Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Paulo Roberto Bernal Simões
Entrevistado por Tereza Ruiz
Iacri, 05 de julho de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV33_Paulo Roberto Bernal Simões
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então primeiro, Paulo, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paulo Roberto Bernal Simões, nasci no dia cinco de abril de 1955.
P/1 – E o local?
R – Local Herculândia.
P/1 – Em São Paulo?
R – São Paulo.
P/1 – E agora nome completo e também data e local de nascimento, se você lembrar, do seu pai e da sua mãe. Se não lembrar, pode ser só o nome completo, não tem problema.
R – Dos pais?
P/1 – Dos pais. Pai e da mãe.
R – Tá. Minha mãe se chama Estrela Bernal Simões, meu pai se chama Francisco Rodrigues Simões. Minha mãe é nascida no dia dois de julho... Não lembro.
P/1 – O ano, não se lembra? O local, você sabe?
R – Eu sei que é na Bahia.
P/1 – E seu pai?
R – Meu pai... Nascimento do meu pai...
P/1 – Se não lembrar a data, não tem problema, não. Ou o local, você sabe? O estado? A região?
R – Meu pai, 30 de março de 1923, nascido em Dois Córregos, São Paulo.
P/1 – E o que seus pais faziam, Paulo?
R – O meu pai era produtor rural e a minha mãe era do lar.
P/1 – E o seu pai era produtor rural e lidava com quê no campo?
R – Café e leite.
P/1 – Em que região?
R – Em Herculândia.
P/1 – Tinha uma propriedade?
R – Exato. Tinha uma propriedade rural.
P/1 – Tem um nome essa propriedade?
R – Fazenda Santo Antônio.
P/1 – E existe até hoje?
R – Existe. Essa fazenda, na verdade, éramos sócios, três filhos – eu, meu irmão e minha irmã – e hoje os dois sócios lá são meus irmãos.
P/1 – Continuou na família então.
R – Continua na família, a propriedade.
P/1 – Conta um pouco...
Continuar leituraPlano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Paulo Roberto Bernal Simões
Entrevistado por Tereza Ruiz
Iacri, 05 de julho de 2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV33_Paulo Roberto Bernal Simões
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então primeiro, Paulo, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Paulo Roberto Bernal Simões, nasci no dia cinco de abril de 1955.
P/1 – E o local?
R – Local Herculândia.
P/1 – Em São Paulo?
R – São Paulo.
P/1 – E agora nome completo e também data e local de nascimento, se você lembrar, do seu pai e da sua mãe. Se não lembrar, pode ser só o nome completo, não tem problema.
R – Dos pais?
P/1 – Dos pais. Pai e da mãe.
R – Tá. Minha mãe se chama Estrela Bernal Simões, meu pai se chama Francisco Rodrigues Simões. Minha mãe é nascida no dia dois de julho... Não lembro.
P/1 – O ano, não se lembra? O local, você sabe?
R – Eu sei que é na Bahia.
P/1 – E seu pai?
R – Meu pai... Nascimento do meu pai...
P/1 – Se não lembrar a data, não tem problema, não. Ou o local, você sabe? O estado? A região?
R – Meu pai, 30 de março de 1923, nascido em Dois Córregos, São Paulo.
P/1 – E o que seus pais faziam, Paulo?
R – O meu pai era produtor rural e a minha mãe era do lar.
P/1 – E o seu pai era produtor rural e lidava com quê no campo?
R – Café e leite.
P/1 – Em que região?
R – Em Herculândia.
P/1 – Tinha uma propriedade?
R – Exato. Tinha uma propriedade rural.
P/1 – Tem um nome essa propriedade?
R – Fazenda Santo Antônio.
P/1 – E existe até hoje?
R – Existe. Essa fazenda, na verdade, éramos sócios, três filhos – eu, meu irmão e minha irmã – e hoje os dois sócios lá são meus irmãos.
P/1 – Continuou na família então.
R – Continua na família, a propriedade.
P/1 – Conta um pouco como seu pai e sua mãe eram de personalidade, de gênio, temperamento.
R – O meu pai era um homem extremamente rígido, extremamente honesto, gostava das coisas muito bem feitas, exigia bastante dos filhos. A minha mãe já era uma pessoa mais maleável, onde você tinha condições de ter mais contato físico, mais diálogo. Meu pai já era o oposto, era uma pessoa difícil em termos de diálogo, mas não deixava de ser uma pessoa extremamente capaz, extremamente honesta.
P/1 – Você sabe qual é a origem da sua família?
R – A minha mãe, a origem é espanhola; e o meu pai, italiana.
P/1 – E eram os avôs que vieram da Espanha e da Itália?
R – Exato.
P/1 – E você sabe por que eles vieram para o Brasil?
R – Por parte da minha mãe, os familiares vieram em busca de uma parte da família que já tinha vindo pra cá. O meu pai, eu não me recordo.
P/1 – E eles vieram trabalhar no campo? Você sabe o que eles vieram fazer quando chegaram ao Brasil, como trabalho?
R – Acredito que não trabalharam no campo, não. Acredito que não.
P/1 – Foram pra cidade, você acha?
R – Exato.
P/1 – Você mencionou que você tem três irmãos, é isso?
R – Dois irmãos.
P/1 – Como é o nome dos seus irmãos? O que eles fazem?
R – O meu irmão se chama Francisco Eduardo Bernal Simões, ele é engenheiro agrônomo e atualmente trabalha na fazenda que é propriedade dele. A minha irmã é aposentada do Estado e hoje ela não exerce nenhuma atividade profissional.
P/1 – O nome dela?
R – Ivete Bernal Simões.
P/1 – Conta pra gente um pouco, Paulo, como era a casa que você passou a infância. Como era a casa? Como era bairro? A região, a cidade?
R – A minha infância, eu passei... Nasci em Herculândia, passei numa cidade muito pequena. Hoje essa cidade, pra vocês terem ideia, ela tem aproximadamente oito mil habitantes. A minha infância foi uma infância muito sadia. Naquela época, a gente não tinha computador, não tinha televisão, então as brincadeiras eram totalmente diferentes de hoje. Eu me recordo da minha infância com muita alegria. Eu fui uma criança extremamente solta, fazia tudo que me dava na cabeça. Nesse ponto, meus pais não me privavam de nada. Então eu só tenho boas lembranças da minha infância.
P/1 – Você lembra como era casa em que você nasceu e passou a infância? Descreva um pouco pra gente.
R – Era uma casa, para os padrões da época, eu acho que era uma casa já de um porte legal, uma casa boa, de tijolos, três quartos, duas salas, era uma casa extremamente confortável e aconchegante.
P/1 – E o bairro e a cidadezinha? Você falou que é uma cidadezinha bem pequena.
R – Isso. Era uma cidade em que todos se conheciam, por ser extremamente pequena. A vizinhança toda, a gente tinha um contato muito saudável, muito tranquilo, então era muito bom de se viver naquela época.
P/1 – Quais eram as brincadeiras de infância? Do que você brincava? Com quem você brincava?
R – Bom, futebol, tínhamos um jogo que chamava “bétia”.
P/1 – Como era esse jogo?
R – Nesse jogo ficavam duas pessoas, uma de cada lado, é como se fosse um jogo de tênis, mas com duas madeiras cada um e jogava-se uma bola, e você tinha que rebater essa bola, e você corria. Quando você rebatia essa bola longe, você corria pra lá, o outro amigo seu corria pra cá, então o maior tempo que você conseguia rebater essa bola, você ganhava por tempo, entendeu? Nós tínhamos várias brincadeiras na época. Pique de esconder. Não me recordo de todas agora, mas eram muitas. Os tipos de brincadeiras naquela época eram esses, né? Era futebol, jogo de botão.
P/1 – E onde que brincava? Vocês brincavam onde?
R – Normalmente, nas casas dos amigos. Ou os amigos estavam na minha casa, ou eu estava na casa dos amigos.
P/1 – E futebol, jogava onde? Na casa dos amigos também?
R – Também. E, normalmente, sempre tinha um campo de futebol perto de casa. Que a cidade era muito pequena, então a gente ia para o campo. E gostava muito de jogar futebol.
P/1 – Brinquedos, você tinha na época? Você lembra?
R – Tinha.
P/1 – O que tinha de brinquedo assim?
R – Bicicleta, eu gostava muito de jogar sinuca, meu pai me comprou uma mesa de sinuca na época, pequenininha, mas tinha também uma mesa de sinuca também em casa. E bola, que era o que a gente gostava mais de fazer.
P/1 – Você torcia pra algum time?
R – Sempre fui santista.
P/1 – Tinha um ídolo de futebol na infância?
R – Pelé (risos). A minha família toda é são-paulina. Eu fui o único que desgarrei da família em termos de torcida de futebol.
P/1 – E você lembra porquê você escolheu o Santos? Teve um momento marcante?
R – Teve um momento. Eu estava passando em frente uma residência e o Santos tava jogando, eu não lembro com qual time era, e ele ganhou de 11 a zero. Então nesse dia eu comecei a torcer pelo Santos. Esse foi o momento que eu comecei a torcer pelo Santos.
P/1 – Você lembra quantos anos você tinha, mais ou menos?
R – Aproximadamente uns dez anos.
P/1 – Criança ainda.
R – Criança.
P/1 – E de lá até hoje é santista?
R – Sempre fui alvo de brincadeiras da família, porque todos são são-paulinos.
P/1 – E as refeições na sua casa, Paulo, como eram? Quem cozinhava? O que vocês comiam? Como era o momento da refeição?
R – Sempre uma refeição muito saborosa. A base da refeição da família era arroz, feijão, salada, um ovo frito, um bife, um frango. Essa era a base.
P/1 – E quem cozinhava?
R – Normalmente, a minha mãe, até certa época. Depois, quando ela ficou mais de idade, aí já tinha uma empregada que ajudava.
P/1 – Mas na infância assim era a sua mãe que cozinhava?
R – Era a minha mãe.
P/1 – E o momento da refeição? Vocês comiam junto? Todo mundo sentava à mesa? Como era? Tinha esse hábito de a família comer junto?
R – Não tinha muito, não. Pelo seguinte, meu pai sempre foi político. Na verdade, meu pai foi, nessa cidade que a gente nasceu, em Herculândia, ele foi prefeito cinco vezes, então ele tava sempre em São Paulo, então a gente normalmente comia com a minha mãe. Lógico, sempre que possível, ele tava com a gente. Eu me recordo que aos domingos a gente se reunia realmente, a família se reunia. E o legal era que no domingo tinha guaraná. Esse é um detalhe que eu me recordo com muito carinho.
P/1 – Porque não tinha em nenhum outro dia, era uma coisa especial de domingo?
R – Era uma coisa especial no domingo.
P/1 – Normalmente, não comprava refrigerante.
R – Não.
P/1 – Eu queria saber se vocês tinham o hábito de consumir café na sua casa.
R – Tinha. Tinha, sim.
P/1 – E em que refeições? Como preparava o café?
R – O café era um café preto na parte da manhã, e à tarde também tinha um café...
P/1 – E você sabe da... Desculpa, pode falar.
R – Com bolo, pão, manteiga.
P/1 – E você sabe de onde vinha esse café que vocês consumiam? Onde comprava, qual era a origem?
R – Olha, eu me recordo que quando eu era bem criança, a minha mãe comprava o café em grão e torrava naqueles torradores manuais. Ela que torrava no fundo de casa.
P/1 – E o preparo era como? Era coado?
R – Era coado. Aquele coador de pano.
P/1 – E leite? Vocês tinham o hábito de consumir leite?
R – Tinha o hábito.
P/1 – E o leite era em quê refeição também? Como preparava?
R – Mais na parte da manhã.
P/1 – E de onde vinha esse leite?
R – Na verdade, a família sempre teve uma atividade de laticínios. Nós tivemos uma empresa de laticínios aqui em Herculândia, a marca era Hércules, e esse leite já vinha da empresa nossa.
P/1 – Vocês tinham a propriedade e tinham uma empresa, é isso?
R – Exato. Exato.
P/1 – Então produzia o leite, processava nessa empresa e comercializava, era isso?
R – Isso. Exatamente.
P/1 – Certo. Então sempre esteve ligado à atividade de pecuária leiteira.
R – Sempre. Sempre.
P/1 – Você lembra o que você queria ser quando crescesse quando você era pequeno? Tinha alguma coisa assim?
R – Na verdade, eu não tinha nenhuma aptidão, mas por uma situação que o meu pai gostava, tal, eu fui fazer cursinho pra Medicina. Fiz vários vestibulares e num desses vestibulares eu tinha uma opção de Psicologia. E foi aí que eu optei por fazer Psicologia.
P/1 – Mas não era uma coisa que de pequeno você falava “eu quero ser médico”, ou “quero ser psicólogo”?
R – Não. Não.
P/1 – Ou outra coisa qualquer assim, tem criança “ah, quero ser caminhoneiro, quer ser...”, tem de tudo quando é pequeno, não tinha nenhum sonho assim? Jogador de futebol?
R – Não. Nunca tive essa ideia na minha cabeça, não. Na verdade, eu nunca tive alguma coisa formada em relação à profissão. Por força das situações próprias da vida da gente é que eu fui tomando rumo da minha vida. E me formei em Psicologia e eu atuei como psicólogo aproximadamente uns dez anos. Mas nesse meio tempo que eu tava atuando como psicólogo, eu fui trabalhar numa propriedade rural da família, que eu já citei, e ali eu tomei gosto pela atividade. Mas logo o meu pai deixou a atividade, deixou de trabalhar na empresa, que era ligada também à atividade leiteira, e eu assumi a empresa em 1987.
P/1 – Essa que você falou que era a Hércules?
R – Isso.
P/1 – Quando você era pequeno, você ajudava seu pai na propriedade rural ou na empresa?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não.
P/1 – Vocês não tinham tanto contato com o campo assim, mais a cidade pequena?
R – Na verdade, eu não. O meu negócio sempre foi brincar e levar a vida (risos).
P/1 – E escola? Quantos anos você tinha quando você começou a frequentar a escola?
R – Seis anos.
P/1 – E quais são suas primeiras lembranças da escola?
R – Eu me recordo, assim, eu sempre participei, por exemplo, naquela época tinha a fanfarra da escola, eu sempre participei da fanfarra. Naquela época, a gente tinha que fazer fila pra entrar na escola, você tinha que cantar eu acho que o Hino Nacional e o Hino da Bandeira. Era uma regra que eles impunham, eu me lembro muito bem disso. Eu acho que deveria ter isso até hoje, acredito que não tenha mais.
P/1 – Não é comum.
R – Não é comum isso hoje. Eu acredito que pela questão civismo teria que ter isso até hoje nas escolas, mas, infelizmente, as coisas mudaram.
P/1 – Era uma escola pequena? Como era essa escola?
R – Pequena. Era uma escola pequena.
P/1 – O nome, você lembra?
R – Naquela época chamava-se Grupo Escolar de Herculândia. Hoje já mudou de nome, eu não me recordo agora o nome.
P/1 – E você falou que fazia parte da fanfarra, você tocava algum instrumento?
R – Tocava... Como chama aquilo? Que você toca com as baquetas lá? É... Um é surdo, o outro é...
P/1 – Uma caixa?
R – Caixa. É. Caixinha, o pessoal falava na época.
P/1 – E depois você seguiu tocando algum instrumento na vida, ou não?
R – Na minha adolescência, eu toquei. Na época não se chamava banda, chamava-se conjunto. Eu toquei bateria no conjunto.
P/1 – Então seguiu com percussão?
R – Isso.
P/1 – E nessa fase de escola, um pouco antes de entrar na adolescência, teve algum professor marcante?
R – Tive um professor que me marcou muito, de Português.
P/1 – Como ele chamava? Por que ele te marcou?
R – Ele chamava Irineu Concas. Ele me marcou muito porque ele foi um cara que me ensinou muito gramática, esse tipo de coisa. Eu não sei por que, mas hoje eu vejo muito universitário com muita dificuldade em Português, e eu já não tenho essa dificuldade e até tem horas que eu até corrijo os filhos e alguma pessoa que tá do meu lado, tal. Então esse professor me marcou muito pelo fato de ele ter me ensinado o Português, a gramática, assim, de uma forma muito incisiva. E eu aprendi muito com ele.
P/1 – E nesse grupo escolar, você ficou o quê? O primário inteiro? Até que idade?
R – O primário.
P/1 – Fez o primário, depois mudou para outro colégio, é isso?
R – É. Naquela época, você fazia os quatro anos do primário, depois você tinha um quinto ano, que chamava admissão, que aí você era admitido no ginásio, naquela época era ginásio, aí você ia da sexta, sétima, oitava e nona série. Que na verdade... Não, não era o colegial, era o ginasial. E depois você entrava no colegial, que eram mais três anos.
P/1 – E dessa fase de infância, antes de sair desse grupo escolar, tem alguma história que você lembre assim, Paulo? Uma história marcante, uma coisa que depois você tenha contado para os filhos, ou que na família tenha ficado marcado? Uma coisa que você viveu mesmo na infância.
R – Eu não tenho história marcante, mas eu tenho assim, uma lembrança muito boa da convivência dos colegas na hora do recreio. O pessoal ia, sentava no fundo lá da... Tinha um bosque muito legal no Grupo e a gente sentava. E ali a gente contava as histórias, tal, comia o lanche, era uma situação muito agradável, que eu me recordo com muito carinho.
P/1 – É uma lembrança boa.
R – É.
P/1 – E quando você passa do grupo para o outro, para o ginásio.
R – Para o ginásio.
P/1 – Eu queria saber como é essa mudança. Aí você já entra na pré-adolescência, adolescência, né, na fase do ginásio?
R – Exato.
P/1 – Como é essa mudança? As amizades mudam? O lazer? O que você fazia para se divertir na fase de adolescência?
R – Totalmente, muda totalmente. Que a fase de criança, você tem algumas brincadeiras que são marcantes, tal; na fase de adolescência, na minha opinião, muda tudo, porque aí o que a gente tinha naquela época que eu me recordo? Você ia pra casa dos amigos e das colegas e à noite você fazia uma coisa que a gente chamava naquela época de brincadeira. Era uma espécie de um bailezinho com os discos tocando, tal, e ali você entra realmente na adolescência, que é hora que você dança com as meninas e tal. Então isso aí é o que mais me marcou na adolescência. E também os bailes de salão que a gente ia, isso aí era marcante. Final semana tinha o baile com as bandas da época, tudo.
P/1 – E como eram esses bailes de salão assim? Como as pessoas se vestiam? O que bebiam? O que tinha de música?
R – Na minha época, a gente bebia Cuba Libre (risos). Era o que tinha assim de mais... Ou um Martine. Eu não me recordo muito bem da adolescência de se beber cerveja, entendeu? Me lembro mais de Cuba Libre mesmo.
P/1 – Esses bailes de salão, você lembra como o salão era arrumado, como as pessoas se vestiam, se comportavam, o que ouviam de música?
R – Nessa época, o salão era arrumado com várias mesas, as pessoas se sentavam às mesas e ali você ficava tomando coragem pra ir e convidar uma menina pra dançar, entendeu? Era uma luta, mas a gente... E naquela época tinha outro aspecto que hoje não tem, que realmente a dança era a dois. Você não dançava sozinho, era muito difícil. Isso bem na pré-adolescência.
P/1 – E você lembra quais eram as canções?
R – O que eu vou te falar das canções? Lembro muito de Creedence. Naquela época, cantor brasileiro era o Roberto Carlos, o Erasmo, e aí vem todo aquele pessoal da Jovem Guarda.
P/1 – Você gostava de ouvir música?
R – Eu gostava muito. Gostava muito. Era o que a gente ouvia na época. E também Beatles... Basicamente, era Beatles, Creedence, que eu lembre. E cantores brasileiros eram Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Eduardo Araújo. Conjuntos brasileiros eram Os Incríveis, que mais? Renato e Seus Blue Caps, acho que você nem sabem disso, mas é o que eu lembro assim de momento.
P/1 – E você tinha uma canção favorita? Uma canção que tenha sido marcante por conta de uma situação?
R – Não. Eu gostava muito de música, mas eu não tenho alguma coisa que me marcou muito, não. Eu tenho várias músicas que marcaram essa época de pré-adolescência, várias.
P/1 – E nessa época de pré-adolescência, depois na adolescência, do lado afetivo assim, teve um primeiro amor, uma paixão marcante?
R – Ah, teve, né? Com certeza teve.
P/1 – Então conta pra gente como foi.
R – Minha primeira namorada foi uma garota da época de ginásio, mas foi um namoro, assim, bem àquela época. Era difícil, você pegava na mão e tal, dificilmente saía um beijo. Mas foi uma coisa muito legal.
P/1 – Você lembra o nome dela e como vocês se conheceram?
R – Ela se chamava Marilda. A gente se conheceu na escola mesmo, no ginásio. E como era muito próximo, uma cidade muito pequena, ela morava praticamente a um quarteirão da minha casa.
P/1 – Você pediu em namoro? Você lembra como foi essa aproximação?
R – Ah, foi uma coisa bem difícil, entendeu? Porque naquela época era difícil esse tipo de coisa. Tinha muito tabu, então... Mas foi assim, foi uma coisa natural, foi acontecendo e na hora que a gente viu, a gente já tava namorando.
P/1 – E você era tímido?
R – Bastante. Tanto que nos bailes, a gente tinha que ir para o bar tomar alguma coisinha pra dar coragem de tirar as meninas pra dançar.
P/1 – Senão não conseguia?
R – Ah, não, era difícil.
P/1 – Essa escola que você fez o ginásio, você lembra o nome?
R – Não lembro. Ginásio... Nossa, não lembro.
P/1 – Não? E foi a mesma escola em que você fez o colegial, ou não, você depois no colegial?
R – Depois eu mudei. O colegial, eu fiz numa escola que se chamava Escola Estadual Aristides Rodrigues Simões, que por acaso era meu avô.
P/1 – O nome da escola era em homenagem ao seu avô?
R – Isso.
P/1 – Porque seu avô era uma pessoa muito conhecida na cidade?
R – Muito conhecida, uma pessoa muito influente na cidade.
P/1 – Ele trabalhava com quê, o seu avô?
R – Ele tinha um escritório de contabilidade. Mas conhecia todo mundo, então era uma pessoa bem pública.
P/1 – E teve também uma carreira política, como o seu pai, ou não?
R – Não. Meu avô não.
P/1 – E essa escola do colegial, teve uma mudança em relação ao ginásio e o colegial?
R – Teve.
P/1 – Nos seus hábitos, também na diversão, no lazer?
R – Teve.
P/1 – Em que sentido, assim?
R – Eu acredito que aí nessa época a coisa já começou a ficar um pouquinho mais séria, você já começa a pensar em alguma coisa profissional. Aí eu já tava pensando em realmente estudar pra valer. Porque eu nunca fui uma criança de estudar muito, não. Mas nessa época, a gente já começou a vislumbrar alguma coisa lá na frente, tal, na questão profissional, então eu já comecei a me dedicar mais aos estudos.
P/1 – Conta um pouco como foi essa decisão de qual faculdade fazer. Você mencionou rapidinho lá atrás que seu pai falava um pouco de Medicina, mas eu queria saber como foi vindo quando você começou a se preocupar mais com estudo, com profissão. Quais foram as ideias que você teve? Como você finalmente decidiu?
R – Como eu não tinha uma vocação, eu nunca tive, entendeu? Eu sempre fui uma pessoa muito solta, muito tranquila nesse aspecto, eu tinha uma família muito sólida, então nunca me preocupei com isso, muito. Mas nessa época aí, meu pai já tinha me dito que ele gostaria de ter um filho médico, então eu fui colocando isso na minha cabeça. Não foi uma imposição, mas era um desejo dele, então eu optei por fazer o desejo dele. Aí já fui pensando mais sério nessa questão do profissional. E quando eu fui para o terceiro colegial, eu já optei por fazer o terceiro colegial e o cursinho fora da minha cidade natal. Foi quando eu fui pra Ribeirão Preto, que eu fui morar sozinho lá pra fazer o cursinho e o terceiro colegial, eu fiz integrado. E aí já foi outra fase da minha vida.
P/1 – E como foi essa mudança pra Ribeirão?
R – Essa mudança foi uma mudança bem difícil, porque eu saí da minha cidade com 17 anos pra morar sozinho. Eu considero um dos períodos mais difíceis da minha vida, que foi que eu me desvinculei da família. Então a minha adaptação lá foi difícil.
P/1 – Você lembra qual foi a impressão que você teve da cidade, quais foram as maiores dificuldades, as diferenças?
R – Eu praticamente não saía de casa. Eu morava num quarto, um quarto muito pequeno, em que eu fui realmente só pra estudar. Então eu não tinha nenhuma atividade de lazer, principalmente de lazer. Quando muito, eu ia ao cinema, e ficava muito perto da minha pensão, morava numa pensão na época. Mas eu praticamente não tive vida social nessa época. Eu tive realmente... Eu me dediquei ao estudo inteiramente. E como era muito difícil locomoção numa cidade maior, tudo, eu praticamente passava o meu dia dentro do cursinho, fazia curso Objetivo, e voltava pra casa pra estudar. Esse era o meu dia-a-dia.
P/1 – Um ano você ficou nessa rotina?
R – Um ano.
P/1 – E você voltava, às vezes, pra sua cidade natal, ou não?
R – Voltava, mas assim, era muito raro, a cada três, quatro meses. O resto do tempo, eu passava em Ribeirão Preto.
P/1 – Qual era a distância de uma cidade pra outra?
R – Aproximadamente, 300 quilômetros.
P/1 – E quando você se mudou, você lembra se alguém da sua família foi te levar pra Ribeirão Preto?
R – Foram, os meus pais. Nesse aspecto, eles sempre me deram suporte. Eles foram me levar, me alojaram numa pensão lá, tudo certinho, depois eles voltaram pra casa.
P/1 – E você se lembra da sensação de estar saindo da cidade, chegando a Ribeirão?
R – A pior possível. Muito difícil. Que eu sempre morei com a família, então foi difícil, foi difícil ficar sozinho. Eu acredito que tenha sido, se não o pior, um dos piores momentos da minha vida.
P/1 – E esse tempo em Ribeirão, como você decidiu que faculdade você ia prestar? Como foi esse um ano? Isso mudou um pouco, ou não, você tava focado mesmo na Medicina?
R – Mas na verdade, eu tava focado em Medicina. Mas assim, eu fui juntando nessa época, dentro do cursinho, subsídio pra ver onde eu poderia fazer vestibular. Eu fiz vários vestibulares. Que eu me recordo: Santa Casa, São Paulo, a USP, naquela época USP, hoje eu não sei nem como é o vestibular, eu prestei também Itajubá, em Minas Gerais, prestei Medicina em Mogi das Cruzes, Catanduva e... Qual foi a outra, meu Deus? Eu não me recordo agora.
P/1 – Mas foram muitas, né?
R – Foram. Foram bastante.
P/1 – E todos pra Medicina?
R – Todos pra Medicina. Por fim, eu prestei um vestibular pra Medicina na Universidade de São Francisco, campus de Bragança Paulista, e aí eu optei por fazer Psicologia no campus de Itatiba, foi onde eu me formei.
P/1 – Porque aí você prestou Psicologia também. Como veio essa ideia de prestar Psicologia?
R – Segunda opção. E, na verdade, o curso de Psicologia da Universidade de São Francisco era um curso muito voltado mais pra área médica, pra área psicossomática, então era uma área que era fins da Medicina, então optei. Como eu já tinha feito vários vestibulares, e não sei, na época eu achei que não ia conseguir entrar em Medicina. Então optei por Psicologia, meus pais foram de acordo na época, e ali eu fiquei cinco anos.
P/1 – E como foi esse ingresso na faculdade, na vida universitária? O que mudou na sua vida nesse momento?
R – Foi a melhor época da minha vida, até então.
P/1 – Por quê? Conte-me um pouco como era o dia-a-dia, o que mudou.
R – Ah, porque eu acho que a universidade abre a cabeça da gente, você tem novos horizontes, você já começa a pensar na questão profissional, então eu acho que a sua vida muda completamente quando você tá na universidade.
P/1 – As amizades mudaram?
R – Mudaram todas. Porque a universidade, ela consegue trazer pessoas de várias cidades, de vários estados, de várias culturas, então eu acho que aí esse entrosamento, esse relacionamento que você faz com essas pessoas é que te propicia a te abrir mais a cabeça para o mundo em geral, entendeu? Ali foi quando meu pai, não no começo, mas no final da minha universidade, ele já me deu um carro, e ali eu comecei a realmente ver a vida de outra forma.
P/1 – Qual era a cidade mesmo? Você mencionou...
R – Itatiba.
P/1 – Itatiba.
R – É. Próximo a Campinas.
P/1 – E o curso era o que você esperava? Como foi a sua relação com o curso?
R – Foi bom. Eu me identifiquei com o curso. Pra mim, a faculdade foi realmente muito bom. Foi muito boa, eu realmente me identifiquei, gostei de estar ali, fiz muitas amizades. Profissionalmente, eu me realizei, tanto que eu exerci a profissão aproximadamente dez anos.
P/1 – Você teve nessa fase da universidade alguma história marcante, algum fato que você sempre lembre?
R – Ah, foram vários. Foram vários.
P/1 – Mas algum que você destacaria assim? Essas coisas que ficam na memória?
R – Ah, eu acho assim, que foi uma fase desprovida de qualquer compromisso, entendeu? É uma fase que você... É aquilo que eu falei, é uma fase que você realmente se abre pra vida. Não profissional, mas você começa a enxergar a vida de outra maneira...
P/1 – Então só retomando, Paulo, você tava contando que a faculdade foi marcante, que teve muitas histórias.
R – Isso.
P/1 – E você se lembraria de algum fato assim específico?
R – Ah, eu não me lembro de alguma coisa assim marcante. Eu lembro que ali ficava muito próximo a Campinas, Valinhos, então a gente ia muito pra Campinas, realmente passear e fazer as coisas que todo universitário faz, que é namorar e tudo mais.
P/1 – Qual era o lazer? O que vocês faziam de lazer, passeios, pra se divertir?
R – Eu sempre gostei muito de atividade física, então na universidade tinha duas coisas que eu colocava como prioridade de esportes, que era o futebol e... Eu tive a satisfação de ter na minha turma de escola um colega que era campeão paulista de tênis de mesa. E numa brincadeira que a gente fez um dia lá na escola, no diretório acadêmico, ele falou: “Olha, você tem jeito pra isso. Eu vou te treinar”. E a gente acabou sendo... Porque tinha entre os campus da universidade tinha o interclasses. E a gente acabou se tornando, nessa atividade de tênis de mesa, a gente acabou se tornando tricampeão dentro da escola. Então essa é uma coisa que eu lembro com muito prazer.
P/1 – Como era o nome dele?
R – Nilton. Ele tinha sido campeão paulista de tênis de mesa. E começou como uma brincadeira e a gente foi treinando. E realmente até hoje eu gosto. Sempre que eu posso, eu jogo tênis de mesa.
P/1 – E essas viagens pelas cidades vizinhas, que você mencionou, o que vocês iam fazer nesses passeios? Saía pra festa?
R – Saía pra festa e a gente ia paquerar, né? Isso que a gente ia fazer. Ou ia ao cinema, naquela época. Ou ia pra alguma... Hoje o pessoal fala balada, mas na época não era balada, ia pra um barzinho, tal.
P/1 – E você falou de paquerar, você teve um namoro nessa época? Você namorou durante a faculdade?
R – Tive, mas nada muito sério. Na verdade, o único namoro sério que eu tive foi com a minha atual esposa, que ela foi... Na verdade, ela foi fazer faculdade também e acabou entrando na mesma faculdade minha e acabou indo morar numa república na frente da minha e foi assim que a gente se conheceu.
P/1 – Vocês se conheceram durante a faculdade, então?
R – Durante a faculdade.
P/1 – Conta um pouco como foi essa história então, como você conheceu a sua esposa.
R – Então, eu morava numa república e a minha esposa entrou no mesmo curso que eu, na Psicologia também, e por acaso ela foi morar numa república na frente da minha. E como eu tinha muito acesso a essa república, porque eu tinha um colega que morava na minha república e que namorava uma menina que morava em frente, na república em frente. Como a Neide veio morar em frente, a gente se conheceu ali, e dali começou o nosso namoro, a gente ficou noivo e tal.
P/1 – Como foi o início do namoro? Conta um pouco assim essa aproximação. Você lembra quando você se interessou por ela?
R – Ah, foi no primeiro encontro. Já ali a gente já fez amizade, tal, começamos a conversar e começamos a namorar.
P/1 – Teve um pedido assim de namoro?
R – Não. Não teve.
P/1 – Foi indo...
R – Foi indo até que aconteceu.
P/1 – E quanto tempo vocês namoraram?
R – Seis meses. E aí já ficamos noivos.
P/1 – Foi rápido.
R – Foi rápido.
P/1 – Como foi esse namoro de seis meses? O que vocês faziam juntos?
R – Tudo. Nós fazíamos tudo. Que a gente morava lá em Itatiba, às vezes ela almoçava na minha república, às vezes eu almoçava na república dela. Aí nós passamos a conviver o nosso tempo praticamente o tempo todo juntos. Essa fase foi muito legal e foi aí que realmente o nosso namoro se solidificou. Aí a gente achou que realmente a coisa era séria e houve o noivado.
P/1 – Como foi o noivado?
R – Não, não teve festa, nada, foi uma coisa assim bem informal. E ali já colocamos aliança, tal, ficamos noivos. E logo depois, acho que questão de um ano, eu me formei, e aí a gente se casou logo após.
P/1 – Foi bastante rápido.
R – Foi rápido. Foi rápido.
P/1 – Em qual ano você se formou?
R – Eu me formei em 1979. Formei-me em julho e nós nos casamos em setembro, dia 15 de setembro.
P/1 – E como foi o casamento de vocês?
R – Foi muito legal.
P/1 – Descreve um pouco pra gente. Teve uma cerimônia religiosa? Teve festa?
R – Teve. Teve. Na verdade, ali, na época do casamento a gente teve certeza que realmente a gente queria ficar junto. E houve uma cerimônia religiosa na Igreja Católica de Herculândia, e logo após teve uma recepção na fazenda do meu pai, que é essa fazenda que eu já citei, a fazenda Santo Antônio. Aí foi um churrasco acho que com aproximadamente 300, 400 pessoas. Foi uma festa bem legal.
P/1 – E vocês tiveram uma lua de mel depois?
R – Na noite de núpcias, nós fomos pra Marília, passamos a noite lá, porque nós já saímos tarde da festa. E dali, nós fomos passar a nossa lua de mel em Águas de São Pedro, ali próximo a Piracicaba, é uma estância turística.
P/1 – E como foi a lua de mel em Águas de São Pedro?
R – Foi muito legal. Foi muito gostoso. Porque a gente já tinha certeza de que era aquilo que a gente queria, então sempre foi muito prazerosa a nossa convivência, o nosso contato. Muito legal.
P/1 – Eu vou te perguntar depois de quando vieram os filhos, mas eu quero só voltar um pouco antes na época de faculdade, saber se você fez algum estágio durante a faculdade.
R – Fiz. Eu fiz estágio voltado à área industrial. Como eu vou te dizer? Área de trabalho. Eu fiz um estágio voltado à área de trabalho, apesar de eu ter optado pela área clínica. Mas na época eu não consegui um estágio na área clínica, um estágio fora da escola, entendeu? Depois, sim. Depois, no meu último ano, eu fiz um estágio clínico. Naquela época, a escola já dispunha de uma clínica, onde os estudantes atendiam os clientes. Não era nem convênio, a própria escola já dispunha de uma clínica de psicologia para atendimento de terapia e tudo mais.
P/1 – Esse primeiro estágio que você mencionou que foi na área de trabalho, onde foi?
R – Eu fiz numa empresa em Sumaré.
P/1 – E qual era a sua função como estagiário?
R – Entrevistas, alguma coisa voltada à área de seleção de pessoal.
P/1 – Recursos Humanos.
R – Recursos Humanos, tal. Mas, na verdade, eu não segui isso daí, entendeu? Eu fui pra área clínica realmente.
P/1 – Foi sua primeira experiência. De trabalho, foi essa a primeira experiência?
R – Isso. Isso.
P/1 – Você lembra o que você fez com os primeiros salários que você ganhou nesse estágio?
R – Na verdade, esse estágio não era remunerado.
P/1 – E depois, na clínica, era remunerado?
R – Também não.
P/1 – Então foi só quando você entrou no mercado, que se formou mesmo.
R – Exato. Exato.
P/1 – Conta um pouco desse segundo estágio então, que era na clínica, que era na sua área de escolha.
R – Esse estágio era um estágio obrigatório, que você tinha que passar por ele pra você poder se diplomar na área clínica. Foi uma coisa muito legal, porque ali você já podia realmente exercer aquilo que profissionalmente iria fazer na hora que saísse da escola. Ou seja, naquela época eu já tinha paciente que tava sob a minha responsabilidade profissional, então era uma coisa realmente muito boa e que você já saía dali, não digo pronto, mas você já saía com um contato profissional muito bom.
P/1 – E você se lembra do seu primeiro paciente ou de algum dos primeiros pacientes?
R – Não lembro. Vou te dizer o porquê eu não me lembro. Eu posso te dizer que era uma coisa assustadora na época, porque você tá tendo o primeiro contato profissional e realmente foi difícil. E você tinha supervisão de professores que ficavam, era uma sala onde você tinha aquele vidro, entendeu?
P/1 – E você ficava sendo assistido?
R – Eu ficava sendo assistido. Então era uma experiência assustadora pra um universitário, pelo menos pra mim, entendeu? Não sei se para os outros colegas era assim. Mas era uma coisa que realmente você tinha que estar preparado, porque você ficava sendo assistido por pelo menos dois professores da área.
P/1 – E teve alguma situação que você lembre que tenha te marcado porque tenha sido especialmente difícil? Pode ser nesse estágio, pode ser no começo da vida profissional, com o paciente.
R – Não. O que eu lembro, o que eu me recordo foi de um estágio que a gente fez no... Como se chamava? Antigamente, esse hospital psiquiátrico chamava-se Juqueri. Você já deve ter ouvido falar...
P/1 – Já.
R – Em Atibaia. A cidade era Atibaia. Foi uma experiência muito dolorida, pelo grau de, vamos dizer assim, doença mental que a gente observou. É uma coisa bem difícil. Então isso me marcou muito, entendeu, naquela época. Mas como você tinha que ter contato também com esse tipo de paciente, pra você visualizar toda a área profissional. Não que a gente iria trabalhar com aquilo, mas você tinha que ter aquele contato pra conseguir definir praticamente todas as doenças mentais que ali você tinha condições de ver ao vivo. Então foi uma experiência muito dolorosa.
P/1 – Tem uma situação? Você se lembra de uma situação em específico?
R – Eu lembro, assim, vagamente de uma situação de um paciente que ele tinha perdido totalmente a noção de tempo que ele estava ali. Pelo que ele relatou pra gente, depois pelo contrato que a gente teve com o prontuário dele, ele estava ali há muitos anos, mas muitos e muitos anos, e ele falava que estava ali há aproximadamente uns três, quatro anos, entendeu? E fora outros pacientes de um grau de problema mental muito grave, muito terrível.
P/1 – Isso foi durante a faculdade, essa experiência no Juqueri?
R – Durante a faculdade. Era um estágio obrigatório.
P/1 – E quando você se formou, Paulo, com quê você foi trabalhar? Como essa entrada no mercado mesmo de trabalho?
R – Tá. A minha área, como eu já relatei, é a área clínica, mas na época, como eu vim para o interior, eu não consegui atuar na área clínica. Então a minha opção foi atuar numa área que era o que tinha no interior na época, na área de psicotécnico. Você atuava na área de habilitação de carteiras de motorista. Até hoje existe isso. Mas foi o que eu comecei a atuar logo que eu me formei.
P/1 – E você voltou pra Herculândia?
R – Eu voltei pra Tupã. Eu voltei pra Tupã. E na época, eu já adquiri um instituto, na época chamava-se Instituto Psicotécnico, e comecei a atuar na área profissional nesse psicotécnico, com habilitação de carteiras de motorista.
P/1 – Mas era seu próprio negócio assim? Você que abriu.
R – Isso. Meu próprio negócio.
P/1 – Tinha um nome esse instituto?
R – Instituto Psicotécnico de Tupã.
P/1 – E por que você veio pra Tupã, Paulo?
R – Porque os meus familiares estavam aqui. Eu não vislumbrei muito a questão profissional lá pra São Paulo, pra Campinas, que eram onde eu estava acostumado a frequentar na minha época de universidade. Eu só consegui ver alguma coisa aqui perto da família, então eu vim pra cá. Depois disso...
P/1 – Quanto tempo você trabalhou nesse instituto psicotécnico?
R – Eu trabalhei de 79 a 86. Só que nessa fase também, aí sim, eu fui pra minha atividade profissional realmente que eu tinha me estabelecido lá na universidade, que foi a área clínica. Eu abri uma clínica e eu consegui conciliar as duas coisas: o psicotécnico e a área clínica. Eu devo ter ficado atuando na área clínica mais ou menos uns seis anos também.
P/1 – E como foi essa experiência na área clínica?
R – Muito boa. Muito agradável, porque realmente era aquilo que eu tinha optado na minha formação. Foi boa. Nessa época, eu me realizei profissionalmente.
P/1 – Quais foram os maiores desafios, você acha, nessa coisa da área clínica? Que é uma área difícil, delicada, né?
R – Eu acho, assim, que o maior desafio não foi nem na questão minha profissional, mas foi na questão... Naquela época, a psicologia ainda era um tabu. Isso foi em 1980, por aí. Então era muito difícil você conseguir colocar na cabeça das pessoas que um relacionamento profissional, uma terapia, uma psicoteria, era uma coisa extremamente saudável. Naquela época era mais a área psiquiátrica que o pessoal procurava. Depois realmente a coisa evoluiu muito e hoje eu acredito que a área da psicologia tem um campo enorme aí, cada vez mais as pessoas se envolvem com esse campo.
P/1 – Mas você acha que na época tinha uma resistência?
R – Tinha uma resistência muito grande.
P/1 – E como foi? Você abriu a clínica em Tupã mesmo?
R – Em Tupã.
P/1 – Como foi essa coisa com o paciente? Como as pessoas chegaram até você? Foi fácil esse início? Foi difícil?
R – Não. Não foi fácil, mas eu me sentia muito preparado profissionalmente pra isso, então pra mim foi uma situação muito legal e muito agradável, por conta de eu me sentir muito capacitado.
P/1 – E como as pessoas chegavam até você? Por indicação?
R – Por indicação.
P/1 – Nessa época que você clinicou, você falou uns seis anos pelos menos, né?
R – Isso.
P/1 – Teve uma situação especialmente marcante, uma história que você tenha vivenciado, que tenha sido forte?
R – Não. Na área de clínica, não. O que eu me lembro de uma coisa marcante foi um paciente que eu tive na área de seleção lá pra habilitação de carteira de motorista, eu lembro que profissionalmente consegui ajudar essa pessoa num problema que ela tinha muito grave. Esse paciente tinha um problema de disritmia, que eu consegui detectar com os exames que eu fiz nessa pessoa, com uns testes que eu apliquei na época. E eu consegui ajudar essa pessoa a descobrir um problema que ele tinha neurológico, e depois essa pessoa veio me agradecer, tal. Porque, na verdade, o psicotécnico, você só aplica o teste, e ali se você detecta alguma coisa, você passa pra pessoa e reprova, e a pessoa tá reprovada. Nesse caso, eu achei que devia encaminhar pra um neurologista, tal. Foi o que aconteceu. E depois a pessoa me agradeceu muito por isso.
P/1 – E nessa fase, esses anos que você tá descrevendo pra gente com o instituto do psicotécnico e a clínica, seus filhos nasceram nesse período? Eu não sei se você tem mais de um além do Paulo.
R – Tenho três filhos.
P/1 – Três filhos.
R – Isso.
P/1 – E o Paulo é o primeiro, ou não?
R – O Paulo é o primeiro.
P/1 – Foi nessa fase que veio a gravidez?
R – Foi. Eu tenho três filhos: o primeiro é o Paulo, o segundo é o Marcelo, a terceira é a Renata. O Paulo nasceu em 80, o Marcelo em 83 e a Renata em 85.
P/1 – E o que eles fazem, seus filhos? Eles trabalham os três já?
R – Trabalham. O Paulo é veterinário, presta serviço pra Nestlé; o Marcelo é piloto profissional de freestyle, motocross, inclusive cinco vezes campeão brasileiro, uma vez campeão mundial, recentemente na Alemanha; e a Renata é esteticista.
P/1 – Conta pra gente como foi a gravidez do Paulo, como você ficou sabendo da notícia.
R – Tá. A notícia da gravidez foi uma notícia inesperada, tal, a gente ainda estava na faculdade, eu tava terminando o meu curso, e aí a Neide ficou grávida. Automaticamente, a gente já marcou o casamento. Eu me formei em julho e nós nos casamos em 15 de setembro de 79.
P/1 – E como foi a gravidez dela? Como foi acompanhar essa gravidez?
R – Foi bastante tranquilo. Como eu já te disse em outra ocasião, nós tínhamos certeza do que nós queríamos, que a gente queria realmente ficar junto. E foi uma gravidez muito tranquila, muito desejada pelos dois, pela família toda. Foi muito legal.
P/1 – Você acompanhou o parto?
R – Não. Não acompanhei.
P/1 – Mas você lembra como foi? Foi um parto normal? Foi até o hospital? Você tava nesse momento em que foi o momento do parto?
R – Estava. Eu lembro que eu trabalhava em Tupã, nós morávamos em Herculândia, o pessoal ligou pra mim, que a Neide estava entrando em trabalho de parto, automaticamente a minha família já a trouxe pra Tupã, e aí eu acompanhei o parto, mas eu não entrei na sala de parto. Mas eu estava junto com a minha esposa e tudo mais, sempre estive junto.
P/1 – E você lembra quando você viu o Paulo a primeira vez ou pegou ele nos braços a primeira vez, como foi?
R – Na verdade, eu nunca tive muito jeito pra isso (risos). Então na verdade eu só vi lá no local onde os bebês ficam, no berço, tal.
P/1 – E como foi a sensação? Você se lembra do que você sentiu?
R – Ah, foi muito legal. Foi muito bom. Na realidade, a gente tava esperando um filho e foi muito prazeroso e não foi nada uma coisa indesejada, foi uma coisa realmente que a gente queria. Ela foi antecipada, mas nada que causasse problema pra gente.
P/1 – E como foi ser pai, Paulo? O que mudou na sua vida? Tanto com o Paulo, como com os filhos que vieram depois?
R – Olha, eu acho o seguinte, as responsabilidades mudam quando você se torna pai. Embora eu ache que as pessoas deveriam ser pais com um pouco mais de idade, com um pouco mais de maturidade. Eu acho que eu fui pai, na época eu era muito imaturo ainda, então a noção de paternidade, ela vai se desenvolvendo. Eu acredito que quando você tem o primeiro filho, você ainda não tem muita noção do que é realmente ser pai. E a gente vê isso com o passar do tempo. Você vai amadurecendo, tal, nos próximos filhos é que você vai realmente adquirindo essa maturidade. Mas é uma experiência única na vida da gente. Eu acho que não tem nada a que se compare a ter um filho.
P/1 – Você tem netos já?
R – Tenho.
P/1 – Conte-me um pouco como... Eu não sei quantos netos você tem. Como é a sensação de ser avô? Como é ser avô?
R – Aí que eu te digo que é diferente, porque a tua visão da vida é diferente, você já tem mais maturidade, você já tem mais tempo de estar com essa criança. Eu tenho um neto de dois anos, e hoje é a alegria da família.
P/1 – Como ele chama?
R – Thomas.
P/1 – E ele é filho de qual dos seus filhos?
R – É filho do Marcelo.
P/1 – E a experiência de ser avô é uma experiência diferente?
R – É muito diferente.
P/1 – Em que sentido?
R – Na questão da maturidade, na questão do tempo que você dedica ao neto. Na verdade, quando você tem um filho, é a época que talvez você esteja mais atribulado na tua área profissional e tudo mais. Você tá muito preocupado com a tua atividade financeira, aquela coisa de você manter a família e tudo mais. Com o neto já é diferente, eu já estou praticamente aposentado, estabelecido, então você tem mais tempo e você tem mais maturidade pra entender o que uma criança precisa de um adulto. Então acho uma experiência bem legal também.
P/1 – É bom ser avô? Foi bom ser avô?
R – É muito bom, muito bom.
P/1 – Quero voltar um pouquinho agora então na sua vida profissional e entender como foi essa virada da clínica e do instituto psicotécnico pra virar um produtor rural. Como isso aconteceu na sua vida?
R – Na verdade, eu virei um produtor rural nessa época, eu fiquei aproximadamente quase dez anos com uma atividade leiteira numa outra propriedade, que era dos três irmãos. Essa propriedade, ela só tinha uma atividade leiteira. E fiquei ali conciliando com a minha área profissional ainda, uma parte do tempo, depois eu fui só pra atividade leiteira, foi aí que eu abandonei a minha área profissional de psicologia.
P/1 – E como você tomou essa decisão?
R – Foi mais por questões financeiras, não por uma questão profissional. Aí eu resolvi realmente abandonar. Eu tava com três filhos novos, eu tinha que de alguma forma sustentar a família, então eu fui pra atividade de produtor rural.
P/1 – Quantos anos você tinha? Ou em que ano foi isso, mais ou menos?
R – Isso foi em 84. Eu fiquei na atividade leiteira, como produtor rural, até em 94. Só que nesse meio tempo, eu já tive outra transição pra atividade industrial. Em 87, eu fiquei conciliando a produção rural com a atividade na indústria, que também era ligada à atividade leiteira.
P/1 – E qual era essa indústria?
R – Essa indústria era o Leite Hércules.
P/1 – Que era da sua família e você assumiu?
R – Isso. Que era da família e eu assumi essa atividade em 1987.
P/1 – E começou a conciliar as duas coisas?
R – Isso. Quando eu assumi essa empresa, era uma empresa relativamente pequena, e ao longo do tempo a gente foi transformando e essa empresa se tornou uma empresa, acredito eu, de médio pra grande porte na área leiteira.
P/1 – Hoje em dia, Paulo, você ainda concilia essas duas atividades? A Hércules existe ainda?
R – A Hércules existe.
P/1 – Então você trabalha como produtor rural, mas também...
R – Aí houve outra transição. Houve uma venda dessa propriedade que eu tinha como atividade de produtor rural. Nós vendemos, aí eu assumi só a empresa realmente. E na empresa, eu trabalhei lá por 21 anos. Esse foi um dos maiores desafios da minha vida, que eu consegui transformar uma empresa muito pequena numa empresa muito grande.
P/1 – Eu queria que você falasse pra gente, em linhas gerais, pensando na cadeia produtiva do leite, eu to pensando assim, como alguém leigo, a gente compra o leite pronto pra consumo, consome. Eu queria entender um pouco assim, desde o produtor rural, passando pela empresa, já que você tem ligação com toda essa atividade, qual o caminho que o leite faz antes de chegar pronto para o consumo na casa das pessoas? E de que maneira o seu trabalho esteve envolvido nessa cadeia, tanto como produtor, como empresário?
R – Tá. O leite inicia no campo e... Na minha época já, eu fui um dos pioneiros lá na minha propriedade rural a ter o tanque de resfriamento. Naquela época eu já tirava, em 84, meu leite já era tirado com máquina, então nós resfriávamos o leite, tinha um caminhão próprio que pegava esse leite. Na época, não era ainda do meu tanque de resfriamento produtor pra um tanque de resfriamento caminhão-tanque, eram em latões ainda de 50 litros. Esse leite, ele ia da propriedade para a indústria e lá ele era processado. Ou pra área de processo, nós fabricávamos queijo lá também, ou pra área de envase de leite, propriamente dito.
P/1 – E quando se fala de processamento, o que é feito com esse leite pra que ele possa ficar pronto para consumo?
R – Na época que eu assumi a empresa, nós só trabalhávamos com leite pasteurizado, então o processo era a pasteurização. Fazíamos a pasteurização e envasávamos o leite no saquinho plástico, que ainda existe até hoje.
P/1 – E aí isso ia para os locais de comercialização, é isso?
R – Exato.
P/1 – Vocês distribuíam.
R – Isso. Havia uma distribuição, um transporte próprio, que a gente distribuía na região toda.
P/1 – E na propriedade, você falou “o leite começa no campo”, eu queria entender um pouco como é uma propriedade rural de pecuária leiteira. Quais são as atividades? Quais são os cuidados? Como era na sua, na propriedade que você trabalhava na época?
R – Uma propriedade leiteira, você tem que ter o pastejo, que é aonde o gado vai pastejar, pastorear, e as matrizes, que são as vacas produtores de leite, as novilhas e o estábulo, que é onde você tira o leite. Esse leite é ordenhado praticamente duas vezes por dia, alguns produtores rurais ordenham até três vezes por dia, mas no meu caso eram duas vezes. Esse leite, como eu já disse, era armazenado num tanque de resfriamento. E também, em contrapartida, você tem... Naquela época, nós fazíamos silagem de milho, que é o alimento que você dá na entressafra para o gado, porque nessa época você não conta com o pasto. Na época de inverno, você não tem o pasto, ou a atividade de brota do pasto é muito pequena por conta do frio, então você tem que fornecer outro alimento para o gado, além de uma ração balanceada, que você fornece também pra esse gado. Isso era na minha propriedade lá em 1984, mais ou menos era assim que a gente conseguia tocar a atividade leiteira.
P/1 – E é uma propriedade de pequeno porte? Pra gente entender um pouco as proporções.
R – Nessa propriedade, eu cheguei a tirar 700 litros/dia de leite. Nós tínhamos outra propriedade, que era a Fazenda Santo Antônio, que na verdade chegamos a tirar dois mil litros de leite lá, dia. Mas não era eu que estava à frente dessa propriedade, era o meu irmão que era agrônomo.
P/1 – E nessa parte da empresa que você mencionou pra gente que foi um grande desafio pra você.
R – Exato.
P/1 – Eu queria que você explicasse por quê. Você ficou quanto tempo?
R – Vinte e um anos.
P/1 – Como foi o início e quais foram os principais desafios profissionais?
R – Na verdade, eu tive que ir pra essa empresa por razões financeiras também. Como o me pai já tinha essa empresa, e naquela época tava muito difícil atuar na área de psicologia, a gente resolveu fazer um teste lá e ver se eu me enquadrava em alguma coisa pra gente ter uma atividade e um ganho a mais pra poder tocar a família da gente de uma forma tranquila. Eu te digo que foi muito difícil, porque primeiro que não era a minha área, a área industrial não era. Eu já tinha atuado no campo, mas é completamente diferente de você estar com uma indústria. E eu não tinha noção nenhuma da parte administrativa. E eu estava pegando uma atividade extremamente nova pra mim, então foi realmente difícil.
P/1 – Qual era a sua função dentro da indústria?
R – No começo, como eu disse no início da entrevista, meu pai era uma pessoa extremamente... Como eu posso dizer? Ele gostava das coisas muito corretas, entendeu? E ele achava que pra você atuar numa atividade, você tinha que conhecer todos os setores, então ele me colocou pra fazer estágio em todos os setores da empresa, desde recepção de leite, até fabricação, envase, produção, todos os setores. Enquanto eu não atuei em todos os setores, ele não me colocou na área administrativa. Então foi só depois disso tudo que eu fui pra área administrativa.
P/1 – E como foi essa experiência?
R – Também foi difícil, porque até então eu não tinha nenhum contato com isso. Então foi realmente muito difícil. Mas com o passar dos anos, eu fui me adaptando a essa nova situação e fui conseguindo tocar a empresa de uma forma até bem tranquila. Quer dizer, eu me adaptei muito a essa nova atividade que eu assumi.
P/1 – E essa empresa pertence a sua família até hoje?
R – Não. Essa empresa, eu fiquei nela como diretor-presidente, éramos sócios. Primeiro o meu pai. Depois eu assumi a empresa, depois meu pai deixou a empresa, e ficamos sócios os três irmãos. Os meus dois irmãos não atuavam na empresa e eu atuava como diretor-presidente, no final. E essa empresa, eu a assumi até 2008, foi quando houve uma crise muito grande no setor, uma crise econômica mundial, e a gente resolveu vender a empresa.
P/1 – Então vocês venderam em 2008?
R – Em 2008.
P/1 – E pra um grupo? Pra quem foi feita essa venda?
R – Nós vendemos pra um grupo que chama Bel Chocolates, de Marília. Que por sinal assumiu a empresa muito bem, a empresa tá de vento em poupa.
P/1 – E aí você voltou a trabalhar exclusivamente como produtor rural? Conte-me um pouco como foi essa mudança.
R – Exatamente. Eu fiquei praticamente sem atividade nessa época. Foi quando eu fui atrás de um sonho, que eu sempre fui muito ligado à motocicleta, eu adoro moto, sempre fiz passeio de moto, sempre que posso, eu pego a minha moto e vou. E não faço viagens pequenas, não, faço viagens grandes. Já fui para o Uruguai, já fui para o Paraguai de moto. Então sempre tive isso na minha cabeça. Sempre foi um hobby. Mas eu tinha vontade de ter uma atividade relacionada ao motociclismo, foi quando eu vendi a empresa em Herculândia e fui pra Ribeirão Preto e montei uma atividade lá com motocicleta.
P/1 – Que atividade é essa?
R – Eu comprava, vendia moto, fazia passeio de moto.
P/1 – Tinha um nome? Era uma empresa? Tinha um nome?
R – Essa minha empresa chamava Califórnia Bikers. Fiquei lá quatro anos, realizei meu sonho e fechei a empresa, achei que meu negócio era andar de moto mesmo como hobby. E aí voltamos pra Marília nessa época pra cuidar do neto.
P/1 – Foi quando o seu neto nasceu?
R – Foi quando nasceu o meu neto.
P/1 – Teve a ver essa decisão de fechar a empresa e voltar com o nascimento dele?
R – Não. A empresa, a gente achou que era uma coisa que não nos traria benefício financeiro. Ia demorar muito até a atividade começar a ser rentável, entendeu? Então a gente achou por bem fechar a empresa, e o estoque tinha, nós vendemos. Mas foi uma fase muito legal.
P/1 – Conta um pouco como nasceu essa sua paixão pelo motociclismo e essas viagens.
R – Eu não consigo te falar o porquê nasceu isso. Eu acho que é uma coisa que era inerente a minha personalidade, porque desde criança, mas desde criança mesmo, eu via uma moto, eu ficava alucinado. E foi um sentimento que foi evoluindo, entendeu? E aí quando eu pude, eu já tive a minha primeira moto, 80 e alguma coisa, 82.
P/1 – Você lembra como você comprou a primeira moto, que moto era?
R – Eu fiz um consórcio, paguei acho que 50 meses esse consórcio, e eu adquiri minha primeira moto.
P/1 – Qual era a moto?
R – Era uma Agrale na época. Eu não vou saber te precisar quantas motos eu já tive, porque foram muitas. Mas sempre gostei, sempre tive muito juízo também pra que não acontecesse nada, porque realmente a gente sabe que moto é perigoso, tal. Mas eu já fui ter moto quando eu já estava casado, tudo, então não tive nenhum problema com isso, pelo contrário.
P/1 – E você teve uma moto preferida assim?
R – Quando eu cheguei à Harley Davidson, foi o auge do meu hobby, entendeu? Aí tive várias Harleys já. Atualmente tenho moto ainda. Mas sempre gostei muito de viajar, minha esposa sempre me acompanhou também.
P/1 – De moto?
R – De moto. Fizemos viagens pra Gramado, viajamos o Sul todo, aqui pra Minas, Minas Gerais. Também sozinho. Fui para encontros de Harley no Paraguai, fui para o Uruguai de moto. Sempre viajei, sempre gostei.
P/1 – E nessas viagens de motos, você teve alguma experiência marcante? Uma viagem que tenha sido especial, uma situação que você tenha vivido, inusitada?
R – Ah, eu tive várias experiências, vários encontros de motos que me deram muito prazer. Isso sempre me deu muito prazer. Mas assim, alguma coisa marcante, eu não sei te dizer, porque foram muitas coisas boas. Eu só tive experiências boas com moto nas minhas viagens, tanto sozinho, como com a minha esposa. Sempre foi muito bom.
P/1 – E quando você fecha essa empresa em Ribeirão, você volta pra Marília pra ajudar a cuidar do neto, né?
R – Isso.
P/1 – E essa propriedade que você tem hoje, nesse momento ela já existia? Como você volta a trabalhar como produtor rural?
R – Na verdade, foi assim, quando eu comecei a desativar a minha atividade com motos em Ribeirão, o Paulo já estava exercendo a profissão de médico veterinário e tal e já estava na atividade leiteira. Então ele sempre... Na verdade, até me esqueci de relatar isso. Na minha indústria, quando o Paulo se formou, ele já foi trabalhar lá como técnico de campo, entendeu? Só que depois eu vendi a empresa, ele foi obrigado a sair da empresa. Então como ele sempre tava ligado a leite, à atividade leiteira, eu também, ele sempre me dizia: “Pai, você tem que voltar a exercer a atividade leiteira, que agora a atividade leiteira mudou muito, os projetos são outros. O próprio processo da atividade leiteira hoje é diferente do que você exercia na época, que você tinha propriedade lá em Herculândia”. Então isso sempre foi uma conversa que nós tivemos. E aí deu certo, que a gente desativou a atividade lá em Ribeirão e adquirimos essa propriedade aqui com a intenção de montar a atividade leiteira aqui.
P/1 – Qual o nome dessa propriedade?
R – Aqui é Sítio São Francisco.
P/1 – Isso foi em que ano, que vocês adquiriram o sítio?
R – Nós estamos em...
P/1 – A gente tá em 2014. Foi em 2012, é isso? Você falou que ficou quatro anos em Ribeirão.
R – É. 2012. Faz dois anos. Mas a atividade leiteira aqui começou em agosto de 2013. Quer dizer, a gente já vinha preparando a empresa, fazendo os investimentos todos pra ingressar nessa atividade leiteira, mas que a gente começou realmente a tirar leite aqui foi em agosto de 2013.
P/1 – Você mencionou que o Paulo te dizia que a atividade tinha mudado muito nos últimos anos.
R – Isso.
P/1 – Que mudanças são essas da época em que você trabalhava como produtor rural e pra hoje, essa retomada?
R – Ah, desde área técnica até a questão operacional realmente. Naquela época, a gente fazia a silagem de milho, que eu te falei, como complemento de ração no inverno. Hoje já mudou tudo. Hoje, todos os piquetes são irrigados aqui na propriedade, já não se tem mais a necessidade de fazer uma silagem de milho. Realmente, essa questão aí já é uma questão mais na parte técnica, que o Paulo que conseguiria explicar essa situação toda. Mas eu posso te dizer que mudou muito, tanto na parte gerencial, como na parte operacional.
P/1 – E você sente que melhorou? Melhoraram as condições de produção?
R – Sem dúvida. Melhorou muito. Hoje você toca uma propriedade leiteira com mais tranquilidade, porque a atividade é uma atividade que exige de você dedicação total. Mas da forma como tá sendo tocada hoje é um pouco mais tranquilo.
P/1 – E você disse que exige dedicação total, por quê? Explica um pouco pra gente quais são os desafios, qual o empenho que você tem que ter.
P/1 – Primeiro, que o leite é um produto perecível, e numa atividade profissional, produtor rural, a atividade de leite conta com muitas variáveis. Começa que você conta com a variável do clima, apesar de que agora já tem a irrigação, então por isso que eu digo que já é mais tranquilo. O gado é um gado extremamente, assim, como eu posso te falar?
P/1 – É frágil?
R – Extremamente frágil. Você tem que estar em cima 24 horas, desde parição, depois a hora que o gado começa a entrar no estábulo, você começa a tirar o leite, a questão da higiene que você tem que ter e tudo mais. Então realmente são 24 horas de dedicação. Você tem que estar em cima, porque senão é complicado.
P/1 – Qual o gado que vocês trabalham aqui?
R – Aqui nós trabalhamos com Jersey, 90% são Jersey.
P/1 – E qual a quantidade vocês têm? Quantas cabeças?
R – Aproximadamente, umas 80 cabeças.
P/1 – E a produtividade de vocês hoje de leite, em litros de leite?
R – Hoje nós estamos com aproximadamente 300 litros. Como nós estamos praticamente montando a atividade ainda, nós não atingimos ainda o que a gente quer atingir em termos de volume de leite. Mas eu acredito que daqui até o final do ano, a gente já consiga atingir por volta de 600 litros e manter esses 600 litros.
P/1 – É bem recente, na verdade, não deu nem um ano ainda.
R – É muito recente.
P/1 – Eu queria que você contasse um pouco, Paulo, como foi essa aproximação com a Nestlé. Como você teve contato com o Nata e quando se estabeleceu essa parceria?
R – Tá. Essa aproximação, eu posso dizer que foi por conta do meu filho, que é um técnico que presta serviço pra Nestlé. Então não só por isso, por conta também de como eu já estive do lado da indústria de leite, eu sempre tive a Nestlé como um modelo de empresa, não só na atividade leiteira, como em outras atividades que ela atua. Então eu sempre tive um sonho, se tivesse uma propriedade rural, de fornecer esse leite pra Nestlé. Pelo que a Nestlé representa, realmente nesse segmento de produção de leite, em tudo que diz respeito à questão de leite. Eu sempre tive comigo que se eu não fosse fornecer pra empresa a qual eu era presidente, um dia eu iria fornecer pra Nestlé. E realmente teve tudo a ver, porque o filho tá aí trabalhando nessa área e presta serviço pra Nestlé, e esse foi o contato que eu tive com o pessoal da Nestlé.
P/1 – Quando vocês começaram a estruturar essa propriedade então, o Paulo já trabalhava como técnico do Nata.
R – Exatamente.
P/1 – E ele fez essa ponte.
R – Isso.
P/1 – Entre vocês.
R – É. Até por conta disso que ficou mais fácil de a gente realmente estar interagindo.
P/1 – E hoje vocês fornecem pra Nestlé?
R – Pra Nestlé.
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho dessa parceria do produtor rural com a Nestlé, dentro do Nata. Então assim, o que é esse suporte técnico que o técnico do Nata dá para a propriedade, no caso específico da sua propriedade? No que isso ajuda o produtor?
R – Na verdade, o que eu posso te dizer, que uma das razões pelas quais eu resolvi entregar o meu leite na Nestlé é em função de todo esse suporte técnico que ela oferece ao fornecedor de leite dela no Programa Nata. E isso, eu acho que é o maior diferencial da Nestlé em relação às outras empresas que teoricamente não dão esse suporte ao fornecedor.
P/1 – E o que é esse suporte, pra gente entender um pouco melhor?
R – Na verdade, o suporte técnico consiste em gerenciar toda a parte de manejo, de medicamento, a parte que você tem que ter de assepsia dentro da própria atividade ali do estábulo. Eu acho que esse é o diferencial da Nestlé, esse suporte técnico, pra que você tenha condições de fornecer um produto de qualidade, que já saia da propriedade com qualidade, e que chegando à empresa, à Nestlé, ela tenha condições de colocar ao consumidor, ou o produto para o consumidor, com extrema qualidade. Esse, eu acho que é o diferencial da Nestlé.
P/1 – E aí quando a gente pensa em leite, quando você fala em qualidade, que aspectos definem a qualidade do leite?
R – Envolve todos os aspectos, desde higiene, a parte de manejo do gado, a parte de sanidade do gado, tudo, limpeza. Todo esse aspecto aí, eles abordam e você tem que estar muito afinado com tudo isso aí pra que o teu produto passe na qualidade da Nestlé, pra que ele consiga ser colocado lá na empresa com qualidade.
P/1 – E, Paulo, você consegue citar pra gente um exemplo de intervenção ou de orientação que venha desse suporte técnico, que você tenha aplicado ou que você utilize hoje na sua propriedade? Qualquer exemplo de uma prática que você tem hoje, que tenha vindo dessa parceria.
R – Por exemplo, o que o técnico te fornece em termos de nutrição animal, isso eu acho extremamente importante, na questão de manejo desse gado.
P/1 – Por exemplo, quando você fala manejo, quais questões estão envolvidas?
R – A forma que você vai tirar esse leite, a forma que você vai fazer assepsia do úbere da vaca, você tem todo um suporte técnico em relação a isso. Coisas que se você não tivesse o técnico, isso ficaria prejudicado, consequentemente você vai produzir um leite de má qualidade. Então em todos os aspectos o técnico é importante. Isso eu acho que diferencia muito de muitas outras indústrias que a gente vê por aí. Isso eu posso dizer, porque eu já tive uma indústria de processamento de leite, então eu conheço bem esse lado. Se você chegar aqui com uma matéria-prima de má qualidade, logicamente que o teu produto para o consumidor final não vai ser um produto de qualidade. Volto a dizer, acho que esse é o diferencial da Nestlé.
P/1 – Você já falou isso um pouquinho, mas eu vou só retomar, quais você acha que são os benefícios que o produtor rural tem com essa parceria?
R – Primeiro, que você vai fornecer um produto de qualidade; segundo, que como a Nestlé paga esse produto por qualidade, você vai ter um ganho financeiro em cima disso. Eu acho que são os dois aspectos principais: a qualidade do produto que você tá mandando pra indústria e o teu ganho financeiro em relação a isso. Porque quanto mais qualidade você tiver, mais você vai receber, mais o teu produto vai valer.
P/1 – E esse ganho financeiro ajuda a investir na própria atividade, a desenvolver a própria atividade?
R – Com certeza, não tenha dúvida disso. Eu tenho conversado com alguns produtores que não entregam pra Nestlé, e que o diferencial nisso aí chega de 20 a 30%.
P/1 – É bem significativo então.
R – Bem significativo. Eu acho que faz toda a diferença.
P/1 – Você fala de 20 a 30% de lucro mesmo, é isso? E disso que você tá falando?
R – Eu posso te dizer que seria na questão de recebimento bruto, entendeu?
P/1 – Claro.
R – Mas é um diferencial muito forte.
P/1 – Claro.
R – E essa também é uma das razões pelas quais a gente entrega o leite pra Nestlé, porque existe esse diferencial.
P/1 – É um produto que vale mais no mercado.
R – Com certeza. E é uma coisa que gratifica a gente, porque também é um produto de qualidade que você entrega e que você sabe que em nível de consumidor, vai ser um também um produto de alta qualidade.
P/1 – Eu vou encaminhar agora para as questões finais, Paulo. São duas questões que a gente faz para encerrar, duas perguntas. Ante eu queria saber se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado e que você gostaria de dizer, qualquer coisa.
R – Acho que não, né, Paulinho?
R – Outra questão que eu acho importante da assistência técnica é que você tem um gerenciamento global de toda a sua atividade, e um gerenciamento de custo, que é uma coisa muito importante em qualquer atividade. Se você não tiver gerenciamento do custo da sua atividade, você tá fadado a não conseguir resultados. E esse gerenciamento que o técnico te faz, nesse gerenciamento você consegue saber onde estão as tuas falhas e onde você pode recorrer pra melhorar essa situação e pra você melhorar o teu ganho na atividade.
P/1 – Então a penúltima pergunta: quais são seus sonhos hoje?
R – Aposentar-me (risos). Corta, viu?
P/1 – Seu maior sonho é se aposentar?
R – Não. Não é, não. Na verdade, o meu maior sonho hoje é ver isso que a gente começou a construir aqui, esse processo todo, é ver esse processo todo concluído, é ver a atividade rendendo frutos, não só financeiros, mas como uma atividade que dê prazer, prazerosa. Meu sonho hoje é esse. E isso aqui tá me dando muito prazer, e acredito que financeiramente daqui a pouco a gente vai colher esses frutos.
P/1 – Bacana. E, por fim, como foi contar a sua história?
R – Eu achei muito legal essa oportunidade de estar aqui podendo falar da minha vida pessoal, falar da minha vida profissional. Não é sempre que a gente tem essa oportunidade. Adorei. Gostaria de agradecer a vocês pela oportunidade que me deram. E foi muito legal.
P/1 – Tá certo. Obrigada, a gente que agradece.
FINAL DA ENTREVISTA
Recolher