Projeto Imigrantes: Memórias de um Cotidiano
Depoimento – Ricardo Cardinali
Local – cabine no West Plaza
Data – 09 de junho de 2001.
Código: IMG_CB002
Realização Museu da Pessoa
Entrevistador – Márcia Ruiz
Transcritora – Marina D’Andrea
P – O senhor poderia dizer o seu nome, data e local de nascimento?
R – Ricardo Cardinali, São Paulo, 11 de dezembro de 1971.
P – Você tem ascendência italiana. Quem eram?
R – Meu avô e minha avó.
P - Eles nasceram em que lugar da Itália?
R – Em Pesaro, uma cidade litorânea. Minha avó falava que fica no litoral mediterrâneo, mas fica encostada quase no salto da bota.
P – Quando eles migraram para o Brasil?
R – Em 1928, 1929.
P – Sabe por que eles imigraram?
R – Eu? (riso). Meu pai fala isso rindo, mas, ou ele fugiu do meu bisavô, minha avó estava grávida, ou ele saiu para serviço. Como ele participou da Primeira Guerra como marinheiro, na Itália, acho que teve problemas de emprego, tudo, e todo mundo de lá vinha pra cá. Então, acho que aproveitou o embalo e veio.
P – Isso foi quando?
R – Acho que nessa data de 1927, 1928.
P – Seu pai nasceu onde? Sua avó estava grávida do seu pai?
R – Tava.
P – Ele nasceu onde?
R – Aqui em São Paulo, mas falaram que foi no navio. Na verdade, como o navio já estava ancorado em Santos, ele nasceu no navio. Aí o meu avô falou com o comandante, que perguntou: “Você quer que eu faça aqui a certidão de nascimento dele? Ele vai ser um cidadão italiano, se eu fizer aqui. Ou você faz em terra? Se eles descerem com você em terra, ele vai ser cidadão brasileiro”. E foi assim. Mas na verdade, a história verdadeira é que era um cidadão italiano porque nasceu no navio da Itália.
P – E seus avós foram morar onde?
R – Foram morar no Brás, perto daquela empresa Paulista de leite. Do lado.
P – Qual a atividade do seu avô?
R – Garçom. Garçom, ele arrumava sapato.... tinha uma...
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Projeto Imigrantes: Memórias de um Cotidiano
Depoimento – Ricardo Cardinali
Local – cabine no West Plaza
Data – 09 de junho de 2001.
Código: IMG_CB002
Realização Museu da Pessoa
Entrevistador – Márcia Ruiz
Transcritora – Marina D’Andrea
P – O senhor poderia dizer o seu nome, data e local de nascimento?
R – Ricardo Cardinali, São Paulo, 11 de dezembro de 1971.
P – Você tem ascendência italiana. Quem eram?
R – Meu avô e minha avó.
P - Eles nasceram em que lugar da Itália?
R – Em Pesaro, uma cidade litorânea. Minha avó falava que fica no litoral mediterrâneo, mas fica encostada quase no salto da bota.
P – Quando eles migraram para o Brasil?
R – Em 1928, 1929.
P – Sabe por que eles imigraram?
R – Eu? (riso). Meu pai fala isso rindo, mas, ou ele fugiu do meu bisavô, minha avó estava grávida, ou ele saiu para serviço. Como ele participou da Primeira Guerra como marinheiro, na Itália, acho que teve problemas de emprego, tudo, e todo mundo de lá vinha pra cá. Então, acho que aproveitou o embalo e veio.
P – Isso foi quando?
R – Acho que nessa data de 1927, 1928.
P – Seu pai nasceu onde? Sua avó estava grávida do seu pai?
R – Tava.
P – Ele nasceu onde?
R – Aqui em São Paulo, mas falaram que foi no navio. Na verdade, como o navio já estava ancorado em Santos, ele nasceu no navio. Aí o meu avô falou com o comandante, que perguntou: “Você quer que eu faça aqui a certidão de nascimento dele? Ele vai ser um cidadão italiano, se eu fizer aqui. Ou você faz em terra? Se eles descerem com você em terra, ele vai ser cidadão brasileiro”. E foi assim. Mas na verdade, a história verdadeira é que era um cidadão italiano porque nasceu no navio da Itália.
P – E seus avós foram morar onde?
R – Foram morar no Brás, perto daquela empresa Paulista de leite. Do lado.
P – Qual a atividade do seu avô?
R – Garçom. Garçom, ele arrumava sapato.... tinha uma paciência de Jó.
P – Ele comentava qual foi o primeiro emprego dele?
R – Meu pai disse que meu avô era uma pessoa que falava muito. Então, ele trabalhava em buffet ou restaurantes grandes, que davam muita festa, ele trabalhava lá.
P – E fora seu pai, sua avó teve mais filhos?
R – Meu tio.
P – Qual a profissão do seu pai?
R – Gráfico.
P – Onde ele trabalhou?
R – Chama-se Gegraf, aqui na Barra Funda, Rua dos Americanos.
P – Trabalhou durante quanto tempo como gráfico?
R – Como gráfico ele quebrou uns trinta e cinco, trinta anos.
P – Depois que o teu avô foi morar no Brás, ele ficou durante muito tempo?
R – Ele ficou lá até morrer. E depois que ele morreu continuaram lá, tudo. Porque na rua, foi a mesma. Mas antes eles moravam na mesma rua, mas provavelmente no porão. Como eles não tinham dinheiro, eram bem pobres, moravam no porão.
P – Seu pai casou e foi morar onde, continuou morando no Brás?
R – Não, aí casou e veio morar aqui na Barra Funda, com a minha mãe.
P – Onde ele conheceu sua mãe?
P – No serviço.
P – O que sua mãe fazia?
R – Era a parte de revisão, na gráfica, e meu pai era desenhista. Ele que fazia os desenhos lá, então ele ia muito lá embaixo, tal, e aí tem a história também do meu pai que conheceu minha mãe, aí conheceram, saíram, começaram a namorar, e aí casaram. E foram morar na Barra Funda.
P – E eles moraram quanto tempo lá?
R – Ah, até hoje, só que não no mesmo local. Eles moraram na mesma rua, uns trinta anos, e há uns três, quatro anos, mudaram para esta rua onde estamos morando hoje. Na Barra Funda, mas próximo da outra. Eu nasci no Brás, na Maternidade Dom Pedro, que agora é PAS, Centro de Saúde...
P – Você morou na Barra Funda o tempo todo, até casar.
R – É. Casei, separei. Casei, saí da Barra Funda. Separei, voltei pra Barra Funda.
P – O que a cultura italiana dos seus avós deixou pra você. O que marcou?
R – O que marcou muito foi a figura do pai na família. Porque o pai na família, na sociedade italiana, o pai é uma pessoa muito marcante. O que ele fala é lei e ninguém discute. Meu pai é assim. Desde moleque me lembro, tem histórias de que meu pai uma vez mandou eu comprar pão, eu briguei: “Eu não vou comprar pão”. Eu só escutei ele levantar da cama, quando chegou na sala e olhou, ele não precisou falar mais nada. Eu, branco de medo, peguei o dinheiro e fui comprar pão (risos). Na volta eu apanhei de chinelo da minha mãe. (risos)
P – O que mais ficou em nível cultural? Alimentação...
R – Até brincava com o meu pai todo domingo: “Adivinha o que vai ter para comer domingo?” “É frango com macarrão.” “Não, hoje é macarrão com frango.” Toda... massa, gosto de massa, pão, macarrão.... sabe? Essas coisas assim. Tudo o que envolve a culinária italiana, eu gosto. Por causa dele. Até a música também.
P – Vocês conviviam muito com a comunidade italiana lá?
R – Lá no Brás? Não, não. Fomos conviver agora, por causa da minha avó, que começou a mexer muito com o Consulado Italiano, aí convidam elas pra uma missa que tem todo o final do ano, uma missa em que só vão italianos, minha avó, com a minha mãe, mas não me lembro onde. Diz que a missa é linda, tem música, mas esse ano quero ir lá.
P – O que marcou você de morar na Barra Funda.
R – A Barra Funda era um bairro muito familiar, e imigrantes também, principalmente da Itália, tem alemão, um amigo meu era alemão...O que marcou mais foi a convivência, o pessoal, família, uma mãe na casa da outra, uma coisa mais familiar, gostosa, que hoje não existe mais. Você vai na casa da pessoa e ela fica te olhando meio...
P – O que você espera hoje do futuro?
R – Futuro/Brasil, ou futuro/mundo?
P – Futuro/você. Qual o seu sonho?
R – Meu sonho, como sou divorciado, é casar de novo, que é difícil, e constituir uma família novamente, ganhar dinheiro, isso é consequência da vida.
P – Você teria interesse de conhecer a Itália, a região de onde vieram seus avós?
R – Ah, eu estou pensando, eu estou tirando a dupla cidadania para ou morar ou passear na Itália.
P – Tá bom então, queria agradecer seu depoimento, muito obrigada.
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