Histórias que Iluminam
Depoimento de Antônio Carlos Tanjioni
Entrevistada por Lucas Torigoe
São Paulo, 28 de janeiro de 2016
Realização Museu da Pessoa
HQI_HV05 Antônio Carlos Tanjioni
Transcrito por Mariana Wolff
P/1 – Então, Antônio, você pode falar primeiro o seu nome completo…
R – Bom, meu nome é Antônio Carlos Tanjioni, vou fazer 67 anos de idade e contando a minha vida, é muito legal, queria agradecer essa oportunidade que o Museu da Pessoa está me dando e é uma longa história que emociona às vezes, de você lembrar de certas coisas que você viveu, né? E eu nasci na Penha, onde eu moro até hoje, o lugar onde eu nasci, exatamente, na Rua Maria Teresa Assunção. E ali, eu vivi até os meus 11 anos de idade, onde eu sempre morei ali naquele lugar e sou de uma família, meu pai, minha mãe e o meu irmão, meu único irmão, onde a minha vida sempre foi ganhar no Natal, uma bola, então, a minha infância… eu fui muito feliz na minha infância, apesar de não ter nada materialmente, meu pai era um operário, minha mãe era uma empregada doméstica e nós fomos criados com muita humildade, mas graças a Deus, nunca faltou nada para nós, né? E o meu sonho era ser jogador de futebol e todo ano no Natal, o meu presente era uma bola e aí, eu fui crescendo e quando eu estava com 11 anos de idade, o meu pai teve uma oportunidade de comprar uma casa própria, a gente se mudou para um outro bairro, próximo da Penha, mas eu nunca saí da Penha e aí, acabei conhecendo a minha esposa quando eu tinha mais ou menos, 15 anos de idade, ela tinha 13 e desse namoro, resultou num casamento que agora em dezembro, completou 44 anos de casado com a mesma mulher.
P/1 – Queria voltar um pouquinho antes. A gente quer saber qual que é o nome inteiro do seu pai…
R – Então, o meu pai nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, o nome dele era Antônio Tanjioni. A minha mãe nasceu em Jaú, também interior de São Paulo e o nome dela era Odila Bittencourt Tanjioni. O meu pai faleceu com 56 anos de idade, através de uma doença autoimune, chamada artrite reumatoide e isso levou ele de volta para o mundo espiritual com 56 anos. E a minha mãe morreu agora, recentemente, em 2012, com 90 anos de idade. Aí, começou toda minha história através dessas duas pessoas aí que foram muito importantes na minha vida, e aí, minha vida profissional, você quer que comece a contar?
P/1 – Não, não. Vamos ficar na família, por enquanto. Queria saber o que o seu pai fazia, o que a família do seu pai fazia lá em Santa Rita do Passa Quatro? Você sabe?
R – Os meus avós, os pais dos meu pais vieram da Itália muito jovens e eles eram lavradores, trabalhavam na roça e da minha mãe, a mesma coisa lá em Jaú. E os meus avós por parte de pai que eram descendentes de italianos, eles vieram de lá e o meu avô, pai do meu pai sempre trabalhou numa empresa que se chamava Tapetes Bandeirantes. Eu me lembro muito bem que o meu avô, naquela época só tinha trem, ou você andava a pé e que eu me lembre da história, a gente morava um do lado da casa do outro ali na Penha, eu criança. Eu lembro que o meu avô saía de manhã para trabalhar e ele carregava um guarda-chuva e pendurava no guarda-chuva a marmita dele e ele ia a pé até o Tapetes Bandeirantes que era uma caminhada mais ou menos de uns… de seis a oito quilômetros e todo dia, ele fazia isso, ia a voltava a pé, isso o meu avô paterno. O meu avio materno, ele era na história da vida dele, ele se chamava Altino Bittencourt Alves e ele era administrador de fazenda no interior, a linha dele já era diferente do meu outro avô e aí, nessa história de vida deles, os meus avós, o que eu lembro é isso. O meu pai entrou numa empresa que chamava Cristais Prado, onde ele trabalhou 17 anos e desses 17 anos, quando ele recebeu a indenização que ele foi… a empresa sofreu uma mudança na época e foi quando ele recebeu indenização e comprou a nossa casa própria. E foi um negócio muito complicado e triste na época, porque o cara que vendeu a casa para o meu pai, a casa estava hipotecada e ele não contou para o meu pai e aí, o meu pai teve que pagar a casa duas vezes, então aquilo foi terrível para nós, foi aí que a minha mãe passou a trabalhar em casa de família para poder ajudar no pagamento dessa casa e eu gostava de estudar e o meu pai sempre queria que eu estudasse, mas o meu sonho era ser jogador de futebol, mas ele queria que eu estudasse, não pude seguir meu sonho. E aí, comecei a estudar, o meu irmão nunca quis saber de estudar, ele tem formação técnica em várias coisas e o meu irmão também entrou numa empresa com 14 para 15 anos de idade, ele foi o fundador dessa empresa, que hoje ele completa mais ou menos… hoje ele já se aposentou, mas ele ficou 45 anos nessa empresa, chama-se PLP – Produtos para Linhas Pré-formadas, uma empresa americana e o meu irmão, apesar de não ter tido estudos, porque se ele tivesse estudo, hoje talvez, ele tivesse sido o diretor industrial da empresa, porque ele é o fundador. Então, nossa vida foi assim e o meu pai, através desse trabalho e a minha mãe ajudando na parte de empregada doméstica, saía para trabalhar e eu e o meu irmão cuidávamos da casa até termos a nossa vida própria, onde nós dois fomos trabalhar com 15 anos e aí, começou toda a história que a gente vai contar em seguida aí, né?
P/1 – Antes de chegar nessa história, você sabe a história de como seus pais se conheceram?
R – Como a minha avó, mãe do meu pai morava… nós morávamos na Rua Maria Teresa Assunção, 311 e a minha avó materna morava no mesmo quintal, 311 e a minha avó paterna morava no 321, então eram duas casas encostadas uma da outra e ali, eles se conheceram e casaram, que eram casas gêmeas, vamos dizer assim, né, e ali, foi todo aquele processo e eles se conheceram e casaram ali e aí, tudo se desenrolou, tudo isso que eu contei até agora, né? Era muito legal, porque hoje não existe mais isso, finais de ano assim na casa da minha avó paterna, se reuniam a família inteira, todos os tios, todos os primos, Natal e Ano Novo era tudo na casa da minha avó e hoje, não existe mais isso. Aí, depois que os meus avós faleceram, aí a família praticamente, cada um seguiu o seu caminho, hoje muita gente nem sabe onde eles estão, então já não tem mais, meus avós maternos e os meus avós paternos e aí, os primos, os tios, alguns a gente ainda tem contato, mas os outros, não.
P/1 – E você é o irmão mais velho?
R – Eu sou o irmão mais velho, eu nasci em 1949 e o meu irmão nasceu em 1950, um ano de diferença, eu tenho 67… vou fazer 67, meu irmão vai fazer 66. Eu nasci no dia 10 de abril de 1949 e ele nasceu no dia 14 de maio de 1950.
P/1 –E qual que é o nome dele?
R – Wilson Roberto Tanjioni.
P/1 – Vocês nasceram nessa casa, mesmo, na Penha?
R – Na mesma casa e aí, nós mudamos para a casa que o meu pai comprou que era um bairro bem próximo da Penha e onde meu irmão mora até hoje nessa casa que o meu pai deixou e dessa casa, aconteceram muitas coisas depois dessa nossa vida que nós entramos na nossa vida profissional e tudo começou nessa casa quando o meu pai comprou, que aí, a nossa vida começou a mudar e aí, o direcionamento profissional do meu irmão e o meu começou a tomar caminhos, onde nós chegamos onde nós chegamos, né?
P/1 – E você ficou quanto tempo nessa primeira casa, mais ou menos?
R – Nessa primeira casa fiquei até os meus primeiros 11 anos de idade, eu nasci ali, o meu irmão também, eu com 11, o meu irmão com dez, foi quando o meu pai mudou para um outro bairro próximo da Penha, que chama Vila Buenos Aires. Mas como eu conheci minha esposa na Penha e ela morava na Penha ali, mora até hoje, os pais dela moram na mesma casa, hoje não estão mais lá, está a minha cunhada, ali a gente se conheceu, então, eu não sai da Penha, sempre vivi na Penha. Então, a minha infância inteirinha foi ali, uma infância muito legal, hoje não existe mais isso, né, raramente você vê, jogar bola era normal como é até hoje, mas a gente brincava de pião, brincava de pipa, de bola de gude, de roda, essas coisas que hoje… as crianças de hoje nem sabem disso, né, o negócio deles é celular.
P/1 – Onde é que você brincavam?
R – Na rua. A rua não tinha asfalto naquela época, né? E como a rua não tinha asfalto, energia elétrica era lampião, não tinha televisão naquela época. Naquela época, mal e mal, tinha um rádio que você ouvia e quem tinha televisão eram pessoas que tinham um pouco de condições financeiras melhores, né, mas a nossa família, tanto do meu avô, minha avó materna e paterna não tinha televisão, era só rádio, mesmo e era muito legal porque você andava descalço na rua, a gente andava em alguns lugares onde tinham algumas lagoas, a gente ia brincar lá, não tinha problema nenhum, não tinha preocupação com nada, andava descalço, não precisava nem de sapato e essas brincadeiras eram todas na rua. Jogar futebol era na rua de chão batido, de terra e tinha um campo de futebol atrás da nossa casa, onde a gente brincava de bola ali, mas naquela época, depois, o tempo foi evoluindo e tinha um… eu me lembro que poucas pessoas tinham televisão e naquela época, passava um filme que era às oito horas da noite, que era o programa principal que era Rin Tin Tin, que era o filme de um cachorro e esse cachorro era muito famoso, chamava-se Rin Tin Tin, a gente fazia de tudo para ir na casa do vizinho assistir, passava num determinado dia, às oito horas da noite. Então, são essas histórias que a gente lembra, né? Roy Rogers, por exemplo, que era um filme legal de bang bang, então naquela época era assim. Então, não é como hoje, tudo mudou.
P/1 – E do que mais vocês brincavam? Era mais menino com menino e menina com menina?
R – Na verdade, tinham aquelas brincadeiras de casinha, onde você brincava com as tuas primas ali, mas não tinha nada assim de malícia, não tinha, era uma coisa muito assim, pura, né, vamos dizer. E tinha muito respeito, e aí, a gente começou a aprender sobre religião, porque na escola que a gente estudava falava muito sobre isso e aí, foi quando se iniciou a nossa vida católica que todo mundo na família era católica, mas as brincadeiras eram muito saudáveis, não tinha nenhum tipo de problema assim, que magoasse alguém, era tudo muito puro mesmo, as coisas.
P/1 – Já que você estava falando de religião, a sua família ia na Igreja? Como é que era?
R – Eu e o meu irmão, nós fomos criados pelo meu pai e pela minha mãe muito católicos e a igreja… de entender Deus do jeito que a Igreja Católica explicava, então fizemos a primeira comunhão, até porque eu entrei numa escola quando eu tinha quatro anos e meio de idade, que chamava-se São Vicente de Paulo, que existe até hoje na Penha e essa escola era comandada por freiras, muito rígidas e a minha… eu entrei no Jardim da Infância, passei para o pré-primário, naquela época não é como hoje, era primeiro ano, segundo ano, terceiro ano, quarto ano, quando você terminava o quarto ano, você fazia um exame de admissão para entrar no ginásio e aí, você fazia o primeiro ano, o segundo e o terceiro de ginásio, que hoje é o fundamental, né, que eles falam? E aí, nessa escola, foi a minha vida inteira escolar foi ali, o meu irmão já nem tanto, porque o meu irmão não gostava de estudar, mas eu fui nessa escola aí e aprendi muita coisa de parte religiosa, porque o nosso colégio era colégio de freira, então tinha aula de religião naquela época, hoje não tem mais. Então, nosso aprendizado religioso foi todo assim e até foi muito interessante porque quando terminou a admissão naquela época na escola, eu entrei numa escola que era um complemento do Externato São Vicente de Paulo, que chamava-se Liceu Santo Afonso, que era uma continuação, onde a gente fazia o ginásio e do Liceu Santo Afonso, surgiu a Faculdade da Zona Leste, que hoje, é Faculdade da Zona Leste, FZL, né? E ali começou tudo. Então, foi uma história assim, muito legal, a parte estudantil para mim, onde foi uma formação muito legal nessa escola, muito… tenho muita gratidão por tudo que eu aprendi lá, que a faculdade, depois eu acabei me formando em 1976, onde eu me formei em Administração de Empresas, né, minha vida profissional seguiu.
P/1 – Ainda não… queria saber como é que você via a Penha? Como que era a Penha na época da sua infância?
R – A Penha era muito legal. Inclusive, eu gosto muito de ver fotografias antigas, né, e no metro Penha de vez em quando, eles colocam uma exposição da Penha antiga. Eu me lembro quando foi asfaltada nossa rua, surgiu um ônibus lá que na época, foi o primeiro ônibus porque pra gente pegar o bonde, que naquela época era o bonde, tinha o trem e depois, o bonde, você tinha que andar até o centro da Penha, da nossa casa do centro da Penha andava mais ou menos, o quê? Um quilômetro mais ou menos pra você andar, um quilômetro e meio pra você chegar no Largo da Penha, onde você pegava o bonde e esse bonde é que trazia até o centro da cidade e a gente caminhava bastante. Quando começou surgir a ideia que iria surgir um ônibus na nossa rua, ali e era tanta poeira, que o ônibus chamava “Poeirinha”, tudo começou por causa desse ônibus. Aí, eu me lembro legal também, voltando um pouco naquilo que você me perguntou das brincadeiras, quando começou a asfaltar a nossa rua, antes, nós, a molecada da rua fazíamos no final do ano, no dia 31 de dezembro uma corrida como se fosse a São Silvestre entre os meninos da rua, né? Então a gente corria os quarteirões lá para poder… e era muito legal e logo em seguida, quando começou a ser asfaltada essa rua, havia campeonato de carrinho de rolimã, a gente fazia os carrinhos de rolimã. Pra gente fazer qualquer coisa, comprar uma pipa, por exemplo, para empinar, não sei se posso falar, se está dentro do contexto aí, mas eu e o meu irmão por exemplo, pra conseguir algum dinheirinho que a gente tivesse alguma coisa pra brincar, a gente pegava esterco e vendia, naquela época, se vendia isso para adubar a terra e etc., Era assim que a gente vivia e a gente fazia as pipas pra vender na feira, né, onde a gente arrecadava um dinheirinho pra comprar um sorvete, porque naquela época era muito difícil você ter um refrigerante, ter uma coisa assim, né, então tudo foi assim. E depois, as ruas começaram a ser asfaltadas, o tempo foi evoluindo, onde… eu mudei de lá da Penha, não tinha televisão ainda, só tinha o rádio, naquela época eu me lembro que quando tinha a Copa do Mundo, a gente ouvia no rádio e era muito difícil você ter o som pra você ouvir, pra chegar lá da Suécia, aquela coisa toda, né? Eu me lembro muito bem da Copa de 58, quando o Brasil foi campeão pela primeira vez, foi muito engraçado, porque nós estávamos todos na casa da minha avó e fizeram um bolão no bar perto da casa da minha avó, ali, e naquela época, se comprava figurinha, chamava Balas Gol e a gente comparava a bala e enrolada na bala, vinha a figurinha que você montava o álbum, aquela coisa toda. E aí, eu me lembro que nesse dia, o Brasil estava na final da Copa de 58 e chegou lá no bar, eu estava junto com o meu pai, era menino, né, os caras convidando o meu pai para assinar um bolão que eles estavam fazendo e já não tinha mais resultado para colocar, meu pai falou: “Coloquem cinco a dois, aí, que eu não tenho mais resultado para eu pôr”, o Brasil ganhou de cinco a dois e o meu pai ganhou o bolão e foi uma farra, uma festa. Me lembro até hoje que eu tomei refrigerante, que eu tinha tanta vontade de tomar, que eu não tinha dinheiro para comprar e naquele dia, o meu pai comprou tudo que eu queria. Então, foi muito legal, uma coisa que eu nunca mais me esqueci, essa passagem, aí.
P/1 – E você tinha um ídolo no futebol nessa época?
R – Então, na verdade, quando comecei a crescer, com cinco, seis anos de idade, eu já gostava muito de futebol, então eu sempre acompanhava. A primeira vez que eu fui no estádio de futebol, eu tinha 12 anos, o meu pai como ele era descendente de italiano, né, a maioria das pessoas na família torcia para o Palmeiras, né, e eu segui o meu pai, então eu gostava muito de futebol e eu me interessava, queria saber de tudo, então tudo que eu sabia era através do meu pai que me contava e eu acompanhava ele ouvindo rádio, aquela coisa toda, os programas esportivos da época e tal. Então, eu me lembro da Copa de 58, quando o Brasil foi campeão pela primeira vez, eu tinha nessa época nove anos, essa eu lembro muito bem. Depois, em 62, o Brasil foi campeão novamente e aí, eu já comecei a entender um pouco, né, ídolos assim, nessa época, nem tanto. Mas em 59, por exemplo, eu me lembro muito bem o Brasil foi campeão em 58, em 59, quando o Brasil foi campeão em 58, tinha jogadores do Palmeiras que o meu pai comentava e em 59, tinha um super campeonato entre Palmeiras e Santos, isso eu me lembro muito bem, porque ouvia pelo rádio e naquela época, quem tinha televisão, tinha o canal sete, que era muito famoso naquela época, a Record e esse canal é que passavam os jogos, né? E eu me lembro desse jogo que foram três jogos, era um super campeonato que naquela época não era que nem hoje, o campeonato paulista era mais importante do que o brasileiro, estamos em São Paulo e aí, tiveram 3 jogos onde o Santos ganhou um jogo, Palmeiras ganhou o outro e o terceiro jogo, o Palmeiras foi campeão nesse super campeonato, aí eu gravei muito isso, aí eu comecei a me interessar, eu comecei a gostar muito, né? Ídolos, ídolos mesmo, começaram a aparecer jogadores que eu conhecia, por exemplo, Julinho Botelho, ele era vizinho, morava na Penha e Julinho era muito famoso, porque ele jogava no Palmeiras, depois ele começou na Portuguesa, veio para o Palmeiras e aí, ele foi para a Itália, eu não me lembro simplesmente se ele foi para a Itália e voltou para o Palmeiras ou se ele foi para o Palmeiras e depois, ele foi para a Itália, acho que foi ao contrário e ele era um ídolo ali do Palmeiras, na época, né? E outros jogadores, né, importantes nessa época de 59 que eu lembro muito bem.
P/1 – E você sempre foi Palmeiras, você sempre torceu assim?
R – Com 12 anos de idade, foi quando eu fui pela primeira vez no Pacaembu, assistir um jogo ao vivo, nossa, aquilo ali pra mim foi uma coisa espetacular, porque você ouvir o rádio, você desenha na sua mente uma situação, então você não está vendo, eu não tinha ideia de como era aquilo ali. E quando eu cheguei no estádio pela primeira vez que eu vi aquilo ali, eu comecei a lembrar do que eu ouvia no rádio, aí eu comecei ver e nitidamente, eu estava presenciando ali coisas que eu imaginava, tinha no imaginário aquilo que acontecia e foi uma coisa espetacular, apesar do Palmeiras ter perdido aquela jogo, foi Palmeiras e Corinthians, o Corinthians ganhou de 1 a 0, gol de pênalti, isso eu nunca esqueci, foi a primeira vez, né? E aí, depois começaram a acontecer várias outras… e assim foi.
P/1 – E lá na Penha, vocês faziam muita festa? Você me falou que é de descendência italiana, vocês comemoravam o que lá?
R – A gente comemorava muito no final do ano, né, Natal e Ano Novo. As comidas naquela época eram feitas todas em casa, não tinha coisa que você comprava em mercado, nem existia mercado, né? Existia um armazém onde se comprava o básico, mas quem fazia tudo era a minha avó e ela tinha um forno no quintal onde ela fazia os pães, as massas, tudo feito por ela, então tudo era assim, tudo feito em casa pela minha avó, que era mãe do meu pai, era muito legal, uma coisa inesquecível, mesmo, hoje não existe mais isso, infelizmente.
P/1 – Vocês ouviam muito rádio, além de jogo de futebol, que mais vocês ouviam?
R – Ah, tinham umas histórias, viu! Eu me lembro muito bem, o meu avô materno, a gente morava no mesmo quintal, e vinham uns amigos dele de sábado à noite jogar baralho, eles jogavam um jogo que chama escopa e eu me lembro que o rádio ficava lá tocando umas músicas na época, então Francisco Alves, aqueles caras da época, umas músicas bonitas e tal para aquela época, né, então eu me lembro e a minha mãe tinha o hábito de ouvir radionovela, era novela como hoje na televisão, mas era pelo rádio, então atrizes famosíssimas da época que participavam, então, o rádio foi evoluindo também e assim que a gente começou a entender algumas coisas como aconteciam na parte artística e tal. Aí começou.
P/1 – E como é que eram o seu pai e a sua mãe em casa?
R – O meu pai e a minha mãe, graças a Deus, eles foram sempre muito harmoniosos, eu nunca me lembro do meu pai e da minha terem brigado assim, meu pai gostava muito de pescar e eu já não gostava de pescar, meu irmão que acompanhava o meu pai e teve uma passagem também (risos), teve uma pescaria, eu não tinha muita paciência pra isso, mas numa tarde de domingo, eu resolvi ir com eles e aquilo era um tédio pra mim, e aí, eu estava lá vendo eles pescarem, uma hora eu fiquei meio sem paciência, eu peguei a lata de minhoca e joguei dentro do rio, você imagina o que aconteceu, tomei uma surra do meu pai por causa disso. Então… os meus pais, graças a Deus, não me lembro de nenhum fato que aconteceu assim, que pudesse marcar negativamente em relação ao relacionamento deles, a gente foi sempre criado com muito amor, apesar das dificuldades, mas eu tive uma infância muito feliz e eu tenho muitas saudades deles.
P/1 – Como é que era a sua mãe?
R – Falar de mãe é um negócio difícil, mas ela era uma mulher muito simples e ela fazia tudo por mim e pelo meu irmão, né, e amor de mãe é difícil de você explicar, mas ela era muito legal, de muito diálogo, apesar de coitada, não ter tido estudos, mas eu quem estudava, quem me ajudava nas lições era ela. Então, foi tudo assim, o meu irmão já foi criado diferente um pouco, porque como ele não estudava, então o negócio dele era outro, né, trabalhar em fábrica e montar as coisas, ele gostava muito de coisa técnica, né, eu nunca me interessei por isso. A minha mãe, graças a Deus, foi uma mãe maravilhosa.
P/1 – Ela ficava mais em casa?
R – Ela ficava em casa até um determinado tempo, depois, ela teve que sair para trabalhar de empregada, né, que aí o meu pai começou a ficar doente e ele foi trabalhar naquela época num porto de areia, onde ele realmente entrava dentro do rio para tirar a areia e jogar em cima do caminhão, descarregar, aquela coisa toda e aquilo ali começou a criar um problema para ele da doença que ele veio a ter e depois, se manifestou um tempo mais tarde, onde ele acabou até morrendo por causa dessa doença, né?
P/1 – Entendi. Agora, vamos passar para a escola, você falou bastante dela, já, mas você se lembra de algum professor, alguma coisa que te marcou nessa fase?
R – Lembro, eu lembro porque a escola era muito rígida. Até lembro um pouco antes do Externato São Vicente de Paulo, no primeiro parque infantil que eu fui, eu me lembro até hoje, um calçãozinho vermelho, uma camiseta branca, onde eu fui deixado ali pela minha mãe naquele parquinho infantil. Me recordo de algumas coisas ali, mas foi marcante porque eu sofri muito no primeiro dia, isso eu lembro. Depois, quando eu entrei no Externato São Vicente de Paulo, eu entrei no jardim da infância, que ali começou aquela escola da freira, aquela coisa toda e eu me lembro muito bem que a minha mãe me levava e de tarde, ia me buscar. Lembro até das cores do uniforme que a gente usava, era uma camisa branca com um triangulo azul, aqui, assim, no peito. A calça azul marinho, meia branca e nessa escola, eu ficava muito feliz quando eu recebia menção honrosa, é que a escola dava uma menção honrosa por comportamento e sempre que eu tirava uma nota boa, eu ganhava e ficava feliz e levava pra minha mãe, mas quando eu não ia bem nas provas e teve um ano que eu repeti, eu me lembro que a minha mãe sofreu muito por causa disso, porque a escola era paga, né, e pagava com muita dificuldade e eu repeti de ano, então foi muito difícil! Mas as professoras eram freiras, eu me lembro da Irmã Ângela, Irmã Clara, tinham uns professores que vieram depois de fora, eu me lembro da Isabel que era uma professora de Português muito rígida, mas foi muito legal.
P/1 – Vocês tinham espaço para fazer alguma bagunça lá?
R – Lá tinha aula de Educação Física, né, e era legal fazer Educação Física. Eu me lembro também que tinha um médico que vinha algumas vezes na escola para fazer exame médico nas crianças e tudo, até pra gente poder fazer a Educação Física, né? E naquela época, eu me lembro que no Ibirapuera tinha uma gincana, eu esqueci o nome agora, na verdade, era o salão da criança, tinha um salão da criança que existia no Ibirapuera e de vez em quando, a escola levava em excursões e etc., no Zoológico, o que eu me lembro mais é isso aí.
P/1 – Agora São Paulo, você falou um pouco da Penha, e São Paulo como é que era? Você já tinha conhecido alguma outra parte?
R – São Paulo eu vim a conhecer, na verdade, quando eu comecei a trabalhar, isso em 1964. Até 1964, eu só conhecia a Penha. Era muito interessante, porque você para ir de… você morava em um local para ir ali, a quinhentos metros era muito difícil você ir e não é comum você sair dali a quinhentos metros depois dali, né? Padaria ou coisa assim, era muito difícil. Então, você ficava fixo ali em determinado lugar e eu me lembro que eu tinha acho que uns nove anos, dez anos, a rua era de terra ainda e já existiam táxis e um japonês que dirigia um táxi, ele foi assaltado na porta da nossa casa e mataram o japonês ali na porta da nossa casa, olha só, naquela época isso, lá por 1963, 62, foi a primeira vez que eu vi uma coisa de violência assim, né, que foi um assalto que houve e tal, até me lembro que vieram repórteres, aquela coisa toda e tal. O fato negativo que eu lembro assim dessa época foi esse. Agora de São Paulo, mesmo, eu vim a conhecer quando eu comecei a trabalhar, porque aí eu comecei a trabalhar como boy e aí, eu tinha que ir para a cidade fazer trabalho de boy e foi aí que eu conheci o início da minha carreira profissional na empresa que chamava-se Light.
P/1 – Agora, umas últimas perguntas antes da gente passar para isso, você e o seu irmão como é que eram? Vocês na escola, no bairro, vocês sempre andavam junto?
R – O meu irmão, como ele gostava muito de fazer coisas que não era jogar bola e eu só jogava bola, ele gostava de caçar passarinho, caçar rã, nadar no rio, lá, essas coisas. Então, ele tinha uma turminha que ano era minha, mas a gente se dava bem, brigávamos como normalmente brigam irmãos de criança, mas a gente sempre se deu muito bem.
P/1 – E você jogava bola sempre? Jogava em que posição?
R – Goleiro. O meu sonho sempre foi ser goleiro e ser jogador profissional e na época em que eu era menino, todo mundo falava, elogiava, aquela coisa toda, então, ficou aquilo na minha cabeça e aí, comecei a acompanhar o futebol, conhecer um pouco mais e eu decidi, eu falei: “Vou ser jogador de futebol”, mas o meu pai precisava que eu estudasse e aí, essa parte do futebol ficou um pouco de lado. Mas ainda cheguei a ter oportunidade depois disso, mas nunca levei à frente porque o problema era que o meu pai queria que eu estudasse, então… não que ele tivesse cerceado o meu desejo, não é isso, porque eu penso assim, o que vai ter que acontecer, vai acontecer e não era para ter sido, não foi. Agora, eu quero que um dos meus netos seja (risos).
P/1 – E você tinha algum goleiro que você olhava e falava: “Esse cara…”?
R – Vários. Na época em que eu me lembro que eu acompanhei assim, tinha o Gilmar, que foi um goleiro da Copa de 58, 62. Aí no Palmeiras tinha o Valdir, tinha o Picasso, tinham outros goleiros que vieram vindo, mas meu ídolo assim como goleiro, quando eu comecei a entender, isso um pouco mais pra frente, foi o Leão, porque o Leão, eu vi ele começar e eu me lembro de uma situação que aquilo pra gente era um mundo completamente diferente e hoje, você vê, hoje eu sou amigo de um cara que jamais eu imaginava naquela época conhecer esse cara, que é um goleiro que atuou no Palmeiras antes do Leão, que jogava no São Bento de Sorocaba, o nome dele é Chicão. E o Palmeiras foi disputar um torneio na Espanha, que naquela época, os times viajavam, não tinha campeonato brasileiro, essas coisas, tinha só aqui em São Paulo. Então, tinha o paulista que era o campeonato mais importante e tinha o Rio-São Paulo com os times do Rio. Então, nesses tempos que não tinham os campeonatos, os clubes viajavam pra fazer excursão e o Palmeiras fazia muita excursão e disputou um troféu chamado Ramon de Carranza na Espanha que era um torneio famosíssimo, grandes times da Europa jogavam e o Palmeiras foi campeão pela primeira vez e o goleiro era o Chicão que acabou pegando dois pênaltis na final e hoje esse cara é meu amigo. E aí, o Chicão, eu comecei a acompanhar a carreira dele na época, e aí ele se machucou e logo em seguida veio o jogo que ia ser contra o Santos e o Santos naquela época era o maior time do Brasil e do mundo, que era o Santos do Pelé e o único time que ganhava do Santos, assim, existia uma sequência, todos os anos era campeão, o único time que quebrava essa sequência era o Palmeiras, por isso que formou esse gosto pelo Palmeiras também, né? E aí, num jogo contra o Santos, o Chicão tinha se machucado, o Leão entrou no lugar dele, acabou o jogo, o Palmeiras ganhou de 1 a 0, nunca mais saiu do gol. E aí, eu acabei… o Leão se tornou meu ídolo. Então, sempre que tinha oportunidade, por exemplo, eu sabia que o Palmeiras ia treinar em determinado lugar, naquela época, na TV Cultura, por exemplo, a TV Cultura tinha um clube, um campo de futebol muito bonito e o Palmeiras ia treinar lá e eu ia para ver o Leão treinar. Eu sentava atrás do gol para ver ele treinar, porque eu era goleiro, né? E aí, ele acabou se tornando o meu ídolo!
P/1 – Legal e o que você via nele, assim, que era mais…?
R – Eu achava que ele era muito bom goleiro, né? Ele tinha… não era um cara de muito estardalhaço de goleiro e na Copa de 70, ele tinha 19 anos, né? Ou seja, o tempo já passou aí, né, e na Copa de 70, de 69, 70 eram dois goleiros muito jovens, que era ele e o Ado que era goleiro do Corinthians, eram dois jovens, dois com 19 anos e um goleiro mais velho era o Félix, o Brasil tinha sido campeão em 62, perdeu a Copa de 66 e em 70, foi o time que pra mim, foi o maior time que eu vi jogar no Brasil foi a Copa de 70. Então, aí começaram a surgir esses ídolos. Então, o Leão, eu gostava dele por causa disso, porque pra mim ele era o máximo como goleiro. Até hoje, ainda é difícil ser goleiro como ele foi, na minha opinião, né? E aí depois, vieram outros, como o Marcos, por exemplo, que é um grande amigo meu, aí depois, nós vamos chegar na história lá na frente, você vai entender porque.
P/1 – Agora, uma pergunta voltada para a questão da energia. Você falou que antigamente, não tinha energia na rua?
R – Não. Aí com o tempo, era lampião de gás. Depois, começou a vir a energia elétrica e começaram a instalar os postes e etc. e tal, foi nessa época que começou a surgir essa situação. Então, a energia começou a surgir dessa forma e nessa época, eu me lembro muito bem, as famílias, elas ficavam sentadas na rua, de noite. Não tinha esse negócio de… ou era lampião ou era vela, né, as pessoas sentavam ali na rua, ficavam batendo papo no calor e tal, não tinha esse negócio de violência, não tinha nada disso. E aí depois, as coisas começaram a se modernizar e a Light começou a surgir e aí, a gente começou a ver que realmente as coisas começaram a acontecer e aí, veio a televisão, um monte de situações de modernidade e hoje é a internet que domina tudo, né? Mas eu peguei a época que não tinha nada disso, não tinha televisão, só tinha rádio.
P/1 – E como é que vocês faziam várias tarefas assim, sem energia, né?
R – Na verdade, é como eu te falei… como assim, você fala?
P/1 – Por exemplo, não existiam eletrodomésticos, imagino…
R – Não, existia só o rádio que iniciou, você sabia tudo pelo rádio. Aí, você já tinha energia para ligar o rádio, mas antes disso nem rádio tinha, né? Então, de noite assim, o programa da noite era você ficar sentado escutando rádio, né? Que foi o início, né? Agora, como tudo isso iniciou eu não me lembro, como começou a energia elétrica, mesmo, eu não me lembro assim, como foi que surgiu isso aí. Do asfalto na rua, eu lembro, da televisão que começou a acontecer eu lembro, me lembro também que quando começou a TV a cores, né, era muito engraçado que… aí eu já namorava com a minha mulher e o meu sogro, que ele já tinha uma condição melhor, ele tinha televisão e a turma que não tinha TV… a televisão a cores estava surgindo, isso já em 1974. As pessoas colocavam um papel na frente da televisão, ele era colorido e aquilo ali fazia com que as pessoas assistissem a TV a cores, vamos dizer assim, porque o papel que estava na frente era colorido. Muita gente fez isso, né?
P/1 – Ah é?
R – É. E aí, em 1974, quando surgiu a TV a cores, assim, e foi a primeira Copa do Mundo em 74, eu tive o prazer de ter a televisão a cores, que aí já vem a história que eu vou te contar depois como é que aconteceu isso, né?
P/1 – De você ter comprado a TV?
R – Isso! Isso foi na Copa de 74, eu já estava na Light, foi quando saiu a TV à cores, a Copa do Mundo foi passada para o Brasil a primeira vez colorida, foi nessa aí.
P/1 – Agora, você estava estudando alguns anos…
R – Fui estudando e eu me formei em 76 na faculdade, mas a partir daí depois que eu me formei, eu não fiz mais nada assim, na escola. Eu terminei minha vida escolar mesmo foi em 76, quando eu me formei em Administração.
P/1 – Entendi. E quando você estava mais na adolescência, o quê que vocês faziam para se divertir?
R – Naquela época tinha cinema, era matinê, onde todo mundo se encontrava, formava fila para entrar no cinema, então, tinham os filmes épicos da época, que era “Os Dez Mandamentos”, “Ben Hur”, um pouco depois, já veio “Dr. Jivago”, que era um filme famoso e aí, eu já conhecia um pouquinho o centro da cidade, porque eu já trabalhava, tinham os grandes cinemas no centro de São Paulo, que não tem mais, infelizmente. E a nossa diversão na adolescência era essa, ir ao cinema e naquela época, você não tinha muita intimidade com namorada, até pra você namorar era complicado, né, porque os pais eram muito rígidos, né, então para você sair com uma menina para ir ao cinema, por exemplo, tinha que levar a irmã dela junto…
P/1 – Ah, é?
R – É.
P/1 – E como é que funcionava?
R – As meninas, normalmente, só iam se o pai mandasse a irmã, até para te policiar. Então, era assim. Então, você torcia pra apagar logo a luz do cinema pra ficar escuro pra você se aproximar dela, pegar na mão, aquelas coisas, né? Então, tudo era assim, não era como hoje, essa liberdade toda! Lógico que tinham algumas coisas, mas a gente não conhecia, até pela educação que a gente tinha. A gente não tinha muita clareza de como era uma vida sexual, uma vida íntima entre as pessoas, não tinha muita liberdade pra você saber essas coisas, era tudo tabu. Inclusive, me lembro que quando surgiu a oportunidade da gente ir ao cinema nessa época, tinha um filme chamado “Tabu Número 1” e “Tabu Número 2”, onde passavam algumas coisas nesse aspecto de erotismo, onde tudo começou… nosso aprendizado foi assim que aconteceu e naquela época também, não existiam revistas pornográficas, existia o que a gente chamava de catecismo, né, que eram (risos) os livretos preto e branco desenhados, a gente começou a ver coisas assim, relacionadas com o sexo através desses livrinhos que era muito escondido, não era tão liberal, assim. Poucas pessoas conheciam aquilo. Então, pra mim, principalmente, para o meu irmão, a gente foi educado por uma educação muito conservadora, que foi muito difícil você aprender muitas coisas. Nessa adolescência que você perguntou, não tinha tanta liberdade assim. Então, eram coisas muito puras, tinham os bailinhos na casa das pessoas quando tinha um aniversário, coisa assim, que aí, tocava um disco lá e tal, mas não tinha essas coisas que têm hoje.
P/1 – E esses bailes, como é que eles eram?
R – Então, convidava os vizinhos lá, aí tinha um toca-discos, discos que eram LPs, vinil e ali, tocava umas músicas e aí a turma começava a fazer um drink, que na época, eu me lembro muito bem que era cuba-libre, que era rum com Coca-Cola, era essa a bebida da época, até tem uma música que fala isso e nos bailinhos acontecia isso. Mas os bailinhos eram nas casas das famílias, aí depois que começaram a surgir os grandes conjuntos, chamava “conjunto” naquela época, hoje é banda, né? E aí, que a gente começou a aprender algumas coisas assim, na adolescência de bailinho, dançar, essas coisas.
P/1 – E você conheceu a sua esposa nessa época ou foi antes?
R – Então, eu conheci a minha esposa em 1966, é 66, 67, que era época da Jovem Guarda, quando a Jovem Guarda começou, que aí já tinha televisão, né, e tinham os programas da Jovem Guarda na televisão, anos 60, anos 70. Esses anos 60 foram muito legais, época dos Beatles, né?
P/1 – Você acompanhou essa…?
R – Acompanhei muito! Na época do Roberto Carlos, a gente… Roberto Carlos era um cara famosíssimo na música popular no Brasil, a gente esperava ansiosamente sair o LP dele pra comprar, porque todo mundo gostava. Então, tinha todos os LPs que ele lançava, os Beatles na época, né? Elvis Presley, enfim, foi muito legal. Essa época foi legal na música.
P/1 – E como é que você conheceu ela?
R – Então, aí eu estava na faculdade e eu morava num bairro um pouco distante da Penha, onde o meu pai comprou a casa e a minha tia morava no quintal da minha esposa, ela morava de aluguel lá. E eu antes de ir para a escola, passava na minha tia pra jantar pra ir para a faculdade, foi onde eu conheci a minha esposa, que ela morava no quintal. Ela era uma menina, ela tinha 13, 14 anos, eu tinha 16. E ali, começou o namoro e aí, nós fomos casar em 1971. Eu casei com 22 anos e ela casou com 20. A gente casava muito jovem na época, porque naquela época era totalmente diferente de hoje, né, as mulheres tinham o sonho de casar, constituir uma família e os valores eram totalmente diferentes de hoje, valores de família, etc. E a gente se casou e eu acabei conhecendo ela assim, porque eu ia jantar na casa da minha tia, no quintal que ela morava, o pai dela que era dono da casa lá, acabei conhecendo ela, a gente começou a namorar e aí, 44 anos de casamento, mais uns dez de namoro.
P/1 – Qual o nome dela?
R – O nome da minha esposa é Alvair Amaral Tanjioni. Ela tem uma irmã que chama Neusa, também. Só tem uma irmã.
P/1 – Agora a gente vai entrar na Light, então. Você estava com 15 anos quando você entrou lá, é isso?
R – Então, eu estava com 15 anos de idade…
P/1 – Seu pai falou que você tinha que trabalhar…
R – Que eu tinha que trabalhar, então o que aconteceu? Eu fiquei seis meses num escritório de contabilidade, que era perto de casa até pra começar a aprender alguma coisa e nesse escritório foi onde eu comecei a sair para a cidade para fazer trabalhos de office-boy e nessas idas e vindas aí da cidade, eu ia em cartório, eu ia em uma série de lugares ali, Secretaria da Fazenda, etc., que antigamente era na Rangel Pestana, agora não é mais lá, fazia muito trabalho lá, eu passando pelo Viaduto do Chá, um colega da época falou pra mim que a Light estava fazendo inscrição para pegar jovens e aí, eu fui. Entrei lá na Light e fiz uma ficha e aí, a pessoa falou assim pra mim: “Você aguarda que assim que definir, você vai receber um telegrama”. E passaram, acho que uns 15 dias depois, eu recebi esse telegrama que foi a maior alegria que eu dei para a minha mãe e para o meu pai, porque a Light naquela época chamava-se Light Serviço de Eletricidade S.A que era no prédio que hoje é o Shopping Light, aquele prédio chama-se Alexandre Mackenzie, e esse prédio hoje é tombado, né, porque a estrutura dele é muito bonita, então não pode ser mexida. E eu comecei a trabalhar nessa empresa com 14 para 15 anos de idade, em 1964. Então, eu entrei lá no dia 3 de agosto de 1964 e foi a maior alegria para o meu pai e para a minha mãe. E naquela época, a Light contratava os meninos menores e tinha um setor dentro da empresa que só cuidava dos menores. Então, esses menores eram acompanhados até 18 anos por uma pessoa que era responsável e essa pessoa chamava-se Armando Rossati e esse cara era muito exigente, ele seguia, mesmo, os jovens naquela época, onde os caras iam, ele ia e quando fazia coisa errada, era complicado, podia até perder o emprego. Então, você tinha que usar um cabelo americano curto naquela época, você deve ter visto na foto, lá, coisa ridícula (risos). E ele acompanhava mesmo. Então, até eu me formar, 18 anos, a gente era acompanhado por essa pessoa, por esse departamento, mas foi muito legal porque a gente aprendeu muitas coisas, como ser um profissional e etc., né? E a Light naquela época, no rés do chão, onde hoje é as Lojas Renner ali, que você entra pelo Viaduto do Chá, ali existiam mais ou menos, uns 30 ou 40 caixas onde eles recebiam contas de luz, porque naquela época, os bancos não recebiam a conta ainda. Era tudo pago lá. E quando eu assumi os 18 anos, eu me tornei caixa. Então, eu entrei como aprendiz de caixa. Então, o que eu fazia? Os caixas recebiam as contas de luz e tinha uma bancada onde tinham todos os jovens, os garotos que entravam, a gente era o que se chamava de somador, a gente somava as contas de luz e fazia o relatório do que entrou naquelas contas de valores e etc., e passava pra mecanizada que onde começou todo o processo da informática, né? E o nosso trabalho era esse, fazer a somatória de tudo que era recebido e tal. E aí, o departamento de cobrança onde eu também trabalhei um pouco, até eu chegar aos 18 anos, onde eu fui ser caixa, mesmo. Caixa recebedor. E aí, eu fiquei de caixa ali recebendo conta de luz e eu me lembro muito bem, tenho muitas saudades daquela época, aquele prédio ali é muito marcante na minha vida. No dia 10, por exemplo, que era o dia que venciam as contas de luz, você não conseguia andar no saguão do prédio de tanta gente que tinha pagando conta e a fila chegava lá na rua. Então, era muito legal porque a gente conheceu muitas pessoas, né? E as pessoas iam sempre pagar a conta de luz naquele caixa que eles gostavam do recebedor, que no caso, um deles era eu. Então, eu fiz muitas amizades ali com pessoas que eu nem sei quem são. Conheci muitos artistas que iam pagar contas. Uma passagem marcante pra mim como caixa foi um dia, logo de manhã, que era fechado com vidro e quando abriam as portas, todo mundo entrava correndo para ir pagar as contas e tal e já tinha uma pessoa lá que eu não sabia quem era e quando eu abri, era o Walter D’Ávila, que trabalhava na Escolinha do Professor Raimundo e ele sempre foi aquele característico dele era que ele usava gravatinha borboleta e… quando eu olhei pra ele, não aguentei, comecei a rir, mas ele era um cara legal, a gente conversou assim, então aquela época foi muito marcante pra mim. E nessa empresa, existia um grêmio dentro da empresa que chamava-se Grêmio Recreativo Alexandre Mackenzie, era o time de futebol nesse lugar aí, da tesouraria que era a área que eu trabalhava e dentro da empresa, tinham vários times, e todo ano, era feito um campeonato na Usina Piratininga, que existe até hoje essa usina da Eletropaulo e lá, existia um clube onde tinha um belo campo de futebol, onde eram disputados esses campeonatos que eram realizados dentro da empresa e para lá, iam todas as famílias de quem jogava. Então, era feito um churrasco, aquela festa e tal e era o dia inteiro o jogo. Então, eram tudo campeonatos eliminatórios e tal. E foi aí que eu comecei a aparecer jogando futebol, né? E aí, o meu time em que eu jogava que era da Tesouraria foi campeão, peguei pênalti no jogo final e tudo e aí, existia o Sindicato dos Eletricitários que existe até hoje na Rua Tomaz Gonzaga e o Sindicato dos Eletricitários ia montar uma seleção para jogar um campeonato intersindical. Então, eles formaram uma seleção dos eletricitários e eu fui um dos primeiros goleiros a ser contratado para jogar na seleção dos eletricitários. E aí, começou tudo, aí eu comecei, realmente, já estava com 18 anos, já jogava até na Penha, eu joguei num time de futebol lá desde que fundou até quando acabou que se tornou muito famoso na várzea de São Paulo, que tinha um programa chamado Desafio ao Galo, passava na televisão de manhã, domingo de manhã e esse time do meu bairro que foi onde eu comecei a jogar futebol e depois, eu fui para a Eletropaulo e joguei lá, etc., esse time chamava-se Botafogo da Penha. E eu joguei no Botafogo desde que fundou até quando acabou, nós ficamos três meses sem perder, quem ganhava ficava, nós ficamos três meses sem perder lá. Foi um dos times que mais tempo ficou nesse programa de televisão que tinha domingo de manhã na televisão, na Rede Record. E aí, eu jogava paralelamente lá no time da empresa, etc. e tal e aí, foi indo, foi indo e aí, eu já com 20 anos, eu já tinha feito um curso de Contabilidade e nesse campeonato interno que existia dentro da empresa, eu conheci muitas pessoas da área de Contabilidade geral, que era um time muito bom que eles tinham também, eles me convidaram para ir jogar com eles. E aí, eu falei: “Pra jogar com vocês, eu preciso sair da Tesouraria”, como eu já era formado em Contabilidade, houve um acerto entre as chefias e eu fui transferido da Tesouraria para a Contabilidade Geral, onde eu fui trabalhar na Folha de Pagamento e lá, todos os anos tinha uma festa que eles faziam de casados e solteiros da seção, era muito legal, muita rivalidade, muito legal e a família inteira, todo mundo, era churrasco e era nessa Usina Piratininga. E aí, foi quando em 1974, dez anos depois de eu ter entrado na Light e a Light tinha umas características muito interessantes, nós tínhamos duas horas de almoço e nós, que éramos caixa antes de eu ir lá para Folha de Pagamento, a gente tinha duas horas de almoço, então tinha um local na hora do almoço, começava às dez horas da manhã o almoço e ia até duas horas da tarde. Então, cada lugar era um horário diferente e para ficar passando o tempo das duas horas, tinha um local só de lazer que era pingue-pongue, dominó, etc. e tal e no sexto andar do prédio tinha um cinema que passava os filmes da época, famosos e tal e tinham os horários também das sessões. Então, para adequar os horários do pessoal que almoçava. Então, quem não queria jogar, ia no cinema ou ia passear na cidade, ficar fazendo hora lá e tal. E foi tudo assim. Foi quando em 1974, trabalhando na folha de pagamento, eu achava que a empresa estava pagando muito pouco, não só eu, todo mundo achava e eu resolvi mudar de vida e aí, a empresa não mandava ninguém embora e aí, eu queria ser mandado embora de qualquer jeito e esqueci do orgulho que eu dei para o meu pai, porque eu já era casado em 74, já tinha três anos de casado, dono da minha vida, esqueci daquele orgulho que eu dei para o meu pai e resolvi ser mandado embora. Aí, para eu ser mandado embora, eu tive que entrar com uma ação trabalhista de equiparação salarial de um colega, porque quem entrava com uma ação trabalhista, eles mandavam embora. Aí, eu forcei a barra e dessa forma eu fui mandado embora no dia… está marcado na carteira, 27 de julho de 1974 e aí, eu sai da Light e aí, começou uma mudança, uma transformação na minha vida… pode continuar contando?
P/1 – Eu só queria antes de você prosseguir, perguntar como é que era esse prédio que você falou…
R – Então, esse prédio é muito interessante porque tem umas características ali, né? Então, são paredes de mármore, tudo de ferro, uma arquitetura completamente diferente de hoje, né? Então ali dentro, elas estão todas mantidas intactas, de vez em quando, eu ainda vou lá, não para ir no shopping, mas para tentar ficar lembrando de algumas coisas. Tem colegas meus que às vezes, passam o dia sentados lá, de tanta saudade que a gente tem daquela época. A gente era uma família nesse lugar, a turma da Tesouraria que a gente era como se fosse uma família, todos cresceram juntos ali nos dez anos que a gente ficou por ali, que até hoje, a gente se encontra, os que estão vivos, né, num sítio de um colega da mesma época onde se encontra todo mundo da mesma época naquele sítio, vai com a família no sítio de um deles e passa o dia ali, relembrando aquelas… aí, uns trazem uma foto, outros trazem outras e aí, você começa a lembrar. E é muito engraçado porque tem cara que você não vê faz 30 anos! Aí, ele vem chegando e você: “Mas quem é você?”, aí ele começa a contar, é uma coisa muito legal. Até hoje está preservado isso aí, daquela época, lá de 70 e poucos, lá… e tem gente que é daquela época que é muito mais antigo do que eu, que viveu uma outra… então, é uma coisa de família, mesmo, ficou muito gravado. Eu, particularmente, eu tenho muitas saudades dessa época, foi a primeira fase que eu tive na empresa, eu tenho muitas saudades dessa primeira fase, aí depois, teve a segunda fase que eu vou contar, mas nessa época da Light… o prédio lá, ele está intacto, do jeito que era. Eu não subi ainda no sexto andar para ver se ainda tem a sala do cinema lá, mas tem uma sacada muito bonita lá em cima, quando você sobe lá do cinema, você abre a porta do cinema, você entra assim, você sai num corredor onde você vê São Paulo inteiro lá de cima. E eu me lembro de uma passagem muito triste daquela época, foi quando tiveram dois incêndios muito importantes dentro de São Paulo, um foi no Andraus e o outro foi lá no… não me lembro agora se o Andraus era onde hoje é a Nove de Julho ou se o Andraus é onde era perto da Avenida São João. E ali, morreram muitas pessoas naquele incêndio, né? Foi muito famoso na época, né, ficou muito marcado. Muitas pessoas morreram naquele incêndio e a gente estava ali naquele prédio, a gente via tudo que estava acontecendo ali, umas passagens que eu lembro disso.
P/1 – Você falou que o pessoal ia pagar as contas, a cidade inteira ia pagar contas na Light?
R – Tudo na Light. Quem era de São Paulo, né, da capital aqui. Quem era do interior pagava na Light onde tinham as filiais, né, no interior. Porque a Light abrange apenas uma determinada extensão e depois, tem a Companhia Paulista de Força e Luz, né, e outras empresas de energia elétrica que foram surgindo e foi dissimulando até para dividir. Mas a Light tinha uma grande extensão que hoje, realmente, eu não me lembro quantos quilômetros eram atendidos e continuam. Tem as usinas que eu cheguei a conhecer algumas delas, a Henry Borden, por exemplo, que é lá em Cubatão, eu cheguei a ir lá fazer um trabalho naquela usina, que eu fui conhecer, muito legal e para você subir lá no topo da montanha em Cubatão, onde tem aquele fogo que fica aceso sempre, 24 horas ali, para você subir até lá, você sobe no que chama troller, é o carrinho que te leva até lá em cima, ele é mecânico e eu cheguei a conhecer aquela usina. E tem outras várias usinas que abastecem a energia de São Paulo, né? Como eu trabalhei só na área administrativa, eu não conheço muito a área operacional, conheço mais assim de ouvir falar, mas não de estar no dia a dia, mas esse prédio da Xavier de Toledo, ele era o escritório central aqui de São Paulo, mas tinha a Light Rio na época também, no Rio de Janeiro. E havia o intercâmbio entre a Light São Paulo e Rio nos passeios e festas, todo ano tinha isso também. Mas aquele prédio ali é muito marcante, porque a gente viveu a vida inteira ali, né? Então, dez anos são uma história de vida que eu tive ali. Hoje é um shopping, então tem andares, você vai lá, cada um vai estar intacto, do jeito que era, continua assim… até o elevador! Muito legal. Naquela época, eu me lembro também que é uma coisa que passou quando eu estava contando, que tinha o horário que o pessoal ia servir o café e o café era feito lá dentro, na sobreloja e o cara que servia o café chamava Meia-noite, porque ele era negro e todo mundo sabia o horário que ele ia passar e tinham muitas brincadeiras que os caras faziam cada uma lá, né? São passagens que a gente não esquece. Na hora do café era muito engraçado, você escutava o barulhinho da xícara, você sabia que estava vindo o café. E os pagamentos também de salário naquela época não era em banco, tinham os pagadores e eu trabalhava na tesouraria, então nós da nossa área que fazíamos os pagamentos. Era um carrinho onde era tudo envelopado o salário das pessoas e esse carrinho ia de andar em andar, parava, sentava numa mesa e chamava um por um dos funcionários para receber, o cara assinava lá o relatório e recebia o envelope com o dinheiro. Não era em banco, como é hoje, né? Naquela época, era dado na mão das pessoas. Era assim que acontecia, são coisas muito marcantes assim, né?
P/1 – E quem mais você lembra assim, de amigos, ou personagens que você… trabalhava lá?
R – Amigos, eu tenho vários ainda, até hoje que marcaram muito como amigos da empresa. Os chefes que eu tenho muitas saudades, porque eram caras assim, muito legais, apesar de serem rígidos, mas se tornaram amigos além de chefes, né? E alguns já morreram, mas tem alguns ainda que estão vivos e quando tem essas festas aí, a gente se encontra ainda, né? Então, tem vários deles que a gente ainda conversa, troca… hoje com a internet fica até mais fácil, porque você entra no Facebook, aí você começa a se comunicar com eles, né? Até tem um desses amigos meus que postam fotos dessa época do grupo, do clube que chamava GRAM – Grêmio Recreativo Alexandre Mackenzie e aí, jogava futebol nessa época ali onde é o sambódromo, ali tinham vários campos de futebol na época e nós jogávamos ali de sábado de manhã e hoje em dia, esses amigos que estão por ali ainda que estão na internet, a gente se comunica através desse meio, né?
P/1 – Agora, como caixa, você tem alguma história que você se lembra assim, ou alguma pessoa que você conheceu, que você até disse, né, que você conheceu várias pessoas…
R – A gente conheceu assim, mas não foi de fazer muita amizade, mas eu lembro que tinham umas situações por exemplo, como eram muitas contas que você recebia, quando você fechava o caixa e faltava dinheiro, você tinha que pagar e às vezes, acontecia de sobrar, só que você não sabia quem era, então você mexia com muito dinheiro. Era uma responsabilidade muito grande, você tinha que ter muita atenção naquilo que você fazia, então ficar batendo-papo, por exemplo, se alguém ficava ali, vinha ali só para bater papo e a fila andando e o cara do lado conversando, o chefe passava e batia no vidro, que não podia conversar. O chefe via, ele ficava andando no corredor e olhando, se o cara estava batendo papo, ele já chamava a atenção. Ou então, se o colega estava de folga ali no momento em que ele estava de folga, ele vinha e entrava dentro do caixa do outro para ficar conversando, também não podia, era chamada a atenção. Então, amizades a gente fez assim, mas não amizades assim, mas de conhecer. Todo mês o cara vinha ali no caixa pagar conta, né? Então, era legal, foi muito marcante isso aí na minha vida.
P/1 – E você lembra de alguma outra situação curiosa que você passou no trabalho?
R – Então, nessa época da Light tinha muita! Na folha de pagamento, por exemplo, quando eu fui lá para… ah, uma passagem muito engraçada que teve na época da Tesouraria ainda no caixa, tinha um senhor que se chamava Carmelo, ele era um italiano, daqueles italianos bem tradicionais e ele era palmeirense fanático, sabe? Coitado e ele era muito humilde, o que os caras faziam com ele dava até dó, rapaz! Então, para você ter uma ideia, ele gostava tanto de futebol e tanto do Palmeiras, que ele odiava todos os outros times, né? Então, imagina assim, ele gostava do Ademir da Guia, os caras para mexer com ele, falavam que o Ademir da Guia estava no telefone e que queria falar com ele. Ele ia lá atender o telefone e um cara do outro lado falando como se fosse o Ademir da Guia. Essa é uma das histórias pra você entender como é que era. Coitado, ele era tão humilde que ele acreditava que era o Ademir da Guia mesmo. Essa é uma delas e fora outras que… ele gostava muito do Caruso que era um tenor italiano e se você xingava o Caruso, ele te xingava, ele queria brigar, o caramba. Então, são umas passagens assim, muito engraçadas que aconteceram. E na folha de pagamentos também, tinham muitas brincadeiras que eles faziam nesse sentido, né? E tinha um chefe nosso, um cara inesquecível também, infelizmente, ele morreu, corintiano fanático, rapaz, ele era e tinham umas brincadeiras lá, tinha uma mulher que trabalhava na seção, ela era muito bonita, ele era apaixonado por ela e os caras faziam umas brincadeiras, sabe? E um dia, na verdade, só tinha ela de mulher, ela e mais uma que ficava na seção. E um dia, acho que ela tinha brigado com o namorado e tinha umas fotos que ela estava vendo lá, ela ficou nervosa, rasgou a foto e jogou dentro do lixo. Os caras foram no lixo e não teve dúvida nenhuma, né, colaram todas as fotos, ela de biquíni, aquilo ali passou pra todo mundo ver. É uma das histórias engraçadas que aconteceram e o chefe era apaixonado por ela, aqueles italianão, que não teve muita instrução, andava todo numa linha, sabe, o cara era muito legal. E a gente sabia de algumas histórias que tinham ali de relacionamentos. Mas foi muito legal, é uma passagem muito interessante.
P/1 – Você diria que as pessoas respeitavam a Light, achavam que ela era importante?
R – Sim. Aquilo ali foi uma história de vida para muita gente, né? Tem colegas que chegaram a fazer 40 anos de empresa, né, outros, 30, 35, que aquilo ali era uma empresa apesar de que você não ganhava muito bem, mas era uma empresa onde você tinha segurança, dava segurança para a sua família ali. Então, todos à época, que eu lembro que estão vivos, ainda, que às vezes, eu ainda tenho contato, todos eles… tudo muito marcante. Quando eu conto histórias da época, a gente era feliz e não sabia, né? E eu, por exemplo, quando eu saí, eu sai em 74, fui voltar em 87, 13 anos depois, eu me arrependo muito de ter saído, porque se eu tivesse ficado lá, com todos os benefícios que vieram depois disso, ah, eu tinha me aposentado muito melhor do que eu me aposentei. Mas eu aprendo assim, também que nada acontece por acaso, então tudo é experiência na vida, mas todos eles que eu encontro, que eu tenho amizade ainda, até hoje, eles falam que a Light era uma empresa… e era mesmo, né? Era uma empresa… na cidade de São Paulo, era muito tradicional, Light, Correios, eram empresas… por isso que eu te falei do orgulho do meu pai, não era qualquer pessoa que tinha a possibilidade de trabalhar lá. Imagina para um pai ter um filho trabalhando, né? Então, eu fiquei muito triste depois que começou a acontecer muitas coisas na minha vida depois que eu saí, agora, quando eu voltei, 13 anos depois, aí eu reconheci que realmente eu tinha perdido 13 anos da minha vida por um erro que eu cometi lá atrás, mas como tudo é experiência, fez parte do contexto.
P/1 – Agora, os clientes, você achava também que eles viam a Light com bons olhos?
R – A Light era muito respeitada, eu lembro que tinha um departamento que era o Departamento Comercial, onde se fazia os contatos com os consumidores e aí, as pessoas onde a Light cortava a luz das pessoas, porque o cara deixava de pagar e tinham muitos artistas que vinham lá pedir para religar, aquela coisa toda e tal. Existia divergências. Para você ter uma ideia, esse setor comercial eram várias mesas, centenas de mesas com os funcionários, onde as pessoas vinham fazer a reclamação pessoalmente, não era por telefone, era pessoalmente o negócio, né? Até me lembro que numa dessas passagens, que eu trabalhava no Departamento de Cobrança na época, na Tesouraria e aí, você acabava conhecendo artistas, pessoas conhecidas e eu fiz amizade numa situação dessa que cortaram a luz de uma pessoa, essa pessoa era tia do Dener, que era um famoso costureiro que existia no Brasil, aqui em São Paulo, nessa época e essa moça era secretária da tia do Dener e ela que veio resolver o problema. Veio comigo e eu resolvi o problema para ela e eu fui tratado que nem Deus, até fui conhecer a casa deles e tudo, né? Então, tudo era assim. Eles sabiam que eles tinham errado, agora quando a Light errava, ela corrigia, porque tinha um tempo de religação da luz, não era simples assim, né? Tinha o tempo, você tinha que pagar a religação e mandar o caminhão lá para ligar outra vez. Então, depois de muitos e muitos anos, que eu vou chegar lá na história, ela foi privatizada, aí o negócio hoje é tudo feito por empresas terceirizadas, que mudou completamente essa relação que existia entre o consumidor e a empresa.
P/1 – Você saiu de lá e você foi trabalhar onde?
R – Quando eu sai de lá, eu sai porque eu forcei a barra para ser mandado embora, um colega meu me arrumou para trabalhar na Philips do Brasil, onde eu fui trabalhar na diretoria de administração dessa empresa, mas eu não me adaptei ali, eu fiquei no máximo, acho que foram nove meses naquela empresa e quando eu sai da Philips, eu comecei a entrar na área comercial, aí fui ser vendedor, comecei a trabalhar como vendedor, para você ter uma ideia, nesse início de vendas, eu vendia lustres, eu era um vendedor autônomo. Vendia livros odontológicos e tal, até entrar numa empresa que era uma empresa francesa, chamava-se Vibrachoc, ela vendia amortecedores de vibração, um amortecedor que você colocava embaixo de máquinas imperatrizes para diminuir o barulho e a relação da máquina com o solo. Então, o amortecedor amortecia a vibração da máquina para o chão, para não dar reflexo nos outros compartimentos, né? E ali nessa empresa, fiquei dois anos e meio, onde adquiri uma experiência muito grande na área comercial e fui montar uma empresa, uma filial dessa empresa francesa em Santa Catarina, mais propriamente em Joinville, que o maior centro industrial de Santa Catarina era em Joinville, na época, tinha umas 700 empresas, onde eu fui na época, fazer um trabalho de criação de uma filial da Vibrachoc. E ali, eu fiquei pouco tempo também, porque logo que eu fui pra lá, eu sofri um acidente na BR116, onde eu perdi um carro novinho, não perdi minha família, porque não era hora de perder, mas aquilo ali mexeu muito, isso foi em 1977. Isso mexeu muito comigo, não só pessoalmente, como profissionalmente e ali, realmente, pelo trabalho que eu fiz ali em seis meses, nove meses, mais ou menos, eu deixei uma pessoa lá que até hoje, ela é representante da Vibrachoc no mundo, lá naquele lugar no Brasil e a Vibrachoc é francesa e eu fiquei lá pouco tempo e voltei para São Paulo. Quando eu voltei para São Paulo, eu já fui trabalhar numa outra área, que era uma área de radiadores, que era a Colmeia Radiadores. E na Colmeia, eu fui trabalhar em vendas, mas mais interno, né? E aí, estava trabalhando nessa área de vendas da Colmeia, quando surgiu uma oportunidade, através do futebol, de eu ir para a Goodyear, que era a Companhia Goodyear do Brasil. Quando surgiu essa oportunidade, eu estava assistindo jogo de futebol no clube que eu frequento e a Goodyear foi jogar lá e a Goodyear nessa época, isso em 1986, estava montando uma seleção pra jogar num programa de televisão que era o programa Desafio ao Galo, que eu falei pra você anteriormente e eles estavam montando uma seleção para jogar lá e dentro da fábrica da Goodyear aqui em São Paulo, que era no Belenzinho, existia uma grande rivalidade dentro da fábrica, cada setor tinha um time de futebol. E a Goodyear em Americana hoje é a potência lá, no Brasil, a potência está em Americana, aqui no Belenzinho não está tanta como está lá em Americana. Daí, quando eu entrei, em 1980, na verdade, eu entrei na Goodyear em 1980, por quê eu entrei lá? Eu estava assistindo esse jogo e vários jogadores que estavam jogando na seleção da Goodyear me conheciam da várzea, da gente ter jogado contra, jogado junto, etc. e aí, eles me apresentaram para a diretoria da Goodyear que estava no campo, aí falaram de mim para eles e tal, e eles me chamaram para uma entrevista, onde o assunto foi futebol, mas o assunto também era profissional. Aí, eles perguntaram qual era a minha formação, aí eu falei: “Sou formado em Administração de Empresas”, eles falaram: “A Goodyear hoje está num processo de mudança e hoje, as pessoas que a gente tem na produção como chefes de produção, eles são todas pessoas oriundas lá de trás, da produção e chegaram a chefes, mas não têm o discernimento que precisa hoje de lidar com o funcionário, etc. e tal e a gente vai começar a criar cargos e trazer pessoas que têm curso superior para poder modificar completamente o tratamento que é dado aos funcionários do relacionamento, da produção e etc.”, e aí, eles me fizeram numa proposta, onde eu ia ganhar muito bem, era o dobro do que eu ganhava na Colmeia e eles falaram: “Só que você vai ter que jogar bola” “Jogar bola é o de menos, né? Só que eu ia trabalhar num linha de produção onde eu não conhecia, eu não conhecia produção, eu conhecia administração, mas não na produção e aí, me levaram na fábrica para eu ver como que era, para ver o que eu achava. Era um ambiente completamente diferente de tudo aquilo que eu conhecia, era um calor insuportável, um cheiro de borracha muito grande, porque era construção de pneu e aí, eles explicaram pra mim que eu ia comandar uma equipe de 80 pessoas e não bastasse isso, eram três horários, uma semana você entrava às seis horas da manhã, saía às duas, aí, você tinha a folga. Na outra semana, você entrava às duas, saía às dez da noite e não outra, você entrava às dez da noite e saía às seis da manhã, cada semana era um horário. Aí, me propuseram tudo aquilo e pelas condições que eu tinha naquele momento, eu ia unir o útil ao agradável, eu ia jogar, ia trabalhar, ia ganhar muito bem, eu resolvi aceitar e foi quando eu morava na casa do meu sogro, sempre morei, desde que eu casei, na casa do meu sogro, morava de graça lá, e através da Goodyear, surgiu a oportunidade de eu comprar a minha casa própria. E ali, eu fiquei durante seis anos. E foi muito engraçado, porque quando eu cheguei na Goodyear nessa situação do futebol, da rivalidade, o setor que eu fui trabalhar tinham várias pessoas que jogavam, que foram contratados de fora e um deles era um ex-profissional do Palmeiras. E ele foi trabalhar justamente no meu setor que eu era chefe e ele também era, então, ele trabalhava numa turma, eu trabalhava na outra em horários diferentes. E foi onde eu conheci esse cara, esse cara foi o cara que substituiu o Juninho Botelho no Palmeiras quando ele se aposentou. E ele trabalhava na mesma seção que eu. Ele já tinha jogado no Palmeiras e tal e ia fazer parte do mesmo time, dentro da fábrica. E aí, ia ter um campeonato. Mas o melhor time que eles formaram com todos os jogadores que foram contratados para a fábrica para formar essa seleção que ia jogar era mecânica, então os maiores jogadores que eles contrataram estavam todos na mecânica e nós estávamos num outro setor. Aí, teve o campeonato interno e aí, quem chegou na final? Nós e a mecânica. E o jogo final, eu chegando na Goodyear, em 1986 foi assim, o jogo final foi para os pênaltis, foi para o 0 a 0, prorrogação e eu peguei três pênaltis. E aí, cheguei chegando, né? Aí os caras começaram a gostar de mim, a peãozada, que a gente chamava de peão os funcionários da fábrica e aí, começou a pegar amizade, aquela coisa toda, todo mundo começou a te conhecer e como eu não conhecia nada de produção, através dessa amizade que eu fiz com eles, o tratamento que eu tinha com eles, eles me ensinaram o que eu precisava aprender para administrá-los, entendeu? Foi muito interessante. E foi uma das maiores experiências profissionais que eu tive, porque eles deram condições de nós podermos fazer um curso que chamava-se Princípios Fundamentais de Gerência, onde a gente aprendeu muito a lidar com o ser humano, o relacionamento, etc., na linha de produção e aquela coisa toda e onde eu fiquei durante seis anos lá. E foi quando eu comprei a minha casa própria, minha vida se reestruturou, aí, eu passei a ter três filhos, eu já estava com meus três filhos nessa época, e então foi assim que aconteceu. Na minha vida pessoal, voltando um pouco no meu casamento, a minha primeira filha demorou cinco anos para vir e quando ela nasceu, ela nasceu cega, com um problema seríssimo congênito, que para toda a sociedade, ela era cega, mas a gente foi vendo com o tempo, através de aprendizado, através da fé que ela não era cega, né? E hoje, essa menina está com 40 anos de idade e é psicóloga, trabalha no Hospital Nipo-Brasileiro, como responsável por pessoas da sociedade deficientes que procuram o hospital. E ela que administra tudo isso. Essa é a minha primeira filha. Aí, depois vieram mais dois, a segunda é professora e o terceiro é o Rafael, que está na AES Brasil hoje, que a gente vai chegar lá agora. Então, foi tudo assim, esses seis anos da Goodyear foi uma história extraordinária, assim, profissionalmente, o futebol eu deixei para o segundo plano, até porque a idade foi avançando, tudo e aí, a gente acabou indo jogar no Desafio ao Galo, fomos campeões lá também e eu ganhei muito dinheiro, mas eu não era feliz, por causa do problema dos horários. E aí, eu fiquei de 80 a 86. Final de 1986, surgiu a oportunidade de eu voltar para a Eletropaulo através de um amigo da folha de pagamentos que fazia 13 anos que eu não o via, no momento que eu encontrei com ele, 13 anos depois, a gente começou a conversar, ele falou: “O que você está fazendo?”, eu contei a minha história de vida para ele, da Goodyear e tal, que era difícil pra mim, porque eram três horários, eu não dormia e tal, era uma situação… eu tinha que treinar, jogar, tudo, né? Ele falou: “Você está feliz lá?”, eu falei: “Se eu te falar francamente, eu ganho muito dinheiro, mas não estou feliz”. E eu falei: “E você? Você está de motorista particular por quê?” Naquele momento, ele era assessor do presidente da Eletropaulo. Esse cara que era o meu amigo, como se fosse meu irmão.
P/1 – Quem era o presidente da Eletropaulo, você se lembra?
R – Sergio Motta, foi Ministro das Comunicações, recentemente.
P/1 – Mas na época, era Light ainda?
R – Não, já era Eletropaulo e era uma empresa política, administrada pelo governo do estado, então, os cargos de confiança das diretorias e subsequentes, eram todas indicações políticas e por quê que esse meu amigo que ficou da Light chegou a esse cargo de assessor do presidente? Porque na verdade, ele era superintendente de recursos humanos. Ele chegou de carreira, mas como a empresa se tornou política, ele era de carreira, ele ficou como confiança de quem veio do governo, no caso, o Sergio Motta que foi o presidente, era o presidente na época. Aí, ele falou assim pra mim: “Você quer voltar para lá?”, eu falei: “Se você me pagar o que eu ganho na Goodyear, eu volto amanhã, por causa dos horários, aquela coisa toda”, aí ele falou pra mim… isso era dezembro de 86, aí ele falou: “Vamos esperar passar as festas e no começo do ano, a gente conversa, você vai voltar porque você tem que voltar até fevereiro, porque o governo vai mudar em março, se entrar outro governador, ele vai trocar todas as pessoas do cargo de confiança e de repente, você não entra mais”, e era assim que era na época, as pessoas eram contratadas dessa forma. E aí foi quando em fevereiro de 1987, ele me levou de volta para a Eletropaulo, eu entrei lá no dia 27 de fevereiro de 87 e fiquei até junho de 97, então eu fiquei dez anos na primeira vez e dez anos na segunda vez.
P/1 – E como é que era a empresa quando você voltou?
R – Totalmente diferente. Por quê? Eu fui trabalhar numa área que não eram aquelas que eu já conhecia, até porque mudou muita coisa, né? Então, eu fui trabalhar na diretoria de administração, onde tinham mais ou menos 2.500 funcionários, até então, a empresa tinha uns 22 mil funcionários, mais ou menos e na minha Diretoria de Administração, tinham 2.500, mais ou menos e existia um órgão, um departamento que chamava-se Coordenação da Diretoria da Administração. Então, era um setor quer dava suporte pra diretoria, no que concerne nos recursos humanos da diretoria, então eu fui trabalhar com recursos humanos da Diretoria da Administração, uma coisa completamente diferente de tudo aquilo que eu fazia. Pra voltar para a Eletropaulo, logo que eu voltei, eu fui trabalhar no Departamento de Relações Trabalhistas, onde eu fui ser preposto da empresa, sem ser advogado, participei de várias audiências de… lembra que eu contei lá atrás que eu entrei com um processo contra o colega lá para ser mandado embora? Quando eu voltei para a empresa, eu fui ser preposto da empresa para defender a empresa contra quem entrava… olha como que é a vida, né? E aí, eu fui ser preposto, foi uma experiência legal que eu tive também logo no início, onde eu acompanhava os advogados da empresa nas reclamações trabalhistas dos funcionários, então, tiveram situações até muito constrangedoras, porque as pessoas que vinham com as reclamações eram colegas que eu conhecia, meus amigos e eu era obrigado a falar na frente do juiz que ele não fazia aquilo que ele estava falando que fazia, porque era minha função, passei por tudo isso. E foi uma experiência legal que eu tive também, mas aí houve uma reformulação, eu sai desse Departamento de Relações Trabalhistas e fui trabalhar com recursos humanos da diretoria, como eu expliquei. E ali eu fiquei até me aposentar. Então, eram totalmente diferentes as situações, porque a empresa é empresa política e ela tinha… naquele momento, em 1997, 96, a empresa mudou para um conglomerado na Granja Julieta e tinha uns três prédios, mudou a empresa todinha para lá, então cada prédio era uma diretoria. Nós estávamos no prédio, a presidência estava em outra, etc. E ali, a gente tinha esses contatos, mas na Xavier de Toledo continuou, que era o prédio onde começou tudo para mim e tinham os setores na nossa diretoria que estavam lá, ainda. Então, de vez em quando, eu ia lá e tal. Mas aí, a empresa era política, uma série de situações políticas que envolvia o governo e tal, aí foi quando em 1997, o Governador Mario Covas resolveu privatizar e aí, nessa privatização, começaram a acontecer várias situações de pessoas que já tinham muito tempo de trabalho, eles ofereciam uma condição de aposentadoria, onde você recebia uma indenização para ir embora, que a empresa ia ser privatizada e quem ia entrar, você não sabia como eles iriam administrar tudo aquilo. Então, o governador resolveu privatizar para enxugar. Aí, uma empresa que tinha 22 mil funcionários se transformou em 2.500, três mil e o resto foi tudo terceirizado como é até hoje. Então hoje ela chama-se AES Brasil, que é ali em Barueri, Alphaville, na verdade, que é uma administração totalmente diferente daquela época. Então, foi privatizada, tudo se privatizou, então, não ficou mais estatal, o governo não tem mais acesso à empresa e aí, hoje, para você entrar lá é muito difícil, porque você tem que ter eu acho que não é como era lá na época da indicação, né, QI, quem indicou, agora não. Agora, você tem que ter capacidade profissional mesmo pra poder entrar, né? E aí, antes de acontecer tudo isso, foi muito interessante, meu filho já estava, quando eu entrei na Light, com 14 para 15 anos de idade, também e o meu sonho era que o meu filho trabalhasse lá naquela empresa, mas quando eu me aposentei, a empresa estava sendo privatizada e eu estava próximo da diretoria, ali da presidência, eu vi que naqueles três prédios, era um conglomerado de três prédios, as diretorias não tinham boys para correrem os prédios, não é? Aí, eu me aposentei, eu estava em casa, eu tinha deixado vários amigos ainda lá, que foram se aposentando com o decorrer dos anos e m deles que cuidava da contratação de temporários me ligou e me perguntou: “Seu filho está trabalhando?”, falei: “Não” “Manda ele aqui”. Aí eu mandei o meu filho lá, o meu filho foi contratado, entre outros meninos com a idade dele, de adolescente de 15 anos para ser um dos boys que iria cuidar de tudo isso. E aí, ele mostrou a competência dele, foi indo, foi indo, hoje, o meu filho faz 16 anos, 16 ou 19, agora eu não me lembro do tempo, mais ou menos isso, ele se formou publicitário e hoje ele é muito importante dentro a AES Brasil, onde ele trabalha na área de comunicação, ganhou vários prêmios como melhor funcionário da empresa, graças a ele, que ele se esforçou para chegar onde ele chegou e foi uma das grandes alegrias que eu tive na minha vida foi essa, né? Ele dar sequência naquele trabalho que ele faz hoje lá na empresa. Então, eu tive duas passagens lá atrás, quando a empresa era inicialmente, uma empresa particular, canadense, foi comprada pelo governo, se tornou uma estatal e agora, é uma empresa que foi privatizada, vendida para os americanos, ela se dividiu e um dos grupos que é a AES Brasil, que cuida da Eletropaulo metropolitana, de onde eu saí, o meu filho está lá. E aí, é a carreira dele que ele está construindo. Então, essa é a minha história de vida profissional até chegar nessas duas situações aí, minha e dele. Então, para mim é um motivo de muito orgulho, muita alegria. E eu fiquei triste, hoje não estou mais, porque os 13 anos que eu fiquei fora, eu perdi 50% da minha aposentadoria, porque a gente pagava na época da Light, da Eletropaulo, principalmente depois que eu voltei, na Light não tinha ainda, chama-se PSAP, é um plano de aposentadoria particular, que você paga mensalmente, quando você se aposenta, você recebe como se tivesse na ativa. Como eu perdi os 13 anos, eu não tenho a minha aposentadoria integral, mas graças a Deus, eu consegui voltar e pelo menos, eu tenho 50%, vai. Então, eu tenho o INSS e tenho essa aposentadoria que eu ganho da Eletropaulo, por isso que eu tenho muita gratidão por essa empresa. E o meu filho, graças a Deus, está lá na missão dele, lá, na carreira, construindo a carreira dele lá.
P/1 – O que você acha dessa história… a sua história se junta muito com a história da empresa, né?
R – Eu não sei se existem outros casos parecidos com esse dentro da empresa, né, mas eu acredito numa frase que diz que nada acontece por acaso, então, se aconteceu tudo isso, é porque tinha que ser assim. Isso envolve outras coisas que vão além dessa situação que a gente vive aqui, né? Mas são legais essas histórias, porque o prazer que eu dei para o meu pai quando eu entrei lá em 1964, eu tive quando o meu filho entrou lá há 16 anos atrás. Entendeu? Então, as histórias se parecem, mas com contextos diferentes e é de muita alegria pra mim tudo isso, né? Ver a construção da carreira dele… aí, eu tive o privilégio de conhecer lá o prédio, onde uma das maiores felicidades que eu tive com tudo isso foi ver que aquele prédio da forma como ele tá ali, ele foi desenhado e imaginado pelo meu filho, entendeu? E ele, pelo trabalho que ele faz, ele deve ter muita competência, fez vários cursos de pós-graduação para chegar onde ele chegou. Então, essa é a minha história de vida profissional, vamos dizer assim. Particular, uma parte eu te contei. Agora, tem a parte espiritual, que eu não sei se você vai querer saber.
P/1 – A gente chega lá. Depois da aposentadoria, é isso, que você começou a…
R – Lá no início da nossa conversa, você me perguntou se eu era católico, qual era a religião e tal. O tempo foi passando, a minha história da mudança da condição espiritual, ela começou nesse momento da minha volta para a Eletropaulo, porque… eu ano sei se eu posso contar tudo porque vai envolver uma série de coisas assim, parte espiritual que aconteceu… em 1996, quando eu estava na Goodyear, eu encontrei com esse meu amigo da época da Light, lá, de 13 anos aras, que ele me convidou para voltar para a Eletropaulo, ele me falou que se até fevereiro, eu não voltasse, eu não entrava nunca mais porque iria mudar o governo, e realmente, mudou, e se eu não tivesse entrado naquele momento… eu entrei no dia 27 de fevereiro de 87, no dia 15 de março, mudou o governo, todo mundo que era cargo de confiança caiu, inclusive ele. Então, ou seja, se eu ano tivesse entrado naquele momento, eu jamais teria entrado. O meu filho jamais teria entrado. Então, como aconteceu isso? Aí é que entra a parte da fé, o meu aprendizado espiritual católico apostólico romano de conhecer a parte religiosa e entender Deus através da igreja católica indo a missa, então não entendia nada assim, além disso. Quando surgiu essa oportunidade de eu voltar para a Eletropaulo, o meu pai morreu em 1978, fazia, portanto, nove anos que o meu pai tinha morrido quando aconteceu tudo isso e aí, é uma questão de crença, uma questão da fé, não quero discutir aqui quem está certo, quem está errado, apenas eu vou te contar o que aconteceu comigo pelo o que eu acredito. Aí, quando aconteceu isso em 1986, esse colega me procurou, assim, assim, assim, ele falou: “Até fevereiro, te coloco lá”. Aí, o quê que aconteceu? Eu forcei a barra para ser mandado embora da Goodyear, eu fui mandado embora da Goodyear dia 27 de dezembro de 1986, aí eu recebi a indenização e falei: “Agora, eu vou fazer o que eu não fiz nesses seis anos”, viajei, passeei, gastei todo o dinheiro, janeiro inteirinho eu só fiz isso, ele me falou que até fevereiro ele me colocava. Quando entrou fevereiro, eu me desesperei, porque ele não me ligava. Aí é que eu fui buscar o caminho pra entender. Então hoje, Lucas, eu posso te explicar assim, esse mundo que a gente vive, a gente chama de fenomênico, um mundo de altura, largura e comprimento, é uma forma de reconhecer. Quem que reconhece isso aí? É você, através da sua mente. Então, tudo que você reconhece na forma, manifesta. E nós somos aquilo que nós pensamos, hoje eu sei disso, mas naquela época, eu não sabia. Muito bem, então vamos voltar lá na época. Aí, a minha mulher frequentava um ensinamento que é uma filosofia de vida, que chama Seicho-No-Ie, essa filosofia nasceu em 1930, através de um japonês chamado Masaharu Taniguchi e lá no Japão, ele criou uma revista com esse nome, porque o que aconteceu? Ele era um tradutor, ele traduzia livros, revistas, etc., trabalhava numa empresa que fazia esse tipo de tradução, ele não acreditava em absolutamente nada, não acreditava em Deus, não acreditava em nada. E aí, ele achava muito cruel existir um Deus que fazia as pessoas sofrerem, aí ele conta a história de Buda que também era assim. O Buda não acredita em Deus, as pessoas que acreditam em Buda não acreditam em Deus, porque também acham que Deus é muito cruel por deixar as pessoas sofrerem. E o Masaharu Taniguchi, como ele não acreditava em nada, ele era ateu, ele era um cara muito sofrido, tinha vários problemas de saúde, etc., até que um determinado dia, ele recebeu, sob inspiração divina, algumas palavras e ele começou a escrever e ele viu que aquilo que ele estava escrevendo não tinha nada a ver com os ideogramas que ele conhecia, era uma coisa completamente diferente para ele e aí, ele escreveu aquilo ali em forma de poema e começou a distribuir pelo Japão a fora. As pessoas que recebiam aqueles poemas… começou a acontecer milagres nas vidas das pessoas. E aí, um japonês que começou a receber esses poemas resolveu chamar aquilo ali de sutra sagrada que eram palavras muito fortes de um anjo muito elevado do mundo espiritual e o Masaharu Taniguchi recebeu essa inspiração. Aí, ele começou a receber essas inspirações e ele começou a escrever artigos que as pessoas recebiam em forma de uma revista, aí ele resolveu chamar essa revista de Seicho-No-Ie, que significa lar do progredir infinito. E aí, ele começou a entender que só existe um único Deus, não existem vários deuses, só existe um, então, a Seicho-No-Ie se tornou uma filosofia monoteísta, ou seja, acredita num Deus único e o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, portanto, ele tem capacidade infinita para ser o que ele quiser, quer ser rico, vai ser rico, quer ser pobre, vai ser pobre, quer ser feliz, vai ser feliz, quer ser infeliz, vai ser infeliz e assim por diante. Só que tudo aquilo que ele começou a receber sobre inspiração, ele escreveu 40 volumes sobre a Verdade da Vida, que em japonês é um livro único que chama-se Seimei no Jisso, são 40 volumes e quando foi traduzido para o português, são 40 volumes e lá é um livro só. E aí, ele começou a escrever vários e vários outros livros sobre o ser humano, sobre Deus, sobre situações que ele começou a receber sob inspiração e ele chegou a conclusão que realmente Deus existia e que Deus está dentro de cada pessoa. Só que aí, ele entrou num ponto onde existe o atrito com outras religiões que não acreditam na reencarnação, por exemplo. E ele acredita. E a, a minha mulher já estava frequentando a Seicho-No-Ie havia dez anos, eu nunca fui, ela nunca falou pra mim: “Você tem que ir”, eu vi a mudança que houve nela, no contexto todo, na minha filha que eu contei, etc., tudo foi graças ao ensinamento que ela aprendeu primeiro do que eu. Aí, escreveu essa revista em 1930 e começou a disseminar o movimento, chama-se Movimento de Iluminação da Humanidade que começou lá no Japão, o maior número de adeptos do Seicho-No-Ie é no Brasil, não é no Japão. E aí, o que acontece? A Seicho-No-Ie hoje existe no mundo inteiro e como ela é uma sequência de linhagem familiar, ela é administrada pela família Tanigushi. Então, o Masaharu Taniguchi morreu, quem assumiu foi o genro dele, que casou com a filha dele, porque no Japão, é o genro que… aí passou a ser Seicho Taniguchi o presidente da Seicho-No-Ie no mundo. O Seicho morreu, ficou o filho, que é o neto do Masaharu, então hoje, o presidente do Seicho-No-Ie é o Masanobu Taniguchi, que é filho do Seicho, que por sua vez, era genro do mestre… Masanobu é neto do mestre. Aí, o que aconteceu? Eu vi aquela mudança na minha mulher, eu falei assim: “E agora, o que você acha? O cara falou que eu vou voltar para a Eletropaulo, mas a coisa não acontece, nós já estamos entrando em fevereiro e eu desempregado. O que eu faço?”, eu falei para ela: ‘Eu vou assistir uma reunião na Seicho-No-Ie pra ver o que o preletor fala pra mim sobre essa situação”, então o preletor, por quê ele se torna preletor? Porque ele é um cara que teve uma vivência espiritual, adquiriu conhecimentos para ter convicção daquilo que ele vai falar na palestra e a palestra é feita em cima dos livros que o mestre escreveu. Só que essa sutra sagrada que não são palavras do mestre, são palavras do anjo muito elevado no mundo espiritual, ela faz com que as pessoas compreendam, entendendo aquilo que está escrito na Sutra, que a solução de todos os problemas não está em algum lugar, está dentro da própria pessoa. Por isso que a Seicho-No-Ie é uma ciência mental. E ela fala da mente. Por exemplo, o seu corpo carnal, o corpo carnal do meu amigo ali, para que esse corpo exista, dentro desse corpo tem um espirito, para que esse corpo se manifeste no dia a dia, depende da sua mente, a sua mente faz você pensar, o pensamento faz você falar, o pensamento e a palavra formam os seus atos, os pensamentos, palavras e atos formam seu destino. Você é aquilo que você pensa. Então, fala da ciência mental, fala da física quântica e é uma religião porque fala da parte espiritual. E aí, eu falei pra minha mulher: “Eu vou lá assistir uma palestra para ver se o preletor me orienta”, por que o cara não me liga se já está tudo certo? Aí, assisti a palestra, era um tema lá que ela estava falando, que a Seicho-No-Ie fala de vários temas, o que você quiser saber, te explica, porque nos livros tem toda explicação lá, uma pessoa só sofre se ela quiser. Aí, essa mulher se aproximou de mim, estávamos eu e a minha mulher, só, nunca tinha visto aquela mulher na minha vida, estou te contando a minha história, para você entender como chegou lá e onde eu cheguei. Aí, ela falou assim para a minha mulher: “Quem é esse senhor que está do lado do seu marido?”, eu falei: “Como assim? Só viemos eu e ela!”, quem que ela descreveu? Meu pai. No primeiro dia que eu cheguei lá para assistir uma palestra, o meu pai estava do meu lado, ela descreveu meu pai todinho. Eu falei: “A senhora está falando que o meu pai está aqui?”, eu leigo, né, comecei a discutir com ela, falei: “Como que o meu pai está aqui se eu fiz a exumação do meu pai?”, você já assistiu uma exumação? A exumação, você desenterra o caixão, eu desenterrei o meu pai, quatro anos depois dele ter morrido e dentro do caixão, não tinha mais nada, só tinha o terno que ele foi enterrado e os ossos lá que ficaram, o resto sumiu. Eu falei: “Então, mas a senhora está falando que o meu pai está aqui, o meu pai morreu faz dez anos”, ela falou: “Não, ninguém morre, a vida é eterna, o que morre é o corpo carnal, o resto todo continua. E o seu pai está aqui porque ele está sofrendo barbaridades lá no mundo espiritual”, quando ela começou a falar isso, primeira vez que eu estava escutando aquilo, né, eu falei: “Meu pai está sofrendo? Mas meu pai morreu”, aí ela explicou que o espírito, quando ele morre, ele acorda no mundo espiritual na mesma situação que ele saiu daqui. Se ele tem algum entendimento, ele automaticamente, ele vai subindo para postos elevados no mundo espiritual, aí ele não sofre, ele está desprendido do mundo fenomênico, aqui, mas aquele que não tem entendimento nenhum, ele fica preso aqui ao mundo fenomênico e começa a sentir falta das coisas que ele tinha aqui. Quando a pessoa morre de uma doença sem ter conhecimento dessa parte espiritual, ela continua sofrendo lá sem ter o corpo. E foi isso que ela estava explicando para mim. Eu falei: “Minha senhora, a senhora está falando tudo isso pra mim, mas fica difícil de eu entender”, aí ela pegou a Sutra Sagrada, que é isso aqui, olha, esse livreto aqui, aqui tem os oito capítulos que foi aquele poema que eu te falei que o mestre recebeu, ela falou: “Você vai fazer essa Sutra Sagrada para o seu pai durante 49 dias, você vai ler essa Sutra para ele durante 49 dias”, eu falei: “Tudo isso aí que está escrito no livrinho eu vou ter que ler para ele?”, ela falou: “É. E você fica tranquilo que tudo vai se resolver e tal”. Aí, quando eu vi o tamanho do livro, né, isso aí é um talismã que eu carrego como proteção, e é isso aí que são palavras da verdade que veiaram do… Então, eu estava te contando. Aí, ela falando tudo aquilo pra mim, ela falou: “Teu pai está sofrendo muito, ele está preso ainda ao corpo carnal, como se tivesse o corpo, ele está sofrendo lá. Uma pessoa que sai daqui e está doente e acorda lá sem ter entendimento nenhum espiritual, ela fica sofrendo. Aí, ela veio pedir socorro para um familiar aqui, começam a acontecer situações na vida da pessoa que está aqui sem ela saber que é o ente querido que está pedindo ajuda”, ela me mostrou a Sutra Sagrada que é esse material aqui, num tamanho maior, aqui tem oito capítulos, Capitulo Deus ao Capitulo Homem, ela falou: “Todo dia você vai fazer essa oração para o seu pai no mesmo horário, 49 dias”, por que 49? Porque 49 é o tempo mínimo que o espirito demora para acordar no mundo espiritual, se ele tiver algum entendimento, se ele não tiver entendimento nenhum, demora anos, às vezes, 50 anos, 30 anos. No caso do meu pai, fazia dez que ele tinha morrido e ainda estava lá preso ao corpo carnal. Aí, eu falei: “Tá bom, muito obrigado”, e fui embora. Aí, eu falei pra minha mulher: “Caramba, eu queria tanto que ela me falasse do emprego, porque não sai e ela mandou eu rezar para o meu pai, ajudar o meu pai e tal”, minha mulher falou assim: “Faz o que ela pediu pra você fazer”. Aí, eu estipulei um horário, todo dia naquele horário, eu chamava pelo meu pai, porque no mundo espiritual, eles têm muitas atividades lá e quando você estipula o horário, ele vem te ouvir, você chama por ele, ele sabe que naquele horário, você vai chamá-lo. E eu fazia assim, todo dia. Quando eu estava no 15º dia, meados de fevereiro, mês fevereiro indo, já 16, 17, eu desempregado, precisando trabalhar, meus filhos ali, eu sem emprego, eu morava nesse quintal que era eu na casa da frente, minha cunhada na casa do meio e minha sogra na casa do fundo, essa minha cunhada, a linha religiosa dela é evangélica e evangélico não acredita em espirito e nem no mundo espiritual. Essa minha cunhada entra me procurando em casa, falei: “O que aconteceu?” “Essa noite aconteceu uma coisa muito real, eu não sei te explicar, mas foi muito real. Teu pai apareceu pra mim e veio pedir para eu te agradecer o que você está fazendo por ele”, olha como foi um negócio forte! Ela falou assim: “O que você está fazendo pelo seu pai? Seu pai não morreu faz dez anos?”, eu falei: “Eu sei o que eu estou fazendo pelo meu pai, é a oração que a mulher mandou eu fazer para ele”. Porque essa Sutra Sagrada, ela explica para qualquer pessoa que esteja aqui nesse mundo fenomênico que a gente vive como para quem está no mundo espiritual, que nós somos seres espirituais e quando você compreende aquelas palavras que o anjo está falando, você compreende a tua vida. E o meu pai sofrendo no mundo espiritual sem ter corpo físico, a própria oração explica para ele que ele não tem mais corpo físico, portanto ele não pode sofrer, aquilo não existe. E ela falou assim: ‘Então, ele pediu pra eu te agradecer pelo o que você está fazendo por ele, ainda pediu licença para colocar a mão sobre mim para sentir as dores que ele sentia”, essa doença, artrite reumatoide e uma doença autoimune, a pessoa sofre muitas dores e deforma os dedos, as pernas, etc. O meu pai passava noites e noites em claro, sem dormir de tanta dor. “Por fim, ele mandou falar pra você ficar sossegado que o seu emprego já está resolvido”, assim. Quando ela me falou isso, eu falei: “Caramba, a mulher não me falou nada, mas o meu pai veio se encarregar para falar”. O que aconteceu depois disso? Ele não me ligava e eu não queria ligar para ele, porque eu não queria incomodar, porque ele era assessor do presidente, quando eu soube disso, eu resolvi ligar. Quando eu liguei, a secretária dele atendeu, perguntou o meu nome, quando eu falei o meu nome, ela falou: “Puxa vida, faz quase dois meses que ele está te procurando, que ele perdeu o telefone que você deu de contato para ele falar com você e ele não tinha mais. Ainda bem que você ligou. Espera aí”. Ele veio no telefone, bom, resumindo, no dia 27 de fevereiro, voltei para a Light e me aposentei lá. A partir daí, eu resolvi seguir esse ensinamento, porque transformou a minha vida e eu decidi naquele momento que eu ajudaria a fazer as outras pessoas a entender o que eu tinha entendido. Em Ibiúna, interior de São Paulo, tem uma academia espiritual da Seicho-No-Ie, tem no Brasil inteiro, mas aqui em São Paulo é em Ibiúna e lá, todo final de semana, às vezes, quatro dias, cinco dias, dois dias, tem um seminário para que as pessoas aprendam tudo isso de uma forma muito mais fácil de ser entendida e nesse primeiro seminário que eu fui, eu ouvi coisas lá que eu nunca tinha ouvido na minha vida, da minha responsabilidade, porque eu sou o que sou e aí, eu fui entender que o Deus que eu procurava em algum lugar não está em algum lugar, ele tá dentro de cada um e ele se manifesta na hora que você dá oportunidade e nesse primeiro dia, eu subi lá no palco e decidi: “A partir de hoje, eu vou trabalhar por esse movimento para ajudar as pessoas”, faz 28 anos que eu estou nesse ensinamento, desde que eu entrei lá e desde 1994, 22 anos que eu sou preletor. Então, hoje eu viajo o Brasil inteiro fazendo palestras, dando aulas, porque tem cursos que são realizados e aliás, tem um curso que é feito nas regionais que chama Curso de Módulos da Seicho-No-Ie, são quatro anos de estudo, para aquelas pessoas que querem se aprimorar e entender um pouco melhor suas vidas e se quiserem, podem se tornar líderes e se tornarem preletores, se quiserem. Existe um outro curso que é dado em hotéis cinco estrelas pelo Brasil a fora, onde profissionais liberais e grandes empresários participam desse curso, que chama Curso de Círculo de Prosperidade, onde a gente ensina para essas pessoas uma forma dela melhorar a sua vida, uma forma de conduzir seus negócios de uma forma mais tranquila, entendendo que você vive aqui nesse mundo, você precisa de coisas materiais, mas as coisas materiais vêm para você quando você tem do lado, a parte espiritual junto. Então, uma coisa não pode andar na frente da outra. Tem que ser paralelo. Então, a Seicho-No-Ie não tem sectarismo religioso, ela respeita todas as religiões, recebe de braços abertos pessoas de todas as religiões e hoje, graças a Deus, tem muitas pessoas de várias religiões vindo para a Seicho-No-Ie, principalmente, evangélicos que querem entender um pouco melhor do que aquilo que o pastor explica. O pastor interpreta a Bíblia, a Bíblia foi escrita há dois mil e 16 anos atrás, você não pode viver hoje o que aquele pessoal daquela época viveu. Então, a gente explica com uma linguagem de hoje como que uma pessoa pode mudar sem… tudo de Jesus Cristo falava, a Seicho-No-Ie fala com palavras atuais. Então, resumindo tudo isso, como é que a vida de uma pessoa se transforma? Todo mundo é filho de Deus igual, então, a Seicho-No-Ie acredita em Deus? Claro! E quem é Deus? Deus está dentro de você, ele não está numa nuvem te observando, se você está fazendo coisa boa, ele te ajuda, negativa, ele não te ajuda. Quem decide tudo é você, porque o Deus que você procura está dentro de você, está dentro de cada um. Agora, quando a pessoa faz tudo ao contrário, existem leis, leis fenomênicas, por exemplo, que a gente vive aqui nesse mundo, você sabe o que é o certo e o que é o errado. Você fez o errado? Existe uma lei que você vai sofrer as consequências, causa, efeito, tudo o que você vai plantar, você vai colher. Então., não adianta você fazer a coisa errada, como a gente está vendo aí na política, isso aí vai ter um custo alto, hein! E vai pagar, hein! E não se sabe quanto. Cada um, cada um, problema deles. Então, resumindo toda essa conversa, tudo aquilo que eu aprendo e que eu falo pras pessoas, resumindo tudo isso, nós somos esse corpo carnal, estamos aqui cumprindo uma missão, essa missão tem um prazo, mas para que você seja feliz nessa sua vida atual, você tem que esquecer do passado, porque o passado já passou, você não é museu, e nem ficar esperando pelo futuro, porque você não sabe se você vai estar lá, por isso que você tem que viver cada dia como se fosse o último. E as três palavras chaves que formam uma palavra única para a pessoa ser feliz, seja em qualquer segmento, é amor, eu e o outro somos um, gratidão por tudo, porque tem pessoas que não agradecem nada e o perdão. O amor, a gratidão e o perdão, você já resume na palavra harmonia. Onde não tem harmonia, Deus não se manifesta, por isso que está cheio de gente infeliz e aí, a pessoa prefere jogar a culpa nos outros do que ela assumir a responsabilidade de mudar, entendeu como é que é? Então, cada um chega no lugar que quiser. Cada um conquista aquilo que quiser, mas por quê que não consegue? Porque se autolimita, autolimitação, acha que só os outros conseguem e ela não. Se todo mundo é igual, se todo mundo é filho de Deus igual, ninguém é diferente, todo mundo tem a mesma capacidade, uns acreditam, outros não. É isso que eu prego. Graças a Deus, eu conheci esse ensinamento que me deu essa convicção, não discuto religião, apenas as pessoas vêm me pedir orientação… conforme o assunto que a pessoa vem falar, Lucas, você vai com os dois pés no peito dela: “Você está infeliz? O quê que está acontecendo?”, primeira coisa: ‘Como é que é o relacionamento com o seu pai e com a sua mãe?”, já começa por aí e aí, vai. Então, se existe uma desarmonia na mente, essa desarmonia na mente é a causa do problema que você está vivendo. Então, como é que você faz para resolver? Reconcilia-se com essas pessoas, com coisas, com fatos, se harmoniza e volta tudo ao normal. Agora, infelizmente, nesse mundo materialista em que a gente está vivendo, as pessoas só pensam em dinheiro, só pensam em coisas materiais, e aí, a gente explica para as pessoas que caixão não tem gaveta. Caixão tem gaveta? Alguém vai levar alguma coisa daqui? Nada! A única coisa que você vai levar daqui é a sua evolução espiritual. As coisas materiais, uma hora você tem, outra hora você não tem, mas que nunca te falte você viver em harmonia. Aí, tudo se resolve. Por exemplo, você trabalha nessa sua função de entrevistador no Museu da Pessoa, você gosta do que você faz? Se você gosta do que você faz, ótimo! Você vai ser cada vez mais feliz, mas tem pessoas que não gostam daquilo que fazem, elas queriam fazer outra coisa, mas por quê que ela não chega naquela coisa que ela gostaria? Porque ela não agradece aquele momento atual que ela tem, assim é o emprego. Tem pessoas que procuram emprego, tem pessoas que procuram trabalho. Quem procura emprego quer dinheiro em troca. Quem procura trabalho quer se dedicar a alguém e o dinheiro vem em troca, é diferente. Entendeu? São só algumas coisas que a gente fala, né, só para você ter uma ideia. Então, tudo isso que aconteceu não só na minha vida, como na vida do meu filho está dentro desse contexto, ou você tem alguma dúvida que foi o meu pai que levou ele pra Eletropaulo? Eu não tenho. Entendeu? Eu não sei se eu podia contar tudo isso, o contexto da história minha espiritual e eu tenho muita convicção de tudo isso que eu falo porque eu vivo isso 24 horas por dia. Você é aquilo que você pensa. Você já deve ter ouvido falar do “O Segredo”? O livro “O Segredo”, o filme “O Segredo”? O que fala lá? Lei de atração. Cada um atrai para si aquilo que acredita, você quer ser pobre? Vai ser pobre. Você quer ser um coitado? Vai ser um coitado. Ninguém é coitado e ninguém é pobre, você vai ser aquilo que você quer ser, só depende de você. Quisera eu ter a idade do meu amigo jovem, aí, quantos anos você tem?
P/1 – Vinte e quatro.
R – Olha aí! Se tivesse conhecido isso que eu falo hoje lá atrás, minha vida teria sido tudo diferente, mas por quê que não foi? Porque eu precisava passar por esse aprendizado para chegar onde eu cheguei, hoje não tenho apego a nada, não tenho medo de nada, tudo o que eu quero eu consigo, porque não sou eu que realizo, é uma força dentro de mim que realiza. É que nem esse negócio do Chikungunha, Zika Virus, isso não existe, é a mente da pessoa que cria isso, que atrai o mosquito para morder, porque Deus seria muito cruel de criar coisas que vão prejudicar a maior criação dele que é o ser humano. Aí, por quê acontece isso na vida das pessoas? Quando Deus deu o livre arbítrio, o que aconteceu? Através do livre arbítrio, cada um vai fazer o que quer e normalmente, faz do lado errado e aí, sofre as consequências, entendeu? É isso que Seicho-No-Ie prega. Eu não gosto de falar isso, mas é um dos últimos ensinamentos, se você não entender isso, a resposta não está na igreja, a resposta não está no pastor, a resposta não está no padre, a resposta não está no preletor do Seicho-No-Ie, a resposta está dentro de cada pessoa, é isso que eles não entenderam ainda. É isso. Não sei se você ia me perguntar mais alguma coisa, mas eu já falei demais para o meu tamanho, né?
P/1 – O que você fez depois de aposentar?
R – Depois de aposentado, eu trabalho pelo Movimento de Iluminação da Humanidade, mas propriamente, no ano que vem, eu quero ver se eu paro de trabalhar e trabalho somente nessa função que eu faço hoje espiritual, mas eu faço paralelamente a minha vida profissional, né? Esse ano a minha filha vai casar, então, tem que trabalhar. Mas eu nunca parei de trabalhar, aí você liga o útil ao agradável, porque você trabalha, através do seu trabalho, você recebe o que você precisa para se sustentar e automaticamente, esse trabalho paralelo de ajudar as pessoas contribui para que nada falte para você, né? Então, o que eu faço é isso. Ainda jogo a minha bolinha no final de semana, tudo, gosto de viajar muito, viajo o Brasil inteiro dando palestras, mas também gosto de viajar de lazer e tal, então tudo isso faz parte do contexto, então, não vou parar nunca, porque se eu tenho uma missão, eu não sei quando vai ser o final dela, eu vivo cada dia como se fosse o último. E eu tenho completa convicção de que o caminho é por aí. Eu falo, você quer me escutar, me escuta, não quer, cada um tem o momento de aprender, já comprei casa sem ter nenhum cruzeiro, já paguei dividas altíssimas sem ter condições, porque não sou eu que realizo obra nenhuma, é uma forca aqui dentro que realiza. Como é que eu faço para chegar nessa força? Conversa com ela, parece doido isso, não é? A pessoa não faz oração, não se ajoelha, você não precisa fazer nada disso, Deus não está na igreja, está dentro de cada um e como é que ele se manifesta? Através de cada pessoa. Se você desafiar a mente, digamos que não falamos nada disso, quem que é Deus? É uma coisa abstrata, não é? O ateu não acredita em Deus, ele acredita em quem? Nele. Na hora do desespero, ele chama por quem? Por Deus que está onde? Dentro dele. Entendeu? Então, esses caras que fazem palestras de autoajuda, esses caras estão ficando milionários, eles falam exatamente tudo isso que nós falamos, que a Seicho-No-Ie fala, da lei da atração desde 1930. Então, você pega o livro da Seicho-No-Ie, tem as respostas para tudo ali, entendeu? Qualquer problema que você tem, você vai no livro lá, tem a resposta lá e resumindo, é tudo isso que eu falei pra você, agora e aqui.
P/1 – Agora, você também trabalha como radialista, é isso?
R – O radicalismo foi mais na época em que eu estava trabalhando ainda na ativa, lá na Eletropaulo e foi muito engraçado também, situação legal pra contar. Saímos para almoçar nesse final da Eletropaulo aí, em 1995, 96, na verdade, o programa começou em 95 e como eu fiquei lá até 97, nós saímos para almoçar e discutimos futebol, então, trabalhávamos juntos, tinha são-paulino, corintiano, palmeirense… e discutíamos muito futebol. Um desses nossos amigos, palmeirense, o padrinho de casamento dele é o Júlio Cesar Casales, que hoje é o diretor de marketing do São Paulo, esse cara é padrinho de casamento do Zé Paulo. E o Júlio Cesar Casales é muito amigo da dona da Rádio Imprensa FM, que é a Matilde, a diretora da rádio, lá. Aí, ela falou pra ele: “Julinho, você que está envolvido com esporte, etc., eu queria montar um programa de futebol na rádio, você não pode fazer isso pra mim?”, ele falou: “Posso”. O que ele fez? Ele pegou um amigo corintiano, um amigo são-paulino, um amigo santista e pegou esse meu amigo palmeirense. Chamou os quatro e falou assim: “Nós vamos ter duas horas no rádio para falar de futebol e cada um vai falar meia-hora. Vocês montam a equipe do jeito que vocês quiserem, vocês topam?” “Topamos”, aí o Zé Paulo chegou pra mim, para um outro amigo nosso que trabalhava junto e falou assim: “Vocês topam fazer o programa do Palmeiras, vamos falar do Palmeiras lá” “Tá bom”, era de quinta-feira, meia-hora cada um. Um programa de duas horas, não se discutia um com o outro, cada um falava no seu programa. O tempo foi passando e esses caras todos saíram porque não tinham como bancar o horário da rádio. O que nós fizemos? Nós éramos em quatro: Paulo, Elvio, eu e o Valdenei, os quatro palmeirenses. Compramos um gravador, na época áurea do Palmeiras, 1995, que a Parmalat ganhava tudo, pegaram o gravador, deram na minha mão e falaram: “Você vai ser o repórter”, falei: “Tá bom”, eu já estava acostumado a fazer palestra, pra mim, aquilo ali era baba. Aí, fui num treino e comecei a fazer entrevistas gravadas. Aí, eu te contei do Julinho, o Julinho Botelho eu fui na casa dele, eu fiquei duas horas na casa dele, ele dando entrevista para mim, me contando a vida dele e eu gravei tudo. Aí, depois, nós passamos no programa. Então, começou tudo assim. Só que três meses depois, quatro meses depois, já com o programa em andamento, quem que pagava o horário da rádio? Uns amigos nossos que a gente pedia para um, pedia para outro, era empresário, os caras bancavam e a gente pagava a rádio, lá. Ficamos 18 anos no ar, só falando do Palmeiras e o Palmeiras passou a ajudar a pagar. Agora que o Paulo Nobre assumiu há dois anos atrás, quando ele ganhou a eleição em 2012, ele pegou o Palmeiras falido, o Palmeiras não tinha dinheiro para pagar conta de luz, aí ele me chamou e ele falou: “Olha Tanjioni, não vai dar mais para ajudar vocês, eu vou te dar do meu bolso dois meses pra pagar a rádio lá e depois, vocês se viram”, aí a gente tentou arrumar patrocínio, mas não conseguiu, nós ficamos mais dois meses e depois, parou, faz dois anos que está parado. E assim que começou o programa, só que a gente foi fazer um curso de radialista no Senac, tanto é que se você vir a minha carteira profissional, está registrado lá: radialista, mas eu nunca usei aquilo profissionalmente. Então, hoje eu conheço todo o meandro do futebol dentro do vestiário, eu faço entrevistas com os jogadores, já levei os técnicos no programa, todos eles, os que passavam, os maiores, principalmente, Felipão, Luxemburgo, Muricy e todos eles eu dei o livro da Seicho-No-Ie, comande a sua vida com o poder da mente. Eu dei esse livro para eles e agora mais recentemente, o Marcos que passou por um processo dificílimo, se machucava muito, aí um dia eu sentei e conversei com ele: “Marcão, você está com uns problemas sérios na sua vida aí”, aí ele começou a me contar umas histórias lá, eu falei: “Essas desarmonias que você está tendo…”, ele teve um relacionamento antes da mulher dele atual e aquilo não foi resolvido. Começou a manifestar um monte de problemas físicos no corpo dele. Doença não existe, é a mente que cria as doenças. Hoje ele me vê, ele me agradece! E aí, foi, foi, foi, até hoje eu tenho aquela credencial que eu te mostrei, porque como sou radialista e sou sócio da Acesp, todo ano a gente renova, então, nos jogos, a gente entra com a credencial, não paga nada. Hoje eu estou sem o programa, mas quando eu estou com o programa, eu levo técnico, eu participo das entrevistas coletivas, converso com os jogadores, tudo. É assim. Até o Dudu está passando por um problema… você é ligado em futebol? Conhece o Dudu? O Dudu passou por um problema seríssimo, ele agredia o juiz, ele odeia o pai dele, pô! Eu falei para ele: “Dudu…”, eu escutei e li uma entrevista dele no jornal, ele falou que ele odeia o pai dele, você não pode odiar o seu pai, o seu pai é a pessoa mais importante da sua vida, eu nunca conversei com ele. Aí, antes da final Palmeiras e Santos, eu estava no treino, eu chamei ele no lado, lá, eu falei: “Eu quero te dar um livro, eu quero te ajudar nesse negócio, você aceita?”, ele falou: “Claro que eu aceito e tal” “Então, eu vou te dar, depois, conversamos” “Tá bom”, aí eu dei o livro pra ele, só que no dia da final estava uma muvuca do caramba lá e eu dei na mão do assessor de imprensa para entregar para ele. Agora, ficaram de férias, o Palmeiras voltou e eu estava lá no primeiro dia na entrevista e eu vi ele vindo, fui conversar com ele: “E aí, você gostou do livro?”, ele falou: “Não recebi o livro”, falei: “Pô, como você não recebeu? Deixa comigo que eu vou resolver isso ai”, fui no assessor de imprensa, o cara falou pra mim: “Eu entreguei na mão do roupeiro para entregar para ele”, eu tinha feito uma dedicatória e tudo. Ele falou: “Espera aí”, foi no vestiário e tal, estava com o roupeiro o livro, ele me trouxe o livro, aí eu falei: “Agora, você entrega para o Dudu”. Eu não voltei ainda lá depois disso para ver se ele leu, mas sempre que eu posso, eu faço isso, até pra ajudar. E esse livro chama: “Buscando o amor dos pais”, e esse cara que escreve o livro é o seguidor do Masaharu Taniguchi, ele odiava o pai dele e odiava o padrasto dele e a vida dele era um caos. Quando ele perdoou o pai e o padrasto, acabou o problema da vida dele. Isso que eu queria que ele entendesse. Então, nesse meio futebolístico, quer dizer, eu estou envolvido ali, não como profissional, é hobby isso aí pra mim, eu gosto, de vez em quando que eu posso ir lá, eu vou e sempre que eu puder ajudar… agora, quero ajudar o Clayton Xavier que tá com um problema seríssimo, esse cara é um cara legal pra caramba. Na primeira vez que ele passou pelo Palmeiras, eu levei ele no programa, fiz uma entrevista com ele ao vivo e agora, ele está passando por um processo dificílimo, problema de contusão, ele deve estar com algum problema família ou coisa… e eu queria conversar com ele e vou conversar! Então, é tudo isso que eu te contei, Lucas, não sei se tem mais alguma coisa que você quer escutar aí, mas…
P/1 – Agora, eu queria perguntar quais são os seus sonhos agora?
R – Meus sonhos? Eu tenho três netos, que o meu sonho era ser avô. Eu achava que eu nunca iria ser. E o meu primeiro neto, quando a minha filha engravidou, foi uma história muito legal. É tudo história de vida que a gente está contando aqui, né? E a minha filha do meio, ela estava com o casamento marcado, nós estamos em janeiro, por exemplo, pra junho. Estava tudo certo. Estava tudo esquematizado para o casamento acontecer em junho, daqui seis meses e ela começou a parar de tomar pílula com medo de não engravidar depois que casasse. O que aconteceu? Ela engravidou, seis meses antes do casamento. Aí, eu estava num curso em Ibiúna, fazendo um curso lá da Seicho-No-Ie, quando eu voltei pra casa, a minha filha veio conversar comigo e me disse: “Pai, eu preciso te contar uma coisa…”, e eu ansioso com aquela situação toda de querer ser avô, que eu achava que eu nunca ia ser, ela começou contar a história de gravidez, eu estou pensando que ela está contando a história da namorada do meu filho: “Está grávida, não sei o que e tal…”, falei: “Caramba, e o pai dela já sabe?”, ela falou: “Não pai, quem está grávida sou eu”, quando ela falou isso, Lucas, eu me ajoelhei no chão, rapaz, eu pus a mão na barriga dela e comecei a agradecer aquela criança que vinha vindo, ter escolhido para nascer na minha família. Bom, ia ter o casamento. Eu falei pra ela: “Nós vamos ter que modificar todo esse planejamento aí”, conversei com o meu genro: “Vamos esperar o nenê nascer e aí depois, a gente faz o casamento", tá bom?” “Está bom”, combinamos assim. Então adiou o casamento até o nenê nascer. Aí foi uma baita de uma festa, o menino já estava com seis meses quando eles casaram, era um menino, Guilherme, meu primeiro neto, foi a maior emoção da minha vida quando ele nasceu. E aí, no casamento, na igreja, aquela festa, aquela coisa toda lá, cerimônia, a igreja lotada e tal, a minha sobrinha estava com o nenê no colo que era o meu neto na primeira fileira e nós estávamos todos no altar, ali. Aí, o padre muito brincalhão, o nenê começou a chorar, o padre fazendo a cerimonia, a minha filha olhou pra trás, no que ela olhou pra trás, o padre brincalhão, falou assim: “Presta atenção aqui no que eu estou falando, até parece que é teu filho que está chorando”, ela falou: “E é” “Sim senhor” “Vocês dois!”, o padre para eles: “Já que ele está aqui, traz ele aqui para participar da cerimônia”, o meu neto participou do casamento do pai e da mãe. Então, foi uma coisa emocionante, mesmo, um negócio… foi muito legal. Foi uma baita de uma festa, foi muito bonito. E aí depois disso, veio o meu segundo neto, que é filho dela também, já aí numa situação que… o primeiro pra mim, a minha relação com ele é de vidas passadas, com certeza, porque é uma coisa muito forte. Até perguntei para um amigo meu que é muito espiritualizado, conhece vidas passadas, estuda e tal e eu queria saber dele se ele sabia me dizer quem era o meu neto, que foi na vida anterior para mim. Aí, ele falou que ele pode ter sido o meu pai, “Mas nessa última encarnação tua…”, ele falando para mim: “Esse menino salvou a tua vida e veio como seu neto agora”, não sei se você acredita nisso ou não, mas estou te contando aquilo que eu acredito". E agora, tenho o terceiro que é do meu filho, que é o Davi que amanhã, sábado agora, faz um ano. Então, essa é a história da minha vida, então, o que eu espero daqui pra frente? Eu espero poder cada vez mais ajudar as pessoas, esse é o meu objetivo, o meu trabalho, eu não trabalho por dinheiro, eu gosto daquilo que eu faço, o dinheiro vem por consequência e quero que Deus me dê oportunidade de ficar aqui pelo menos mais dez anos para poder ver os meus netos crescerem e poder ajudá-los em alguma situação que eles vão viver. Isso é o que eu desejo, o resto eu já consegui tudo. Então, esse trabalho meu, a minha esposa faz também. Ela está dez anos antes de mim, eu estou há 28, ela está há 38 nesse ensinamento, então percorre o Brasil inteiro aí dando palestras, às vezes, eu estou junto com ela, às vezes, ela está de um lado e eu estou do outro e assim é a nossa vida. E é muito legal tudo isso, gosto de tudo isso que eu te contei, a história profissional que você ouviu, a história pessoal e tal e é assim.
P/1 – Como é que foi contar a sua história?
R – Foi fantástico, porque eu nunca tinha tido essa oportunidade, né? Contar a história da sua própria vida… eu costumo brincar que é que nem a música do Roberto Carlos, né? “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Então, a minha vida é assim. E a música do Zeca Pagodinho é a mesma coisa: “Deixa a vida me levar, vida leva eu. Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu”. É isso. Mas foi muito legal. Agradeço muito essa oportunidade que você tá me dando da gente poder contar um pouco da nossa experiência, não sei pra onde vai isso aí, se alguém vai ver ou não vai ver, mas realmente, é isso que eu vivo. Isso aí alguém vai ver, não?
P/1 – Vai. Vai ver!
R – É? Legal! Muito legal. Então, dentro do movimento da Seicho-No-Ie, se você clicar o meu nome no Google lá, você vai ver lá o que a gente faz, vai aparecer lá várias palestras, etc. Tanto eu como minha mulher, né? É legal, muito legal tudo isso e a gente fica muito feliz em poder ajudar as pessoas de alguma maneira, que o mundo está passando por um momento de muita turbulência, as pessoas estão sofrendo muito e não está aqui pra sofrer. Sempre que a gente pode… esses assuntos a gente não conversa com qualquer pessoa, a não ser que a pessoa peça ajuda, né? Mas você vê uma pessoa sofrendo… às vezes, o seu próprio filho, aquela situação, é que nem José Saramago fala: “O filho veio como filho, apenas para você demonstrar uma coisa que você não sabia o que era o amor”. O seu filho não é seu, seu filho é de Deus, é do mundo, você apenas foi intermediário, o que ele vai passar, você não tem nada para fazer por ele, é missão, pô! E os meus netos é a mesma coisa. Agora, eu na minha atividade, aquilo que eu já aprendi, sempre que eu posso, eu falo pra eles: “Está acontecendo isso por causa disso. Você quer seguir por aí? Só que se você seguir por aqui, vai ser diferente”, agora cada um busca o que quiser. Cada um está num momento de aprender, eu não crítico ninguém, não. Não critico religião nenhuma, cada um segue o que quer. Eu já entendi, agora se eu estou certo ou estou errado, para mim está dando certo. O que é bom pra mim, eu quero passar para os outros, só isso.
P/1 – Então, obrigado.
R – Muito obrigado a vocês aí pela oportunidade, paciência do meu amigo aí de gravar tudo isso.
P/1 – Foi ótimo, viu?
R – Legal. Obrigadão.
FINAL DA ENTREVISTA
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