Projeto Memórias do Comércio de Bauru 2020-2021
Entrevista de José Ferraz Sampaio Neto
Entrevistado por Daiana Terra e Cláudia Leonor Oliveira
Bauru, 17 de março de 2021
Entrevista MC_HV008
Transcrita por Selma Paiva
P2 – Então, agora a Daiana vai dar sequência.
P1 – Boa tarde, Neto! Tudo bem? Eu sou a Daiana Terra.
R1 – Boa tarde, Daiana! Tudo bem? (risos)
P1 – Pra começar, assim, é de praxe, a gente pede, por gentileza, pra você falar seu nome completo, sua data de nascimento e o nome dos seus pais, por favor.
R1 – Meu nome é José Ferraz Sampaio Neto, eu nasci em 14 de setembro de 1988, os meus pais são Juarez Vieira Sampaio e Maria Terezinha Jorge Abreu Sampaio.
P1 – Sim, e eu gostaria que você contasse um pouco, por favor, Neto, se você tem memórias da sua infância, mas junto a essa pergunta, como que foi... os seus pais são imigrantes, você nasceu aqui em Bauru? Conta um pouco pra gente, por favor, essa trajetória.
R1 – Bom, pelo meu pai ele é brasileiro, minha mãe também, os dois são brasileiros. Meu pai tem uma ascendência portuguesa distante, não tenho relações próximas com o passado português do meu pai e por parte de mãe eu tenho uma ascendência portuguesa e italiana, mas também é distante. Os dois já foram nascidos no Brasil, são brasileiros.
P1 – E a sua infância, como que foi, José? Você pode contar pra gente, por favor?
R1 – Bom, eu sou nascido e criado em Bauru. Então, bauruense nato. (risos) Na minha infância, basicamente... foi muito ligada à família, ao início da vida escolar e convivendo na cidade, né?
P1 – Sim. E você tem irmãos, Neto?
R1 – Não, eu sou filho único.
P1 - Sim. E você falou que você é de Bauru mesmo, né, então você nasceu aqui. Conta um pouco, por favor, como foi a sua infância. Agora você falou que foi filho único. Como eram suas brincadeiras? Você falou um pouquinho da escola, como foi seu período escolar? Como era essa… esse período da sua vida? Como foi? Conta pra gente, por favor.
R1 – Bom, eu estudei num colégio não religioso, mas de formação batista, né, que é o Colégio Batista de Bauru, ele ainda existe e ele absorveu grande parte da minha infância, né? Então, eu estudava meio período, o outro período eu ficava em casa com a minha família, né, e nessa época da infância eu não necessariamente vinha na loja, então a loja vem entrar anos… anos mais tarde. Então, na minha infância eu me lembro de me dedicar ao estudo. Então infância que você perguntou foi dedicada ao estudo e família, né? E só comecei a frequentar a loja anos mais tarde.
P1 – E como foi a sua infância? Com quem você brincava? Onde você brincava? Você morou em casa, apartamento, sítio? Como que foi?
R1 – Bom, eu morei em casa, moro na mesma casa desde que eu tinha dois anos de idade, no Jardim Shangri-la. Meu pai comprou essa casa do Marcos Ferraz, que é um parente distante nosso e é uma casa que convivia com cachorros, meu pai criava cães, criou pastor alemão, rottweiler. Então, eu me lembro dessa… dessa fase de ter os animais, estudar, trazer, às vezes, amigos em casa. Então, uma fase muito salutar, assim e boa.
P1 – Sim. E você morava com quem, Neto, desculpa?
R1 – Com os meus pais. Minha família é pequena, né? Era eu, minha mãe e meu pai.
P1 – Sim. Aí você falou que você levava alguns amigos pra escola, né? Você gostava... no caso seu pai gostava muito de cachorros e tal...
R1 –Sim.
P1 – ...e voltando um pouco pra escola, Neto, como era sua vida escolar, quais as matérias que você mais gostava? Se você era um bom aluno, tinha uma boa relação com os professores. Conta um pouco, por favor.
R1 – Eu acho que sim. Eu consegui, (risos) passava de ano, não tinha problema (risos) de ficar de recuperação, nem nada. Eu acho que eu era um bom aluno. Não era o melhor da sala, mas conseguia tirar as notas necessárias aí pra ser aprovado…
P1 – Uhum.
R1 –não tinha ainda demonstrado interesse em nenhuma matéria em específico, mas gostava de estudar, de frequentar a biblioteca.
P1 – Você gostava muito de ler?
R1 – Sim. Lia os livros adequados pra idade, então não vou me lembrar agora os títulos, mas gostava de frequentar a biblioteca, então...
P1 – Sim.
P2 - Ô Neto..
R1 – Pois não?
P2 - ...fala pra gente assim: o Shangri-la é o primeiro condomínio de Bauru, assim, maior, né?
R1 – Sim.
P2 – Como era morar num condomínio, num dos primeiros condomínios, assim? Como era isso, assim? O relacionamento lá dentro. É um condomínio muito bonito, né?
R1 – Ele, é… ele originalmente, era um condomínio rural. Então, os terrenos lá têm uma característica que são metragens grandes, é? Então, não havia, por exemplo, muro. Era cerca viva. Então, até o fato do meu pai ter os cães era por questão de segurança, porque meu pai tinha medo de um ladrão invadir a casa. Então, ele foi loteado pelo Marcos Ferraz, meu pai comprou a casa do Marcos Ferraz, mas quando nós mudamos lá acho que existiam vinte pessoas morando lá. Então, a gente pegou ali a transformação urbana, né? Então, a Comendador era uma via de mão única, hoje ela tem mão dupla. Então, a gente viu aquele pedaço ali sendo desenvolvido, né? O próprio Recinto, que também foi uma doação da família Ferraz, abriga muitos eventos, a Grand Expo e outros mais. Então, foi um contexto não digo que rural, mas também não tão urbano, foi meio termo. (risos)
P1 – Sim.
P2 – Estava no meio do caminho, ali, né?
R1 – É. Até hoje o condomínio não tem, por exemplo, rede de esgoto, porque são fossas assépticas. Então é… Mas é herança desse condomínio originalmente feito pra ser rural, né? Então eram ruas de terra, agora são ruas de asfalto. A gente, pouco a pouco, foi vendo mudar a estrutura, né?
P2 – Era a fazenda do Marcos Ferraz?
R1 – Era a fazenda do Marcos Ferraz, uma das fazendas, né?
P2 – Ah, tá…
R1 – Ele ainda tem outras áreas ali no pedaço. Então, Jardins do Sul, que foi feito posteriormente também, era deles, né? O Villa Dumont, do Zopone, também é uma área deles, né? Então, eles tinham muitas terras ali e foram fazendo esse... eles não necessariamente... o Shangri-la eles fizeram de maneira rural, como eu falei. Chacrinhas, né? Agora, o Jardins do Sul e o Zopone eles já venderam a terra e o incorporador, o loteador que fez os condomínios.
P2 – Maravilha!
P1 – Legal. E você mora lá até hoje, no caso, Neto?
R1 – Moro até hoje, sim. Hoje acho que tem mais de duzentos moradores, hoje em dia. Os terrenos foram diminuindo. Então eu cheguei com vinte, hoje tem duzentos.
P1 – Nossa e tem umas casas muito chiques lá, né? Eu fui lá uma vez, que eu fui fazer um evento lá.
R1 – Tem. É diferente. É bem, assim, arborizado, né?
P1 – Uhum.
R1 – Então, ele tentou fazer ali, graças a Deus deu certo. Então, poderia não ter dado, como a Quinta da Bela Olinda, por exemplo, a Quinta da Bela Olinda infelizmente foi um empreendimento não bem-sucedido, né? Mas o Shangri-la, graças a Deus, deu certo.
P1 – Ah, que bacana! E eu gostaria de saber também, Neto, por favor, se você poderia falar o nome dos seus avós? Se você teve contato com eles também. Qual a descendência deles, se são brasileiros?
R1 – Os meus avós paternos são brasileiros, é o José Ferraz Sampaio, de quem eu herdo o nome, né?
P1 – Uhum.
R1 – E a minha avó paterna, Cristina Vieira Sampaio. A minha avó Cristina morreu muito cedo, com trinta e poucos anos, ela tinha problema cardíaco, meu pai tinha três anos quando ela faleceu.
P1 – Sim.
R1 – O meu avô faleceu acho que em 1974 ou 1977, então ambos eu não conheci, não tive contato.
P1 – Uhum.
R1 – Já os meus avós maternos, os dois são brasileiros também, são naturais de Ribeirão Preto, então é seu Luiz Roberto Costa Abreu e Dona Maria Terezinha Jorge Abreu. Minha mãe e minha vó são homônimas, têm o mesmo nome.
P1 – Sim. E eu vou voltar um pouquinho pra escola, Neto... Você falou que não tinha nenhuma matéria específica, você formou e depois que você formou na escola, você sentiu que você já queria entrar pro negócio da família ou você foi fazer outras coisas? Foi fazer faculdade, foi fazer outro curso, morar fora? Como foi esse período de transição seu da escola pra… pro ensino médio ou a faculdade? Conta um pouco, por gentileza.
R1 – Na faculdade eu cogitei fazer fora, pensei em fazer a FGV, pensando no curso de Administração, só que eu prestei vestibular e eu não passei e aí eu falei: “Vou ter que fazer um cursinho específico pra FGV”. Lá em São Paulo existem cursinhos pra quem quer entrar em determinadas faculdades, né?
P1- Uhum.
R1 – Ai eu coloquei na balança assim: faço faculdade fora, perco assim um ano de cursinho e mais os quatro anos da graduação ou eu já começo em Bauru e já vou ganhando experiência prática, né?
P1- Uhum.
R1 – E aí eu optei por fazer em Bauru. Então, eu ingressei na ITE em 2008, no curso de Administração de Empresas e gostei muito, então não gostava de Matemática no ensino médio e na faculdade eu comecei a gostar. Matemática financeira, calculadora financeira, isso eu passei a gostar.
P1- Uhum.
R1 – E em seguida fiz também Ciências Contábeis. Então, aí te permitia o aproveitamento de disciplinas, né, em dois anos eu fiz também Ciências Contábeis, uma seguida da outra. E foi muito natural, assim. Como eu sou filho único, eu vi que só caberia a mim dar continuidade aos negócios. (risos) Não tinha um outro irmão. Então, eu já fui planejando o que eu ia estudar, como é que eu ia fazer e eu consegui conciliar o estudo com o trabalho. Então, eu não trabalhei na loja na minha adolescência, por exemplo, mas logo que eu entrei na faculdade, eu já comecei a trabalhar na empresa.
P1 – Sim. E que ano que foi isso, Neto? Em que ano você começou a trabalhar na empresa e… você começou em qual cargo, assim?
R1 – Foi em 2008. Meu pai começou pra mim dando um serviço de cuidar de um estacionamento. Então, eu fazia a parte administrativa, né? Conferência de caixa, cobrança de mensalistas. Foi um primeiro serviço assim, que o meu primeiro dia foi fazer esse serviço, né? Depois eu fui fazer outras coisas: a parte mais administrativa, contábil, financeira. Fui enveredando por esse lado, mais. Meu pai tinha uma peculiaridade, que apesar dele ser o dono da empresa, ele não trabalhava... eu comecei a enveredar por esse lado de escritório, administrativo, né?
P1- Uhum.
R1 – ...então o detalhe é que meu pai não fazia, por exemplo, compras da empresa, não fazia necessariamente vendas, mas ele fazia todo o controle, então conferência, uma espécie de auditoria interna, né? Então, eu enveredei por essa área. Então, eu ia fazendo, seguindo o que meu pai passava, né e, aos poucos, me familiarizando, me inteirando como era, como não era. Isso a gente chama de vivência, né? Fui tendo mais vivência.
P1 – Sim. Ah Neto, que legal! E aí você, então, foi aprendendo e começou na empresa com esses pequenos trabalhos, de cuidar de estacionamento e quando você passou pra cuidar dentro da loja, mesmo? Exercer esses trabalhos dentro da loja. E se especializar, né? porque vocês são umas lojas... é uma loja de ferragens, né?
R1 – Isso, ferragens e ferramentas.
P1 – Com muita coisa e já tem um certo nome na cidade. Como foi isso? Você teve que aprender? Fez algum curso pra aprender, principalmente os produtos ou, por exemplo, essa dinâmica da Administração você aplica bem em qualquer área? Eu acredito que o básico, sim, mas como que funciona, por exemplo, a área específica do comércio de vocês?
R1 – Nós, no passado, não tínhamos concorrência. Nós não tínhamos tantos concorrentes como nós temos hoje. Então, nós dominávamos a área de ferragens e ferramentas aqui em Bauru. Hoje nós temos mais de dez, quinze concorrentes aí no nosso segmento. Então, questão de mercadoria eu fui aprendendo aos poucos. Eu não domino ainda 100% dos itens que nós temos… às vezes algum vendedor tem mais conhecimento do que eu, mas eu controlo a parte administrativa, então ver o desempenho, se está vendendo ou não está vendendo, questões de caixa, contabilidade, coisas que você… como você disse, se aplicam, de maneira geral, a qualquer empresa, né?
P1- Uhum.
R1 – Mas essas particularidades a gente vai aprendendo no dia a dia, né? Então, os fornecedores, as peças têm com polegadas, com centímetro. (risos) Então, cada segmento tem a sua particularidade, né? Isso a gente vai aprendendo no dia a dia. Ninguém me ensinou propriamente dito, mas a gente vai vendo, tem a curiosidade, né, de aprender.
P1 – Sim. Aprende no dia a dia, fazendo, né, Neto?
R1 – Sim. Na prática.
P1 – Aí você contou do seu período da escola, da faculdade. Eu vou retomar um pouco, Neto, a questão da infância, assim... Você falou que estudava, seu pai acredito que já trabalhava na loja e, nas horas livres, o que vocês faziam? Qual a programação de família? Tipo assim… você saía com a família, com amigos? Como que era, nessa época?
R1 – Bom, eu lembro muito da gente frequentar a igreja. Então, meu pai vem de família presbiteriana, minha mãe vem de família batista, então a igreja era uma coisa presente nos nossos finais de semana e almoçar fora, ir em shopping, essas coisas que a gente fazia, que o shopping já tinha aberto, já tinha shopping em Bauru, (risos) então a gente foi, assim, fazer passeios na cidade, né? Nós não tínhamos muito o hábito de viajar, porque o comércio não nos permite distanciar muitos dias, né? Então, o que a gente podia fazer, a gente fazia aqui em Bauru mesmo.
P1 – Sim. E você tem alguma recordação de como era a cidade nessa época? Os pontos mais... você comentou um pouco sobre a rua, né? ali a Comendador, que...
R1 – Que era mão única.
P1 - ... fica próxima ali ao Shangri-la.
R1 – Sim.
P1 – Você tem alguma lembrança marcante, assim? Mudou muito a cidade de lá pra cá? Conta um pouco, por favor.
R1 – Sim. No passado, eu estava conversando com a Cláudia, né? O Centro era onde concentrava-se o comércio local, né?
P1- Uhum.
R1 – A gente foi vendo essa descentralização. (risos) Então, a gente foi vendo corredores comerciais na Getúlio Vargas, Nossa Senhora de Fátima, Nações Unidas, até o próprio Bela Vista tem o centro comercial. Então, a gente foi vendo que foi pulverizando,né, não é mais focado só na Batista de Carvalho e nos arredores, né? Hoje existem outros corredores comerciais. Mais recentemente a Comendador está virando um corredor comercial. Então, a gente foi vendo que isso foi acontecendo paralelamente com o crescimento da cidade, populacional, mesmo, né? Então, Bauru está entre seus trezentos, quatrocentos mil habitantes, então foi gerando aí uma demanda por mais lojas e criando essas oportunidades. Então, hoje termina a Getúlio, começa uma outra avenida lá, acho que é... agora me foge, o sobrenome é Aiello, que também tem coisas comerciais lá. Então, antes era muito limitado, né, mais restrito ao Centro.
P1 –Uhum.
R1 –Só tinha um shopping, hoje tem dois. Então, essa foi a mudança que eu vi, assim, acontecer da minha infância, até a vida adulta.
P1 – Sim, legal. E você tinha… você saía com amigos, você era uma pessoa mais caseira, né? Como era sua relação, assim?
R1 – Bem mais caseira. (risos) Bem mais introspectivo. (risos)
P1 – Você é mais caseiro?
R1 – Sim. Então, essa parte social, a gente estava falando com a Cláudia dos clubes sociais que Bauru tinha, né? De Luso, de BTC, eu não cheguei a frequentar, esses clubes né?
P1 – Noroeste você chegou a frequentar?
R1 – Também não. Eu lembro o BAC, o final do BAC, né, não frequentava, passava em frente onde hoje é o Tauste, né?
P1 –Uhum.
R1 – Mas os clubes, hoje, o Country Club também fechou. Inúmeros, todos os clubes sociais acho que fecharam, só ficaram o Luso e o BTC com as suas sedes de campo, né? Mas eu não tive essa parte, assim, de frequentar clube, nem nada, né? Já peguei uma outra época. (risos)
P1 - Ah sim…. Eu vou retomar um pouquinho agora pra loja, Neto. No caso você disse que começou a trabalhar em 2008, né?
R1 – Sim.
P1 – E aí você foi aprendendo o trabalho e seu pai trabalhou durante toda a vida dele também, aí, né?
R1 – Toda a vida. Por curiosidade: ele faleceu em 25 de dezembro de 2019, num Natal, na véspera do Natal ele estava na loja. Ele não vinha cedo trabalhar, ele tinha horário mais reduzido, mas ele, até o último dia de vida dele, estava na loja. Eu falei que ele era tão comerciante, que ele faleceu num dia que não precisava fechar o comércio, que não ia atrapalhar a venda da loja, então ele faleceu num Natal. (risos) Até nisso ele pensou.
P1 – Nossa…!
R1 - Porque a vida dele foi o comércio. Ele viveu isso aqui anos e anos.
P1 – Sim. E quais as lembranças que você tem, assim, Neto, do seu pai, por exemplo, na loja? Como que era?
R1 - Não lembro meu pai ter faltado na loja nenhum dia, então ele era muito rigoroso em certo sentido, né, então ele tinha uma rotina de vir na loja, não deixar de vir, de segunda-feira a sábado ele frequentava a loja, de conferir toda a papelada, conversar com o vendedor, dar bronca, porque meu pai é de outra geração, então é a geração que puxava a orelha, às vezes dava uma bronca ou outra. (risos) Então, ele era... viveu isso aqui. Então, a minha lembrança dele é muito presente aqui na loja, né? Então… todos os setores, aqui, ele passava, vistoriava. Então, a vida dele foi a empresa.
P1 – Sim. E os funcionários, Neto? Tem funcionário aí tipo… desde a época do seu pai? Vamos supor assim: com bastante anos de casa, porque desde a época do seu pai, por exemplo, seu pai… você disse que faleceu em 2019, então deve ter funcionário dessa época. Como que é essa relação?
R1 – Sim. Nós temos…
P1 – Conta pra mim.
R1 – A gente tem geração X, Y e Z aqui na loja, tem todas as gerações aqui. (risos) Então, nós temos funcionários com mais de trinta anos de casa, pessoas que se aposentaram e continuam trabalhando comigo. Então, eu tive... esse ano dois se aposentaram, mas continuam comigo, não são raros os casos, né? E eles têm os seus valores, porque é uma geração que pode não dominar essa parte de informática, não ter tanta familiaridade, mas têm uma constância, têm conhecimento. Então, sabem falar, escrever. Os mais novos, hoje em dia, têm uma dificuldade enorme (risos) em falar e escrever, por exemplo, porque tudo eles digitam, né? Então, é uma outra geração. Tem as suas vantagens também, eles dominam informática, mas eu vejo que eles não são tão desenvoltos nessa parte de atender o cliente, de falar, ter uma abordagem, assim, de conversa, né? Cada geração tem a sua particularidade, né?
P1 – Uhum.
R1 – Então… E elas convivem harmonicamente, eu diria.
P1 – Que legal! Eu achei interessante porque a loja de vocês, você falou, né, que, na época, não tinha concorrente e hoje tem tipo dez, quinze. O que eu acho, assim tipo, eu venho de São Paulo, por que eu acho que ainda é pouco, né, pra concorrente. Não sei como você mede isso. E eu fiquei sabendo que também fizeram um livro sobre a vida… sobre a loja, a vida do seu pai. Conta um pouco pra gente, por favor, Neto.
R1 – Sim. Quando a loja completou 75 anos, meu pai escreveu um livro. A loja, originalmente, foi fundada em 1936.
P1 – Uhum.
R1 – Então, quando completou 75 anos, ele decidiu escrever um livro contando a história da família e da empresa, paralelamente. Que na empresa familiar as duas coisas se misturam, muitas vezes.
P1 – Uhum.
R1 – E foi escrito por ele e o... talvez a Cláudia me lembre, o ‘seu’ Bastos... esqueci o primeiro...
P2 – Irineu Bastos.
R1 –Irineu Bastos. Isso!
P2 – Seu Irineu Bastos…. Historiador.
R1 – Exatamente. Ele foi o... como chama?... ghost writer, que eles chamam?
P2 – Ghost Writer.
R1 - Ele foi o ghost writer do livro (risos).
P2 – Que ótimo!
R1 – O ‘seu’ Irineu é filho de um ex-prefeito de Bauru. Então, ele também é bauruense das antigas.
P2 – Uhum.
R1 – Então, ele ajudou com muita propriedade assim, a escrever a história da família, pesquisar documentação, fotos e fazer esse compilado num livro, que foi o Sampaio, 75 Anos.
P1 – Sim.
P2 – Ô Neto, e aí assim... Que que você sabe desse começo da loja, quando seu avô voltou à loja? O que você poderia assim… registrar pra gente assim, das suas leituras, essas coisas?
R1 – É… Tudo que foi passado, muito pelo meu pai, né?... O meu avô é oriundo de Piracicaba, então ele veio aqui com uma origem muito humilde e foi trabalhar na Lusitana, ali onde hoje funciona a Tim, ali na quadra sete do calçadão. E meu pai conta que a Lusitana, na época que não tinha faculdade de Administração, foi a escola de negócios do meu avô, onde ele aprendeu todo o métier ali de ter uma empresa, né? E o dono da Lusitana, que agora me foge o nome, queria fazer um casamento arranjado do meu avô com a filha dele. E meu avô não queria, porque meu avô estava namorando minha avó. Já tinha… Ou, se não estava namorando, já tinha interesse com ela. Minha avó era professora. Na época meu avô falou que...
P1 – Seu avô paterno, né?
R1 – Meu avô paterno, sim.
P1 – Obrigada.
R1 – Na época meu avô falou que professora ganhava bem. (risos) Não que ele queria dar o golpe, mas ele não queria casar com a filha do proprietário da Lusitana, né?
P1 – Uhum.
R1 – Foi quando ele decide montar a firma dele. Então, ele vai pra quadra um, existia uma loja que chamava Casa Moreira, o dono havia cometido um crime até bárbaro, assim, ele havia atirado na esposa, cometeu um crime... na época chamava de passional, né, mas era um crime bárbaro. Eu não sei, se ele tinha ciúme da mulher. E ele foi preso, o dono dessa Casa Moreira.
P1 – Crime hediondo.
R1 – Crime hediondo. E meu pai foi... conta que meu avô foi na cadeia fazer o documento da compra do terreno. Ele estava preso. (risos)
P1 – Nossa! E ele tinha que assinar, né? (risos)
R1 – Ele tinha que assinar a transferência lá, os papéis todos, né?
P1 – Sim.
R1 – E isso foi feito na prisão, na cadeia. E era um imóvel, diferente do que é hoje, hoje foi construído muito tempo depois, eram dois terrenos que meu avô começou ali… um que se chamava secos e molhados. Então, ele começou como armazém de secos e molhados. Muitos anos depois que reformou-se o prédio, né, e transformou-se em supermercado. Mas ele começou ali como concorrente da Lusitana, ele tinha um irmão que também fez... trabalhava na Lusitana, que ele fez convite, ele não saiu da Lusitana, preferiu ficar lá. Meu avô, não sei se ele ficou chateado ou não, meu pai nunca entrou em detalhes, mas ele teve sucesso, graças a Deus ele conseguiu ter sucesso nos negócios e prosperar ali na quadra um. Ele teve sucesso, né, então ele conseguiu prosperar os negócios lá na quadra um da Batista de Carvalho.
P1 – E como foi essa mudança, Neto? Até quando vocês ficaram lá na quadra um? Porque hoje vocês estão na Primeiro de Agosto, né?
R1 – Sim.
P1 – E como foi essa transição?
R1 – O meu pai era de uma irmandade, seis irmãos, todos homens. A sucessão do meu avô não foi muito bem planejada, a sucessão familiar, dos negócios, né? Então, meu avô era meio militar, falava assim: “Todos os filhos têm que trabalhar na loja” e nem todos tinham tino pro negócio. Tem um que queria ser educador físico, meu vô não deixava, falou assim: “Você vai ser professor de Educação Física, você vai morrer de fome”. Não deixava. E era melhor que ele deixasse, porque cada um seguiria seu caminho. Então, vendia a parte que tinha da sociedade e ia criar o seu próprio caminho, né?
P1- Uhum.
R1- Mas meu avô era um outro estilo, uma outra geração e todos os filhos ficaram na empresa. Com o falecimento dele, meu pai começou a ter atritos com os irmãos, porque meu pai levava a sério e os irmãos levavam meio flauteando ali, então eles só queriam os bônus, né, mas não queriam os ônus, (risos) que tem que trabalhar, lidar com os problemas todos, né? Eles só queriam as coisas boas, mas as situações ruins eles fugiam. Então, marcava reunião, não aparecia e começou a ter um atrito. Aí meu pai, prevendo a situação que ele teria problemas, né, em 1988 ele sai da sociedade, ele monta uma loja em frente, meu pai foi meio peitudo assim, de encarar os irmãos, em 1988, onde hoje é uma sorveteria, lá na quadra um. Ele… chamava-se Sampa. E lá ele fica, de 1988 até 1999, brigando com os meus irmão… meus tios, perdão. Em 1999 meus tios não aguentam, meus tios fecham a empresa e meu pai volta pro prédio, mas como inquilino. Então ali onde a gente estava comentando com a Cláudia, onde é o prédio, eu fui inquilino de 1999 até 2013, com essa firma que meu pai tinha sozinho. Os irmãos seguiram outros rumos, a empresa fechou e, na ocasião, começou-se a se ter um comentário que eles queriam vender, queriam alugar por um valor maior. Uma prima minha, que é de fora, começou a encabeçar essa história e pediram o prédio de volta. Aí a gente veio pra um prédio aqui na Primeiro de Agosto, que também é um prédio que tem história, onde foi o antigo Júlio Meca, que foi um concorrente do meu avô. Era um supermercado também. (risos)
P2 – Um dos primeiros supermercados, né?
R1 – Um dos primeiros supermercados…. O Júlio Meca, o Kurosawa, são dessa geração. E depois que nós saímos do prédio da Batista de Carvalho, essa ideia que eles tinham de vender, de alugar, não teve sucesso e ele permanece fechado até hoje. Infelizmente, por uma ambição, uma… talvez uma inocência dessa minha prima que é de fora, achando que Baur... aquele era o pedaço bom de Bauru e não é mais, infelizmente. Tinha aquela ambição de vender, de alugar ali por um valor maior e infelizmente o prédio está fechado até hoje, porque aquele pedaço, depois, com a estação fechada, né, ele ficou muito deteriorado, é o Bauru antigo ali, né? Todo o entorno dos hotéis que tem, todos fechados, o Hotel Milanese está naquela situação… ele está tombado, mas não tem o que fazer mais, ali. O prédio chegou numa situação que eu sei que a prefeitura vai fazer uma creche lá, né, mas ali é um pedaço da cidade que infelizmente virou Bauru Velho, né? Várias cidades têm esse problema com os Centros, né, de envelhecimento e tudo o mais. E aqui em Bauru não foi diferente.
P1 – Uhum.
P2 –E aí, então, você está com a loja… você foi com a loja pra Primeiro de Agosto, é isso? Alí na esquina.
R1 – É. Isso, esquina com a Azarias Leite, onde era o antigo Júlio Meca.
P1 – Uhum.
R1 –E eu estou aqui até hoje. (risos)
P2 – Maravilha! Você estava falando, Neto, que assim... ele... seu avô se inspirou numa visita que ele fez à São Paulo, pra implementar esse sistema do supermercado. Sair dos secos e molhados, né, que você estava falando.
R1 – Exatamente. A Lusitana e os outros dominavam alí o comércio de alimentos, né, o gênero alimentício. E meu avô ia fazer compras em São Paulo, isso era comum, ele começou a ver o Pão de Açúcar surgindo, né? O pai do Abílio Diniz acho que foi o fundador e essa rede chamava Peg Pag, que seria o que a gente chama hoje de autosserviço, né? Que até então você fazia um pedido, entregava pro balconista e ele separava. Que era arroz, açúcar, farinha. E ele foi o primeiro a implementar o autosserviço em Bauru. Então, o Sampaio pode-se dizer que foi o primeiro supermercado no estilo autosserviço. Depois ele foi sucedido pelo Santo Antônio, da família Svizzero. Depois vieram outros: o Santo Antônio; hoje a gente tem Confiança; redes de fora, o Tauste, que é de Marília, né.
P1 – Uhum.
R1 – mas o Sampaio foi o primeiro no sistema de autosserviço.
P2 – Mas aí ele era um supermercado, tinha de tudo também, né?
R1 – Era um supermercado. Ele foi crescendo, né? Quando ele comprou a Casa Moreira era um prédio velho, ele reformou esse prédio, construiu um prédio mais moderno, aquele prédio tem quatro andares e um apartamento, onde ele residia e até o falecimento dele esse supermercado ainda funcionava. Depois, com o falecimento dele, os meus… o meu pai e os meus tios não conseguiram mais competir em específico com o Santo Antônio. Então, eles encerraram o supermercado e voltaram pra ferragens e ferramentas, que nunca deixou de ser o forte nosso, assim. Então, eles voltaram pra esse segmento, que eles não conseguiram mais concorrer com os demais.
P1 – Uhum.
P2 – E aí especializou em ferragens e ferramentas?
R1 – Ferragens e ferramentas, sim.
P1 – Legal.
P2 – Interessante. Você tem lembrança assim, de você visitar a loja quando você era criança assim? Você tem essas lembranças, Neto?
R1 – Eu lembro que meu pai não deixava eu entrar na loja dos meus tios. (risos) Então, eu só fui entrar lá anos mais tarde, como inquilino. (risos)
P2 – Ah entendi (risos).
R1 – Ele tinha essa rixa aí com os irmãos. Com alguns ele conversava, com outros não. Então, eu lembro dele não deixar eu entrar na... onde hoje é o prédio que está fechado, né.
P2 – Ali da Rodrigues.
R1 – É, mas eu lembro que eu não frequentava muito. Então, eu falava assim: a loja era do meu pai, era ele que mexia,né, isso é coisa do meu pai. Uma ou outra vez a gente ia, né, mas eu só fui frequentar, mesmo, diariamente, na vida adulta.
P2 – E assim… Mesmo não indo na loja, você costumava, assim… essa época que você está adolescente, você costumava ir ao Centro, pra passear, tudo ou você já é uma geração mais que conheceu o shopping de Bauru, Bauru Shopping?
R1 – Era… eu peguei mais shopping. Então, eu lembro meus pais, muito, da época que nem tinha calçadão, falavam quem batistavam, né? Passear de carro, pra ver vitrine. Eu não peguei essa época. (risos) Acho que o calçadão começou nos anos noventa e poucos, né? No comecinho da década de noventa.
P2 – Isso.
R1 – Então, até meu pai tinha uma discussão se ele era a favor ou conta o calçadão,né? Ele não chegou num veredito, ficou meio em cima do muro, se deveria fazer o calçadão ou não, mas anos depois ele concordou que foi uma boa coisa. É um boulevard, né? Um espaço aberto.
P1 – Uhum.
R1 – Então, os shoppings estão fechados, mas o calçadão podia funcionar nessa época de pandemia, porque é ventilado, aberto, né?
R1 – Sim.
Uma coisa que eles se inspiraram acho que muito em Curitiba, né? No calçadão de Curitiba, pra replicar aqui em Bauru.
P2 – Foi uma experiência bem diferente. Foi em 1992, você tem razão, é o começo dos anos noventa.
R1 – É. Meu pai não foi favorável, assim, categórico ao calçadão... Ele ficou meio assim, receoso. (risos)
P2 – E será que...
P1 – Ele ficou com medo…
P2 – Hã?
P1 – Desculpa. Não, eu ia perguntar se seu pai ficou com medo da concorrência. Por que ele ficou meio receoso, assim, com o calçadão?
R1 – Não passar carro ele não sabia como seria o comportamento do consumidor, né? Então, uma loja ficava no meio do quarteirão, a pessoa vai estacionar e vai até lá? Então, esse que era o receio dele. Apesar dele estar na esquina, daí não sabia qual seria o impacto pra consumo, assim, né? A pessoa ia desistir de ir no calçadão, porque tinha que estacionar nas transversais. Então, essa era a preocupação dele.
P2 – E, ao mesmo tempo, em meados dos anos oitenta, tem a chegada dos shoppings, né?
R1 – Sim.
P2 – Ele chegou a comentar com você se... de mudar pro Bauru Shopping ou pelo perfil da loja, não faria sentido?
R1 – É, pelo perfil da loja não faria sentido, porque a gente atende, nosso cliente, em geral, é homem, sem escolaridade, sem ensino superior, Então, meu perfil é homem, classe C, D e E e o shopping não faria sentido pra nós. Então, o shopping seria um outro público, né? Classe A, B. Então, pra nós não faria sentido. Meu pai frequentou muito pouco o shopping, também ele não tinha gosto, era um outro perfil, não era a praia dele.
P1 – Então ele nem cogitou, realmente, abrir uma filial na loja, né, porque não era o perfil, você comentou.
R1 – É. Não.
P1 – Sim.
P2 – E o processo de ir pra Primeiro de Agosto, Neto? Porque assim… Eu lembro que a loja, quando abriu, estava muito bonita.
R1 – Obrigado! (risos)
P2 – Não, eu lembro, mesmo. Eu falei: “Nossa, de repente uma loja enorme aqui, né”...
R1 – Sim.
P2 – Com um letreiro laranja, se não me engano.
R1 – Exatamente. (risos) Ela foi traumática no seguinte sentido: a relação familiar, é… eles pediram o nosso despejo lá. Não por falta de pagamento, nem nada. Foi um despejo por denúncia vazia, que eles chamam, né? Então o contrato havia vencido...
P2 – Sem motivo.
R1 – Sem motivo. Então, o contrato havia vencido, eles não queriam renovar, o meu pai tentou permanecer ali mais tempo, pra se organizar e, no fim, eles entraram judicialmente com o despejo, por denúncia vazia. E a gente viu, assim, que não precisava. Se a gente tivesse lá, a gente estaria conservando o imóvel, valorizando o entorno, né? Mas há males que vêm pra bem, então eu vim pra um outro lugar mais ao Centro, então eu estou mais bem localizado, eu tive aumento de fluxo de cliente, eu sou bem servido de estacionamento. Então eu falo assim: “Deus preparou esse lugar”, porque aqui, depois do Júlio Meca, foi Santo Antônio, foi loja de calçados, foi o bingo… Bingo Cidade, né? Então, era um espaço... pra mim foi perfeito. Então, veio na hora certa. A gente teve que fazer uma reforma que estava muita coisa inacabada, mas graças a Deus nos estabelecemos aqui próximo à outra loja.
P2 – E aí vocês têm ali grandes vizinhos também, né?
R1 – Sim.
P2 – Ficou, assim, um quarteirão interessante, né, na Primeiro de Agosto?
R1 – É. Aqui na quadra três nós temos a Casa Company, que comprou o terreno do Kurosawa e ampliou; nós temos Magazine Torra-Torra; no… nas transversais nós temos Beco do Armarinho; Casa São Jorge. Então, a gente está bem localizado de comércios assim, vizinhos, né?
P1 - Uhum.
R1 – Ali na quadra dois tem a Lipel, do ‘seu’ Jair. Então, a gente está bem localizado. Nós conseguimos contornar a situação, apesar de ter sido traumática, como eu disse, né, a gente conseguiu reverter a situação.
P2 – Fala um pouco, descreve pra gente o interior da loja, Neto.
R1 – Bom, ela tem novecentos metros quadrados, ela é toda piso térreo, sem escadas e ela se divide em departamentos, né. Então nós temos ferramenta manual, ferramenta elétrica, um pouquinho de jardinagem, um pouquinho de hidráulica, um pouquinho de elétrica, parte agrícola. Então, a gente está bem estabelecido, assim, graças a Deus, comportou tudo num lugar só. Então ela atende pessoas físicas, pessoas jurídicas, profissionais, hobbystas. Então, graças a Deus, a gente conseguiu fazer um lugar assim que atenda vários públicos, bem localizada. Então, a gente teve sucesso nesse sentido.
P1 – Sim. E você falou de pessoa física e jurídica, ou seja, então você atende empresas também, né? Quais a procura, tipo, é em atacado… O que seria esse produto? Porque eu acho… eu achei novo... eu lembro quando eu fiz a primeira entrevista com você, né, pra fazer a seleção, você havia dito que atendia também pessoa jurídica. Como que é isso? Como que funciona?
R1 – Esse departamento começou em 2007, se não me engano. Começou sem muita... meio despretensioso, sem muita ambição. A gente começou a oferecer pras indústrias da região, pra construção civil, essas MRV, Vitta e a gente conseguiu ter uma clientela boa. Então, na pandemia, por exemplo, que a gente está com uma queda no faturamento, né, esse segmento que a gente tem, de empresas, não sofreu uma queda brusca. Construção civil, por exemplo, está funcionando. Então, a gente conseguiu manter a nossa situação aí, graças ao departamento de televendas, que atende as pessoas jurídicas. Então, foi uma necessidade, né, então a gente está com a loja física, tem a televendas e a gente está pensando em abrir outros caminhos, que é a venda on line, o e-commerce, né, que a gente tem, meio ‘pisando em ovos’, mas diversificar esses canais aí foi importante pra gente ter uma sobrevivência, né, uma competitividade e poder dar continuidade aí… à história da loja.
P1 – Você tocou no assunto que eu ia falar, né? A gente ia chegar nesse assunto, da pandemia. Como que foi, Neto, pra vocês, a pandemia? Porque, no caso, não é um serviço essencial, né? Quando houve o primeiro lockdown, de fechar e o confinamento…
P1 – Sim.
R1 – E como foi pra loja de vocês? Explica um pouco, por favor.
R1 – Sim. Olha, Daiana, o ano de 2020, pra nós, não foi ruim. Pelo contrário, nós tivemos aumento de receita. Por duas situações: uma que, com as pessoas em casa, elas começaram a ver pequenas reformas, coisas que elas tinham que consertar e, com isso, vinham comprar na loja. E, paralelamente, a construção civil não parou. Então, os prédios que a gente vê dessas construtoras MRV, Vitta, eles continuam sendo feitos. Então, nós não tivemos uma queda de receita. Pelo contrário, nós fomos, assim, abençoados em ter até um aumento de receita, diferente de outros segmentos aí. Eu acho que eu só não estou mais contente que os supermercadistas, porque os supermercadistas estão rindo à toa. (risos) Estão numa fase excelente. O Tauste trocou todas as prateleiras, câmara fria, fez uma reforma lá, porque eles estão numa fase ótima. Então… eu não estou assim, mas eu tive um ano de 2020, apesar da pandemia, bom, graças a Deus, bom.
P1 – Que bom! Legal. No caso, você quer perguntar alguma coisa, Cláudia?
P2 – Eu vou perguntar de outro lado, depois, mas eu acho, Daiana, Neto, em relação a pandemia, né, que você falou que foi bom pra você, mas assim, quais foram os aprendizados, assim, que você e sua equipe tiveram assim, em relação a se adaptar rapidamente? A gente está fazendo um ano de pandemia, né?
R1 – Sim.
P2 – Como é que foi esse processo de adaptar, cada dia uma surpresa, né? A gente está falando que hoje você tem uma situação muito específica pra realizar venda, né?
R1 – Sim. A princípio, o que a gente teve que fazer, Cláudia, foi melhorar nossa comunicação. Então, de imediato a gente já criou um grupo no whatsapp, por exemplo. Nós não tínhamos esse… esse tipo de comunicação.
P1- Uhum.
R1- Então, eu tinha que, a princípio, fazer uma… um revezamento de vendedores. Então, eu fazia uma escala: “Você vem em um dia, você vem em outro”, comecei a dar férias pra quem eu podia dar, comecei a ficar atento às notícias, então eu consegui dois meses, por exemplo, ter uma folha financiada por empréstimos do governo, fui atrás de linhas de crédito subsidiadas, Pronamp, fui atrás do que estava sendo oferecido no mercado, né? A loja fechada, eu lembro que eu já criei a conta no Mercado Livre. Então eu lembro que eu não parei de trabalhar nenhum dia. Então eu fiquei com a porta fechada no auge da pandemia, né, mas trabalhando internamente. Eu vendia muito pouco, quase nada. A gente já estava pensando. Então, a pessoa tem que se programar. Então, se ela não entrega, ela tem que fazer entrega. Se ela não tem uma presença on line, digital, ela tem que ter uma divulgação na internet. Mínima que seja, né? Então, eu vejo que muito comerciante se acomodou, fechou as portas e falou assim: “Não, vai voltar tudo como era antes”. Não vai. Mudou os hábitos de consumo. Os mais velhos, que não dominavam a parte de informática, já sabem usar whatsapp, pedir por whatsapp. Então, as pessoas aprenderam novos hábitos de consumo e eu vejo que essa vai ser a principal mudança, né? Eu não acho que vai deixar de ter loja física. O meu setor, principalmente, se precisa de uma peça, uma máquina, por exemplo, precisa pra já, não pode esperar. Uma ferramenta. Agora, eu vejo a pandemia como isso, né? Mudou hábitos de consumo.
P2 – Maravilha! Eu vou fazer uma pergunta e você me fala se sim ou não. A família Sampaio era um pouco ligada ao Bauru Kennel Clube. Era o seu pai ou não?
R1 – Era o meu pai. Existe até hoje. (risos)
P2 – Era seu pai. Então, queria que você falasse um pouco do Bauru Kennel Clube. Porque eu fui muito lá, quando eu era criança, adolescente. (risos)
R1 – Ahhhhh! Na chácara, é verdade. A gente tem uma propriedade rural que chama Chácara Sampaio, né?
P2 – Aham.
R1 –… é vizinha aos Ferraz e meu pai começou com o Clube do Pastor Alemão. Então, ele fazia a criação de uma raça específica, né? Ele começou a vislumbrar, trazer o Bauru Kennel Clube, que é de raças mistas, né? De um clube misto. E ele, sozinho, assim, conversava com o pessoal de São Paulo e fundou o Kennel Clube em 1975, que é um clube que seria equivalente a um cartório civil pra cachorro, né? Então, o ser humano tira RG, o cachorro tira o pedigree. E o clube fazia as exposições anualmente, né? Então reunia os criadores, as exposições não remuneram em dinheiro, mas elas remuneram em títulos. Então, quando um cão é um grande campeão, a ninhada dele tem mais valor, é uma genética mais refinada, assim né? Então, meu pai viveu também o Bauru Kennel Clube, é o hobby dele, eu falei que ele criava cães quando era a infância, o cachorro sempre foi o gosto do meu pai, né? Então, criava cachorro, depois deixou de criar, mas não deixou de ter o Kennel Clube. Ele fazia ainda, no Kennel Clube, a parte burocrática, né a parte de papelada.
P2 – E aos domingos tinha sempre uma reunião ali na chácara, né?
R1 – Tinha. Era um evento meio social.
P2 – É.
R1 – Meu pai ele frequen… ele morava na chácara, né, e ele convidava os criadores. Então aí… não só criadores, como a família, os curiosos, né? Então, depois eles terminavam, tinha aquele bate-papo, né? Então, era uma coisa meio social. Meu pai, quando foi pro Shangri-la, ele para com essa parte do social, do Kennel, de se reunir, né, aí ele para e começa a fazer as exposições uma vez por ano, lá no Recinto Mello de Moraes.
P2 – No Recinto, já, né?
R1 – É.
P2 – Neto e a casa da chácara, era uma casa antiga?
R1 – Era uma casa antiga. Ela tem uma curiosidade.
P2 – Eu quero que você conte pra gente. (risos)
R1 – Onde é a sede social do BTC, que foi vendida lá pra Multicobra, era onde meu avô residia. E quando o BTC quis comprar, ele desmancha essa casa e monta igualzinha na chácara. Então, ela foi quase que transferida. Então, são os mesmos tijolos, uma coisa bem interessante.
P1 – Nossa!
R1 – A casa que tinha aqui na sede social do BTC, ela vai pra chácara. E meu pai reside lá até 1990, se não me engano, até 1990, ele reside lá na chácara. E é onde tinha as reuniões, os encontros do Bauru Kennel Clube.
P2 – Então, era a casa que seu pai morou aqui na cidade…
R1 – É, que meu avô tinha…
P2 – … que ele transfere… que seu avô tinha, que ele transfere tijolo por tijolo, lá pra chácara?
R1 – Exatamente. À beira, lá, da Comendador.
P2 – Com a mesma planta, né?
R1 – A mesma planta. Meu avô, depois, quando reforma o prédio aqui da Batista, ele vem morar no apartamento, ele não mora mais na chácara, aí meu pai, no primeiro casamento, pede pra morar lá. E meu avô… ele nunca criou uma objeção pro meu pai morar lá, apesar de ter os irmãos, meu pai acha que… meu avô não falava isso verbalmente, mas era uma espécie de uma predileção que ele tinha, (risos) então ele sabia que meu pai ia cuidar, que não ia deixar aquilo deteriorar e ele mora lá no primeiro casamento, divorcia, casa depois com a minha mãe no segundo casamento e fica lá até 1990.
P1 – Bacana.
P2 – Quando, aí, vai pro Shangri-la?
R1 – Quando vai pro Shangri-la. Que ele compra do Marcos Ferraz a casa e vai pro Shangri-la.
P2 – Fantástico isso! É muito lindo!
R1 – É uma curiosidade. (risos)
P2 – É, mas eu acho que esses eventos de domingo, eles eram muito concorridos, assim.
R1 – Sim, minha mãe conta que eles terminavam, tomavam uma bebidinha lá, faziam uma social, né? Então, era uma maneira... Bauru era menor, né? Então, se conhecia mais as pessoas, fazia-se amizades. O encontro da minha mãe com meu pai foi por meio de cinofilia, foi por meio dos cães, né?
P2 – Ah é? Hã?
R1 –Eles se encontraram em uma exposição em Ribeirão Preto.
P1 –Legal!
R1 – Então, meu pai viveu o Kennel Clube. A Daiana perguntou se meu pai tinha algum hobby, né, além da loja, eu esqueci de falar do Bauru Kennel Clube. (risos)
P2 – Ele escreveu o livro também, tem um livrinho do Bauru Kennel Clube, né?
R1 – Escreveu… Ele escreveu quando o clube completou quarenta anos. Também o ‘seu’ Irineu Bastos estava por trás ali, pra confeccionar o livro.
P2 – Ajudar.
R1 – Sim.
P2 – É. O ‘seu’ Irineu é um grande historiador assim... Muito querido. A gente conversou com ele no começo do projeto, sabe?
R1 – É, eu falo que o ‘seu’ Irineu, o do Jornal da Cidade, o...
P2 – O Luciano?
R1 – Luciano Dias Pires, Dona Terezinha Zanlochi, lá da USC…
P2 – É, é…
R1 – … essas pessoas todas tem que… elas são joias da cidade, assim… tem que manter o contato com elas, porque elas têm muita memória pra contar.
P2 – Têm. Têm… Mas aí o seu pai, então, fechou o Bauru Kennel Clube, mas continuou fazendo as exposições lá no Recinto, né?
R1 – Lá no Recinto, é. Então, ele fazia anualmente, até antes... até dois mil e… a pandemia foi em 2020, né, até 2019 teve exposição.
P2 – É mesmo? Nossa!
R1 – É mesmo. É que a exposição - meu pai depois se decepcionou um pouquinho - virou um business, sabe?
P2 – Aham.
R1 – Então, virou um negócio. Então, as pessoas não vêm mais expor os cães, elas dão pra handlers. Handlers, seria o equivalente ao jóquei, hoje em dia, do cavalo. Daí a pessoa que vem, apresenta o cão e vai embora. Então, essa parte social de conhecer os criadores, conversar, foi diminuindo.
P2 – Da amizade, mesmo, né?
R1 – Da amizade. Do relacionamento.
P1 – Da troca, né?
R1 – É, da troca de informação. Então foi virando um business. E meu pai se decepcionou um pouco com isso, eu sinto, né?
P2 – Aham..
R1 – Mas é…
P2 – Mas ele continuou tendo os cachorros dele, né?
R1 – Continuou, é. Agora não tem mais cachorro. Agora só tem gato. (risos) Mas ele teve.
P2 – É, ele que trouxe o pastor alemão pra cá, pra Bauru?
R1 – Ele começou com o Clube do Pastor. Existem os clubes mistos, né? O Bauru Kennel Clube é misto. Existem os clubes específicos: do pastor, do rottweiler. Então, ele começou com o pastor. Aí, com o pastor, ele teve uma discussão interna lá, que eu não vou saber dizer com detalhes e aí ele se distancia do pastor e cria o clube misto…
P2 – O misto…
R1 – … que é o Bauru Kennel Clube.
P2 – Entendi, muito bom, muito bom... E a casa está lá, Neto, lá na área?
R1 – A casa está lá, só que ela, hoje, ela é uma casa abandonada.
P2 – Uhum.
R1 – Então, ela está em... eu posso dizer até, em ruínas. Hoje eu não posso mais habitar ali. Se eu for vender ali no futuro, então alí é uma casa que, se um dia eu for vender aquele pedaço, eu vou ter que, infelizmente, demolir, desfazê-la, porque ela se deteriorou muito de 1990 pra cá.
P2 – Entendi. Entendi. Maravilha! O que mais você pode falar pra gente? Eu gostei muito desse pedaço. (risos)
R1 – Falar que a vida comercial é dia após dia, né? Então, hoje a gente está vivendo a situação, o próximo desafio a gente não sabe qual vai ser, mas é… o comerciante tem que... meu pai falava que comércio é prisão sem grade. Ele usava essa frase.
P1 – Já ouvi falar isso.
R1 – É. O comerciante que quiser viver de viagens, de ficar indo… saindo da loja pra qualquer coisa, ele não… ele perde o fio da meada. Então, por exemplo, meu tio Wallace lá do sindicato patronal, tem ex-funcionários que falaram que ele chegou a ficar três meses afastado, pra cuidar do sindicato. O negócio dele é o sindicato, até hoje. (risos) Então, se eu fico três meses fora, eu não sei mais nada do que aconteceu, do que não aconteceu. Tem gente que saiu de férias, já voltou de férias. Eu não… eu perco o controle, né? Então, comerciante tem que saber fazer, estar presente, né?
P1- Uhum.
P2 - Neto, assim, agora, durante a pandemia, eu fico com a sensação – me corrige se eu estiver errada, traz a sua visão, claro – que parece que cada dia é um desafio diferente.
R1 – É. A última foi a tal da fase emergencial, né? Então, eu estava podendo abrir, porque eu sou do segmento de material de construção. Agora os materiais de construção não são mais considerados essenciais, o que eu acho uma ironia, porque a construção civil está funcionando e os materiais de construção civil não… construção material não podem funcionar. Então, não faz sentido.
P2 – Vai faltar, uma hora.
R1 – É. Eles podem entregar, mas você vai escolher um piso por telefone? É difícil, né, é complicado.
P2 – É.
R1 – Então, até meu tio Wallace está tentando, lá, fazer uma liberação, pra que volte a ser essencial os materiais de construção.
P2 – Aham.
R1- Mas o desafio realmente é: os clientes pessoas físicas têm sido um desafio muito grande, fazê-los comprarem por outros canais, seja por telefone, por whatsapp, e-mail. É muito difícil. A gente carece muito do cliente vir na loja. E também esse… essa sensação que gera, essa insegurança, assim, afeta também o comércio. Então, se você liga o noticiário, jornal, rádio, você fica apavorado. Então, você não quer sair de casa, não quer comprar, segura os gastos. Então, tudo isso influencia negativamente, assim, principalmente a pessoa física. As empresas continuam comprando. A gente não teve uma queda brusca, assim, de faturamento pras empresas, mas as pessoas físicas a gente tem sentido, assim: como pescar essas pessoas, fazê-las comprarem por outros canais, mas é um… tem sido nosso último desafio.
P1 – Você disse do... sobre televendas, né Neto? Como que funciona a televendas aí na loja de vocês? Como que é a apresentação dos produtos? Eu fiquei com essa dúvida.
R1 – O televendas funciona basicamente por telefone, mesmo. Então, são vendedores que praticam preço diferenciado pra empresas. Por quê? Porque a empresa compra com constância. E em maior quantidade. Então, os preços são diferenciados, nós entregamos, na maioria das vezes os clientes não vêm na loja, apesar de ter um ponto que ele pode tirar aqui no local, a maioria pede pra entregar e a gente tem conseguido atuar e até em cidades da região. Então, a gente tem cliente em Pederneiras, tem cliente em Pirajuí. A gente consegue aí, em um raio de cem quilômetros, atender as obras. Já consegui fornecer pra MRV de Botucatu. Então, é um setor que ele é bem-sucedido. E ele tem essa característica de uma recompra constante. O consumidor comprou um chuveiro esse ano, se não queimar a resistência, ele não vai voltar na loja tão cedo. (risos) Agora, a empresa, não. A empresa acabou essa obra, ela vai pra próxima obra e assim sucessivamente, né? Então, é um cliente, pra nós, que é muito interessante ter e fidelizar. Mas eles basicamente compram por telefone, alguns têm sistemas de cotações informatizadas, então a gente recebe um e-mail. E a Sendi Engenharia, por exemplo, lá perto da rodoviária, né? A Sendi manda as cotações por e-mail, as empresas respondem, o menor preço eles fecham. Então, a Mezzani, o pessoal lá do distrito, né, a gente atende também essas empresas do distrito industrial de Bauru. O pessoal fala que Bauru não tem indústria, mas tem indústria, sim. (risos)
P2 – Tem bastante, né?
R1 – Isso aí não é uma verdade, não. (risos)
P2 – É que o pessoal fala que Bauru é uma cidade de comércio e serviços, né?
R1 – É. O grosso é, mas não é que ela não tenha indústria, né? Nós temos uma Tilibra. Tem indústrias, né, na cidade.
P2 – Interessante.
P1 – Sim. E você disse também das vendas on line, no caso, e-commerce. Vocês já estão trabalhando nisso? Como que, como que está sendo, Neto?
R1 – A gente está trabalhando, Daiana, mas de uma forma muito ainda ‘pisando em ovos’, eu diria. Então, a gente está, né... no auge da pandemia a gente criou uma conta no Mercado Livre, por exemplo, pra fazer um aprendizado. Mas o Mercado Livre, que eles chamam os tais de marketplace, né, eles cobram taxas altas, eles comem uma boa porcentagem do nosso lucro, né? Então, a gente estuda: “Vamos continuar no Mercado Livre? Vamos criar um site próprio?” Então, é uma coisa que a gente está, ainda, aprendendo. É muito novo. A gente passou a vida inteira com a venda… venda balcão, venda presencial. Posteriormente veio a televendas, em meados de 2007, começou o televendas também engatinhando. E a venda on line também, a gente está, também, engatinhando. A gente não tem o domínio, ainda, do… do como fazer, mas a gente está aprendendo como é que anuncia, como faz o preço, a entrega pelo correio, transportadora. Então, é uma coisa...
P1 – Demonstração de produtos, né?
R1 – Demonstração de produtos. A gente não tem, ainda, muita familiaridade, mas a gente está procurando aprender. Faz cursos, o Sebrae tem muita coisa nessa área, então a gente vai aprendendo.
P1 – Entendo.
P2 – Maravilha! Você acha que está faltando a gente falar de alguma coisa, Neto, que a gente não tenha perguntado? Ah, bom, eu já lembrei, mas você acha que falta falar alguma coisa específica do comércio?
R1 – Olha, em termos gerais, acho que a gente deu uma boa pincelada. (risos) Eu acho que o comércio que eu falei é isso, é… Ele não é mais só o Centro da cidade. Ele é uma coisa maior hoje, né? Então, os corredores que eu citei da Getúlio, Nossa Senhora de Fátima, Nações, Mary Dota. Então, hoje ele… ele é maior, por conta do crescimento populacional da cidade, né? Então, a gente não pode ser saudosista e falar assim: “Bauru antigamente era melhor”. Eu não sei. (risos) Era diferente. Era.... meu pai e minha mãe conviveram num local que o Centro era onde tudo estava ali.
P1- Uhum.
R1- Agora a gente tem dois shoppings, os Villaggios, tem o tal do Villaggio Mall. Eu nunca fui ao Villaggio Mall, é outro público. Então, cada um tem um segmento ali, tem espaço pra todo mundo, acho que o sol nasceu pra todos. (risos)
P1 – É, né?
R1 – Agora é só essa questão que eu falei: empresário não pode ter uma ilusão de querer colher os lucros antes de estar bem estabelecido, né? Então, tem que se aprender a ter o pé no chão, não dar um passo maior que a perna. Então, na pandemia a gente fez a lição de casa, tem uma reserva de caixa aí pra uma eventualidade. Então, a gente vê muito quem começa, às vezes, começa misturando muito a pessoa física com a jurídica, né, e no fim, a firma sofre com isso. A pessoa tem que ter um pé no chão, definir um pró-labore que vai tirar todo mês, não sangrar a empresa. Tem muito empresário aí que sangra, porque quer viver, às vezes, um padrão que não pode. A empresa não está num patamar que ele pode tirar aquilo de pró-labore. No fim a empresa vai sofrer as consequências.
P2 – É. Ô Neto, deixa eu perguntar assim, um lado mais pessoal: você casou, tem filhos? Como é que é isso?
R1 – Eu casei com a loja. (risos)
P1 – Que relacionamento sério, com a loja!
P2 – Sempre a gente casa com o trabalho, né?
R1 – Pois é. Eu não casei ainda, mas o trabalho absorve tanto, que a gente fala assim: “Final de semana vai sair?” “Não vou sair, vou descansar” (risos) A gente acaba...
P1 – Treze anos nesse relacionamento, hein? Daqui a pouco...
R1 – Pois é! Minha mãe me cobra: “Você não vai dar um netinho? Não vai procurar?” (risos) Tem que usar esses recursos on line agora, que precisa sair de casa.
P2 – É, agora na pandemia, ainda mais.
R1 – Os aplicativos.
P1 – Agora, se ela perguntar, você já pode dar essa desculpa: “Ai, mãe, a pandemia”. (risos)
R1 – Pois é!
P2 – Ô Neto, o que você gosta de fazer nas horas de lazer, assim?
R1 – Olha, meu pai faleceu em 2019, por conta de um problema cardíaco, a família dele toda tem uma genética problemática cardíaca. Então, eu aprendi a gostar de fazer exercícios, então até estou dando umas corridinhas lá no Shangri-la, consigo correr, às vezes o joelho dá uma gritada, eu tenho que parar um pouquinho pra depois voltar, mas eu aprendi a fazer exercício, eu gosto de fazer esses cursos pela internet, ficar em casa, assistir televisão: noticiário, filme, essas coisas. Como eu falei no começo, eu sou mais introspectivo, mais caseiro, assim, então muita coisa em casa.
P2 – É. E agora nem dá muito pra circular.
R1 – É, exatamente.
P2 – Maravilha! Você quer retomar, Daiana, pra começar a encerrar?
P1 – Ah, então é isso, eu ia… a gente ia perguntar se tem alguma coisa que você queira falar, que a gente não perguntou, que você acha importante da gente saber.
R1 – Ah, eu queria agradecer primeiro à Daiana, por ter estado aqui, conversado pessoalmente, antes da pandemia, a gente nem sabia o que vinha pela frente, né, Daiana? (risos)
P2 – Nossa!
P1 - Que coisa, né, Neto? Nossa!
R1 – Mas agradecer por fazer parte do projeto. Eu não tenho tanta história quanto meu pai teria. Meu pai eu falo que era uma enciclopédia ambulante...
P1- Uhum.
Mas o que eu pude acrescentar, lembrar aqui rapidamente, trazer, eu trouxe, né? À Cláudia agradecer ter trazido a lembrança do Bauru Kennel Clube, que também foi importante aí.
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