Histórias de Consumo Consciente
Depoimento de Benjamin Gleason
Entrevistado por Lila Schneider
São Paulo, 24/10/2016
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV548_Benjamin Gleason
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
R – Então, nasci em novembro de 1977, lá nos Estados Unidos, no est...Continuar leitura
Histórias de Consumo Consciente
Depoimento de Benjamin Gleason
Entrevistado por Lila Schneider
São Paulo, 24/10/2016
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV548_Benjamin Gleason
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
R – Então, nasci em novembro de 1977, lá nos Estados Unidos, no estado de Winsconsin, em Madison, que fica no meio dos Estados Unidos, em uma região bastante fria, então em novembro já estava bastante frio.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Neal e Cindy Gleason.
P/1 – E qual que era a profissão dos seus pais, o quê que eles faziam?
R – Minha mãe durante quase 40 anos, foi professora de jardim de infância, trabalhando com crianças e o meu pai trabalhou para o Estado, em coisa de estatística relacionada com pobreza, aliviando pobreza.
P/1 – E coimo você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Minha mãe é super ligada a criança, super… muito simpática, muito… aquela professora que você imagina sempre com boa vontade, querendo ajudar, bastante… super apoio do lado emocional e tudo mais e o meu pai é o contrário, super analítico, ligado a números, ligado a lógica, bastante enfatizante na hora de… tem que ir bem na escola, tem que estudar, tem que aprender, tem que continuar estudando, tem que trabalhar, reforçou muito esse lado de contar o centavos, e consumo consciente e tudo mais, veio bastante do lado dele e ele tentou sempre fazer mais com menos e sempre fez a gente pensar 80 vezes antes de comprar alguma coisa, isso vem do lado dele.
P/1 – E quais eram os costumes da família?
R – A gente… por um lado, a gente é relativamente caseiro, então a gente fazia muita atividade em casa, minha mãe como era professora, sempre inventava algum joguinho, alguma atividade para fazer, bastante ligado a Educação, mas também eu joguei muito esporte, então, no verão, eu passava o tempo todo na rua, jogando todo tipo de esporte com os amigos. Madison é uma cidade bem tranquila, então, dava para andar de bicicleta até o parque e aí, ficar jogando, meus pais não tinham que se preocupar muito, então acho que isso dava bastante liberdade na hora de, realmente, poder se divertir e brincar fora. Foi antes da época de tudo ser eletrônico e ter que ser automatizado com o videogame, para brincar, a gente inventava muita coisa e eu também, desde os 11 anos de idade, comecei a trabalhar, eu entregava jornal de casa em casa. Então desde cedo, eu tinha vários trabalhos, trabalhei em restaurante como garçom, e tal, então por um lado, eu trabalhava, por outro lado, tinha um pouco de dinheiro próprio, então isso também me dava mais liberdade.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho dois irmãos, um irmão maios novo três anos, chama Michael e uma irmã oito anos mais nova, Ker, é até engraçado, porque eles cresceram também lá, mas como eu depois acabei viajando muito, morando em vários países, tendo amigos de outros países em casa, acho que de alguma forma, se espelharam talvez com isso, então os dois falam espanhol, meu irmão fala português e morou na Colômbia e acabou de se mudar para São Paulo (risos).
P/1 –
É mesmo?
R – Ela começou a morar aqui no Brasil, por acaso, um trabalho a parte e tudo mais, mas acabou… teve um interesse na América Latina.
P/1 – E a tua irmã hoje?
R – Ela mora nos Estados Unidos, e ela trabalha com crianças com dificuldades, autismo, com coisas nesse sentido, então, seguiu um pouco os passos da minha mãe, trabalha muito com criança, é muito boa com crianças. E é engraçado, que ela foi a mais difícil na casa, quando a gente estava crescendo, de pequena, ela era bem geniosa, bem difícil, mas…
P/1 – Também… quase temporona.
R – Exatamente, agora, ela sabe lidar com crianças mais difíceis, então, ela é muito boa nesse sentido.
P/1 – E qual a origem da tua família?
R – Algumas gerações nos Estados Unidos, mas antes disso, tem o lado do meu pai que veio da Irlanda, então, identificação com a cultura, sempre se falava mais desse lado irlandês, mas também tem uma mistura de outros, da Alemanha, da Escócia, até Holanda. Tem vários países aí, do norte da Europa, mas a gente não está tão próximo a nenhum como com a Irlanda.
P/1 – E o quê que você lembra da sua infância?
R – Lembro de muito frio, toda vez sair de casa no inverno, tem que botar 18 níveis de roupas e tudo mais, então foi… eu me divertia bastante brincando na neve, então foi, realmente, algo marcante. Chegava a acumular mais de um metro, então dava para fazer tuneis e tudo mais, mas também depois que era um pouco mais velho, era muito chato ter que lidar com tanta neve. Eu tinha que tirar a neve de onde a gente estacionava o carro e tudo mais, às vezes, depois de nevar bastante, tinha que passar duas horas tirando a neve no frio (risos), então foi… nunca mais queria morar num lugar frio, inclusive, quando eu tive… nunca sai durante o inverno de lá, quando eu tinha 18 anos, fui a primeira vez no inverno para um lugar quente, aí, achei uma maravilha poder sair de lá no meio do frio e ir para um lugar quente, falei que nunca mais iria passar um inverno todo lá, e realmente nunca mais passei um inverno lá nos Estados Unidos, no frio. Sou muito mais ligado ao calor, hoje em dia. Mas o meu pai sempre brinca que conseguir sobreviver a esse tipo de frio, de dificuldades, constrói o caráter (risos). Isso é a brincadeira dele. Pelo menos, passa um pouco, né, com o meu filho passar algumas semanas lá para valorizar o que tem no calor.
P/1 – Eles continuam morando lá na mesma cidade?
R – Continuam.
P/1 – E que mais? Que outras brincadeiras você lembra da infância? Com seus irmãos? Com os amigos?
R – Então, a gente jogava todo tipo de esporte: futebol, baseball, futebol americano, bolling, quase sem parar, isso acho que era o que mais fazia durante horas no verão e tudo mais. Também tinha a época em que saíram os filmes em… aqueles de… como chama aqui? Tipo VHS, esse formato, que era uma novidade incrível, né, para… quem tem Netflix hoje em dia é difícil de imaginar (risos), então a gente ia para a lojinha, para alugar, depois voltava e assistia em casa, que acho que marca uma época, né, mesma coisa com música, né? E fita e tudo mais. Isso era bastante marcante. Outra coisa que acho bem engraçado, sempre queria comprar cards de baseball com as figurinhas e tal. Então, todo o dinheiro que eu tinha durante uma época, eu comprava essas cartas e tudo mais e eu lembro que eu queria muito comprar umas cards novas que tinham saído e o meu pai falava que não podia, que tinha que esperar, que ele era muito de ensinar a valorizar as coisas, economizar e aí, tinha… no supermercado, tinha uma brincadeira, mais ou menos, aquele caça-níquel, que a gente comprava alguma coisa, podia puxar e se você ganhasse, ganhava tipo uns cinco dólares, às vezes. Eu queria muito comprar essa coisa, meu pai não deixava e um dia eu estava no supermercado comprando um chiclete, puxei e ganhei 20 dólares, aí eu pude comprar lá na hora aqueles cards que eu queria. Aí eu lembro que o meu pai ficou meio frustrado que ele não conseguiu fazer a lição de economia, porque eu tinha… não repeti muito, mas foi um ótimo momento de me sentir mais perto, junto como meu pai.
P/1 – E nessa época, já se pensava em reciclar? Vocês brincavam com produtos reciclados?
R – Bastante. Não era reciclagem no sentido que se usa hoje, mas era muito isso, de toda roupa de alguma forma, usada, de algum primo, ou de alguém e muito… achei outra foto, quando estava olhando, a gente comprou, acho que era uma TV, alguma coisa com uma caixa enorme de papelão que veio e ai, acabaram… não lembro se eu ou os meus pais cortaram janelas, então eu brinquei durante meses usando como forte uma caixa de papelão e decorando e tudo mais. Então, isso era bem típico da minha infância, era sempre uma brincadeira, caixa de papelão em vez de sair para comprar uma coisa mais formal. Eu sempre comparava com os meus amigos e sentia de certa forma que eles tinham mais sorte e tudo que os pais compravam o brinquedo novo e tal, mas hoje em dia, eu valorizo essas lições, então, você acaba mais velho apreciando mais, né?
P/1 – E você pensava em ser o que quando crescesse?
R – Eu tinha passado por várias fases, né? Eu gostava muito de estudar astronomia, então quis ser astronauta durante um bom tempo na infância, seguia muito de perto. Eu lembro que teve uma época que explodiu, estava partindo uma missão para o espaço e explodiu e isso marcou bastante, eu tinha lido sobre cada um que estava dentro, então, realmente, isso foi um bom tempo que imaginei. Depois, já no colégio, imaginava talvez ser engenheiro e lá nos Estados Unidos, ser engenheiro é um pouco mais ligado a realmente ser engenheiro, diferente daqui que seria, realmente, engenheiro mecânico, trabalhar com alguma coisa mais aplicada, não só usar a carreira para fazer outra coisa, mas aí eu cheguei na faculdade e me dei conta que não adorava tanto os números assim para passar mais cinco anos fazendo isso. Então, aí eu voltei para outra coisa que eu gostava muito, até no colégio, que era idiomas, né? Então, sempre estudei espanhol e também essa questão de economia de desenvolvimento, América Latina estava muito ligada a isso. Então acabei até na faculdade estudando isso, então Relações Internacionais, como podia usar a politica e politicas econômicas e tudo mais para trazer mais desenvolvimento e sempre foquei muito nisso e só o final da faculdade que acabei me formando nesses temas, mas adicionei Economia mais tradicional também, porque percebi que ia ser difícil conseguir um trabalho só com esse lado mais de ciência politica e tudo mais, então, adicionei Economia mais formal, aí eu acabei indo trabalhar com negócios, mesmo.
P/1 – E a escola, o quê que você lembra da sua época de escola?
R – Eu lembro… eu sempre estudei em escola pública, então acho que isso era também uma coisa importante que eu acho que eu curti de lá, que eu achei importante de lá, que eu não vejo tanto aqui com os filhos dos meus amigos que era essa questão de… eu tinha até um programa de integração, então, eu morava num bairro que é mais classe média e predominantemente de brancos, mas tinham bairros mais pobres na cidade e tinha um programa que eles começaram de mandar em ônibus escolar para integrar as escolas, então, meninos mais pobres iam estudar na minha escolinha, do jardim até o segundo ano e aí, a gente ia também, um pouco mais velho, para essa escola mais no bairro pobre. Então, eu cheguei a ter 50% meninos negros, asiáticos, hispanos, acho que é uma experiência super importante, assim, aprender a lidar com as pessoas, a prender a ver que era uma criança normal, não diferenciava, a gente jogava futebol todo mundo junto. Eu acho que isso foi uma coisa fundamental até hoje, ter uma tranquilidade, saber lidar com muitas pessoas, isso eu valorizo demais, eu acho que é algo que falta, né, que eu vejo muitas vezes, aqui, apesar de que muitas vezes no Brasil, se diz que não é racista da mesma forma como nos Estados Unidos, que eu acho que aqui, talvez, seja menos aberto, mas queira ou não, tem uma segregação altíssima, uma segregação social e econômica. Gostaria que o meu filho pudesse crescer com essa… ter essa experiência enquanto criança é bem melhor, né? Você aprende desde cedo a não diferenciar, não ter que aprender isso enquanto adulto, né, então isso foi fundamental até tipo… aprendi nas brincadeiras, meninos muito maiores que eu na bronca e tal, mas aprendi o que falar, o que não falar, como lidar com diferentes pessoas e isso foi, acho que demais e até no colégio, foi engraçado, porque eu sempre estudei, tive que estudar bastante, tive boas notas, foi uma coisa bem importante, meu pai me pressionava muito em questão de notas, então fazia o suficiente para tirar boas notas, mas ao mesmo tempo, gostava de esporte e tudo mais e aí, eu comecei a fazer musculação também no colégio e uma parte dos meninos eram meninos negros, super fortes, assim, que jogam futebol americano e tudo mais, de certa forma, eu consegui entrar no mundo deles através da musculação. Acabei tendo amigos que de repente, não estudavam tanto, que não estavam nas mesmas aulas, mas que aprendi a lidar com eles, aprendi com eles como fazer a musculação e tudo mais. Acho que foi uma experiência bem rica de ver todo tipo de espectro e até hoje, às vezes, encontro… quando eu volto para a minha cidade, encontro esses meninos e lembram de mim, ficam surpresos, né, um cara que do nada aparece e me reconhecem e tudo mais, então acho que é uma coisa bem rica, né?
P/1 – E você lembra de algum professor especial dessa época de escola?
R – Tive vários professores que marcaram mais no inicio, nos primeiros anos eram até amigas da minha mãe, eu conhecia todos os professores, então acho que sentiam um carinho especial por mim que me ajudava no inicio, tipo, com cinco, seis, sete anos, mas aí acho que um professor que me marcou bastante foi um professora… a primeira professora negra que eu tive, ela era bem diferente de todas as outras que eu tive até lá, tinha acho que nove anos, oito ou nove anos e ela, exatamente, como a metade da classe mais ou menos eram alunos negros, ela tinha uma pegada muito boa de conseguir engajar esses meninos e foi interessante como ela conseguia mais do que só ensinar para os mais engajados ou os que mais iam bem nas notas, ela conseguiu engajar todo mundo, isso marcou bastante e antes, eu só me importava com as minhas notas e depois, ela me ensinou a me importar com o desempenho dos outros também, tentar ajudar, então isso foi bem legal. E aí, bem depois, eu tive um professor de Espanhol no colégio que até ganhou prêmios depois nos estados Unidos, mas alguém que até lá, o Espanhol tinha sido só mais uma matéria para mim, Matemática, Inglês e Espanhol, o intuito até lá era sacar nota e pronto, mas através dele, vi que também é um idioma que dá para se comunicar com outras pessoas, conhecer outros países, outras culturas. Então, a partir disso que eu comecei a me importar muito com o Espanhol, viajei para vários países, fiz amizades que tenho até hoje com os meus amigos latinos. Então, acho que isso abriu um pouco os meus olhos e comecei a ver primeiro Espanhol, agora, Português não é só uma matéria, é algo realmente da vida, né?
P/1 – E como que você ia para a escola?
R – No início, fui andando, eram uns seis quarteirões, então, desde os cinco anos de idade até uns sete, oito, eu fui andando e aí, fui de ônibus escolar para a escola que ficava no bairro mais pobre e aí, depois, eu ia ou em ônibus público ou em bicicleta, já no colégio ia bastante de bicicleta.
P/1 – E quando você era pequeno, o tema da sustentabilidade era falado, já era falado?
R – Era falado um pouco, assim, não nos termos de hoje…
P/1 – Trabalhado em sala de aula?
R – É. Era bastante comum, realmente, reutilizar diferentes objetos. A gente fez muitos projetos de todo tipo usando materiais reutilizados, até a minha cidade é conhecida nos Estados Unidos como uma das cidades mais limpas e das mais engajadas nessa questão da sustentabilidade e tudo mais, então eu sempre tive muito essa pegada. Tem uma faculdade bem famosa lá de pesquisa de todo tipo, mas muita coisa ligada a essa área, então, acaba acho que permeando um pouco a cultura da cidade em si, então realmente tinha muito esse foco, mesmo que um pouco diferente do que se fala hoje, mas eu valorizo demais… poucas vezes a gente ia para loja para comprar alguma coisa para fazer um projeto, era sempre o que a gente podia achar em volta para fazer um projeto de escola.
P/1 – E daí, você fez o colegial, né, e como foi a sua decisão pela faculdade? Que curso fazer?
R – Essa foi outra decepção para mim na época mais ligada a esse tema de gastar bem, eu fui visitar algumas faculdades nos Estados Unidos, até faculdades bem famosas como Stanford, e fui para a costa leste, para a costa oeste, visitei essas escolas, acabei aplicando pensando muito nessa ideia de estudar Ciências Politicas, no inicio, pensava também em Engenharia e fui até aceito em várias faculdades dessas e aí, depois de tudo isso, acabei ganhando uma Bolsa completa para a faculdade na minha cidade, a Universidade de Winsconsin, meu pai falou: “Bom, entre essas faculdades conceituadas que custam 30 mil dólares por ano ou a faculdade aqui na nossa cidade que vai sair de graça, totalmente de graça, pronto, resolveu”. Fiquei bem chateado na época, porque eu achava que não tinha que tomar essa decisão só por quanto se pagava na hora, porque depois se paga uma boa faculdade, então fiquei um pouco chateado, como eu ganhei por causa das notas essa Bolsa, achei que tinha sido o meu castigo, aí o meu pai não quis nem discutir, mas olhando para trás agora, o que me deu de beneficio, como eu não estava pagando nada pela faculdade, tudo o que eu tinha conseguido poupar trabalhando, tinha ainda no banco, então não tinha que ficar pagando contas do mesmo nível, então, acabei passando um ano no Chile durante a faculdade, fiz um ano de intercâmbio, tive essa flexibilidade de fazer, em todas as férias, eu viajava para algum país da América Latina, então em vez de usar o meu dinheiro pagando uma faculdade, eu acabei fazendo viagens que impactaram muito onde eu estou hoje e até foi o meu primeiro contato com o Brasil. Então, na faculdade, eu tinha uns amigos brasileiros, eu não entendia bem o português, então, apesar de falar espanhol, não conseguia me comunicar direito, mas tinha um amigo carioca que me chamou para visitar nas férias, antes de ir para o Chile, então acabei indo para o Rio e fiquei com ele, com a família, foi uma experiência super legal, eu tava no portunhol, arranhando, mas curti demais o Rio e resolvi ficar dois meses no Brasil e fiquei de mochileiro, fui até Porto Alegre, no sul, tudo de ônibus e aí, até Salvador de ônibus também, 26 horas, passei o carnaval em Salvador, então vi um pouco o Brasil todo e acabei viajando muito sozinho e conhecendo pessoas, então foi uma experiência super marcante, gostei muito da cultura daqui e acho que até então, português tinha sido: “Idioma interessante, Brasil, pais que parece legal”, mas não chamou atenção demais versus os países da América Latina e aí, realmente, eu me apaixonei pelo Brasil, então com 20 anos, falei: “Nossa, quero morar no Brasil, quero passar mais tempo”, fui estudar no Chile, não curti tanto o Chile, tentei até mudar no meio do intercâmbio para estudar no Brasil e não deu certo, mas foi uma coisa que realmente fica na cabeça depois, então, na volta, lá nos Estados Unidos, antes de terminar a faculdade, me dediquei a estudar português, me juntei com os amigos brasileiros, peguei mais português e o meu primeiro emprego saindo da faculdade, fui contratado porque falava espanhol e português e foi um trabalho com Finanças e Contabilidade, que eu não tinha estudado, mas me contrataram e me botaram para estudar Finanças e Contabilidade já no emprego, então, me pagaram para aprender isso e brincavam que eles achavam mais fácil me ensinar Contabilidade de Finanças do que ensinar português e espanhol para um contador, então essa era um pouco a justificativa de me contratar e aí, começou toda a minha carreira aqui na América Latina.
P/1 – E qual foi o curso que você fez lá?
R – O intercâmbio que fiz no Chile foi só mais ou menos, um ano de faculdade, fiz curso de tudo, mas acabei me formando na faculdade em Economia, entre outras coisas e com esse diploma de Economia, consegui um primeiro emprego, trabalhando em consultoria de Finanças lá em Chicago, perto da minha cidade. Isso foi já em 2000.
P/1 – E em Winsconsin qual foi o curso?
R – Foi esse de Economia.
P/1 – Ah, foi o de Economia? E no Chile, você…
R – É, foi só… porque eu acabei tomando um pouco de tudo lá nos Estados Unidos, a carreira é um pouquinho diferente na faculdade, que você não toma só aulas de um tema, né, então eu tenho flexibilidade e tenho que tomar, obrigatoriamente, um pouco de tudo, além da sua especialização. Então, tomei cursos de tudo lá, aulas de Espanhol, Ciências Politicas, Filosofia, Matemática, vários tipos de Ciências, então, você acaba tomando uma diversidade, então, no Chile, em particular, tomei aulas também de História da América Latina, Literatura Latino-americana, então um monte de matérias ligadas ao Chile ou a América Latina, tomei aulas de português depois, mas depois de tudo isso, minha, digamos, a especialização principal foi Economia, que eu vi que estava um pouco mais vinculado ao mercado de trabalho. Então isso chamava mais atenção do que Espanhol ou Ciências Politicas.
P/1 – E na época da faculdade, teve algum momento marcante, assim, alguma história que você se lembra?
R – Eu acho que foram algumas… geralmente fora da sala de aula, mas o primeiro que foi interessante é que
Winsconsin é um Estado que acaba sendo lá no meio, então é muita gente branca, de origem europeia e tudo mais, tem muito fazendeiro lá, pessoas que tem de Estados menores, rurais, outras cidades rurais, então quando eu entrei, morei na residência da faculdade, que é a república da faculdade e foi interessante, porque a maior parte era de meninos de 18 anos, todos brancos de áreas rurais, querendo ou não, muitos acabavam sendo de alguma forma racistas, nunca tiveram contato com pessoas de outras origens, mas lá, você dividia o quarto com alguém que você foi designado, você não escolhia. Então acabei sendo… me designaram junto com um menino negro de Milwaukee, que é uma cidade maior do Estado e foi interessante, porque acho que me botaram exatamente porque tinham percebido que eu tive mais experiência com outras culturas e tudo mais e um amigo dele era outro menino negro que dividia o quarto com um menino mexicano, então nós quatro andamos bastante juntos e tudo mais. Então, foi legal porque eu conseguia falar espanhol com o cara do México e a gente ia para lugares mais com latinos e tudo mais e com os meninos negros, às vezes, a gente ia para festas onde eu era o único branco na festa inteira. Então foi uma coisa legal, rica em termos de poder andar em qualquer lugar, com bastante facilidade e ter isso num nível já saindo de casa e tudo mais. Acho que isso foi uma coisa e a outra coisa foi realmente essa experiência de morar um ano fora de casa no Chile e dois meses aqui no Brasil viajando, aprendi muito a andar sozinho e também não tinha muito dinheiro, era muito cuidadoso com dinheiro, então tudo de ônibus, tudo em hotéis bastante baratos, bastante caídos, mas aprendi realmente a estar tranquilo de chegar numa cidade sem nunca ter ido, sem conhecer ninguém, sem ter reserva de hotel, nem nada e procurar com o guia lá, andava nas ruas, com mochila nas costas, curti demais e foi um bom momento. Acho que hoje não teria mais o ânimo de fazer, talvez, então foi um bom tempo aproveitado, acho esse momento. Aí, acho que fora isso, foi muito o campus da minha faculdade em Madison é muito legal, então tem lagos, tem bastante arvore, é um campus dos mais bonitos dos Estados Unidos, então acabei valorizando mais, não queria ir para lá, inicialmente, mas acabei valorizando mais e quando volto agora, realmente acho que é muito legal, foi uma experiência muito enriquecedora.
P/1 – E depois da faculdade, a tua vida profissional começou no Brasil, mesmo?
R – Começou primeiro em Chicago, que eu fui contratado por uma empresa que fazia consultoria financeira principalmente lá nos Estados Unidos, então, comecei trabalhando lá nos Estados Unidos, mas aí como tinham me contratado porque eu falava português, meu chefe era brasileiro, a gente olhava muitos projetos aqui no Brasil, então, eu consegui vir para cá, fiz projetos com várias empresas grandes, foi até engraçado, o meu primeiro projeto foi com a Companhia Brasileira de Alumínio, que pertence ao Grupo Votorantim, eu cheguei aqui, não tinha todo o vocabulário professional ainda, muito menos de alumínio, então, primeiro dia, a gente estava falando das linhas de produtos deles, a chapa, extrudados
e tudo mais e algumas horas da manhã, algum cliente perguntou para mim: “Você sabe o que é uma chapa? O que é um extrudado?”, eu falei: “Não”, porque não tinha nem noção do qual era mais custoso para produzir, qual era o mais trabalhado, não conhecia, assim, a terminologia, me falaram: ‘Vamos te levar num museu aqui”, me levaram num museu de alumínio e me mostraram os produtos. Então foi realmente uma experiência, eu estava um pouco intimidado, porque faltava esse vocabulário, eu nunca tinha trabalhado aqui, mas através disso, me deu uma segurança muito forte que podia entrar em qualquer situação e me virar. E outra coisa que marcou bastante que foi a minha primeira experiência profissional aqui no Brasil foi como é tão importante se dar bem no trabalho, dividir um pouco da vida pessoal com outras pessoas, é bem diferente dos Estados Unidos, é muito ligado a fatos, a apresentações, é um pouco mais seco. Aqui, realmente, até o meu cliente fazia questão que eu curtisse aqui, então, acabei indo com o meu cliente e a esposa dele para o Guarujá, me levaram um final de semana, me levaram para comer moqueca, para vários lugares típicos e tudo mais e até tive uma história engraçada, que o CFO da empresa me chamou para um happy hour, porque ele queria entender mais no que eu estava trabalhando e tudo mais e nos Estados Unidos, happy hour é tipo das cinco às seis da tarde, então eu imaginava que fosse algo assim e chegou às cinco horas, ele não veio falar comigo, seis horas, sete horas, oito horas, falei: “Acho que ele foi embora e não deve ter rolado hoje”, e às nove da noite, ele chegou: “Vamos?”, falei: “Como assim, né?”, e nos estados Unidos, você toma duas cervejas e vai para a casa e aqui, eu descobri que você pode tomar chope por três horas e a gente acabou bebendo, tudo mais, ele me contou da vida dele, o divorcio dele, tudo mais, falei: “Nossa, bem diferente”, mas eu curti muito esse lado assim, mais humano da vida profissional. Então, aí eu realmente fiquei bem decidido que queria trabalhar aqui e acabei fazendo vários projetos com grandes empresas daqui e queria continuar no Brasil, era realmente a minha ideia, aí a minha empresa lá de Chicago foi adquirida por uma empresa maior, aí foi a época bem em 2003 que estava entrando o Lula, aí o real foi para quatro a um, aí a Economia no Brasil super pessoas duvidando, questionando, aí a empresa falou: “Não faz mais sentido ficar focando no Brasil, você deve voltar para os Estados Unidos”, que era algo que eu não queria, então acabei vendo que ia fazer e consegui negociar para ir para a Europa. Então, fiquei dois anos na Europa, trabalhando lá, liderando toda a nossa prática baseado em Paris, mas viajando, basicamente, toda semana para outros países da Europa, foi uma experiência super
legal, que eu queria tentar aprender francês, que nunca tinha estudado e nem nada e foi super difícil, especialmente, em Paris que as pessoas… se você não fala francês com o sotaque parisiense, são super chatos. Então eu sofri muito, achei bem diferente do Brasil, que geralmente, as pessoas são super abertas, você fala até português com sotaque, ou com erros, as pessoas acham maravilhoso, lá em Paris, não foi bem assim e não curti tanto a cultura. Algo que eu acho bem interessante, as pessoas acabam me falando: “Você fala bem o português, você fala bem o espanhol”, mas eu acho que é uma questão de… um é
o quanto você consegue, efetivamente, pegar o idioma, o vocabulário, as conjugações, tudo mais, mas o outro é quanto você se importa por aquele idioma e eu vi que como eu não me importei muito pelo francês, meu francês nunca chegou a ser tão bom, sempre sofri muito com isso, só fiz o básico para poder me comunicar no trabalho e na rua e tal, mas nunca fui além. Então, foi uma experiência acho que rica, mas não curti tanto e começava a pensar que cada vez mais eu tava dividido até entre ou pedir uma transferência para outra cidade, eu estava pensando em talvez ir para Roma, que eu acho os italianos muito mais fáceis de lidar, são mais latinos, eu gosto de italianos, gosto de lá, então, estava olhando ou de me mudar para Roma e ficar baseado lá ou então, de fazer MBA, uma pós-graduação de Administração de Empresas, para aí, voltar para o Brasil, mas já bem posicionado. Outra coisa que eu tinha percebido aqui no Brasil é que… acho que isso está mudando, mas muitas empresas, particularmente, empresas mais familiares e tudo mais, muitas vezes, tem pouca transparência de progressão de carreira, ou seja, um analista júnior, sênior e pode demorar oito anos e você estar chegando lá para ser diretor, aí colocam o filho do dono no seu lugar, eu não curti essa parte, então, tomei a decisão de fazer, efetivamente, o MBA para chegar no Brasil já bem colocado onde tinha uma projeção de carreira mais clara, que eu não precisaria necessariamente passar por todos os níveis diferentes, então acabei aplicando para vários programas de MBA nos Estados Unidos e fui aceito em Wharton, lá em Philadelphia, no Estado de Pensilvânia. Então em 2005, eu fui fazer o programa de dois anos, o Mestrado de Administração com ideia de fazer recrutamento para empresas no Brasil.
P/1 – E daí pra frente?
R – Daí, eu fiz os dois anos na pós-graduação, lá, acabei fazendo um trabalho de estágio durante uns dois anos aqui no Brasil, então, trabalhei em consultoria na empresa BCG, acabei passando umas oito semanas aqui, também fiz outro estágio nesse meio-período num banco de investimento lá nos Estados Unidos, mais ligado a América Latina. Então, a ideia era que eu ficasse lá em Nova York, mas trabalhando em projetos no Brasil, mas acabei pegando um projeto na Argentina com um banco, algo que eu não conhecia nada, foi uma experiência, relativamente, chata. Então, aí eu acabei até optando mais pela área de consultoria versus banco, mas também tive uma experiência bem legal nesse verão, entre os dois anos, que foi trabalhar três semanas com uma ONG na Rocinha. Então, acabei organizando um projeto em que levei dois alunos também do meu Mestrado, um era africano e outro era dominicano, fomos lá para ficar na Rocinha, ajudando uma ONG que chama Instituto Dois Irmãos, foi uma experiência super interessante, acho que totalmente diferente de qualquer outra coisa que eu já tinha feito, né, até a gente ficou no meio do morro, na casa de uma família
que alugava um quarto, então, até o diretor da ONG desceu o morro para nos pegar lá em São Conrado e a gente subiu com mala e tudo mais, subindo o morro. E realmente, é outro mundo. Peguei assim, acho que alguma coisa, agir e tudo mais, e conheci muitas pessoas bacanas e até isso depois foi algo que eu repeti num outro momento passando mais tempo lá, mas foi uma experiência acho que muito legal. Eu sempre procuro jogar nos famosos contrastes, então, tinha feito um estágio num banco de investimentos em Nova York, que coisa mais capitalista do mundo (risos), aí fui para o outro extremo, morar numa comunidade daqui, então isso foi muito bom até para limpar um pouco a cabeça antes de continuar estudando e ver um pouco os dois extremos, né?
P/1 – Qual era o foco da ONG?
R – A ONG começou ensinando inglês para crianças e adultos, um pouco a sacada que eles tinham, a vantagem era que quem fundou foi um menino que eu conheci um tempão atrás na minha faculdade, então ele fez Pós-graduação na faculdade de Winsconsin, um americano, mas ele era professor de faculdade nos Estados Unidos, então, o diferencial dessa ONG era que ele conseguia voluntários universitários, voluntários americanos para irem para a Rocinha ensinar inglês. Então, uma vantagem para aos alunos do curso era que eram americanos nativos ensinando inglês, que será difícil ter uma outra oportunidade de ter
um inglês nesse nível dentro da comunidade. Então, foi muito bom para os adultos que podiam, depois, no Rio trabalhar nesses empregos ligados a turismo, principalmente, e para as crianças, principalmente, para não ficarem na rua, então ir na escola, depois ter um lugar para ficar para não estar na rua com as más influencias, que infelizmente, existem. E foi super legal, acho que essa troca de cultura foi incrível, os voluntários amavam e aí, começavam a adicionar outras coisas, então chegava alguém que entendia de desenvolvimento, de computadores e então, faziam aulas de TI ou aula de fotografia
e eu de espanhol, francês e começava a ter voluntários do mundo todo que iam, então tinha um cara do… um dinamarquês, tinha francês, os espanhóis, foi muito legal, que sempre mudava um pouco… eram as aulas dependendo dos voluntários que tinham. Então, achei muito legal, pena que eles ano tinham um modelo muito sustentável de levantar fundos suficientes para manter a ONG, então estava sempre no mínimo, fazendo o máximo possível com muito pouco recurso, né, os voluntários não ganhavam nada, então aí, reduzia, o que poderia ser um custo, e tinha uma casa que eles reformaram inteira para… até eu trabalhei na obra, achei bem engraçado, porque sem capacete, sem bota, de chinelo, sem camisa, subindo tijolo e tudo mais (risos), mas meio que fazendo todo o possível, né, os voluntários e alunos trabalhando juntos na construção desse prédio. Então, essa parte foi bem legal, mas sempre realmente faltava dinheiro até para pagar a conta de luz, para ter computador, então era bem difícil essa experiência para eles.
P/1 – E depois dessa experiência na Rocinha?
R – Aí, eu acabei me formando no MBA e aí, me mudei efetivamente para São Paulo em 2007, trabalhando com a McKinsey, então uma empresa de consultoria e eu, por acaso, entrei junto com o Thiago que hoje é o meu sócio no GuiaBolso, então a gente entrou no mesmo dia, passamos pelo treinamento, orientação básica da McKinsey e chegamos a trabalhar juntos em alguns projetos na própria McKinsey, então, tivemos uma experiência bem legal, tento um impacto enorme para o cliente, empresas grandes em projetos que realmente… um projeto transformou realmente a indústria inteira. Então, experiência de alto impacto, mas super divertidos, então a gente tinha uma complementariedade no trabalho, curtia, viramos amigos, então isso acho que marcou bastante o que vem depois e também foi um bom período de me estabelecer aqui, saquei o visto
e tudo mais, ganhei um conforto muito grande trabalhando aqui, lidando com os clientes, lidando com os sócios e tudo mais, o meu lado profissional, eu acho que o que a McKinsey faz bem é a parte da comunicação, da recomendação, então como você resume, como você consegue convencer alguém usando ideias, usando números, isso foi uma experiência, acho que bem rica e acabei ficando o suficiente para virar gerente da McKinsey, aí eu sai para outro objetivo diferente. E até estava avaliando algumas coisas diferentes na época em que tomei a decisão de sair da McKinsey, estava com três alternativas no prato e a vida na McKinsey é tão corrida que nem tive tempo de parar e realmente avaliar bem, então tomei a decisão de cortar totalmente, então… foi até engraçado, porque eu passei um ano fazendo projetos no Rio pela McKinsey e então, fiquei no Sofitel no arpoador que é um dos melhores hotéis lá, tudo mais, aí sai da McKinsey, me mudei para a Rocinha e repeti, morei três meses na Rocinha com a mesma ONG, ajudando mais a parte de gestão, de deixar mais sustentável, realmente, ensinar um pouco mais de organização e de ser sustentável, de levantar dinheiro e aí, tomei a decisão de… entre as opções que eu tinha, eu finalmente optei por uma startup, então começar a vida de empreendedor junto com os amigos lá nos Estados Unidos, mas com a ideia de trazer a tecnologia para o Brasil. Então, depois desses três meses na Rocinha, eu fui para Austin e foi até engraçado, porque deixei meu apartamento aqui, deixei toda a minha vida aqui e fui lá, eles alugaram um escritório lá e eu acabei ficando num dos quartos do escritório, tinha a aminha cama lá, então, era literalmente estar no trabalho 24 horas por sete, então ou você estava trabalhando ou estava dormindo lá no escritório e a gente tentando levantar dinheiro e desenvolver mais a tecnologia que era de pontos de venda para pequenos comércios, então, para restaurante, para pequena loja, com a ideia de trazer para o Brasil. Finalmente, a gente não conseguiu um nível de investimento, tudo mais eficiente para isso, então, acabamos tomando a decisão do meu amigo que tinha sido fundador original, ele continuar com o negócio, então, ele continua até hoje, já está ganhando dinheiro lucrativo, mas os outros sócios, cada um foi para o seu caminho e eu fiquei um pouco na dúvida de qual seria o próximo passo e acabei optando por uma oferta de um amigo de me juntar ao Groupon. Bem no inicio daquela onda de compras coletivas, então tinha aqui o Peixe Urbano, aí o Groupon entrou, o Groupon é uma multinacional, mas pegava total de startup, então, os dois sócios daqui, dois alemães fundaram aqui no Brasil e começou a crescer, eu entrei como terceiro diretor e foi de zero a 700 funcionários em cinco meses, receita enorme, cresceu absurdamente rápido, vendendo vouchers de 50% de desconto em restaurante…
P/1 – Você falou GuiaBolso…
R – É Groupon, desculpa. E pegando toda essa história de crescimento super rápido, foi até a empresa que mais rápido cresceu na internet no Brasil. Que foi bem interessante, diferente de outras histórias, Buscapé e outros que acabaram demorando dez anos para realmente atingir uma escala muito grande, o Groupon cresceu muito mais rápido e foi muito… o que a gente percebeu que foi um momento muito propicio no país que tinha, pela primeira vez, acesso de dezenas de milhões de pessoas a internet via banda larga e via mobile, e tendo cartão de credito e confiança de comprar online. Então, isso foi um pouco essa história da classe C emergente, o boom de credito no pais e foi, realmente, o que deu as condições para ter uma empresa de e-commerce realmente crescendo super rápido. E foi… acho que o que mais foi de valioso para mim foi ver uma empresa escalar super rápido na internet, usando tecnologia e usando, efetivamente, meios digitais para crescer, para escalar, também a gestão de uma e foi até um pouco irônico, porque os dois fundadores alemães tinham uma certa dificuldade de se conectar bem com a cultura brasileira, tinha uma certa rixa nessas culturas e me trouxeram: “Cara, o seu primeiro trabalho aqui é integrar mais as culturas e nos ajudar a entender melhor a cultura e ter uma comunicação melhor com essa turma". Um pouco irônico, porque também não sou brasileiro, mas eu já tinha um pouco essa pegada, aqui no Brasil, todos os meus amigos são brasileiros, tudo mais, então sempre tive muito mais essa experiência do que uma experiência de ex-patriado com amigos estrangeiros, então essa experiência, acho que foi super rica, mas até a abertura de capital, o IPO do Groupon na NASDAQ, então foi muito legal, o sonho de todo empreendedor é ver o IPO de uma empresa, que mostra que realmente a empresa conseguiu escalar muito bem, um pouco o fim dessa historia de crescimento e muda, já uma certa cultura mais corporativa, mais tendo obrigações de uma empresa listada na Bolsa e naquela época, mudou bastante a cultura e já tava com essa ideia de querer sair para voltar a empreender do zero. E naquela época, eu comecei a conversar de novo com o Thiago, que continuava na McKinsey e eu, por um lado, estava vendo muito esse lado digital, né, explosão de acessos a internet, milhões de pessoas acessando e ele estava na McKinsey trabalhando com grandes bancos, então ele viu… acho que todo mundo sabe, a indústria de serviços financeiros é enorme, você tem bancos super lucrativos com exércitos de funcionários, rodando bases de dados, analisando, oferecendo produtos e por outro lado, você tem consumidores, que muitas vezes, tem dificuldades de entender as suas finanças, não entendem bem de produtos financeiros, não têm muitos dados para tomar decisão, tem a parte de jutos mais altos do mundo, tem uma série de desafios para o consumidor final e em parte, por isso que se deve esse problema de enorme inadimplência no país, as pessoas ficando negativadas, até hoje, isso continua. Hoje tem 60 milhões de brasileiros negativados, o que é chocante, 1/3 da população é adulto. A gente viu que realmente tinha um problema muito real, por um lado, esse lado realmente das finanças, no entendimento do próprio bolso e por outro lado, que daria para usar a tecnologia para criar uma empresa que pudesse ter um impacto enorme, acho que bem diferente do que existia até lá, quando a gente começou e falamos que íamos fazer algo nessa parte mais de finanças para pessoa física, muita gente achava que não seria possível, porque ou tinham iniciativas de educação financeira que era muitas vezes, muito genérico, então, vamos fazer um blog com ativos de educação financeira ou vamos fazer aulinhas para 20 pessoas. Então o impacto na nossa visão era muito pequeno, porque não era escalável e eram coisas pouco aplicadas, então você acaba… se a pessoa tem que ler um artigo, entender o artigo, aplicar isso à vida dele e aí, realmente fazer o comportamento depois seguindo as dicas é quase impossível, é quase uma pessoa em 100 que consegue fazer isso. Então a gente olhou o quê que a gente conseguiu fazer diferente usando tecnologia para não ser igual a mais um banco, mais uma financeira e aí, a gente começou o GuiaBolso em 2012 com essa ideia de vamos resolver esse problema do consumidor, se a gente resolver esse problema, vamos ter negócio, então, até ser um modelo de negócio bem definido que era bem diferente aqui no Brasil, a gente falava com muito investidor e perguntavam: “Quando vocês vão ganhar dinheiro? Quando vão ser lucrativos?”, e olhavam muito menos o problema que a gente queria resolver, então a gente começou o GuiaBolso com essa questão de realmente ter um impacto positivo, eu brinco que no Groupon, eu vendia voucher de desconto para restaurantes e para salão de beleza que acho que o impacto não é tão significativo e a gente queria fazer algo bem diferente, então, começando a primeira coisa que a gente fez foi focar muito para um lado e definir qual seria
o produto que a gente iria oferecer, então, falamos com dezenas de pessoas para entender quais eram as suas dificuldades financeiras e a outra coisa que a gente focou muito era formar um time muito forte. Então, a gente trouxe logo no inicio, até trabalhando na minha casa, ia trabalhar todo dia na minha casa o Alexandre, que é o primeiro talento técnico que a gente tinha, então desenvolvedor para ajudar, efetivamente, a desenvolver o site. Ele continua conosco até hoje, então já tá mais de quatro anos… quase quatro anos e meio conosco e aí, a gente trouxe o nosso diretor de tecnologia, o Inajá também no inicio para realmente ter essa base tecnológica para continuar expandindo, em termos de qual era o produto definitivo, a gente viu que o primeiro problema base das pessoas é a falta de controle das finanças, então uma dificuldade de saber quanto entra, renda todo mês e quanto sai em gastos todo mês, inclusive a gente viu que as pessoas superestimam a renda em 8%. Então, o quanto efetivamente cai no bolso liquido, as pessoas acabam achando que vai cair mais, então quando fazem o orçamento, assumindo que vaio entrar mais, qualquer diferença nos gastos já faz com que a pessoa fique negativo e acabe tendo problemas com o cheque especial e tudo mais. Então, o primeiro foco foi criar uma solução para automatizar o controle financeiro, então isso foi… a gente gastou muito tempo trabalhando nessa questão do produto em si, lançamos em abril de 2014 o site. Depois, em julho de 2014, o aplicativo de iPhone. Eu acho que o mais assim marcante daquela época e quando eu, pessoalmente, senti que realmente ia dar certo. Até lá, a gente tinha um progresso legal, mas sempre batalhado, difícil levantar dinheiro, difícil criar um produto, difícil conter usuários, foi que… tinha uma certa dúvida dos investidores se o brasileiro tinha cultura de planejamento financeiro, se tinha disciplina, se tinha interesse em controlar as finanças ou se talvez, pelo passado de hiperinflação e tudo mais, as pessoas, realmente, gostam mais de viver a curto prazo, não se importavam tanto com planejamento. Os investidores levantaram como dúvida e quando a gente fez a rodada, a segunda rodada de investimento, a nossa meta para 2014 era chegar a 50 mil usuários no ano. Quando a gente lançou o aplicativo de iPhone em julho de 2014, a gente ganhou um destaque da própria Apple, como melhor novo aplicativo, com esse destaque, no primeiro final de semana do lançamento, a gente chegou a ser o aplicativo financeiro mais baixado do país, então na frente do Bradesco, Itaú, todos os bancos, chegamos a 50 mil usuários em duas semanas, a gente falou: “Opa, temos algo aqui”, então isso foi realmente super marcante pra gente, essa parte de ter atingido, realmente, uma demanda que existia no mercado. Até hoje, temos um único aplicativo automático, então, conecta com a conta bancaria do usuário, puxa todas as transações, então, extratos da conta corrente, do cartão de credito, os investimentos, todas as dividas e organiza no aplicativo. Então, a primeira vez que a pessoa tem uma visão completa de quanto entra, quanto sai, como está gastando, como pode melhorar os gastos e foi realmente algo incrível o nível de crescimento que a gente teve depois, porque tinha uma demanda muito existente no mercado. Acho que até durante um período de crise econômica que temos passado esses últimos anos, de certa forma, até nos ajudou porque criou uma necessidade ainda maior das pessoas. E as pessoas quando baixam, usam e veem que realmente ajuda, de fato, melhorar as finanças, indicam para os amigos. Então cresceu muito no boca a boca e até a gente chegou várias vezes, umas quatro vezes a ser o aplicativo mais baixado total da Apple Store, então, na frente do whatsapp, facebook, que acho que nunca aconteceu na história da Apple, em nenhum país, um aplicativo financeiro ser o número um, então, realmente mostra que a gente tá com um produto que de fato, as pessoas procuram, indicam e utilizam, isso nos dá um orgulho super grande, né?
P/1 – E o quê que você acha que diferencia o seu aplicativo dos outros aplicativos financeiros?
R – Essa questão de tirara todo trabalho de… substituir uma planilha de Excel, que ninguém nunca consegue manter atualizada, ninguém tem a disciplina de todo mês importar o extrato e catalogar tudo, organizar tudo. Ou tem alguns aplicativos menores que são manuais, então tem que fazer… você compra alguma coisa, tem que fazer o lançamento manual no aplicativo. São pouquíssimas pessoas que têm a disciplina necessária para fazer isso, a gente viu que em torno de só 2% da população realmente mantem consistente isso, e tem que ter um entendimento melhor de finanças de forma geral para fazer isso, para montar uma planilha, manter, categorizar. Então, o que a gente fez foi tirar todo o trabalho para esse lado, então, quando a gente puxa todos os dados, categoriza automaticamente, então, nosso usuário vê o quanto gastou em restaurantes, em transporte, saúde, educação, etc., tudo automatizado, com gráficos e realmente com uma visão de fluxo de caixa e a gente criou um indicador de saúde financeira para mostrar para a pessoa como está a sua saúde financeira, absolutamente, comparado com outras pessoas no aplicativo, a gente mostra ao longo do tempo, se a pessoa melhorou ou não e mostramos onde deveria focar para melhorar a sua saúde financeira. Então, isso geralmente passa por quem está mais ou menos no zero a zero com o orçamento, alguém que tem que controlar um pouco mais os gastos, então a gente ajuda a pensar quais gastos, eventualmente, conseguiria cortar ou substituir para não ficar no zero a zero e sim, ficar com superávit. Quem está com superávit, muitas vezes, não investe, acaba deixando tudo na poupança ou tudo na conta corrente, então perde para a inflação, então a gente mostra como a pessoa pode investir melhor para ter um rendimento de investimentos, eu acho que o mais crítico é realmente quem está negativo no fluxo de caixa e está usando o cheque especial rotativo. Em torno de 35% da nossa base de usuários usa cheque especial todo mês, cheque especial tem taxas de juros de dez, 12% ao mês, as maiores taxas de juros do mundo e com isso, a pessoa nunca vai conseguir se equilibrar, então, a gente mostra que aí, realmente, não pode continuar assim, então ou tem que cortar gastos suficientes para sair do cheque especial e não ficar mais negativo ou quem está um pouco mais negativo ainda, deveria pegar um empréstimo pessoal, por exemplo, com parcelas mais estendidas e taxas de juros bem mais baixas para se organizar primeiro e deixar de usar o cheque especial rotativo. Então, tudo isso, a gente adicionou no aplicativo para guiar mais as pessoas, trazer mais inteligência automática que não teriam em outro aplicativo, essa ajuda aplicada. O que eu mencionei antes, a gente não queria só dar conteúdo de educação ou só uma ferramenta self-service, a gente queria dar uma ferramenta super aplicada que ajudasse diretamente a pessoa. Então, as pessoas, hoje, no aplicativo, gastam tempo entendendo e decidindo o quê que vão fazer para mudar em vez de gastar tempo passando só o que já fizeram no passado.
P/1 – Você acha que o brasileiro é muito consumista?
R – É, me lembra bastante os Estados Unidos, eu acho realmente que tem uma cultura bem de consumo, que é diferente do que você vê em outros países emergentes, tipo China, Índia que tendem em investir mais em poupança, educação. Aqui, realmente tem uma cultura de que se entra… as pessoas, muitas vezes, querem gastar. Então, a gente tem esse desafio de que se gastar, que seja realmente um bom gasto e em coisas que a gente chama de gasto essencial, então se for gastar, gastar em educação, em saúde, coisas mais para esse lado e não só em coisas mais de estilos de vida, em só lazer e também pensar um pouco mais, eu acho que a grande questão que a gente tenta trazer é que você não tem que cortar todo o lazer, não tem que cortar todos os gastos supérfluos, de certa forma, mas é saber em que está gastando e tomar uma decisão se isso faz sentido, mesmo, né? A questão de quem adora comer fora num bom restaurante, tudo bem, pode ser que você mantenha isso, mas aí tem que cortar por outro lado, cortar comprar roupa ou que for para realmente se dar o prazer de comer naquele restaurante ou vice-versa, mas um pouco mais, as pessoas tendo as informações nas mãos, podendo tomar essa decisão de forma consciente que eu acho que infelizmente, é inconsciente e as pessoas vaio meio que comprando no impulso e particularmente, aqui que tem a opção de comprar parcelado. Esse realmente é um… até para mim, eu trabalho nisso e eu lá atrás comecei a comprar tudo parcelado, faz sentido, né, você paga só depois, e perdi totalmente nessas questões de parcelas, quatro, 12, você não tem ideia de quanto vai cair no cartão e quanto tem sobrando naquele mês. Eu acho um desafio enorme quando começa a entrar realmente nesse ritmo. Então, o aplicativo já organiza isso, mas também, traz essa questão de se você comprou parcelado, ainda vai cair a obrigação futura. Acho que as pessoas, muitas vezes, pensam: a parcela cabe no meu bolso esse mês, então, tudo bem. E isso eu acho que é uma bola de neve de fato que as pessoas, às vezes, criam.
P/1 – Mas de que forma o aplicativo ajuda as pessoas a terem um consumo consciente?
R – A primeira coisa é mostrar quanto você tem disponível no mês, né, o quanto já foi comprometido. Então, quem parcelou um monte de compras, a gente já mostra que naquele mês, o gasto, então vamos dizer que a renda de cinco mil, onde já tem dois mil de parcelas do cartão que vão cair esse mês, a gente mostra que tem cinco no total entrando, mas dois mil já foi gasto, essa é uma visão que as pessoas nunca tiveram, que o cartão te estimula a pensar que é um novo mês, que pode gastar de novo e você não pensa nas parcelas, o primeiro passo é saber quanto, de fato, está disponível para gastar no mês. Depois a gente mostra quanto você gasta em diferentes categorias para ver onde, eventualmente, está extrapolando numa certa categoria e você pode ver o detalhe disso, quais são os gastos de fato e tomar uma decisão de cortar ou minimizar um pouco mais e a gente criou uma… a gente chama meio que uma regra, né, uma diretriz, de certa forma, de como as pessoas podem organizar seus gastos, 50, 15 e 35, então a sugestão é gastar até 50% da renda em gastos mais essenciais, mais fixos, então o aluguel, qualquer coisa de moradia, educação, transporte, coisas assim que você realmente precisa para o dia a dia, mês a mês, 15% as pessoas deveriam já alocar para poupar, investir, ou quem tiver dividas caras como cheque especial, etc., pagar essas dividas e 35% da renda no máximo gastar em coisas mais de estilos de vida, então lazer, compras, coisas assim. Se não tiver suficiente desses 35% da renda, então esperar até o mês seguinte para realmente ter esse controle, então, isso é até uma regrinha simples, mas muitas pessoas comentam que isso ajuda demais, porque as pessoas não tinham uma referência antes, um pouco que as pessoas muitas vezes pensam que deveriam tentar economizar 10% da renda, como um conceito que as pessoas têm. Mas como muitas vezes, as pessoas superestimam a renda em 8%, só sobra 2%, então a margem é muito fina e as pessoas, facilmente,. extrapolam e ficam negativas. Então, a gente com essa regra e com o aplicativo que mostra o que de fato, cai na conta, quanto se gasta e ao longo do mês atualiza, é muito mais fácil ter um controle no dia a dia sem esforço nenhum.
P/1 – O quê que é um consumo consciente para você?
R – Eu acho que é muito a questão de… eu falo muito do conceito de tradeoff, que é um pouco essa questão de tomar uma decisão que se for comprar uma coisa, então vou deixar de comprar outra. Ou comparar dois… sei lá, eu quero dois sapatos ou o que for, avaliar os dois e ver o quê que de fato vai ter mais utilidade, vai ser mais útil de fato e o quê que é talvez um capricho daquele momento e deixar de comprar aquele capricho naquele mês e talvez, colocar uma meta mais de longo prazo: se eu economizar todo mês, durante seis meses, aí sim, vou me dar esse capricho, mas sabendo que é capricho e sabendo que você,, de certa forma, teve uma disciplina para merecer isso, mas muito esse conceito de tradeoff. Eu acho que é o primeiro de tomar essa decisão de escolha mais consciente. Outra coisa que eu vejo muito é que se você compra parcelado, tipo, uma viagem, quando você não viajou ainda e tem que pagar a parcela, fala: “Tudo bem, eu vou ter aquela viagem legal, muito bom”, mas depois de fazer a viagem que você não vai mais ter utilidade daquela viagem, continuar pagando é super chato. Eu acho que realmente cria uma situação bem chata para a pessoa com as suas finanças. Então, outra coisa que para mim, o que eu tento fazer é se for parcelar, se for comprar de alguma forma financiado, etc., nunca estender além do prazo daquele item, então se for viagem, não parcelar além daquela viagem, que até financeiramente não tem um fundamento super claro, mas é questão do lado emocional da compra, do consumo você se sentir bem com isso, fazer como se fosse um investimento, depois disso que você fez, teve o beneficio e deixou de pagar. São as tecnicazinhas aí de ter um consumo mais consciente e se sentir bem sobre isso, para não sentir que você tá controlando na unha e não tem diversão nenhuma na vida.
P/1 – Quais são os benefícios de ser um consumista consciente?
R – Eu acho que são, realmente, algumas, né? Acho que a mais legal é que você acaba tendo flexibilidade lá na frente para ter os consumos que mais você quer, então, quem está no zero a zero, vejo amigos que: “Sempre sonhei em ir para tal lugar, comprar tal coisa”, e realmente não tem como, né, quando você acaba tendo um consumo mais consciente, economiza, efetivamente, você acaba tendo um superávit aí para quando surgir aquele momento, aquela oportunidade, você poder investir nisso. Então, ou naquela viagem, ou naquele curso que você sempre sonhou em fazer, ter realmente como fazer isso, né? Ou quem tem crianças, às vezes, alguma coisa para a criança que às vezes, dá mais alegria para o pai dar algo para a criança, mas que não fez antes, esse consumo consciente, não sobrou nada e sempre fica nesse zero a zero chato, então, para mim é muito mais isso, flexibilidade para tomar decisões, investir em coisas, gastar em coisas que mais importam e que talvez hoje não estão no horizonte, né?
P/1 – O GuiaBolso melhora a vida dos usuários?
R – Essa é a coisa que acho que mais nos orgulha do GuiaBolso, de conseguir medir o impacto que tem na vida das pessoas. Então, quem entra no aplicativo a primeira vez, a gente puxa três meses de gastos histórico daquela pessoa, de todas as finanças, a gente viu que quem entra no GuiaBolso, na média, está economizando quase 300 reais por mês e quem usa o GuiaBolso durante quatro meses, ao final de quatro meses, economiza em torno de 750 reais por mês. Então, aumentou a economia em duas vezes e meio, 150% em quatro meses, então é um impacto enorme que tem na vida das pessoas por ter esse controle, por pensar melhor nas decisões financeiras e reduz o uso do cheque especial em 25%. Então, isso é uma coisa realmente muito, muito legal que a gente vê com o GuiaBolso. E outra coisa bem interessante que a gente viu que é um pouco esse tema de ser mais consciente, a gente fez um estudo com a fatura do cartão de credito. Então, a gente vê quem consome no cartão de credito e paga a fatura, a gente fez um experimento de mandar um lembrete para as pessoas antes de vencera fatura que tinha que pagar aquela fatura, então, mandamos para um grupo vários lembretes e para outro grupo, a gente não mandou nenhum lembrete. E o que a gente viu é que quem recebeu os lembretes, pagava a fatura do cartão com a probabilidade de 11% mais, ou seja, 11% mais probabilidade de não ficar inadimplente no cartão e pagar juros no cartão de credito e todas aquelas multas e tudo mais e era uma questão muito simples, né, porque era simplesmente lembrar para as pessoas que tinha que pagar e as pessoas davam um jeito de conseguir pagar, pelo menos, o mínimo ou alguma coisa do cartão para não ficar sem pagar nada e pegar um monte de multa e tudo mais. Então você vê que é uma coisa relativamente simples dentro do aplicativo, mas que tem um impacto enorme na vida das pessoas em termos de juros, evita um pouco essa bola de neve de juros que acontece com frequência e é até algo que outras empresas poderiam fazer isso com os seus clientes e a gente não vê isso acontecendo com tanta frequência. A empresa não se organiza para fazer ou até vê um beneficio em ganhar via multa, via juros e a gente acha que isso, realmente, é fácil de evitar. A gente pensa muito quando a gente cria, a gente não quer ser Big Brother, a gente não quer mandar nas finanças de ninguém, mas é muito mais trazer as informações, os lembretes necessários para a pessoa tomar a decisão de onde quer gastar, como quer alocar o seu dinheiro, né?
P/1 – O brasileiro é um consumidor consciente? É diferente de outras culturas? Como você vê?
R – De certa forma, sim, a gente vê que as pessoas, realmente, estão tentando calcular quanto têm no bolso, então, essa questão de calcular, até em parte, a febre que deu com compras coletivas, com Peixe Urbano e Groupon e tudo mais é muito essa questão de: “Legal, eu vou ganhar 50% de desconto, então, faz sentido, eu vou fazer”, então por esse lado eu acho que sim, particularmente, você vê muitas pessoas mais da classe C que têm um orçamento mais apertado, muitas vezes, controla até mais porque sabem que têm uma restrição de caixa versus quem tem, teoricamente, dinheiro sobrando, então gasta mais livremente e não se mede, às vezes, então eu acho que por esse lado, sim, mas tem um lado, acho que de um consumo muito digamos aspiracional, né? Então as pessoas aspiram a consumir como se tivesse uma renda maior e quem aparecer, o que eu brinco, crítico de leve muito o paulistano tem muito essa cultura de gostar de gastar para mostrar que pode, o que para mim é uma besteira assim, eu não consigo entender, mas é bem comum. Então, a questão é que por esse lado, não faz sentido ter um gasto além do que você poderia só para mostrar que pode ou só para sentir que você pertence a outra classe social, circulo social. Acho que esses são os tipos de gastos que levam as pessoas a se enrolarem e acabam sendo gastos muito que agregam ao futuro da pessoa, né, então, o ideal é realmente gastar em educação, em um curso adicional, etc., e não em um restaurante, uma balada que não agregam muito além daquele momento, né?
P/1 – Voltando lá atrás, você tinha falado da sua mãe, que ela… aquela foto… você podia falar um pouco daquele momento, da coisa da… de como a sustentabilidade entrou na tua vida?
R – Tinha o Halloween, que até tá chegando agora, mas lá nos Estados Unidos é um feriado super popular com, as crianças e tudo mais de fazer fantasia e depois, sair na rua pedindo doces de casa em casa e tinham algumas famílias que saíam para comprar sempre a fantasia na loja e tudo mais, tinham fantasias super bem acabadas e tudo mais e tinha a escolha da minha mãe que era fazer em casa com o que tivesse lá em casa, fazendo a quatro mãos, ali. E muitas vezes, eu tinha uma fantasia muito mais tosquinha do que os coleguinhas e tudo mais, mas teve um ano que… eu gostava muito de baseball, dessas cards de baseball, e tinha um jogador que era o meu jogador preferido, que tinha as mesmas iniciais que eu, BJ, então eu gostava muito dele, ele jogava no meu time preferido e tinha uma carta de baseball e então, decidi de alguma forma que eu queria ir fantasiado com uma carta de baseball daquele jogador. Então, eu vi que eu podia tentar sair para comprar alguma coisa, aí minha mãe falou: “Não, vamos fazer aqui em casa”, então a gente fez com papel enorme e fizemos o desenho, pintamos e tudo mais e acabei tendo o maior orgulho dessa fantasia que era uma carta enorme que eu cabia dentro, com o meu boné de baseball e o nome do jogador, foto do jogador e tenho essa foto. E é engraçado, porque eu estava super orgulhoso dessa fantasia, apesar de feita em casa e os meus irmãos estão com fantasias também super… feitas em casa, amadoras, mas a gente curtia demais isso, fazendo junto com a minha mãe, né, um pouco tendo esse tempo juntos. E sem gastar nada, a gente deve ter gasto talvez cinco dólares numa loja de coisas de arte e tudo mais e mais nada e foi muito, acho que, marcante isso de fazer isso em vez de sair para comprar na loja, em meia-hora resolver o problema, né? A gente acabou tendo horas juntos criando esse orgulho pela aquela fantasia, acho que isso foi um tema recorrente da minha infância, muitas vezes, eu detestava isso e hoje em dia, pensando em ser pai, eu fico pensando: “Poxa, acho que eu vou fazer a mesma coisa, mesmo o meu filho não gostando”, as gerações se repetem, mas você vê que a gente dá valores mais tarde na vida que você nem percebia, mas que têm um impacto muito grande.
P/1 – No final, a gente vê que os pais agiram certo, né? (risos) Estimular o consumo…
R – Exatamente.
P/1 – E como você pensa sobre o ato de repensar, reduzir, reutilizar, os quatro Rs, né, reciclar? Como que isso age na tua vida, como que é a tua atuação em relação a isso?
R – Eu acho interessante que tem um nível pessoal, que pessoalmente, eu sinto, por exemplo, que antes eu sempre, nos Estados Unidos, eu reciclava, tinha uma disciplina com isso. Aqui não tem tanta oportunidade, não tem, necessariamente, sempre a lixeira de reciclagem e tudo mais, então eu me sinto mal pessoalmente, porque a gente acaba jogando fora muita coisa que deveria reciclar mais pela falta de facilidade com isso, as pessoas não fazem, então, pessoalmente, eu me sinto mal com isso, mas a gente tenta estimular isso, no escritório, a gente tem as lixeiras de reciclagem para facilitar as pessoas a tomarem essa decisão e fazerem. A gente pensa muito, eu sou uma das pessoas mais mão de vaca que tem (risos), é muito difícil eu comprar alguma coisa, então, eu tenho camisas, camisetas de 20 anos atrás, e para mim, tudo bem, eu não ligo muito para marcas. Então, eu acho que pessoalmente, em parte por ser mão de vaca, em parte porque eu acredito que não tem que gastar todo ano para seguir moda, eu acabo realmente reutilizando e se não for usar, eu doo a roupa, normalmente, nem consigo doar, porque até eu deixar de usar a roupa, já acabou totalmente. Mas eu tenho essa pegada, estimulo os amigos a fazerem. O lado assim, fora do lado individual, mais do lado do planeta, eu acho que a gente tá bem atrás nisso, né? Realmente é preocupante a gente vir a população do mundo explodindo, recursos sendo consumidos muito rápido e não temos uma boa solução ainda, não tem uma preocupação suficiente ainda do lado dos governos e nem das pessoas de criar essa sustentabilidade, então, eu acho que toda mensagem, toda educação é válida e o que mais me preocupa hoje é ver que com a mudança das gerações, o acesso a mais informação, mais educação, cada geração deveria ser melhor do que a anterior, que a geração dos meus avós, realmente, não tinha muita consciência, não tinha informação, não tinha facilidade nenhuma para essa questão mais de reciclagem e tudo mais, mas infelizmente, ainda vejo muito adulto aqui, junto com a sua criança jogando lixo na rua, não reciclando, não reutilizando. Isso me preocupa demais, acho que não tem desculpa nenhuma para alguém da minha idade não ter essa pegada, não saber disso, independente da classe social e o pior é ensinar isso para as crianças. Então, isso me preocupa demais, acho que entra talvez o papel da escola a começar a ensinar isso. Eu tenho pouco contato com a escolinha daqui, mas a minha percepção é que a escola privada, super cara não ensina isso, acho que não tem essa pegada, acho que é muito sobre consumo e não sobre consciência, infelizmente, e muito sobre preparar para o vestibular e não preparar para ser um cidadão do bem, então isso me preocupa até pensando em eventualmente colocar o meu filho numa escola, qual escola eu vou escolher vai ser muito mais direcionada a criar essa consciência, mais do que criar uma consciência de consumo e de só a questão de competir para a aparecer, acho que isso faz mal, tanto quem não tem educação nenhuma e acaba contaminando ou não tendo atitudes sustentáveis, mostrando isso para os filhos, acho que é um mega problema. Também quem tem muitos recursos, muita capacidade financeira e tudo mais, e mesmo assim, não ensina isso para os filhos. Então, preocupa ver que algumas das classes sociais e tudo mais e acho que hoje em dia, não tem muita desculpa, né? Espero que as pessoas tomem essa consciência.
P/1 – E na tua casa, você e tua mulher… tua esposa, como é que é a consciência dela em relação a reutilização?
R – Ela, acho que tem essa pegada, ela também cresceu assim, mais restrita de ter que pensar bem, não vai ter brinquedos novos toda hora, tem que ter mais imaginação e criar sua brincadeira com o que tiver a mão. Então, eu acho que ela tem essa pegada bem forte. Ela tinha um pouco mais esse lado de consumo e-commerce, que a gente tá trabalhando (risos), e realmente, muitas questões de ser mais consciente, né, acho que isso é importante, ela realmente, entrou nessa pegada e está se preocupando mais com isso, mas acho que a gente tem sempre que trabalhar mais, né? Inclusive, eu sou o chato da casa que tem comida sobrando na geladeira e ela quer pedir algo de um restaurante para entrega, eu falo: “Não, tem que comer o que tá na geladeira”, e a gente sempre tem esse mini conflito aí se vai consumir o que tá aí ou se vai pedir mais coisas. Algo que se vai trabalhando, né, mas a gente pensa mais, acho que vira mais consciente pensar em ensinar para um filho, né, então, vai ser interessante como isso se desenvolve, né?
P/1 – Vocês se conheceram como?
R – Nos conhecemos aqui em São Paulo num restaurante com amigos em comum, a gente acabou se conhecendo e o que chamou a atenção dela foi que eu tinha morado em vários países diferentes, na Franca, na Argentina, na China, falava vários idiomas, então a gente tinha uma certa semelhança, experiências e acabamos nos conhecendo e gostamos muito dessa pegada mais internacional e tudo mais. E aí, foi.
P/1 – Tem alguma história que você não contou e que você gostaria de contar?
R – Acho que é só esse… uma coisa que as pessoas perguntam bastante é como a gente consegue dentro do GuiaBolso, já com quase 90 pessoas no time, conseguir trazer talentos, conseguir manter pessoas engajadas para ter esse impacto todo, uma coisa que eu acho bem legal é que de certa forma, principalmente jovens, sempre se fala disso, mas a gente vie que é verdade, né, é que hoje procuram muito um propósito no trabalho. Então querem trabalhar numa empresa que tem uma missão clara, que ajuda, de fato, as pessoas e a gente vie que muitas pessoas procuram o GuiaBolso pedindo para trabalhar conosco porque querem ter esse impacto. Uma coisa bem importante, que motiva, de fato. A gente vê que até o desenvolvedor que tá no código o dia todo, que não tem, às vezes, contato nenhum com o usuário final, se orgulha, sabe quem são os usuários, comemora, às vezes, o desenvolvedor é quem mais comemora com as mensagens positivas que a gente recebe dos usuários. Então, a gente conseguiu um pouco criar e manter esse foco e essa missão e até recentemente, fizemos um exercício onde todo mundo da empresa passou pelo menos uma hora respondendo dúvidas e problemas dos usuários. Então, na linha de frente, todos os desenvolvedores, todas as pessoas de marketing, todas as pessoas do legislativo, realmente, tiveram essa experiência e é bem legal sentir essa pegada, sentir quem você está, de fato, ajudando e afinal de contas, são 90 pessoas que o GuiaBolso hoje tem três milhões de usuários, então três milhões de pessoas foram beneficiadas por 90 pessoas. Então, você consegue escalar muito esse impacto. Eu acho que isso é um pouco, talvez, as duas fontes que eu iria encorajar as pessoas a tentarem ter um impacto nesse sentido de consumo consciente e tudo mais, é um, através das empresas, das iniciativas pensa como aumenta o impacto que eu posso ter para não ser só uma coisa de uma única vez, para um único grupo, como se expande esse impacto e o outro é realmente, com os filhos, né, como você ensina o seu filho para a próxima geração, talvez, ter melhores atitudes do que a nossa. Acho que é isso.
P/1 – E essas são as coisas importantes para você hoje?
R – São bem importantes. O meu filho vai nascer, agora, qualquer dia, então estou pensando muito em como ser pai, como ensinar as coisas que eu acho importante e minha empresa, realmente, eu tenho muito orgulho do que a gente fez até agora. Tem muito chão pela frente, ainda, com a empresa, mas acho que é muito legal ver isso e ver que foi feito entre muitas pessoas, muitos anos, mas que tá tendo esse impacto positivo para as pessoas.
P/1 – E quais são os seus sonhos?
R – Ah sonho… assim, por um lado, adoraria ver um resultado super positivo para o GuiaBolso, para o GuiaBolso poder continuar crescendo, a gente acha super factível chegar a 20 milhões de usuários, então, se isso algum dia for através de um IPO que é o sonho de toda empresa hoje, seria incrível, mas poder realmente se manter crescendo, o time crescendo, o número de usuários crescendo, impacto crescendo, por um lado, é um sonho muito grande que eu tenho e por outro lado, realmente, ver minha família crescer e ver meu filho ser feliz, não repetir alguns erros dos meus pais, mas manter um pouco esse lado dos valores positivos que eles me passaram. Isso é uma história engraçada, tipo, brincadeira sei lá, daqui a 30 anos, a gente estava na Itália com a minha esposa e com os meus pais visitando vinhedos lá em Toscana e recomendaram um, então a gente chegou lá e começamos a falar com o filho do dono do vinhedo lá numa área rural, no meio de Toscana e percebemos um pouco de sotaque dele e perguntamos, e ele falou: “Minha mãe é brasileira”. A mãe dele é uma baiana que conheceu o pai dele, que é o dono do vinhedo, então hoje, o pai é dono do vinhedo, a mãe toca o restaurante daquele vinhedo e os filhos trabalham no vinhedo dando tour e tudo mais e a gente brincou, que a minha esposa é da Bahia, originalmente, então a gente brincou que sonho de vida de aposentado de morar na Itália, com um vinhedo, um restaurante, que ela gosta muito de cozinhar, pegada de restaurante, seria um bom fim depois de quem sabe, mais alguma empresa ou outras coisas ligadas ao empreendedorismo, mas seria um bom fim (risos).
P/1 –
Ou um bom começo de um fim…
R – Exatamente (risos). E aí, deve ter muito tema de sustentabilidade, também, né?
P/1 – E como foi contar a sua história, aqui, hoje?
R – Legal. Às vezes, me sinto estranho falando demais (risos), mas é uma coisa legal. Uma coisa, talvez, não tão comum, mas que cada um consegue puxar alguns elementos, até recentemente, publicaram um artigo sobre… um pouco a história do GuiaBolso levantando dinheiro e que a gente recebeu uma quantidade enorme de “Não” de investidores, né? A gente foi contando a nossa visão e muito investidor falou que não queria investir. Aí, a gente publicou isso e teve, sei lá, 500 comentários no artigo de pessoas empreendedoras falando: “Só falta então mais 30 nãos”, “É só continuar batendo cabeça que vão conseguir”. Acho que é uma coisa legal se a gente puder de alguma forma ou inspirar as pessoas, ou então, as pessoas puxarem algum detalhe e aplicar à vida deles, é legal, né? Tenho muito isso, tenho muitos mentores que eu tento me espelhar, tento me espelhar com suas histórias e a vida segue assim, cada um tentando espelhar-se no outro e então, ajudar.
P/1 – Em algum momento, você sentiu vontade de desistir? Você foi persistente, né?
R – É. Não, desistir, não. Sempre tem os momentos, realmente, de bastante estresse, de montanha russa, mesmo, a gente teve antes de cair uma das rodadas de investimento que tinha que pagar a folha e não tinha dinheiro suficiente no banco e chamei o Thiago e falei: “Cara, se prepara que a gente vai ter que bancar do nosso bolso a folha desse mês enquanto não cair o investimento”, então é mais um momento de estresse, mas a gente estava pronto para lidar da forma que precisasse, mais isso do que propriamente, desistência, né, acho que eu teria talvez desistido se tivesse até hoje com aqueles 50 mil usuários como meta (risos), aí seria deprimente, mas como a gente tá crescendo bem, eu vejo que estamos no caminho certo, é só continuar executando, né? Então, desistir, acho que de longe e em parte também porque o time é tão legal, o time também me motiva a continuar.
P/1 –
O GuiaBolso é um aplicativo gratuito?
R – Isso.
P/1 – E como que é que ele se mantem?
R – Então, durante muitos anos, durante quatro anos, quase, se manteve com investimentos, então, eu e o Thiago bancamos a parte inicial, depois, captando rodadas de fundos de investimento e agora, começou a ase monetizar, ganhar receita indicando produtos financeiros para os usuários que fazem sentido para o seu perfil, então, primeiro, o cenário mais comum hoje é quem está no cheque especial, pagando juros altíssimos, indicar um produto de empréstimo pessoal com juros bem mais baixos para a pessoa poder se organizar e pagar menos em juros e a gente ganha uma comissão dos nossos parceiros que são algumas instituições financeiras, então, por ter indicado aquele produto, né? O que o filtro que cada oferta na plataforma tem que passar para poder aparecer para o usuário, não pode ter só propaganda, tem que ser no contexto das finanças daquela pessoa, tem que ser um produto que faz sentido para a pessoa, que realmente ajuda a pessoa e que é o melhor produto disponível para aquela pessoa, então esse é o filtro que tem que passar e para a parceria funcionar, tem que fazer sentido para o GuiaBolso e para o nosso parceiro, então, tem um tripé de avaliação que a gente faz antes de colocar qualquer oferta na plataforma, então, a gente talvez ganhe menos, mas agrada mais o usuário e ajuda mais o usuário, que é a nossa missão. Então, a gente tá nessa pegada.
P/1 – Tá bom, mais alguma coisa que você gostaria de falar?
R – Acho que é isso.
P/1 – Tá bom, muito obrigada.
R – Obrigado.
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