Acho que nasci gostando de ler. Lembro pouco da minha infância, mas o pouco que lembro tem relação com livros, leitura e estudo. Coisa de CDF ou criança sem infância, diriam minhas filhas. Será? Fui a última filha de Francisco Gomes de Menezes e Austriberta Freire de Menezes. Ele, agricultor, não era chegado ao trabalho braçal, mas tinha roça onde plantava cebola e vivia disso. Boêmio, tocava violão, talvez por isso só tenha casado aos 56 anos. Ela, dona de casa, foi costureira quando solteira, depois de casada passou a cuidar da casa e da família, passando a costurar apenas para si mesma, seus filhos e marido.
Ganhei o nome Paula Francinete dado por minha mãe, que se encantou com a história de Paula Frassinetti, freira italiana, fundadora da Ordem das Dorotéias, que contagiou outras mulheres com sua fé em mundo melhor através da educação. Teria eu sido influenciada por esse nome? Pois não é que tenho também essa convicção? Mas, a dona do cartório, entendendo ser melhor aproveitar para homenagear meu pai, abrasileirou meu nome para Francinete, sendo FRAN de Francisco. Assim ficou do jeito que ficou. Teria essa alteração modificado meu destino, como querem nos fazer crer os numerólogos? Não sei. O que sei é que não me fiz freira, como talvez tenha sonhado minha mãe. Gosto de reza e gosto de farra. Fiquei ali, no meio do caminho, entre a freira e a boêmia, tudo por culpa daquele N.
Na casa onde nasci, em Petrolândia (PE), morávamos eu, meus pais e meu irmão Menez, dois anos mais velho. Anos depois veio morar conosco Genilson, meu irmão por parte de pai, dez anos mais velho que eu, até então criado por Tia Alice, em Barreiras, distrito de Petrolândia. Nossa casa era grande com um pequeno terraço, duas salas, três quartos dos quais as portas abriam para o mesmo corredor. Tinha piso de cerâmica em desenhos geométricos, muitas janelas grandes e um comprido quintal cujo os fundos dava para o rio. Do muro, no alto de uma...
Continuar leituraAcho que nasci gostando de ler. Lembro pouco da minha infância, mas o pouco que lembro tem relação com livros, leitura e estudo. Coisa de CDF ou criança sem infância, diriam minhas filhas. Será? Fui a última filha de Francisco Gomes de Menezes e Austriberta Freire de Menezes. Ele, agricultor, não era chegado ao trabalho braçal, mas tinha roça onde plantava cebola e vivia disso. Boêmio, tocava violão, talvez por isso só tenha casado aos 56 anos. Ela, dona de casa, foi costureira quando solteira, depois de casada passou a cuidar da casa e da família, passando a costurar apenas para si mesma, seus filhos e marido.
Ganhei o nome Paula Francinete dado por minha mãe, que se encantou com a história de Paula Frassinetti, freira italiana, fundadora da Ordem das Dorotéias, que contagiou outras mulheres com sua fé em mundo melhor através da educação. Teria eu sido influenciada por esse nome? Pois não é que tenho também essa convicção? Mas, a dona do cartório, entendendo ser melhor aproveitar para homenagear meu pai, abrasileirou meu nome para Francinete, sendo FRAN de Francisco. Assim ficou do jeito que ficou. Teria essa alteração modificado meu destino, como querem nos fazer crer os numerólogos? Não sei. O que sei é que não me fiz freira, como talvez tenha sonhado minha mãe. Gosto de reza e gosto de farra. Fiquei ali, no meio do caminho, entre a freira e a boêmia, tudo por culpa daquele N.
Na casa onde nasci, em Petrolândia (PE), morávamos eu, meus pais e meu irmão Menez, dois anos mais velho. Anos depois veio morar conosco Genilson, meu irmão por parte de pai, dez anos mais velho que eu, até então criado por Tia Alice, em Barreiras, distrito de Petrolândia. Nossa casa era grande com um pequeno terraço, duas salas, três quartos dos quais as portas abriam para o mesmo corredor. Tinha piso de cerâmica em desenhos geométricos, muitas janelas grandes e um comprido quintal cujo os fundos dava para o rio. Do muro, no alto de uma escada de alvenaria de onde se acessava a caixa d’água do banheiro, (sim, banheiro e sanitário ficavam fora da casa no fundo do quintal), podíamos avistar o entra e sai das canoas, as pessoas tomando banho e enchendo suas latas d\'água no Porto da Rua.
Meu quarto de meia parede era bem simples. O grande luxo era ter uma cama de casal de molas só pra mim. O quarto enorme era só meu. Nele só entrava na hora de dormir, a melhor hora. Meu pai sentado na beira da cama, juntinho de mim, toda noite me contava histórias inventadas por ele mesmo. Normalmente engraçadas, em todas sempre havia um padre cheio de artimanhas que no final se dava mal. Depois de adulta soube de um caso de desentendimento dele ,ainda solteiro, com um padre da Tapera, município de Rodelas, na Bahia, seu lugar de nascimento. Estava explicado.
Nossa casa ficava na esquina da rua Cel. Aureliano de Menezes, conhecida como rua do Funil, onde ao lado passavam os trilhos do trem. Sempre que o apito soava, eu e meu irmão Menez, corríamos para a calçada para ver o trem passar e acenar para os passageiros. Muitas vezes meu pai vinha nele de Piranhas (AL), onde embarcava cebola para o comércio de Penedo (AL). Ainda era pequena quando o trem foi desativado, lamentavelmente não cheguei a fazer nenhuma viagem nele. Não que me lembre.
Da esquina da minha casa também se via a Praça Antonio Correia Gomes da Cruz, mais conhecida como Pracinha Nova, onde brincávamos durante a tarde; a praça central da Rua D. Pedro II, lugar dos encontros de rapazes e moças; o Abrigo Estudantil onde os estudantes vindos de Barreiras apanhavam a condução após as aulas e o Cinema que eu adorava.
Em frente ao Abrigo havia um poste no meio de uma rotatória onde, na semana santa, era amarrado o boneco do Judas. Ninguém nunca via quem o colocava ali. O certo era que no bolso do boneco havia o tão terrível testamento escrito por anônimos e não faltava gente interessada em ouvir a leitura. Os políticos eram os herdeiros preferidos do Judas. Dentre as heranças sempre tinha algo como: “Para o Prefeito o Judas deixa vergonha na cara por não ter feito..etc, etc..” Depois de lida a carta a criançada cuidava em destruir o boneco na maior algazarra. Eu, curiosa, tudo assistia da calçada.
A rua do Funil era assim chamada porque se iniciava larga e ia se afunilando. Era a rua onde morava o Coronel Lero e muitos brejinheiros, uma das mais antigas da cidade. Moravam poucas crianças por lá. Por causa disso, as únicas casas que eu frequentava desacompanhada era a de Isaura Isídio, colega de meu irmão Genison, que virou minha amiga apesar da nossa diferença de idade, e a de Sr. João Inocêncio. Com Luciana, filha de Sr. João Inocêncio, brincava fazendo panelada. D. Raimunda, mãe dela, ajudava a organizar a brincadeira à sombra de uma árvore, onde cozinhávamos comida de verdade em panelinhas de barros fabricadas especialmente para crianças.
Mas, o melhor do entorno de onde eu morava era mesmo a difusora do cinema, o Cine São Francisco, que ficava a poucos metros da minha casa. Ao redor do poste do alto falante, ao entardecer, após a hora da Ave Maria, a maioria das crianças da cidade, eu inclusive, nos reuníamos para ouvir histórias. Apesar da maioria ter em torno de 5 a 7 anos, íamos sozinhos, não tinha pai ou mãe vigiando. Terminada a Ave Maria o mesmo prefixo musical diário anunciava a hora do conto. Ao ouvi-lo, corria menino vindo de todo lado. Sentados no chão de terra em volta do poste, o silêncio era absoluto para se ouvir as gravações dos mesmos contos de fadas repetidos quase que diariamente. Sabíamos de cor a história de Branca de Neve, Cinderela e Os três Porquinhos, mas não cansávamos de ouvi-las. Tempos depois foi um prazer encontrar todas elas na biblioteca da minha Escola.
Fiz o Jardim da Infância, assim era chamada a educação infantil, no prédio da antiga Escolas Reunidas 10 de Novembro. Minha professora, D. Maria Verônica Leal, linda e sempre elegante, era um doce de pessoa. Lembro-me o quanto era prazeroso ir á escola. Tinha lápis de cor, papel e tinta e um quintal gramado enorme que usávamos para brincar. É que os fundos da escola davam para os jardins do Grêmio Lítero. Era lá que a gente corria, brincava de roda e lanchava. O lanche levado de casa num bornal feito de tecido costurado por minha mãe era simples. Uma banana e pão com manteiga, verdadeiro banquete que comíamos como num picnic, estendendo o guardanapo de pano no chão.
Acho que fomos a última turma a usar as instalações das Escolas Reunidas. Nele depois passou a funcionar o cartório de Silvio Rodrigues. Onde nos finais de semana também eram vendidas revistas. Ainda hoje lembro do cheiro delas. Para quem só conhecia revistas usadas como “O Cruzeiro”, que meu pai trazia da casa do seu amigo Auspício Valgueiro, aquelas revistas novinhas foram viciantes. Até hoje não posso parar numa banca de revistas sem comprar braçadas delas, não sem antes cheirá-las bem. Por conta deste vicio, fui convencida por minha esperta mãe, a trocar o prazer de chupar dedo (em lugar da chupeta) até depois de menina grande, por uma coleção de gibis do Tio Patinhas. Dormi várias noites com o braço atado à grade da cama, que eu mesma pedia que prendessem, para vencer o vicio, sonhando com aquela coleção... Ganhei-a, claro!
Mas como nem só de livros vive uma menina, para minha felicidade chegou a Casa dos Garotos na cidade. Uma loja só para crianças. Acontece que brinquedos eram bem mais caros que gibis e só tínhamos direito a ganha-los nos aniversários e olhe lá. Lembro de uma vez que fiquei doente e meu pai, para me alegrar, presenteou-me com um carrinho do Mikey, de madeira, que tocava uma espécie de piano quando era movido. Fiquei boa na hora. Guardei esse carro por anos...
Ficar doente tinha lá suas vantagens. Só assim lá em casa havia suco de uva de garrafa e bolacha creme cracker de lata. Uma regalia comprada somente quando alguém não estava conseguindo comer o trivial. Como era nosso trivial? Feijão, arroz e carne. Galinha só nos domingos. Verduras não era usual. No lanche, ovo batido com açúcar e farinha era o meu preferido, ou o alfenim de Dona Nildinha, nossa vizinha. Ah, o alfenin... Da minha casa sentia o cheiro da rapadura derretida e corríamos, eu e meu irmão, para ajudar a puxar aquela calda grossa que depois de muito puxada ganhava elasticidade e uma linda cor dourada. Dona Nildinha polvilhava nossas mãos e deixava a gente ir dando forma aos alfenins que ela fazia para vender. No final ganhávamos alguns. Era a glória.
Mas, felicidade mesmo era participar do aniversário da Casa dos Garotos. Esperávamos o ano inteiro pela festa que reunia as crianças da cidade inteira. Tinha sorteio de brinquedos, balas, pipoca e guaraná. Nunca fui sorteada, e nem sentia falta. Queria mesmo era a sessão dos clássicos da Disney que lotava o cinema encerrando a festa. Sessão gratuita para todas as crianças. Um deslumbre. Lá não só podia ouvir a história como vê-la. Televisão não existia em Petrolândia. Cinema só para adultos. Portanto, valia a pena esperar por esse dia em que o cinema era pura magia e era só nosso.
Um pouco mais crescida, aos sete anos, fui estudar no Grupo escolar Delmiro Gouveia onde passei pouco tempo, pois na cidade havia sido construída uma nova escola e minha turma foi transferida para lá. Do Delmiro lembro apenas do pátio, onde diariamente as turmas faziam fila para cantar o hino e seguir para as salas de aula. Onde, também, a turma podia brincar de queimado na hora do recreio, brincadeira da qual nunca gostei. Não via graça em atingir os outros com uma bola e muito menos ser atingida por ela. No pátio havia um palco altíssimo, no meu olhar de gente pequena. Na outra extremidade a cantina onde era servido o lanche, normalmente um mingau. Embora gostasse do mingau, morno e doce, preferia meu lanche trazido de casa. Amava minha lancheira rosa, com garrafinha para suco e tudo, que nunca perdeu o cheirinho de plástico. Para mim um luxo.
Na nova escola passei todo o primário, de 1967 a 1970. A biblioteca do Grupo Escolar Maria Cavalcante Nunes, iluminada e ventilada pelas muitas janelas, era cheia de livros cheirando a novo doados pela Aliança Para o Progresso, programa do governo norte americano para conter o comunismo na América Latina, durante o governo de John Kennedy.
Nessa biblioteca, além dos contos velhos conhecidos ouvidos na difusora, conheci Monteiro Lobato e me encantei. Tinha a coleção inteirinha. Passava lá, com ele, a minha hora do recreio. Tinha recém aprendido a ler e minha professora, Maria Alexandra Neta, elevava minha auto estima quando orgulhosa, vez por outra me chamava na Secretaria a fim de exibir minha capacidade de leitura diante das suas colegas.
Por sinal, elevar a nossa autoestima era a especialidade de D. Maria. Sua turma sempre formava os mais bonitos pelotões no desfile do Sete de Setembro. Dalva Mota, minha colega de sala, era a melhor baliza do desfile. Em um deles, mesmo não me achando com desenvoltura para tanto, fui incluída por D. Maria num pelotão de balizas comandados por Dalva. Desfilamos orgulhosas, em lugar de destaque, abrindo o desfile na frente do pelotão especial. Autoestima nas nuvens.
Dona Maria também costumava promover uma saudável competição pelas melhores notas. Todo ano premiava os três primeiro alunos da sala. Eu e Marcelo Alcântara nos revezamos no primeiro lugar o primário inteiro. Na maioria das vezes éramos premiados com livros lindamente encadernados e fartamente ilustrados que ela comprava em Recife. Uma vez ganhei uma caixa de lápis de cor, da Faber Castel, que vinha num estojo de capa dura que se abria em dois. Vinte e quatro cores. Uma maravilha que ninguém tinha igual.
A escola construída pelos americanos ficou conhecida como “A Aliança”. Fiz parte das primeiras turmas que nela estudou. Usávamos saia azul marinho pregueada e camisa branca de botão, mangas curtas. No colarinho uma pequena gravata, também azul marinho, com as iniciais do nome da Escola (MCN) bordada em branco. Ainda tenho a sensação de sentir o sabor e cheiro do leite quente com chocolate de lá. Eram fornecido pelos EUA e servido na cantina em grandes canecas de alumínio. Havia boatos de que esse leite em pó continha veneno para matar os pobres do Brasil. Que fosse. A gente nem ligava, quem podia resistir àquela delícia?!
Em função de um desentendimento com o vizinho, meu pai preferiu vender nossa casa. Enquanto não encontrava outra para comprar, moramos na rua D. Pedro II na parte da rua que ficava depois do mercado, já bem próximo à Usina. Depois fiquei sabendo que a Usina tinha esse nome porque durante a construção da rede ferroviária, no final do reinado de D. Pedro II, havia lá uma pequena usina a vapor para fazer funcionar bombas d’água que levavam água para as caldeiras do trem.
Mas, com o tempo, convencionou-se chamar de Usina toda a propriedade onde, além de um belo pomar, havia a casa de hóspede, consultórios, olaria e oficinas do Núcleo Colonial. Era um lugar excelente para passear, com muitas árvores frutíferas e flores. Tinha vigia, mas o acesso nos era permitido. Lá dei meu primeiro treino de bicicleta, e me arrebentei toda em cima do arame farpado. Fiquei tão traumatizada que só voltei a tentar pedalar novamente depois de adulta, e só aprendi a andar de bicicleta há poucos anos, já depois de aposentada.
A nossa nova casa, porém, era menor do que a que morávamos anteriormente. Não gostava muito dela. Em compensação a rua era bem mais animada, pois muitas de minhas colegas de escola moravam lá.
Na esquina daquele trecho da rua morava Sr. Olegário, dono da melhor loja de tecidos da cidade. Era a casa mais bonita da rua e me encantava, não a casa, mas a costumeira cena que eu via ao passar na frente dela. Todo final da tarde lá estavam Sr. Olegário e os filhos, lendo na varanda, esperando a hora do jantar. Eu era amiga de Fátima, a mais nova da família. Ela sempre me emprestava algumas revistas de fotonovela, que, pelas cenas de beijo, precisava ler escondida em função da censura imposta por minha mãe: \"Pode não. Muito nova pra ficar vendo isso!\".
Acho que Sr. Olegário era o maior cliente da banca de revista de Silvio. Lembro de como fiquei fascinada no dia em que Fátima me levou numa casa que era deles, vizinha da loja de tecidos do pai. Era uma casa desocupada que servia de depósito. Quando ela abriu a porta, dei de cara com um quarto lotado de revistas até o teto. Fiquei fascinada. Queria ficar lá para sempre. Todo trabalho de escola era motivo para voltar lá, procurando figuras para cartazes ou capa de trabalho. Era na frente da casa de Sr. Olegário que à noite brincávamos de roda, passa anel e de bambolê. Fátima, a mais velha de nós, comandava as brincadeiras.
Lá em casa, à vezes, brincávamos de circo. Tinha bilheteria e tudo. A meninada da rua vinha toda assistir. A entrada era paga com “dinheiro” feito com o papel de caixa de cigarros. Meu quarto o camarim, na sala o palco com cortina de lençol. Eu apresentava o espetáculo. Adorava circo. Quando chegava um na cidade era uma festa. Era armado no antigo campo de futebol, ao lado da estação ferroviária desativada. O palhaço saía nas ruas à pé fazendo barulho \"Hoje tem espetáculo! E a meninada atrás respondia: \"Tem sim siô!\". \"E o palhaço o que é?!\" e todos \"É ladrão de mulher!\". E saia todo mundo cantando \"Eu vi o sol eu vi a lua, eu vi o palhaço no meio da rua...\" Quem acompanhava o palhaço pelas ruas ganhava um carimbo no braço e tinha entrada gratuita garantida na matinê.
Minha mãe não me deixava seguir o palhaço, na verdade, nenhuma menina ia, só os meninos. Mas ela me levava ao circo. Sempre ficávamos na arquibancada, (que nós chamávamos de poleiro), nas cadeiras o ingresso era mais caro. Além de palhaço, o circo tinha rumbeiras (dançarinas de rumba), mágico, equilibrista, trapezista e na última parte do espetáculo tinha o drama. Era uma peça de teatro normalmente dramática, por isso esse nome. Eu adorava, pois peça de teatro só conhecia o presépio vivo, encenado pelos jovens da igreja enquanto esperávamos a missa do galo.
Fora o circo, que era raro, nossa diversão era ir à missa nas manhãs de domingo e depois ao Grêmio assistir ao Domingo Alegre, show de calouros comandado por Nivaldo Sobreira, depois por Rivaldo. Era um sucesso. O clube ficava lotado, tinha torcida e tudo, verdadeira festa.
Mas eis que chega na cidade um jovem padre que, visitando casa a casa, convida as crianças acima de nove anos a participarem da catequese. Era Pe. Cristiano revolucionando o jeito do povo de Petrolândia ser igreja. Comecei na catequese e aos onze anos já fazia parte de um grupo jovem composto só por meninas, o Grupo Débora, coordenado pela professora Guiomar Menezes. Fazia leituras na missa e era responsável por um programa na difusora do Salão Paroquial uma vez por semana. Lia textos de Neimar de Barros e Pe. Zezinho , direcionados ao público jovem.
Foi nessa época, em 1970, que prestei exame de Admissão e passei a estudar no Ginásio Municipal de Petrolândia. O exame de admissão era uma prova oral contendo questões de Geografia, História, Matemática e Português referentes a todo o conteúdo estudado nos quatro anos do curso primário. Uma espécie de vestibular para selecionar os alunos de acordo com o número de vagas. Fiz parte da última turma a passar por essa tortura. Para me submeter ao exame fiz até curso preparatório concomitante à quarta série. Quem era reprovado tinha que repetir o exame no ano seguinte. Tirei de letra, fui aprovada na primeira tentativa.
Entrei para o ginásio. Na biblioteca de lá, conheci \"Os irmãos Karamazov\" que li sem saber que não tinha entendido nada, e a poesia de Vinicius por quem me apaixonei. Os grandes clássicos da literatura mundial estavam lá. A coleção inteira de Dostoiévisk, o Tesouro da Juventude e outros tantos. O mundo à minha disposição.
Por tudo isso. cursar o ginásio significava iniciar uma nova fase. A infância ficava para trás, mas aí já é outra história...
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