana Maria D’Ângelo que fez esse bolo, se vocês precisarem, ela dá aula, ela faz o bolo”. Dar aula? Eu nunca tinha dado aula! Eu falei: “Meu Deus!”. Aí saiu do ar, falei: “Maria Thereza, eu não dou aula”, “Ah, você não dava, mas agora você vai dar, porque vão te procurar”. A minha sogra tinha ficado com a minha filha, né, ela era pequena. E quando eu cheguei em casa a minha sogra estava com um cafezinho, assim, ela falou: “Olha, desde que você saiu daqui que eu tô pra tomar esse café, esse telefone não para e todo mundo marcando aula”. Eu falei “mas não dou aula”, “Ah, você vai ter que dar, porque tem todos esses nomes”. Olha, tinha nome! Foi aí que eu comecei. Então você vê, dessa aula tem 31 anos que eu comecei nessa área. Porque eu desenvolvia receita, era outra coisa, eu fazia. Então se as pessoas precisavam, me contratavam e tal. Agora dar aula era outra coisa, eu não dava. Eu falei: “Ah, tudo bem”. Eu morava numa casa não tão grande, eu não tinha um salão para dar aula. Aí mandei fazer uma mesa. Eu falei: “Bom, o bolo de letras ele, é montagem. Então eu asso o bolo e começo”. Então a primeira aula eu dei na minha cozinha com seis ou sete pessoas. Depois, com esse negócio de telefone, meu marido mandou fazer essa mesa, que era de desmontar, e eu comecei. E perto do dia das mães, logo depois do programa, eu tava dando aula todo dia e aquilo lotava! Ficava gente no corredor, porque tinha um corredor, e ficava no corredor e as pessoas imaginavam assim, teve uma que era do Guarujá e que levou uma sacola porque achou que tinha que levar as forminhas para fazer cada letra. Olha, foi muito divertido. Foi aí que eu comecei. Depois disso, pensei: “Então, se eu já faço essas coisas...”, porque eu já tinha muitos cursos, aí que eu comecei dar aulas. Depois eu fui convidada, depois da Maria Thereza, eu fui convidada pela dona Zuleika, que era da Record e ela tinha um programa às 11 horas da manhã, todos os dias. E ela me convidou para fazer uma semana, então cada dia eu fazia uma receita. Aí sim, eu fui fazer na televisão. Foi a primeira vez que eu apresentei. Depois disso eu fui várias vezes.
P/1 – Como foi essa semana? O que você apresentou?
R – Nossa, maravilhoso! Porque era, assim, você gravava a semana toda num dia só. Então nós íamos uma tarde, começava duas horas. Aí eu levava as cinco mudas de roupa e então cada dia a gente fazia, porque o programa dela era de quinze minutos. Então você tinha que fazer, e depois deles iam cortando, e nós fazíamos a semana toda numa tarde. Então era das duas até umas sete horas da noite, assim, ali na Miruna. E foi aí que eu comecei, então.
P/1 – Que ano foi esse?
R – Que ano? Oitenta e dois, oitenta e três. Foi aí que eu comecei a televisão. E nisso eu divulgava as minhas aulas.
P/1 – Aí aumentava a...
R – É, porque televisão você não ganha, essas pessoas que se apresentam não ganham. A troca é você dar o seu contato. Aí depois dali eu fiz Record, eu fiz Gazeta, eu fiz o Forno e Fogão
P/1 – Na Gazeta, o que que você fez?
R – Na Gazeta eu fazia Forno e Fogão. O meu quadro era “Doces e Docinhos”, porque no Forno e Fogão tem quatro ou cinco quadros. Tem Congelamento, Doces e Docinhos, tem o Allan Vila Espejo, que era chef. Ele é do Don Pepe, ele é o sócio do Don Pepe da Macuco. Porque o Don Pepe cada restaurante tem um sócio, e ele é o da Macuco. E depois disso a Record comprou a Rede Mulher, que era de fora. E na Rede Mulher então veio a Cátia, que era uma apresentadora de desfile de modas, aí a gente montou e o Sabor... Como é que é? Ai, agora eu não me lembro, não sei o que Sabor. E também de quadros assim. Aí o meu quadro era de doces.
P/1 – E você se dava bem no vídeo? Você aprendeu fazendo?
R – Tranquilo. Muito bom! A minha dificuldade na televisão é assim, é que eu sou tímida, agora não sou tanto, mas eu era tímida demais. Então para sair na rua era uma vergonha... No mercado eu fugia das pessoas, porque elas vinham conversar comigo, e eu saía. Mas não era orgulho, nada, é vergonha mesmo, eu sempre fui muito tímida. Depois, eu não sabia o que falar com as pessoas! Aí fiz, nossa! Enquanto teve o programa, nós fizemos.
P/1 – Aí depois você foi pro TV Mulher?
R – Depois fui pro TV Mulher. Depois a Cátia foi pra Record, que ela foi no lugar da Ana Maria. Fiz com a Ana Maria. No tempo da Palmirinha, tudo, também fiz. Assim, que a gente era convidada. Depois a Cátia foi pra lá eu fui junto, porque onde a Cátia ia ela me convidava. Nossa, foi muitos anos de televisão! E aí eu ia pra todos os estados, porque as pessoas convidavam a gente para dar aula fora. Então nossa, dei aula em muitos lugares!
P/1 – Aconteceu alguma... Tinha programa que era ao vivo ou não, todos eram gravados?
R – Não, tinha programa que era ao vivo.
P/1 – Aconteceu alguma coisa interessante?
R – Ah, Com Sabor chama o programa da Cátia. Esse Com Sabor, o primeiro dia que ele foi ao vivo, ai, estava tudo bem; me deu um acesso de tosse. O primeiro ao vivo! E eu comecei tossir, não passava. Eu comecei ficar nervosa, eu já tava começando a chorar. Aí a Cátia veio me acudir, falou: “Bom, vai, lá, bebe o seu copinho de água”, porque aí trouxeram água, tudo, “e depois você, aí você volta aqui. Enquanto isso eu vou falando, vou contando as coisas”, e foi o que ela me salvou, foi o primeiro ao vivo, do Com Sabor, né? E aí aconteceu, aconteceu muitas coisas. Nesse programa da Gazeta, que era o Forno e Fogão, era o Geraldo Rodrigues, que é o nosso produtor. Ele era ao vivo. Então uma vez, era época de Páscoa, então eu fiz um bolo que era uma cesta, e os ovos eram de gelatina. Então eu levei todas as casquinhas de ovos vazias. Então tirava o ovo, fazia aquele buraquinho, pra encher de gelatina. Estamos no ar, tô fazendo tudo e eu assim, eu sou apressada, e eu não presto muita atenção nas coisas, eu sou um pouco distraída. E eu peguei o ovo assim com força, sumiu o ovo, e o programa ao vivo, né? Eu fiquei assim todo mundo caiu na risada. O Geraldo ficou assim, vermelho. Ele falou: “E agora, o que que ela vai fazer?”. E eu não seguia script, nada! E eu não sei muito decorar, tá? Não me dá uma coisa que chega na hora eu falo o que vem. E ai aquilo, falei: “Ó gente, nós vamos pra um comercial porque o ovo sumiu, vocês viram, né? Eu apertei, não tô achando o ovo, o ovo sumiu. Vamos pra um comercial que eu vou procurar o ovo, depois eu volto”. E entrou o comercial. Ele falou: “Olha, eu não acredito. Você teve uma saída ótima”. Não adianta você falar mentira na televisão, as pessoas não são burras. Eu vou falar o que, se o ovo sumiu? Eu apertei... Você sabe que a gente não achou o ovo? Depois, na semana seguinte, eu fui mexer, tinha umas flores assim pra decorar, eu tava lá esperando a minha vez, a Cintia gravava na minha frente, e aí eu fui arrumar a flor lá, não é que o ovinho tava espetado lá? Sumiu o ovo, voltou. Eu tinha outro, porque eu levei os ovos. Falei: “Gente, ó o ovo. Não é aquele porque aquele sumiu”. Aí continuou e passou. Quer dizer, é coisa que acontece. Programa ao vivo, né? E outra vez também – essa vez foi brava – porque eu estava batendo uma cobertura e o glacê, o glaçúcar, ele empedra demais. Então você tem que passar ele na peneira. Em casa, eu passei na peneira, entendeu? Aí pus no saquinho. Na hora de por na caixa, a minha mãe tava me ajudando. Em vez dela por o que eu peneirei, ela pôs o outro empedrado, né, porque o que ficou na peneira eu pus dentro do saquinho. Eu fui embora, entendeu? Chega lá, a gente tinha o patrocínio da Arno, e aí eu pus as claras pra bater e fui. Quando eu vi, eu falei “Putz”, e ai eu comecei a passar com a colher assim, e o Geraldo fazia assim, porque tem, né? Eu falei: “Ó gente, eu vou bater, vocês não esqueçam de passar na peneira” – eu tava avisando, “não esqueçam de passar na peneira”. Ele me conhecia, falou assim: “Vai acontecer alguma coisa, ela tá preparando”, porque eu já tava preparando mesmo. “Ó, cuidado. Vocês passem na peneira. Tá vendo que eu tô amassando? Porque tem algumas pedrinhas assim”. E eu pus e a batedeira travou! No ar! Aí eu falei: “Bom, vamos bater aqui”, aí eu fiz que desliguei e falei: “Ó, enquanto eu vou batendo, nós vamos pra um comercial. Eu vou batendo, depois na volta vocês já vão ver pronto”. E entrou o comercial. Ele queria me matar. Ele falou: “O que você fez?”, “Tá com pedrinha”. Aquilo lá prendeu que ele e meu marido subiram – em cima da Gazeta, lá em cima, é um pátio. Eles levaram a batedeira lá, pra martelar a batedeira pra soltar, porque é um gancho assim, aquilo prendeu. É que tem outra, outro daquele negócio, aí pôs lá e eu peguei um pouco. Já tinha ido, não tinha jeito. Eu não tinha como por ali, porque ela prendeu. Aí levou a batedeira, tudo. Eu falei: “Ó gente, então eu já tirei a batedeira. Eu tive um pouco de dificuldade, não é por causa da batedeira, é porque o meu açúcar não tinha sido peneirado. Então vocês peneirem para não estragar também a sua batedeira e tal. Mas olha, já tá aqui”, e eu continuei. Levei uma chamada por causa dá impressão que o produto não é bom. Mas não foi isso, foi que o açúcar estava... Mas eles tiveram que ir lá pra não fazer barulho, porque lá acho que é sétimo andar, e depois tem mais uns cinco. Eles foram lá pra não fazer barulho da gravação. Então programa ao vivo tem essas coisas, de vez em quando você...
P/1 – Você tem fotos dessa época?
R – Tenho bastante.
P/1 – Ah, depois a gente pode pegar?
R – Pode, sem problema. É, eu preciso pegar agora, no Carnaval eu vou pro interior, aí eu vejo, que essas fotos de papel, elas deve ter lá. Sem problema. Ó, é muito divertido. Dessas coisas divertidas, eu tava dando aula na minha casa, eu tive uma escola ali na Gonçalves Crespo. A Gonçalves Crespo, ela é uma travessa da Rua Tuiuti, junto do metrô Tatuapé. Naquela época que não tinha o metrô ainda. Depois teve e agora tem um shopping, outro shopping, né? Eu tinha uma doceira ali, eu tive, além de dar aula e de fazer televisão, eu ainda tinha uma doceira ali. E eu dava aula, então eu tinha um forno daqueles Kitchen, alto assim, e tinha o fogão embaixo. Eu tava dando aula, nem lembro do que. Aí, toda de cabelinho preso, tal, e eu liguei o forno e o forno não ligou. E eu, em vez de desligar o forno, eu não desliguei. Então fui lá, o automático não queria ligar, eu peguei o fósforo. Quando eu liguei o forno ele fez SHUMMMM. Gente, eu nunca brilhei tanto. Você olhava meu cabelo, aquilo ardia tanto, aqui tudo vermelho. Aí as alunas! Então a minha escola era assim, eram duas salas que eu fiz um aro e com uma pedra mármore e aí eu tinha uma cozinha montada com forno, assim. E do lado de lá, então ficavam as alunas e eu ficava naquela janela. “Ana, você tá bem?”, “Ai, eu tô. Imagina, nem foi nada” (risos) Não podia fazer, assim, que caía tudo, parecia bom bril caía tudo. Eu falei: “Gente, vocês esperam um pouquinho, eu vou por um lenço pra não cair”. Entrei na minha casa, subi, fui passar pomada porque aquilo ardia que era uma coisa. Pus um lenço e continuei dando aula. Desligou o forno lá e depois uma mais alta falou: “Não, pode deixar que eu ligo o formo”, como ele já estava desligado, o gás já tinha sumido, a aluna ligou e eu continuei dando aula, só que eu não podia falar. Minha mãe tava na minha doceira, porque eu e minha mãe éramos sócias, então ela tomava conta da doceira e eu dava aula. Eu fazia tudo, doce, salgado, eu fazia tudo. E aí eu não podia, eu tinha que ir na cabeleireira, eu não podia fiar com o cabelo daquele jeito. Mas eu não podia passar na frente da bomboniere, da doceira, porque a minha mãe ia ver. Aí dei a volta, fui lá, cortei o cabelo. Volto, né, e a minha mãe falou: “Ué, por que você foi cortar cabelo?”, falei: “Mas eu não fui cortar o cabelo”. Falou: “Eu não te conheço? Como que você não cortou o cabelo?”, “Não mãe, não cortei o cabelo”, “Ah não, e por que você tá tão vermelha?” Aí eu tive que falar, mas é porque eu não queria porque ela ficava preocupada e ele tinha diabetes, então eu não queria contar pra ela, mas não teve jeito. Eu brilhei tanto, aquilo ficava tudo... Depois na outra aula as meninas se matavam de rir, falavam: “Ana você brilhava, você parecia um Bom Bril”. Mas essas coisas, o que vai fazer, essas coisas acontecem mesmo. Mas eu sempre fui muito feliz com isso, viu, porque eu gosto demais. Eu aprendi com a dona Zuleika, que uma vez ela falou: “Você gosta de dar aula?”, eu falei “Gosto”; ela falou: “Então você faz o seguinte, quando você for ensinar alguma coisa, se você não quiser ensinar tudo, então você não ensina nada. Porque você tem que lembrar uma coisa, a pessoa vai pegar sua receita, vai comprar os ingredientes e vai fazer. Se você não ensinar o pulo do gato, a pessoa vai perder tudo aquilo. Então se você não quiser...” – porque eu tinha a doceira – ela falou “se você não quiser ensinar alguma coisa que você vende, não ensina errado ou pela metade”. E aí eu segui isso a vida toda. Então quando eu passo alguma receita, eu desenvolvo a receita, eu não copio a receita de ninguém, eu faço e do jeitinho que eu desenvolvi, eu passo, que é justamente por causa disso. Na Internet, você vê, eu sou a pioneira em aproveitamento integral de alimentos. Antes de Mesa Brasil, que antes do SESC, que era a Mesa São Paulo, eu fui convidada pra idealizar junto com eles, tinha a Mesa São Paulo e depois foi Mesa Brasil. Desenvolvi todo o receituário, toda a doação que o SESC recebia eles falavam – era o SESC Carmo, só tinha no SESC Carmo, agora tem no Brasil todo – então eles ligavam: “Ó, a gente tem doação”. Então no começo era casca de banana, casca de abacaxi que vinha da empresa Vale, que faziam as tortinhas do Mc Donalds. “Ah, nós vamos receber tanto”. Então eu desenvolvia dez, 15, 20 receitas e aí fazia então as oficinas com as cozinheiras das entidades que o SESC ia fornecer. E você vê, o Mesa Brasil tem 17 anos. Antes da Cozinha Brasil do SESI, porque a Cozinha Brasil começou dois anos depois, aquele “Alimente-se Bem” por um real. Mas é uma coisa ótima, porque ajuda todo mundo. No Mesa Brasil tem entidade que se não tivesse eles, não dava pra levar em frente, porque o que a prefeitura dá não é suficiente, porque é muita gente. Então tem casa de idoso, casa de mulher com câncer, homem de rua, tudo, criança. Então cada mulher que tá ali ela representa 50, 60 famílias que ela tá atendendo. Então você imagina o número disso. Então quer dizer, tudo é ali certinho, vamos fazer direitinho. Quer dizer, o meu repertorio também, eu agradeço muito ao SESC por isso, ele cresceu demais, porque ela tinha a necessidade, eu tinha como resolver, desenvolvia e nisso você vai crescendo. E com a televisão, quer dizer, eu fiquei conhecida no Brasil todo! Então quando o Francisco Garcia que me chamou pra Nestlé, eu já trabalhava com a Nestlé, porque a Nestlé me patrocinava na escola. Quando eu abri a escola, eles começaram a me patrocinar.
P/1 – Que ano foi isso? Como que foi esse contato? Você que foi atrás, eles ofereceram?
R – Não, então, eu comecei a dar aula e depois como eu já apareci na televisão, tudo, e aí o meu, acho que foi o meu primeiro patrocinador, eu tinha vergonha, eu não procurava as empresas, entendeu? Mas só que aí com essa apresentação, muitas pessoas vieram aprender esse bolo e já eram culinaristas. E aí as empresas ficam sabendo, porque lá no programa da Maria Thereza, tem os patrocinadores. Tinha os produtos lá que ela, ali tinha Nestlé, tudo. Então aí veio Nestlé, veio Refinações de Milho, veio estoque, veio Cica, nossa, veio um monte. E aí você tá dando aula, já recebia os produtos sem conhecer. Mandava uma cartinha com o produto já e outras não, a pessoa ligava, via quando tinha aula e elas vinham conhecer, assistiam tudo, a aula, depois no final falava: “Olha, sou de tal empresa, tudo. Você quer o nosso patrocínio? A gente gostaria que você trabalhasse com o nosso produto tal”, e aí mandava. Quer dizer, eu já recebia da Nestlé antes de existir o Nutrir. E naquela época, a culinarista era assim, um ponto que as empresas consideravam muito. Não só eu, todas! Porque assim, você dá aula, elas confiam tanto em você, que a colher que você usa é a colher que elas querem, entendeu? Então se elas forem comprar uma colher e a tua tem o cabinho azul, ela vai comprar de cabinho azul. Ela confia naquilo que você fala. Então as empresas tinham essa confiança com as culinaristas, de usar o seu produto e sabia que o que a culinarista falava, a pessoa que tá assistindo a aula, a aluna ela acreditava mesmo e ia comprar o produto. Então a culinarista era um ponto forte pra empresa. Dei muita aula em supermercado pra Nestlé, de produtos Nestlé e de chocolate. Nossa, a gente deu muita aula de chocolate. E aí depois nisso, quer dizer, o Francisco acho que já conhecia o meu nome e depois de ver o meu trabalho então no Mesa Brasil, quando a Adriana foi mentora do Nutrir. O Nutrir saiu da cabeça dela! E aí quando eles montaram, o Chico me convidou.
P/1 – Que ano que foi?
R – Noventa e nove. Aí ele me convidou, eu fui lá, era a Sandra. Não esta Sandra, uma outra que era a secretária assim do Chico, e que ia ser a coordenadora do Nutrir.
P/1 – Qual que era a proposta inicial?
R – A proposta inicial era voluntariado. Era um programa de voluntariado que eles queriam fazer, e que queriam fazer a Folia Culinária, então que queria passar o conhecimento. Então eram na época acho que 20 unidades. Depois a Nestlé tem 22 fábricas. Cada fábrica ou cada unidade ou cada CD – acho que tem dois CDs parece – então ia escolher uma comunidade ou uma entidade pra serem atendidas. Então qual era o objetivo? De você ajudar essa comunidade, ou essa entidade a melhorar a vida. Então a usar, a ver uma alimentação – no meu caso, uma alimentação melhor. Como eu trabalhava com aproveitamento integral já, então eles queriam o que? Que elas usassem então tudo aquilo que fosse da feira, então tudo aquilo que ela trazia da feira, ela ia utilizar. Quando era entidade, então a usar parceiros paras doações. Então a entidade fazia com que as mães tinham uma alimentação melhor, cuidava mais dos filhos. Depois, a gente trabalhava muito na ligação mãe e filho, na afetividade. Isso é um forte da Rosana, Rosana trabalhava muito isso. A gente queria, assim, porque tem mãe assim, faz a comida, joga. Não, né? Vai lá, dá a comida pro seu filho, tem aquela hora de você cuidar do seu filho. Então tudo isso a gente passava, fazia o treinamento dos voluntários. Que a principio, a gente só fazia dos voluntários. Então eles vinham, tem algumas fotos até que eu trouxe, eles vinham duas vezes por ano das suas unidades, aqui na sede, e a gente fazia o treinamento com eles. Aí a sede, então tinha o Itaquera, que é uma comunidade, chama Raul Seixas, e a gente então começou lá. A gente ia uma vez por mês, aos sábados, fazer a Folia Culinária. Então nós íamos lá, isso a Rosana já tinha preparado, porque as Rosana já tava lá antes do Nutrir, então nós íamos lá, aí eu escolhia as receitas. Nós tínhamos cinco temas, a gente trabalhava com frutas, verduras e legumes, grãos e cereais, derivados do leite e tem mais uma, que depois eu vou lembrar e falo. Então cada mês a gente ia lá e trabalhava com um. Nós escolhemos uma casa de uma senhora, onde a gente podia utilizar a cozinha dela, que era a Tata, ela ofereceu a casa dela. Pra você ter uma noção: a gente entrava numa rua, depois se você, às vezes, queria ir na outra, você entrava numa casa e depois você atravessava a casa dela, você entrava numa outra; você atravessava pra você ir na outra, sabe, você vai atravessando, assim. E a Tata não, a Tata tinha casa na rua, assim, era mais fácil pra gente fazer, então fizemos na cozinha dela. Começamos ali, e aí nós fomos lá, a primeira Folia, a gente tem um livro. Tem um livro da Nestlé, onde tem a foto do primeiro dia que nós fomos. Eu fui com a microbiologista da Nestlé. E aí você imagina, né, microbiologista? Quando ela entrou, ela falou: “Meu Deus, eu não vou fazer nada aqui, não vou comer nada aqui”, falei: “Vai comer sim”. Aí eu comecei, eu levava avental, levava luva, levava touca. Então sempre foi assim, se eu colocar tudo isso, as pessoas vão pensar que eu não quero ficar, tenho nojo da casa dela, né? A pia era escuríssima, mas era a realidade dali, não tinha como, sabe? Aí eu falei: “Olha gente, a gente trabalha desse jeito, aqui tá a microbiologista, nós temos nutricionista. A gente vai usar avental pra não sujar nossa roupa, pois a gente vai trabalhar com um monte de coisa. A gente vai por uma touca que é pra não cair o cabelo, tá? Eu trouxe aqui um monte. Quem quiser por, tudo bem, quem quiser usar, usa. Quem não quiser, tudo bem, mas eu vou usar”. E aí então eu coloquei, sabe? E aí quando eu coloquei elas começaram a colocar também. Que e prá ver, ali todo é mundo igual. Então assim, eu não fico aqui, elas lá, entendeu? Eu sou amiga. Tanto é que eu tenho um avental que elas me deram desse tamanho assim, de fuxico, tá dentro do quadro. A Rosana deve falar, porque a Rosana ajudou elas nisso, e elas me deram. Nossa, chorei tanto aquele dia, porque assim, eu fui me chegando e mostrando pra elas o que a gente ia fazer. Então essa Tata ela tinha um fogão de quaro bocas, funcionavam dois e o forno não funcionava, então quando a gente fazia alguma coisa, que nem uma vez eu levei “pizzinha”, sabe, “pizzinha”. E então quando gente precisava do forno, a gente fazia aquelas “pizzinhas” de pão para aproveitar o pão que ficava velho, ficava duro, tal. Nós tínhamos a parceria com uma padaria que ficava no começo da comunidade. Então nós fazíamos tudo ali e aí era uma graça, né, todas as mães e as crianças levavam as assadeiras pra padaria, assava bolo, assava pão, tudo na padaria e trazia. E nós levamos isso. Quando foi acho que no segundo ou no terceiro mês, quando nós chegamos lá, tinha um fogão novo. Então a Tata tinha comprado o fogão. Então que dizer, isso foi assim, a preocupação dela em fazer as coisas com as mães, a preocupação dela e da comunidade. E que também ajudou ela a falar: “Não, eu preciso de um fogão novo”. Aí ela comprou. Ela comprou um jogo de panela que vende na rua, daquele alumínio bem grosso, comprou quatro panelas novas, tudo por causa dessa Folia. E aí durante o mês a Rosana sempre ia lá, sempre independentemente de ser Nutrir, ela já ia.
P/1 – Por que chamava Folia?
R – Folia Culinária?
P/1 – É.
R – Porque é uma brincadeira. É culinária porque tá na cozinha e porque todo mundo participa e brinca. Então enquanto eu ficava com as mães, os voluntários ficavam com as crianças, isso em todas as Folias. E no final da rua tinha uma brinquedoteca e eles ficavam lá brincando. Quando a comida tava pronta, a gente pegava tudo, arrumava e todas as mães levavam lá pro fim da rua. Então nessa brinquedoteca tinha uma mesa montada, onde todo mundo comia. Então quer dizer, era um sábado com certeza que todo mundo almoçava. E uma alimentação saudável, entendeu? Partindo daí, do conhecimento delas, tudo, o posto de saúde de lá, convidou as mães pra dar treinamento para as mães de outras localidades, sobre o que tava acontecendo ali. Sabe, então achei que foi legal. Depois assim, tirar o refrigerante, tirar o açúcar em excesso deles. Então eles recebiam um saco de laranja, que aí fez uma parceria com a padaria, ele comprava mais barato, vendia mais barato pra comunidade. Acho que duas ou três vezes por semana, uma vez de manhã e outro dia à tarde, as mães faziam suco e davam suco natural para as crianças, e isso foi bom. Por isso que o posto de saúde chamou, porque tinha muita criança com furúnculo. Nem a gente sabia! E eles começaram a tomar esse suco natural, e de repente esses furúnculos sumiram e o posto não sabia como, e queria saber o que tava acontecendo. As mães foram contando e aí eles viram que era por causa do suco natural. Eles saíram do açúcar, de impurezas, né? E aí convidaram as mães, então tinham duas mães que toda semana faziam treinamento. Quer dizer, falavam, faziam uma palestra com mães de outros bairros, de outras comunidades, contando o que acontecia ali.
FINAL DA ENTREVISTA
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