Correios 350 aproximando pessoas
Depoimento de Irene Rodrigues O. T. Ribeiro
Entrevistada por Isla Nakano
São Paulo, 03/07/2013.
Entrevista n° HVC028
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por ?
P/1 – Dona Irene, primeiro eu queria agradecer a senhora por nos dar essa entrevista, sentar e co...Continuar leitura
Correios 350 aproximando pessoas
Depoimento de Irene Rodrigues O. T. Ribeiro
Entrevistada por Isla Nakano
São Paulo, 03/07/2013.
Entrevista n° HVC028
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por ?
P/1 – Dona Irene, primeiro eu queria agradecer a senhora por nos dar essa entrevista, sentar e conversar
com a gente. E para começar eu queria que a senhora falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ok. Primeiro sou eu que agradeço essa oportunidade. Eu sou a professora Irene Rodrigues de Oliveira Teixeira Rodrigues. Nascida na cidade de São Paulo, dia 16 de julho, do ano de 1950. Nasci em São Paulo e continuo em São Paulo, sempre morei aqui, há 62 anos.
P/1 – Irene, me conta uma coisa, como é que é o nome dos teus pais?
R – Meu pai, Andes Rodrigues de Oliveira, graças a Deus vivo, 85 anos, às vésperas de fazer 86 agora em agosto. Minha mãezinha, Maria da Silva Oliveira, também – graças a Deus – viva, 86 anos, embora neste momento ela esteja com demência senil, mas está pertinho de mim.
P/1 – Irene, você chegou a conhecer seus avós?
R – Conheci. Eu conheci meus avós maternos, somente a mãe da minha mãe, Dona Bárbara. E meu avô morreu quando eu tinha 2 anos então eu não me lembro dele, eu me lembro do dia do velório dele, porque na época era em casa que se fazia os velórios. Por incrível que pareça, mesmo eu tendo 2 anos, eu lembro de algumas cenas do velório, não sei como. E meus avós paternos também, eu conheci só a minha avó, Rita de Cássia, meu avô não conheci, já era morto quando minha mãe se casou.
P/1 – E qual é a história dessa família?
R – A minha família, por parte de mãe, era uma família humilde, mamãe de pouca escolaridade, minha avó era analfabeta, mas eram pessoas, eu acho que até para o tempo delas, e pelo estudo que ela tinha, minha avó era muito inteligente. Eu nasci cercada nessa família com muito carinho. Sempre morei no bairro onde estou hoje, que é Vila Carrão. Minha família por parte de mãe é tradicional também no bairro. Meu pai veio do interior pra cá, ele nasceu em Botucatu, veio com 17 anos, conheceu minha mãe, namoraram cedo, casaram razoavelmente cedo, com 22 anos, eu sou a filha única desse casamento, embora minha mãe tenha tido três filhos depois de mim, mas naquele tempo também o parto era mais difícil, nasceram mortos. Sou filha única. Eu sou feliz. Minha família com certeza é muito legal.
P/1 – Irene sua família, seus avós, tinha história de família? Alguém te contava história quando você era pequena?
R – Olha, eu lembro muito do meu pai, porque naquela época os meios de comunicação eram poucos, e não eram pra todos. Eu me lembro que o meu pai me contava histórias na hora de dormir. A minha avó contava história de família, alguns casos. Minha mãe, não era muito de contar história, era mais meu pai. Minha mãe sempre foi assim muito trabalhadeira, embora não tivesse escolaridade, mas sempre ajudou meu pai, ela lavava roupa pra fora a princípio. Depois, quando chegou minha idade escolar ela precisou ajudar, ela trabalhou fora, em fábrica. Meu pai já tem um lado meio que artístico, ele gostava de cantar, de tocar violão. Ele era seresteiro. deu muito trabalho pra minha mãe. Minha mãe até diz que quando ela conheceu meu pai ela gostou primeiro da voz dele, depois ele como pessoa. Ele cantava. Ela o conheceu numa festa de São João, cantando uma música. Eles contavam sempre essa história pra gente. É um amor muito bonito.
P/1 – E como é que era ter esse pai músico?
R – Eu também sempre gostei muito de cantar, e canto, essa parte eu herdei dele. Minha casa sempre foi muito alegre, sempre tinha festa, o povo cantando. Qualquer coisa era motivo de festa e ele gosta muito de tocar instrumentos principalmente de corda. Toca todos. Eu fui só pro lado da percussão, coro eu mexo um pouco, e gosto de cantar também. Então acho que isso eu puxei do meu pai. Minha mãe já sempre foi mais quietinha, ela fazia o cafezinho, fazia o bolo, recepcionava, mas a parte da cantoria era dele.
P/1 – E como é que era, seu pai tocava em festa? Como funcionava o dia a dia de trabalho dele?
R – Sim. Ele tocava. Ele tinha conjunto na época, chegou até a tocar em rádio, mas ficava difícil porque também tinha que trabalhar, ele tocava até tarde e para trabalhar no dia seguinte ficava complicado. Chegou uma época que ele teve que fazer uma opção, ele fez a opção por trabalhar e deixou a carreira artística, não foi em frente, mas continuou cantando em festinha, nos amigos, em casa, e a gente cantava até bem pouco tempo, agora ele canta pouco, mas ainda canta um pouquinho.
P/1 – E como o que ele trabalhava?
R – Meu pai ele é tecelão. Trabalhava em firma de tecelagem. Depois no final já trabalhava numa firma que era próxima de casa, vidraria, ajudante geral. Minha mãe também trabalhou numa outra vidraria. Trabalhava pra escolher copos, cristais. Mas ela veio a trabalhar depois que eu fui pra idade escolar. Trabalhou um pouquinho antes do meu nascimento. Ela brinca, porque a fábrica existe até hoje lá perto de casa, fala: “Você trabalhou nessa fábrica de borracha aí”, porque ela ia gestante comigo. EÉ, mas acho que trabalho mais mesmo foi isso, meu pai na tecelagem e depois meu pai na vidraria, e minha mãe depois também que eu fiquei maiorzinha, pra ajudar a custear meus estudos, porque não era como hoje que se você tiver boa vontade você tem boas escolas em qualquer canto, naquela época era mais difícil, então ela voltou para o trabalho por esse motivo.
P/1 – Irene, me conta uma coisa, como é que foi a tua infância na Vila Carrão? Conta um pouquinho pra gente.
R – A minha infância foi muito boa. Por eu ser filha única eu também fui por muito tempo quase que neta única, da parte da minha mãe, quando minha avó faleceu, ela só teve a mim de neta mesmo, era a querida, a preferida, porque só era única, mas também sempre fui muito habilidosa, carinhosa, sempre fui assim queridinha. Isso é muito bom. E da parte da minha avó paterna, do meu pai, tinha mais netos, mas eu sempre fui aquela que mais se achegava à avó, também era a predileta. Embora eu tenha sido de uma família humilde, eu sempre tinha tudo, porque eles faziam sacrifício e me davam tudo aquilo que estava ao alcance deles. Eu fui querida, fui mimada, fui amada, tive uma infância muito boa, sempre fui muito moleca, sempre gostei de brincar, de pular, jogar bola, tem até umas brincadeiras que nem era tão femininas que eu também gostava. Brinquei muito. Fui muito feliz.
E na minha adolescência também. Também sempre no bairro da Vila Carrão. Nasci e fiquei lá. Tive uma adolescência normal, graças a Deus, estudava. Nunca tive essas crises que agora os “aborrecentes” tem. Eu não me lembro de ter sido “aborrecente”. E foi indo, foi sempre ali no bairro. Ia em bailinho pra dançar. Eu ia muito à bailinhos. Naquela época tinha arraial. Era na época do festejo junino, alguns clubes faziam esses arraiais, a gente ia dançar. Sempre gostei de dançar, me destacava porque naquela época as pessoas que dançavam um pouquinho a mais se destacavam. A gente ficava no meio da dança, no círculo, todo mundo ficava olhando a gente dançar. Sempre fui desinibida, não tem jeito. Extrovertida. Tanto na infância, quanto na adolescência, acho que eu continuo.
P/1 – Irene, você falou que era moleca, até gostava de brincar. Qual era sua brincadeira preferida?
R – Olha, eu sempre gostei de bola. Eu brincava de bola com os meninos, futebol... Tanto que depois na fase de ginásio, na minha época era ginásio, agora é Ensino Médio, eu era goleira da seleção masculina. Porque depois do ginásio eu continuei na mesma escola fazendo o curso Normal. O curso Normal naquela época era só pra mulheres mesmo, agora que a gente tem mais homens no magistério, embora ainda continue sendo a minoria, mas na minha época tinha menos ainda. Então tinha aqueles torneios interclasses, e a gente não tinha jogador suficiente pra manter o time. Quem era o goleiro da seleção? Eu. Menina, eu era goleira até da seleção do curso Normal. Jogava com os meninos. Queimada, que na época também se jogava bastante. Eu sempre fui campeã, sempre fui capitã do time. Eu só não podia jogar vôlei e basquete porque não tenho tamanho. Mas era muito gostoso. Eu era muito moleca. Rodava peão. Jogava bolinha de gude. Mas também brincava de casinha. Mas gostava muito das brincadeiras dos moleques, eram mais ativas. Casinha era só arrumar as coisinhas e ficar segurando bonequinha, não tinha tanta graça.
P/1 – E como eram as comemorações nas suas famílias, tanto do pai quanto da mãe? Tinha aniversário, Natal, como que era?
R – Tinha, tinha. A gente sempre fez isso, sempre comemorou datas e aniversário principalmente. Natal e Ano Novo foi depois que eu fiquei maiorzinha que eu me lembro, mas eles faziam ceia, acordava à meia-noite, mas a gente sempre teve comemorações em datas que pra gente eram muito importantes, não só de aniversário como até de fundo religioso, Natal, Páscoa, a gente sempre comemorava, sempre esperei Papai Noel, deixava um capinzinho lá, porque achava que era o cavalinho dele, o meu não era de rena, o meu Papai Noel era de cavalinho, eu deixava o capinzinho porque sempre tinha depois alguma coisa, um presentinho. Acreditei em Papai Noel acho que muitos anos, mas isso acho que me fez bem, acho que um pouco de fantasia a gente precisa.
P/1 – Tem algum presente que o Papai Noel trouxe que você lembra que tenha ficado muito feliz?
R – Não, eu me lembro de um presente que eu ganhei, foi um bambolê. Eu era a rainha do bambolê. Sempre fui assim aparecida. Tinha lá um circo, na época eram os circos que vinham nos bairros, eu lembro até que uma vez veio um circo e lá teve um concurso de bambolê e eu ganhei o concurso de bambolê. Foram tantos presentes que eu ganhei, porque eu ganhava das duas avós, da minha mãe, do meu pai, eu me lembro desse bambolê. Pra mim, marcou porque eu ganhei o concurso e eu gostava do bambolê.
P/1 – E como era a casa das avós?
R – Por algum tempo quando eu era pequenina a gente morou com a minha avó, mãe da minha mãe, e depois a gente foi morar na casa da mãe do meu pai, que era assim uma casa muito grande e ela alugava. Eu lembro que eu morei um tempo ali também. Depois disso, meus pais passaram a morar em casas de aluguéis no próprio bairro. Morei, que eu me lembre, numas três casas, próximas, depois essa onde eu moro até hoje, que é casa própria.
P/1 – Irene, me conta quais são suas primeiras lembranças escolares.
R – Eu lembro. A minha primeira lembrança escolar... Naquela época a gente tinha que ter sete anos completos pra poder frequentar o primeiro ano e eu ainda não tinha porque o aniversário era em julho – está próximo meu aniversário – agora dia 16. Então eu não podia entrar na escola do estado porque eu ainda não tinha idade. Mas eu me lembro de uma professora, que hoje por sinal a vida me colocou, eu sou diretora também de escola, e a minha supervisora nessa escola estadual, a mãe dela que é essa professora, que foi na minha casa, pra que minha mãe me colocasse na escola porque era assim, foi uma das primeiras escolas de Ensino Municipal na cidade de São Paulo, e eu faço parte dessa história. Então a mãe dela veio na minha casa, porque a mãe dela era professora, família Galucchi, era uma família bem tradicional no bairro. O pai dela abriu a escola só que ela tinha que ter crianças pra poder abrir a escola. Foi o começo da educação básica na cidade de São Paulo. Como eu estava bem próxima dos sete anos eu fui pra essa escola. Eu me lembro dessa escola, era o primeiro aninho, mas era um pré-primário, foi minha primeira escola, eu fiquei alguns meses lá. Também na Vila Carrão, pertinho de casa. Depois dessa escola, quando eu fiz 7 anos, eu pude entrar numa escola estadual, que também está até hoje lá, Escola Frederico Vergueiro Steidel. Fiz os quatro anos primários, naquela época, agora Ensino Fundamental I. Me lembro até das professoras que tive, dos nomes, do prédio, de vez em quando vou até lá, porque agora sou amiga também da diretora que está lá. É bem tradicional a escola, bem antiga lá no bairro. Então meu primário foi lá. Depois eu passei para o ginásio, que seria de quinta a oitava, também no bairro. Existia uma escola, só que aí já foi rede privada, foi quando minha mãezinha foi trabalhar pra me pagar, porque era difícil Escola Estadual, tinham poucas. Então, chamava-se Ginásio São Paulo Apóstolo, era uma escola da rede privada, também no bairro. Foi onde eu fiz as quatro séries do ginásio. Depois, terminando o ginásio, a escola mesmo, os mantenedores, resolveram abrir escola Normal, que é pra magistério. Também fui pioneira, fui da primeira turma da escola Normal, daquela turma, no meu bairro. Curso de Formação de Magistério. Continuei lá mais três anos.
P/1 – Irene, nesse tempo escolar, bem lá pequenininha, quais foram os professores que marcaram sua trajetória?
R – Eu me lembro bastante. A minha primeira professora foi a professora Maria do Carmo, eu acredito que ainda esteja viva porque de vez em quando encontro com algumas das filhas dela, porque também era do bairro. E no meio do ano ela tirou licença gestante porque ela foi ter acho que a primeira filha dela. Aí veio uma outra professora substituir, Célia, Célia Guerra. E a gente falava “Professora Celinha”, porque ela era assim bem miudinha, bonitinha, e eu lembro dela, foi uma professora que marcou a minha vida, na primeira série. Eu sou daquele tempo ainda que a carteira era de madeira, aquela carteira pesada, tinha um orifício onde a gente tinha o tinteiro para molhar ali a caneta, porque era à pena. E ela foi minha professora de primeira série, no segundo semestre. Depois na segunda série eu tive uma japonesa, Alice. Depois na terceira série eu tive uma outra professora, Elza Fanganiello, ela era mais brava, e ela queria que a gente fizesse letra grande porque ela usava óculos na época, e eu ficava imaginando: “Será que é porque ela usa óculos ela quer a gente escreva grande?”, então eu fui obrigada a aumentar a minha letra. E na quarta série Amelina Perendial, também viva. A pouco tempo eu tive a felicidade de visitá-la porque eu fui ser diretora de uma professora e que é filha dela. Então, conversando, porque eu falo muito, eu vi que ela era filha da minha professora. Eu fui até a casa, fui visitar, e foi muito legal. De primeira a quarta série eu lembro de todas, inclusive com os nomes. Agora de quinta a oitava já não dá pra você lembrar de todos, mas tem alguns professores que marcaram. Tem o professor Martins, de Português. Porque eu sempre falei muito e ele era quietinho, eu dei muito trabalho pra ele, porque ele mandava eu ficar quieta, e era difícil. Eu não era malcriada, nunca fui, sem educação, nem rebelde, mas eu gostava de falar na hora que não podia. Eu lembro bem porque esse sofreu comigo. Mas sempre fui bem nas matérias. Eu lembro muito dele no ginásio. Depois do tempo de escola Normal, quando eu entrei, também na mesma escola, me lembro muito de um professor, João Camargo, que era professor de Educação Física. Eu sempre gostei muito dessa parte. Ele, além de professor de Educação Física, faleceu recentemente, também trabalhava na secretaria da escola, era um paizão pra todo mundo. Professor Camargo também, esse deixou lembrança boa na minha vida de escola.
P/1 – E, além desses professores, teve algum amigo que tenha acompanhado a tua trajetória?
R – Tenho sim. Na época mais do ginásio. Nós éramos em três, eu, a Maria de Lurdes, a Lurdinha e a Regina. Todas da mesma idade, só que a Lurdinha faz aniversário faz aniversário em janeiro, a Regina faz aniversário acho que em abril, e eu, que fazia em julho, e éramos nós três. Nós estávamos sempre juntas. Eu sempre tive um ano a menos do que elas porque faço aniversário em julho, mas sempre estivemos juntas. O irmão dela, João Fiore, era companheiro. O Odair também, que hoje é falecido. Éramos uma turminha assim muito boa. De infância e adolescência, eu me lembro bem mais dessas pessoas.
P/1 – E nessa adolescência o que vocês faziam? Onde vocês passeavam?
R – É, eu brincava muito, que é o que eu estou te falando.
E até tinha uns namoradinhos, sempre fui meio namoradeira, e eu acabava levando fora, a gente usava esse termo, do namorado porque ele passava e eu estava na rua jogando bola com os meninos e ele não se conformava. Eu joguei muito bola, muito. Gostava muito de jogar bola na rua. Mas a gente tinha os bailinhos, que era de noite, eu me arrumava, me perfumava, mais no finalzinho da tarde, e muito pouco tempo da noite, que tinha que chegar em casa 21h30 estourando. A gente tinha os bailinhos, cinema, a gente ia muito ao cinema, tinha o cinema do bairro. Todo domingo era religioso, a gente ia ao cinema. Era cinema, bailinho, jogos, eu sempre participei na escola de em campeonatos, acho que mais é isso mesmo.
P/1 – Irene, quando que você começou a pensar “O que eu vou ser quando crescer”?
R – Desde pequenina mesmo, porque pequena eu continuo até hoje. Eu sempre quis ser professora, sempre foi esse o meu sonho. Quando a gente brincava de escolinha eu gostava de brincar, eu sempre era a professora. Mesmo antes de me formar eu já dava aula em casa, particular, pra algumas crianças que tinham dificuldade. Eu sempre gostei. Eu acho que eu sou vocacionada mesmo para o magistério.
P/1 – E você começou a pegar gosto mais pelas matérias de humanas? Como é que foi isso?
R – É, eu gosto muito mais da parte de humanas e de Letras. Eu até brinco, eu falo que eu vou fazer uma escola sem matemática. Os professores querem me matar. Porque a molecada toda tem uma dificuldade tão grande em matemática. Não que eu tivesse, porque eu sempre me dei bem. Mas eu prefiro mais, eu gosto muito de Letras, de português, especialmente. Eu gosto mais da área de humanas mesmo. Mas a minha formação, eu fiz magistério, depois fiz Pedagogia, e eu fiz opção pelas matérias de dar aula no magistério, que agora quase não tem. Mas sou professora de Didática, História da Educação, eu gosto muito. Meu negócio é letra, número eu deixo mais de ladinho.
P/1 – E teve alguma outra profissão que tenha passado pela tua cabeça ou sempre foi o magistério?
R – É, eu gosto de cantar. Eu sempre brinco: “Quem sabe um dia a Rede Globo me descobre?”. Eu gosto muito de cantar, eu sempre digo “sou realizada na carreira do magistério”, mas se tivesse uma segunda opção seria realmente cantar. Agora eu também gosto, embora neste momento seja até delicado falar, também gosto de política, mas se fosse uma política que pudesse ajudar mais o meu próximo, por esse motivo acho que até
me engajaria.
P/1 – Irene, teve algum livro que tenha te marcado?
R – O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry. Nossa, aquele é meu livro de cabeceira. Você vê, esse livro, a primeira vez que eu li esse livro, quem me indicou foi a Lurdinha, essa minha amiga que eu falo que ela é minha “ídola”. Porque das três ela era a mais velha e a mais madura, sempre foi ela. E ela me falou desse livro, porque eu sempre gostei muito de ler, só que na época eu lia fotonovela. Eu adorava ler fotonovela, gibi, eu sempre fui moleca, então era isso que eu gostava de ler. E ela que me falou desse livro. Eu li, mas foi tão rapidamente, porque eu queria ler porque foi ela que me deu o livro pra ler, e eu não entendi tão bem o livro. Aí como eu disse a ela que eu tinha lido o livro ela ficava me perguntando: “Irene, o que você achou dessa parte?”, e eu pensava: “Gente, não vi isso que ela está falando no livro”. O que eu fiz? Uma releitura do livro, que é aquilo que a gente tem que fazer, sempre, releitura de livro, da nossa vida, dos nossos atos. E eu falei: “É impossível que a Lurdinha viu isso e eu não”. Eu voltei a ler com outros olhos e gostei muito, passei a entender o livro, esse é um livro que se você me perguntar “que livro você leu, você lembra?”, eu vou começar falando desse, eu lembro do livro e da Lurdinha.
P/1 – E quais foram as músicas que marcaram sua juventude?
R – Internacionais eu gostava muito de I can’t stop loving you, do Ray Charles. Gostava muito de John Rivers, porque eu dançava. Agora, nacional, da adolescência eu não me lembro de alguma especial. Eu lembro agora, eu gosto muito de Marisa Monte; Deixa eu dizer que te amo. Essa música eu canto em tudo quanto é canto que eu vou. Até os alunos da minha escola me pedem, quando tem reunião, “Dona Irene, a senhora não vai cantar hoje?” Pediam pra cantar essa. Gosto muito dessa música. Então da adolescência eu lembro muito da Celi Campelo, porque a gente dançava rock, Banho de Lua. As músicas daquele tempo.
P/1 – E como eram as roupas pra sair, pra ir pra bailinho?
R – É. As roupas, eu por ser filha única, meu pai era muito bravo, ciumento. Ele não me deixava usar minissaia, nessa época as roupas que a gente saía de casa eram o vestido mais compridinho, e tinha um cintinho no meio do vestido que a gente levantava. Olha, como eu era travessa! Chegando ao bailinho eu sempre levantava um pouco mais a saia pra ficar mais curta, porque eu fui umas das precursoras da minissaia, eu queria usa, mas meu pai não deixava, então eu fazia dessa forma, eu e as minhas amigas.
P/1 – Irene, você lembra dos uniformes escolares?
R – Lembro, lembro. Até com uniforme eu sempre fui assim: na escola que eu estudava, na época, Ginásio e Normal, era bem criterioso mesmo, você tinha que ir de uniforme. E no meu primário também. Eu sou do tempo que você tinha que colocar uma fitinha branca na cabeça senão você não entrava na escola. Eu sempre fui obediente, eu sempre usei meus uniformes direitinho. Minha mãe fazia um rabo de cavalo, eu me lembro que eu sempre tive cabelo comprido e ela fazia aqueles rabos de cavalo bem apertadinhos, botava aqueles laços bonitos, engomados. E depois, no Ginásio eu já me arrumava. Eu sempre dei um jeitinho de colocar uma coisa diferente, eu usava o uniforme da escola, colocava uma fita no cabelo e o brinco combinando. Tanto que naquela época tinha jornalzinho na escola e uma vez colocaram: “Em matéria de brincos e laços, a Irene é uma lojinha”. Porque eu sempre queria colocar um toque meu, não podia deixar de ir de uniforme, mas eu sempre quis colocar um toque meu. Eu botava um brinquinho diferente, um colarzinho, uma fitinha, que combinasse. Mas eu me lembro do uniforme. Tinha que usar uniforme, e eu usava.
P/1 – Irene, você falou no curso Normal, depois como que a sua carreira foi se encadeando para a vertente da educação, eu queria te perguntar: você falou que começou a dar aula já na sua casa. Conta um pouquinho disso pra gente.
R – Esse foi meu primeiro trabalho. Eu me lembro que na época meu pai até fez lá no quintal mesmo um espaço maiorzinho onde eu pudesse colocar uma lousa e eu comecei a dar aulas em casa, a faculdade eu fiz depois, nessa época eu só tinha mesmo o curso Normal. Comecei a dar aulas em escolas estaduais como professora substituta, naquela época era assim que chamava, depois prestei concurso, me efetivei. Como professora eu trabalhei em pouquíssimas escolas. Embora eu tenha trabalhado 30 anos antes de me aposentar, mas sempre ali no bairro, trabalhei em poucas escolas. E eu sempre trabalhei com as séries iniciais. Eu sempre gostei de alfabetizar, sempre. Eu trabalhei como professora uns 15 anos, depois é que fiz faculdade, eu já era casada, já tinha uma primeira filha quando eu fui fazer Pedagogia, porque eu queria também assumir a área de direção de escola.
P/1 – E você lembra o que você fez com seu primeiro salário?
R – Nossa. Difícil. A única coisa que eu me lembro é que desde que eu comecei a trabalhar eu sempre ajudei em casa, mas assim ficava comigo o meu dinheiro. Eu não me lembro o que eu fiz especificamente com meu primeiro salário. Mas eu sempre fui muito vaidosa, com certeza eu comprei alguma coisa pra mim que eu queria. Gosto muito de comprar sapato, roupa e sapato, mas sapato em especial. No mínimo devo ter comprado um sapato mais novo. Mas não me lembro. Não marcou.
P/1 – Agora, Irene, conta um pouquinho pra gente do desenrolar da carreira na educação, das tuas outras experiências profissionais.
R – Certo. Depois de ter me formado professora e ter atuado como professora primária, naquela época, agora Fundamental I, eu tive a necessidade de fazer uma faculdade, eu não queria parar por ali. Fui fazer faculdade, tinha já minha primeira filha, tive muito apoio do meu pai, da minha mãe, especialmente, porque ela tinha que ficar com a minha filha pra que eu pudesse fazer essa faculdade. Foi com muito esforço mesmo que eu fiz essa faculdade. Fiz Pedagogia e depois na mesma faculdade fiz Supervisão também. Em posse desse diploma, eu já era professora efetiva numa escola, encontrei uma grande amiga, que agora ficou minha amiga, que era diretora da escola, a Professora Elizabeth, ela também está aposentada pelo estado, mas é mantenedora também de uma escola particular. Uma pessoa que marcou muito a minha vida. E ela me convidou naquela época para eu ser vice-diretora dela, assistente de direção, era um cargo. Aí eu aceitei. Eu comecei então nesse lado administrativo. Trabalhei com ela bastante tempo, acho que quase uns 10 anos, depois o cargo de assistente de direção mudou para vice-diretora, eu continuei trabalhando. Depois vim pra uma escola no meu bairro também a convite de uma outra amiga minha, a Célia, vim ser vice-diretora dela. Acabei sendo diretora da escola e, por coincidência, a escola se chama Irene Ribeiro, e eu sou Irene Ribeiro. Eu até gostava muito de fazer travessura, quando alguém ligava pra lá e que eu atendia, as pessoas falavam: “De onde falam?”, eu falava: “Escola Irene Ribeiro”, quem está falando: “Irene Ribeiro”, e a pessoa insistia “Mas quem está falando?”, “Irene Ribeiro”. Quer dizer, eu também gostava de mexer com as pessoas. Então eu trabalhei nessa escola, Irene Ribeiro, pertinho da minha casa. Lá cheguei também a substituir direção, trabalhei na direção de lá muitos anos e estando lá depois me apareceu a oportunidade também de ser supervisora de ensino. Dentro da carreira do magistério eu fiz: professora, vice-diretora, diretora e supervisora de ensino. Trabalhei 15 anos como professora, uns 10 na direção, entre vice e diretora, e os 5 anos finais da minha aposentadoria foram na supervisão de ensino. Cheguei até ser indicada na época para ser dirigente regional, que era delegada de ensino na época, foi legal, envaideceu meu ego, mas eu preferi ficar onde eu estava, na supervisão, até porque meu cargo efetivo era professor, e se houvesse alguma volta eu voltaria pra sala de aula, não que eu não quisesse, mas estaria tirando alguém, que estaria no meu lugar. Eu cheguei até a supervisão de ensino, aí no finalzinho tirei licenças prêmios e abriu concurso nessa época de diretor de escola. Como meu cargo era professora efetiva, eu podia fazer esse concurso, porque eu teria uma aposentadoria como professora e poderia ter mais um cargo de especialista, no caso diretora. Fui fazer o concurso. Por isso que eu falo, acho que tudo tem também a mãozinha de Deus, eu acredito nele sempre. Eu fui fazer o concurso, eu não tive tempo, eu não estudei nada, só prática mesmo, porque eu sempre gostei de estudar tudo, eu sou aquela que lê rodapé, tudo que cai na minha mão eu tenho que ler, eu sempre gostei, sempre li muito. Talvez tenha sido essa bagagem que me ajudou. Fui prestar o concurso, passei, passei muito bem nesse concurso, fui bem classificada, ingressei logo. E nesse meio de tempo eu já tinha me programado para não parar de trabalhar. Eu falava: “Vou me aposentar no estado, porque foi no estado que eu trabalhei todos esses 30 anos”. Falei: “Mas eu quero então ir para a rede privada, mas continuando em escola”. Aí foi quando me surgiu o convite, eu fui indicada por uma dirigente, na época, pra trabalhar no Instituto Universal Brasileiro, com ensino a distância. Eles estavam abrindo novas subsedes e eu fui ser assistente de direção de uma dessas subsedes. Na época eu tinha passado no concurso pra diretora, já estava trabalhando no Instituto. Não resisti e fiquei nas duas funções até hoje. Sou diretora efetiva na rede estadual, faço manhã e noite, e sou diretora geral, agora, porque eu fiquei 4 meses como assistente de direção no Instituto. Como eu sempre gostei de inovar e trabalhar, eu sempre fiquei muito próxima dos mantenedores, mandava projetos... Eu acho que todos nós, em todo lugar que você está, você tem que colocar a sua marca, fazer alguma coisa diferente, porque fazer o normal é normal, fazer a obrigação é a obrigação, você tem que fazer a diferença. E eu tenho certeza que fiz a diferença. Depois de 4 meses nesse cargo, eu fui convidada, até pelo Sr. Luiz Fernando, um dos mantenedores, para ser coordenadora geral, coordenadora pedagógica do Instituto Universal Brasileiro, foi um desafio, mas eu aceitei, encarei e acho que me dei bem. Depois de alguns anos eu vim a ser diretora geral, onde estou há mais de 8 anos. Essa foi minha trajetória no Instituto Universal Brasileiro e no estado, e continuo com as duas funções. No meio do dia eu venho para o Instituto e à noite eu retorno e completo a minha jornada na escola do estado.
P/1 – Irene, como é que foi essa coisa de começar a mexer com ensino a distância, por correspondência? Você que tinha essa formação tradicional de sala de aula.
R – Olha, é verdade. Quando me foi feito o convite eu não pensei duas vezes, porque eu gosto de desafio, gosto de coisa nova, como eu falei. Eu acho que o verdadeiro educador é aquele que está sempre disposto a aprender a toda hora, porque você aprende sempre, toda hora, e com todos. Essa é minha filosofia de vida. Eu falei: “Não, eu vou encarar”. Só que pra mim, até então, eu só achava que você aprendia alguma coisa com o professor na frente. O professor na frente, o aluno sentado, mesa, lousa, livro, e essa interlocução entre professor e aluno. Eu achava difícil à distância. Não é que eu não acreditasse. Até o mantenedor Luiz Fernando ele sempre fala: “Você ainda não acreditava, né?” Mas não é. Eu acho que você só pode acreditar fielmente quando você conhece. Eu só vim a conhecer o trabalho depois que eu estava aqui dentro. Eu vim com essa imagem. Eu queria saber como que alguém conseguia aprender sozinho. Olha, e hoje, eu fico, assim, extasiada. Eu dou um valor tão grande para o ensino a distância. Eu as vezes faço até comparação entre meus alunos lá do frequencial com meus alunos aqui do Instituto, porque embora seja à distância, existem momentos em que eles estão conosco no dia a dia, no plantão de dúvidas, quando eles vêm fazer os exames finais, que são obrigatoriamente presenciais. Eu converso muito com eles, eu fico pertinho, eu vejo o empenho, a vontade, a dedicação. Olha, realmente não tem diferença. Eu até acredito que a diferença é no empenho. O aluno do ensino a distância tem muito mais empenho, muito mais força de vontade. E eu vi que realmente você aprende, e aprende muito. Aprendi a respeitar muito mais o ensino a distância. Então eu sou assim uma fervorosa defensora do ensino a distância e do ensino em geral.
P/1 – E, Irene, como que era a estrutura do Instituto quando você chegou?
R – Quando eu cheguei, eu cheguei numa época em que o Instituto estava expandindo subsedes. Existia e sempre existiu uma sede central, a matriz, que era na Rio Branco, onde a gente está novamente, na Rio Branco, e eles estavam abrindo, mais pontos em outros bairros. Desde que eu cheguei, foi até no São Mateus, que é um bairro bem próximo da Vila Carrão, era a unidade que eu dirigia. Naquela época a gente só tinha o EJA – Educação de Jovens e Adultos – do Ensino Fundamental e do Médio. E o Instituto sempre teve, desde 1941, que foi a fundação, esses cursos que nós chamamos profissionalizantes livres. Por que a gente diz livres? Porque não há a necessidade de
você apresentar escolaridade anterior. Esse curso profissionalizante é pra você poder ser inserido no mercado de trabalho sem necessidade de diploma ou de certificado. Você vai adquirir a prática, vai aprender, vai ter essa habilidade, isso vai te habilitar a trabalhar. Só tinham esses cursos: Fundamental e Médio, e os livres, que a gente chama, que hoje são mais de 40 cursos. Depois quando eu já estava no Instituto, já era diretora até, a gente conseguiu o credenciamento, a autorização, pra quatro cursos profissionalizantes de nível médio, secretaria escolar, secretariado, comércio e técnico em transações imobiliárias. Então hoje é o EJA, Fundamental e Médio; os nossos cursos livres, mais de quarenta; e esses quatro cursos técnicos, de nível médio. Esses cursos são reconhecidos pelo Brasil todo, o nosso técnico e o nosso EJA. Agora, temporariamente, eu espero que seja temporariamente até com a nova deliberação do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo, o nosso aluno do Fundamental e do Médio ele estuda conosco, mas para que ele tenha o seu certificado de conclusão de curso ele tem que prestar o curso do estado, Enem, por exemplo, aí deu uma quebrada, deu uma atrapalhada realmente. Porque o aluno que vai fazer esse exame pelo estado, atualmente, é uma vez por ano, se por uma desventura ele não passar em uma das áreas ele tem que esperar o outro ano pra tentar novamente essa certificação. Ao passo que na nossa escola e em outras escolas, como a nossa, tem mais de dez escolas reconhecidas só aqui em São Paulo, o trabalho é muito sério, mas pelo menos ele estudava e conseguia fazer o seu exame na própria escola. No começo o Conselho Estadual definiu que era a cada 6 meses, depois a cada três, agora já depende da proposta pedagógica de cada escola, depois teve uma nova resolução, acho que de 2009, igualando o ensino a distância como EJA frequencial, que na escola eu também tenho, pra cada um ano de estudo o aluno ficasse matriculado e estudasse durante 6 meses. Então o aluno que quisesse concluir o Ensino Médio, por exemplo, em 18 meses ele poderia estar fazendo. O Fundamental, em 2 anos, 24 meses. Agora ele tem que só se preparar e esperar pra fazer esse exame no estado, que acontece uma vez por ano.
P/1 – Irene, me conta uma coisa, nesse seu tempo de Instituto, como que foi essa questão do material, de passar conhecimento pra alguém que vai estar longe. Fala um pouquinho.
R – É. A nossa metodologia ela é auto instrucional, porque o aluno tem que ser professor e aluno dele mesmo. As matérias são assim: nós usamos o método que é o passo-a-passo. Tudo que você for trabalhar com o aluno é passo-a-passo, é um material impresso, alguns materiais acompanham um material de áudio. E nesse material funciona da seguinte forma, o material escrito: existe a aula, que é o conteúdo programático, depois de cada aula nós temos exercícios de fixação, o aluno faz o exercício de fixação, depois desse exercício ele tem a resposta, é chave de respostas que nós chamamos, o aluno vai corrigir o que ele fez, e nessa chave de resposta a gente não só dá a resposta correta como explica mais uma vez porque que aquela resposta é a correta, então ele volta a aprender, isso a cada aula. Depois, no final de cada disciplina também ele tem testes, esses testes eles mandam, eles enviam ou alguns até trazem pessoalmente na unidade. Nós chamamos de tarefa, é uma pré pra que ele possa fazer depois a prova. Ele faz a lição, estuda passo-a-passo no seu caderninho, na sua apostila, depois ele envia para a gente essa tarefa, ela é corrigida. O aluno conseguindo no mínimo a média 5 está apto, ele pode fazer a prova parcial, como se fosse numa escola presencial, as provas bimestrais que a gente faz. Ele vai fazer a prova parcial de todas as disciplinas da série. No término, ele pode fazer esse exame final, que agora, nesse momento, não está sendo no Instituto, mas era conosco que ele fazia no final. Também tem uma nota mínima pra que ele possa ser aprovado.
P/1 – E essa coisa do exame presencial. Como se dá esse processo de avaliação, de acompanhar o aluno durante o curso inteiro?
R – Isso. Durante o curso o aluno que tem possibilidade, nós temos um plantão de dúvidas, nós temos professores de todas as matérias, e essas aulas são agendadas, o aluno liga, agenda, tem um horário certo, e ele pode fazer a aula individualmente com o professor, como as vezes, se for uma dúvida comum a mais de dois ou três também pode ter uma aula coletiva, mas geralmente mais é individual mesmo. A gente faz muita pressão para toda documentação formal, é como uma escola, é uma escola, como a presencial, ele tem um prontuário, tem os documentos pessoais, documentos de escolaridade, estando com tudo em dia, tudo certinho, ele vem e aí tem que ser presencial esse momento. Ele vem fazer o exame final que é nas nossas sedes e subsedes. No curso técnico, por exemplo, eles vem fazer esse exame final conosco, também depois de vencer as etapas anteriores que são as etapas parciais e com aprovação, não basta fazer, ele tem que ser aprovado.
P/1 – Irene, você contou pra gente que quando a gente chegou tem uma outra sede, que aqui é o administrativo e tem outra sede. Como que funciona essa estrutura?
R – É assim, aqui é o prédio mais administrativo, que fica o nosso mantenedor, aqui é que fica o telemarketing, nós temos também, é nosso esse trabalho. Eu fico na Rio Branco, é onde é a sede, onde é a matriz. Lá eu tenho plantão de dúvidas, tenho sala de provas, tenho a secretaria onde tem todos os arquivos dos alunos, onde a gente coloca as provas, é onde o aluno vem, até para captar matrícula também, nós também fazemos matrícula pessoalmente, e ali vem aluno tanto para o curso técnico quanto para o EJA, e tem os cursos livre. Tem todos esses cursos, tem atendimento ao público ali. Temos uma outra subsede também que é em Santo Amaro, nesse momento são essas duas. E a gente tem também uma unidade em Boituva, que é onde tem o nosso parque gráfico, que todo nosso material é elaborado por professores nossos e esse material é todinho feito na nossa gráfica em Boituva. Tudo do Instituto é feito e confeccionado por nós. O trabalho das apostilas, todo material.
P/1 – Irene, nesse tempo seu de Instituto quais foram as principais mudanças, ou talvez os divisores de água que mudaram a estrutura daqui, a dinâmica do Instituto?
R – É, o que mudou foram os avanços tecnológicos. Quando eu vim para o Instituto a gente só tinha o curso impresso. Agora não, agora a gente tem cursos online, o aluno além dele estar na sua casa ele não precisa também do material impresso. Eu acho que também é muito bom. Embora grande parte dos alunos ainda tem opção pelo curso impresso. O pessoal ainda não conseguiu se desvincular do papel. Mas tem uma parte muito boa de alunos que já fazem a opção pelo curso online, principalmente os cursos técnicos, que já é um pessoal que já tem uma formação, ele tem que ter o Ensino Médio pra poder fazer conosco este curso profissionalizante, geralmente ele faz opção por curso online. Que dizer, as dúvidas também já são sanadas dessa maneira, existe um espaço virtual de aprendizagem. É muito legal.
P/1 – Eu queria te perguntar um pouco do fluxo de correspondência. Se você puder contar o histórico do Instituto.
R – Embora a gente esteja na era da informática, a gente ainda tem muitos, muitos alunos, até do Brasil inteiro, que ainda trabalham com carta, então, na nossa central em Boituva, tem um departamento exclusivo que cuida desse segmento de carta e dessa resposta de carta. A gente tem muitos alunos que mandam carta e a gente responde também por carta essas dúvidas dos alunos, isso é feito mais em Boituva. Na Rio Branco, onde eu fico, eu acompanho de perto, eu tenho lá durante a semana plantão de dúvida dos professores de corte e costura, que é um dos cursos que vende bastante, que é muito procurado, e tem mecânica de automóveis, que é muito procurado, tem o de arquitetura também. Então esses professores estão comigo semanalmente e eu os vejo respondendo carta. Ainda tem carta que vem do Brasil inteiro e a gente continua respondendo também por carta, responde online àqueles que pedem, mas eu acredito, acho que até a grande maioria ainda continua usando a carta. Eu vejo o professor respondendo, algumas eu também respondo, quando são dúvidas pertinentes à direção, a gente responde. A gente recebe cartas bonitas, de agradecimento... É muito legal. Acho que a correspondência ainda continua.
P/1 – Irene, fala um pouquinho do Instituto ter a distribuição pelos Correios, desse material conseguir chegar pelo Brasil afora.
R – Isso. As nossas matrículas são captadas de várias formas, uma delas é pessoal, quando o aluno consegue, vem nessas unidades e faz a sua matrícula, a outra é pelo telemarketing, que também é nosso, liga pelo telefone e faz, a outra é pela internet, através nosso site e faz, e a gente continua, graças a Deus, ainda pelos Correio. O aluno também pede a matrícula, manda pelo cuponzinho. O Instituto também teve desde o começo umas revistas. Você é nova, mas tem pessoas que vão lembrar disso, tem o cupom, o aluno preenche e enviam via correio. Os alunos que moram distantes tudo deles vem pelos Correios, desde a entrega do material, desde o retorno das notas, quando ele manda as avaliações, o retorno também vai via Correios. Para isso a gente tem esse departamento, que eu disse, específico, em Boituva, que cuida desse departamento. Então a gente recebe e manda, direto.
P/1 – E tem alguma história de troca de correspondência com aluno que tenha marcado?
R – Tem, sim. Eu até não estou na minha sala, mas eu guardo lá uma cartinha lá dentre muitas que a gente recebe, de um aluno que agradeceu, mandou até um livro pra mim. É tão gostoso. Embora a gente ache que está longe, mas não está. Até porque eu gosto muito, eu atendo aluno por telefone, eu fico quase que o dia inteiro atendendo os alunos, isso cria um vínculo. Embora a gente esteja distante fisicamente a gente cria vínculos afetivos. E eles mandam cartinha pra gente, é muito legal. A gente tem depoimentos de pessoas que venceram na vida, que conseguem manter suas famílias através dos nossos cursos, mais esses, que eu estou dizendo, os cursos livres. Mães que fazem corte e costura pra sustentar a sua família. Nós tivemos alguns alunos que até mandaram, chegaram a mandar umas cartas, até um vídeo um mandou. Ele abriu uma oficina pra conserto de rádio. É muito legal. Eles mandam, sim. Eu só não trouxe aqui porque não sabia direitinho o que você ia me perguntar. Mas a gente tem, a gente guarda isso com carinho.
P/1 – Irene, imagino que quando você tenha entrado o fluxo de correspondência era maior. E até a distribuição pelo Brasil, se você puder falar um pouquinho disso pra gente.
R – É, essa parte de distribuição eu não cuido, eu sou diretora da parte pedagógica, eu não cuido de perto dessa distribuição, mas eu sei que é grandiosa, que isso demanda vários funcionários que trabalham especificamente em Boituva. E que existe um controle muito grande, porque as vezes algum aluno telefona e quer saber uma nota, e embora seja um curso livre, a gente tem todo esse controle, eu ligo pra lá, existe uma profissional bem antiga também, a Eurides, muito responsável, ela fala: “Um minutinho, professora Irene”. Ela vai lá, ela fala: “Olha, ele fez prova tal dia e tirou isso”. A gente tem também esse cuidado dessa documentação. E eles recebem também um diploma simbólico, porque como o curso é livre, não dá direito a prosseguimentos de estudos, só coloca, vai inserir no mercado de trabalho. Mas, ela tem tudo. Eu sei que Boituva tem todo esse acervo de muitos e muitos anos.
P/1 – Irene, esse processo de você hoje ser uma defensora, de você defender o ensino a distância, teve algumas histórias que talvez tenham cruzado a tua, que te fizeram também mudar isso, ver como que é possível.
R – É, eu acho que eu passei a acreditar mesmo no ensino a distância depois vir trabalhar aqui no Instituto Universal Brasileiro, porque eu participo do dia a dia desses alunos, eu vejo o crescimento, o desenvolvimento deles, e o que isso faz de bem pra vida deles. Por exemplo, há um dia atrás o aluno veio buscar o diploma, pois ele trouxe um parente porque ele queria tirar uma fotografia deu entregando o diploma pra ele. Gente, foi tão bonito. E eu e o Sr. Luiz Fernando, por muito tempo, a gente conseguia fazer entrega solene de diplomas e eu tenho lá comigo vários álbuns, a gente ia nas unidades, quando tinham mais unidades. Nós íamos, entregávamos o diploma, a gente ouvia os depoimentos, eles falavam, eles escreviam. E eu sempre dei palestra de autoestima, eu sempre achei importante pra eles, a gente ouvia, tem essa troca. A gente ouve como é que eles conseguem. E mesmo hoje, como é importante na vida do aluno essa mensagem escrita, essa correspondência chegar pra gente, e eles terem essa devolutiva. É muito importante.
P/1 – Irene, como é o desafio de manter a qualidade do cursos, a qualidade do ensino.
R – A gente acompanha o aluno através dessas avaliações formativas que ele nos envia. E o nosso material também é periodicamente reformulado. Agora mesmo nós estamos às vésperas de colocar um material do EJA novo, até seguindo as novas nomenclaturas de regras de português, já houve diferenciação. A gente está sempre procurando inovar também o nosso material, mandando alguma coisa diferente, mandando suplemento, e ouvindo muito o aluno, eles telefonam, eles escrevem bastante pra gente. E através as dúvidas que eles nos mandam servem de parâmetro para que a gente possa reorganizar o caminho. É como numa escola, você está sempre em processo de planejamento e replanejamento.
P/1 – E teve talvez alguma viagem que você tenha feito que você tenha visto nos Correios um panfleto do Instituto?
R – É, o que eu lembro dessa parceria de Correios conosco é que, realmente, nas agências do correio, há tempos atrás, e não há tanto tempo, sempre teve uma caixinha com os nossos panfletos, porque o aluno ia no correio e ali ele pegava e mandava pra gente. A imagem também que eu tenho bastante é de revista, porque eu lembro, como eu te falei eu lia os gibizinhos desde menina, e lá tinha a propaganda do Instituto. Eu me lembro mais mesmo disso. E atualmente do envio dessas cartas que ainda continuam. Eu cheguei a fazer algumas viagens, em alguns estados, e a gente vê, quando passa pelos Correios, acho que mais até pro interior, a gente vê nossa propaganda, os nossos folhetos. É muito legal.
P/1 – Irene, agora eu queria então que você contasse mais algumas histórias dos teus alunos pra gente.
R – Olha. O Instituto também é bem parceiro de alguns alunos até de inclusão. A gente, todo professor, a gente sempre lembra mais daquele aluno que precisou um pouquinho mais de você. Eu me lembro até que a gente teve um aluno, adulto, de Itaquera, um senhor, e ele é cego, e ele disse que ficou cego já na fase adulta, ele queria fazer conosco o Ensino Médio, ele não tinha concluído na época. Eu falei pra ele: “Olha, só que o nosso material não é em Braile, ele é todo escrito”, ele falou: “Não, eu sou casado, eu tenho uma esposa, ela também vai me ajudar a estudar”. Isso marcou muito a gente. Porque eu falei: “Mas como o senhor vai fazer no final? Tudo bem, vai fazer em casa, sua esposa vai ler, o senhor vai ouvir, vai fixar, vai aprender, mas no dia do exame?”. Ele falou: “Não, Dona Irene, não tem problema”, “Porque tem uma parte escrita, o senhor tem que fazer um texto, uma redação”. Ele falou: “Não, é só me colocar no meu computador, eu tenho meu programinha, eu vou fazer a redação”. Isso me marcou muito. E tem que ver as notas dele, excelente aluno. E ele conseguiu. E no dia do exame final nós tivemos que colocar uma funcionária, ela lia para ele as alternativas, e você acredite: Matemática, Física e Química, ela falava as alternativas, ele fazia um tempinho assim e ele respondia. Eu fiquei abismada. Tem que ver a redação dele. Esse aluno marcou bastante. Nem a cegueira foi problema que o impossibilitasse de concluir o Ensino Médio. Além dele, tem aluno que vem até com mãe, tem algum problema na escola, não consegue se relacionar, alguns com algumas síndromes, do pânico, alguns hiperativos. Para esses alunos eu falo: “Não, mãe, pode vir. A gente
vai fazer exames dele.”. A gente tem sempre lá no Instituto tem a sala normal de prova, onde ficam vários alunos fazendo, tem a biblioteca, que é um espaço menor, então a gente faz ali pro aluno, fica sempre ou eu, ou uma outra professora junto com esse aluno. Esses me marcam mais, porque são alunos de inclusão, que na escola frequencial não tiveram condições e eles vêm, e terminam conosco. Tem aluninhos vovôs, vovós. E a gente fala assim: “Que legal que você voltou a estudar”. Eles falam: “Eu estou voltando a estudar porque eu quero conversar com os meus netos”. Então eles vêm, alunos mesmo, de 70, 80 e tanto anos, e terminando conosco. Então é muito valioso isso. São os alunos de mais idade. Esses nossos alunos que a gente tem de inclusão. Mães. Muita mulheres que não podem ir pra escola frequencial porque tem que cuidar da casa. A grande maioria são as mulheres, elas vêm e a gente conversa muito. E elas ficam tão felizes quando elas conseguem. É muito gratificante.
P/1 – Irene, conta pra gente um pouquinho do seu dia a dia, da sua relação com os colegas de trabalho.
R – Meu dia a dia é muito bom. Ou sou aquela pessoa que eu já chego, vou primeiro fazendo barulho, eu brinco. Eu falo que eu vou ser uma chefe que eu nunca vou pegar ninguém em flagrante, porque eu estou sempre fazendo barulho, eu uso salto, eu vou subindo lá pelas escadas, vou falando já com todo mundo que está lá no Instituto, conhecendo ou não. Eu sou muito dinâmica. Eu sou agitada e elétrica. E é bom, acho que pelo menos flui. E o serviço rende bastante. No prédio lá, em que eu trabalho, a parte de baixo é do atendimento, são as assistentes pedagógicas, são as meninas responsáveis por toda informação de matrícula para os alunos; tem os professores, os professores de plantão, tem sala de aula onde os alunos vem fazer as provas presenciais; no segundo andar, onde eu fico, fica a secretaria da escola, eu tenho uma secretária geral e tem as meninas que trabalham como assistentes na secretaria. O nosso relacionamento no dia a dia é bem corrido porque, graças a Deus, tem bastante aluno, tem bastante trabalho, bastante serviço. Eu me preocupo bastante em estar atendendo bem o aluno, por telefone, que é mais simples para eles, eu dou bastante atendimento via telefone, eu estou pronta pra atender todo mundo a qualquer momento e sobre qualquer assunto, eu estou sempre pronta, as meninas também. É corrido. O dia todo lá é corrido. E é bom, porque sempre tem um caso novo, tem sempre uma solução diferenciada. É dinâmico. Mas é muito bom. Nosso relacionamento é muito bom, muito sério. Os alunos também têm uma seriedade muito grande, a maioria é adulto, são poucos que têm uma faixa de idade um pouco mais nova, a grande maioria é adulto, todo mundo trabalha, eles vêm todos com pressa, numa horinha de folga, eles também querem ser atendidos com rapidez, por isso também que a gente tem que ser muito ágil.
P/1 – E por que alguns mesmo com a internet, com acesso mais fácil, eles ainda optam pelo papel?
R – Eu acho que mesmo que esteja bem veiculada essa parte da informática ainda não é todo mundo que tem acesso. Porque, por exemplo, pra você ter o curso online, onde você vai estudar. Tem que ser na sua casa, não pode ser no trabalho. As pessoas até tem facilidade com a ferramenta, mas tem que ser na sua casa. Ainda não é todo brasileiro que consegue. A grande parte ainda precisa do material escrito. Eu acho que é até por isso mesmo que a maioria ainda faz a opção pelo material impresso. Eu particularmente adoro papel, adoro escrever, adoro documentar, embora, claro que a informática está aí, é uma tecnologia que está aqui pra nos ajudar, eu acho que ela é uma ferramenta, ela tem que estar a meu serviço, não eu a serviço dela.
P/1 – Irene, agora sobre essa parte mais metodológica, até pra gente entender um pouquinho dessa parte da pedagogia que é a sua especialidade, o Luiz Fernando falou que vocês ainda trabalham com o kit, enviando kits pros alunos
.
R – Isso.
P/1 – Como que é conciliar o material escrito com o kit? Como vocês desenvolvem essa metodologia?
R – O material que a gente envia pro aluno, a princípio esse então fez opção pelo material impresso, são apostilas. Os nossos cursos são todos apostilados em algumas disciplinas segue junto agora um DVD pra que ele possa também ter esse áudio e esse vídeo. Isso para o aluno que faz opção pelo impresso. Além do material apostilado vão essas provas, que voltam, que ficam depois arquivadas no seu prontuário. O kit é composto especificamente disso, de material didático. Agora, existe também os kits dos cursos livres ou profissionalizantes. São kits específicos do curso. Tem lá: eletrônica, então tem lá as peças onde ele vai montar o rádio. Manicure, por exemplo, tem lá o kit. Maquiagem. É porque a gente tem muitos cursos, mais de 40. Esses foram os que eu estou citando porque eu estou lembrando. Existe o kit que é específico daquele curso. Agora, quando o curso é online, é só mesmo o material que ele pode ter acesso na internet mesmo, não é curso impresso.
P/1 – Irene, você lembra de alguma história peculiar, pitoresca, de alguma dúvida de aluno que tenha chegado por carta? Alguma dúvida que tenha sido enviada?
R – É que quem responde essas cartas são os professores de cada matéria. E geralmente eles respondem e nem sempre comentam. Eu vejo muito o professor de mecânica de automóvel, vejo muito a professora de corte e costura respondendo. Agora, que eu me lembre assim de alguma dúvida pitoresca. Eu não lembro de nada específico. Deixa eu lembrar se tem alguma. É porque eu não respondo as dúvidas, são os professores. Com certeza devem ter casos fantásticos. Eu só lembro que as vezes o professora fala: “É, mas o aluno não leu. Está aqui”, as vezes ele fala: “Mas, como é que ele perguntou? Está aqui, está escrito”. Mas é porque ele está longe, também tem isso. Se fosse no dia a dia ele tinha mais liberdade de perguntar pro professor. Está longe, mas eles colocam lá a pergunta e o professor também responde com toda tranquilidade. Mas eu não me lembro de alguma coisa específica, porque eu não respondo as cartinhas de dúvidas. Só mesmo quando é com relação a exame, data, documentação, do que é preciso. Porque a gente faz assim, quando o aluno traz o histórico escolar de outra escola, a gente faz uma análise do currículo, isso eu quem faço, e se tem alguma matéria que ele deixou de ter naquela escola e que é pré-requisito pra que ele possa continuar na nossa, ele tem que fazer uma adaptação, e aí sim, eu ligo e falo: “Olha, você terá que fazer uma adaptação dessa matéria”. Então aí eu respondo.
P/1 – E agora eu queria perguntar um pouquinho da tua experiência pessoal com cartas. Você já trocou correspondência com alguém?
R – É, trocar com alguém não tanto. Eu tinha parentes que moram em Santa Catarina e outros no Paraná, minhas trocas de correspondência são essas. Agora ficou mais fácil, a gente fala só pelo telefone. Ou até na internet. Mas eu tinha, sim, com parentes. Mas eu nunca tive uma história diferenciada, é assim mesmo só com parentes.
P/1 – E teve alguma dessas cartas que você tenha recebido que tenha marcado ou alguma especial?
R – É, o que eu tenho, que eu guardo até hoje, são cartinhas de alunos, que me mandaram, essas eu tenho uma caixinha lá onde eu guardo, falei: “Faz parte de minhas memórias”. Eu tenho algumas cartinhas de alunos que hoje encontro na rua e, nossa, já estão pais de família. Já dei aula para filhos, pais e filhos. Agora, que eu tenha enviado... Eu nunca tive, assim, namoradinho de longe. Porque a gente manda muito pra namorado. Eu sempre gostei de perto. Não tenho assim alguma coisa. Que pena. Estou tentando lembrar, mas acho que não tenho, não. Só mesmo carta de parentes, de uma tia minha, que agora é falecida, essa também ela sempre me escrevia, então as cartinhas dela pra mim eu gosto e guardo. Minha tia Cândida.
P/1 – E cartão postal?
R – Cartão postal eu tenho e guardo muito, de amigos que vão viajar. Isso sempre. Cartão postal a gente tem, isso eu tenho guardado bastante. Eu tenho até de amigos professores que vão viajar e mandam. Tenho até de uma comadre minha, a Nilce, que me mandou, acho que foi Recife, ela foi há uns quatro, cinco anos atrás. Minhas filhas quando vão também a passeio. Eu tenho três filhas. Elas também mandam. Mesmo agora com a coisa da internet. Mas elas também mandam. Eu acho muito importante. Eu gosto de ver ao vivo, aquele que passou ali e você guarda. Tá certo que você pode guardar também num CD. Mas eu quero ver na hora. Eu guardo álbuns de fotografia. Eu acho muito importante. Tem as cartinhas das minhas filhas também, do tempo de escola. Isso eu guardo.
P/1 – Irene, agora eu queria que você falasse do teu outro lado do trabalho, da rede pública. Conta um pouquinho pra gente.
R – Na rede pública, agora eu sou diretora efetiva também de uma escola estadual, bem pertinho da minha casa. Da minha casa até lá eu demoro cinco minutos. É uma escola grande, são três períodos. No período da manhã eu tenho alunos do Ensino Médio, no período da tarde eu tenho alunos do Ensino Fundamental, do sexto ao nono ano, que é de quinta a oitava série, e à noite eu tenho o EJA, Educação de Jovens e Adultos, e também algumas séries do regular, do médio, porque as escolas no entorno estão todas fechando no meu turno e eu ainda luto muito pra manter a minha escola, porque o aluno que trabalha ele precisa ter uma escola à noite. Eu ainda tenho classes do Ensino Médio à noite, além do meu EJA. É um trabalho que também me realiza bastante. Eu sou aquela diretora que está sempre juntinho deles, eu não estou do lado, estou no meio, eu estou na roda, pra tudo o que acontece. É uma coisa boa? Eu vou e partilho. Tem algum problema? A gente senta junto e resolve. E tem que ser na hora. Essa é minha maneira de trabalhar com eles. É olho no olho, vamos conversar. Vamos combinar? Combinou, valeu. Eu acho que isso eu consigo. Minha escola, graças a Deus, tem um clima muito bom. Quando eu cheguei estava com poucos alunos, quase fechando, e eu achava um absurdo, uma escola tão bem localizada estar daquela forma. Eu também tive muita sorte, uma equipe, porque um diretor sozinho não faz as coisas, ele precisa de uma equipe, e eu sempre tive uma equipe muito boa comigo. A escola está sendo agora muito procurada, está grande o número de alunos, o trabalho está sendo bom, quero que fique melhor. Mas acho que é desse jeito que a gente consegue as coisas. O trabalho na minha escola é realmente um trabalho coletivo, eu tenho um corpo docente muito bom. Tenho um corpo de funcionários também muito bom. E a gente tem que trabalhar mesmo na democracia, eu não resolvo nada sozinha, não sou centralizadora, eu chamo todo mundo: “Vamos sentar, vamos resolver”. Eu falo muito, mas também escuto e acato as decisões da maioria, e quando eu falo maioria, é a maioria mesmo, é professor, é funcionário e é o aluno também, porque uma escola é para o aluno. Então eu escuto muito os alunos. Até quando em alguns momentos eu tenho que conversar, chamar atenção. Eu sempre falo pra eles: “Eu vou falar e você também vai ter sua vez de falar”. Eu escuto muito. Eu brinco. Eu falo que eu escuto um, dois, três, quatro lados, até tomar uma atitude. Mas eu falo que eles têm que estar cientes do porquê daquela atitude. Acho que na vida a gente tem que fazer tudo às claras e quando mais você puder falar e explicar eu acho que é melhor. Dessa forma a gente consegue conduzir um trabalho e ser respeitado por ele. É o que eu sempre falo: “Nenhum aluno me desrespeita”, porque também eu nunca os desrespeito. Até quando eu estou sendo severa, que em alguns momentos você tem que ser com adolescentes, mas até nesses momentos que eu estou brava eles falam: “Dona Irene, a senhora até quando está dando bronca na gente está dando com um sorriso”. Mas eu acho que é assim, a vida. Eu acho que a gente consegue mais.
P/1 – Irene, agora eu vou encaminhar para uma parte de avaliação mais pessoal mesmo. Eu queria que você falasse como é que foi pra você ser mãe?
R – Ser mãe pra mim foi a melhor coisa do mundo. Eu acho que eu não seria realizada se eu não fosse mãe. E Deus me permitiu ser mãe três vezes, eu sou triplamente feliz. Tenho três filhas.
P/1 – Fala um pouquinho de cada uma delas?
R – Elas têm nomes de deusas gregas. A mais velha é Aneris. Ela, hoje, é fisioterapeuta e educadora. Logo que ela se formou começou o trabalho na fisioterapia e ela até me deu um livro a pouco tempo, “Cabeça feita”, e ela colocou uma dedicatória que ela está na educação seguindo o meu exemplo. Ela falou que eu sou exemplo pra ela, achei muito legal. E está num cargo, assim, muito bom. E ela é então minha primeira filha. Ela está hoje com 32 anos, vai fazer agora 33 em setembro, está casada. Foi minha primeira filhote. Depois dela, depois de três anos, eu tive Ariadne. Ariadne vai fazer agora 30 anos também agora, dia 21, pertinho do aniversário dela, e ela formou-se como advogada, também está trabalhando e atuando na área. E a minha caçulinha, que está hoje com 28 anos, é Aletéia. Ela seguiu mesmo os meus passos. Essa é professora efetiva, também da rede estadual, de educação física. Essas são minhas grandes realizações. Deus me permitiu fazer por elas aquilo que minha mãe fez por mim. Minha mãe é uma pessoa importantíssima na minha vida, tudo que sou eu devo a ela, embora ela não tivesse estudo, ela falou: “Filha, eu quero que você tenha o que eu não pude ter na minha época”. Minha mãezinha, em 1900 e bolinha, foi trabalhar, porque ninguém queria naquela época que a mulher fosse trabalhar, pra poder me dar escola de melhor qualidade. Eu sempre pedi a Deus que eu queria fazer também pelas minhas filhas o que minha mãe fez por mim. E Ele me permitiu. Minhas três filhas são formadas. Eu pude acompanha-las nessa jornada e ajudar. Tenho três filhas maravilhosas que, graças a Deus, não tiveram essas crises da adolescência, da “aborrecência”, eu não conheço isso. Quando as mães vêm falar comigo, quando a criança dá algum trabalho: “Ah, eu não sei o que fazer com meu filho”. Ai meu Deus, como eu sou feliz, eu nunca tive isso. Não sei se é porque eu sempre falei muito com elas. Eu falo muito. Não sei se isso foi bom ou não, mas a gente sempre teve muita conversa, muito juntinho, então eu tenho três filhas maravilhosas. E bonitas.
P/1 – Irene, agora conta pra gente como é que é a tua rotina.
R – Pauleira. Eu me levanto às seis da manhã. Entro às sete horas da manhã na minha escola do estado, estou lá às sete horas da manhã, pode qualquer pessoa chegar, eu estou lá esse horário. E de manhã a gente tem o Ensino Médio e também tenho na escola um suporte. Tem o vice-diretor, tenho três coordenadores, secretário, e cada um executa sua função. Mas eu trabalho parte da manhã na escola do estado. Meu horário de saída é de horas, dez e pouquinho, daí eu venho para o centro, pego meu carro e venho, peço para todos os faróis estarem abertos para mim, a grande maioria está porque palavra tem poder, eu só falo coisa boa. Olha, e eu consigo chegar bem no Instituto, ali na Rio Branco, bem no centro, Rio Branco com a Duque de Caxias, e ali eu fico até às cinco, cinco e pouco. Também faço toda a minha jornada correndo, graças a Deus, tem bastante trabalho. Aí pego meu carro e volto pra Zona Leste, passo naquela bendita Radial Leste, que é bendita desde que é um caminho que me serve, e chego na minha escola para o período noturno, seis, seis e pouquinho estou lá, e fico até às 23 horas, que é o horário que termina o período, e não tenho hora de ir embora. O Sr. José que é o caseiro, eu brinco com ele, digo: “Sr. José, espera só pouquinho”. Todo mundo vai embora, eu não tenho sono, eu ainda tenho pique. O pessoal fala que eu sou ligada no Duracel, 220V, porque estou sempre ligada. Não tenho sono, não tenho pressa, sempre eu estou terminando alguma coisa no finalzinho, porque, pra mim, eu sempre falo isso, é o papel que eu vou fazer no final do dia, porque se eu tenho algum problema eu paro, eu atendo todo mundo. Pra mim existem duas coisas: gente e coisas. E, pra mim, gente é mais importante do que tudo. Ainda eu falo pros meus alunos quando eu paro pra falar com eles, eu falo: “Está vendo a minha mesa? Eu sempre tenho algum afazer, é óbvio”, falo: “Mas eu estou deixando tudo isso pra trás porque, pra mim, o mais importante é conversar com você agora”. Depois, perto de 11 horas, ninguém quer mais conversar, todo mundo quer ir embora, professor, funcionário, aluno, eu tenho um pouquinho mais de sossego, então eu vou fazer aquele papel que eu não tive tempo de fazer, eu sempre saio depois das 11h, porque o zelador quer dormir. Eu falo: “Vou embora, Sr. José”. Eu brinco com ele. Então minha vida é essa, das sete da manhã às 11 da noite, mas com muita vontade, muito pique, e não tenho nem canseira. Eu faço aquilo que eu gosto, acho que isso é importante. Mas não cansa mesmo. Durmo muito pouco, porque eu acho que quem dorme não vive, eu durmo pouco. E como eu falei pra você da minha mãezinha. A minha mãezinha está agora com 86 anos e está com demência senil. Por causa da idade dela, eu e ela dormimos no mesmo quarto, eu tomo conta da mamãe, e quando é de noite ela as vezes me dá uns bailinhos. Então da meia-noite e meia até às seis, de vez em quando a gente tem umas paradas. Mas, graças a Deus, eu quero que Deus me permita estar com ela por muitos e muitos anos, porque eu devo o que sou a ela. Meu pai também, mas em especial a minha mãe. Foi uma mulher de luta.
P/1 – Irene, o que você considera como as coisas mais importantes pra você hoje?
R – O mais importante é minha família, meus pais, minhas filhas, e meu trabalho, porque eu também vivo pra minha família e pro meu trabalho.
P/1 – E quais são seus sonhos?
R – Achar o bilhete premiado agora. Não, o meu sonho é realmente continuar tendo a família que eu tenho, quero que minhas filhas sejam tão felizes quanto eu sou. Só tenho uma casada. Mãe tem essa coisa. Eu quero que Deus me permita ver minhas outras duas também casadas. Quero ser avó, estou esperando. E quero que a educação mude, porque eu acredito muito na educação, eu acho que a gente só transforma alguma coisa através da educação.
P/1 – Irene, o que você faz nas horas de lazer? Nas pouquinhas horas que você tem.
R – Tenho poucas mesmo. Mas, eu gosto muito de ler. Eu leio bastante. Sempre que possível, saio um pouquinho. Eu gosto de teatro, não dá pra ir tanto, por causa do meu tempo, mas eu gosto de teatro, gosto de shows, quando tem algum cantor que eu goste muito eu vou. Essa semana mesmo, ganhei das minhas filhas um ingresso estou indo pra um show agora nesse final de semana, e vivo.
P/1 – E, Irene, como você utiliza os Correios hoje?
R – Eu utilizo para enviar carta pros meus parentes, são esses meus que moram em Santa Catarina. Eu tenho tia Maria. E pro Paraná, são filhos e filhas dessa minha tia que eu falo que eu guardo cartinha dela de quando ela estava doente. Mais mesmo Santa Catarina e Paraná, e alguns alunos que as vezes enviam algumas poucas cartas endereçadas a mim, eu também respondo pra eles. Mas os Correios é muito importante pra nossa vida, principalmente pro Instituto. Grande parte do nosso sucesso, do nosso alcance, é através dos Correios, com certeza.
P/1 – Irene, o que você acha de um projeto de resgatar essa história de 350 anos dos Correios através da história vivida, da experiência vivida das pessoas?
R – Eu acho importantíssimo. Porque o brasileiro as vezes esquece um pouco de cultivar a memória. Eu acho que é muito importante. Embora os Correios vá ser atual sempre, ele vai estar sempre se inovando, sempre se superando. Eu acho que nada vai substituir a mensagem escrita, eu gosto, ela fica, ela documenta. Eu sou toda escrita em correio.
P/1 – Agora pra gente encerrar, como que foi pra você contar tua história pra gente?
R - Foi legal. Eu gosto de falar. Gosto de falar de mim. Acho que se eu tivesse tempo ia ficar falando a semana inteira com você, não ia ter mais espaço pra mais ninguém. Mas foi muito legal. Até quando fui procurada pela Caetana, que foi a pessoa que fez o primeiro que fez contato, ela foi no Instituto para dizer que vocês estavam com esse trabalho, dos Correios vinculado à educação, por isso que foi lembrado o Instituto Universal Brasileiro, e eu fiquei muito feliz de ter sido lembrada. Eu estou feliz mesmo. Acho que é muito importante toda vez que você pode falar de você ou passar alguma mensagem, principalmente minha parte, que é a parte da educação, isso é a minha vida, é muito importante mesmo. Então eu fiquei contente. Gosto de falar, fiquei à vontade. Foi muito bom conhecer vocês também.
P/1 – Em nome do projeto, em nome do Museu da Pessoa, eu te agradeço por você ter dado a tua história de vida pra gente.
R – Eu é que agradeço.Recolher