Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé, Ouvir o Outro Compartilhando Valores
Pronac 128976
Depoimento de Carmen de Souza Freitas
Entrevistada por Tereza Ruiz
Rio de Janeiro, 14/05/2014
NCV_HV010_Carmen de Souza Freitas
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Cristiane Costa
MW Transcrições
P/1 – Vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Meu é Carmen de Souza Freitas, eu nasci dia 30 de setembro de 1982 e nasci aqui em Niterói.
P/1 – Agora nome completo de seus pais e, se você souber, data de nascimento e local também.
R – O nome da minha mãe é Francisca de Souza Freitas, ela nasceu dia 15 de abril de 1954 e o meu pai – que é meu padrasto, mas me registrou como filha – o nome dele é Alberto de Souza... José de Freitas e nasceu dia 15 de outubro de 1900 e... Não me lembro. E minha mãe é nordestina, ela nasceu no Ceará e meu pai ele nasceu aqui em Niterói.
P/1 – E quê que os seus pais faziam ou fazem, Carmen?
R – Minha mãe é falecida há dois anos e o meu pai ele é viúvo... Não, ele não faz nada, não.
P/1 – Mas a sua mãe trabalhava com alguma coisa?
R – Trabalhava, minha mãe era servente numa Escola Pública, da rede pública. E o meu pai quando ele trabalhava ele era porteiro.
P/1 – E como é que eles eram, assim, de temperamento? Descreve um pouco pra gente como é que sua mãe era e como é que seu pai é, o jeito deles mesmo, como que era o jeito deles?
R – Era um pouco difícil porque o meu padrasto ele é ex-alcoólatra, então ele bebeu por muitos anos, assim, mais de trinta anos e minha mãe ela tinha muitos problemas de saúde, assim. Ela sempre foi diabética e hipertensa, e também tinha o peso acima, então, ela tinha muitas dificuldades. Mas, assim, era difícil a convivência dentro de casa, mas a gente ia levando, né? Do jeito que podia.
P/1 – Mas por que era difícil? Eles eram bravos? Como é que era a relação de...
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Projeto Nestlé, Ouvir o Outro Compartilhando Valores
Pronac 128976
Depoimento de Carmen de Souza Freitas
Entrevistada por Tereza Ruiz
Rio de Janeiro, 14/05/2014
NCV_HV010_Carmen de Souza Freitas
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Cristiane Costa
MW Transcrições
P/1 – Vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Meu é Carmen de Souza Freitas, eu nasci dia 30 de setembro de 1982 e nasci aqui em Niterói.
P/1 – Agora nome completo de seus pais e, se você souber, data de nascimento e local também.
R – O nome da minha mãe é Francisca de Souza Freitas, ela nasceu dia 15 de abril de 1954 e o meu pai – que é meu padrasto, mas me registrou como filha – o nome dele é Alberto de Souza... José de Freitas e nasceu dia 15 de outubro de 1900 e... Não me lembro. E minha mãe é nordestina, ela nasceu no Ceará e meu pai ele nasceu aqui em Niterói.
P/1 – E quê que os seus pais faziam ou fazem, Carmen?
R – Minha mãe é falecida há dois anos e o meu pai ele é viúvo... Não, ele não faz nada, não.
P/1 – Mas a sua mãe trabalhava com alguma coisa?
R – Trabalhava, minha mãe era servente numa Escola Pública, da rede pública. E o meu pai quando ele trabalhava ele era porteiro.
P/1 – E como é que eles eram, assim, de temperamento? Descreve um pouco pra gente como é que sua mãe era e como é que seu pai é, o jeito deles mesmo, como que era o jeito deles?
R – Era um pouco difícil porque o meu padrasto ele é ex-alcoólatra, então ele bebeu por muitos anos, assim, mais de trinta anos e minha mãe ela tinha muitos problemas de saúde, assim. Ela sempre foi diabética e hipertensa, e também tinha o peso acima, então, ela tinha muitas dificuldades. Mas, assim, era difícil a convivência dentro de casa, mas a gente ia levando, né? Do jeito que podia.
P/1 – Mas por que era difícil? Eles eram bravos? Como é que era a relação de vocês?
R – Pelo meu padrasto ele sempre estar bêbado então havia muitas discussões, muitas brigas, mas assim, os momentos que ele estava sóbrio era tranquilo. Eu brigava muito com a minha mãe por causa dessa questão, porque eu também não admitia certas coisas e minha irmã também saiu de casa cedo, pela aquela confusão toda, né? Aí, ela acabou casando cedo e foi embora, acho que ela tinha uns vinte e poucos anos. E, assim, a nossa convivência dentro de casa era muito difícil. Eu também engravidei cedo, então, aí, acho que piorou mais um pouco e o pai do meu filho também não me ajudou, não me apoiou, aí complicou mais ainda. Sempre foi uma convivência muito difícil.
P/1 – E você tem uma irmã só, é isso?
R – Só uma irmã.
P/1 – E qual que é o nome dela?
R – O nome dela é Bárbara e ela mora lá em Jacarepaguá. Assim, hoje a gente se dá super bem, porque eu acho que depois da perda da minha mãe a gente se aproximou muito. Então, a gente ficou muito unidas, assim, mas graças a Deus a gente vive bem. A gente brigava muito também por causa... Acho que era uma coisa puxando a outra? Era uma confusão só, mas a gente conseguiu levar e Graças a Deus a gente tá bem.
P/1 – Se dão bem hoje.
R – É.
P/1 – E a sua infância, Carmen, queria que você contasse um pouco assim, como é que era a casa? Você tem uma recordação da casa da sua infância? E descrevesse pra gente, assim, como é que era a casa, como é que era o bairro, a vizinhança?
R – Assim, eu lembro que eu morei com a minha vó mais ou menos uns dois, três anos. Antes de vim aqui pra Niterói minha vó morava em Caxias. Assim, porque quando minha mãe me teve, não tinha ninguém pra ficar comigo, minha irmã ficava numa creche e comigo não tinha ninguém pra ficar e eu ficava com a minha vó e, de vez em quando, minha mãe ia lá me ver, nos finais de semana quando dava. E, assim, até esse período em que eu morei com a minha vó eu lembro que gostava muito, que eu gostava muito, eu era bem feliz, assim, que a minha vó morava num mini sítio, assim, sabe? Então eu era bem livre. Então, depois que eu vim morar em Niterói que a gente começou a morar nessa casa que eu moro até hoje.
P/1 – Que idade você tinha quando você veio pra Niterói?
R – Eu tinha uns três anos mais ou menos.
P/1 – E como é que é essa casa e o bairro?
R – Que eu vim morar agora?
P/1 – É.
R – Eu não gosto muito de lá, não, porque, assim, a gente mora numa área de risco. Hoje em dia é uma área de risco bem forte, mas na época que eu morava não era tanto assim. E nossa casa é muito no alto, assim, é um morro muito alto e eu também não gosto por causa disso. E é uma casa que ela era dos pais do meu pai, assim, do meu padrasto. Então, aí, ela foi dividida no meio, minha mãe comprou a parte que era dele pra gente poder morar lá e depois que Carlinhos nasceu, eu fiz um quarto e uma sala pra mim em cima, mas continuei usando o banheiro e a cozinha da minha mãe, que é assim até hoje. E a gente vive lá até hoje.
P/1 – Qual que é a região?
R – É aqui na Cachoeira. É aqui no bairro de São Francisco, lá no finalzinho. Então, lá, assim, a gente mora... Agora tá numa situação difícil por essa situação da área de risco, né, porque tem o tráfico e essas coisas, então fica meio complicado. E a cada dia piora mais e eu sou loucamente doida pra sair daquele lugar, mas, enquanto a gente não pode, a gente tem que ficar lá, né?
P/1 – Você diz que é uma área de risco por causa da violência mesmo?
R – Por causa da violência e também... Assim, agora melhorou por causa, teve aquela questão das chuvas, então teve desabamento, deslizamento e a gente teve que sair de lá, ficamos seis meses morando num colégio. Assim, mas foi uma época mais ou menos, que a gente passou aquele susto. Mas como a gente já era doida pra sair de lá, o sonho da minha mãe era sair daquele lugar e como a gente ficou morando seis meses nesse colégio, esse colégio era onde minha mãe trabalhava, então a gente ficou instalada numa casa que era tipo de caseiro. Então, a gente ficou uma época boa, assim, que a gente tava morando num lugar bom, a gente tava numa casa boa...
P/1 – Qual colégio que é? Você sabe o nome?
R – No Ciep, no bairro de Pendotiba. Aí, a gente teve que sair de lá, porque a gente não poderia ficar lá também por muito tempo. Mas minha mãe aceitou isso muito mal e ela entrou em depressão, foi uma época muito difícil, que a gente ficou, assim, muito... Que a gente teve que sair, de uma hora pra outra, entendeu?
P/1 – De um lugar que vocês estavam gostando.
R – Pois é. E a gente teve que voltar pra lá do jeito que tava. Com medo, que toda vez que chovia a gente tinha... Ninguém dormia em casa, todo mundo com medo. O Carlinhos acho que ficou por um ano, assim, meio traumatizado, porque a gente teve que sair no susto e que começou a desabar tudo e vizinho morrendo. Então, foi um trauma que a gente passou muito grande.
P/1 – Que ano que foi isso?
R – Foi em 2010.
P/1 – Que é uma região com risco de desabamento?
R – Isso, desabamento. Então, a gente ficou assim muito...
P/1 – Vocês estavam em casa?
R – Estávamos em casa.
P/1 – Conta pra mim como é que foi, assim essa... Alguém foi chamar vocês pra sair?
R – Não, não foi, porque era uma noite, eu lembro, que chovia forte e, assim, muito escura, não dava pra você ver muito. Então, eu tava dentro de casa e, aí, eu tava fazendo umas coisas, eu não sei se eu tava arrumando alguma coisa, minha mãe já estava deitada e Carlinhos tava... Tava deitado, já preparado pra dormir. Aí, a gente escutou um barulho forte, assim, meio que tremeu, o solo tremeu. Aí, Carlinhos levantou: “Mãe, você sentiu?” E eu falei: “Sim, acho que sim Carlinhos”. Aí, eu escutei uma gritaria de vizinhos do lado de fora, eu olhei pela janela e meus vizinhos que moravam do lado da minha casa estavam correndo. Aí, eu falei: “Mãe tá acontecendo alguma coisa”. Minha mãe tava embaixo, eu desci e falei: “Mãe tá acontecendo alguma coisa”. Ela: “Não tá acontecendo nada, não, menina”. Aí, eu fiquei já meio alerta, o meu portão já tava trancado. Aí, eu subi e comecei a olhar pela porta, ver se via alguma coisa, tava muito escuro, muito escuro. Escutei uma gritaria, assim, pessoas gritando, correndo. Aí, eu tenho uma amiga que morava em cima da minha casa, que eu escutei ela gritando muito. Aí, eu olhei e não conseguia ver nada, chovendo, escuro, eu: “Mãe tá acontecendo alguma coisa, tá acontecendo alguma coisa”, e fiquei naquela angústia, naquela aflição. Olhei de novo pela janela, aí, eu escutei o vizinho falando assim: “Pega Jackson!” - o outro vizinho. Os outros vizinhos correram, mais gente, eu olhei assim falei: “Mas, gente, o quê que tá acontecendo?” E eu saí pra ver o que que tava acontecendo. “Ah, tá caindo, a pedra tá caindo — que onde a gente mora tem muitas pedras — a pedra tá caindo”. Em cima da minha casa tem uma pedra que ela é um bico assim: “Tá caindo, a pedra tá caindo”. Aí, eu falei: “Mãe, vamos embora agora!”. Eu acho que eu tava arrumando a minha bolsa, eu coloquei todos os meus documentos dentro, com a roupa que eu tava no corpo, assim, “Carlinhos, vamos embora!” Peguei Carlinhos, peguei minha mãe “Mãe, vamos embora!”, peguei a bolsa da minha mãe “Vamos embora! Vamos sair daqui agora!” e a gente saiu, correndo, na chuva. Aí, a gente desceu um primeiro lance de escada, no segundo lance, a parte que a gente ia passar já tava meio que rachando, assim, o solo. Eu: “Mãe não passa aqui!”. Aí, a gente entrou pra casa de uma outra vizinha, que dava acesso pro outro caminho, ai casa dela tava, assim, tranquilo, num tinha nada, eu falei: “Mãe, fica aqui na casa de Sabrina, que eu vou ver o que tá se passando”. Deixei minha mãe e Carlinhos lá na casa dessa outra vizinha, aí, desci mais um lance de descida assim pra ir direto pro asfalto e, quando eu cheguei mais perto do asfalto, tava descendo uma cachoeira de lama, muito, e eles tinha feito... Acho que a prefeitura tinha feito uma obra de um... Fez tipo uma canaleta, assim, uma coisa e tava passando por cima, muita lama, muita água, tipo uns dois metros, e eu falei: “Cara, minha mãe não vai conseguir passar por aqui”. Eu falei assim: “Cara o que que a gente vai fazer pra descer?”. Nisso que tava descendo, tava descendo parede, tava descendo móveis de casas de pessoas, vaso sanitário e nisso tava descendo o corpo do outro vizinho. Aí, todo mundo: “Ah, pega!” num sei o quê, bombeiro, aquela confusão e só escutava gente gritando. Aí, eu voltei e falei: “Cara, não vai dar pra minha mãe passar por aqui! Eu vou voltar, que lá pelo menos ela tá mais ou menos segura”. Mas é uma noite que a gente não dormiu, a gente deitou na sala dessa minha vizinha, a casa dela também era pequenininha. Passamos a noite, assim, na porta e, uma certa hora, começou a entrar água pra dentro da casa dela. Eu falei: “Ai, meu Deus. como é que a gente vai dormir?” e começou a molhar o colchão onde a minha mãe, tadinha, tava deitada “Ô, mãe tenta dormir um pouco” — Carlinhos já tava dormindo — e passamos a noite tirando uma água de dentro da casa dela. Aí, amanheceu o dia, que a chuva passou um pouco, quando foi mais ou menos umas sete horas da manhã, eu fui até a minha casa, tirei roupa e o que dava pra mim poder tirar, assim, roupa minha, da minha mãe e do meu filho, tirei um pouco de barro de lama que tinha descido ficado um pouco assim na porta. Eu e minha mãe tiramos um pouco e fomos pro outro lado, assim, pro outro lado do muro que era a casa de uma amiga da minha mãe, que a gente considera como tia. A gente ficou na casa dela por uma semana e, depois, que a minha mãe conversou com a diretora dela e tinha essa casa vazia, ela deixou a gente ir pra lá. Aí, que nós fizemos meio que uma mudança, levamos as coisas de dentro de casa assim que dava pra poder levar e ficamos lá morando um mês, seis meses. Aí, depois, assim, aconteceu algumas coisas, tinha umas pessoas implicando, ela falou pra minha mãe que não dava mais pra gente poder ficar mas minha mãe achava que por ela trabalhar lá há mais de 17 anos, que eles poderiam ter uma consideração maior por ela. Assim, eu entendo o lado da diretora, porque como tava dando muito buchicho da gente ta morando lá de graça e coisa, aí ela num... “Ah, Francisca não dá” e também tinha Carlinhos pequeno, tinha um professor que ficou doente e teve que ficar lá junto com a gente, aí, já estavam falando que o professor poderia passar a doença pra Carlinhos, começou a dar muita confusão assim, ela: “Ah, Francisca, infelizmente não vai dar”. Minha mãe ficou chateada com isso, né, porque achou que a gente poderia ficar lá por mais tempo.
P/1 – E, aí, vocês voltaram pra casa em que vocês viviam?
R – Aí, nós voltamos pra casa. Minha mãe começou a receber aluguel social mas a gente voltou pra casa do jeito que tava, né? Mas minha mãe ficou meio assim.
P/1 – E como é que ficou assim sua casa? A casa teve algum abalo? Chegou a entrar água?
R – Não, não teve abalo, mas eles fizeram muito nisso... Assim, teve uma pedra só que parece que saiu do lugar perto da minha casa, mas eles fizeram contensão, fizeram contensão, assim, na área toda. Parece que tá bom assim, seguro, mas ainda quando chove forte a gente fica meio... Porque, assim, é uma área que tem muitas pedras, mas também tem muita areia, muito barro, então, se chover muito meio que parece que vai cavando. Então, sempre a gente fica com medo, aí, a gente quando chove muito, realmente, eu confesso que eu não durmo direito.
P/1 – Claro. Carmen, deixa eu voltar um pouco pra sua infância. Então, você vai morar — depois de sair da casa de sua avó, volta pra casa dos seus pais — morar nessa casa que você mora até hoje, né? Eu queria saber, assim, como é que era, a sua infância como é que foi em termos de brincadeira? Você lembra, assim, do que que você brincava, onde vocês brincavam?
R – Eu brincava muito, mas assim na escola, porque a gente sempre passou muito período em creche, em escola, sempre, que minha mãe trabalhava e a gente sempre ficava muito período em creche. E, eu lembro disso, assim, as minhas amizades que eu tenho hoje são amigas que eu tinha desde a creche.
P/1 – Então, com quantos anos você começou a frequentar a creche? Você sabe?
R – Ah, eu acho que a partir dos três, quatro anos. Eu lembro que minha irmã estudava num numa escolinha... Numa escolinha não, numa escola mesmo e acho que pegava assim a partir dos dois, três anos, mas só que eu não era matriculada nessa escola. Então, como minha mãe levava todo dia a minha irmã (risos) ela me deixava lá junto, assim, eu acho que não tinha mais vaga aí num deixavam eu entrar na escola e minha irmã ia e minha mãe ia de fininho, assim, e me deixava junto, sem ninguém deixar. Aí, eu lembro que depois era uma escola de freira, assim. Depois, minha mãe conversou com a irmã aí deixaram, como minha mãe já tava me deixando mesmo deixaram eu ficar na escola e lá eu fiquei por muitos anos.
P/1 – Como é que era o nome? Você lembra da escola?
R – Era Externato São José.
P/1 – E vocês ficavam o dia inteiro lá?
R – Ficávamos o dia inteiro, tomava café e ia até o jantar.
P/1 – E você lembra, assim, quais que eram as brincadeiras na escola? Com quem que vocês brincavam e do que que vocês brincavam?
R – Ah, eu brincava muito de correr, de pique, vivia correndo, vivia me machucando. Eu lembro que eu caía muito, sei lá se tinha as pernas fracas (risos), sei que eu vivia machucada. Assim, vivia com um reloginho na perna, que sempre era um machucado atrás do outro. É eu lembro disso, que eu corria e que eu me machucava muito.
P/1 – Tinha uma brincadeira favorita, assim, que você se lembra?
R – Acho que era de pique pega, coisa assim.
P/1 – E brinquedo?
R – Brinquedo não, não me lembro muito, assim, de ter muito brinquedo, não. Acho que tinha uma boneca ou outra, mas não lembro de brincar muito de boneca, não. Eu lembro, assim, que minha mãe tinha dois... Aquelas capas de bujão, que era de crochê amarelo (risos). Eu e minha irmã brigava muito por causa daquilo porque a gente colocava na cabeça falando que era o cabelo, né? Aí, as nossas amiguinhas que tinha perto de casa, a gente brigava por causa daquele negócio “Quero emprestado, quero cabelo, quero cabelo” (risos). Eu lembro disso, que a gente brincava muito com essa capa de bujão, que a gente botava na cabeça.
P/1 – Como é que vocês colocavam? Encaixavam na cabeça?
R – É, porque como ela era redondinha, assim, aí fazia o formatinho da cabeça, parecia que era um cabelo grande e amarelo ainda, ainda é loira. A gente brincava muito disso. Assim, as nossas amiguinhas do lado foram todas embora e a gente não teve muito tempo, assim, quase num...
P/1 – Muito contato.
R – Muito contato, é.
P/1 – E da escola, assim, quais são as suas primeiras recordações da escola, desse externato?
R – Ah, eu tenho muitas recordações boas, porque eu lembro que as professoras eram tão boazinhas, eu gostava de lá. Assim, eu estudei lá, minha irmã estudou lá, meu filho estudou lá. Então, todos os colégios que eu estudei até hoje, ele estuda. Então, assim, a gente tem quase a mesma base. Eu lembro que a escola era muito boa, até hoje é uma escola muito boa.
P/1 – Como é que ela é? Conta ou pouco, assim, a estrutura da sala, se tem pátio... Como é que é a escola?
R – Porque é uma escola grande daqui de Niterói, e ela tem uma parte social. Então, essa parte social que tinha uma creche e tem eu acho que agora até o alfa, que eles diminuíram um pouco mas na época que a gente estudava lá, essa parte social o Estado ajudava, então, ia até a quarta série. Aí, foram diminuindo, porque eu acho que parou o Estado parou de ajudar então ficou só, assim, tipo uma ONG, assim. Aí, eles ajudam, né? É uma irmandade de freiras que fazem esse papel, né, social e eles têm essa escolinha até hoje e lá era muito bom.
P/1 – Onde fica?
R – É em Icaraí, aqui em Niterói também. Então, é uma escolinha muito boa, assim, eu fiz cursos lá e fiz trabalho de voluntária lá muito tempo e até hoje, assim, pessoas que eu convivi na minha infância estão lá hoje, pessoas que me conhecem de muito tempo. Eu vou lá, às vezes brinco, beijo todo muito e sempre trataram muito bem meu filho, que estudou lá também por muito tempo, até hoje quando eu vou lá: “Ai, como é que tá Carlinhos? Tá um rapaz!”, não sei o quê. É muito bom, é muito gostoso, eu gosto muito de lá.
P/1 – Você tinha uma professora favorita? Assim, alguém que tenha te marcado?
R – Ah, eu tenho. Tenho duas professoras favoritas, uma era a tia Solange. Eu nem sei se ela ainda tá viva, que ela já era idosa, mas tem uns dois anos atrás eu a vi na rua, assim, passeando, eu achei tão fofinha ela. E tem uma outra que o nome dela era Maria Ilda mas eu também perdi o contato e nunca mais vi.
P/1 – E do quê que elas davam aula e por quê que elas eram suas professoras favoritas?
R – Ah, eu acho, assim, aula era tipo tudo junto, cada dia era uma matéria diferente mas elas me davam aula de tudo. E, ah, era minha favorita, assim, a Maria Ilda eu achava ela muito bonita.
P/1 – Como é que ela era? Descreve pra gente.
R – Ela era muito alta, tinha um cabelo curtinho, eu achava ela parecida uma modelo, ela era muito bonita. E a tia Solange, eu lembro que ela tudo ela protegia a gente, assim, eram os alunos dela favoritos, assim. E tudo ela... Nada era a gente que fazia então ela protegia muito a gente assim. Às vezes ela fazia cineminha na casa dela, levava a turma e essa minha turma, que eu tinha no jardim, foi praticamente uma turma que eu tive até a quarta série. Então, todos os alunos foram acompanhando, era uma turma, assim, muito gostosinha. Aí, depois da quarta série, cada um foi pra uma escola diferente mas eu ainda tenho amizades até hoje dessa turma.
P/1 – E você tinha uma matéria favorita?
R – Ah, sempre foi Artes (risos). Artes e Educação Física, eu gostava muito de dançar, de mexer, coisas assim. Mas matéria, matéria, assim, eu nunca fui muito fã, não.
P/1 – E Arte você gostava do quê? Assim, de desenhar, de pintar?
R – Ah, de desenhar, de pintar, eu gostava de criar, eu gostava de desenhar paisagens, árvores, assim, eu gostava muito de tinta, sempre gostei dessa parte. Então, acho que também foi uma coisa que eu me identifiquei tanto que eu levei pra minha vida até hoje, né? E é o que eu gosto de fazer.
P/1 – E você ficou lá até a quarta série, você falou, né?
R – Sim.
P/1 – E aí, depois, você foi pra onde? Pra que escola?
R – Depois eu fui pro Aurelino Leal e estudo lá, praticamente, até hoje porque eu faço o meu curso lá até hoje e foi isso, eu estudei...
P/1 – E é fica onde? É Aureliano?
R – Aurelino Leal. Ele fica no Ingá, aqui também em Niterói.
P/1 – E como é que é o Aureliano, conta um pouco. Assim, como é que é a escola? A estrutura?
R – Ah, a escola é boa, assim, muda muito de direção, então cada ano tem um jeito diferente, mas foi uma escola boa, assim, foi uma coisa boa onde que eu me... Num foi onde eu conheci, mas foi onde que eu fiquei mais próxima do pai do Carlinhos, que a gente estudou junto e foi uma época, assim, de adolescência muito boa, que eu aprontava, fazia várias coisas.
P/1 – Conta um pouco. Nessa época, assim, o que você fazia pra se divertir? Como é que foi? Como é que era a adolescência? O que era lazer, assim, passeio, diversão?
R – Ah, lazer era sair com os amigos, a gente ia pra show, festas. Ah era legal! A gente fazia muita festinha, muitos churrascos, muitas coisas assim, era bom, dava pra se divertir bastante. A gente ia a bastante show.
P/1 – E que tipo de show vocês iam? Conta um pouco, o que você gostava de escutar nessa época?
R – Ah, eu gostava de escutar o Tchan (risos), eu gostava de tudo que mexia, assim, de danças mais... Que pudesse mexer eu gostava. Gostava muito de hip hop, até charme eu gostava, gostava muito dessas danças, assim, que mexia muito.
P/1 – Você tinha uma música favorita na adolescência? Você se lembra?
R – Uma música favorita? Acho que eu gostava de todas (risos). Não, não me lembro, assim, de uma música favorita, não.
P/1 – E essas festas, que você falou que vocês faziam, como é que eram? Onde que eram?
R – Ah, assim, a cada mês tinha uma festinha na casa de alguém ou era aniversário, era comemoração de alguma coisa, a gente tudo arrumava motivo pra festejar. Eu acho que eu sou assim até hoje (risos).
P/1 – E nessas festas, conta, assim, um pouco. Tinha comidinha e bebida? O que tocava de música? Como é que vocês se arrumavam pra ir?
R – Ah, assim, música era de todos os tipos, né? Aqui o povo gosta muito de funk não sei porque mas eu não gosto muito, não. Mas, na época era funk todo mundo gostava, eu até dançava assim também porque tava na moda, todo mundo dançava e a gente tinha que ir no embalo, né? E, assim, eu sempre gostei de me arrumar bem, sempre gostei de... Sabe? Fazer tudo assim bonita, de estar na moda, gosto muito de moda de coisa assim. E eu gostava muito de arrumar as festas, de enfeitar. Sempre, toda vez que tinha uma festinha “Ai, deixa que Carmen arruma!” “Ah, então tá bom, então vou arrumar”. Adoro, assim, essa parte de decoração, ah, eu gostava muito.
P/1 – E enfeitava como, assim?
R – Ah, botava bola, tudo, toalha de mesa, gostava de arrumar as coisinhas em cima da mesa e, assim, até hoje assim desde que Carlinhos nasceu, todas as festinhas que ele teve eu fiz, todas as festinhas dele até uns dez anos mais ou menos e tudo eu que fazia, nunca paguei nada pra fazer, não. Porque tudo eu olhava ou ia numa festa diferente que eu via e “Isso daqui é assim que se faz”. Ou, então, ia na loja de festa, via aquelas coisas pronta e, aí, eu olhava “Ah, então tá bom, é assim que se faz”. Então, assim, eu nunca comprava coisa pronta pra fazer, sempre eu que fazia. Eu olhava a coisa: “Ah, assim que se faz”. Então, eu sempre fiz, aí as minhas amigas gostavam “Ah, Carmen faz pra mim!”, aí foi assim que eu fui começando. Porque “Ai, Carmen, faz pra mim!” “Ai, Carmen, faz pra mim!”, aí eu vi que dava pra eu poder ganhar alguma coisa de dinheiro com aquilo, né? Aí, ficavam “Faz pra mim” então eu fui fazer, né? E foi dando certo.
P/1 – E essa parte de paquera e namoro na adolescência, como é que era?
R – Ai, eu era meio besta, assim, sabe? Ah, num sei, porque namorado, assim, ter uma coisa certa mesmo, eu só tive com o pai do Carlinhos. Tive uns namoricos, ficava, assim, com outros meninos, mas não era nada sério, assim, não.
P/1 – E como é que você conheceu o pai do Carlinhos? Como é que vocês se conheceram?
R – Porque minha irmã namorava o primo dele. Então, aí, a gente se conheceu mas eu odiava ele, ele era muito chato, me batia, porque eu era menor, então eles aproveitavam, tipo era garota sapeca, não sei o quê, eu era menor que eles, né? E, aí, ele me batia me dava cascudo, eu não gostava, eu não sei o porquê também, sabe? Se interessei. Aí, a gente começou a ficar, gente viajava junto pra casa da família deles, que ficava no interior do estado, a gente foi ficando e aconteceu, né (risos)?
P/1 – E como é que era o namoro de vocês, assim, o que vocês faziam juntos?
R – Ah, era tudo escondido, minha mãe não gostava dele.
P/1 – Tua mãe não deixava?
R – Não. Antes eu tivesse escutado a minha mãe, né? Mas, aí, ela falava: “Esse menino não presta, não quer saber de trabalho” “Ai mãe!” (risos).
P/1 – Ele era muito mais velho que você?
R – Não, ele era três anos mais velho que eu. Mas, aí, assim, ele não era muito responsável com as coisas, minha mãe sempre me avisou, mas eu nunca acreditei, né?
P/1 – Vocês namoraram quanto tempo?
R – Ah, uns quatro anos, assim, tudo escondido, sabe? Ele mentia muito, me enganava mas era bom (risos).
P/1 – Tava apaixonada, né?
R – É, eu era boba, eu acreditava. Aí, assim, foi uma decepção. Mas, tipo assim, quando eu fiquei grávida de Carlinhos, eu me vi meio que, ai, liberta, assim, sabe? Porque eu gostava tanto dele que às vezes eu num ligava pra mim, não queria saber e ficava sofrendo e chorando (som de alarme). Aí, Carlinhos veio meio pra me confortar, assim, então tinha uma pessoa que eu poderia me dedicar mais do que eu fazia pra ele, entendeu? Então, meio que foi uma libertação assim, falei: “Não, agora eu vou cuidar do meu filho”. Então, eu coloquei ele, assim, meio que em primeiro lugar, então, não tem mais espaço pra ninguém.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você engravidou do Carlinhos?
R – Eu tinha 17 anos... Acho que é, 17 anos quando eu engravidei do Carlinhos.
P/1 – E como você descobriu que tava grávida, assim, como é que foi?
R – Ai, foi um susto. Foi um susto mas, assim, eu fiquei meio assim no começo eu falei: “Ai meu Deus quê que eu vou...” – eu só pensava na minha mãe – “Minha mãe vai me matar! Minha mãe vai me matar!” (risos). Falei: “Ai, minha mãe vai me matar, ai meu Deus do Céu, cara o que que eu vou fazer?”. Mas, aí, quando eu contei pra minha mãe ela ficou internada, passou mal, eu fiquei com remorso, minha irmã falou que eu ia matar minha mãe (risos). Mas aí depois passou o susto, ela aceitou mais. Mas a minha relação com ela piorou mais ainda, porque aí ela ficou decepcionada demais e a gente brigava demais e aí piorou tudo. Mas Carlinhos nasceu ela já ficou assim mais, né? Aí, aceitou, nossa, Carlinhos era tudo pra ela, assim, ela fazia de tudo pra ele, tudo ela podia fazer pra ele, era o xodó da casa, todo mundo queria Carlinhos.
P/1 – Como é que foi sua gravidez, Carmen? Assim, o período da gravidez?
R – Ah, foi bom, eu gostei muito de ficar grávida porque todo mundo me paparicava (risos), eu adorava. No colégio, assim, as minhas amigas, tudo fazia pra mim, aí, na hora do recreio eu falava: “Ai, gente, compra um lanche pra mim?” (risos). Aí, eu pedia, todo mundo, no dia que elas não tinham dinheiro, ia fazer uma vaquinha, pedia dez centavos de cada um pra poder comprar um lanche pra mim. Ah, eu adorava! Aí, lá no colégio onde a gente estudava tinha muitas escadas, assim, eu falava: “Ai, gente, num vou conseguir subir essa escada” e elas às vezes iam me empurrando (risos). Elas iam me empurrando, ah, eu gostava muito. Eu era muito paparicada, assim, todos os lugares que eu ia todo mundo me paparicava, eu adorava. Eu sempre fui muito, assim, ativa, fazia cursos e coisas assim, aí, todo lugar que eu ia todo mundo fazia, me paparicava. Ai, eu adorava (risos)!
P/1 – Você tava no último ano do Ensino Médio já?
R – Eu tava no segundo ano no Ensino Médio, aí, eu tive que sair, porque eu estudava na parte da manhã e tive que ir pra parte da noite. Aí, eu num tive muita coisa, não, na parte da noite porque eu fazia tudo muito correndo, porque Carlinhos ficava em casa com a minha mãe. Então, meio que foi assim (suspirando) pra concluir mesmo, pra não deixar de estudar, né?
P/1 – E como, como é que foi o parto, você tem bastante recordação, assim? Como é que você foi pro hospital? Como é que você descobriu?
R – Ah, foi tranquila porque, assim, eu fiquei com pressão alta, aí, eu fui, fui andando normal me internei, não foi assim muito... Eu só fiquei meio confusa: “O que é que eu vou fazer com uma criança?”(risos), quando, no outro dia, assim, eu falei: “Gente!”. Mas foi tranquilo o meu parto. Assim, dói muito o parto normal, eu fiquei desesperada, quase quebrei a parede do hospital (risos). Mas eu acho que foi tranquilo, assim, normal, eu não tive muitas dificuldades, eu não tive muitas dificuldades, nem muita coisa não. Mas é depois que foi, né, cair a ficha, assim “O que que eu vou fazer com uma criança?”. Eu nem tinha, sabe, acordado direito, mas aí assim, eu sempre gostei muito de criança, sabe? Sempre brinquei muito com criança, com os meus priminhos pequenos, meus primos sempre foram, assim, pequenininhos, menores que eu, eu sempre gostava de ficar com eles, assim. Então, eu acho que não foi tão difícil assim cuidar de Carlinhos, apesar que a minha mãe não deixava eu fazer muita coisa com ele porque, como a gente morava na mesma casa, então, assim, a gente tinha que dividir as coisas, ela assim não deixava muito eu ser mãe dele. E ela queria se meter em tudo e não deixava eu fazer as coisas... Eu fui dar banho em Carlinhos, ele tinha um aninho, porque ela sempre queria dar banho, não deixava eu lavar a roupa dele, eu queria lavar a roupa dele e ela falava que eu não ia saber lavar a roupa dele direito. Assim, é bom mais ao mesmo tempo é ruim, que você acaba não fazendo muitas coisas mas agradeço muito porque ela sempre, assim, sabe, ficou muito com ele e eu também tive que botar ele cedo na creche, porque eu tinha que trabalhar, né? Aí, ela levava ele pra creche e ficava sentada na porta da creche esperando ele até ele sair e eu estudava e tinha que trabalhar, eu sempre, assim, trabalhei pra poder dar as coisas pra ele e ajudar em alguma coisa. Eu não deixava muito ela... Assim, ela sempre cuidou muito dele, mas nos gastos dele eu num gostava muito, não, sabe, de dela ter que gastar muito com ele, não.
P/1 – E como é que foi ser mãe, Carmen? O quê que mudou na sua vida? Qual que é a experiência de ser mãe?
R – Ah, eu acho que eu fiquei uma pessoa, assim, mais responsável, eu tive uma outra visão de como é as coisas, do quanto se gasta, do quanto se pode ter, do que de tudo, assim, sabe? Porque antes eu era adolescente. Eu sempre trabalhei, assim, tipo com 14, 15 anos eu já vendia Natura, sabe? Já fazia essas coisas pra ganhar ter um dinheirinho. Mas, assim, eu gastava mas o que eu gastava num era nada demais. Aí que eu fui ver, né, depois que ele nasceu, o quanto se gasta, o quanto que custa pra ter as coisas. Então, aí, que eu meti a cara mesmo e assim e vamos embora. Minha mãe sempre trabalhou pra dar o que ela podia, então, eu aprendi isso que é trabalhando mesmo que a gente consegue as coisas e nunca parei de trabalhar, assim. Hoje...
P/1 – Qual foi seu primeiro emprego?
R – Então, eu tomava conta de uma senhora, eu era acompanhante de uma senhora quando eu fiquei grávida de Carlinhos, aí eu tive que sair, né?
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha 15 anos quando eu era acompanhante dessa senhora. Aí, depois, foi direto trabalhando. Assim, hoje em dia eu não trabalho assim num lugar fixo, de carteira assinada. Eu sou autônoma, eu faço coisas em casa, mas assim, eu sempre tenho uma encomenda, entrega, eu presto serviço pra um atelier e faço o Projeto Mais Educação, dou aula de artesanato. Então, me viro do jeito que posso, assim, sabe? Graças a Deus tem dado certo e a gente tá conseguindo viver.
P/1 – Você se lembra nesse primeiro emprego que foi de... Era como acompanhante cuidadora? Assim que se diz?
R – Isso, é.
P/1 – De uma senhora. Quê que você fez com o primeiro dinheiro que você ganhou, assim, os primeiros salários?
R – Então, os primeiros salários, eu saía, saía muito, gostava muito de comprar roupa. Ah, eu lembro que eu, assim, gostava de sair com as minhas amigas, a gente ia pro McDonald’s... Ah, eu adorava, assim. Aí, teve uma determinada época que “Ai, quero comprar um carro”, comecei a juntar, tipo, 60 reais (risos) mas eu juntava, assim, sabe e, aí, foi quando eu engravidei de Carlinhos, o dinheiro foi todo pra comprar coisas pra ele. Mas assim, num deu tempo de eu juntar muito, sabe? Mas eu gastava o dinheiro, assim, com saídas, minha mãe nunca pediu pra gente poder ajudar em casa, não. Ah, mas eu já me sustentando, assim, comprando as coisas pra mim, já era uma maneira de ela não ter que gastar comigo, né? Mas eu nunca comprava muita coisa pra ajudar ela em casa, não, porque, assim, ela nunca quis “Ah, o dinheiro é seu, pra você”. Mas tipo meio que eu hoje em dia eu sei o quanto uma casa gasta, assim, se eu soubesse naquela época, eu acho que eu ajudaria mais, porque hoje, como eu sustento a casa, eu sei como custa sustentar uma casa. Mas é assim, eu gastava muito dinheiro na rua, com saídas e com roupa, com coisas que a gente gasta, assim. Até com comida, com coisa, assim, eu nunca gastava muito dentro de casa, não.
P/1 – E você começou, como é que veio a ideia, como é que você descobriu que queria trabalhar com artesanato? Me conta um pouco, assim, quando isso começou?
R – Ah, eu acho que foi desde sempre (risos), porque, assim, quando eu tinha oito anos, que eu e minha mãe me colocou no curso de artesanato, que tinha nessa escola onde eu estudei, nesse semi-internato, hoje é... Nem sei como é que é o nome hoje mais... Mas eles tinham curso de artesanato, de corte e costura, de datilografia e eu fui fazendo todos esses cursos, então, eu me identifiquei muito com artesanato e me apeguei muito à professora de artesanato, que ela virou uma amiguíssima minha assim, que eu tenho ela assim como meu exemplo, eu gostava muito dela. E, assim, eu me apeguei muito a ela e a gente começou, assim, comecei a... Morava praticamente no curso, né, que eu ficava muito tempo lá e, aí, teve um determinado momento que eu fiquei sem trabalhar... Então, eu acho, assim, porque eu trabalhei de carteira assinada por um tempo, depois fiquei mais ou menos uns três anos sem trabalhar...
P/1 – Onde você trabalhava nessa época de carteira assinada?
R – De carteira assinada eu trabalhava num atelier de bijuterias, lá em Itaipu. Aí, depois, eu saí de lá, fui pra um colégio de criança especial, depois eu saí do colégio e voltei pra um outro atelier, mas também fiquei pouco tempo.
P/1 – De bijuterias também?
R – De bijuterias também. Aí, eu fiquei esses três anos sem trabalhar e fiquei voluntária nesse curso, onde eu fiz... Aí, fiquei um tempão trabalhando... Assim, trabalhando não, sendo voluntária, mas como eu era voluntária e fazia as coisas direitinho, tinha muita gente que fazia encomenda, assim, “Ah, ou tem uma festinha” ou “Tem um presentinho ou tem uma coisa” aí eu ficava assim pegando um monte de encomendinhas pra poder fazer e, assim, eu ganhava um dinheirinho, né?
P/1 – Qual que era esse curso, Carmen? Onde que era?
R – Era nesse externato onde eu estudei. Aí, Carlinhos já estudava lá, e eu ficava perto dele, né? E, aí, fiquei assim por um bom tempo.
P/1 – E era um curso gratuito, assim, pra comunidade?
R – Era um curso gratuito. Aí, eu fiquei como ajudante da professora, depois abrimos outro curso, pra pessoas idosas, terceira idade e eu fiquei também como voluntária lá mas lá eu já ganhava cesta básica e já ganhava um dinheirinho, assim, extra porque as senhoras também sempre pediam trabalhinhos pra eu poder fazer ou, então, pediam, assim, pra eu depois da aula ajudar e fazer alguma coisa e eu ganhava por isso também e eu fui indo assim.
P/1 – E que tipo de artesanato vocês faziam e ensinavam, por exemplo, nesse curso?
R – Ah, a gente fazia é decoupage, pintura em MDF, assim, de tudo, em toalhinha, em pano de prato, muitas coisas, fazia fuxico, fazia um monte de coisa assim. Aí, o curso também acabou, eu saí desse curso e fui... Fui trabalhar onde? Ah, não, aí eu entrei nesse atelier que eu presto serviços até hoje e to assim.
P/1 – Qual que é esse atelier?
R – É atelier Ora Bolas, é de biju também. Eu presto serviços pra lá e dou aula nesse Projeto Mais Educação, de artesanato e esse projeto eu já to... Acho que há cinco anos lá, dando aula.
P/1 – E esse projeto é o que? É da prefeitura? Como que é?
R – É do Estado. Aí, eu dou aula lá de artesanato e lá eles dão remuneração, né, tipo assim, é voluntário, mas dão passagem e alimentação. Aí, como fica perto de casa, às vezes eu vou andando, ou não, aí eu meio que eu fico com um dinheirinho que sobra.
P/1 – E quem que faz as aulas, assim, quem que são os alunos?
R – São alunos do quinto ao nono ano... Hoje são alunos do quinto ao nono ano.
P/1 – De escola pública, assim?
R – De escola pública, é. E, aí, vou me virando e eu gosto muito, gosto de estar lá, de dar aula, de estar com as crianças, de ensinar o pouco que eu sei e elas gostam também, fazem e assim eu vou vivendo. Assim, eu vivo do que eu gosto de fazer, são trabalhos que eu faço com vontade, que eu me dedico e que eu vou fazendo. E que espero que isso renda muito, pretendo, sim, cursar uma universidade pra me aprimorar, pra eu ter uma profissão mesmo, assim, e vou tentando.
P/1 – Esse curso (interrupção na gravação).
R – (Retomada da gravação) (...) assim, mas não tem nada a ver mais, eu to fazendo ele mais porque... Ai, nem te falei, né? Eu trabalho também com Carnaval (risos).
P/1 – Ah, me conta! Ah, então, esse é um outro assunto.
R – (risos) É então, eu fiz – voltando – um curso da Amebrás, de adereço, e nesse curso – eu fiz por um ano – me rendeu a oportunidade de trabalhar no Carnaval. Aí, ano passado eu trabalhei, esse ano também eu trabalhei.
P/1 – Você já gostava, assim, você gosta de samba? Você gosta do Carnaval?
R – Não (risos).
P/1 – Não (risos)?
R – Não gosto.
P/1 – Não torcia pra nenhuma escola de samba? Não tinha isso, não acompanhava?
R – Não, não. Assim, eu entrei mais nessa parte da Arte, assim, de fazer a fantasia, eu gosto do adereço, eu gosto de olhar como é feita a fantasia, assim, do bordado, essas coisas. Eu gosto muito do brilho, assim, eu gosto muito, mas do Carnaval em si eu não gosto muito, não.
P/1 – E você começou a trabalhar assim pra alguma escola específica? Me conta como foi essa passagem, assim, do curso pra começar a trabalhar mesmo.
R – Aham. Então, eu fiz o curso aí, assim, nesse curso, a professora que dava aula pra gente, ela já trabalhava no barracão de algumas escolas de samba. Aí, no ano passado ela foi trabalhar na Inocentes de Belford Roxo e perguntou se a gente não queria, tipo, fazer um estágio, assim, pra ver como era o trabalho dentro de um barracão de escola de samba. E eu fui amarradona, fui e aprendi muita coisa, foi muito bom o período que a gente passou lá, a gente aprendeu mesmo na prática como é que é.
P/1 – Onde fica o barracão?
R – É na Cidade do Samba, lá na cidade, lá no Rio mesmo.
P/1 – E como é que foi esse estágio? Conta um pouco, assim, como é que é o trabalho num barracão, fazendo fantasia?
R – Nossa! É muito, assim, diferente, um trabalho divertido porque tem muita gente diferente do que você tá acostumada a lidar todos os dias e, assim, é muita falação, é muita correria, sabe é pa-pum cola aqui, o outro faz, o outro faz, assim produção direto mesmo porque, tipo, a gente pegou duas alas da escola, né? Então, a gente tinha que correr contra o tempo, né? Então, era muito legal, assim, aquela correria, aquela agitação, todo mundo, tinha pessoas que dormiam no barracão, dormiam em cima das mesas, assim.
P/1 – Eram muita horas de trabalho?
R – Eram muitas horas. Assim, eu não cheguei a ficar muitas horas porque eu tinha também meu trabalho aqui em Niterói, que como era distante um pouco, né, eu tinha que resolver algumas coisas aqui, eu tinha que trabalhar aqui e o tempo que sobrava, tipo assim, eu ficava lá no final de semana ou até de cinco às oito da noite, passava pouco tempo lá. Mas tinham pessoas que dormiam, moravam, nos três últimos meses as pessoas moravam lá dentro, tinha fogão, tinha tudo lá dentro, a pessoa não vivia, era olheira até aqui. Cara, minha professora lá murchou “Cara, Maria, você vai sumir daqui a pouco!”.
P/1 – Qual que era o nome dela?
R – Maria Luciara. Nossa! Ela, tadinha, às vezes a gente chegava lá, aaaah, sofrida! Eu falei: “Maria, como assim?”. Cara, ela não tinha família, não tinha nada, ela vivia pro Carnaval e ela é assim até hoje.
P/1 – Você se lembra de quais eram as alas que você ajudou a fazer os adereços? Ou qual era o tema do desfile?
R – Humm...
P/1 – Não lembra, né? Não, tudo bem.
R – (riso) Não, não lembro, não.
P/1 – Você assistiu esse desfile que você ajudou a fazer as fantasias?
R – Também não assisti, porque no dia de Carnaval a gente trabalhou pra outra escola, então, não deu pra assistir desfile, acompanhava de longe, mas num dava pra ver nada muito bem, não. Então, assim, era uma loucura danada lá no barracão, uma pressão uma agonia, então “Vamos embora! Vamos que vamos!” E, aí, chegou uma semana antes do Carnaval, aquela correria tudo e tal, aí, ligaram pra gente se a gente poderia trabalhar fazendo abadá em hotéis pra turista “Vamos, vamos sim!”. O dinheiro era bom “Vamos embora”. Aí, sim, é uma época que eu adoro, porque trabalha muito, mas é uma época que você ganha bem, assim, sabe?
P/1 – Desde quando você faz carnaval?
R – Desde o ano... Passado? Ano retrasado. Aí, fomos pro hotel trabalhar pros turistas, passamos sexta, sábado e domingo trabalhando.
P/1 – Qual que era o hotel?
R – Era lá em Copacabana, é Sofitel, aí, trabalhamos e ganhamos um dinheirinho bom.
P/1 – Qual que é esse trabalho de fazer o abadá pro turista? O que que é exatamente?
R – Porque a gente vai... A LIESA, a Liga das Escolas de Samba, faz uma parceria com os hotéis que a gente faz abadá pra, tipo assim, uma determinada empresa que, num sei se é de viagem, deve ser de viagem, que as pessoas ficam hospedadas no hotel e vão pro desfile e, aquela camisa que eles vão pro desfile, a gente adereça.
P/1 – Como é que é que vocês enfeitam?
R – Ah, a gente corta do jeito que eles pedem e bota pedra, brilho, paetê, faz tudo, né? As mulheres adoram. Aí, a gente enfeita lá a camisa delas do jeito que elas pedem pra poder fazer e elas vão pro desfile amarradonas.
P/1 – E vocês trabalham no hotel mesmo?
R – No hotel. Aí, fomos e trabalhamos, deu tudo certo, graças a Deus. E esse ano eu já trabalhei num atelier que pega fantasias de escolas de samba diferentes... Assim, esse atelier pega fantasias de escola diferentes, leva pro atelier, a gente faz a fantasia e entrega. Esse ano eu trabalhei assim, não fui pro hotel e não fui pro barracão, não. É mais light assim, é mais tranquilo. Aí, trabalhei só aos fins de semana, porque também eu tinha o trabalho aqui, não dava pra eu poder trabalhar mais. Foi também muito legal, gostei muito, peguei muita experiência, assim, adorei também trabalhar. (Interrupção)
P/1 – Aí, pra gente retomar então, Carmen, eu gostaria que você me dissesse quando que surge essa ideia de você fazer esse técnico de Administração? Quando você começou e por que você resolveu fazer?
R – Porque quando eu tava no Ensino Médio era integrado à formação geral o curso técnico e eu comecei a fazer, fiz um ano... Lá, quando eu fazia, eram três anos, tinha que incluir o primeiro, o segundo e o terceiro grau, né? O segundo e o terceiro ano. Aí, como eu fiz um ano e meio porque eu engravidei do Carlinhos, eu desisti. Aí, eu retomei agora porque, assim, quando acaba você pode fazer um quarto ano e eu me interessei, não só por eu ter parado mas também assim, como eu trabalho muito com essa parte de arte de artesanato, eu penso, assim, sei lá, um dia, se eu tiver condições, tipo abrir um atelier ou uma coisa. Então, assim, pra mim poder ter uma noção de empresa, de como faz, de ter organização e também pra, pra minha vida, né, pra organizar, pra saber administrar minhas coisas, pra não gastar muito, pra ter essa noção básica, assim. Eu gosto, eu gosto muito.
P/1 – E você falou que tinha vontade de talvez fazer um curso superior futuramente. Você pensa no quê?
R – Ah, eu penso em fazer, assim, num decidi muito, porque toda vez que eu penso “Gente, num tem uma faculdade de artesanato, num tem uma que seja assim”, mas eu vejo, assim, meio parecido. Ah, já pensei em Produção Cultural, já pensei em Artes Visuais, então, assim, to tentando pra ver se eu consigo alguma coisa. Ou, sei lá, cenografia, num não sei, vou ver, se der.
P/1 – E dessa sua experiência, assim, com trabalho no Carnaval, produzindo fantasia, tal, tem alguma história mais engraçada, marcante, algum momento que você tenha passado, assim, que seja...
R – Ah, tem. Tem, sim...
P/1 – Um causo, assim?
R – Assim, tem uma amiga que eu conheci ela no curso, que ela é minha amiga, muito amiga, até hoje, eu gosto muito dela e a gente já passou por várias... Porque como a gente é mais próxima, todo trabalho que a gente faz é juntas, então, assim, a gente trabalha com... Como é que eu vou dizer? Com pessoas, assim, que têm outras culturas, outras coisas diferentes da gente.
P/1 – Em que sentido, assim? Me dá um exemplo.
R – Assim, muito... Esqueci a palavra. Ah, com muito homossexual, assim, então, a gente se diverte muito porque são divertidos, né? A gente conheceu muitos, assim, e cada um tem um jeito diferente de ser, então eles implicam muito com a gente, falam que uma é B1, chamam a gente de B1 e B2, porque a gente sempre tá junto e “Ah, não sei o quê, a Mona, num sei”. Olha, mas eles implicam muito com a gente, a gente se diverte muito com eles, tem muitas piadas e muitas coisas, assim, que a gente já passou muito engraçadas. Teve um amigo da gente que, nesse atelier que a gente trabalhou no ano passado, tinha uma casa que tava dando uma festa. Assim, tinha um tipo um varandão que tinha uma festa e tinha muitos rapazes, assim, sabe? Então, esse nosso colega (risos), que ele era, assim, gay, a gente fazendo um plumeiro, aí, toda hora fazia o plumeiro e ele ficava irritado porque a gente não acabava logo o plumeiro para ele fazer, porque ele queria passar com o plumeiro na frente do dos rapazes, pros rapazes poderem ver ele (risos). Ele ficava passando, jogando o cabelo e ficava irritado com a gente, que a gente não acabava de fazer o plumeiro pra ele mostrar o plumeiro que a gente tava fazendo. Aí, passava e jogava o cabelo, “Não sei quê, não sei quê”, chamava a atenção da gente. Eu falei: “Márcia, o que eu ele tá desse jeito, assim?” “Ah, eu acho que é porque ele tá querendo...”. Posso falar a palavra (risos)?
P/1 – Pode, lógico!
R – “Ah, acho que é porque ele tá querendo dar pra aqueles homem ali, ó” (risos). E a gente ria. Nossa, mas ele ficava muito irritado e passava assim.
P/1 – Vocês se divertem (risos).
R – Muito cara, muito, era muito engraçado, tinha muitas situações que a gente já passou, assim, muito engraçadas. Teve uma vez também que estávamos voltando do curso – nossa esse dia eu quase passei mal, assim, de tanto rir – nós estávamos voltando, e a gente voltava conversando muito, falando sobre tudo que a gente tinha feito naquele dia, e ela ia dirigindo, né? Eu pegava carona, porque a gente morava aqui em Niterói e nosso curso era lá em Barreto, ficava distante. Então, ela vinha dirigindo e me dava carona, pra poder vir. Aí, ela dirigindo e a gente conversando, conversando e conversando, ela passava sinal, ela não prestava atenção no sinal, ela passava direto no sinal “Márcia, o sinal!”. Ela: “Ih, já passou!”, aí passava. Uma vez a gente quase bateu, tinha uma esquina assim, a gente tinha que ir, só o carro vinha assim e ela tava indo na contramão e eu conversando com ela, a gente rindo, a gente rindo, ela num percebeu que o sinal tava fechado e ela tava indo na contramão. E tinha um motoqueiro parado, assim, na frente e ela conversando e olhando pra mim e virando a esquina e quase dando de cara com o (risos) “Nossa, Márcia!”, mas, assim, eu não conseguia falar o quê que era pra ela poder olhar. Quando ela viu, ela estava indo pra cima do motoqueiro, aí, eu comecei a rir, eu comecei a rir dentro do carro. Falei: “Márcia!” – quando eu fico nervosa eu começo a rir muito e eu não conseguia falar de tanto rir e ela ao invés de olhar pro motoqueiro que ela tava quase batendo, não, ela tava olhando pra mim e rindo. Quando ela viu, ela: “Ai meu Deus, pra onde eu to indo?”, virando o volante do carro e o cara assim, ó, com a cara, assim, de assustado tipo: “Você vai me pegar aqui!”. Gente, mas naquele dia eu ri tanto e eu falei: “Cara eu nunca mais ando de carro com você”, porque eu fico falando muito e acabo tirando a atenção dela no trânsito.
P/1 – Foi por pouco, assim?
R – Eu falei: “Cara! – gente, aquele dia eu ri tanto, ri tanto – você é doida, nunca mais eu ando com você”. Ela: “Carmen, a culpa é sua (risos)”. “Eu não vou mais pegar carona com você”. Mas, assim, é muitas situações divertidas que a gente já passou e eu gosto muito.
P/1 – Eu queria te perguntar uma coisa, que eu queria ter te perguntado lá atrás e perdi, que é na época, assim, de infância de adolescência, na época que você era mais jovem, antes de ter o Carlinhos e morava com a sua mãe e com seu pai, como é que eram as refeições na sua família? Como é que era a alimentação, o quê que vocês comiam?
R – Ah, nós comíamos o básico, arroz, feijão, quando dava um legume e alguma carne, algum frango. A gente comia muito frango, até hoje a gente come muito frango, porque lá onde minha avó morava não tinha muita coisa de carne, né? Então, todo dia minha avó matava uma galinha, a gente sempre foi acostumado a comer muito frango. Então, assim, era mais frango mesmo.
P/1 – E quem cozinhava na tua casa?
R – Minha mãe, minha mãe sempre cozinhava. Normal, sempre era arroz, feijão e galinha, arroz, feijão e galinha... Às vezes a gente comia peixe, né, porque aqui a gente tem muita facilidade de peixe, aqui em Niterói. O meu pai ele tem uma irmã que mora ali na vila de pescadores, então, às vezes eles dão peixe, assim, quando eles acabam de abastecer, os que sobram eles dão. Então, meu pai ele pegava muito peixe e trazia pra casa peixe, mas eu não gosto muito de peixe, não, porque teve uma época que ele trazia muito e teve um tempo, assim, que eu lembro que ele levou acho que uns seis quilos, assim, muito peixe. E aquele peixe ficou congelado por muito tempo e minha mãe falou que só ia comprar outra coisa quando o peixe acabasse. Nossa! Eu ia comer na casa dos outros, porque eu não aguentava mais ver peixe na minha frente, que peixe é bom pra você comer uma vez, no final da semana. Agora, todos os dias da semana não.
P/1 – Demais.
R – Até hoje eu falo: “Ai peixe!”. Eu como, gosto! Mas não é meu favorito.
P/1 – O quê que é, assim, seu prato ou seus pratos favoritos? O quê que você gosta de comer?
R – Lasanha (risos). Eu gosto muito de massa, né, não é à toa (risos), né? Eu gosto muito de massas, assim, adoro! De carne, eu não gosto muito de carne não; gosto de frango porque acho que já acostumei. Não sou muito, eu como qualquer coisa, qualquer coisa que me der – assim, menos jiló – eu como, não tenho muita frescura pra comida, não.
P/1 – E hoje em dia, assim, você e o Carlinhos, como é que são as refeições de vocês? Você se preocupa com o que você compra, que tipo de alimento?
R – Hoje em dia, assim, depois do projeto, sim, a gente tendo essa informação mais nutricional, acho que eu me preocupo mais. Mas confesso que a gente não come muito bem, porque a gente come muito fora, a gente come muito na rua. Então, assim, não dá tempo de eu fazer, quando eu compro, às vezes, folhagens, assim, estraga muito. Então, às vezes eu evito muito de comprar. Mas, quando dá, que eu to em casa que eu sei que eu vou fazer, aí, sim, eu compro.
P/1 – E o quê que você compra quando dá, quando você tem mais tempo?
R – Eu compro alface, faço muita salada de alface, de tomate, eu gosto de comprar frutas, mas te confesso que é um pouco difícil de fazer isso, porque a gente come muito na rua, então eu fico com pena de deixar em casa pra poder estragar. Carlinhos, não come, né? Agora sim que ele tá comendo mais por conta a Bruna que tá (risos) pegando no pé dele, assim. Então, eu acho que agora ele tá mais... Agora, que eu to dizendo é do começo do projeto, esse ano pra cá, né? Porque Bruna tá pegando bastante no pé dele, mas ele não come direito, não. A gente come muito, assim, eu como no colégio, eu como no meu trabalho, eu como na rua quando eu to na rua. Meu padrasto ele come todo dia num restaurante popular, Carlinhos come no colégio, então, a gente quase não come muito em casa.
P/1 – Não faz muita comida em casa né?
R – É.
P/1 – E como que, a gente pensando, você mencionou o projeto... Eu queria saber quando que você conheceu o Instituto Fernanda Keller, como que foi essa entrada do Carlinhos no Instituto? Quando e como?
R – Assim, eu conheci o projeto porque eu tinha umas vizinhas que faziam o projeto já há um tempo e Carlinhos com essa coisa da diabete, minha família sempre teve esse histórico de diabetes e hipertensão. Então, quando Carlinhos fez dois anos, deu uma alteração no exame de rotina dele, a doutora encaminhou pro endócrino, aí, ele veio fazendo um trabalho com a nutricionista do posto e com endocrinologista, porque a glicose dele deu alta. Só que a nutricionista do posto onde a gente frequentava, passava uma dieta meio complicada pra ele fazer, tirando, assim, todo o açúcar, passando muita coisa light, diet, são coisas que são muito caras, pra gente poder consumir todo dia, pra gente não dá porque realmente são alimentos caros. O que dava às vezes, tipo, um final do mês eu comprava mais durava uma, duas semanas no máximo, porque não dava pra manter o mês todo com aquela alimentação. Aí, ele fazia, mas fazia assim, torto, né? Aí, como eu já conhecia o projeto, porque o posto dele a gente tinha que passar aqui pela frente, eu via algumas coisas e ele era muito pequeno ainda pra poder fazer. Eu tive que esperar um pouco ele crescer, quando ele fez seis anos, como ele faz aniversário no meio do ano, eu já vim ver se ele poderia fazer. Aí, conversei com Priscila, falei: “Olha ele tem seis anos ainda – só podia entrar com sete, né? – mas ele faz sete anos em Maio”. “Ah, então tá bom, até maio dá, né?”. Aí, ele entrou, com seis anos ele começou a fazer o projeto. Não sabia correr, não sabia andar de bicicleta, não sabia fazer nada. Mas, aí, ele foi, ele já era gordinho e o médico dele falou assim: “Ó, você vai ter que botar ele numa atividade física – porque a glicose dele já estava 180 – se ele chegar a 200 ele vai começar a tomar remédio e a gente vai ter que partir pra insulina, porque já estava muito alto pra idade dele”. Pô, com cinco, seis anos, já 180! Cento e oitenta já tá alto pra adulto. Aí, eu falei: “Ah, tudo bem, então vou botar ele no projeto”. E coloquei ele no projeto, que foi assim minha salvação, porque não precisou de tomar remédio e nem entrar na insulina e foi abaixando. A gente viu que estava baixando mesmo que de 180 pra 115, 110, muita coisa. E, aí, ele vem mantendo esses 110, 115 até hoje, mas se não fosse a atividade física que ele faz aqui, acho que ele teria que já entrar na insulina. Porque depois que começa a tomar remédio, nunca mais para, né? E eu venho lutando pra que ele não comece, o quanto eu puder acompanhar ele, fizer pra que ele não tome remédio, eu to fazendo. Já coloquei ele também em outro esporte, em outra natação, pra poder manter porque tem período de férias coisa assim, que ele fica sem comer e Carlinhos ele é uma formiga, se ele vê um doce, ele tchum, cega. Ele vai comer o doce, entendeu? Então, tem que manter. Eu falo: “Filho, não pode parar de fazer esporte, não pode”. Tipo assim, eu sei que o sal, a massa tudo vira açúcar, mas com ele faz esporte, vai queimando. Então, eu corto todo o doce dele, ele não come doce. As coisas que ele gosta de comer, batata-frita ou massa, assim, até eu libero um pouco, porque eu já to cortando o doce todo, porque eu sei que vai transformar em açúcar, em alguma coisa, eu já deixo ele liberar um pouquinho o salgado, pra eu cortar o doce todo. Mas às vezes é complicado, festas, essas coisas assim, aí eu libero um refrigerante, uma coisa assim. Ele me obedecia mais, sabe? Só que agora ele tá adolescente, então ele acha que ele já pode fazer tudo.
P/1 – Quantos anos faz que ele tá no Instituto?
R – Sete anos já.
P/1 – Sete anos.
R – Mas foi muito bom o Instituto pra ele, muito bom mesmo. Acho que não só na parte de reeducação alimentar, mas também pra se... Ele tomou mais responsabilidade, aquela coisa de ter o compromisso de acordar cedo pra poder vim fazer. “Não, eu vou”, porque sabe que o professor vai estar aqui, esperando ele pra poder fazer. E Carlinhos ele sempre foi assim, o amorzinho, todo mundo gosta, é o tchuco-tchuco (risos). Então, graças a Deus, as pessoas aqui no projeto tratam ele e a gente, assim, muito bem e eu gosto muito do projeto. Até eu botei ele numa outra natação e ele: “Eu vou sair da natação pra vir pro projeto”. Eu falei: “Não, que você vai fazer os dois”. Então, ele tá fazendo os dois (risos). Então, ele gosta de fazer as pessoas já conhecem ele, ele já tá acostumado, eu acho que ele se sente mais à vontade e faz com mais vontade. Aí, taí até hoje e ele só vai sair daqui quando expulsarem ele (risos).
P/1 – Carmen (interrupção), (...) tem essa questão da atividade física, que ajudou muito, o Carlinhos e tem essa parceria, que é um pouco mais recente, do Programa Nutrir com o Instituto Fernanda Keller, que tem o foco nutricional mesmo, né? Não sei, assim, você, como mãe, conhece o Programa Nutrir pelo Instituto? Como é que você teve contato com isso?
R – Eu conheci, assim, pelo Instituto, gostei muito do projeto que eles estão fazendo aqui e, assim, pra Carlinhos foi essencial. Foi muito bom.
P/1 – E o quê – com essa questão da preocupação da nutrição – mudou pro Carlinhos no sentido, assim, ele começou a receber um apoio de uma nutricionista? Eu queria que você explicasse como é que o projeto funciona na prática, sabe? O programa de nutrição, como é que funciona no caso do Carlinhos, por exemplo?
R – Então, eles medem, pesam, faz o exame de sangue, pra poder ver como é que ele tá e tem essa instrução nutricional pra dizer o quê que ele pode, o quê que ele não pode. E uma coisa que eu achei bom aqui, porque na outra nutricionista que ele ia, ela passava muito essa coisa do light e do diet, que a gente não poderia comprar sempre. E, aqui, a nutricionista faz uma dieta pra ele com o que a gente tem dentro de casa, sabe? Ela ajuda, assim: “O quê que você é acostumado a comprar? O quê que tem dentro da sua casa?” Então, ela fez uma dieta pra ele baseando nisso, o quê que ele é acostumado a comer. Assim, ele não deixou de comer nada do que ele come, só que ele come em menos quantidade, nas horas certas, então, isso que eu gostei mais, porque eu não vou ter que ficar comprando uma coisa mais cara pra ele poder comer, entendeu? E ele come direito, assim, ele tá comendo direitinho.
P/1 – Desde quando que ele está com esse acompanhamento, assim, dessa parte nutricional?
R – Dois anos atrás... Acho que uns dois anos atrás que ele tá tendo esse acompanhamento. Então, eu gostei por conta disso, assim, que eu não vou ter que ficar, sabe, gastando mais dinheiro pra poder comprar uma coisa... E, assim, ela me ensinou “Ah, você ao invés de comprar um pacote de biscoito, você pode comprar um quilo de maçã ou um quilo de laranja. Invés de você fazer um bolo ou um pudim você pode estar gastando menos comprando uma gelatina”, entendeu? E eu gostei disso, porque, aí, ela ensinou a gente como não só fazer a dieta direitinho, até mesmo, assim, na economia, entendeu? Porque a gente dá pra fazer uma dieta boa, tendo pouco dinheiro, entendeu? Dá pra gente fazer, assim, comprar uma coisa, por exemplo, não vou comprar um pão, vou comprar outra coisa que possa substituir. Ou, então, um dia come isso, outro dia come aquilo. Dá pra uma coisa boa assim, até essa semana eu comprei uns iogurtezinhos que dá pra ele tomar depois, no tempo que ele possa esperar, depois do projeto até chegar no colégio pra poder almoçar. Não precisava de ele tomar outro café da manhã pra poder... Então, ele tá indo, tá ajudando.
P/1 – Você participa às vezes, você vem junto com ele pra nutricionista? Ela te dá orientação presencial?
R – Não, assim, às vezes ela chama a gente pra poder conversar, pra poder, acho que é uma vez por mês que tem pesagem, né, que eles fazem essas coisas, aí, eles chamam pra poder dizer, pra passar a dieta, o quê que compra, o quê que não compra. Aí, ela chama pra eu poder vir, pra poder conversar comigo. A gente conversa tudo direitinho, eles medem, pesam. Os exames que ele faz no posto eu trago para ela poder ver o que o endócrino disse, o quê que ele orientou. E, aí, ele vai fazendo o tratamento direitinho.
P/1 – E teve alguma coisa nessa indicação que a nutricionista deu durante todo esse processo todo, assim, alguns alimentos que vocês não costumavam comer ou que não consumiam e que tentaram colocar na alimentação?
R – Uhum, assim, é mais essa questão das folhas (risos), que lá em casa é difícil folha, assim, só alface. Carlinhos só come alface, tipo assim, eu tento integrar o agrião, outras coisas assim, mas ele num gosta muito, não.
P/1 – E legume e fruta, assim, tem?
R – Tem às vezes cenoura, chuchu, batata, essas coisas assim, sempre eu faço alguma coisa com isso, mas confesso que não é sempre, não. Mas, assim, eu tento, assim, final de semana que eu sei que vou tá em casa pra poder fazer, aí eu até compro, mas durante a semana... E também porque, tipo, no colégio dele, toda vez que ele almoça sempre tem uma salada ou um legume ou uma fruta, aí ele já come. Aí, quando ele janta também, lá é a mesma coisa. E eu também, eu como na rua, o meu pai come fora. Então, todos os lugares que a gente vai comer sempre tem um legume ou uma verdura, entendeu? Então, a gente come, não deixa de comer, entendeu?
P/1 – E essa orientação você acha que você, Carmen, aprendeu alguma coisa em relação a alimentação?
R – Aprendi, aprendi muito, sim. Porque, assim, eu procuro comer os alimentos mais saudáveis. Eu procuro comer. Às vezes eu não como, não, mas eu procuro, entendeu? Eu gosto muito de pizza, eu gosto muito de massas, assim. Então, lá em casa a gente peca muito pelo comer, assim, festa, que a gente gosta, vai a muita festa e acaba comendo muita besteira. E churrasco e não sei o quê... Aí, come muita besteira mas durante a semana, no dia a dia, a gente come bem, come o necessário pra gente ter uma alimentação saudável.
P/1 – Mas antes dessa orientação nutricional do Carlinhos, você acha que você pensava nisso também ou mudou alguma coisa? Ou já era uma coisa que você se preocupava?
R – Não, não, não pensava, não. Eu fazia muita farofa, muita dessas coisas lá em casa, hoje em dia já não faço tanto. Fazia muita batata-frita, hoje em dia eu não faço tanto. Refrigerante não, porque eu nunca fui muito fã de refrigerante, não, mas de fazer muito bolo, fazia muita coisa doce, assim, hoje em dia eu não faço mais. Uma vez ou outra, difícil. Eu comprava biscoito, não compro mais. Biscoitos, assim, não doces, mas comprava muito daqueles salgadinhos, assim, aquele torcida ou aqueles piraquezinhos, assim, salgadinho? Não compro mais. Comprava muito polvilho, nem compro mais. Então essas coisas, assim, eu já deixei de comprar, não compro tanto como eu comprava. Carlinhos tomava Nescau, assim, cacau em pó com leite integral, ele não toma mais. Então, mudou algumas coisas, sim.
P/1 – E você acha que foi a partir dessa orientação?
R – É, foi sim.
(Interrupção)
P/1 – E, Carmen, o que você acha, pensando no Carlinhos, o que você vê de mudanças e transformações? Se você considerar antes do Programa Nutrir e depois, hoje em dia, depois que o Programa Nutrir começou a parceria com o Instituto e o Carlinhos começou a participar disso.
R – Em relação à comida assim?
P/1 – É, de nutrição. O quê que você sente que mudou na vida dele, que se transformou de antes pra agora?
R – Eu acho, assim, que antes ele comia muita besteira, quando ele saía, que não era comigo que eu não podia estar vigiando, ele aproveitava, sabe, pra comer um monte de besteira que não podia. Eu acho que hoje, como ele tem essa informação, acho que agora ele mesmo já se policia pra não comer. Aí, eu acho que essa parte mudou bastante, porque antes ele: “Ah, minha mãe não tá vendo, então vou comer”. Agora, acho que ele mesmo tá se tocando que é pro bem dele, pra saúde dele, acho que agora ele tá mais se policiando, “Ah, não vou comer isso não. Vou comer menos ou vou comer a quantidade que a nutricionista mandou eu comer”. Até esses dias fomos na casa da minha tia, eu tava na sala e ele tava na cozinha pondo a comida dele. Aí, a minha tia: “Vai comer só isso Carlinhos? Bota mais!” Ele: “Não, não, vou comer só isso mesmo” “Não! Pode botar mais!” “Não, não, não quero, não, vou comer só isso mesmo”, e eu só escutando. E ele comeu só aquilo e ficou satisfeito. Então, eu vejo que mesmo eu não estando mais perto, ele já tá se policiando que ele tem que comer só aquela quantidade que a nutricionista disse pra ele poder comer. Se ele tiver que comer um docinho, ele só come aquele docinho, não come mais do que ele devia comer, entendeu? Ele já se conforma mais de que ele tem que comer só aquilo. Então, eu acho isso bom, que não precisa mais eu ficar no pé dele: “Ai, Carlinhos, você não pode ficar comendo isso. Ai, Carlinhos, você não pode ficar comendo aquilo”. Então, ele já tá se tocando de que é pro bem dele. Eu, assim, ainda to na dúvida se é porque a gente enche tanto o saco dele ou se ele está se tocando mesmo, sabe (risos)? Porque, assim, a nutricionista daqui ela pega bem no pé e como ele gosta muito dela, assim, ele fica: “Poxa, a Bruna vai brigar comigo se eu comer isso”, entendeu? Aí, ele lembra bem que ele faz e tá fazendo, né?
P/1 – E na saúde teve alguma mudança?
R – Então, ele tá ainda com um pouco da glicose alta pra idade dele, mas tá estacionada, entendeu? Não aumentou, não baixou, mas também não aumentou e tá ali naquele lugar. Então, não é o ideal, mas pelo menos não tá aumentando, então, a gente tá vendo que tá dando resultado. Porque se ele para de fazer exercício a gente nota que aumenta. Assim, por exemplo, nas férias, se ele ficar um dois meses sem praticar o exercício, você vê que já dá uma aumentadinha. Então, você vê que o exercício tá fazendo a diferença quando ele faz, entendeu? Com o nutricional, ele faz direitinho e, como nas férias fica tudo relaxado (risos), aí ele já dá uma relaxadinha, pra comer isso ou comer aquilo, mas durante o ano todo ele fica bem.
P/1 – E tá controlado.
R – Tá controlado. Teve até uma parte do projeto que teve uma atividade física pros pais também, que foi uma época que eu gostei muito. Ai, podia até continuar, porque foi tão bom (risos), eu consegui perder oito quilos! Ah, foi tão bom, mas, aí...
P/1 – O quê que vocês faziam?
R – Ela fazia exercício com a gente na areia. Era muito bom, a gente fazia caminhadas, aqui na praia, então, era muito bom. Eu gostava muito, muito, muito. Assim, eu me dediquei bastante, fiquei centrada naquilo. Mas que pena que acabou era muito bom, eu gostei muito, assim, e eu sou uma pessoa difícil de fazer regime, dieta e essas coisas, e com a atividade eu gostei muito que eu consegui emagrecer, sem sentir, sabe? Gostei muito. Gostei muito mesmo, acho que esse projeto é muito, muito bom e muito importante. Enquanto a gente puder e tiver aqui, nossa, vai ser maravilhoso! Muito bom!
P/1 – Tá certo. Carmen, a gente vai encaminhado pras perguntas finais, tem mais umas três perguntas de fechamento, mas antes de começar a encaminhar eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não perguntou e que você gostaria de falar?
R – Hum, não sei, acho que não.
P/1 – Não te ocorre nada?
R – Acho que não (risos).
P/1 – Tá bom.
R – É, acho que não. Nada que eu me lembre, assim, não.
P/1 – Então, eu queria saber, na primeira das perguntas finais, qual que você acha que foi o maior desafio da sua vida – até hoje, né? – e como é que você superou esse desafio?
R – Acho que o maior de todos foi... (riso de constrangimento) Acho que foi quando minha mãe morreu que a gente se viu, assim, meio que perdido, porque ela era a cabeça da família de casa, né? E a gente (emocionada) passou assim por muitas... Não dificuldades, dificuldades de dentro de casa não, mas eu tive que me tornar a cabeça chefe da família, né? Então, eu tive que tomar a frente de muitas coisas que eu não sabia como ia fazer. E, assim, eu acho que pela religião, por Deus, eu acho que eu consegui dar a volta por cima, mas muito difícil. Até hoje a gente passa por complicações que, assim, eu falo: “Ai, meu Deus, minha mãe não podia estar aqui pra me ajudar?”. Mas, por um lado foi bom porque eu tive que crescer mais, assim, ter determinação pra poder fazer as coisas. Então, assim, eu penso muito em crescer e estudar muito, eu falei: “Meu Deus, eu tenho que estudar muito porque eu tenho que...” Sabe, eu quero sair da onde eu moro... O lugar não é ruim, assim, as pessoas em volta, a gente tem muita dificuldade com vizinhos, por conta da violência. Então, é uma coisa assim que durmo e acordo pensando, falei: “Meu Deus, eu tenho que sair desse lugar”. Então, eu tomei isso como foco da minha vida, eu tenho que estudar, eu tenho que trabalhar que eu tenho que conseguir sair desse lugar. E, é isso, a gente vai dando a volta por cima, que eu acho que como eu botei isso como centro “Não, eu vou ter que conseguir! Eu vou ter que conseguir!” e trabalhando muito, porque eu vou ter que conseguir. Já me inscrevi no ENEM, já vou fazer UERJ, não, eu tenho que conseguir estudar pra eu conseguir uma coisa melhor, porque eu tenho que sair desse lugar. Então, como eu peguei isso, depois quando minha mãe morreu, que passou aquela coisa toda, eu me centrei nisso. Então, eu falei: “Não, eu vou ter que conseguir!”. Então, quando eu me pego nesses momentos de fraqueza, eu vejo isso como uma determinação pra eu conseguir fazer, então, chega de chorar, de “coisar”, já passou e vamos em frente! E eu acho que é por isso que eu consegui dar a volta por cima, porque assim, eu via que a minha mãe passou, cara, a vida dela toda ali naquele lugar sem conseguir nada. Assim, não, eu não quero ficar aqui igual a minha mãe ficou. Não quero entrar em depressão, às vezes você fica triste porque o dia passa e você continua no mesmo lugar. Eu falo: “Não, eu não quero isso pra minha vida, eu não quero passar o que a minha mãe passou ali”. Então, eu vejo isso como meio que um exemplo, porque eu não quero viver o que minha mãe passou, entendeu? Eu quero fazer tudo diferente, eu não quero ser igual a ela, eu não quero. As oportunidades que ela teve, que perdeu por causa da gente, eu não quero perder. Teve uma determinada época que ela falou: “Ah, a gente pode sair daqui” – como eu e a minha irmã era pequena e gostava, criança não liga de tudo, pra nada, né? – “Não, mãe a gente não quer sair daqui não, a gente gosta daqui”. Mas, tipo assim, a gente não sabia o quê que ela vivia, não tinha noção do quê que ela vivia ali. Então, hoje eu tenho essa noção e eu quero, e graças a Deus, Carlinhos, na idade que ele tem, tem uma cabeça totalmente diferente da minha quando eu tinha a idade dele. Ele fala: “Mãe eu não aguento mais ficar nesse lugar. Eu quero sair daqui”. Se eu na idade dele eu falasse isso pra minha mãe, eu poderia tá morando num lugar muito melhor, hoje, entendeu? Então, eu quero isso! Quero assim aproveitar que ele também quer, que ele tá com essa determinação com esse foco também, que ele fala: “Mãe eu quero estudar, eu quero viver da música” “Então vamos. Vai viver da música, eu apoio”, apoio muito ele nessa questão. “Então vamos, meu filho!” Assim, meu pai ele não dá muita opinião, porque pra ele tanto faz como tanto fez, então, é nós dois. Se você quer e eu quero, a gente vai conseguir, mas tem que ser um ajudando o outro, entendeu? E a gente vai conseguir! Não sei daqui quantos anos, mas a gente vai conseguir!. E eu tenho esse foco, essa determinação de conseguir. Então, é isso que a gente vive, todos os momentos, o nosso foco é esse então a gente vai conseguir.
P/1 – A minha próxima pergunta era essa, acho que você já respondeu um pouco já, mas se você quiser acrescentar alguma coisa. Era: quais são seus sonhos hoje?
R – Não, esse é meu sonho, de comprar uma casa, da gente sair do morro, da gente ter uma vida melhor, melhor mesmo. E eu to trabalhando pra isso e, se Deus quiser, eu vou conseguir (risos)! É isso.
P/1 – E, aí, por fim como é que foi contar sua história aqui, pra gente?
R – Foi bom, assim, foi ótimo, muito sem querer a gente desabafa um pouco e, assim, pra eu ter mais... Vendo tudo, eu fico triste por ter lembrado um pouco da minha mãe, até lembrei um pouco também da minha avó que, foi em seguida, tipo seis meses de diferença de uma morte pra outra. Mas eu penso na minha família, nos meus amigos, gosto muito, adoro a minha família, adoro os meus amigos. Então, são coisas que me dão força pra continuar. Amo o meu filho, nossa! Assim, é meu orgulho, minha família, tudo. Então, vou indo em frente, cara, contar foi muito bom. Lembrei de coisas boas, coisas engraçadas, coisas que já vivi, que ainda quero continuar vivendo.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada, viu, Carmen! Foi ótima a sua entrevista.
R – (risos) Obrigada vocês!
FINAL DA ENTREVISTA
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