Divino, Zé Pretinho! Quarenta e oito anos de INPE

Projeto CEMADEN

Depoimento de José Divino de Souza

Entrevistado por Paulo Scada e Antônio Yuki Ueta (?)

São José dos Campos, 28/02/2019

Realização Museu da Pessoa

PCSH_HV720_José Divino de Souza

Transcrito por Liliane Custódio

MW Transcrições

P/1 – Bom, primeiro eu queira agradecer a você, Divino, por ter atendido o nosso pedido para dar esta entrevista. Enfim, vamos começar então? Divino, para a gente começar, eu queria que você falasse o seu nome inteiro, a data de nascimento e onde você nasceu.

R – Meu nome é José Divino de Souza, nasci no dia dois de junho de 1947, na cidade de Francisco Sá, norte de Minas. Radicalizei-me em São José dos Campos, no Inpe, ou no Gocnae na época, no dia sete de janeiro de 1970, às oito horas e 42 minutos da manhã, indicado pelo senhor Ariene Pires, onde foi a minha meta de concluir 48 anos de serviço prestado a essa instituição, quais os nomes de Gocnae, passado depois para o nome de Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, coordenado pelo então senhor, diretor da época, doutor Fernando de Mendonça. Trabalhei 48 anos, depois, com o passar do tempo, eu fui demitido, não por incompetência da minha parte, mas sim pelo tempo de serviço prestado e que a minha meta já tinha sido cumprida dentro da instituição. Quero muito agradecer a essa instituição, a qual me deu uma oportunidade de ter hoje uma residência fixa dentro de São José dos Campos. E obrigado por vocês terem me dado essa oportunidade, e a todos que estão até hoje me prestigiando. Obrigado a todos.

P/1 – Divino, antes da... A gente queria falar um pouquinho sobre a sua infância, seus pais, seus avós, quem eram eles.

R – Bom, na realidade, os meus avós, eu não os conheci pessoalmente. Minha mãe é uma das pessoas que me deu oportunidade de vir, de conhecimento no cômputo geral. Foi uma infância muito sofrida, vivida numa cidade muito pobre, onde nós tínhamos problema com muita enfermidade de doença de Chagas. Que eu vim descobrir que a doença de Chagas é uma infecção que vem de uma picada de um inseto chamado barbeiro, e que foi descoberta aqui na região do estado de São Paulo. O laboratório, eu não posso me comprometer em dizer, mas nós tivemos o privilégio de algumas pessoas que passaram por isso, passarem por um instituto em São Paulo, o qual eu também participei, mas eu não tive essa enfermidade. Foi comprovado pelos exames que eu não tinha essa enfermidade. E as pessoas que tiveram essa enfermidade, infelizmente já faleceram. Mas a pessoa que me indicou para a instituição, ela já ela é falecida, mas ela também não tinha essa enfermidade. A pessoa foi casada quatro... Três vezes, melhor dizendo. Para confirmar, três vezes. Foi casada três vezes. Era uma pessoa muito ativa, também tinha dificuldade com a cultura, que eu também não sou uma pessoa muito íntegro na minha cultura de vida, mas tenho o privilégio de estar junto com vocês para me orientarem no dia a dia.

P/1 – Mas, Divino, você viveu em Minas e veio para São Paulo? Como foi essa...

R – A minha vinda para São Paulo foi privilegiada em ganhar a Copa do Mundo de 1962. O último jogo da Copa do Mundo, foi Brasil e Tchecoslováquia, que muitas pessoas falavam o nome errado, que eu também acredito que esteja falando o nome certo, e eu ganhei o bolão da Copa do Mundo e tive o privilégio de chegar a um tio meu, que já morava aqui no estado de São Paulo, e ao fazer uma visita a nossa cidade, que era Francisco Sá, era não, é Francisco Sá, eu tive o privilégio de vir com ele de Francisco Sá para São Paulo. E eu tinha um sonho de conhecer o Pacaembu. E com três dias de São Paulo, eu tive o privilégio de passar na frente do Pacaembu. E eu tenho isso na minha mente até hoje, todos os jogos da Copa do Mundo de 62 escritos nas pilastras, nos pilares da entrada do Pacaembu, ver a concha acústica do Pacaembu, que era um dos estádios... Que depois veio, aconteceu o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, que também quero ainda conhecer o Estádio Cícero Pompeu de Toledo. Quero ter o privilégio de ir até o Morumbi atual, que ainda não fui. Mas eu quero ir. Mas o Pacaembu, eu já conheço pelo menos a entrada.

P/1 – Mas esse momento da sua vida quando chega a São Paulo, você veio estudar? Como foi essa chegada a São Paulo? Veio morar com os tios então?

R – Eu vim porque na minha cidade eu não tinha... Eu morava com os meus padrinhos, e na concepção dos meus padrinhos, o meu padrinho era potiguar, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e a minha madrinha era mineira, da cidade de Francisco Sá, que até então era um nome novo na cidade, porque o primeiro nome da cidade da minha madrinha, ou da minha família, que depois que eu nasci, em 47, ela passou a ser chamada Francisco Sá, que o nome permanece até hoje. Os meus padrinhos já são falecidos, a minha madrinha morreu em Montes Claros, e o meu padrinho também faleceu em Montes Claros. Eu fui criado com uma menina que a minha madrinha criava, então eu era o filho homem dos meus padrinhos. E essa menina era sobrinha da minha madrinha direta, como familiar. Então foi a vida que eu tive quando criança. Vivi muito tempo com eles e fui aprendendo um pouquinho. Até que um belo dia eu tive a oportunidade de conhecer São Paulo e vim para São Paulo nessa época, em 1962, após a Copa do Mundo de 62. Eu tinha um dinheiro que podia vir para São Paulo e vim com esse dinheiro. E cada três meses, eu mandava dinheiro para os meus pais em Minas.

P/1 – Trabalhava em que?

R – Trabalhava em posto de gasolina. Porque lá em Minas, o meu trabalho lá com os meus padrinhos era trabalhar em posto de gasolina. E só tinha um posto na cidade, que depois apareceu outro. Era um posto da Atlantic na época, depois apareceu um posto da Esso na cidade. Mas foi uma convivência que... Recentemente eu estive por lá, mas eu nem tive a oportunidade de passar aonde era, porque tá tudo diferente. O tempo da minha infância, que eu trabalhei em posto de gasolina lá, se existe hoje, eu já não posso dizer para vocês onde foi o posto, está muito diferente. Hoje, nós temos hoje, nós temos as ruas onde andavam os casais do passado, hoje é uma rua diferente, muito diferente do que era.

P/1 – Você começou a trabalhar com quantos anos?

R – Na realidade, eu comecei a trabalhar aos oito, nove anos de idade. Porque a circunstância da dificuldade obrigava a gente a fazer alguma coisa. E na cidade não tinha muito o que fazer. Era uma cidade pobre. Conhecido na época como filho de Antônio e de Eva. A minha mãe era Eva, beiçuda, uma negra, e o meu pai era Antônio Taioba, porque ele era de uma cidade chamada Taiobeiras. Ele tinha as forças e as expressões de vida dele, e a minha mãe era dona de casa. Infelizmente, as circunstâncias da vida obrigavam-na ser mãe a cada um ano. Então meus pais tiveram oito filhos, e dos oito filhos, eu fui um dos sobreviventes. Hoje eu estou com 64 anos de idade, não nego a minha raça, sou mineiro mesmo, daquele que ainda falo “uai, sô” e “como vai?”, e estou vivendo os meus momentos bons. Quero agradecer muito o pessoal do Sul do Brasil, mais especificamente de São Paulo, no estado. Muitas controvérsias, eu tenho problema sério com dependência química do álcool. Hoje eu estou sóbrio, sabendo o que eu estou falando. Antes também eu sabia, mas eu não tinha crédito. Que tinha dia que eu não podia falar com vocês. Um momento como esse, eu expressava o meu sentimento, exalava o odor do álcool. E não foi uma vez, nem duas, que eu entrei aqui bêbado. E até hoje eu agradeço muito, porque teve um belo dia que alguém me levou para uma clínica onde falava da dependência do meu alcoolismo, e eu aceitei. Eu preciso aceitar. Eu tenho uma doença incurável de consequências fatais. E eu agradeço muito às pessoas que estão me auxiliando, o meu filho, a minha esposa, e a outra família que eu tenho, minha primeira família, que são vocês. Essa família externa é a que está muito mais próxima de mim. Que as minhas pequenas dificuldades lá fora, todas vocês correm e me dão a mão, então eu não tenho condição de ficar sofrendo lá fora hoje.

P/1 – E teve também esses seus tios-padrinhos que também te acolheram em São Paulo, não é?

R – Sim.

P/1 – E lá você também continuou trabalhando, frequentou a escola? Como foi?

R – Continuei. Lá em São Paulo, eu tive dificuldade de estudar, porque eu não conhecia muito a capital. Até que um belo dia a minha tia falou para mim o seguinte: “Você precisa se expor aprendendo. Você não sabe ler?”. Eu falei: “Eu sei ler alguma coisa, mas eu tenho medo de sair por aí e me perder”. Ela falou: “Olha, quem tem boca, vai a Roma. Mas aqui você não vai para Roma, você já está em Roma, você vai mexer nas ruas, você vai andar nas ruas de Roma. Você não é analfabeto, você sabe onde você mora. Você vai falar onde você mora e a pessoa vai indicar para você um ponto de ônibus, que você possa pegar um ônibus e se locomover, ou ir aonde você precisa”. Eu comecei a fazer. Numa cidade como São Paulo, você tinha que se virar para fazer o que você precisava fazer. Eu não precisava fazer, eu tinha que fazer. Chegou uma hora que eu tive que me expor. Então eu comecei a trabalhar, saía do meu bairro, ia para Santo Amaro, e de Santo Amaro, eu corria pela outra região. Que eu tinha duas saídas: eu ia pela Francisco Morato, para ir até o bairro do Campo Limpo.

P/1 – Qual bairro você morava?

R – Bairro do Campo Limpo, onde é a Avenida Campo Limpo, que a gente ia... Tinha a Metafio, que era uma das grandes empresas de eletrônica de São Paulo, de elétrica, não lembro bem, eu não tinha muito conhecimento. E tinha um problema, eu sempre bati muito no problema de cultura. Eu sempre tive muita dificuldade com cultura, que na minha cidade, eu não tinha tempo para estudar. Na minha cidade, o problema era trabalho. Eu tinha que sobreviver trabalhando. E eu era uma criança que eu queria... Moleque não, eu era criança que queria evoluir. Então agora, quando eu voltei a minha cidade, eu voltei a uma cidade totalmente remodelada. Hoje eu tenho a prefeitura municipal, não sei nem o nome do prefeito atual, eu tenho parentes por lá, mas também não tive tempo de reconhecer todos muito. Ainda existe a velha ponte que eu passava por ela, totalmente obsoleta do que foi no passado, onde eu pegava peixinhos no passado, hoje, infelizmente, é um lago onde tem muita sujeira. Então mudou totalmente a minha vida. Mudou da água limpa para a água suja e não tem como contornar essa situação.

P/1 – Você disse que tinha uma necessidade de aprender, de se informar mais, de estudar, talvez. Você conseguiu, ou só tinha a questão do trabalho aqui em São Paulo?

R – Não, na realidade, eu vim desenvolver um pouco mais do meu conhecimento, dos meus conhecimentos, aqui dentro do Gocnae, que hoje é o Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Por quê? O doutor Mendonça, o doutor Fernando de Mendonça, para ser mais preciso, ele era uma pessoa que gostava de ver as pessoas evoluírem. E como eu tive muita amizade com ele, trabalhando na residência dele antes de vir para o Gocnae, que assim que eu entrei no Gocnae, passou-se a Cnae, Comissão Nacional, aí o doutor Mendonça me deu a oportunidade de fazer um curso de primário aqui dentro do Inpe, para ser mais preciso, neste prédio, que era o segundo prédio do Inpe, que o primeiro foi onde é o atual CPTEC, aqui dentro do Inpe, que era o Alfa, Laboratório de Eletrônica e Direção do Inpe. Ou passei o contrário. Direção do Inpe é onde tinha o doutor Fernando de Mendonça, tinha a secretária dele, que era a dona Aparecida dos Santos. Foram várias pessoas que trabalharam por ali. Até virar o Projeto Saci, que foi o primeiro projeto do Inpe, Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinar. Que a diretoria do Projeto Saci foi tudo ali, logo em seguida veio o Sere, Sensoriamento Remoto, e assim sucessivamente.

P/1 – Mas antes da sua chegada ao Inpe, ou melhor, como foi essa chegava ao Inpe? Trabalhava em São Paulo, como aparece São José dos Campos nessa história?

R – Em São Paulo, quando eu vim de São Paulo para cá, eu vim com dificuldade do problema que houve daquela catástrofe que teve em São Paulo. Vou falar catástrofe, que não sei qual a palavra correta mesmo. Houve um problema de deslizamento de serra em Caraguá. E eu aqui apavorado, eu estava morando em São Paulo na época, eu vim de São Paulo, estava morando no Bairro do Ferreira na época, o pessoal falou para mim o seguinte: “Está acontecendo um acidente lá no lado de São José dos Campos, Caraguatatuba, São Sebastião. Você conhece essa região?”. Eu falei: “Eu não conheço”. Eu me propus a vir até São José dos Campos, que até então meus pais estavam morando aqui em São José. Quando eu cheguei a São José dos Campos, eu encontrei uns familiares que eram da região do norte de Minas, uma cidade chamada Almenara. E nessa situação, eu fiquei sabendo que meus pais de vez em quando mantinham contato comigo, mas não era bem telegrama, era uma carta, muito mal escrita, que eu também tinha uma dificuldade muito grande em ler algumas frases, e pedia para as pessoas lerem para mim. Uma senhora falou para mim: “Mas seus pais estão com dificuldade”. Eu me propus a vir para São José dos Campos. Cheguei aqui e procurei alguém com o nome da nossa cidade, que era o senhor Manoel Antônio dos Santos, que era um dos funcionários na época da Cnae, seu José Aleixo. Encontrei com esse pessoal, falou: “Mas seus pais estão em Ilhabela. Eu me propus a ir para Ilhabela. Mas quando eu cheguei à cidade, não tinha mais ônibus, para Ilhabela principalmente, que fiquei sabendo que tinha que atravessar o mar. Eu fui até Paraibuna. Quando cheguei a Paraibuna, eu me locomovi até o pico da serra. Quando cheguei ao pico da serra, eu desci o pico da serra, estava de noite, e comecei a descer o pico da serra. Quando eu estava na metade da estrada, ou na metade da serra, que eu pensei: “O que eu estou fazendo? Eu estou me sujeitando a morrer aqui”. A hora que eu menos esperava, caía aquele aguaceiro, era madeira, eram árvores caindo. E caíam árvores em todas as... E começou a rodar. Quando eu cheguei embaixo, na serra, que eu saí da serra, que eu cheguei, tinha polícia rodoviária na entrada da cidade. Eu comecei a tentar fugir da polícia, mas como eu não conhecia muito aquela região, quando eu olhei, falei: “O que é isso aqui?”. Falou: “É a cidade de Caraguá. Mas aonde você vai?”. Eu falei: “Eu quero ir para Ilhabela” “Mas você tem parente em Ilhabela?”. Falei: “Não tenho parente... Tenho parente em Ilhabela. Eu sei que meus pais moram em Ilhabela”. E a minha mãe, até então, queria saber onde eu estava, mas na realidade eu estava em São Paulo. Quando eu saí com destino a Ilhabela, quem me ofereceu a oportunidade de saber o que estava acontecendo, essa... Foi na época que a Nossa Senhora de Aparecida, não falando de religião, estava recebendo a Rosa de Ouro do Vaticano. E o bispo de Aparecida, ele ficou incumbido de falar com Dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, para eles determinarem as cidades. Que Nossa Senhora de Aparecida ia fazer a trajetória com a Rosa de Ouro, e Caraguatatuba foi uma das cidades. Até então, eu cheguei a Caraguatatuba, eu tive que ir para São Sebastião, ao passar naquelas estradas indo para São Sebastião, que eram mão única... Eu fui até São Sebastião. Mas para sair da cidade para ir para São Sebastião eram estradas simples. E tinha uma fazenda chamada Fazenda... Não lembro bem o nome da fazenda, sei dizer que era alguma coisa ligada ao governador do estado de São Paulo, que era o senhor Ademar de Barros, que é o bairro chamado Porto Novo. Passava por cima da ponte do Rio Porto Novo e com destino a São Sebastião. Ao chegar a São Sebastião, já era tarde, noite. Como eu não conhecia nada, eu falei: “Como eu faço para ir para Ilhabela?”. As pessoas me disseram o seguinte: “Olha, para ir a Ilhabela hoje... Aonde você vai em Ilhabela?”. Eu falei: “Eu não sei. Eu estou procurando uma família lá. Eu sei dizer que eu tenho um irmão que se chama Vanderlei Pereira de Souza. Eu sei dizer que ele trabalha em Ilhabela, agora, onde, eu não sei” “Mas a Ilhabela é grande. A ilha é uma ilha. Tem vários nomes. Tem Bairro do Portinho, tem Bairro da Feiticeira...” – e foi citando nomes. Eu falei: “Mas eu não conheço nada, estou chegando de São Paulo”. Eu me hospedei num hotel chamada Hotel Roma. Cheguei a esse hotel, na praça principal de São Sebastião, e perguntei para ele o seguinte: “Eu tenho condição de pousar por aqui hoje, mas eu preciso ir para Ilhabela” “Ah, mas hoje não tem mais balsa para Ilhabela. Balsa amanhã, a primeira balsa, ela sai da Ilhabela às cinco e meia da manhã e volta por volta das seis horas da manhã, aí ela começa a fazer o perímetro. Quando uma balsa está no meio do canal...” – eu não sabia o que era canal – “... a outra está chegando do outro lado da balsa”. Foi quando eu fui para o porto, lá para o porto onde chegava a balsa para ir para o... Mas ao entrar nessa balsa, eu me deparei com um senhor que me olhava demais. Aquele homem me olhava, eu pensava comigo... E eu com uma caixa de roupa, que eu não tinha mais o que fazer, minhas roupas estavam numa caixa. Não tinha nem noção de onde estava. Em vez de pegar... Aonde eu vou? Fui para o centro de Ilhabela. Quando cheguei ao centro de Ilhabela, encontrei com um pessoal tocando cavaquinho, aquele negócio todo, eu perguntei: “Você não conhece ninguém com o nome de Vanderlei? Vanderlei Pereira de Souza?”. Falou: “Não”. Aí tem uns rapazes que trabalham no Hotel Ilhabela, mas no Hotel Ilhabela, nem é bom você ficar ali nas imediações, que o dono do Hotel Ilhabela, ele é muito exigente, dependendo da pessoa que está parada ali, ele é até capaz de chamar a polícia e mandar conduzir a pessoa para outra área. Falei: “Mas como pode ser assim?”. Voltei, passei em frente esse hotel, voltei, aí perguntei para o rapaz que estava em pé: “Você não conhece ninguém com o nome de Vanderlei?” “Tem um rapaz aqui que a gente chama de Fefeu, mora no sul da ilha” “Não, é que eu estou procurando uma pessoa que é do norte de Minas, que ele mora aqui na Ilhabela, mas eu não sei o nome que dão a ele aqui. O nome dele é Vanderlei” “Ah, deve ser uma família de mineiros que mora lá no sul da ilha, a mãe chama Eva e o pai chama Antônio? Por sinal, eu não quero falar mal da pessoa, a pessoa tem problema sério com bebidas?”. Eu falei: “Não sei”. Foi quando eles falaram: “Esse Vanderlei trabalhava aqui, mas infelizmente não trabalha mais”. Mas daqui lá no sul da ilha, que lá fala norte e sul, do outro lado da ilha tem Bonete, tem vários lugares, Pedra do Sino, que diz que tem um lugar em Ilhabela que você bate numa pedra lá, é a mesma coisa de um sino. Aí ficou. “Mas tem muito inseto aqui chamado borrachudo. Você deve passar alguma coisa no corpo, porque esse bicho, na hora que ele começar a picar você, pica muito mesmo. Tem pessoa que até passa mal com isso, aí tem que ir para o médico.” Mas eu comecei a caminhar atrás disso. Voltei aonde? Voltei lá ao hotel que eu fiquei em São Sebastião à noite. Cheguei lá, falei para o cara... Eu chorava de vontade ver meus pais. Eu falei: “Não, eu tenho que ir lá no sul da ilha”. O cara falou: “Eu vou te dar uma dica. Lá no sul da ilha não tem condução. Tem hotel que você pode ficar, é muito caro. Os caras lá cobram talvez até pela aparência. Não quero falar mal, mas talvez a sua aparência não seja aqui... E você com essa caixa na mão, você está se condenando, cara. Você vai devagar, devagar com a dor, que seu santo não vai fazer muito milagre, não”. Eu falei: “Não, mas hoje eu vou dormir aqui, que eu estou muito cansado”. Ele tinha uma lancha que fazia o perímetro do centro da ilha até São Sebastião novamente. Desci no cais, dormi lá novamente, aí o cara falou para mim... Hotel Roma, no centro de São Sebastião. Dormi no hotel, mas estava tão cansado que não sabia mais nem o que fazer. No dia seguinte, eu levantei cedo e falei para o zelador do hotel lá: “Olha, me chame cedo” “Não, na hora que a balsa for sair. O senhor vai lá para ilha?”. Falei: “Vou. Eu preciso encontrar. Não preciso, eu tenho que encontrar os meus pais. Os meus pais moram no sul da ilha”. Ele falou: “Chega lá, você faz o seguinte: chega, você tem Praia do Curral, que fala Curral, lá os caras falam interessante, é Curral o Curral. Chega e fala que você quer ir à Praia do Curral. Tem o Perequê, tem vários lugares. Mas você acha que você deve ir para onde?”. Eu falei: “Ah, eu quero ir para essa Praia do Curral. Entre mortos e feridos, alguém tem que sobreviver. Eu vou para essa Praia do Curral”. Quando eu entrei na balsa, rapaz, tinha um cara que me olhava, esse cara me olhava, olhava, olhava, ele me olhava assim como se... E eu pensei comigo, só pensa coisa que não presta, falei: “Que será que esse cara me olha tanto?”. A balsa parou lá no porto, do outro lado da ilha, eu peguei a minha caixa, ele pegou e falou para mim assim: “Oh, você. Você”. Eu falei: “O que tem eu?”. Ele falou: “Deixe-me fazer uma pergunta para você. Você não é filho da dona Eva? Você não é filho da dona Eva com o seu Antônio? Irmão do Vanderlei?”. Eu falei: “Eu sou irmão do Vanderlei, sou filho da dona Eva com o seu Antônio. Por quê?”. Ele falou: “Olha, o meu nome é Benedito, eu conheço a sua mãe e o seu pai”. Eu falei para ele assim: “Quanto você quer para você me levar lá?” “Não, não, a sua mãe chora por sua causa. Você não é o José Divino?”. Eu falei: “Eu sou o José Divino. Ou Divino, como você achar melhor” “Eu levo a sua caixa, e não cobro nada. Só de ver a sua mãe chorar por você, a sua mãe chora todo dia por você. Ela está te esperando. E hoje vai ser o dia em que eu vou ver a dona Eva muito feliz. A dona Eva é como se fosse minha mãe, é a nega do cabelo liso”. Minha mãe tinha o cabelo muito liso. O cara me ajudou a levar a caixa. De vez em quando eu queria pegar, ele: “Não. Isso aqui é minha obrigação”. E eu pensando o contrário, com medo de ele correr com a minha caixa e me deixar. Eu tinha as minhas roupinhas de elite da minha vida, eu era meio enjoado, eu tinha os meus ternos, aquele negócio todo, que eu tinha dinheiro. E com dinheiro no bolso, mas meu dinheiro não ficava no bolso, meu dinheiro ficava embaixo da minha meia. Botava a meia, botava o dinheiro antes da meia, botava o dinheiro embaixo, que para o cara tirar meu dinheiro, tinha que tirar meu sapato, minha meia e chegar ao meu dinheiro. Até chegar ao meu dinheiro, eu dava um tapa na orelha dele e pegava meu dinheiro de volta. Era a lei da minha sobrevivência. E o cara me levou à casa da minha mãe. E meus pais... A hora que eu cheguei a minha casa, para minha grata surpresa, ele falou: “Fica aí” “Mas o que o senhor vai fazer?” “Fica aí, rapaz”. Tinha uma cachoeira linda, eu não sabia nadar, como até hoje eu tenho medo de água copo, fiquei naquela. Ele falou para mim: “Fica aí, mas não vá se assustar, não. Oh, dona Eva”. Minha mãe saiu: “Oi, Benedito” “E o filho da senhora, como ficou? Esse menino não vai vir para cá, não? A senhora fala menino todo dia, fala menino todo dia, mas esse menino nunca...” “Ah, meu filho é um filho meio caolho” – eu tenho um desvio mesmo no olho – “Meu filho é meio caolho, mas é muito gente boa. Eu estou morrendo de saudade” – e começou a chorar. Até hoje eu falo isso, eu tenho vontade chorar. Sofrimento da família, que tinha um irmão pequeno, eu tinha uma irmã pequena na época, outra que já era casada forçadamente, não sei por que, o marido na época forçou a menina a se casar com ele, como eles não tinham muita noção, todos eles semianalfabetos, como eu... Vocês pensam que eu tenho uma grande cultura? Meus melhores professores ainda vão chegar, porque vocês dois já estão presentes. A lei da minha sobrevivência é o amanhã, porque o hoje eu já estou vivendo. E é muito importante este momento hoje na vida. Vocês não sabem o quanto eu sou grato a Deus... Eu não devo falar de religião, mas vocês não sabem o quanto eu sou grato a Deus por me dar essa oportunidade de falar da minha vida hoje, dessa instituição, desse restaurante, que tinha dia que comia aqui, morrendo de vontade de levar um pouco para a minha mãe escondido, ou querendo comprar, que ele não vendia para levar para fora, que eu sabia que a minha mãe não tinha lá. Saía daqui correndo, passava num bar e comprava pão com mortadela para levar para minha mãe, para ela comer. Isso não foi uma, nem duas vezes, até chegar o meu alcoolismo. Porque no meu alcoolismo, eu aprontava. Eu ia à cidade, pegava... Ali no Santa Helena, eu chegava lá, falava: “Faz tantas marmitas”. Trazia. Vinha de táxi trazer comida para a minha mãe.

P/2 – Divino...

R – Comprava e trazia para a minha mãe comer, alimentar direito, como precisava.

P/2 – E como foi a reação da sua mãe, dos seus pais, quando eles te viram?

R – A minha mãe ficou muito agradecida com tudo que eu fazia na hora em que ela mais precisava. Que eu me propus a uma época do ano, quando começou em São José dos Campos, a retransmissão da TV UHF, eu me propus a aprender a comprar antenas de televisão. Então eu ia a uma fábrica aqui na Eugênio de Melo chamada Amplimatic, eu fui lá e eu sabia o quanto custava uma antena de televisão, que era VHF. Na época ainda era VHF. Depois que veio o UHF, na época do Brigadeiro Sérgio Sobral, que foi indicado como prefeito de São José dos Campos pelo governador de São Paulo, governador Abreu Sodré. Ele foi indicado como prefeito do Vale do Paraíba. Que o Vale do Paraíba também nós tínhamos um problema muito sério de interligação com Campos do Jordão com problemas de... Uma enfermidade que eu não sei se o nome tá certo, vocês me corrijam se for preciso, ou na entrevista vocês fazem o nome correto, era tuberculose. Então tinha muitas pessoas. O primeiro local era aqui em São José dos Campos. Depois que essas pessoas eram... Como se diz? Eles eram indicados como tinham a doença mesmo da tuberculose, eles iam para Campos do Jordão, onde passavam um tempo, para depois voltarem para seus devidos estados, ou cidades. E era o Vicentino Aranha, aqui em São José dos Campos, que eu não me lembro agora, tem um instituto aqui que era coordenado por um padre do Vale do Paraíba, ou veio indicado por Vale do Paraíba. Então essas pessoas passavam o primeiro estágio em São José, era comprovado que a pessoa tinha a enfermidade, ia para Campos do Jordão, que tinha um local, que era um local muito frio na época, que a pessoa começava a fazer um trabalho de conscientização lá, até existir uma melhora, que eles podiam voltar para seus estados.

P/1 – Divino, você estava falando dessa história em busca dos seus pais, que estavam em Ilhabela. Porque eu perguntei como foi a sua chegada em São José dos Campos e no Inpe, e você conta que passou por aqui, encontrou algumas pessoas que já eram do Inpe e depois foi para Ilhabela. Mas, enfim, isso foi uma história que você foi em busca dos seus pais. Mas como aparece São José na sua vida e o Inpe?

R – São José foi o seguinte, quando eu cheguei a São Paulo, que meu tio veio a São José dos Campos, quando eu cheguei a São Paulo, eu era bem-conceituado em São Paulo porque eu tive a oportunidade de trabalhar na Rua Butantã em São Paulo, onde tinha uma empresa chamada Ressolex, que mexia com negócio de integração com pneus de carros, caminhões. Eu era conceituado em posto de gasolina, que lá na minha cidade eu conhecia. Como eu mexia muito lá em Francisco Sá, que era a cidade natal minha, quando eu cheguei a São Paulo, eu queria trabalhar em posto de gasolina, que eu conhecia e fazia tudo que precisava, de pneu de carro, até... Não de caminhões, que eu ainda não tinha toda essa vitalidade para trabalhar com caminhões, mas eu conseguia mexer de carro, que até o motor do carro eu conseguia mexer, com troca de óleo, essas coisas todas. Fui me envolvendo naquilo. Na Rua Butantã eu comecei. Passava no Rio Pinheiro, na ponte do Rio Pinheiro, chegava ali no Largo do Jóquei, eu ia, pegava a Francisco Morato, do lado direito eu pegava a Vital Brasil, e fui conhecendo. Sem querer, querendo, eu fui conhecendo. Um belo dia eu saí, peguei a Francisco Morato a pé, falei: “Eu vou até o Taboão da Serra, quando chegar ao Taboão, eu vou para Campo Limpo”. Para ali, eu ia para o Paraná, que na época se chamava BR-2, hoje eu não sei o nome. Eu fui para Campo Limpo e comecei a fazer aquela trajetória a pé. Sábado e domingo, eu não tinha nada para fazer, eu pegava aquela avenida e saída. Passava pelo Bairro do Caxingui, passava pelo Bairro do Ferreira, Vila Sônia. E fui. Até então não tinha tanta agressão física, como tem hoje. E fazia as trajetórias ali a pé. Sábado e domingo, que eu não tinha muito o que fazer. Mas eu botei como meta fazer alguma coisa, polir carro, aprender, eu saber a polir carro. Então comecei a trabalhar no Alto de Pinheiros, aqueles lugares por ali. E comecei a... Quando foi um belo dia, eu passei numa rua, não era rua, era avenida, passei naquela avenida ali, eu encontrei o quê? Eu encontrei uma rua, eu falei: “Poxa vida, mas não é rua, isso aqui é uma avenida”. Eu saía lá na Praça da República. E comecei a andar por ali, pegar ali o centro, andar pelo centro. Até que eu comecei a andar... Fecha os olhos, você não pode ouvir isso agora, não. Andar na rua que eu não devia andar, Rua Aurora, aqueles lugares por ali. Um belo dia, eu passando por aquela rua ali, um cara falou: “O que você tá fazendo aqui?”. Eu falei: “Eu estou andando. Eu não sou daqui, eu estou conhecendo as ruas” “Mas você vem conhecer exatamente essa rua? Rua Aurora, Rua dos Gusmões? Isso aqui não é rua para criança andar, não”. Eu falei: “Mas eu não sou criança assim não, rapaz, já tenho 16 anos” “Ah, você tem 16 anos e pensa que é dono de si? Some daqui. Some daqui”. Aí que eu vim saber onde era a Rua dos Gusmões, que era a rua das perdições. Criança de tudo, não sabia, não tinha a liberdade de saber o que era ainda uma vida conjugal, e comecei a andar por ali. Saí, falei: “Eu não vou só andar por aqui”. Até que um belo dia eu passei em frente a TV Excelsior. TV Excelsior, canal nove. Passei, olhei: “É aqui o canal nove? É aqui que faz apresentação de televisão?”. O guarda olhou para mim: “Sim. Por quê? Você é da televisão?”. Eu falei: “Não. Não sou da televisão. Eu queria entrar aí”. Ele falou: “Não pode entrar. Tem que primeiro se identificar, chegar ali, falar com a recepcionista” – falou uma palavra bonita, que eu nem tinha noção – “Você tem que chegar ali, se apresentar, e falar o que você é”. Aí: “Eu sou o José Divino” “Não. Não. Não é assim. Você tem que chegar lá, tirar o documento, apresentar. Que aí tem uns artistas de nome, renome, tem cantores. Aí aparece Vicente Celestino, Carlos Gonzaga”. E começou a falar. “Carlos Gonzaga, ele foi a minha cidade.” “Onde é sua cidade?” “É norte de Minas. Norte de Minas mesmo, lá depois de Montes Claros.” Comecei a falar meio abaianado, o cara foi dando as dicas: “Olha, você tem que chegar aí...”. Até que um belo dia eu fiquei sabendo que o Moacyr Franco estava procurando uma pessoa para trabalhar na televisão, que ele ia apresentar o Guto, filho dele, e que ele queria uma pessoa para trabalhar com o Guto, mas tinha que ser uma pessoa que já tivesse conhecimento. Eu falei: “Mas eu não conheço nada”. Eu fui um belo dia, cheguei lá na TV Excelsior e procurei me informar direito o que eu precisava para falar com o Moacyr Franco. O cara falou para mim: “É só abrir a boca”. Eu falei: “Não entendi” “Só abrir a boca e falar com o Moacyr: oi, Moacyr”. Eu falei: “É só falar ‘oi, Moacyr’ e tá atendido?”. Falou: “Não, eu estou brincando com você”. Eu falei: “Não...”. Aí eu falei para a moça que estava em pé assim: “Oh, moça, para falar com o Moacyr Franco...”. Ela falou assim: “Eu não sou informações”. Eu falei para ela: “Mas o que é isso? O que é informações? Eu estou querendo saber do cantor Moacyr Franco. Ele está procurando uma pessoa para trabalhar com o filho dele. Não tem um menino dele que vai começar aí na televisão, aparecer na televisão? Se ele chegar, abrir a televisão, entrar, aí aparece lá do outro lado?” “Não, você não está entendendo, eu não sou informações. Você tem que falar com a pessoa devida”. Tinha uma moça sentada lá: “Oh, Íris, não faça isso. Não passa informações assim”. A pessoa veio falar comigo: “O que você está precisando, amigo?”. Falei: “Não, eu estou querendo falar com o Moacyr Franco. Essa moça aí, não é ela que é a Íris Brussa?” “Não. Não é Íris Brussa, é Íris Bruzzi o nome dela, é uma atriz. Ela pode até passar informações, que amanhã ela pode ser uma pessoa ligada a você. Quem sabe você vem e vai ser uma pessoa de nome ou renome. O que é nome? Uma pessoa que chega, se apresenta, se dá bem, e fica, e tem um renome num futuro próximo, como ela falou, o Moacyr Franco. O filho do Moacyr vai apresentar. Mas ele vai apresentar como o pai dele é artista, é cantor e é humorista. Aqui nós temos vários humoristas. Nós temos várias pessoas que fazem humor. O que é humor? É tirar sorriso das pessoas”. Começou a falar, falar, não entendi. “Mas eu não posso então falar com o Moacyr?”. Falou: “Eu vou marcar uma hora, você vem”. Três dias depois, eu estava com uma enfermidade odontológica, o meu rosto foi crescendo, crescendo, e eu com uma dor de dente que eu não conseguia, não conseguia nenhum dentista que pusesse a mão na minha cara. Eu chegava a um consultório odontológico, o cara: “Você volta tal dia”. Eu: “Mas está doendo. Está doendo”. Eu não conseguia comer, não conseguia dormir. Minha tia falou para mim assim: “O que você vai fazer”. Eu falei: “Eu não sei”. Morando em São Paulo. Eu com a cara desse tamanho: “Lá em Minas, doutor Euler já teria arrancado” “Não, se é no doutor Euler, não pode arrancar assim. Você vai voltar lá no brejo? Você fala muito desse brejo” “É o que eu tenho para falar”. Eu fui com tanta dor, com tanta dor, que eu não tinha mais o que fazer. Parece que tinham me praguejado, sabe? Eu olhei bem de um lado, olhei do outro, olhava de um lado, olhava do outro, eu não tinha mais o que fazer. Uma dor de dente, doía tudo, doía o pescoço, doía tudo. Eu cheguei, encontrei uma caixa de ferramenta do meu tio, mas não perdi tempo. Não perdi tempo. Cheguei, olhei assim, tinha um alicate, eu ajoelhei, peguei aquele alicate assim: “Seja o que Deus quiser. Ah! Arranquei”. A hora que eu dei por mim, que a minha tia olhou para mim: “O que é isso?” “Eu arranquei o dente. Arranquei o dente”. Mas com o rosto desse tamanho. Desculpa a expressão, parecia uma bunda de criança recém-nascida, desse tamanho. “Você está louco? Você está louco.” E ela começou a chorar de nervosa. E queria me levar, me levar para o Pronto-Socorro Iguatemi, lá em Pinheiros, ao lado da Rua Cardeal Arcoverde. Levaram-me lá, passaram um medicamento lá: “Mas você tem que passar num dentista o mais rápido possível, isso pode inflamar. Isso pode até dar óbito”. Eu falava: “O que é óbito? O que é óbito?” “Você pode morrer”. Não sabia nem o que era óbito. E aí foi a minha vida, sem noção do que eu estava fazendo.

P/2 – E você teve esse contato com o Moacyr Franco, ou com o pessoal da TV? Foi por aí que você chegou ao Inpe?

R – Não. Todas as vezes que eu tentei falar com o Moacyr Franco, eu não fui bem aceito. Mas quando eu entrei no Inpe, que era final de Cnae... Não, ainda era Cnae. Quando eu entrei no Inpe, hoje Inpe, antigamente Cnae, estava nos finalmente de Cnae, já não era mais Gocnae, era Cnae mesmo. Até então, quem estava aqui? Eu não sabia de nada, aí um belo dia eu estava passando em frente ao prédio do Beto, e aqui tinha um cidadão chamado Hidelbrando, que era irmão desse seu Manoel, que trabalhou com o pessoal do balão, que você não conheceu, seu Manoel já falecido. O Hidelbrando já não faz mais questão de vir ao Jardim da Granja. Eu passando em frente ao prédio do Beto, o Hidelbrando, que a gente o chamava de Deba, ele falou: “Oh, Zé Divino”. Eu falei: “Oi, Deba” “O seu Graça quer falar com você”. Eu estava bem em frente, no final do prédio do Sere, você vindo pela rua principal, para descer ali para descer hoje. Eu falei: “Mas você é sem graça, né? Você pede para o Divino falar com o Graça. Que negócio é esse? Que palhaçada é essa? Divino falar com Graça na Pesquisa Espacial”. E tinha duas pessoas conversando em frente ao prédio do Beto. O Deba olhou para cara, falou: “Oh, seu Graça, o rapaz que eu falei para o senhor é esse aqui, o Zé Divino. Não é José, não, é Zé mesmo”. Seu Graça me olhou: “Bem-vindo, rapaz. Bem-vindo. É você o meu Zé Pretinho”. Eu não sou branco mesmo, eu sou pretinho. “Então, eu estou precisando de um Zé Pretinho.” Só que o homem começou a chorar. Esse Graça aí é o Henrique Lobo, eu não conhecia, eu conhecia da televisão, mas nem prestei atenção. Ele falou: “Vem aqui, me dá um abraço. É você o rapaz que eu estava precisando. O Hidelbrando está me indicando a pessoa mais importante... É a terceira pessoa mais importante da minha vida”. Eu penso que eu era importante? Não. Não sou importante. “Importante é Marília Pera, que é minha nora, casada com o meu falecido filho, que era marido dela, que você vai ser o meu Zé Pretinho, que é o malandro do morro. Por favor, suba comigo.” E nós subimos até o primeiro andar, onde era a diretoria do Projeto Saci. Eu abri uma porta lá, por acaso, era a sala dele e a sala do Henrique Lobo. Só que a hora que ele entrou, ele falou: “Lobo, eu encontrei o meu Zé Pretinho. Espero que dê certo. Só está faltando a Marília Pera, que eu não vou ter. A Marília Pera está na vida ela e eu não vou. Talvez eu não vou. Mas eu tenho o Pindura Saia na minha cabeça escrito e vivido. Aquela favela... Hoje não se chama mais favela, é comunidade. Aquela favela daquele morro, do Pindura Saia, ela está na minha cabeça. Eu vejo as roupas estendidas da favela. E esse aqui é meu Zé Pretinho”. E me abraçou: “Você vai me ajudar. Eu tenho certeza que nós vamos fazer. Porque o Alvinho faleceu, e eu preciso de um Zé Pretinho, e o Hidelbrando me falou muito de você. E eu tenho fé que isso eu vou levar isso. Mas eu não tenho mais nem o programa dessa peça”. Ele me deu um script, papel pardo: “Lê aí para mim” “Eu não sei nem ler direito, senhor. Como é o nome do senhor?” “Meu nome é Graça Melo, Otávio. Mas fala Graça. Graça. Leia aqui para mim, as primeiras frases aqui”. Falei: “Eu sou meio ruim de... Eu sou semianalfabeto”. Falou: “Não, mas leia. Eu não estou perguntando para você da sua personalidade de ler, não.” “Não vá dizer que a coisa lá embaixo é diferente, de quem vive lá no morro. Nego que mora lá embaixo não tem vida de gente, leva a vida de cachorro” “Ah, e você não sabe? Imaginou se soubesse? Só que tem um detalhe, agora nós temos que mudar isso aí” “E como é mudar? Virar ao contrário?” “Não. Isso aqui tem uma melodia. Eu vou ler para você a meu modo, se você puder acompanhar, quem sabe sua voz é até melhor do que a minha: ‘Não vá dizer que a coisa lá embaixo é diferente de quem vive lá no morro. Nego que mora lá embaixo não tem vida de gente, leva a vida de cachorro. Pindura Saia’”. Pindura Saia é o nome do morro. Lá hoje fala morro, é onde os favelados vivem, que é favela, pessoas de classe inferior, ou da classe que eles as tem e que precisam sobreviver. São pessoas briguentas. Aqui nós temos um cara que é bom, ele invade a vida conjugal de outros casais, eles pegam as mulheres bonitas, eles pegam as mulheres feias, eles não querem saber quem é, eles querem o momento deles. E as mulheres vão, porque eles têm dinheiro. Lá tem o sindicalista, que é o seu Matias...”. E fui ver. “Leia isso aqui. Leia a primeira página.” “Eu vou agora tomar intimidade.” “Você tem um crachá de funcionário.” Que tinha uma carteirinha branca, passei aquele crachá: José Divino de Souza, artífice de manutenção. Olha que nome: artífice de manutenção. Isso trocado em miúdos era um zé ninguém da vida, um cortador de grama. “Eu vou levar isso aqui para o doutor Mendonça. Vamos lá, Lobo, é agora. É agora. É agora. Apesar de eu não estar muito bem hoje, que a minha artrite está a flor. Eu tenho que ir lá falar com o Mendonça, que se falar com aquele cara ali, aquele tal de Fernandes, o dentuço, eu só vou ter dissabor, e eu não quero sofrer hoje. Eu já arrumei o Zé Pretinho. Só não tenho a Marília Pera, o meu filho já é morto. Essa peça vai levar... O Alvinho já faleceu num acidente na entrada de Jacareí. Eu já perdi o meu filho, a Marília Pera já está na TV”. Na época não era Globo, era outro nome a Globo. Foi lá falar com o doutor Mendonça. E o doutor Mendonça dava toda atenção. Que o doutor Mendonça queria ver o Projeto Saci evoluir, que depois tem mais história do Projeto Saci.

P/1 – E como essa peça se encaixava com o Projeto Saci? Ela foi apresentada para quem?

R – Ela foi apresentada na época pelo Brigadeiro Sérgio Sobral de Oliveira, que foi indicado pelo governador Paulo Egydio Martins como prefeito de São José dos Campos. Por que ele foi indicado como prefeito? Porque ele envolveu na época o Vicentino Aranha e conjugou com Campos do Jordão, que era o local onde eles faziam o tratamento, eu não sei se o nome certo é esse, dessa doença de...

P/1 – Tuberculose?

R – Tuberculose. Eu não sei se o nome correto é tuberculose, deve ter um nome mais científico. Então todas as pessoas que passavam por aqui iam para lá. Então o governador Paulo Egydio Martins botou na cabeça do Vale do Paraíba que precisava fazer esse trabalho de conscientização dessa enfermidade, mas o primeiro plantão de recepção de várias cidades do estado, até de outros estados, seria aqui em São José. Foi onde foi formado o Vicentino Aranha. E todo mundo vinha, passava pelo Vicentinho Aranha. Após passar pelos primeiros contatos com o Vicentino Aranha, subia para Campos de Jordão e ficava um tempo em Campos de Jordão, não sei precisar o tempo que ficava. Assim, pessoas que ficavam um mês, dois meses. Mas era pela parte de... Como se diz? Da temperatura de Campos de Jordão, que era propício para esse tipo de integração.

P/2 – Divino, maravilha. Muito boa essa história. E no Projeto Saci, só para... Quantos anos você tinha nessa época e como você conciliava a sua atividade no Inpe de cortador de grama e também no Projeto Saci?

R – No Projeto Saci aconteceu que quando, como eu falei para vocês, que o professor Graça Melo... Eu chamo de professor porque todo mundo o chamava de professor. Falavam “fessor, fessor, fessor”, outros falavam “fessor”, outros falavam barbudinho, aquelas brincadeiras. E o Henrique Lobo falava Sílvio Santos, Sílvio Santos. Porque o Henrique Lobo já era jurado do Sílvio Santos. Era ele, Aracy de Almeida, Zé Fernandes, tinha uma série de... Então... Você falou outra palavra aí.

P/2 – Como você conciliava a sua atividade de cortador de grama e também de ator?

R – Quando foi um belo dia, o _____00:56:00____ me conheceu. Falou: “Neguinho, você está fazendo jus eu pegar no seu pé”. Eu falei: “Mas por quê?” “Aquele cara que trabalha com você...” – que aí eu já estava envolvido com a parte de telefonia. “Por quê?” “O seu João Godoi, ele precisava de uma pessoa para ajudá-lo”. Como teve um projeto no Rio Grande do Sul, que veio uma quantidade imensa de fio do Rio Grande do Sul, que foi um projeto satélite que teve lá, que a Nasa se envolveu com isso, então veio muito material que o seu João Godoi achou de reaproveitar aquilo. E assim que eu entrei na Cnae ainda, naquela época, um belo dia tinha um chefe da parte de manutenção geral, que envolvia patrimônio, elétrica, área verde, limpeza, porque... Como é o nome dela?

P/3 – Gabriela.

R – A Gabriela tinha um privilégio muito grande, sabe, Gabriela? As Gabrielas na época. Não precisava de “cravo e canela”, não. Gabriela era tratada como elite. Nós chegávamos ao Inpe, eu fui faxineiro, com um privilégio muito grande de ser faxineiro, não para ser sem-vergonha, ou sem-vergonha, com baixaria, não. Chegava assim ao Inpe, a primeira coisa que nós tratávamos era dos toaletes, não podia falar banheiro, toalete. E eu já fazia de sacanagem: tolete. Já chegava, lavava os banheiros das mulheres. E tinha banheiro aqui que tinha azulejo preto. Quando você terminava de lavar, você passava álcool, para dar vida ao azulejo. Os banheiros eram lavados e quando você terminava de lavar... Mas era a primeira coisa que tinha que lavar dentro do Inpe, em todos os prédios. Esse prédio aqui, por exemplo, isso aqui era totalmente diferente. A gente tinha que passar álcool nos banheiros. Todos. Dos homens, nem tanto, mas tinha que cuidar da forma que precisava. Depois dos banheiros, nós passávamos para os cinzeiros. Infelizmente, eu sou fumante, eu sei como vocês devem sofrer, quem não é fumante. Então era complicado. E teve muitas pessoas aqui... Teve uma senhora aqui, que teve um dia, aqui neste prédio, um dia ela me chamou para fora, falou: “Vem aqui um pouquinho”. Peguei, saí, eu era faxineiro, eu não era zelador, era faxineiro, eu saí, ela: “Espera um pouquinho” – chamou a dona Aparecida dos Santos – “Cida, vem aqui um pouquinho. Fica ouvindo o que eu vou falar para esse rapaz. Por que você é tão sem vergonha que todo dia você entra no meu banheiro?”. Eu falei: “Por que você chamou a dona Cida?” “Não, porque ela é a chefe do prédio” “Ah, é a chefe do prédio. Mas por que você tá perguntando isso para mim?” “Porque todo dia você está dentro do nosso banheiro”. Eu falei para ela: “Dê-me um documento para mim não entrar, ou para “eu” não entrar, que eu não sei qual a palavra certa, o correto. O que eu devo fazer? Venho limpar o seu banheiro, ou não venho? Se eu não venho limpar o seu banheiro, eu não venho limpar o banheiro da dona Aparecida. Não é, dona Aparecida?” “Não, mas o meu banheiro você vai limpar”. Falei: “E ela vai usar qual banheiro? E eu vou limpar qual banheiro? Que eu preciso limpar os banheiros. Eu não preciso, não, eu tenho que limpar os banheiros. Que aqui está escrito toalete. O que é certo, é banheiro ou toalete?” “Não, pode chamar de banheiro”. Falei: “Na minha casa não tem toalete, eu tenho banheiro. Mas se for trocar em miúdos, então na minha casa eu tenho toalete” “Você tem sim. Oh, Negão, vamos fazer o seguinte, ignora o que ela está falando, continua limpando o meu banheiro. Se ela não quiser usar esse daqui, ela vai usar outro”. Só que aqui era a secretaria geral do Inpe. Tudo que acontecia com você, que era pesquisadora, ou que era secretária, tinha que passar com a dona Aparecida dos Santos. Precisava mudar uma cadeira, chama o Negão: “Negão, vem aqui, que a Marília precisa trocar a cadeira dela, e o patrimônio vem buscar, você que tem que entregar a cadeira para o patrimônio”. Então tudo sobrava para mim.

P/2 – Então, Divino, quando você estava desenvolvendo o trabalho no Projeto Saci, como você ensaiava? Você tinha autorização da sua chefia imediata?

R – Agora chegou à seguinte situação, que o pessoal do Projeto Saci, os editores, por exemplo, esse Maicon, que eu mostrei para vocês aqui, ele tinha dificuldade com o português, então ele fazia o trabalho dele em inglês e jogava para o Lubnei, e o Lubnei era o chefe do Projeto Saci. E o seu Jorge de Mesquita era um dos auxiliares do Lubnei. O Lubnei era o homem da paciência: “Então o seu Mesquita, é o seguinte, o Maicon me soltou aqui um... Ele quer comprar uma bicicleta, ele quer andar pela Avenida Nelson D’Ávila, mas ele tem dificuldade. Mas está tudo em inglês”. Seu Mesquita tinha possibilidade de fazer os dois, ele: “Não, eu vou traduzir isso aqui”. Só que o seu Mesquita traduzia a modo dele, do inglês para português, e vinha aqui no pessoal que era tradutor, que tinha a Marília, doutora Maura, doutora Laurinda. E tinha mais, a esposa do Nino, a... Ela era recente aqui, Maria do Carmo. Então era recente aqui, ela vinha para cá. Depois veio a Neusa Bicudo, e ficou esse grupo aí. Então elas traduziam e traziam para o pessoal, para as tradutoras. Aí: “Não, vamos melhorar isso aqui, não sei o quê, não sei o quê”. Foi quando começou o Carlos Queiroz, que era o chefe da pós-graduação, e depois do Carlos Queiroz veio... O Adélio? Não, o Adélio veio bem depois. Veio o Carlos Queiroz, que ele era o chefe da pós-graduação, depois veio mais alguém. Ah, veio o Gui. O Gui que trabalhou na... Ficava do lado ali. Era o Gui, a Edméia, a Cândida, e depois veio a Cidinha, que é a esposa do Nelson hoje, o Nelson Goulart. Foi mudando da água para a água mesmo. Só que era da água que estava tentando evoluir e começou a se formar as águas limpas. Os nossos restaurantes aqui tinham roda de samba de vez em quando. Só que ele vinha aqui, falava para o doutor Mendonça: “Doutor Mendonça, nós estamos querendo fazer uma roda de samba”. O restaurante é onde é a sala de estudos agora, o restaurante dois. Quem não queria comer no restaurante um, comia lá no restaurante dois. Eu comi muitas vezes aí.

P/1 – Além dessa peça de teatro, que outras atuações você teve pelo Projeto Saci?

R – Não entendi.

P/1 – Além dessa atuação na peça de teatro que você entrou no Projeto Saci, você teve outras atuações dentro do Projeto Saci? Você fazia mais encenações?

R – Eu fazia, assim, de vez em quando. Teve uma época que eles me chamaram para fazer um projeto chamado Projeto SEV e Projeto Integração de Estado para Estado. Então o que eles me trouxeram? O Projeto SEV. O Projeto SEV envolveu da área de agricultura, até um acabamento num edifício: um eletricista, um encanador, um pedreiro, um engenheiro passando as dimensões do que ia fazer. Então começava-se do alicerce, ou da escavação, para você chegar à planilha de morada. Então tudo prontinho. Mas eles davam como exemplo. Abrindo o solo, fazendo a escavação direitinho, subindo a... Isso era um projeto de construção, como se fazia um acabamento, assentar um tijolo, porque assentava, porque o tijolo tinha que ter uma amarração, um tijolo acaba aqui, o outro começa aqui, então o outro tem que vir amarrando daqui para cá para não haver perda. Que qualquer coisa fica solto, e começa só botar um em cima do outro. Então você tem que ter uma amarração. Se pegar a planilha, por exemplo, pegar essa bandeja aqui, ela não pode ser colocada uma em cima da outra, então você tem que colocar metade, ou um percentual que dá amarração de uma para outra. Você pode colocar 20, uma em cima da outra, e botar numa parte que vai segurando para amarrar. E assim é o projeto de uma construção. Quando você vai fazer a parte de elétrica, você tem que colocar a tubulação conforme o que você vai passar por dentro. Que você tem que prever o hoje e pensando no amanhã, que pode haver um aumento nessa tubulação de elétrica. E se você tem uma tubulação de elétrica só para cinco fios energizados, ele tem uma dimensão, e dependendo do tempo que ele fica ali, ele pode condensar uma caloria e pode pegar fogo, é onde acontece de você ter pequenos e grandes incêndios. E colocar os disjuntores com dimensões. Igual, tomada para chuveiro, tomada para elétrica simples, para ligar um rádio, dois rádios, uma televisão, são coisas que não puxam mais energia. O que puxa mais energia na sua concepção, você, Paulo, é 110 ou 220? Não, você, me responde isso.

P/1 – Duzentos e vinte.

R – Cento e dez. Porque o 110, uma face é neutra, e o 220 são duas faces positivas. Então ele me dá o que eu preciso, ele divide. Duzentos e vinte, ele divide e me dá 50% de 200. Então ele me dá, de 220, ele está me dando 50% de cada fase. Agora, o neutro, ele requer o quê? Ele requer uma atenção, porque é um neutro, ele força mais. Então você pode ver, que onde tem um 110 e um 220, a de 220 você pega nas duas fases. Mas se você pegar uma fase e botar a mão na parede, você leva choque. Se você pegar em uma fase só e não encostar em nada, você não leva choque. E se você pegar no neutro então, você não sente é nada, porque não tem nada. Mas se você pegar nos dois, você está sujeito de ficar grudado. Então tem tudo isso. O estudo vem exatamente da forma que você começa. Você começa a escrever o abecedário de que forma? É “A” primeiro. Então é “A”, não é “C” primeiro. Mas depois você precisa do “C” para formar uma palavra.

P/1 – Então, Divino, você trabalhou em várias funções aqui dentro, desde faxineiro, até na construção civil. Você participou da construção de prédios aqui?

R – Sim. A última que eu trabalhei foi na parte de integração de fibras óticas e redes. Redes de computação.

P/1 – E lá atrás, naquela fase do Projeto Saci, logo depois disso, você continuou trabalhando como faxineiro?

R – Não, eu continuei... Quando chegou a época que eu trabalhei depois do Projeto Saci, eu passei exatamente para o setor de telecomunicações. O que significava telecomunicações? Aqui tem uma sala, tem uma sala, tem uma sala. Do outro lado, não lembro bem onde. Nós tínhamos um rádio que falava com todas as unidades. Então eu fui indicado para fazer o trabalho de transmissão de rádio daqui para Cuiabá, principalmente. Cuiabá não tinha... Lá no Morro da Conceição, que era... Eu até tenho, mas não é mais Morro da Conceição. Tinha um bairro lá em Cuiabá, mas não chegava energia suficiente para manter os contatos para cá. Então não tinha parte de telefonia. A rede de telefonia de Cuiabá não ia fazer exatamente para Inpe, lá para o Morro da Conceição, se não me falha a memória, o nome do lugar, que subestimava o seguinte, nós não tínhamos energia elétrica para fazer o que precisava. Então o governo de Cuiabá precisou fazer um trabalho de conscientização de levar energia elétrica ali para a base do Inpe em Cuiabá, e era longe. Então foi feito um trabalho com o governo de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, não sei se é Mato Grosso do Sul, do Norte, sei lá, então eles levaram energia elétrica para lá, porque era um projeto que tinha que fazer a base de dados para onde? Para o Inpe de Cachoeira Paulista, que eram as primeiras imagens de satélites.

P/1 – Você foi trabalhar lá em Cuiabá?

R – Não. Não fui. De lá, eu tinha contato com o Geraldo Garcia, que depois fez questão também de nem... Passava na avenida, nem olhava para o Inpe. Ele passava olhando para frente. Por que, não me pergunte. Eu até sei o porquê, mas não vou falar. E ficou aquele negócio, sabe? Um belo dia o Geraldo Garcia falou: “Negão, eu vou mandar uma passagem aérea para você vir para cá para você pescar comigo”. Eu falei: “Não mande, que eu não vou. Eu tenho medo de água como tenho medo de água no copo. Eu já me afoguei na minha vida em São Paulo e eu não quero saber de água. Água no copo para mim me faz medo. Então eu não vou” “Oh, você não é homem, não?” “Sou homem, mas eu não quero participar disso. O dia que o senhor vier aqui, a gente vai conversar mais pessoalmente”. Quando foi um belo dia, ele veio a São José: “Senta aí, vamos conversar. O que está acontecendo? Eu tenho barco, nós vamos pescar onde você quiser em Cuiabá. Você quando chegar lá... Eu tenho rádio transmissor”. Eu falei: “Mas, seu Geraldo, eu não estou preparado para isso. Eu não sei nadar, eu tenho muito medo de água” “Mas não tem que ter medo de água, rapaz, eu vou estar junto” “Seu Geraldo, tudo pode acontecer. Eu tenho medo de água, e vou dizer para o senhor, não vou. Eu posso ir a Cuiabá para outra missão, para a gente dar uma passeada na cidade, na capital. Eu, com certeza, não vou sair daqui, me prontificar a sair daqui, para ir a Cuiabá para pescar com o senhor” “Você não é homem?” “Não, homem eu sou, mas para essas ideias, eu tenho muito medo de água”. Eu tenho medo mesmo de água. Eu quando vou para o mar, quando eu molho o dedinho do pé, eu tenho medo de me afogar. Eu tenho. Eu falo para os senhores aqui, eu tenho medo de água no copo. Essa quantidade de água aqui me mata. Eu tenho medo.

P/2 – Desculpa, posso só interromper?

P/1 – Lógico.

P/2 – Só fazer uma pergunta. Porque assim, para vocês, é muito claro o que é o Saci. Eu que sou de fora, eu não sei o que é. Eu não sei o que é o Saci, nem qual a relação do Saci com o Inpe. Então se o senhor puder nos explicar um pouco o que é programa e como o senhor entrou, enfim, um pouco desse dia a dia. Que pelo que eu entendi, é um projeto cultural, e junto você continuava o seu trabalho. Se você puder contar para mim o que é o Saci e como foi o seu trabalho dentro do Saci, e junto com o Inpe, eu agradeceria.

R – Tá. Então eu vou explicar para você o seguinte, o Paulo vai me ajudar e o Yuki também vai me ajudar. Ela também, vocês aí. Até você também, dentro do contexto, você pode me dizer. Se eu tiver errado... Porque, gente, a minha cultura, eu tenho um primário feito aqui dentro, deste prédio, inclusive, ali no anfiteatro. O que é o Saci? O primeiro satélite brasileiro não seria de coleta de dados. Isso é o que me explicaram. É isso mesmo? Não seria de coleta de dados, porque as árvores ainda existem, principalmente na Amazônia. Hoje o site tem condição de ver o desmatamento que está acontecendo agora, a essa hora na Amazônia. Quando chegar tarde da noite, ou amanhã cedo, eles vão dizer quanto foi desmatado naquela área, que aquela empresa entrou para desmatar. Então o que o doutor Fernando de Mendonça botou na cabeça naquela época? Projeto Saci, Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinar. Mas o que ele queria fazer primeiro? Não era levantar as árvores que estavam aqui dentro dessa instituição. Não era levantar as edificações, ou as residências que estavam em pé, ou os edifícios que estavam em pé. Não era isso. Ele queria levantar primeiro a sua educação perante... Aqui nós tivemos Paulo Roberto Martini, eu vou indicar o Paulo Roberto Martini, que foi um dos primeiros a mexer com sensoriamento remoto no país. E começou... Teve o Romeu Simi. O Romeu Simi, ele trabalhou pela prefeitura de São José através da própria prefeitura fazendo levantamento das vias públicas. Jardim da Granja, eles levantavam edifícios aqui, que eu quero dizer, casa baixa. Que teve uma época aqui, que você menos esperava, chegava um cidadão com uma máquina retroescavadeira: “A senhora, seu esposo?” “Meu esposo está trabalhando. Trabalha na Petrobras” “É para a senhora evacuar”. Evacuar? O que é evacuar? “Sair da residência, que nós temos ordem do prefeito para demolir essa casa para construir. Essa casa vai matar todo mundo aí. Essa casa não tem condição de moradia” “Ah, não, mas meu marido não está aqui”. Aí botava a criançada para dentro, não entra ninguém, nem sai. Fica aí, não vai não demolir. Que era assim. As casas eram muito mal construídas. Tinha casa que não tinha segurança nenhuma, então tinha que demolir, porque o prefeito mandava. Então teve o prefeito Ednardo de Paula Santos, teve o Brigadeiro Sérgio Sobral de Oliveira, que diz que era o carrasco. Diziam, né, porque eu não podia apontar ninguém. A edificação que o seu Sérgio Sobral fez aqui. Aqui isso aqui. O prédio do CPTEC hoje, que é a antiga meteorologia, que foi a primeira diretoria do Inpe. O prédio do Beta. O Sere, o Sere, não é o Sere II, o Sere, o prédio do computador, essa parte aqui principal do restaurante. Isso aí já foi reformado várias vezes. Ninguém achava a rede telefônica, nós fizemos outra aí. Essa parte daí era a parte de... No centro ali onde tá a sala de... Não sei como fala ali agora. Entrava aqui, você descia, o doutor Mendonça descia daqui com a equipe dele, que era a parte de diretoria, tinha a sala do doutor Mendonça, e a sala dele era indicada para frente ali, ele ficava olhando tudo que estava acontecendo, quem ia descendo e quem estava saindo do restaurante. Por que ele fazia isso? Era uma coordenação motora que ele tinha. Que dia de feijoada aqui, tinha nego que saía assim: uh, uh. Que eram três, quatro copos de caipirinha. E eu fui um desses. Só que eu sabia que o doutor Mendonça estava me olhando sair de lá, eu saía dali, eu ia para o lado do prédio do computador, porque ele estava de frente para cá. E essa rua aqui era uma das ruas principais, que saía para espalhar para dentro do Inpe. Então eu saía aqui para baixo. Eu já tinha tomado umas três, quatro caipirinhas, e tinha dia que eu chamava o pessoal da época da Telefônica para vir almoçar comigo aqui.

P/2 – Divino, então, mas você falou do doutor Mendonça, da ideia dele do Projeto Saci. Já deu para ter uma ideia que o Projeto Saci, vocês faziam programas, filmes. E isso era divulgado para onde? Para quem? Quem assistia a isso?

R – Ah, tá. Então, isso aí foram aulas educativas para o Rio Grande do Norte. E quem era o coordenador desse Projeto Saci? Aqui em São José dos Campos, era o doutor Fernando de Mendonça, Henrique Lobo e Graça Melo. O doutor Mendonça era o diretor da instituição. Lá em Natal, quem recebia tudo isso era ao Adauto Mota. Adauto Gouveia Motta, uma coisa assim. Só que o Motta tinha a equipe dele lá. Então na época daqui de São José foram algumas pessoas, o Maurício Pandolfi, e teve outras pessoas que deviam ir. Eu, na época, fui abordado para ir para Natal, eu não era casado. Infelizmente, eu tive umas namoradas... Eu vou dizer infelizmente, porque você tomar conta da vida de uma senhorita, depois não dá certo, fiquei sentido pelo seguinte, não era o que eu queria, ou que eu queria e não deu certo. Depois, com o passar do tempo, eu consegui uma que está comigo hoje, que já é avó junto comigo, nós temos 46 anos de casados. E temos já a nossa residência própria. Não é um palacete, mas é o palacete que eu tenho.

P/2 – Como ela se chama?

R – Hã?

P/2 – Como é o nome dela?

R – Dolores. O nome dela é Arminda Dolores. É a minha heroína. E a pessoa que me ajudou muito, e continua me ajudando. Hoje quando eu saí de casa, ela falou para mim: “Meu amor, faça o melhor que você puder”. Eu falei para ela: “Olha, a única coisa que eu sei fazer são coisas boas. Ótimas é outro assunto, é na hora que eu voltar, que eu devo voltar mais feliz do que estou saindo”. E é o motivo, esse mesmo.

P/1 – Com ela, você teve quantos filhos?

R – Hã?

P/1 – Você teve filhos com ela?

R – Eu tenho um filho. Meu filho hoje está na Agência Espacial Brasileira. Meu filho já é... Eu já sou avô. O nome do nosso neto é Benjamim. É uma criança linda. Entendeu? É uma criança que eu preciso e devo respeitar, porque é uma vida. Melhor do que a minha, eu acredito que não seja, que eu não sei se ele vai ter oportunidade de escutar um disco do Altemar Dutra, do Zezé de Camargo e Luciano com as orquestras de hoje, que já não existem mais, para mim já não existe. Quando falam: “Olha vai ter...”. Antigamente eu escutava um disco do... Queria lembrar o nome do disco que eu tenho em casa, mas eu não estou lembrando o nome do cantor. Que ele até fugiu de mim lá no novo hotel.

P/1 – Mudando um pouquinho de assunto, você disse que foi trabalhar com telefonia, disse também que trabalhou na parte de construção civil. Mas você era faxineiro e você fez a quarta série aqui no Inpe.

R – Sim.

P/1 – Quer dizer, o Inpe te deu muitas oportunidades para você galgar esse... To certo? E como chega nessa área de telefonia? Como você adquiriu esse conhecimento? O pessoal aqui te ajudou? Como foi esse processo?

R – A pergunta sua é importantíssima, porque é o seguinte, você tem ciúme do que você... Hoje, agora tá me fazendo falta uma ferramenta, que um dia eu falei para o pessoal: “Eu não vou mais trabalhar com telefone, eu não tenho ferramenta. Eu tenho dinheiro para comprar, mas tudo que eu compro não presta, não é o que eu preciso” “Ah, mas você está muito exigente. Por que você tá desse jeito?” “Eu não tenho como trabalhar desse jeito. Pego uma ferramenta, não presta, pego a outra, é lixo. Lixo por lixo... Hoje nós estamos reciclando lixo, tem lixo que presta e tem lixo que não presta, então vamos fazer uma seleção”. O que aconteceu? Porque foi assim, o primeiro cabo telefônico: “Di, puxa lá”. Eu comecei a puxar o cabo. Ah, puxar um cabo de uma rede que tem manilha, eu não vou saber o que eu estou puxando ali dentro. Peguei aquele troço e botei lá fora. Falou: “Devagar. Você sabe quanto custa?” “Não, não é ‘sabe quanto custa’. Eu tenho que puxar, mas como eu vou saber como eu vou puxar. O que tem?” “Não, mas não é desse jeito” “Eu tenho que ter uma forma de puxar isso. Não é um carro que eu chego lá e dou partida, que eu nem sei se é para lá, ou para cá que eu dou partida, se é para cima, eu tenho que puxar” “Mas você sabe o preço?” “Não. Eu não sei o preço” “Então, então você tem que puxar”. Aí eu comecei a puxar. “Puxa.” “Eu estou puxando.” “Pode puxar.” “Eu estou puxando.” Mas ali naquela medida, tinha lugar que tinha 35 metros, tinha 40 metros. Mas eles usaram a inteligência deles, que até então eu não sabia que era manilha, manilha de um metro e meio, um metro, sei lá, e aquilo tem um local que você encosta a manilha, passa uma massa para segurar aquela primeira, a segunda, a terceira e vai. Chegou uma caixa na outra. Chega naquela caixa, faz um acabamento ali e vai. E eles usaram a inteligência de deixar um guia dentro. Então quando eu tirava aquele guia, eu puxava outro. E fui. Todas as redes que eu trabalhei dentro do Inpe deve ter um guia. Se não tem um guia, é porque as pessoas foram... Não vou dizer burras, foram imbecis de não terem puxado alguma coisa para deixarem como guia para um futuro próximo. E aí foi. E foi a parte de telefonia. Então o primeiro cabo telefônico era do prédio dos computadores, vinha por trás ali, chegava aqui, entrava. O primeiro cabo era do doutor Fernando de Mendonça. O ramal 120 era do doutor Fernando de Mendonça. O 121 era do Edson Teracine, Edson Baptista Teracine, uma coisa assim. E aí foi envolvendo mais pessoas e fomos desenvolvendo. Aqui na época tinha um projeto chamado Análise de Sistema. Doutor Celso Souza, que era um homem que trabalhava assim escutando o que você falava. O povo que conheceu o doutor Celso, o doutor Celso tinha um problema de audição seriíssimo, então ele ficava assim, tinha hora que ele ficava assim. Mas era um excelente pesquisador. Fumava um cachimbo, a gente entrava na sala dele, parecia um Saci fumando. “Tá precisando de alguma coisa?” “Não senhor, doutor Celso.” “Eu não entendi.” “Não senhor. Eu não estou precisando.” “Ah, ok. Ok. Passar bem.” Ele continuava ali fumando o cachimbo dele. Então tinha a secretária, a dona Cida Santos não suportava passar perto dele, que ele fedia cachimbo. Eu sei que o tabagismo deixa determinado tipo de pessoas... Quem não fuma sente o meu. Eu sou fumante. Gente, eu sei o que vocês passam aperto comigo. O meu filho, ele não é tabagista, fala: “Oh, Di, você está fumando ainda? Você não cria vergonha”. Ele me chama de sem-vergonha. Gente, se eu falar para os senhores que eu não fumei hoje, eu estou mentindo. Você sente o meu odor de longe, que eu já fumei hoje no mínimo dois cigarros. Mas eu respeito esse ambiente. Se eu tiver que passar o dia inteiro com os senhores hoje, na hora do almoço, a hora que eu sair daqui, a primeira coisa que eu faço lá fora é fumar um cigarro. Porque eu sou viciado com cigarro. Eu sou tabagista de tradição. Eu sou alcóolatra de tradição, mas hoje eu não quero beber.

P/2 – Divino, interessante, você falou do seu filho novamente. Então, como ele se chama? Porque ele foi para a AEB, Agência Espacial Brasileira, que o senhor estava falando. Como é o nome dele?

R – Meu filho se chama Juliano Raphael com PH, hein? Olha só. Por causa disso o Celso Sá falou assim: “Se o seu filho for burro igual você, vai chamar de Juliano Rapael. Rapa. Pa”.

P/2 – E que função ele desempenha lá?

R – Ele está formado em Ciência da Computação. Ele tá com mestrado em Ciência da Computação. Lá com o pessoal. Não sei se o doutor... Quem era o chefe lá era o Zé Raimundo. Eu fiquei sabendo que o professor Zé Raimundo... Vou chamar o homem pela... Não é porque saiu de lá, que eu não vou chamá-lo pela... O professor Zé Raimundo saiu da Agência Espacial Brasileira. Não sei até quando isso está certo. Mas eu fiquei sabendo que ele saiu, se foi mandado, ou se ele tomou. Entendeu? Mas o Juliano se formou aqui no Cemaden. Cemaden? Não, aqui com o doutor Raupp aqui. O doutor Raupp um dia me pegou pelo pé, falou: “Oh, Negão, você também está muito folgado comigo”. Eu falei: “O que foi? O que eu fiz?” “Você tá muito... Agora manda um tal de Juliano Raphael trabalhar no Cemaden”. Falei: “Mas não podia?” “Ah, poder, podia. Já podia ter mandado antes, porque você merece... Quando eu cheguei com o Zé Raimundo, quem resolveu a minha vida, não menosprezando os demais, foi você. Que conversar com aquele chefinho seu daquela época, ei vontade de dar um pé na canela dele, para não falar em outro lugar”. Não, tem que falar, porque era... E quando o professor Zé Raimundo chegou, ele teve um problema sério com a nossa Aparecida dos Santos. Por que ele pegou quem? Ele pegou a esposa do Erasmo, Erasmo, que era lá do materiais, Maria Tereza. O Zé Raimundo trouxe a Maria Tereza para trabalhar de secretária dele. E desceu quem? Desceu a Cida Santos. Tiraram o ramal da Cida. Estou falando isso não é para dedar ninguém, não. É o que aconteceu na minha vida. Tiraram o ramal da secretaria, que era coisa de 1900 e doutor Mendonça. Tiraram o ramal da Aparecida dos Santos e puseram o ramal 512. “Mas espera aí, Divino.” Falei: “Cida, eu tenho uma ordem de serviço aqui, está especificando...” “Está especificando essa merda. Não liga isso aí” “Cida, eu preciso ligar” “Pode ligar”. Hora que eu terminei de ligar, que eu estava saindo na porta, ela chutou o telefone, botou lá embaixo do... Quebrou o telefone. Daí um pouquinho...

P/2 – Divino, teve uma época, antes de ter concurso, tal, que tinha vários funcionários que tinham parentes aqui, irmãos, família na época. Você também teve?

R – Eu tive um irmão que trabalhou aqui, que está totalmente debilitado. Que na minha família, quem não tinha problema de alcoolismo era só a minha mãe, os demais, todos. Todos. Não sobrou nenhum. Meu filho, felizmente, até o presente momento não... A minha esposa, para vocês terem uma base também, vem de uma família também com problema de alcoolismo, de vez em quando ela gosta de uma cerveja, e eu não posso me meter. Porque o meu advogado é o álcool. O meu, do José Divino de Souza, é o álcool. Eu sou alcoólatra. Não é porque eu não bebi hoje que eu não sou alcoólatra. Eu tenho que botar na minha cabeça que a minha primeira decadência é chegar aqui: “Oh, é velho barreiro”. Até a garrafa é coisa fina, eu adoro isso. Olha! Mas hoje eu não devo e não posso beber. Hoje mesmo eu falo para mim: “Eu não devo e não posso beber”. Que eu sou alcoólatra inveterado. Eu sou filho de Antônio Taioba. Não tinha nada que tirar... Meu pai, por causa de uma cachaça, ele ia daqui a Taubaté... Falava: “Antônio, meio-dia e meia você tem que estar aqui” “Ah, 15 para meio-dia eu estou aqui” “Mas já são 20 para meio-dia”. Não, ele iria. A hora que você demarcasse a hora de ele chegar, ele chegava, mas ele tomava duas, três pela estrada. Chegava sem saber onde estava, mas ele chegava.

P/1 – Divino, você comentou muito do primeiro diretor do Inpe, que foi o Fernando Mendonça, falou bastante, falou agora do Raupp, que foi o terceiro diretor, teve o Parada, Nelson Parada, entre o Fernando de Mendonça e o Raupp. Como foi? Como você sentiu a diferença de um diretor para o outro, para você? Como foi essa... Você teve um período mais feliz em alguma dessas administrações? Como foi o seu contato com esses outros diretores? Foram vários, né? Fernando de Mendonça, o Parada, o Raupp, o Márcio Barbosa.

R – Bom, o doutor Mendonça realmente foi a parte mais instrutiva pelo seguinte, vocês viram o diploma? A primeira coisa que o doutor Mendonça fez conosco foi fazer o seguinte: “Vocês vão lá à pós-graduação falar...” – na época, com quem era? Não lembro bem quem era. O coordenador era o Carlos Queiroz, que estava saindo, que era aqui nessa primeira sala aqui. Eram o Carlos Queiroz, a Edméia, depois veio a Cidinha, depois tem uma menina chamada... Teve a Trudy. Era a Edméia, a Trudy, a Cidinha. Depois teve outras meninas. No caso que ela saiu, eu não lembro quem entrou no lugar do Carlos Queiroz. O Carlos Queiroz, teve um dia que ele levantou chateado com alguma coisa, pegou as fraldinhas dele, para não falar pano de bunda, que eu já falei também, e: “A partir de amanhã, eu não volto mais. Eu venho aqui tal dia acertar os meus direitos, se eu tiver direito. Se eu não tiver, eu estou indo embora para São Paulo”. E não voltou mais. Nunca mais eu vi o Carlos Queiroz. Acho que ele nem recebeu o 14º. Que eu ainda tive o privilégio de receber o 14º aqui. Um belo dia cortaram o nosso 14º, que eu não lembro quem foi. Eu fiquei tão triste com aquele 14º. Que aquilo era um amparo da minha vida. Que o 14º era um mês. Cada mês eu gastava tanto X, mas não passava daquele mês. Mas eu não estou lembrando agora quem foi que cortou? Ah, foi o... Eu vou lembrar quem foi que cortou o nosso 14º. Aqui nesse auditório aqui, dando uma palestra: “A partir de agora...” – Collor de Mello – “Funcionário público não tem que ganhar 14º salário, não. Por que 14º salário? É 13º porque é uma legislação até então distribuído pelo excelentíssimo senhor presidente da república de tal época” – falou o nome do presidente que elaborou o 13º salário, que era um direito adquirido, ninguém podia tirar isso – “Então isso precisa permanecer. Até que um dia dá certo, o dia que tiver que cortar, nós vamos cortar também. O 14º não existe”. Então nós temos um 14º, que aí o sindicato aproveitou também, não estou falando mal do sindicato, tentou tirar o negócio, trazer de volta, isso acabou. Um belo dia eu fiquei sabendo que tinha uma advogada que foi também funcionária do Inpe, quando ela ficou sabendo que esse 14º estava na pauta de voltar, ela ganharia. Porque eu não ganhava, eu ganhava um salário anual. E eu tinha condição de fazer até em quatro vezes o 14º. E era um salário bom na época. Na época eu não ganhava muito mal, eu ganhava um milhão e duzentos mil cruzeiros por mês. Isso dividido em quatro, dava o quê? Dava um bom dinheiro, podia fazer, inclusive, melhoramentos na minha residência. Que hoje eu tenho uma residência boa. Boa. Ótima é outro assunto. E fui vivendo da mesma forma. Mas o Collor de Mello cortou o nosso 14º assim, eu assistindo aqui, o televisor aqui ligado e ele falando: “Funcionário público não tem que ganhar 14º nenhum. Décimo terceiro é direito adquirido”. Falou até o presidente da época, que tinha elaborado. Acho que era Getúlio Vargas, não sei quem, elaborado o 13º salário. “Que é direito adquirido porque é início da presidência da república.” Que antigamente... Agora não é mais federativa do Brasil. Ou é federativa agora? Agora é presidência da república, né? Antigamente era presidência federativa da república do Brasil. E teve vários presidentes que passaram, mas o fundador de tudo isso foi o Getúlio Vargas na época, se não me falha a memória. E ficou isso. Então nós tínhamos direito adquirido. É a mesma coisa de você comprar um carro, chegar lá, falar: “Não, mas não é esse carro que eu te vendi” “Não, o senhor me vendeu esse carro” “Não. Não é esse, não. É esse daqui”. Você arruma uma briga com o vendedor, que você comprou um carro, você adquiriu aquele carro, aquele preço, tal, e o cara está te entregando outro, e você não quer, e você quer o seu dinheiro de volta. Então eu tenho o 14º, que é direito adquirido. Eu não sei o que eu tenho. Então teve pessoas aí que foram lá: “Negão, seu 14º, olha”. Desse jeito. “Mas o que é? Por que você tá falando isso?” “O 14º você ganhou? Você vai ganhar atrás do quarto. Você vai ver só.” Então ficou aquela situação, você não podia falar nada.

P/1 – Então esse foi um momento muito difícil?

R – Triste, porque eu estava contando com aquilo. E para fazer a faculdade do meu filho? E a faculdade do meu filho, que eu precisava contar com aquilo? Eu precisava ajudar com a ajuda da minha mãe, do meu pai, que... Meu pai, eu estou dizendo para vocês, meu pai era alcoólatra inveterado. E minha mãe era mulher que você chegava, por exemplo, ela chegava lá assim: “Dona Eva, eu estou com umas roupas para lavar, mas eu estou doente, não estou podendo”. Minha mãe falava: “Eu vou lá lavar para você, minha filha. O que é isso? Não é minha filha, não”. Chegava lá, ela lavava pelos olhos e pelo nariz, à mão. “Mas liga a máquina.” “Não. Eu não sei ligar, não. É aqui à mão mesmo.” E ficava. Ligava o ferro para passar: “Ah, não, se for de brasa, eu passo”. Não tinha. Nós não tínhamos alternativa, era fazer, ou fazer. Foi a minha vida dentro do Inpe.

P/2 – Divino, posso fazer uma pergunta assim? Tem muita coisa interessante para contar para gente.

R – Fala alto.

P/2 – Mas, não sei se você está sabendo, este ano, 2019, vão completar 50 anos que o homem pisou na lua, em julho, e um grande personagem foi o Wernher von Braun. Tem alguma ligação, alguma coisa, que você nessa passagem, que isso foi em 1969, que você pode compartilhar com a gente desse... Parece que ele chegou a vir ao Inpe. Você consegue contar alguma coisa para gente do Von Braun aqui no Inpe?

R – Von Braun?

P/1 – Isso. Von Braun.

R – Professor Von Braun. A única coisa que eu me lembro do doutor Von Braun, na época eu não fui obrigado, eu fui avisado que nós estávamos... Naquela época ia vir um americano que era, falaram assim para mim, que era o pai do Apolo 11, que foi o primeiro astronauta... Não. Foi o homem que mandou os primeiros astronautas para o espaço, ainda falavam espaço sideral, que eu fiquei naquela: “O que é espaço sideral? Que porcaria é essa? Tem espaço sideral? O que é isso?”. É o primeiro homem a pisar na lua. Que até então eu estava onde? Eu estava no Pico do Jaraguá trabalhando para o Brigadeiro Sérgio Sobral, indicado pelo senhor José Aleixo daqui, que me levou, que eu não conhecia nem a Cnae. Quer dizer, eu conhecia a Cnae, mas não tinha a hegemonia de trabalhar aqui dentro, que era na Avenida dos Astronautas. Era na Estrada da Brejauveira. Que aqui na frente tinha um bairro chamado Brejauveira, que saía na Granja Itambi, que pegava a estrada de Caraguá.

P/1 – Como o senhor conheceu o José Aleixo? Como foi parar nesse lugar aí, no Pico do Jaraguá, para trabalhar para o Brigadeiro Sobral? Na época não era...

P/2 – Era Sobral.

P/1 – Sobral.

R – Ele era o Brigadeiro Sobral que coordenava a TV Cultura. Que quando ele saiu do... Quando ele saiu, quando ele deu baixa no CTA, ele veio condenar o Gocnae, que aí ele ajudava através do doutor... Brigadeiro do CTA na época. Quero lembrar o nome dele. Não estou lembrando agora.

P/1 – Mas esse trabalho que você fazia não era pelo Inpe. Você disse agora há pouco que era antes de entrar no Inpe, esse trabalho que foi fazer lá.

R – Sim. Um belo dia eu trabalhava em obras por aí. Trabalhava com uma bicicleta que ela me levava até determinada altura, depois furava o pneu, que eram muito ruins os pneus, e não tinha dinheiro para comprar outro pneu, então eu fazia a missão de ir... A esplanada estava expandindo, e eu trabalhava na esplanada. Onde me passavam que tinha um tijolo para carregar, eu estava carregando. Eu queria era ganhar dinheiro para a minha mãe comer o que ela precisava comer. Se eu não jantasse, estava bom para mim. Estava ótimo eu ficar sem janta, sem almoço, sem café da manhã. Minha mãe comendo, meu pai... Meu pai, eu não esquentava muito a cabeça com ele, que com uma cachaça, ele dominava o mundo dele. E naquela época eu não bebia, então a minha obrigação era com a minha mãe e com meus irmãos pequenos, um casal de irmãos que eu... Que eu tinha não, que eu tenho. Todos adultos hoje. Meu irmão está muito debilitado com problema de alcoolismo. E a minha irmã se casou, o marido começou a passar pelo campo do alcoolismo, perdeu os dois filhos, tinha dois filhos. O meu cunhado, marido dela, se envolveu muito com negócio de alcoolismo, trabalhava aqui no Inpe, e começou e era um crioulo metido a sebo, e não era nem... E começou aquele negócio. O cara não tinha posição pra ele ficar. Chegava: “O café. O café”. Mas não era líquido, não. Era café em coco mesmo. E o cara era aquele... Então quando chegava final de semana, ele fazia questão de ir trabalhar. Por que ele fazia questão de ir trabalhar? Ele tinha a chave do restaurante, ele ia aí e escolhia as melhores carnes. Eu estou falando isso para os senhores não é para... Que agora ele já está falecido. Já faleceu. Se tivesse presente, falaria isso para ele. Aqui, o botava aqui na planilha que nós estamos agora, falava: “É verdade ou não é, Café? Fala agora”. Joãozinho, como era o nome dele. Claro que ele pegava a bicicleta. Inicialmente ele pegava a bicicleta. Depois ele começou a andar em carro do Inpe. Que o Inpe deu para ele a autonomia: “Café, quando você precisar de qualquer coisa, você pega o carro e vai a sua casa, você é o chefe da segurança do Inpe”. Então ele vinha a pé... Até teve um carro, não sei se teve um carro também, não fiz muita questão de saber. Que eu vivia o meu mundo. Eu vivia o meu mundo e dignamente. Como eu estou dizendo para os senhores, e estou dizendo para você também, eu sou alcoólatra, e hoje eu não estou com vontade beber.

P/1 – Divino, o contato que você teve então inicial com o Inpe foi através do José Aleixo primeiro?

R – O seu Zé Aleixo me convidou um dia, eu trabalhava na... A primeira vez que eu vim a São José dos Campos procurar os meus pais, os meus pais tinham ido para Ilhabela. Ainda não tinha acontecido aquela catástrofe do primeiro deslizamento de terra, aquele negócio. E daí eu vim aqui procurar. O meu tio trouxe... Tá com tempo ainda? Dá para terminar? Estava determinado que o meu tio tinha vindo aqui trazer a minha mãe, o meu pai e as minhas irmãs, e o meu irmão, que tá hoje debilitado, Rinoldário. Olha o nome do cara, Rinoldário. Minha mãe não gostava dele, não. Minha mãe e meu tio chegaram em São Paulo: “Olha, deixei seu parente lá”. E a minha tia brava com a minha mãe, que a minha mãe analfabeta, a minha tia tinha vindo de Presidente Prudente, cidade onde tinha a colônia japonesa, que Presidente Prudente, me parece, eu não tenho certeza, o Yuki deve ter mais ou menos noção disso daí, Presidente Prudente foi habitada por imigrantes japoneses. E o irmão da minha tia, ele chegava xingando você em japonês, e você pensava que estava sendo elogiado, não era, estava chamando palavrão em japonês, na brincadeira. O nome desse rapaz era Reinaldo. Mas a convivência dele na colônia japonesa, ele aprendeu a falar japonês, e a escrever japonês. Ora que menos espera, o Reinaldo estava vindo para São Paulo com a família toda. Mas ele era formado em japonês. Então ele tinha feito a colônia japonesa, ele teve a oportunidade de aprender a escrever japonês, falar japonês, tudo que ele... Então ele veio de lá falando português e japonês. O que aconteceu com o Reinaldo? Quando ele chegou a São Paulo, pegou um trabalho para fazer em Santos, na chegada dos navios que vinham de outros países, principalmente do país dos japoneses que vinham para cá, dos japoneses que vinham para o Brasil. Ele ia trabalhar como fiscal da alfândega, falando japonês corretamente. Então esse cara ganhou muito dinheiro.

P/1 – Divino, a gente está chegando nos finalmente da entrevista. Eu queria saber assim de você, você se aposentou, mas de vez em quando vem fazer algumas atividades no Inpe, enfim, tem alguma coisa que você acha que seria importante falar aqui relacionado a sua história dentro do Inpe? Ou tem alguma coisa que você gostaria de dizer a respeito ao Inpe atual em relação ao Inpe do passado? Enfim, qualquer coisa que queira, ache importante dizer nesse momento?

R – Cara, a importância do Inpe do passado foi o início da caminhada. Falando do Inpe hoje e do... O Gocnae. O Gocnae que foi o início da função do que é hoje, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Gocnae, Grupo de Apoio à Pesquisa do País, depois Cnae, Comissão Nacional de Atividades Espaciais, depois foi Instituto de Pesquisas Espaciais, depois Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que é o atual. Quando eu entrei no Inpe, ou no Gocnae, tinha dois doutores, que era o doutor Fernando de Mendonça, que era o coordenador, até então indicado pelo doutor Paulo Victor, que foi um dos primeiros, eu não sei se foi o primeiro brigadeiro do CTA, que já veio pelas Forças Armadas, que era início, que era o final das rebeliões de Jânio Quadros e João Goulart, que foram os presidentes da república, presidente Jânio Quadros, e depois o vice-presidente João Goulart, que os dois que entraram nas primeiras decadências das formações do país. E, atualmente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que toma conta hoje das edificações, vamos falar edificações, de toda a planilha governamental. Eu vi chegar muitos presidentes, virem fazer no Inpe visitas oficiais no Inpe. Eu vi da China, dos Estados Unidos, eu tive a oportunidade de receber algumas empresas radialistas aqui dentro, como a Jovem Pan, por exemplo. A Jovem Pan, ela deu entrevista falando dos primeiros satélites brasileiros, que foram lançados aqui. Então eu tive o privilégio. Eu sou uma pessoa privilegiada de estar hoje ouvindo vocês me pedindo determinado tipo de informação, que eu aprendi isso aqui de acordo com o dia a dia. A minha formação é uma formação simples, mas é uma formação, em minha concepção, muito valiosa. Que hoje eu não estou no meio de uma algazarra, todo mundo fala: “Ele pensa que sabe”. Não. Hoje eu sei o que estou falando. Hoje eu não estou bêbado, hoje eu estou falando com pessoas que me respeitam. Vocês sempre me respeitaram, mas teve época que eu não sabia o que estava ouvindo, por causa da minha dependência química, que foi e é o álcool. Hoje eu não estou bêbado. É muito importante estar trocando essa pequena experiência com vocês. Hoje quando eu chegar a minha residência... Hoje eu tenho residência, antigamente eu tinha casa. Hoje quando eu chegar a minha residência, a minha esposa vai me perguntar o seguinte: “Foi tudo bem lá?” “Foi. Maravilhoso”. Por quê? Porque vocês hoje não me menosprezaram. Antigamente, eu não era menosprezado, mas só que tinha hora que eu falava: “Aquele cara está me enchendo a paciência, eu vou xingar aquele cara” – e já falava um palavrão. Mas hoje é tudo diferente. Hoje é tudo confortável do jeito que... Hoje eu sei e presto atenção no que foi que aconteceu hoje de bom. Tudo que aconteceu na minha vida, do início até o dia de hoje, fala você a data de hoje.

P/1 – Vinte oito de fevereiro de 2019.

R – Que dia.

P/1 – Vinte oito de fevereiro de 2019.

R – Então, é mês de aniversário da minha esposa. Entendeu? É mais um prêmio que eu estou ganhando. Tudo isso hoje faz jus eu segurar isso com as duas mãos, e dizer para vocês que eu preciso estar preparado para respeitar um pouco da minha vida, ao Benjamim, que é o meu neto, meu primeiro neto. E agradecer a vocês por esse momento, que foi muito importante. Hoje é um novo início de uma nova caminhada para o amanhã. Obrigado por vocês terem me ouvido.

P/1 – Obrigado a você, Divino.

P/2 – Obrigado, Divino.

FINAL DA ENTREVISTA