R – Tentar fazer um resumo porque a vida é um pouco longa. Já são 65 anos de vida, então tem muita coisa. Resumo é, veja, da minha infância é uma infância normal, infância de uma pessoa qualquer da classe média, morava no Ipiranga, meu pai trabalhava com oficina. Eu me formei, estudei engenharia, formei-me na Escola de Engenharia Mauá em 72, primeira, segunda turma. Na verdade, comecei com a primeira, mas terminei com a segunda turma de engenheiros civis. Foi o primeiro trabalho meu, tirando aquela parte de estágios, aquela coisa toda de quarto e quinto ano, eu fui trabalhar na construção do supersônico, primeiro aeroporto internacional supersônico do Brasil, no Rio de Janeiro. A construção do Galeão, da pista nova. Trabalhava na área de engenharia na parte de desmonte a fogo, terraplanagem, apropriação, medição. Mandava uma parte da obra lá. Trabalhei alguns anos lá, depois fui convidado para trabalhar em outra empresa no Rio de Janeiro, em nível de gerência de obra e acabei indo trabalhar com o meu pai. Ele tinha uma empresa que ele tinha iniciado de terraplanagem, de desmatamento na época, e eu fui trabalhar nessa empresa. Trabalhei nessa empresa muitos anos. Chamava-se Bralink Empreendimentos de Terraplanagem. Nessa empresa eu fui morar numa cidade chamada Telêmaco Borba, é uma cidade onde está a fábrica Klabin do Paraná. Fábrica de papel, papel e celulose. Lá nós trabalhamos assim muitos anos, fizemos uma área muito de grande de desmatamento, fileiramento, gradagem, entendeu? Contornos e divisoras. Aí eu iniciei, voltei, comecei a fazer terraplanagem, transformei a empresa em uma empresa de terraplanagem. Resumindo, passei a fazer obra para o DER (Departamento de Estradas de Rodagem). Fiz algumas estradas no Paraná, no governo Álvaro Dias, estradas vicinais. Aí participamos de uma concorrência, ganhamos para fazer o aeroporto de Monte Alegre, Telêmaco Borba, foi inclusive um regime de obra que eu ainda não vi aqui no Brasil, onde você assina um contrato, é turn key, você faz a obra, você fiscaliza e você executa tudo, sem fiscalização nenhuma. Você é tudo dentro da obra. Só que no final da obra vem uma equipe de São Paulo, no nosso caso veio uma equipe de São Paulo e uma de Curitiba, fizeram sondagem rotativa na pista do aeroporto inteira e aceitaram a obra, vamos dizer assim. A obra foi executada de acordo, senão teria que desmanchar tudo. Muito bacana, porque a preocupação quando você é fiscal e você é executor é muito maior em qualidade. Bom, nesse tempo em que estava em Monte Alegre, Telêmaco Borba, eu morava lá, eu recebi a visita de um grupo americano, Jorge Tena, que hoje trabalha aqui na área de São Paulo, na parte de telefonia, tem uma empresa grande. Naquela época, eles estavam, tinham a intenção de trazer o sistema Bunker para o Brasil. Um sistema de selagem onde a atmosfera é controlada. Eu participei desse projeto, viajei algumas vezes para os Estados Unidos, fui aprender lá o sistema com é que ele é feito e trouxe esse sistema para cá, levei o pessoal do Paraná lá da COPASA (Companhia de Saneamento), lá para os Estados Unidos para ver o sistema. O Dr. Osires Stenghel Guimarães que era o presidente da rede, ex-presidente da rede ferroviária, era o presidente da COPASA na época. Aí nós vendemos dois silos, sistema Banker de silagem, onde você tem a silagem do grão sem perda de peso, com custo um muito baixo, porque é todo feito com a atmosfera controlada, você cria um vácuo, depois injeta CO2 dentro do silo, entendeu? E são silos baratos, cobertos com lona plástica. Nós trouxemos o primeiro silo pioneiro na América do Sul de silagem de grãos, armazenagem de grãos. Daí do Paraná eu vim para São Paulo. Quando eu vim para São Paulo, eu vim, montei a empresa na Raposo Tavares, empresa de terraplanagem, e na época do Collor acabei parando a empresa. Fiz algumas obras grandes aqui também para o Ministério da Marinha, em Aramar. Aí resolvi entrar na área de esporte e laser, que seria... Eu tava... Eu perdi minha primeira esposa nessa época, ela e um filho em um acidente. E aí eu me casei novamente e resolvi entrar nessa área de jet ski, etc. Eu fui para os Estados Unidos procurar uma marca e encontrei lá a Polaris na época. Eu fui na intenção de trazer jet ski. Porque na época a Sea-doo vendia muito jet ski aqui. No fim acabei, vamos dizer assim, acreditando nos quadriciclos como micro tratores, porque todos eles estavam com grade, arado. Eu falei: “Poxa, isso ai para trabalho em canteiros, em pequenos produtores, transportar carreta com pessoas que plantam tomate, que plantam... Isso aí pode ser interessante”. E trouxe a primeira carga de quadriciclos junto com jet ski. No fim eu vendi mais quadriciclo que jet ski. Os quadriciclos tiveram maior aceitação. Na verdade, eu trouxe os quadriciclos, trouxe o jet ski, trouxe um sistema de carreta do Canadá, a carreta Tiger que era de fibra de vidro protendida. Uma coisa muito bonita, porque era muito esbelta, inclusive o pessoal da Fapinha hoje parece que está fazendo essa carreta. Eles acabaram copiando e estão fazendo. Quando eu trouxe o quadriciclo para o Brasil, eu não conhecia, eu sabia como era o produto, para mim era um trator, tal, tanto que eu fiz uma consulta na Receita Federal como micro trator, acreditando que era um micro trator. Tive essa consulta aprovada, na época o consultor que fez essa consulta era uma pessoa de muito conhecimento, ele mesmo se convenceu, ele falou: “Isso é um micro trator”. Eu trouxe isso há alguns anos como micro trator.
P/1 – Senhor Arnaldo, a gente pode só agradecer primeiro essa sua introdução, mas eu queria pedir para o senhor para a gente começar falar primeiro o seu nome completo, local e a data de seu nascimento. A gente vai esmiuçar bem toda essa parte assim, do seu comércio, da sua atividade.
R – Meu nome completo é Arnaldo Preisegalavicius, minha idade é 65 anos.
P/1 – E aí a data do seu nascimento?
R – Nasci em 30 de outubro de 1946.
P/1 – Certo. E a cidade?
R – São Paulo.
P/1 – E o nome de seus pais?
R – André e Joana Preicegalavicius. Pai e mãe.
P/1 – E o senhor sabe a origem de seu sobrenome, de seus pais?
R – É lituano. Meu pai é lituano e minha mãe é filha de espanhol com italiano. Eu sou essa mistura.
P/1 – E você sabe por que o seu pai veio para cá, quando é que foi?
R – Meu pai veio para cá na época da guerra. Veio primeiro a minha avó, ela participou do cerco de São Petersburgo quando os alemães cercaram a Rússia, e ela veio fugida para cá. Aqui ela trabalhou como empregada doméstica, como lavadeira, enfim, fez de tudo na vida, juntou um dinheiro, comprou uma passagem e mandou meu pai vir para o Brasil. Meu pai veio com 16 anos para cá.
P/2 – Já em São Paulo, seu avô?
R – Já em São Paulo. Meu pai veio, meu pai ele foi... Ele veio com 16 anos, não falava a língua, trabalhou, fez de tudo aqui também, um início difícil de vida e quando ele veio já conheceu um padrasto, minha avó casou pela segunda vez. Ele sempre praticou esporte, tem 95 anos e está vivo hoje graças a Deus com saúde, e foi campeão paulista, campeão sul-americano de boxe, com o nome André Bioregan, sobrenome Bioregan, ele que escolheu isso. E é isso aí. Meu pai e minha mãe são vivos, que mais você quer saber?
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho uma irmã, Tânia.
P/1 – Mais nova?
R – Mais nova.
P/1 – E como é que era a sua infância aqui em São Paulo, no Ipiranga, como o senhor contou?
R – Uma infância normal de pessoas, vamos dizer assim, de classe média, entendeu, não me faltava nada. Era uma época gostosa, totalmente diferente da de hoje porque não tinha assalto na rua, não tinha bandido como tem hoje. A gente vivia mais solto, mais livre.
P/2 – O senhor se lembra de brincadeiras na rua então?
R – Ah, isso todo mundo, porque quem viveu naquela época lembra isso.
P/2 – Tipo futebol?
R – É tinha tudo. Era futebol, era time de camisa. Pessoal se reunia na época de São João, fazia fogueira na rua, aquela coisa toda, soltava balão. Tinha muito mato ao redor naquele tempo. Você tinha mais oxigênio no ar, menos agressividade. Acredito que naquela época existia até mais amor do que existe hoje.
P/2 – Esse gosto pelos esportes do seu pai que foi boxeador, também passou para os filhos?
R – Não. Não. Foi ele só que lutou.
P/2 – Mas algum outro tipo de esporte?
R – Eu fiz natação muito tempo. Nadei pelo Clube de Regatas Tietê. Nadei também no Clube Ipiranga, treinei bastante tempo natação.
P/1 – E o senhor se lembra do seu primeiro momento na escola? Qual é a sua primeira lembrança da escola?
R – Meu primeiro momento na escola? Eu lembro do Colégio Paulistano, a gente se lembra do sanduiche de mortadela do intervalo até hoje, né? Quando tem mortadela em casa eu lembro daquele tempo. Era uma fatia de mortadela num pãozinho, mas uma delícia. Lembro de alguns professores, eu estudei em colégio estadual no começo, depois estudei no Colégio Visconde de Itaúna, no Ipiranga, depois estudei no Colégio Paulistano e por fim eu fiz o colegial no Arquidiocesano, semi-interno e Escola de Engenharia Mauá. Foi por aí.
P/1 – E o que o senhor quando menino queria ser quando crescesse? Já tinha uma ideia de que ia seguir pelos números, pela engenharia?
R – Eu sempre gostei de engenharia. Sempre gostei de obra, construção civil, eu fiz muita construção civil também, construí muita casa popular, loteamento. Eu sou engenheiro e sou corretor de imóveis também. No fim, montei, fiz um loteamento no Paraná, na época em que um morava lá também. A cidade estava meio apertada, não tinha lote, então tinha uma fazenda grande, a fazenda Limeira, eu procurei o pessoal no Rio e falei: “Vamos fazer um loteamento?” E no fim acabei convencendo o pessoal a fazer um loteamento e fizemos um loteamento de cinco mil lotes e 170 chácaras. Tudo popular para vender assim, para pagar em dez anos. Vendemos tudo assim, rápido, entendeu? E o pessoal que comprou esse loteamento era tudo gente de classe, vamos dizer assim, mais pobre. Eles são pagadores, eles pagam em dia. Dava o carnezinho, eles iam ao banco no dia, todo mundo pagava. Olha, no final, o loteamento tinha o quê? Uns 20 casos para resolver judicialmente que nós acabamos doando os terrenos. Mas foi um loteamento grande na cidade.
P/1 – O senhor se lembra do bairro do Ipiranga da sua infância, o que é que tinha de atividade, de comércio, aonde é que vocês costumavam ir?
R – Era o Heliópolis, o morro do Heliópolis, a turma ia jogar futebol lá em cima. Lembro de alguns amigos o João Paulo Otine, o Zico, o Zezito. Eram um amigos, né? Do Luiz Carlos Leiva que morava na frente. Eu me lembro daquela turma que a gente saía, bailinho, tinha aqueles bailinhos que a gente ia, totalmente diferente de hoje em dia.
P/2 – Como era o comércio no bairro naquela época?
R – Era bar que tinha lá na região. Comércio tinha a madeireira, tinha... Como é hoje. Material também de construção, lojas de sapato no Ipiranga. É como é hoje, o comércio era a mesma coisa, não mudou. O comércio continua igual desde o começo da existência dele até hoje ele continua sendo igual, mesma coisa. Você tem um produto para vender e tem alguém querendo comprar.
P/1 – E nessa juventude sua costumavam vir grupos de amigos para o centro da cidade, para o cinema, ou ficavam mais...
R – Não. A gente ia para o cinema, reunia-se. Eu fiz aeromodelismo muito tempo, então, tinha um pessoal que frequentava a casa para gente desenvolver projetos de avião. Tudo naquele tempo era a cabo. Depois, eu vim fazer o rádio controlado. Até hoje... É que eu parei já faz uns dez anos. Eu tenho muitos aviões em casa ainda radio controlado que eu montei, escala etc. Inclusive para montar um desses aviões eu fui até a Smithsonian. Na época do sistema Bunker, um dos presidentes chamava Jean, ele pertenceu ao governo americano. Quando eu tive lá nos Estados Unidos ele falou: “O que você queria conhecer?” Eu falei: “Eu queria conhecer o Smithsonian”. Então, ele me chamou, aquele dia não tinha visita, ele ligou lá para o Smithsonian e abriram o museu pra eu entrar. Aí eu falei: “Eu quero ver o Curtiss Jenny, o JN4D”, que foi o primeiro avião que voou aqui da Força Pública. Aí me levaram lá e ele falou: “Pode entrar no avião”. Então eu entrei no avião, entendeu, no biplano, no Curtiss Jenny com radiador na frente, daquele monte de risco do piloto que usou aquele avião. Falei: “Poxa, que bacana”. Fotografei tudo para eu montar o meu modelo em escala aqui. Mas é isso aí, em Smithsonian. O gozado é que naquele tempo eu estranhei muito que tinha uma salinha que era um quarto dessa área aqui com busto assim de Santos Dumont e o motorzinho pequeno e dizia: “Ele acreditava que foi o que fez o primeiro voo. Ele acreditou que fez o primeiro voo”. Hoje é reconhecido como o primeiro voo. Mas naquele tempo não era, eram os irmãos Wright que estavam lá logo na entrada dizendo que eles que fizeram o primeiro voo. Na verdade foi uma catapulta, né? Mas muito bacana. Aeromodelismo.
P/1 – E o senhor sabe da onde que surgiu essa paixão pelo aeromodelismo, pelo céu?
R – Eu sempre gostei da aviação, num sei. Quem sabe de vida passada. Eu sou piloto também, sou brevetado. Meu brevê é caducado porque eu não voo há muito tempo, mas cheguei a ter avião, cheguei a ter avião pequeno. Um Cessna 210. Na época da terraplanagem também, eu tinha obra em vários lugares e, muitas vezes, ia de avião.
P/2 – E seus amigos da época do aeromodelismo que se reuniam na sua casa, alguns deles continuam seus amigos ainda hoje?
R – Não. Não vejo há muito tempo. Não vejo. Mas a história da aviação no Brasil é muito pouco conhecida aqui. Tem um livro chamado Asas e Glórias de São Paulo que foi escrito pela Força Pública. De certa forma esse livro até foi proibido. Eu conheci o escritor desse livro, fui conversar com ele. E de lá que eu tomei conhecimento do primeiro avião que voou que foi o Curtiss Jenny, aqui no Brasil. Tenho foto dele da Força Pública. FPSP, Força Pública de São Paulo, estava escrito atrás do avião. Os primeiros acidentes, as primeiras pessoas que morreram, os primeiros raid aéreo. Estão todos nesse livro Asas e Glórias de São Paulo.
P/2 – O livro foi proibido por quê?
R – Porque ele falava muita verdade. De certa forma, naquele tempo, acho que era meio proibido falar a verdade. Por exemplo, o primeiro salto de paraquedas. É uma coisa de louco, ele conta nesse livro com detalhes, aonde uma paraquedista francesa vinha fazer esse salto no campo de Marte... Aquela época era área da cavalaria da Força Pública e ela ia fazer esse salto pela Cruz Vermelha, arrecadando fundos. Então estava toda a sociedade de São Paulo lá. Chegou no dia, ela acometida de um resfriado, manda um recado dizendo que não vai poder pular. Aí o comandante falou: “Um voluntário”. Aí empurraram o Pereira Lima, coitado. “É você que vai pular”. Ele nunca pulou, ele apavorado falou: “Poxa, fizeram um teste um dia antes com saco de areia, o paraquedas não abriu”. E lá foi ele no avião, no Curtiss Jenny junto com o piloto que era o senhor Ruver, era um europeu, e eles decolaram e o Ruver virava para ele e falava: “Pula”. Ele: “Não.” “Pula.” “Não”. E no fim fizeram lá uma manobra com o avião e ele foi obrigado a pular. Caiu, né? Na verdade, não pulou. E puxou o paraquedas e o paraquedas abriu só que colocaram o paraquedas na posição errada e ele veio com as pernas abertas gritando de dor e ninguém entendeu isso. E ele caiu em cima do carro do comandante. E o comandante falou: “Só porque você não pulou na posição de sentido, você vai pagar o conserto do meu carro”. E ele fala no final que não sabia, não sabe como é que estava aquela cinta, estava no lugar errado. Então tem bastante história assim que conta a vinda do Jaú, o Pereira Lima esteve lá para trazer a última etapa. É bacana esse livro. A história, é gozado que no Brasil não se conta muita história, né? Não existe tanta história de passado. Eu uma vez participei em uma reunião na casa do meu pai onde tinham dois almirantes juntos, conversando sobre um submarino que estava no Rio de Janeiro que eles iam mandar cortar, que era um submarino da II Guerra Mundial. Então eu falei: “Poxa, por que vocês não tiram esse submarino e transformam isso em um museu para mostrar para o pessoal como é que era?”. Porque tem muito cobre dentro no submarino. “Não. Não. Isso ai custa muito caro”. Como que se guardam memórias? Você vai para Itália, você chega a uma cidadezinha pequena, tinha lá um barco de madeira sendo conservado que ele esteve lá na II Guerra, ele esteve, entendeu, sendo mantido para visitação do povo. Aqui não se guarda, não tem muita história. Nossa história é fraca. Ela não fica guardada.
P/1 – E voltando então o senhor foi fazer a faculdade de engenharia na Mauá e como é que foi entrar junto com a primeira turma, mesmo que se formou com a segunda, e começar uma turma nova?
R – É uma turma muito bacana, uma turma que se reúne até hoje. Uma turma que continua se reunindo. Eu fui a uma reunião dessas, acho que de dez anos, depois não fui mais. Porque a gente, depois de dez ou 15 anos longe da turma, você quando vai à primeira reunião, você olha as fotografias e você fala: “Poxa”. Você se lembra daquele grupo jovem, aí você chega lá vê um monte de velho, gordo, careca e você fala: “Essa não é a minha turma. Não tem nada comigo”. Aí você não vai mais. Mas você vê que o pessoal continua se reunindo, mandando foto um do outro, tal. Mas você se desliga, você vai seguir teu caminho, cada um segue o seu.
P/1 – E o senhor chegou a falar que fez alguns estágios, o senhor se lembra quais eram? Como é que foi começar a entrar nesse mundo do trabalho? As primeiras atividades...
R – É eu fiz um estágio na chamada Técnica Moderna de Administração de Empresa. Foi no ITA inclusive que fiz esse... Foi um curso pequeno, né? Mas o que me lembra, que me chama a atenção é que o computador não cabia numa sala. Uma sala enorme. O computador era uma coisa, perfurava fita. Hoje em dia, você pega um computadorzinho desse tamanho e você vê como mudou, não é? A tecnologia foi uma coisa fantástica. A informática...
P/2 – Esse estágio era remunerado?
R – Não. Nesse tempo estava fazendo... Era um curso que eu fiz. Aprender, ver um computador, entendeu? O pessoal da faculdade proporcionou.
P/1 – Quais foram os seus primeiros trabalhos e atividades depois?
R – Quando eu me casei a primeira vez, eu estava no quarto ano de engenharia. Durante um ano, eu morei com os meus pais, com a minha esposa. Eu trabalhava na prefeitura, fazia baixa de responsabilidade, habite-se, conservação. Era um bico que eu fazia, estuda e trabalhava. A Prefeitura de Santo Amaro. E depois eu fui para o Galeão para construção do aeroporto internacional.
P/1 – E o senhor falou que se casou então com sua primeira esposa, como é que o senhor a conheceu? Como é que eram os namoros?
R – Eu morava no Ipiranga. Não, eu já morava no Brooklyn nessa época, meus pais moravam lá. Eu estudava em Taubaté e minha esposa morava em Santos. Então, todo fim de semana eu ia para Santos. Passava em casa, trocava de roupa e descia para Santos. Segunda-feira de madrugada eu passava em casa, pegava a roupa e ia para Taubaté. E foi assim. Namorei oito anos e fui casado dez.
P/1 – E como que foram os trabalhos de construir então a primeira pista para supersônicos aqui no Brasil ainda com a paixão da aviação?
R – Sempre tive paixão pela aviação. Foi uma época muito gostosa da vida, uma época de conhecimento, principalmente porque você sai da faculdade e você só tem teoria, você não tem prática. E você vai encontrar na tua frente encarregados, pessoas que tem uma bagagem muito grande de prática. Você no começo tem que só ouvir e aprender com eles, e ganhar a confiança desse pessoal para você depois poder começar a coordenar a obra. Então durante um tempo, o início de trabalho assim em obras grandes é conhecimento, adquirir conhecimento. Depois, você passa a aplicar esses conhecimentos de forma mais, vamos dizer assim, junto com o teu conhecimento de faculdade, teu conhecimento teórico, para melhorar alguma coisa junto deles. Mas ficou muito bacana. Um belo desafio. (breve interrupção)
P/1 – O senhor estava contando então do aprendizado na obra primeiro, depois juntar...
R – Nós fizemos... Muita coisa nós aprendemos e muita coisa nós criamos. Na construção do supersônico do Galeão, por exemplo, as primeiras implosões de construção nós fizemos, que hoje fazem em prédio. Também nós fizemos em prédio, mas em esqueletos que existiam dentro da área da construção, paiol de explosivo etc. Nós detonamos seguindo um mais ou menos o que eles fazem hoje, naquela época não tinha ninguém que fazia. “Vamos derrubar com explosivos.” “Então vamos.” “De que forma?” “Vamos usar isso, aquilo, retardadores, explosivo de corte, explosivo de...” Enfim. Nós fizemos, por exemplo, nós tínhamos que corrigir a humidade do solo para compactação e água doce lá quase não tinha, então, nós usamos água do mar. Nós criamos caixas d’águas enormes revestidas com plástico, com lona, né, registros de engate rápido, aquela coisa, e enchíamos as irrigadeiras. No fim, as irrigadeiras começaram a apodrecer, então nós usamos bombas, jogamos lá em cima na área Y, que era uma área alta, e com canos de pvc e pessoas com mangueira molhando pista. Molhando... Foi uma série de detonar a terra. Isso nunca vi. Nós lá detonamos terra, com amonita, com explosivo. Como você vai usar uma perfuratriz no solo, no chão, na pedra ele faz o buraco. Agora no chão, elacrava a haste. Então cravava a haste e tirava e já enfiava o explosivo o buraco fechava, entendeu? Aí detonava a terra e nós usávamos motoscraper acoplado com vagões de grande capacidade e duas carregadeiras 988 grandes, carregando cinco metros cúbicos de terra em cada caçambada. Eram três caçambadas saía aquele vagão com motoscraper para distância longa. Nós fizemos muito ensaio lá, entendeu? Foi uma escola mesmo. Foi muito bacana. Medimos, apropriamos tudo, medimos produções. Foi uma escola. Uma obra-escola, vamos dizer assim.
P/1 – E qual a diferença entre uma pista comum e essa pista supersônica que vocês fizeram?
R – É que lá foi empregado um sistema de concreto protendido. Um concreto de baixa espessura, a espessura é pequena, é menor, com cabos, bainhas, protendido. São placas de concreto protendido o aeroporto. E, por exemplo, lá em Monte Alegre no aeroporto que nós construímos lá, já era outro tipo de pavimento, também para avião grande. Lá desce avião linha comercial. Mas o supersônico foi um obrão. Obra bonita. Viaduto onde passava o avião, passa, né?
P/2 – Foi esse aprendizado no Galeão que o senhor levou para fazer a de Telêmaco Borba?
R – Levei o aprendizado para a minha vida, não foi só para a Telêmaco Borba.
P/2 – E quando é que foi que o senhor foi para Telêmaco Borba?
R – Quando eu saí do Rio de Janeiro, eu primeiro fui morar em Curitiba. Morei um tempo em Curitiba e lá eu tinha obra em Santa Catarina, tinha obra com a Comfloresta e tinha obra com os Battistellas, também em Santa Catarina, com o Hildo Battistella, desmatamento, e tinha a obra em Monte Alegre. Então eu fiquei em Curitiba que ficava uma semana em uma obra, uma semana em na outra, entendeu?, e assim por diante. Mas isso aí eu fazia desmatamento que era o que meu pai fazia anteriormente. Aí eu entrei na área de terraplanagem. Eu comecei a comprar equipamento de terraplanagem. Uma das primeiras obras de terraplanagem que eu fiz foi em Londrina como subempreiteiro da SBPO. Eu era empregado, depois virei subempreiteiro.
P/1 – E senhor Arnaldo, o senhor contou que na época da terraplanagem o senhor já pilotava avião. Quando é que foi a decisão de tirar um brevê? Qual a sensação de estar no ar, voando?
R – A sensação de estar no ar é a coisa mais linda do mundo. É você ter asas. Imagina você com asa. Imagina se você voa. Ainda mais num aviãozinho daquele, de lona, um aviãozinho pequeno, um paulistinha. A sensação, maravilhosa. Isso é, hoje em dia o pessoal voa com esses ultraleves etc., pulam de asa delta, também a sensação deve ser maravilhosa.
P/2 – O senhor não pensou em transformar essa atividade em profissão?
R – Não. Profissão não. Como profissão, não. Como hobby, sim. Como hobby é muito gostoso.
P/1 – E aí já pulando para a parte do seu comércio e das viagens para os Estados Unidos que o senhor começou a contar. Como é que vocês montaram a loja, foi o senhor sozinho?
R – Quando eu montei a loja, eu a montei para a minha segunda esposa. Chamava-se Arfama. Arfama era uma empresa que eu montei em Manaus. E começou uma Arfama Importadora e Arfama Distribuidora em São Paulo. E eu peguei a distribuição da Polaris, passei a trazer os quadriciclos e os jet skis. Aí eu acabei, vamos dizer assim, saindo de Manaus, vim para São Paulo e a minha esposa é que cuidava, a Fabíola. Aí ela faleceu e eu fiquei, resolvi tocar essa parte, saí fora da engenharia na época do Collor.
P/1 – Conta como é que foi fazer um empreendimento em Manaus e montar uma importadora lá. O que vocês traziam?
R – Loucura. Aquilo lá é uma loucura. Pelo menos se eu soubesse, não voltaria para Manaus. Tem um ditadozinho que diz assim: “Quem não tem padrinho, morre pagão”. Acho que já dá para entender.
P/2 – A decisão de vir para São Paulo se deveu a esse problema que você encontrou em Manaus?
R – Manaus é muito complicado. Manaus só tem grandes e os pequenos que querem entrar são engolidos pelos grandes, têm que cair fora, não pode ficar lá. É preferível você ser pequeno em São Paulo e não pensar em crescer muito porque não funciona, não. É complicado. Principalmente nessa área de importado. Importação é problemática no Brasil. É problema. É problemática.
P/1 – E o que você importava? O que vocês traziam?
R – Quadriciclos, jet ski, pranchas de wakeboard, board. Roupas, assessórios de quadriciclo, equipamentos da Saico Country que eram grade, arado, cultivadoras etc. Mais eu acho que engenharia ainda é melhor.
P/2 – Mais fácil, né?
R – É. Você adquire um conhecimento e é mais fácil você fazer obra, independendo de você conduzir uma empresa dentro do Brasil. É complicado. Mesmo porque o mercado de quadriciclo é um mercado muito sazonal, né, ele tem época que vende, tem época que não vende. Então você tem seis meses que você pode trabalhar e seis meses que você fica a mingua. É problemático. Não existe uma continuidade.
P/1 – E como o senhor chegou a montar a loja na Avenida dos Bandeirantes? Como é que foi escolher o lugar?
R – A Avenida dos Bandeirantes sempre foi um local assim cobiçado por todos, né, Avenida dos Bandeirantes. Sempre foi um local cobiçado por todos porque o comércio está lá. É um local de saída e entrada para as praias, entendeu? Fica perto de bairros de pessoas que têm poder econômico elevado.
P/2 – Quem é seu público? Qual o perfil dos seus clientes hoje?
R – Hoje eu já digo que até a classe média compra quadriciclo. Antigamente, só quem tinha muito dinheiro podia comprar um quadriciclo, porque os quadriciclos eram todos importados, americanos ou italianos. Eu também montei uma fábrica em Manaus chamava... Eu trazia Lem, mini quadriciclo da Itália. Os mini quadriciclos e as minimotos Lem. Eu trouxe umas fotos, depois eu passo para vocês, da Lem. Então trazia jet ski, trazia quadriciclo da Polaris, mini quadriciclo da Lem, eu montava esses mini quadriciclos em Manaus.
P/2 – O senhor mencionou que no Brasil é muito difícil ser importador. Esse problema persiste hoje?
R – E montar em Manaus também é complicado. Eu fui convidado a me retirar de Manaus. Muito distintamente.
P/2 – E aqui em São Paulo também é complicado? O senhor enfrenta esses mesmos problemas ainda hoje na sua loja?
R – Veja, eu não importo. Não importo mais. Eu trabalho com parceiros que importam. Eu não tenho interesse de importar nada.
P/2 – Você se afastou dessa atividade de importar, então?
R – Já me machuquei bastante com importação. (troca de fita)
P/1 – Eu queria que você contasse um pouquinho para gente então, já que o senhor não faz mais essa parte de importação, como é que é sua relação com os fornecedores, quem que são eles?
R – Fornecedores a nossa relação é excelente, não tem... São vários investidores que existem, pessoas que trazem quadriciclos e têm interesse de colocar no mercado. É pelo conhecimento que nós temos de mercado, pelo volume de clientes que nós temos, muitos clientes inclusive que são fora de São Paulo, uma boa parte deles. Durante esse tempo em que eu fui importador da Polaris, eu fiz, vamos dizer assim, cheguei a ter mais de 40 revendas credenciadas dentro do Brasil. Então, até hoje nós vendemos peças, atendemos esse povo todo dentro do Brasil. Algumas peças da Polaris nós desenvolvemos aqui, nós passamos a fabricar aqui também, para poder ter um preço melhor. Outras empresas também investiram nessa área como a Fisher com pastilhas de freios etc., entendeu? E esses importadores novos que entram no mercado, eles vêm com um produto que muitas vezes até nós não temos interesse em trabalhar com esse produto. A gente examina o produto e fala: “Não. Eu não quero trabalhar com isso. Isso vai me criar problema junto com os fornecedores”. Agora, quando é um produto que você vê que tem uma boa qualidade, um empresário que tem uma visão bem focada em cima do quadriciclo, então, a gente passa a trabalhar com esse produto. Desde que ele traga a peça, que ele tenha peça, que ele crie uma situação de a gente poder atender bem o consumidor final. A grande estrela, vamos dizer assim, é o consumidor, ele tem que ser bem atendido. A gente tem que dar um jeito de não deixá-lo sem andar com o seu quadriciclo.
P/1 – E isso envolve também as questões de assistência técnica?
R – Assistência técnica é o fator número um. Importantíssimo. Se não tiver assistência técnica esquece porque... Você compra um produto e não conserta, não tem sentido né? Você tem que dar um jeito de atender, o cliente em primeiríssimo lugar.
P/1 – E em relação a estrutura da loja, como é que funciona o estoque? O senhor tem mostruário?
R – Você tem que ter um estoque de peças. Durante esse tempo todo, você começa a avaliar, você fala: “Isso tem mais saída que aquilo. Aquilo não sai. Essa peça é o que a gente chama de elefante branco que a gente compra e fica anos para vender”. Então aquilo que tem um movimento maior você passa a se interessar até em desenvolver, são buchas. Então vamos mandar fazer, sei lá, 100 buchas dessa. Vamos melhorar o material. Entendeu? É um eixo. Vamos fabricar esse eixo. É uma balança? Vamos fabricar. Sai mais em conta do que trazer. Então você vai procurando diminuir custos para poder atender os seus clientes. Mesmo porque para trazer de lá é complicado.
P/1 – Falando dos clientes, eles vão a loja, escolhem o produto, o quadriciclo, como é que é a entrega? Ele já sai de lá com...
R – A venda de um quadriciclo é uma venda assim de momento. O cliente vem, olha, gosta, apaixona-se, dá uma volta e leva. Se ele falar: “Eu vou para casa, eu vou falar com a esposa”, ele não volta. É uma venda de momento. É na hora.
P/2 – O senhor vê que o perfil do comprador é predominantemente masculino, para esse tipo de comércio...
R – Não. Não necessariamente. Não. Várias mulheres entram, escolhem, andam, compram, usam, né? É como motocicleta. Mesma coisa. Tem um público masculino e público feminino.
P/2 – O senhor comentou que de início, quando o senhor começou o comércio de quadriciclos, o senhor via como um utilitário para trabalho.
R – Via como um utilitário.
P/2 – Hoje a gente vê que é um perfil mais esportivo. Quando se deu esta transformação?
R – É. Veja, quando eu o trazia como utilitário, pensando no utilitário, eu participei de algumas feiras, colocando o quadriciclo com a carreta Tiger que eu trouxe lá do Canadá e com o jet ski Polaris atrás. Falando, bom, ele pelo menos serve para puxar carreta, né? Aí uma ocasião eu recebi, ganhei um CD, que era um CD da Honda que se chamava Discover a TV, Descobrindo a TV. Eu assisti a esse filme, esse DVD, na verdade um CD, e eu me apaixonei porque eu vi que o quadriciclo serve para tudo. Você não tem ideia para o que ele serve. Gerenciamento de fazenda, mesmo resgate de pessoas machucadas, lida com animal. Existem alguns trabalhos na utilização do quadriciclo, principalmente no INTA (Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria) na Argentina, que eles comparam a utilização do quadriciclo com um automóvel, com um cavalo, com um trator e mostram que o ganho de tempo que você tem utilizando o quadriciclo, e a rapidez com que você desenvolve os problemas da fazenda, o ganho de tempo é muito grande. Isso representa um custo final muito maior, entendeu? Esse estudo mostra que o quadriciclo é mais eficiente numa fazenda do que qualquer outro tipo de... Então, existem vários estudos, mesmo utilização dos quadriciclos em resgate. Eu cheguei a fazer um ensaio aqui com o pessoal do COE (Comandos e Operações Especiais) com quadriciclo, o Águia levantou um quadriciclo diesel, levou no meio do mato e colocou-o no meio do mato. Aí o operador do quadriciclo desceu no rapel, com o motosserra no quadriciclo simulando. Vamos dizer, caiu algum avião em algum lugar, levou-se um quadriciclo com um motosserra. Então o camarada lá embaixo com o motosserra corta, puxa as toras com o quadriciclo, o helicóptero desce para fazer o atendimento, entendeu? Então, a utilização é muito grande, é enorme. Ele é utilizado em alguns lugares, digamos assim, até em Israel, na guerra, com metralhadora, o seis por seis. Na área da agricultura, pequenos e grandes. Os grandes em área de plantio, por exemplo, de muda, viveiro de muda, usa o quadriciclo. Ainda no Brasil tem um mercado muito grande para a área de agricultura para a aplicação dos quadriciclos. Aquela região de Goiás, o pessoal que planta uva, por exemplo, o raio de curva do quadriciclo é muito grande, entende, é muito pequeno aliás. Ele faz a curva num trecho muito... E anda dentro das linhas de plantio de uva com facilidade. Então, ele acelera, independente do tipo de terreno se é alto, se é baixo, se é morro, se é... Ele vai tranquilo, entendeu? Pessoal que planta laranja também é a mesma coisa. Gerenciamento. É uma máquina fantástica, o quadriciclo. Ela não agride o terreno. Para ter ideia a pressão que ela exerce no solo, é menor do que você a pé. Você a pé agride mais do que aqueles pneus, pela área, pela superfície e o peso dela dividido em quatro rodas a pressão é menor do que a pé. Então, ela é uma máquina ecológica. Ela não agride. A aplicação dela é muito grande. Já em outros países como Estados Unidos, em Portugal, na Espanha, eles usam inclusive como meio de transporte. Lá o quadriciclo é licenciado. Aqui apesar de ter feito todos os ensaios com um esporte, uma 500 cilindradas com suspensão independente aqui no Brasil, eles resolveram não... Passou em todos os testes para poder emplacar, eles não aceitaram o emplacamento das máquinas. Interessante porque eu acho que quando emplaca, além de dar uma arrecadação maior para o Estado, ela passa a ser operada por pessoas dentro de certo critério. Você é obrigado a usar capacete, você tem que ser maior de idade, tem que ter uma carta, alguma coisa, entendeu? Regulamenta, evita acidentes inclusive. Não entendo porque não aprovaram. Agora, o quadriciclo ele ainda tem um futuro muito grande no Brasil, ele vai crescer muito aqui. Os chineses entraram... A Polaris se atrasou muito para vir para cá, ela está vindo agora. Já estão no Brasil.
P/2 – Com uma fábrica no Brasil?
R – Não. Eles estão montando, estão em Manaus e estão aqui na Avenida Paulista já que estou sabendo. Ou estão mudando agora da Avenida Paulista. Eu sei que já tem um grupo com intenção de que a fábrica venha para cá. Este grupo já é da fábrica. Eles demoraram muito. Eles eram os primeiros, eram os únicos. Eu fiz vários projetos para eles mandando, projetos deles virem para o Brasil se instalarem aqui em Manaus, enfim. Fiz um projeto trazendo ele para Vitória, Espírito Santo, com todos os incentivos, com área construída. Era só montar uma linha de montagem. Eles não vieram. Agora entrou a Honda, entrou Yamaha, a Suzuki entrou até 2008. 2008 eles pararam porque eles estão com moto. Os chineses entraram várias marcas, quer dizer, na verdade na China não existe fábrica de quadriciclos, existe fábrica de partes de quadriciclos. Você chega lá e monta o quadriciclo como você quer. Você pode usar um material de primeira categoria, um material bom, ou você pode usar um material de segunda, terceira e um quadriciclo sai mais barato mais de qualidade inferior. Então por isso que a gente separa na hora de escolher o chinês: esse serve, esse não serve, esse é sério, esse não é sério, entendeu? Esse é um paraquedista, não vai dar certo. Esse é um empresário que está trabalhando com... Nós temos hoje MBW, MVK, são empresas que estão no mercado já há algum tempo e têm um produto de boa qualidade.
P/1 – E senhor Arnaldo, o senhor contou que dos clientes que eles são os importantes da loja, os fundamentais e tal, e falou que tem períodos de mais venda. Quais são esses períodos que vendem mais?
R – Olha, começa em setembro. Setembro inicia. Então é setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. São os meses de venda. Fevereiro quando acaba o carnaval, acabou o cartão de crédito da pessoa, para tudo. Aí entra o frio, começa a esfriar.
P/2 – Dá para associar às estações quentes?
R – É. São as épocas que o pessoal mais usa.
P/2 – Qual o carro chefe da loja?
R – 150 cilindradas. Máquina de 150 cilindradas. É a máquina chinesa de 150 cilindradas que tem um preço e uma qualidade, qualidade boa e um preço bem reduzido, facilitado para o comprador classe média, vamos dizer assim. Inclusive classe alta também compra. Porque você compra um chinês, você paga um preço, metade do preço de um americano. Você tem um ano de garantia. Depois de um ano você vende perdendo 10%, 15%, você compra outro chinês novo. Enquanto que você compra um americano custando o dobro, depois de um ano você perde bastante, você perde e entre uma máquina americana usada e uma chinesa nova com garantia, pelo menos o comprador que não conhece, ele fala eu prefiro uma chinesa. Eu digo que não conhece porque na verdade o quadriciclo independente de marca ele é mais estado. Muitas vezes você pega uma máquina americana ou chinesa com 5 anos de uso o cara não usou, a máquina está inteira, está bonita, ela tem um valor. Enquanto você pega uma máquina americana de uma pessoa que usou ela em muita trilha, ela está detonada e o valor dela é outro. Cai muito. Mas o quadriciclo, veja, a parte de passeio nasceu assim de repente. O Celso Federighi da CRF que fazia eventos de quadriciclo resolveu fazer um evento de quadriciclo. Ele fazia evento de jet ski, resolveu fazer um evento de quadriciclo aqui em Cotia. Foi o primeiro passeio de quadriciclo. E nesse primeiro passeio, ele soltou na Jovem Pan, soltou, fez aquela chamada toda. Olha, naquela semana esvaziamos o estoque! Aí todo mudo foi, foi filmado, passou na televisão, aquela coisa toda. Aí explodiu. Começaram os passeios de quadriciclos. Todo mundo queria o quadriciclo para fazer passeios ecológicos, para passear. E eu fiz vários passeios. Fiz Gata na Mata, o primeiro passeio de mulheres. Fiz a primeira... Como é que chamava o outro? Nem lembro mais, meu Deus do céu. Primeiro... Foi o primeiro passeio ecológico de quadriciclos também. Fiz vários passeios, fiz muitos passeios. E filmava, mandava lá para a mesa de edição, fazia edição das fitas, distribuía as fitas para o pessoal. Foi um trabalho grande. Porque veja, o quadriciclo quando eu trouxe não era conhecido no Brasil. Ninguém conhecia o quadriciclo, muito menos a marca Polaris. A Honda já estava aqui, mas Polaris ninguém conhecia. Então eu investi muito, mas muito dinheiro em publicidade, muito dinheiro em publicidade, e eu mesmo aprendi o que é que era um quadriciclo, vamos dizer, assistindo. A fábrica não me falou: “O quadriciclo serve para isso”. Eu fui pegar uma fita da Honda para descobrir o que é que era o quadriciclo. E mostrar para o pessoal a aplicação que tinha. Participei de vários Agrishows. Inclusive trouxe umas fotos do Agrishow. Os quadriciclos utilizados são utilizados também em agricultura de precisão. Eles trabalham com GPS e subsolador. Então vai um motor atrás do quadriciclo, um sistema hidráulico com uma broca aonde ele fura, recolhe a amostra do solo, num funil, num saquinho e no GPS ele marca de onde ele tirou. E com isso depois ele faz um estudo de correção de nitrogênio, fósforo e enxofre que vai ser aplicado naquele pedaço de solo.
P/2 – Tem várias aplicações então.
R – Tem. Tem várias. Mapeamento de fazenda, por exemplo. O cara vai com o GPS ele vai correndo as divisas, pa, pa, pa, pa, depois joga no computador está desenhada a fazenda dele.
P/1 – Senhor Arnaldo, o senhor contou do marketing, da propaganda que o senhor fez, em que veículos que o senhor fazia? Que tipo de...
R – Nossa, fiz em revistas, todas as revistas da moto, Revista Moto, Dirt Action, Motociclismo. Eram as revistas que tinham na época de publicidade. Fiz muito, gastei muito com publicidade para mostrar o que é que era o quadriciclo. Participava de tudo é quanto é salão, salão de duas rodas, salão de não sei do que lá no Guarujá. Náutica, salão náutico no Rio de Janeiro. Eu levava tudo para lá, montava, mostrava para o povo o que é que era um quadriciclo, para que servia. “Ah, eu já sabia”. Então colocava a fita da Honda mostrando onde aplica com televisão, com telão. Foi um trabalho de garimpar mesmo, de começar do nada até... Hoje em dia existem clubes. O primeiro clube de quadriciclo, inclusive, eu fui um dos fundadores e sou um dos diretores de lá. Hoje existe outro clube. O nosso clube ficou meio parado, o pessoal já é mais velho, se reúnem alguns para passear de vez em quando. Mas o clube novo agora de quadriciclo é uma beleza, o pessoal todo fim de semana sai. Sai uma turma grande, viu? Fazem passeios aí maravilhosos. Filmam, colocam na internet. Se você entrar no You Tube está cheio de filme da turma.
P/1 – E qual foi a importância de se realizar esses primeiros passeios de mobilização da...
R – Foi muito importante. Foi aí que começou a desenvolver o quadriciclo no Brasil, não foi na área da agricultura. A área da agricultura ainda é uma área que vai crescer muito. Agora, a fábrica, eles pensam com a cabeça americana, a Polaris. Eles não pensam com a cabeça do brasileiro. O que nós precisaríamos para desenvolver a área da agricultura? Nós precisaríamos de um quadriciclo barato, feito no Brasil, com uma potência boa, uns 500, ou 700, ou 800 cilindradas, uma máquina que tivesse bastante potência, mas bem simples, sem nenhum assessório, sem nada, barata. Essa máquina poderia competir com os tratores nossos. Vamos dizer assim, com mais desenvoltura, porque um trator ele não serve como um veículo, ele serve só para trabalho. E o quadriciclo não. Ele pode trabalhar tanto na área de trabalho quanto um transporte. Uma máquina que anda 60, 70 km/h, grande, até mais.
P/2 – Esse conhecimento todo sobre esse tipo de máquina exige que os seus funcionários também tenham esse mesmo conhecimento, não? Como é que é o processo de formação dos funcionários na sua loja?
R – Veja, a Polaris na época que eu trabalhava com ela, ela distribuía fitas com cursos de mecânica. Então, curso de mecânica, curso de venda, curso de parte elétrica, funcionamento do cvt da máquina. Então todos esses cursos na época eu pedi para traduzir, legendar. Eu distribuí para as revendas. É assim que se tira, é assim que se desmonta, assim que... São essas folgas. Então o manual de serviço estava todo em fita com as medidas já passadas para as nossas medidas na tradução. Uma forma de, vamos dizer assim, de orientar os mecânicos que trabalham. Se bem que mecânico é uma mão de obra muito difícil aqui no Brasil. Mecânico bom.
P/2 – Quantos funcionários o senhor tem hoje na sua loja?
R – Eu tenho dois mecânicos na loja. Dois mecânicos e ajudantes.
P/2 – Quanto tempo demorou para formá-los?
R – Já são antigos. Estão comigo há algum tempo. Alguns anos.
P/1 – E nesses anos todos de loja, o perfil do cliente mudou ou continua sempre...
R – Não. O perfil continua o mesmo. Dentro dessa área, do segmento que nós estamos hoje explorando que ainda é passeio, o perfil é o mesmo. Na área de trabalho, um tempo eu investi nessa área, participando de Agrishows etc. Inclusive levando máquinas para fazer uns trabalhos em área de plantação, para demonstração. Mais eu senti que existia uma resistência grande, porque o preço do quadriciclo era muito alto, comparado com o preço do trator nacional. Outra coisa, o trator nacional tem financiamento, tem Finame, o importado, não. Então tinha uma barreira aí financeira que não permitia ou que dificultava a introdução dos quadriciclos. Agora, se a Polaris vem para cá, faz um trabalho sério, que eu acredito que ela vá fazer sem dúvida, e entra dentro dessa área, ela vai vender muita máquina. A Honda tentou trabalhar nessa área, mas tentou com 350 cilindradas que é uma máquina que fabricou que em 2002, parou de fabricar nos Estados Unidos eles trouxeram para cá, a 350. Uma boa máquina, não tem dúvida. Agora, estão com a 420 cilindradas, já uma máquina melhor. O ideal seria uma máquina um pouco mais possante de 500 para cima para a agricultura. A agricultura de precisão, por exemplo, máquina de menos de 500 cilindradas não serve. Mesmo porque os 30 ampères hora que gera a bateria para utilizar esse equipamento com GPS, precisa de uma máquina maior e com suspensão independente para poder andar em qualquer tipo de terreno, um motor quatro tempos que é mais durável do que um motor dois tempos. Então é um processo que vai... Ele está se criando, vamos dizer assim. As soluções vão vir com o tempo. E eu acredito que no futuro vão usar os quadriciclos na agricultura. Também aquela ideia do agricultor antigo, ideia de usar o cavalo, usar o trator, aqueles tratores velhos, entendeu, ele não tem aquela mentalidade de... Agora, os filhos dele já têm outra mentalidade: “Vamos usar. Vamos modernizar. Vamos melhorar”. Entende? Aí já tiram aqueles tratores velhos, já colocam tratores novos, mais rápidos, ou colocam os quadriciclos. Você vai a uma fazenda nos Estados Unidos tem dez máquinas, dez colheitadeiras, tem 20 quadriciclos. Eles usam quadriciclo para tudo lá. Precisam ir a algum lugar, vai de quadriciclo, precisa trazer alguma coisa, consertar alguma coisa, buscar um terneiro que nasceu lá, vai com quadriciclo com carreta, tudo. É tudo com quadriciclo.
P/1 – E senhor Arnaldo, qual é que é a exigência dos clientes que vão à sua loja? O que é que eles buscam lá?
R – O que o mercado busca ou o que os clientes?
P/1 – O cliente.
R – O cliente busca hoje financiamento. Ele quer pagar, vamos dizer assim, de preferência um valor fixo, na verdade os juros estão embutidos no preço, mas um valor fixo que caiba no bolso dele e comprar um produto de qualidade. O que ele busca é isso qualidade e preço. Além da assistência técnica, né? Ele se sente bem quando ele compra alguma coisa que ele tem certeza que vai ter peça de reposição ou vou poder concertar. Imagina, você compra um quadriciclo para trabalho, é um foco. Você compra um quadriciclo para diversão, então você chega no seu fim de semana, você vai usar o teu quadriciclo, você chega lá e ele não funciona. Aquilo deixou de ser um objeto de prazer e passou a ser um problema, porque você vai ter que carregá-lo, levar em alguma oficina e pedir para pessoa: “Por que é que não está funcionando? A bateria?”. Então vai tirar a bateria. Trocar a bateria. Procurar a bateria. Comprar a bateria. Ver se funciona. Aí não funciona ainda. O que é? O carburador. Aí tira o carburador. Todas as oficinas não estão, nem todas oficinas estão capacitadas para fazer um serviço de carburação, mesmo sendo oficinas de motocicleta. Às vezes, ele não tem o ferramental direito, eles fazem de qualquer jeito, arrebentam o carburador. Então, tirar o carburador, limpar, porque a gasolina nossa tem álcool no meio. Então, aquilo prende, cria uma borra dentro. Muitas vezes, a pessoa compra o quadriciclo, usa pouco e daí você não entende que depois de um mês, ou dois meses ele traz na sua loja ele fala: “Não quero mais. Quero vender.” “Por quê?” “Porque isso aí só e dá aborrecimento”. Existem algumas técnicas que você pode usar, alguns produtos que você pode usar, que você pode oferecer para o cliente, para que ele no seu fim de semana não tenha esse aborrecimento. Um deles é o reciclador de bateria, que é um produto que você liga na bateria, é importado também, e você vai embora. Então a bateria descarrega naturalmente, carrega quando estiver no mínimo, desliga o carregador que carrega e desliga quando estiver no máximo. A bateria fica reciclando. Como se estivesse em funcionamento. Então a pessoa chegou, olhou lá, está verde ele pode dar uma partida porque tem bateria. Na gasolina, ele usa um antioxidante de gasolina, é um produto importado. Ele usa uma onça em cinco litros. Isso permite com que a gasolina durante 30, 60 dias ela não oxide. Então ela não forma aquela borra, não prende a agulha. Existem alguns. Então, você oferece isso para o cliente quando você vende, porque você quer que o cliente tenha prazer com a máquina. Isso é lazer. Trabalho é diferente. Trabalho não precisa disso porque ele usa quase todo dia. Tem algumas empresas que usam. Empresas grandes, inclusive, que usam o quadriciclo.
P/1 – E quais são as formas de pagamento para um compra dessa, para um quadriciclo? Como é que, seu fosse lá, faria para pagar?
R – Bom, com isenção de juros, nós parcelamos na loja em quatro vezes, três quatro, até cinco vezes a gente parcela. O camarada dá uma entrada e paga com cheques, ou com cartão, ou divide no cartão. Agora, tem outras empresas que fazem acordos com os cartões de crédito e parcelam em 10 vezes, em 12 vezes fixas sem juros. Uma entrada, metade à vista e metade a prazo. São formas e na verdade o quadriciclo não é como um veículo que você tem RENAVAN, que você tem placa, que você tem certificado de propriedade. Então as financeiras têm mais tranquilidade em fazer, porque se não pagar eles vão buscar. O cara não anda, entendeu? O quadriciclo não. Tem só o número de chassis. Não é um veículo. Se fosse um veículo era mais fácil de financiar.
P/1 – E como é que o senhor acha que a sociedade vê o trabalho do comerciante?
R – Como é que a sociedade vê o trabalho do comerciante?
P/1 – É. Qual é a importância desse trabalho?
R – Como a sociedade vê o trabalho do comerciante? A sociedade depende do comerciante para tudo. O comerciante, não é só de quadriciclo, é de televisão, geladeira, fogão. O comerciante que vende comida, que vende... Todos nós dependemos. No fundo todos somos comerciantes, inclusive quem compra também é comerciante.
P/2 – O senhor falou da importância de ter um ponto na Avenida Bandeirantes e o senhor pretende, tem planos de fazer alguma filial?
R – Não. Não interessa. Talvez a gente passe a ter mais uma loja perto, entendeu, com produtos de... Uma loja só de uma marca. Isso ainda é uma coisa que está em estudo.
P/2 – Seria na Bandeirantes mesmo?
R – Na Bandeirantes. De preferência perto para...
P/2 – Falando um pouquinho da vida pessoal, a gente olhou o seu site e viu que menciona ali uns campeonatos de jet ski. Quem foi que ganhou o campeonato de jet ski ali?
R – Minhas filhas corriam com jet ski. Eu tenho Andreia, Daniela do primeiro casamento. Depois Gabriela, Graziela, Bianca e Daniel do segundo casamento. E Aline que é do terceiro casamento, que já é filha da minha esposa.
P/2 – Todos eles competem?
R – Na verdade, quem competia era Andreia e Daniela do primeiro casamento. Elas competiam jet ski. Uma foi vice-campeã a Daniela corria com um X2 injetado, injeção naquele tempo e no fim acabei correndo no meio, junto com elas. Aí formamos um time e comecei a correr também. Só que eu mais estava lá mais para fazer farra do que para ser campeão, entendeu? Cada vez que eu ganhava uma prova, eles queriam abrir meu jet ski eu falava: “Não. Pode desclassificar. Está tudo mexido”. Era tudo só por farra.
P/2 – E alguma delas persiste nessa...
R – Não. Pararam, estão casadas. Eu tenho quatro netas.
P/2 – E algum dos seus filhos vai seguir na sua loja?
R – Não. Cada um segue a sua vida de uma forma diferente. Minha filha Daniela agora está indo agora para Califórnia, vai morar lá com o marido. Também aqui têm uma empresa, vão deixar a empresa aqui. A outra também está muito bem casada, tenho duas netinhas que estão aqui em São Paulo e as outras também quase todas estão casadas.
P/1 – E o que o senhor gosta de fazer nas suas horas de lazer? O senhor também anda de quadriciclo?
R – Eu não tenho tido tempo ultimamente, sabe, essa é a verdade. Eu sempre gostei de fazer aeromodelismo, montar. Mas, ultimamente, não tenho tido tempo. Veja, você abre a loja segunda-feira e vai até sábado às duas da tarde. Então, de segunda a sábado, o dia inteiro você está na loja. Chega sábado à tarde, você vai almoçar o quê? Quatro horas da tarde, três ou quatro horas você vai almoçar. Aí você vai fazer compras com a tua esposa no supermercado. Aí domingo você vai à missa, almoça com o pai, está vivo, acabou a semana. O que é que eu vou fazer? Ler um livro, isso sim, de vez em quando.
P/1 – E além de ir ao supermercado com a sua mulher, vocês costumam fazer compras em outros lugares, ou de sair para...
R – Não. Dificilmente a gente sai. É mais fazer compra, visitar os meus pais, ou visitar os parentes dela. Enfim, tem alguns amigos que vêm em casa de vez em quando. É isso ai. Não tem, não existe assim: “Vou sair para...”. Não dá.
P/1 – E durante esses anos todos de loja o senhor percebeu alguma modificação assim na Bandeirantes, teve alguma mudança do foco do comércio?
R – A Bandeirantes cresceu muito. A Bandeirantes é um foco assim, o metro quadrado lá é muito caro, as lojas lá, os aluguéis são altos e você vê carros importados na Bandeirantes, ou mesmo ali pertinho da nossa loja tem uma loja grande de carro importado. Você fala em jet ski, Bandeirantes, você fala em quadriciclo, é Bandeirantes. O pessoal compra na cidade também, mas antes de comprar na cidade eles correm na Bandeirantes. Dificilmente compram na cidade.
P/2 – Como é que o senhor vê ali as empresas de seus concorrentes? Por um lado é bom porque vai atrair um público interessado nesse tipo de mercadoria. Então, você falou que eles correm primeiro na bandeirantes
R – Eu vejo os meus concorrentes da seguinte forma, acho que tem espaço para todo mundo lá, entendeu? Em termos de venda de produto, de atendimento, de cliente, tem para todo mundo. Na verdade os concorrentes eles estão ajudando a fazer crescer o mercado.
P/2 – De uma forma é benéfico.
R – Entende? Não tem... E são poucos. Não são muitos. Não tem assim tantas lojas. É um trabalho interessante, é um trabalho de futuro esse aí. O quadriciclo ainda é de futuro, tanto que a Polaris como eu falei, está vindo atrazada, a Suzuki não devia ter parado, devia ter continuado porque o produto deles é de excelente qualidade. A Yamaha caminha lento, mas ela continua e a Honda está, digamos assim, com um segundo modelo, entrando no mercado cada vez mais forte, todo mundo gosta da marca, o nome, vende bem. Um bom produto também.
P/1 – E quais foram as lições que o senhor tirou ao longo desses anos no comércio? O que é que o senhor aprendeu? Se teve alguma coisa nova que o senhor vivenciou durante esse período.
R – Eu ainda estou aprendendo. Eu sou aprendiz ainda, no comércio ainda sou jovem. Na engenharia ainda eu entendo um pouco mais. Bem que eu estou parado há algum tempo, mas ainda dá para...
P/1 – E qual é que é o seu maior sonho? O que o senhor tem ainda em termos de perspectiva? Qual é que é a sua expectativa de futuro?
R – Meu maior sonho? Meu maior sonho eu sou meio, muito paternalista é ver meus filhos bem, meus netos bem. Esse é o meu maior sonho. Eu também quero estar bem, a minha esposa bem, mas meu maior sonho, a minha maior vontade hoje talvez fosse participar de alguma obra, de alguma coisa assim que fosse desafiadora, entendeu? Eu sempre gostei disso. O que é que tem? Existe possibilidade da introdução de usinas solares no Brasil. Eu estou ligado com um grupo que está já procurando introduzir esse sistema. São aqueles sistemas de espelhos, uma coisa fantástica. Talvez ainda eu volte para fazer isso para ter uma nova tecnologia no país. É uma coisa que eu sempre gostei disso, gostei de desafios. O que é que tem para fazer? É uma coisa nova? Vou aprender e melhorar.
P/1 – E tem alguma coisa que o senhor gostaria de deixar registrado que a gente não tenha perguntado?
R – O que eu gostaria de registrar?
P/1 – É.
R – Nós estamos numa época de transformação do nosso planeta. É o fim do calendário Maia. Mas que existisse mais amor entre nós humanos. Que existisse mais compreensão. Nós vamos passar por um crescimento bem maior. Uma quarta dimensão. O planeta está em transformação e que as pessoas, de um modo geral, procurassem mais Deus dentro de si, mais amor principalmente. É isso ai.
P/1 – Está certo. Então para encerrar eu gostaria de perguntar para o senhor o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, de ter contado um pouco da sua história, da sua trajetória para gente?
R – Bacana. Eu aceitei de pronto e estou à disposição de vocês. Eu sou um aprendiz nessa vida. Mas estou aqui fazendo a minha parte ou procurando fazer.
P/1 – Muito obrigado então, senhor Arnaldo.
P/2 – Muito obrigado, senhor Arnaldo.
R – De nada.
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