Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Luís A.
Correa e Costa (Müller)
Entrevistado por: Itamar e Valéria
São Paulo, 06 de dezembro de 1993
Entrevista nº 018
P – Müller, onde é que você viveu a tua infância? A tua casa, como era seus pais, seus irmãos, todo o dia a dia lá em Campo Grande?
R - Como você já disse muito bem, eu nasci em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
É, em 1966, hoje eu tenho 27 anos e realmente a minha infância eu considero que foi muito boa, porque apesar de vir de uma família pobre, né? É.
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Eu tive uma infância.
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Tudo o que eu queria eu tive, né.
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Então toda aquela.
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Porque quando eu era pequeno, eu tinha aquele.
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Todo o dia, o dia inteiro jogando bola né, acordava às sete horas da manhã e ficava até às cinco da tarde na.
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Nas quadras, na rua mesmo, quer dizer, sempre, né? Fazendo aquilo que eu gostava de fazer e.
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Trabalhar era o de menos, né, porque eu era pequeno, dependia dos meus pais para sobreviver, e tinha muito, como eu tinha, tenho muitos irmãos, meus irmãos todos trabalhavam e.
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Logo depois, com dez anos que eu fui ter meu primeiro serviço.
Assim, trabalhei de entrega jornal, dois serviços que eu me lembro, entregava jornal em Campo Grande, na época, e depois trabalhei numa casa de frangos, eu fiquei uma semana só, e depois que eu recebi eu fui embora.
(Risos)
P - Que é que você fazia? Qual a idade?
R - A idade eu tinha o que? Tinha doze pra treze anos né.
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P - Quantos irmãos você tem?
R - Eu tenho seis.
Seis irmãos sendo uma mulher.
P - O que é que vocês faziam, juntos os irmãos? Vocês brincavam, como é que era Campo Grande, que tipo? Além de jogar bola, como é que vocês jogavam bola também, como é que era a cidade, a rua.
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R - Mas, quando eu era pequeno eu me lembro que é.
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Campo Grande não tinha nada com relação à hoje, era tudo mato, não tinha centro, eu.
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Porque eu era pequeno e que me lembro, eu nasci em Campo Grande, mas na época era tudo fazenda né, tudo pantanal, depois que a gente se mudou pro bairro né, um bairro melhor, uma casa própria e.
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Meus irmãos começaram a trabalhar e pra mim, não tinha dia mais feliz do que quando chegava o Natal, Ano Novo né? Que era o dia que a gente estava mais reunido, apesar de que todos os dias a gente tava reunido né, fim de semana, almoçava.
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Minha família é muito unida né, almoçar junto com os irmãos, oito irmãos né, o mais velho morreu, tinha oito irmãos, tudo junto, os pais, os parentes, então pra mim era muito.
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Eu ficava muito contente em ver todos os meus irmãos né, aquela família unida sempre almoçando e jantando junto e no Natal e Ano Novo era mais.
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Porque era o dia mais especial pra todo mundo, todo brasileiro, e eu ficava muito contente de ver toda a minha família, assim reunida pra conversar, bater papo, brincar, né.
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Pra mim era muito.
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P - Qual era o trabalho do seu pai?
R - Meu pai trabalhou sempre.
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Ele era, é.
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Posso falar que trabalhava no campo né, de é.
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Criar gado, assim no pantanal, né? Depois quando a gente veio pra Campo Grande ele passou a trabalhar na ENERSUL né, nas Centrais Elétricas de Mato Grosso do Sul e ficou lá, ficou 30 anos e depois se aposentou no ano passado, meu pai se aposentou.
P - Alguma vez você acompanhou seu pai numa comitiva.
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Comitiva de gado assim, você acompanhou seu pai, subiu no mesmo cavalo?
R - Não, porque eu não era nascido ainda, eu fui nascer em Campo Grande, né.
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A maioria dos meus irmãos nasceram em Aquidauana, no interior de Campo Grande, dentro do Pantanal mesmo, eu fui nascer em Campo Grande, Mato Grosso do Sul já, mas em Campo Grande naquela época eu me lembro, não tinha nada assim.
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Asfalto, casa, comida.
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Era mato mesmo.
P - Tua mãe fazia o quê?
R - Minha mãe? Minha mãe trabalhava em casa.
Mas minha mãe, depois que nós viemos para Campo Grande, ela começou a trabalhar de.
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Numa lanchonete.
Ela trabalhava numa lanchonete, sempre trabalhou, sempre gostou de trabalhar em lanchonete, trabalhou muitos e muitos anos.
Tanto é que depois ela adquiriu uma lanchonete em sociedade com um amigo nosso e sempre trabalhou em lanchonete, depois vendeu, não quis mais saber, começou só a cuidar do.
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De mim e do meu irmão caçula, que a gente era os menores, aí ficou em casa e ficou cuidando da gente.
P - E na rua você tinha um time, lembra do primeiro time? Como é que era, brincava com que tipo de bola? Como é que era o futebol lá?
R - Não, mas naquela época você é pequeno, você.
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Jogava bola descalço, sem camisa, só de calção naquele sol quente do Mato Grosso, né.
P - E a bola?
R - A bola, qualquer bola, bastava ser redonda, né? A gente jogava bola, colocava duas pedras, uma, duas aqui e duas lá, fazia o campo e jogava, tanta era a paixão pelo futebol, né? E como eu disse a você, era muito.
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Pra mim era uma vida, né? Eu acordava, todo dia pra mim não mudava, né? Sempre todo dia eu jogava bola, todo dia, e tinha dia assim que eu falava: “eu vou fazer isso assim como faço hoje”, posso escolher o que fazer, às vezes, né, quando vou ao teatro ou, no cinema, pra mim não existia nada, eu vivia num mundo totalmente diferente de São Paulo.
Naquela época era um mundo, tipo assim, que só se baseava em jogar bola todo dia, né? Só fazia essa coisa.
P - E a escola?
R - Aí com o tempo eu comecei a estudar, né? Estudava, tanto é que eu era tão fanático por futebol, que quando eu jo.
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Quando eu estudava, porque sempre tem aqueles quinze minutos de recreio, né, e a gente ia jogar na quadra, jogava bola na quadra e voltava todo sujo e suado para a sala de aula.
Aí ficava de castigo, a professora colocava de castigo, levava suspensão.
P - Que tipo de castigo ela te dava, você lembra?
R - Ficava de joelho né, assim do lado da classe, você ia pra fora, ou você ia embora pra casa, suspenso.
Mas isso era o que se fazia, você deve ter passado por isso.
P - E o primeiro time organizado, com camisa, que você lembra que você jogou? Ou você não teve?
R - Tive.
Em Campo Grande quando já era grandinho, tinha o quê? Quinze anos e tinha um time local que chamava Operário, um time uniformizado mesmo do bairro né?
P - Exato.
R - Tinha, é.
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P - Como é que chamava?
R - Portuguesa né, as cores da Portuguesa, a gente ia jogar em muitos bairros em Campo Grande.
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P - Jogava de quê?
R - Eu sempre joguei de que, naquela época eu jogava de camisa oito ou camisa dez, sempre joguei assim, meio de campo, sempre jogador de meio de campo, sempre meio de campo.
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P - Te chama.
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R - Nunca joguei na frente.
P - Te chamavam de quê, teu nome?
R - Meu nome na época era Toninho.
P - Como jogador Toninho?
R – Toninho.
Ninguém me conhecia por Müller como hoje, tudo é por Toninho, né? Porque meu nome é Luis Antônio, então né, Toninho é apelido.
P - Então, porque Müller? Conta pra gente.
R - Porque quando eu vim pra São Paulo em 82, eu tinha, nos anos 70, um irmão que jogou aqui no São Paulo, ele tinha o nome de Müller né? E ele foi jogar pro México, no futebol mexicano, e quando eu cheguei aqui ninguém me conhecia pelo nome, só sabia que eu era irmão do Müller, então irmão do Müller chamava Müller.
P - Mas o teu irmão foi chamado de Müller por quê? Você se lembra?
R - Porque o nome dele é José Delmulo, daí a gente o apelidava de Mulo.
O apelido dele era esse né? E ele chegou no São Paulo e os caras: “Mulo! Mulo! Müller acho que é mais bonito, é nome de jogador, então vamos colocar Müller!”, aí ficou Müller.
P - E você lembra desse jogador que chamava Müller?
R - Ah, acho que tem o Müller alemão, aquele Hans muito famoso Müller também, que jogou até 78 quer dizer, tem muitos outros jogadores.
P - Na tua casa, tua mãe e seu pai te chamavam de que? Assim lá na casa não, na família hoje, como é que os teus pais te chamam?
R - Me chamam de Toninho mesmo.
P - Os irmãos.
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R - Nunca me chamam de Müller, não me tratam como Müller.
Me chamam de Toninho, filho, mais assim, meus irmãos também, ninguém me conhece por Müller.
Conhece lógico mais por causa de hoje, mas em casa assim, quando a gente tá junto conversando, no quarto, assim, eles me chamam sempre por Toninho né.
P - Quem que levou pro Operário então, pra você começar a tua carreira?
R - Os meus irmãos.
Porque os meus irmãos, todos tiveram carreira futebolística né, aí tinha um, tinha dois que jogavam o Conrado e o José, aí eu cheguei, aí quando eu tava lá com uma certa idade, em 81, foi o ano de 81 eles me levaram pra categorias inferiores do Operário, e lá eu fui ser, fui fazer teste né? Tava na adaptação, foi aí que eu comecei a jogar, né? Gostava de linha, tanto é que eu te falei que jogava de meio de campo, né.
P - Quem que foi o técnico, você lembra? Quem é que te analisou, quem achou que você ia.
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R - Meu primeiro treinador chamava-se Silvelite.
Até hoje ele comanda o Operário, mas assim, às vezes sim, às vezes não.
Foi um bom treinador, eu gostava muito dele.
Ele foi o primeiro treinador que eu tive lá na época.
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P - E você jogando, o que é que ele falou a respeito do teu futuro?
R - Ele disse que eu era um jogador de futuro, que, realmente que quando eu crescesse, eu me tornaria um grande jogador de futebol.
Mas isso nem passava pela minha cabeça na época assim, ali como eu disse a você em Campo Grande nunca tinha objetivos grandes na vida.
Eu sempre achava, eu estava muito contente com a minha vida ali, né? Jogar com os meus companheiros e amigos, à noite quando não dava pra jogar bola, jogava, fazia outras brincadeiras, tipo bandeirinha, esconde-esconde, essas coisas de criança mesmo.
Eu não tinha objetivos grandes na minha vida, só ali.
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Eu adorava muito minha cidade, como até gosto hoje, gosto mais de São Paulo porque vivo há dez anos aqui, mas eu gostava muito de Campo Grande, é muito amiga né, eu não tinha vontade nenhuma de sair, tanto é que a primeira vez que eu vim pra São Paulo eu voltei o outro dia, eu falei: “Eu vou embora, não vou ficar aqui nessa cidade, uma loucura”.
P - Os seus amigos da época você lembra quem eram, o que eles fazem hoje?
R - Lembro todos.
Tanto é que os meus amigos que eu mais confio são eles né, meus amigos de Campo Grande, meus amigos de infância, amigos que realmente você pode contar, contar a qualquer hora, né.
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Fiéis até hoje, nunca mudaram comigo.
Hoje eles me vêem, claro né, o estilo de vida muda assim.
Mas eles sempre me tratam igual como me tratavam quando eu era pequeno, então você vê que nunca houve uma mudança de caráter com relação a mim, e eu a eles, então a gente sempre tem aquela amizade de quando era criança.
Quando eu vou para Campo Grande, sempre com eles por lá, brincando.
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P - Você volta assim na sua rua, assim lá em Campo Grande.
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R - Volto, aí volto no tempo, e puxa lembro quando eu brincava aqui, namorava a menina do lado da casa né? Pra namorar era muito criança né, chamava Sueli.
Então eu começo a relembrar todas as coisas do passado,a minha infância, realmente foi muito boa, gostei muito.
P - Você já era namorador quando você era pequeno?
R - Nunca fui namorador.
(Risos) Nunca fui.
Nunca tive isso.
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Defeito.
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P - Você acha que é defeito namorar?
R - Defeito assim, eu acho que.
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Eu sou a.
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Eu sou a favor daquela pessoa que quando ama nunca trai né, então eu tenho um conceito diferente.
P - Quando que você saiu de Campo Grande?
R - Eu saí em 82, eu tinha quinze anos pra dezesseis.
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P - Saiu pra jogar?
R - Saí pra jogar no São Paulo.
P - Quem que te trouxe? Quem é que te indicou pro São Paulo?
R - Então, meu irmão ele.
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Todo, a cada meio, a cada ano, em junho, ele vinha pra pro Brasil e ia pra casa passar as férias com a gente, aí ele veio e falou assim.
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Ó, porque os meus irmãos sempre falavam: “Pô, o Toninho é um craque, joga muito, ele tem que jogar no São Paulo”.
Porque eu sempre fui são-paulino, desde pequeno, né? Coincidência, sempre fui são-paulino desde pequeno, na época do Sergio, Waldir Peres, bem novinho, nos anos setenta mesmo que eu lembro do São Paulo, e eles sempre falavam: “Bom, o Toninho vai jogar no São Paulo, joga muito, vai jogar no São Paulo.
E eu nunca imaginava, poxa vou jogar no São Paulo, aí, tanto é que o meu irmão veio e falou assim: “ó, vou te levar pro São Paulo.
Você já tá grandinho já.
Tá com o corpo bom pra jogar”.
Eu falei: “Tá, tudo bem”.
Mas foi muito difícil pra mim, porque aí eu fui conversar com a minha mãe, porque precisava ela deixar.
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P - E como é que foi a família?
R - Foi muito difícil pra mim porque eu me lembro até hoje, como se fosse hoje que eu peguei o ônibus pra vim pra Campo Grande, pra São Paulo daí, minha família toda se despedindo, dando tchau pra mim.
Então eu fiquei muito triste naquela época, puxa, deixar meus amigos pra vir pra cá, numa cidade louca dessas, agito, assim uma barulheira, então realmente.
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P - Você nunca tinha vindo pra São Paulo?
R - Não, nunca.
Eu nunca saí de Campo Grande, sai assim, no interior de Campo Grande, mas é a mesma coisa que Campo Grande né? E realmente a minha mãe, eu conversei muito tempo com ela, eu lembro até hoje que ela falou assim: “Não filho, você sabe que a mãe fica muito triste em ver você sair, você vê que o teu irmão jogando no México, seus outros dois irmãos estão jogando em Corumbá, que é interior de Campo Grande, e agora você né? Pode ser que você vá pra São Paulo, uma cidade grande onde os hábitos são outros, totalmente diferente de Campo Grande, da pessoa que mora aqui, realmente eu fico muito triste, eu não quero que você vá, mas se for, eu tenho que pensar no teu futuro, vai que seja bom pra você? Por lá você tem mais possibilidades de se tornar um grande jogador como você quer ser né, entendeu? E todo mundo fala que você tem futuro, então se é pro seu bem, e eu sei que vai ser, então eu vou ficar triste, mas ao mesmo tempo feliz porque eu sei que você vai fazer uma coisa que você gosta e ter possibilidade de vencer na vida né”.
Realmente aquilo lá me marcou muito, mas eu fiquei muito triste quando eu deixei os meus pais.
Eu era muito apegado aos meus pais, e eu não saía de casa sem pedir para os meus pais, na rua assim né, se saia na rua apanhava né.
Então eu era muito preso a eles, né? Meu pai principalmente.
E não queria sair de jeito nenhum de Campo Grande, tanto é que quando eu vim, eu fiquei uma semana aqui, comecei a.
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Meu colega começou a me levar a todos os lugares de São Paulo assim, na Juscelino Kubitschek e outras ruas.
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P - Quem era esse colega?
R - Um colega do meu irmão, né? Que quando o meu irmão vinha de férias pra São Paulo ele ficava na casa dele.
P - Que bairro que era, você lembra?
R - Ah, aí na Vila Olímpia.
Foi no Itaim mesmo.
P - Foi ele que foi te buscar na rodoviária?
R - É, foi ele que foi me pegar na rodoviária, então pra mim era uma coisa totalmente diferente.
Eu odiei São Paulo naquele momento, tanto é que eu fui embora.
Teve uma época que eu estava jogando no São Paulo, aí era o Forlan na época o treinador do juvenil, e ele não me colocava pra jogar.
Aí que me deu uma.
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Uns cinco minutos, eu fui embora pra Campo Grande, fui embora.
Eu tinha muitas saudades de Campo Grande, na época eu tava namorando uma menina lá, e realmente longe da namorada, longe da cidade, da família, tudo isso pesou na minha cabeça e eu fui embora.
Fui embora e fiquei, fiquei lá e não fui mais, não voltei mais e o pessoal mandava telegrama, os diretores do amador mandavam telegramas para eu voltar, tudo e eu não queria saber não, não quero saber de São Paulo, aí minha mãe voltou a conversar comigo: “Não meu filho, acho que é pro seu bem, acho que você tem que ir, você mesmo não sendo muito bom.
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” aquelas coisas todas de quando eu sai de Campo Grande, no começo, ela repetiu pra mim.
“Você vai vencer na vida se tem possibilidades né, se não der certo você volta né? Você vai ser sempre bem recebido”.
Aí eu pensei bem tal, aí foi um diretor do São Paulo me buscar lá, voltei né.
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Pra cá, e fui me acostumando mais, mas não nunca gostei de São Paulo mui.
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Eu achava que eu nunca ia me acostumar aqui pelo fato de ser uma cidade grande né, e aqui em São Paulo pra você ir num lugar demora muito né, principalmente se você não tiver carro.
Na época você era juvenil, você não tinha carro, não tinha dinheiro como.
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Como que eu ia fazer.
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P - Nessa segunda vez você veio morar aonde? Você se lembra?
R - Sempre na concentração do São Paulo porque o São Paulo sempre dá alojamento pros jogadores e.
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P - Lá no estádio do Morumbi?
R - Isso, e você é obrigado a estudar né? Porque se caso, você não tiver êxito no futebol você pode ser alguém na vida estudando né? Apesar de que hoje em dia tá dificil né, pra pessoa que tá formada e tudo, tá difícil.
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Imagina a pessoa que não tem estudo, não tem na.
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Mas realmente quando eu voltei e falei: “Bom, agora eu não posso pisar na bola de novo com o São Paulo se não eles me mandam embora e não me querem mais”, aí eu fiquei aqui, fiquei e aconteceram as coisas.
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P - O primeiro jogo que você entrou no time, você lembra? O dia, contra quem?
R - No São Paulo?
P - No São Paulo.
R - Mas era.
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O quê? Em 84?
R - Isso, foi.
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Foi numa tarde, numa tarde assim que é.
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Muitas vezes assim, quando não tinha treino a tarde a gente ficava ali na escada do Estádio conversando, chegou o auxiliar técnico, na época era o Zé Carlos Cerroni, ele chegou e falou assim: “Ô Müller, o Cilinho tá te chamando, você e o Lange né”, um colega meu, aí eu cheguei lá pra treinar em baixo né, pra treinar no time junto com os jogadores né, na parte de baixo do Morumbi, a parte dos jogadores profissionais era embaixo, o amador era em cima.
Eu fui treinar com eles, eu me lembro que eu treinei muito bem naquela época.
Nossa fiz um treino muito bom, aí eu estava saindo né pra me trocar no vestiário do amador e o porteiro na época, que era o Jaiminho, me chamou e falou assim: “ó, o cara da imprensa ta te chamando”.
Era o Ely Coimbra, trabalhava na TV Record na época, aí eu falei: “Ué, que é que esse cara quer comigo? Eu acho que ele quer falar alguma coisa que eu treinei bem”.
Aí eu disse: “Tudo bem, né”.
Aí ele começou a perguntar: “Como é que você se sente em estrear no time do São Paulo de cima assim né, um time cheio de estrelas, o São Paulo sempre teve um time bom, né?” “Ah, eu me sinto muito contente, satisfeito.
Espero, né, me manter na equipe titular”.
Aí, depois da entrevista eu me lembro, eu fiquei pensando: “Puxa vida vou jogar no São Paulo, o time que eu torço sempre, os caras que eu sempre admirei na televisão, estou com eles, vou jogar com eles.
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” Então realmente, aquele negócio realmente sabe, também foi, puxa vida, uma glória muito grande.
P - Quem eram os craques desse time que você jogou?
R - Na época era o Oscar, Dario Pereyra, Renato, Careca.
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P - Qual deles você admirava mais?
R - Waldir Peres na época.
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Admirava todos, né? Porque eu era são-paulino, né? Então eu não tinha um específico assim, mais o Careca, porque jogava na frente e tal, aí eu, eu era meio de campo, sempre joguei no meio de campo.
Quando eu entrei no São Paulo, aí eu.
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Fui jogar em Taquaritinga, foi em 84 isso.
Aí foi o meu primeiro jogo, foi lá né.
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P - Quanto foi o jogo, como é que foi a tua atuação?
R - Acho que o time ganhou de três a um.
Eu não fiz gol não, mas eu lembro que eu corri tanto que.
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Faltava quinze minutos pra acabar o jogo, tive cãibra nas duas pernas né, aí o Cilinho falou: “Um garoto de 18 anos ter cãibra? Isso não é normal”.
Eu fiquei todo sem graça, mas eu me lembro que eu falei: “Pô, vai ser uma decisão pra mim”, parecia que era a última partida da minha vida, tanto é que eu corri pra poder me reafirmar.
P - E aí, como é que foi a tua relação com o Cilinho? Cilinho é considerado o técnico que te lançou no futebol.
Como é que foi a tua relação com ele? Era uma pessoa.
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R - Era uma relação de pai pra filho, o Cilinho sempre foi um pai pra mim.
Foi o treinador que me lançou, né? Que me projetou no futebol né, e realmente eu aprendi muito com ele né, muitas coisas hoje, reticamente né.
Eu agradeço a Deus principalmente por ter colocado o Cilinho na minha vida né, ter colocado o Cilinho e ele ter me ensinado muitas coisas do futebol.
Realmente o Cilinho era muito bom.
Nossa, era um dos melhores, e pra mim até hoje eu considero ele um dos melhores treinadores do Brasil, realmente.
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Ele sabe muito.
P - E aquela história que ele era meio bravo, meio rigoroso com os jogadores, não tinha uma.
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R - Não, o Cilinho não.
Ele era rigoroso no campo né, como todo treinador tem que ser, mas ele, eu lembro que na época ele revolucionou o futebol.
P - Que é que ele fez que você acha que revolucionou?
R - Ah, ele lançar, prestigiar jogadores de categorias inferiores, né? E implantou um estilo de jogo no São Paulo que quase ninguém tinha na época: quatro, quatro, dois, né? Jogava sempre quatro pra frente, tanto é que o São Paulo joga até hoje com esse estilo né, prá frente, quatro, quatro, time para ganhar e liberando jogadores das categorias inferiores.
Tudo aquilo que ele colocou, que ele implantou aqui no São Paulo, até hoje está aí.
P - E o teu primeiro jogo no estádio do Morumbi.
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Teve o Taquaritinga.
E o teu primeiro jogo aqui no estádio? Você lembra?
R - O primeiro eu não joguei muito bem, acho que foi contra o Comercial de Ribeirão Preto se não me engano direito.
Joguei meio tempo e depois saí.
P - E o primeiro gol você lembra?
R - Não lembro não, eu lembro do segundo que foi contra o Santa Cruz no Morumbi.
P - Como é que foi o gol?
R - Ah, foi um gol meio mal, chutei a bola assim num cruzamento, na barreira.
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P - Eu digo assim, emoção.
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O que você sentiu? Essas coisas.
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R - É sempre, é sempre uma alegria né? Foi um dos primeiros gols meus no São Paulo né, com a camisa do São Paulo.
Eu não acreditava quando eu tava lá, eu não acredito que sou jogador do São Paulo.
P - Foi o que você pensou na hora do gol ali?
R - Não, em muitas.
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Até que eu não tava concentrado, sempre parava prá pensar: “Puxa vida, não tô acreditando que eu sou um jogador do São Paulo”, ainda mais.
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Jogar no São Paulo pra mim sempre foi né.
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Torcedor do São Paulo, jogar no São Paulo, não tinha coisa melhor.
P - Qual é a importância de Deus na tua vida, Müller?
R - Mas acho que.
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Todo mundo sabe que eu sou um cara muito religioso né, eu sempre procuro colocar Deus em primeiro lugar, a família e o trabalho em terceiro lugar.
Sempre pra mim Deus vai me ajudar.
P - Como é que você conversa com ele em relação a futebol, essa questão de antes de decisão.
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Você tem esse tipo de dialogo com Deus, como é que é isso?
R - Não.
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Conversar com Deus, é que nem.
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Eu tô conversando com você, né? É claro que a gente é.
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Tipo oração, conversar com Deus é oração que fala, então eu nunca, eu peço nada pra Deus, só.
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Só peço que ele me dê sempre saúde né, me livre do mal, das coisas ruins.
P - Como é que você virou um atleta de.
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De Cristo? Você é chamado como um dos atletas de Cristo.
R - Isso pesou porque como nós somos jogadores, então somos atletas de Cristo.
Poderia se ter médico, médico de Cristo né, mas é.
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Esse nome pra mim não quer dizer muita coisa, quer dizer o que eu tenho dentro do meu coração né, que é Jesus, isso é o mais importante pra mim.
É uma alegria que vem de dentro pra fora, essa alegria acho que completa né? Não é uma alegria de fora pra dentro, você vai num programa humorístico, no circo, você tem uma alegria de fora pra dentro, não vai mudar, mas é uma alegria passageira.
Agora a alegria que o crente tem de dentro pra fora é essa a alegria que eu quero.
P - E até num momento ruim você consegue encontrar essa alegria dentro de você?
R - Mas claro, porque é.
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Hoje em dia o evangelho é muito propagado no Brasil, mas em São Paulo tem muita gente que não acredita em Deus.
Muitas, muitas, muitas.
P - No São Paulo ou na cidade?
R - Em São Paulo no geral, então eu acho que como eu disse pra você é, Jesus sempre tem uma saída né, pra todos os problemas.
Se eu te dizer que a vida do crente é um mar de rosas eu estou mentindo pra você, nós não estamos isentos de sofrer tristeza, injustiça na vida, faz parte do mundo hoje né, mas como eu disse a você, a bíblia diz que ele supre todas as nossas necessidades, então a minha vida sempre pertence a Deus.
Nunca me preocupo com amanhã né, que eu sei que Jesus tá.
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Antes de começar e depois que acabar, então o meu futuro eu sei que vai ser bom porque Jesus tá me esperando, né.
P - Que é que tem de diferente na tua vida, você um garoto anônimo lá em Campo Grande e você Müller num estádio com cem mil pessoas gritando o seu nome?
R - Muda.
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P - Você sendo do foco das atenções aqui, na tua cabeça que é que é diferente?
R - Mas com o tempo você começa a se acostumar né, com essa vida.
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Tipo assim, meu primeiro jogo com o estádio lotado, puxa.
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Nem precisava ser com o estádio lotado, mesmo assim jogando pelo São Paulo, né? Eu lembro uma partida que eu joguei, uma das primeiras partidas no São Paulo, no Pacaembu, minha primeira, a primeira bola que eu peguei, fui dominar, bateu na canela e saiu, quer dizer, super nervoso né? Medo de errar, então realmente.
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É.
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Com o tempo eu fui me acostumando com o público né, já com o estádio cheio, mas não foi fácil jogar no começo, realmente foi muito duro, passei por muitas.
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É, por muita.
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Porque jogava só com jogadores bons, experientes né, você tinha que ter uma personalidade maior que você tem hoje né, então realmente não foi fácil pra mim.
É.
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É claro que a gente sempre tem.
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Tem um ditado no meio futebolístico que diz, diz assim: Que chegar é fácil, permanecer é que é difícil.
Acho que toda carreira é assim.
P - Teve algum dia que você pensou em voltar pra trás, quer dizer, não seguir mesmo nesse momento que você já era famoso?
R - Tive, tive.
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P - Não sei se você quer falar mais.
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R - Eu tive uma crise muito grande em 86, depois da Copa do México, cheguei realmente, ali foi.
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Minha projeção, maior naquela época e realmente quando eu tava.
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Comecei.
Voltei da seleção pra jogar no São Paulo, começou a primeira partida, segunda, terceira, comecei a jogar mal, eu não conseguia jogar bem, sabe? Não conseguia fazer gol e aquele negócio me entrando na minha cabeça, “pô não tô jogando bem, não tô fazendo gol”, pensava poxa.
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Pensava.
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Eu pensava que, pô, ter um carro bom, dinheiro, me vestir bem, ir a um bom restaurante com uma bonita mulher é tudo na minha vida, então eu realmente comecei a misturar né, minha vida particular com a vida profissional e começou a.
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Deu tudo errado na minha vida profissional.
E aí, a responsabilidade aumentando né, porque eu peguei mais nome né, jogador de seleção, a responsabilidade aumentou muito e eu fiquei muito confuso na época, nossa, eu ficava.
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eu entrei numa depressão muito grande, até o.
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Na época o pessoal, a diretoria pensou em me dar férias.
Pô, vai numa praia, fica tranquilo um pouco, vai refrescar a cabeça um pouquinho porque você.
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Você não tá muito bem.
Realmente eu não estava muito bem, eu estava jogando super mal, foi uma época muito difícil na minha vida né, só.
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Só o tempo foi apagando né.
P - Que é que sente um jogador que perde a Copa do Mundo, do México, por exemplo, aquele dia contra a França, entendeu, perdeu nos pênaltis, que é que sente o jogador, que é que passa na cabeça.
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R - Que é que você sente? É uma tristeza, poxa vida, é.
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Pra nós assim, principalmente jogadores que foram várias vezes pra seleção, e a Copa do Mundo hoje é o destino maior né, pra você tipo assim, eu já ganhei muitos títulos né, o único título que me falta é a Copa do Mundo, como pra muitos né? Então você perder uma Copa, realmente, é uma decepção muito grande, você sabe que você tem condições de ganhar, você sabe que você é o melhor né, sabe que a sua seleção é a melhor e não ganha.
Às vezes, então realmente é uma coisa muito.
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Frustrante na época né, não dava, puxa perdi desse time que é inferior a mim.
P - Você chorou aquele dia no México?
R - Chorei, chorei como em 90 também.
Todas as duas Copas que nós perdemos eu chorei, realmente você sente né? Como eu disse a vocês a estar tão perto aonde cheguei realmente eu fiquei muito.
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Todos ficaram muito tristes.
P - Você acha que essa fase teve a ver com a decepção de ter perdido a Copa?
R - Não, não teve não.
Eu acho que, que foi mais um.
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É porque foi mais um.
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Tipo assim, um erro meu mesmo né.
Também na época quando eu tinha dezoito anos né.
P - E que é que é diferente? Sair de Campo Grande, ir pra Itália, ir pra Torino, que é que isso mudou na tua vida?
R - É como eu disse a você, eu acho que são degraus na vida né? Minha infância em Campo Grande era uma, minha vida em São Paulo é outra, na Itália também foi outra totalmente diferente porque é outro país.
Outra vida.
P - Que é que você fazia lá além de jogar futebol? Que é que você mais fazia?
R - Na Europa você mais vive do que joga né? Porque lá você joga uma vez por semana, você treina só de manhã, fica o dia inteiro livre.
P - Que é que você fazia então?
R - Mas também lá não é que nem aqui em São Paulo que tem mil coisas pra fazer.
Lá é praticamente uma vida mais rotineira.
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Pô, você vai às vezes ao teatro, jantar fora, fica em casa vendo fita de vídeo.
P - O pessoal te reconhecia na rua lá na Itália?
R - Reconhecia com o tempo, logo que eu cheguei muito não, mas com o tempo sim.
Porque começa jogar, começa a fazer gol, o time começa a ganhar e você começa, começa a ser mais conhecido.
P - Como é que foi o seu primeiro casamento, como é que.
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Você conheceu tua mulher, na Itália, enfim, depois né, separação, terminou o casamento, é importante isso na tua vida?
R - Ah, eu tenho dois filhos né.
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P – Exato.
Conta um pouquinho da tua vida pessoal depois que você ficou famoso, casamento, filho, separação, novo casamento.
Pergunta de novo?
P - Vai, pergunta.
P - Como foi o seu casamento, primeiro filho, como é que foi a sua vida pessoal depois que você ficou famoso?
R - O meu primeiro casamento foi uma coisa assim tipo instantânea, né? Ele foi um relacionamento.
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Eu namorei seis meses, a minha mulher é.
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Passou um tempo ela ficou grávida, ela chegou e falou: “Pô, tô grávida, que é que eu faço?” Aí eu falei: “Não, tem o filho” porque eu acho que aborto é um assassinato né.
E consequentemente nós começamos a conversar e entramos num acordo em casar né.
P - Como era o nome dela, quem que era ela?
R - Era a Jussara né, chamava.
E a minha família foi contra na época né.
P - Por quê?
R - Porque achava que não era a mulher certa pra mim, né.
E eu achava que não, tem que dar certo comigo, eu gosto dela, sou apaixonado por ela, achava que amava ela né.
Então casamos né, o civil, minha família não veio, meus pais não vieram né e.
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Logo em seguida, no outro ano, eu casei em dezembro de 87, 88 é.
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Já fomos embora pra Itália né, em abril nasceu o primeiro filho, o Luís Müller, hoje tem cinco, cinco anos e eu fui pra Itália né.
E é claro, como todo esse relacionamento eu tive muitos problemas com a minha ex-esposa, mas é.
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No nascimento do meu filho nosso relacionamento melhorou muito né, porque meu filho nossa.
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Hoje ela fala prá mim.
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Eu vivia só pra ele né, como seu fosse herói.
Na Itália você tem que treinar, ó, na Itália, na Europa você treina pouco, treina só meio período, você vive mais, então minha vida era dedicada ao meu filho né, eu fazia tudo por ele.
Tudo que eu fazia, às vezes eu não saia por causa dele.
P - Onde você ia passear com ele lá?
R - Tudo quanto é lugar, na praia, no.
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Nas ruas, nas lojas, shoppings, mercado.
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Aonde eu ia eu levava o meu filho.
No treinamento , eu ia, levava meu filho, quer dizer, esse foi um momento muito bom do meu casamento, do meu primeiro casamento.
Aí, consequentemente já, há dois anos, tivemos o segundo filho né, e.
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Com o segundo filho lógico que veio mais aquela né.
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Mas aquela paz entre nós dois.
P - Qual o nome deles?
R - Mateus.
O primeiro Luis Müller, o segundo Mateus.
Aí, quer dizer, me apeguei mais aos meus filhos né, achava que eu nunca ia gostar tanto quanto eu gosto do, do Luis Müller, mas foi diferente quando nasceu o Mateus.
Eu me apaixonei tanto quanto o Luis Müller, eu fiquei muito apegado aos meus filhos né, curti dois, dois anos com eles.
Sete anos e a maior parte do tempo muito diferente do início.
Aí chegou um tempo né, muitos problemas né, prefiro nem contar porque eu acho que não tem importância nenhuma, resolvi me separar e já conheci a minha atual esposa né, já porque a gente era da mesma Igreja e eu já a conhecia há muitos anos atrás.
P - Como ela se chama?
R - Miriam.
A gente se conhecia há muito tempo né, e.
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Quando eu me separei eu fiquei muito tempo, uns quatro, cinco meses sem namorar ninguém, sem sair com ninguém.
P - Você morava sozinho?
R - Eu morava sozinho né.
P - Como é que é morar sozinho depois de casado?
R - É ruim porque você estranha no começo.
Eu tinha uma vida, como eu disse a você, vivia pros meus filhos né? O dia inteiro em casa.
Quando, tipo assim, eu jogava domingo, segunda-feira tava assim.
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Não falava com ninguém, só falava dentro de casa com meus filhos, ia pro shopping center com eles né, ia pro parque, alguma coisa, vivia só pra eles dois.
P - E eles ficaram com a tua esposa?
R - Ficaram, ficaram com a minha primeira es.
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Minha ex-esposa né.
E eu fiquei, realmente eu senti aquele impacto na hora que eu ia dormir, principalmente dormia sozinho, olhava, poxa vida né, não tinha os meus dois filhos, eu dormia sempre com os meus filhos na cama né, e também às vezes vinha aquela vontade: “será que eu vou voltar com a minha esposa”, tal, sempre tive aquela dúvida.
Aí passou quatro meses, eu sozinho, a gente foi, eu já conhecia a Miriam, aí começamos a se conhecer melhor, a sair, aí começamos o namoro, aí em julho, agosto nós ficamos noivos e agora em novembro nos casamos.
P - E conta um pouquinho do teu relacionamento com o Telê Santana, você falou que o Cilinho foi importante na tua vida, e o Telê Santana? Como é que você.
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R - Em cada treinador você sempre é.
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Procura tirar as coisas boas né, todo mundo tem essa, essa maneira de ver as coisas né? E com o Telê Santana não é diferente, porque você vê que ele é um treinador super experiente.
Hoje é o melhor do Brasil, o quê ele fez pro São Paulo é uma coisa muito boa né, revelou muitos jogadores das categorias inferiores, e o time que tem hoje, ele armou um esquema muito bom, e realmente, não só eu como todos aqui aprenderam muito com ele nesses três anos aqui juntos.
P - Ele é muito severo com você, muito rígido?
R - Com todos né, a disciplina sempre ele procura manter.
É sério, ele não é muito de brincadeira, ele brinca mais com a gente assim no campo ou quando a gente tá na sala de projeção, na concentração, mas dificilmente ele brinca, conversa, ele é muito, muito fechado.
P - Você acha importante Müller, dar esse depoimento rápido sobre a história da tua vida.
Registrar pra historia do São Paulo, a história do futebol.
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P - Seus filhos verem.
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R - Não, eu acho bom é.
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Eu não tenho nada o que esconder, eu acho bonito falar da infância, da adolescência, da vida atual né? Acho que todo mundo gosta de falar né, mesmo.
Mesmo se for uma infância ruim ou boa, eu acho que, não é a que a gente pediu a Deus né, então eu acho que eu não me sinto é.
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Assim frustrado ou triste em falar da minha infância, do meu primeiro casamento, segundo, minha vida atual, não.
P - Você como um bom são paulino merece essa pergunta: qual é o São Paulo de todos os tempos? Escalação do goleiro ao ponta esquerda.
R - Qual o melhor?
P - No São Paulo que você ouviu falar ou jogar, do goleiro até o ponta esquerda.
R - O que eu joguei quando eu comecei, em 85 né.
P - Tudo bem então.
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R - Foi o melhor São Paulo de todos os tempos, na minha vida, na minha opinião.
P - Mas aquele de um a onze, era melhor ou você escalaria uns de hoje?
R - De um a onze era o melhor, eu acredito.
P - Quem que é?
R - Não ganhou, não ganhou o que a gente ganhou hoje.
Atualmente esse time de hoje, mas em valores individuais era o melhor.
P - Quem era o time, você lembra?
R - Tinha o Gilmar, o goleiro que hoje joga no Flamengo, o Zé Teodoro que hoje tá no Bragantino, a zaga era o Oscar, o Dario Pereyra, eles não jogam mais futebol, o Nelsinho que foi pro Japão, o Marcelo Hudi que foi treinador aqui nos aspirantes, o Silas que joga no Vasco da Gama hoje, o Peter que tá hoje no futebol Japonês, aí vinha eu, o Careca que tá no futebol japonês e o Sidnei que parou de jogar futebol, pra mim foi o melhor São Paulo de todos os tempos.
P - Obrigada.
P - Você quer finalizar com alguma coisa?
P - Quer falar mais alguma coisa que.
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P - Você é um ídolo agora, os garotos te adoram na rua, quer falar alguma coisa pras crianças? Você acha que é importante falar, deixa uma mensagem em vida, você é muito religioso também, você acha importante, se você quiser falar você fala.
R – Não.
Acho que o que eu tinha pra falar eu já falei.
P - Nenhuma tristeza grande que você quer deixar registrado, uma alegria grande, nada?
R - Não, acho que eu já contei todas, os momentos tristes e alegres.
P - Então tá ótimo, muito obrigado.