Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Docivaldo Pereira Lopes (Tiva)
Entrevistado por Karen Worcman
Amapá, 25 de julho de 2013
HVC051_Docivaldo Pereira Lopes (Tiva)
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
Quem é
Docivaldo Pereira Lopes, mais conhecido como Tiva, nasceu em Laranjal do Jari, Amapá, em 1977.
Filhos de pais paraenses, seu pai era seringueiro e teve 14 filhos, quatro com a primeira esposa e 10 com a mãe de Tiva.
Aos 13 anos começou a trabalhar em serraria para ajudar nas despesas da família.
Depois de ajudar o irmão no pequeno mercado, Tiva começou a trabalhar na catraia que faz a travessia entre o Pará e o Amapá.
Sinopse
Docivaldo recorda sua infância em Laranjal do Jari onde brincava com seus irmãos e ajudava o pai e a mãe nas tarefas de casa.
Fala sobre o período de juventude e como casou-se muito cedo.
De como se separou e casou novamente.
Com entusiasmo fala de seu trabalho na catraia, transportando pessoas entre o Pará e o Amapá.
Seu sonho é voltar a estudar e conhecer o Rio de Janeiro.
História de vida
P/1 – Tiva, então nós vamos começar tudo de novo, você vai me dizer o seu nome completo, lugar e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Docivaldo Pereira Lopes, conhecido como Tiva, eu nasci no dia 21 de outubro de 1977, eu nasci aqui mesmo, em Laranjal do Jari, mas na época era chamado de Vila Laranjal do Jari.
P/1 – O que aconteceu que mudou de nome?
R – Porque a população aumentou muito, aumentou, depois do Projeto Jari, muitas pessoas vieram pra aí trabalho, aí com o tempo aí virou Laranjal do Jari, município, municipalizado, entendeu.
P/1 – Então me conta um pouco, qual é o nome completo do seu pai e da sua mãe?
R – O meu pai é João Batista Lopes e minha mãe é Corina Pereira Maciel.
P/1 – Me conta qual que é a profissão, o que você sabe da história do seu pai.
R – O meu pai foi seringueiro.
P/1 – Ele nasceu aonde?
R – Nasceu, ele nasceu no Pará, nasceu em Gurupá, no Pará, Estado do Pará.
P/1 – E aí ele foi seringueiro.
R – Foi seringueiro, trabalhou muito na seringa, na época trabalhou na seringa no Amapá já, aí depois trabalhou na serraria, trabalhou em serraria, depois que começou a trabalhar aqui, trabalhou em mercado, aí trabalhou no porto de catraias como vigilante.
P/1 – Você nasceu já aqui?
R – Foi, nasci aqui.
P/1 – Então ele conheceu sua mãe aqui?
R – Foi.
P/1 – Você sabe como ele conheceu a sua mãe?
R – Através de festa, em festa, conheceu a mamãe em festa, uma festa que teve, ele conheceu ela e.
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P/1 – Pronto, começou a namorar.
R – Começou a namorar.
P/1 – Eles casaram quando? Eles casaram ou eles só moram juntos?
R – Eles casaram, mas só que antes já teve duas mulher já, tem a primeira mulher, depois que ele teve a minha mãe, quatro irmãos, um irmão só por parte de pai.
P/1 – Que vem antes do casamento ou ao mesmo tempo?
R – Vem antes, ele casou duas vezes, eu sou filho da segunda mulher.
P/1 – Ele teve uma antes?
R – Foi, no total nós somos 14 irmãos, nós somos.
P/1 – Nossa, com a sua mãe ele teve quantos?
R – Teve dez.
P/1 – E com a outra mulher quatro.
R – Quatro.
P/1 – Você conhece seus irmãos?
R – Conheço tudinho.
P/1 – Vocês se dão bem, saem?
R – Não, não, uns moram numa cidade, outros moram em outra, mas de parte de irmão mesmo, assim, de mãe e pai, ainda mora tudo perto do outro, mora tudo na cidade.
P/1 – Ah, é?
R – É.
P/1 – Como é o nome dos seus irmãos? Vai contando.
R – Todos?
P/1 – É.
R – O Manuel Dacimar da Silva, tem a Dê, eu não sei completo, acho que eu não sei.
P/1 – Fala o primeiro nome.
R – Deusa, Graça, Raimundo Nonato, que é o Bidinho, aí tem o Jorge Luís, Deusamor, Deusilene, Deusivânia, David, Deusiane, a Deusiane faleceu já, faleceu há 14 anos, Deusiane, Gracilene, Jorge Aldo, Claudia Amor, esses nomes, acho que eu não esqueci nenhum (risos).
P/1 – Você é o mais novo, mais velho?
R – Eu sou o terceiro de mãe e pai, eu sou o terceiro, o terceiro mais velho, geral acho que eu sou, acho que eu sou o sétimo, uma coisa assim.
P/1 – Levando os quatro em consideração.
R – É.
P/1 – Tiva, me conta, quando você, qual é a primeira lembrança que você tem? Fecha o olho assim e tenta lembrar da sua infância.
R – Deixa eu ver, lembrança, as primeiras lembrança foi o primeiro dia na escola.
P/1 – Essa é a primeira coisa que você lembra?
R – É.
P/1 – Quantos anos mais ou menos você tinha?
R – Deixa eu ver, terminei, acho que eu tinha uns oito anos, oito anos de idade.
P/1 – Antes disso você não lembra, na sua casa brincando?
R – Não lembro, não, não me lembro, eu me lembro também quando, acho que a primeira bicicleta que eu ganhei, então isso.
P/1 – E aí como é que foi esse primeiro dia na escola, a escola ficava perto da sua casa?
R – Ficava, ficava perto, que foi um dia, assim, que eu fui nervoso, eu fui com medo assim, que eu não era acostumado, por causa do meu nome também, que todo mundo bagunçava, Docivaldo.
P/1 – Como é que era, você chegava lá e o que aconteceu nesse primeiro dia, falaram se nome?
R – Foi, me apresentaram lá, Docivaldo, o pessoal começaram a bagunçar comigo, no outro dia eu fiquei, no outro dia, assim, eu fiquei meio, fiquei com vergonha de voltar lá.
P/1 – Aí você não quis mais voltar?
R – Eu não queria voltar mais, não, aí foi o incentivo dos meus pais, aí voltei.
P/1 – E com os seus pais, como é que era, quem é que te arrumava pra ir pra escola, quem?
R – Era a minha mãe, mas quem me arrumou mais foi a minha irmã, Deusilene, ela cuidava bem de nós.
P/1 – Quem cuidava de vocês era a Deusilene?
R – A Deusilene cuidou bem.
P/1 – A irmã mais velha?
R – Não, é a segunda mais velha das mulheres, dava banho, esses negócio, arrumava, era ela.
P/1 – É essa que faleceu?
R – Não, essa está viva ainda.
P/1 – Pra você, você tem mais ela como sua mãe assim?
R – Não, minha mãe mesmo, eu considero muito a minha mãe.
P/1 – E a sua mãe, ela fazia o que dentro de casa?
R – Era dona de casa mesmo.
P/1 – Ela que cozinhava?
R – Cozinhava, lavava roupa, esses negócios.
P/1 – Me conta, assim, como é que era a comida em casa, que horas vocês comiam, o que vocês comiam?
R – Nessa época aí era, tinha o café da manhã, e tinha a merenda das dez horas, ovos, conserva, esses negócios, uma merendinha, depois que vinha o almoço, feijão, charque, galinha, isso aí.
P/1 – E peixe?
R – Peixe.
P/1 – Quem que pescava?
R – Meu pai, o meu pai, meus irmãos mais velhos, tiravam o açaí, o açaí, você sabe o que é açaí?
P/1 – Sei, sei.
Vocês moravam numa casa dentro da vila ou no meio do mato?
R – Dentro da vila.
P/1 – Mas a comida eles iam caçar também?
R – Caçava, mas pescava do que caçava, a madeira com caniço, é isso.
P/1 – E você começou a ir com eles pescar com que idade?
R – Acho que na faixa dos oito anos, nove anos já tava, trabalhava já.
P/1 – Você trabalhava?
R – Já.
P/1 – Como é que era o trabalho?
R – Trabalhava assim, ajudava o pessoal.
P/1 – Me conta.
R – Às vezes o meu pai saía, deixava uma tarefa ali: “Passa o pano na casa, limpa o quintal”, esses negócios.
P/1 – Quem que te passava a tarefa?
R – Papai, o meu pai.
P/1 – Ele era bravo com vocês?
R – Não, ele era rígido.
P/1 – Ele era?
R – Era rígido, se deixasse uma tarefa, se não fizesse na volta ele chamava a atenção.
P/1 – Ele batia em vocês?
R – Às vezes batia, era às vezes.
P/1 – É, você lembra de alguma surra que você levou?
R – Lembro.
P/1 – Surra a gente nunca esquece.
R – É, lembro.
P/1 – Como é que foi, o que você aprontou?
R – Eu não fui pra escola, eu falei que fui, mas não fui, o pessoal foi lá, falaram pra ele, não teve como livrar a cara.
P/1 – Como é que era que ele te batia, com o quê?
R – Com a sandália mesmo, dava umas lapada, mas era pouco, era, não batia muito, não, era difícil.
P/1 – Em todos os seus irmãos também era difícil?
R – Era difícil, porque nós sempre, sempre nós fomos criados com rigidez, logo ele explicava o que era pra fazer, o que não era pra fazer, aí a gente entendia, graças a Deus toda a nossa família, tudo, nenhum deu pra vagabundo, deu pra matador, deu pra ladrão, todo mundo é trabalhador.
P/1 – É?
R – Olha que o pessoal criar, 14 filhos, sempre haver um não dá, outro não presta, não, nós não, na cidade, pode entrar na cidade, perguntar que, os filhos do Seu João lá, todo mundo conhece aí.
P/1 – Que é gente boa?
R – É gente boa, nunca foi preso.
P/1 – Mas todos os seus irmãos, inclusive as meninas, iam pra escola?
R – Iam.
P/1 – Mas só o seu pai que trabalhava pra por comida em casa, como é que era?
R – Não, os maior trabalhavam já.
P/1 – E os trabalhos eram exatamente o quê?
R – Serraria.
P/1 – Os maiores foram pra serraria?
R – É, serraria.
P/1 – A partir de que idade que vocês começavam a ir?
R – A partir dos 13 anos, 12 anos, já ia, carregar moinho no carrinho, às vezes sujava a calça, serraria, os caras pagavam pra gente tirar moinho de baixo da serraria pra não acumular muito, mas é serviço.
P/1 – Moinho o que é, é serragem?
R – É serragem.
P/1 – E você começou a trabalhar com 13 anos na serraria também?
R – Foi, foi.
P/1 – Então o primeiro trabalho que você fez foi em casa?
R – Foi.
P/1 – E dali você foi pescar ou foi direto pra serraria?
R – Não, aí depois disso papai, o meu pai, o meu irmão mais velho, ele fez um empreendimento, um mercado, eu trabalhei no mercado, trabalhava de embalador no mercado, embalador, embalava, ficava atrás do caixa, o pessoal compra, nós que embalava, aí esse aí foi o meu outro emprego, o segundo emprego.
P/1 – E daí de lá, por que você saiu do supermercado e foi pra serraria?
R – Não, antes foi a serraria, depois que foi o mercado, entendeu, eu trabalhei pouco na serraria.
P/1 – Ah, é?
R – Foi pouco.
P/1 – Como é que era na serraria, era bom o trabalho ou era ruim?
R – Era um pouco ruim, era duro.
P/1 – você ficava de que horas a que horas?
R – Eu ficava, pegava às vezes sete, largava meio dia, aí pegava de tarde, pegava duas horas e largava cinco horas, seis horas.
P/1 – E a escola, você ia que horas?
R – De tarde, mas não, mas às vezes no horário da tarde, não, mas aí já tava estudando à noite essa época aí, eu já tava à noite.
P/1 – Estudando?
R – É, estudando à noite, aí trabalhava até seis horas, de seis horas eu ia pra escola.
P/1 – O que você preferia, estudar ou você preferia trabalhar?
R – Estudar, gostava de estudar demais.
P/1 – É? O que você gostava de fazer na escola?
R – Gostava de estudar toda, a matéria melhor que eu gostava era Física, Química, eu gostava muito de cálculos, era pra mim fazer uma faculdade, só que eu comecei a namorar, aí comecei, engravidei a mulher, a primeira mulher, aí não tive como estudar, tive que escolher das duas coisas, estudar ou trabalhar, aí tinha que trabalhar pra sustentar a família.
P/1 – Então me conta dessa sua primeira mulher aí, que deu nessa gravidez, onde você conheceu ela, como ela chama?
R – O nome dela é Alcilene, através do, eu conheci ela através, eu conheci, eu enxergava ela através de quadrilha, festa junina, sempre eu ia, assim, olhar lá, aí eu conheci ela por lá.
P/1 – Com quantos anos mais ou menos você tinha?
R – Acho que eu tinha uns, acho que 20 anos já.
P/1 – Ah, está, você já estava maior.
R – Já tava maior.
P/1 – E aí você olhava ela na festa junina, começou a namorar, o que aconteceu?
R – Começou a namorar, nessa época que eu estava, tinha uma irmã, a irmã que morreu, ela me deu muita força, aí através disso foi fortalecendo mais, aí eu engravidei ela, aí o meu pai me chamou: “Tem que assumir”, me chamou a atenção lá, tal.
Aí eu já tive que casar com ela, mas não foi forçado, eu gostava dela também.
P/1 – Mas aí não deu mais pra você ir pra faculdade.
R – Não deu, não, pra escola não deu, não.
Aí passou um tempo, passei, aí eu voltei a estudar de novo, parei na oitava série, depois continuei a estudar, agora terminei o ensino médio, aí eu parei, não estudei mais, não fiz nenhum curso.
P/1 – Por quê?
R – Porque eu me casei de novo (risos), eu me separei dela, aí não durou, assim, não durou nem um ano, eu arrumei outra, aí fiz dois filhos na outra, aí não deu mais, tinha que trabalhar, pago pensão pra um, os outros dois eu sustento.
P/1 – Aí não dá tempo pra.
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R – Não dá, não dá tempo.
P/1 – Você separou da primeira por quê? o que foi que aconteceu?
R – Não deu certo, muita briga.
P/1 – Vocês brigavam muito?
R – É, brigava muito.
P/1 – Por quê? Me conta que tipo de briga.
R – Ela gostava de sair muito, eu não gostava, aí.
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P/1 – Você tinha ciúmes?
R – Tinha, tinha ciúme.
P/1 – Você tinha ciúmes?
R – Tinha, aí foi, não deu certo, separamos.
P/1 – Mas quem quis separar?
R – Foi ela, ela e eu, os dois, nós conversou, acordo, falei que não dava mais, nossa família não queria, mas nenhum gostava mais do outro, foi se desgastando a relação, aí a gente separou.
P/1 – Aí você casou com outra, me conta da segunda.
R – Foi, aí passei um ano aí, passei um ano rodado aí, solteiro.
P/1 – Vida de solteiro não é boa?
R – É boa, aí comecei a trabalhar na catraia.
P/1 – Como foi que você começou a trabalhar na catraia?
R – Eu era embalador, aí de embalador passei a trabalhar no mercado mesmo, de repositor, arrumava as mercadorias, daí bem em frente tem esse aterro que tem bem na beira aí, era, aí que era o ponto comercial da cidade, centro comercial, aí que era o mercado, o mercado aqui, em frente era o porto da catraia.
Aí sempre na hora do intervalo eu ia pra lá, ficava olhando os cara que trabalhava no motor, até que aprendi, aí o meu irmão faliu, faliu o mercado, aí passamos tudo pra catraia.
P/1 – Faliu o mercado do seu irmão?
R – Faliu.
P/1 – Por que faliu?
R – Rapaz, ele foi se meter em política foi apoiar um candidato aí, ajudou, aí ele ganhou pra prefeito, aí na época lá ele gastou muito, aí não teve como se recuperar, aí faliu, aí ficamos só com o porto da catraia.
P/1 – Todos os seus irmãos foram pra catraia?
R – Foi, a maioria.
P/1 – Como que é o trabalho na catraia?
R – É bom, eu gosto demais de trabalhar aqui, pintou muita oportunidade pra mim sair daqui, mas só que eu me acostumei muito aqui já, conheço muitas pessoas, às vezes é complicado que pega muito sol, muito sol, chuva.
P/1 – Mas como é que é, você trabalha todo dia, começa que horas? Me explica.
R – Todo dia, tem duas folgas no mês.
P/1 – Você vai cedo, que horas começa?
R – A gente pega quatro e meia da manhã, tem uma hora de intervalo, aí larga uma hora, uma hora da tarde, aí pega só no outro dia.
P/1 – Você vai de quatro e meia da manhã até uma hora?
R – É, até uma hora.
P/1 – Todo dia?
R – É, tem duas folgas no mês.
P/1 – E é sempre essa travessia?
R – É sempre travessia.
P/1 – Entre o Pará e o Amapá.
R – Mas a gente faz turismo também, a gente leva o pessoal na cachoeira.
P/1 – Mas pela mesma empresa?
R – É, pela mesma empresa, é mais eu que levo, que sei mais o caminho, eu mais dois irmão meu.
P/1 – Você ganha bem aqui?
R – Razoável, dá de livrar pra gelada no fim do mês ainda, paga as contas ainda sobra pra gelada ainda.
P/1 – E aí, fora da catraia que mais que você faz, você me falou que era fiscal, o que quer dizer isso?
R – Fiscal fica naquele balcão ali, eu fico só supervisionando as catraias, às vezes falta alguma coisa, vou, eu passo pro gerente pro gerente comprar, algum problema com alguma funcionário, se haver alguma problema os caras lá vão pra cima de mim, se faltar catraia: “Ei, cadê a catraia?”, eu tenho que resolver, falta funcionário, tem que correr atrás pra trazer pra trabalhar no lugar que faltou.
P/1 – Isso é parte do mesmo trabalho pra mesma empresa?
R – É.
P/1 – Então é no mesmo horário, das quatro e meia a uma?
R – No mesmo horário, eu faço essa aí, no mesmo horário.
P/1 – E aí quando dá uma hora tu faz o quê?
R – Uma hora, aí eu vou pra casa, família, dia de quinta-feira bato uma bola lá no Beque, esporte, então às vezes bebo uma geladinha por aí.
P/1 – Todo dia você bebe uma geladinha?
R – Não, não é todo, só final de semana, tem o joguinho, às vezes de quinta-feira a gente joga uma peladinha lá e depois do jogo se reúne com a galera, os amigos, os irmãos, aí toma uma geladinha.
P/1 – E a sua mulher faz o quê?
R – Ela fica em casa, ela, atualmente só tenho ela, se eu estou incentivando ela a fazer faculdade.
P/1 – Ela faz faculdade?
R – Ela vai fazer.
P/1 – De?
R – Enfermagem, o sonho dela é ser enferemeira.
P/1 – Agora, Tiva, vamos voltar um pouco, como é que é a vida na cidade, o que é bom de fazer aqui em Laranjal?
R – É bom, é bom porque a gente, todo mundo conhece todo mundo, é bom pra conversar.
P/1 – A maioria das pessoas veio da onde?
R – A maioria é do Maranhão, a maioria do pessoal, tem muito maranhense aí.
P/1 – Da sua família veio alguém do Maranhão, não?
R – Não, todo mundo é daqui mesmo, da cidade.
P/1 – Mas a maior parte chegou do Maranhão?
R – Foi, a maior parte do Maranhão.
P/1 – Eles chegaram pra trabalhar aonde?
R – Trabalhar na Jari Celulose, na fábrica de papel.
P/1 – Desde quando que esse pessoal chegou?
R – Rapaz, faz muito tempo, 50 anos, coisa assim, faz muito tempo.
P/1 – Por exemplo, nem você nem nenhum dos seus irmãos, ninguém trabalhou na fábrica até hoje?
R – Eu tenho só uma sobrinha que trabalhou lá, ela trabalha ainda lá.
P/1 – Por que acabou ninguém trabalhando na fábrica?
R – Não, porque nós trabalhava mais terceirizado, trabalhava mais prestando serviço, sempre trabalhando no mercado, aí o mercado tinha convênio com eles lá, aí o porto de catraia também tem convênio com eles na travessia de funcionários, sempre a gente trabalhou assim, nunca.
P/1 – Então quanto da cidade trabalha na fábrica e quanto, todo mundo depende da fábrica aqui?
R – É, hoje em dia se parar a fábrica, ela está parada, a região levou sorte, porque está parada ela, vão fazer outro tipo de investimento, é papel, agora vão fazer pra solúvel, que é o gel, um gel.
P/1 – Vão fazer o quê?
R – Solúvel, é um outro material, que papel não tava adiantando, só prejuízo pra fábrica, ela está parada faz quase um ano, parada.
P/1 – E aí, o que está acontecendo?
R – Aí a sorte foi que a região não sentiu muito o abalo porque começou a hidroelétrica, a barragem, aí puxou muita gente lá, aí o dinheiro não faltou muito pro pessoal aí.
P/1 – E a fábrica vai voltar?
R – Vai voltar agora, vai voltar agora em outubro em diante, já começa aí a melhorar de novo, melhorar mais.
P/1 – Melhora que aí o pessoal, quer dizer, com a hidroelétrica não ficou sem dinheiro o pessoal?
R – Não ficou, não, puxou muita gente aí.
P/1 – A hidroelétrica é de quem?
R – É dividido, Pará e Amapá, entre a cachoeira, a barragem que tão fazendo lá.
P/1 – E o pessoal continua pescando, caçando ou não pode mais?
R – Continua pescando, mas caçando não.
P/1 – Mas pode?
R – Caçando não pode.
P/1 – E o pessoal não tem costume de caçar?
R – Acho que eles caçam por debaixo dos panos, mas acho que difícil, é mais pesca, mais pesca.
P/1 – Tiva, quais são as festas mais legais que tem aqui?
R – Aqui é Laranjal Verão, é um período que tem Laranjal Verão aí, que fazem, a prefeitura faz, festa junina também, cada faixa de três dias, três dias de cada, três dias de festa, tem as boates também.
P/1 – Aí vocês vão muito, você vai muito?
R – Difícil eu ir em boate, vou mais quando tem festa, assim, popular, que na rua assim, na praça, agora, boate é muito difícil eu ir.
P/1 – Os seus filhos têm que idade?
R – A mais velha tem 12 anos, com a primeira mulher, os outros, uma tem seis e o outro tem quatro, o nome da primeira é Andrela, Andrela Deusiane, aí da segunda é Maria Eduarda, o terceiro é o Mateus.
P/1 – Eles já vão pra escola todos?
R – É, todos estudam já.
P/1 – Onde que é a escola aqui?
R – A escola é aqui na beira mesmo que a minha filha maior estuda, Andrela, ela tá na sétima série já, 12 anos, os outros dois estudam no Dinâmica, é no Agreste, bairro do Agreste.
P/1 – Mas é escola do estado?
R – A maior estuda do estado, os dois menor é particular.
P/1 – Você então tem que bancar a escola também.
R – É tenho que me virar, me virar nos 30 aí.
P/1 – O que você faz então além da catraia pra ganhar mais algum?
R – Não, porque aqui às vezes faz hora extra aqui, trabalha até uma hora, às vezes tem uma cachoeirinha, a gente trabalha o dia todo, às vezes a catraia é alugada pra alguma empresa, levar o pessoal pra cachoeira.
P/1 – Tem muita gente de fora aqui?
R – Tem bastante, nessa época da hidroelétrica deu demais, muita gente mesmo.
P/1 – Veio quem?
R – Veio gente de Paraná, veio de todo lugar do Brasil.
P/1 – Aí mudou muito a vida na cidade?
R – Mudou, mudou.
P/1 – O que mudou, pra bom ou pra mal?
R – Mudou pra bom, pra ruim não, porque correu mais dinheiro na cidade, aí o povo tudo com dinheiro, aí é melhor.
P/1 – Aqui você, na catraia então você fica levando o povo de cá pra lá?
R – É.
P/1 – Esse povo que vai de cá pra lá, eles vão de onde pra onde, a maior parte das pessoas?
R – A maior parte é de Laranjal do Jari que trabalha pra esse outro lado aqui, aí eles vão de manhã e volta de tarde, de manhã e de tarde todo dia.
P/1 – Eles trabalham pra fábrica ou também pros funcionários?
R – Pra fábrica, porque tem empresa aí que trabalha com reflorestamento, planta depois colhe, tem muito, atravessa também aí, aí deixa a bicicleta lá no nosso ponto lá.
P/1 – Tiva, você pra falar, você conhece alguém, você se corresponde com alguém que seja de fora daqui, você tem amigos fora ou alguém da família?
R – Tenho, tenho.
P/1 – Aonde?
R – Tenho em Manaus, tenho em São Paulo, tenho dois sobrinhos em São Paulo.
P/1 – Que mudaram pra lá?
R – Foi.
P/1 – E aí você sabe da vida deles, eles sabem da tua, como é que é que vocês se correspondem?
R – Através de celular, sempre eles ligam.
P/1 – É pelo telefone?
R – É pelo telefone.
P/1 – O pessoal de Manaus também?
R – É.
P/1 – Ninguém manda um postal pra você, não manda carta, nada disso?
R – Nada, não, telefone.
P/1 – Telefone é o jeito maior que você tem?
R – É, maior.
P/1 – Você já fez algum trabalho que você, por exemplo, tenha que levar uma encomenda, alguma coisa, pra algum desses canais aí dessas comunidades, o pessoal faz entrega aí, como é que é que funciona isso?
R – Faz, às vezes, nós trabalha mais, assim, com transporte, transporte de pessoas, vão fazer algum trabalho, a gente leva e traz.
P/1 – A pessoa?
R – É, a pessoa.
P/1 – Mas pra dentro dos rios ou só entre essas duas cidades?
R – Lá pra o rumo da cachoeira, a cachoeira, São José, a comunidade que tem pra dentro aí, cachoeira, São José, Padaria, tudo é comunidade.
P/1 – E você leva eles lá pra lá?
R – Levo.
P/1 – Em que horário?
R – A maioria das vezes é de manhã, pela parte da manhã, às vezes eu fico o dia todo pra lá, às vezes vou lá e volto.
P/1 – Você gosta de fazer isso, Tiva?
R – Eu gosto demais.
P/1 – Qual que é o seu sonho, o que você gostaria de fazer, além disso que você está fazendo?
R – Eu gostaria de, o melhor sonho, o meu melhor sonho é fazer uma faculdade.
P/1 – Você queria fazer?
R – Queria.
P/1 – Por quê?
R – Melhorar, pra dar melhor vida pros meus filhos, pra dar um futuro pra eles.
P/1 – Você faria faculdade de quê?
R – Faculdade de Física, Química, ser professor.
P/1 – Queria ser professor?
R – É, professor.
P/1 – Tem a faculdade aqui ou você teria que ir pra algum lugar?
R – Tem em Macapá.
P/1 – Você já foi a Macapá?
R – Já.
P/1 – O que você foi fazer lá?
R – Eu tenho um irmão lá que tem uma loja de informática, mas às vezes eu estou de férias, eu passo dez dias, cinco dias lá, com ele lá.
P/1 – Você gosta de lá?
R – Gosto.
P/1 – É muito diferente daqui?
R – É diferente.
P/1 – O que é que tem?
R – É mais agitada a vida lá, é mais agitada, o trânsito, muita gente.
P/1 – Cidade?
R – É.
P/1 – E você gosta disso?
R – Eu gosto pra passear, agora, pra morar eu gosto mais de vida pacata.
P/1 – Fora de Macapá, você foi como até Macapá?
R – Fui com, transporte?
P/1 – É?
R – Ônibus.
P/1 – É muito longe?
R – Ônibus, de barco.
P/1 – É muito longe daqui?
R – É 250 quilômetros daqui pra lá, tira seis horas, sete horas de ônibus, de barco é um dia e meio.
P/1 – Nossa!
R – É longe.
P/1 – É bonito?
R – De barco é muito bonito, só olhando, viajando, passa em muitos lugares bonitos.
P/1 – E aí depois, quer dizer, fora Macapá você foi pra onde já?
R – Só nesses lugar mesmo.
P/1 – Só por aqui e Macapá?
R – Só por aqui e Macapá.
P/1 – Você tem vontade de conhecer outro estado do Brasil?
R – Tenho.
P/1 – Qual?
R – Tenho vontade de conhecer Ceará, as praias.
P/1 – Você nunca foi numa praia, assim, de mar?
R – Não, nunca fui, não.
P/1 – Nunca viu o mar?
R – Nunca, só pela televisão.
P/1 – Você assiste muita televisão?
R – Assisto.
P/1 – O que você gosta de ver na TV?
R – Futebol, novela também, eu gosto de assistir novela, o pessoal encarna em mim, mas fazer o que, é gosto, gosto de mais de novela.
P/1 – O que você mais gosta de fazer na vida, Tiva?
R – Ah, eu gosto de fazer na vida é tanta coisa, ficar com a família.
P/1 – Você gosta de estar casado?
R – Gosto demais, a minha família, eu estou trabalhando, fico rezando assim pra chegar a hora pra mim embora, pra mim chegar em casa, chega lá, os moleques perturbar, assim, eles estão viajando em Macapá eles estão.
P/1 – Agora?
R – Estão, porque a minha sogra, a minha sogra mora pra lá, se mudou pra lá, faz uns oito dias que eles estão pra lá, estou agoniado, chego em casa assim, é um vazio, nem paro em casa quase, de saudades.
P/1 – Aí você come aonde, você chega em casa e come aonde, já que está sem mulher?
R – Como lá na casa da minha mãe, restaurante lá em casa, que eu falo pra ela (risos).
P/1 – Por que quando eles não estão aí você não gosta de ficar sozinho em casa.
R – Não, gosto não, eu gosto mais de conversar com pessoas do que ficar sozinho, no futebol, assim, eu gosto de assistir com pessoas, minha mulher assiste comigo, ela não gosta de futebol, mas ela fica lá do meu lado, lá assistindo, aí eu desço aqui pra parte de baixo da cidade, eu fico com a minha família assistindo.
P/1 – Com os teus filhos também, você adora teus filhos?
R – Adoro demais.
P/1 – Qual que você tem mais xodó?
R – Rapaz, é com todos.
P/1 – Inclusive a mais velha?
R – Inclusive a mais velha, todos eu amo muito eles.
P/1 – Fora fazer faculdade você tem algum outro sonho?
R – É ver eles formados tudinho.
P/1 – Ah, é?
R – É, formado todos, aí eu vou, como é que se diz aí, quando eu ver os meus filhos formados eu vou ficar um cara, se Deus quiser me levar pode levar, eu vou ser um cara realizado, minha luta tudo é por eles.
P/1 – Mas mesmo a parte da faculdade, assim, você vai fazer alguma hora ou você já desistiu?
R – Não desisti, não.
P/1 – Mas que horas que tu vai fazer isso?
R – Ah, não sei, eu tenho um irmão, esse irmão que está em Macapá, o Dacimar, esse que colocou o nome em mim, ele fica pedindo a nós pra ir pra lá, trabalhar lá, fazer faculdade, muita promessa, eu estou pensando, ir pra lá.
P/1 – Ia levar os meninos tudo?
R – Ia levar.
P/1 – Pra poder fazer o que, pra eles estudarem ou pra você também?
R – Estudar, eles estudarem, eu também.
P/1 – Por que lá é melhor?
R – É, ele fala que é melhor, que lá ele vai me dar oportunidade de trabalhar porque ele trabalha com informática, é a área que ganha mais.
P/1 – Tem muito trabalho?
R – Tem, tem uma loja lá ele, abriu outra agora no shopping, está bem, ele não tem pessoa de confiança dele lá.
P/1 – Ele quer que você vá trabalhar com ele?
R – Ele tem pessoas, mas pouca de confiança lá, que nós vamos pra lá trabalhar com ele.
P/1 – E o seu pai, o que ele acha de você ir pra lá?
R – Ele dá força pra ir, se for pra crescer na vida ele apoia.
P/1 – Ele hoje trabalha aonde, o seu pai?
R – Trabalha lá no porto de catraia com nós lá.
P/1 – O que ele faz?
R – Ele toma conta do almoxarifado lá, negócio de peça de motor, é material de limpeza, tudo ele que toma conta, às vezes precisa de alguma coisa, de uma chave de fenda, alguma coisa, fala com ele que ele traz, só com ele.
P/1 – Mas é pra mesma empresa que ele trabalha?
R – Pra mesma empresa, é a mesma empresa.
P/1 – Ele que levou vocês pra empresa?
R – Foi.
P/1 – Agora, só pra gente ir terminando, Tiva, me conta um pouquinho da pesca, como é que aqui no rio, quanto tempo dura, que peixe que vocês pescam.
R – Aqui tem um período aí, é a partir de agosto agora o período de pesca, é autorizado, tem época aqui que não é autorizado pescar, pesca só o pessoal da comunidade mesmo, que precisa comer, o pessoal ribeirinho, o pessoal que vai pescar de maradeira não pode, assim, aí tarrafa.
P/1 – Não pode?
R – Não.
P/1 – Começa quando a poder?
R – A partir de agosto agora.
P/1 – E vai até quando?
R – Vai, acho que vai até dezembro, janeiro, coisa assim.
P/1 – E aí pega que tipo de peixe?
R – Tambaqui, piracutinga, pescado, aracu, pacu, tudo pega.
P/1 – Muito peixe?
R – Pega mais lá na, perto da cachoeira lá, sabão, um pouco de sabão, tapuru, tudo é bom de peixe, é muita gente pra pegar o peixe lá, mas nessa época, fora essa época os peixe vem tudo de Santarém, vem tudo de barco de Santarém, Santarém fica no Pará, tem a colônia dos pescador na beira aí, os peixe vêm tudo de lá de Santarém, a maioria, Santarém, Almerim.
P/1 – Quanto tempo é daqui até Santarém?
R – Três dias.
P/1 – E o peixe vem de lá?
R – Vem gelado, geleira, que chama, aquelas cubas.
P/1 – Por que não pega os peixes aqui da região, o pessoal não come? Eu não estou entendendo.
R – Não, porque aqui não dá muito, assim, muito, muito pra o pessoal vender, não dá muito, assim, pra suprir as necessidades da cidade, aí vem mais de lá.
P/1 – E aqui, Tiva, a comunidade, as pessoas são muito pobres, como é que é a situação?
R – Tem muitos pobres aí, tem muitas pessoas que passa fome, passa necessidade, muita mesmo, eu ando muito por aí, eu ando nessas comunidades e tem lugar que dá pena, assim, às vezes até ajudo.
P/1 – Esse pessoal que passa fome é por que, eles não têm trabalho, o que é a situação?
R – É, não tem trabalho, até essa época, época assim que estão empregado, mesmo assim não sei porque chega em casa aqui, um dia eu tava, fui com o pessoal lá da Fundação sair numa comunidade aí, era umas três horas da tarde, uma criancinha não tinha comida, deu uma pena, eu comprei comida pra ele, estava descalço, só de cueca, a cuequinha rasgada.
Eu vejo, que eu não gosto, quando eu vejo alguma pessoa precisando alguma coisa eu dou até o que eu não tenho, assim, pra ajudar eu ajudo, que eu fico imaginando os meus filhos, de repente.
P/1 – Essa pessoal em geral está aqui na cidade ou está nas comunidades?
R – Nas comunidades.
P/1 – O pessoal mais pobre está nas comunidades?
R – É, nas comunidades.
P/1 – E aí você faz algum trabalho com a fundação pra isso ou você só leva eles lá?
R – Eu só faço levar eles, eu ajudo eles lá, assim, tem alguma tarefa, me dá pra mim fazer.
P/1 – Qual dos trabalhos que eles tão fazendo que você acha que muda alguma coisa?
R – Muda, tem um projeto que eles fazem, eles trocam, faz tipo mercado, eles trocam latinha, saco de lixo, esse negócio, com roupa, com cesta básica, eu gosto de ver quando eles fazem isso aí, às vezes a catraia vem cheia de latinha de lá das comunidades, que eles trocam.
P/1 – E a latinha vai pra onde?
R – Vai pra Fundação Orsa, eu não sei o que eles faz com as latinha, não.
P/1 – Leva as latinhas.
R – É, aí eles trocam em comida, em roupa, eu acho bonito esse projeto deles.
P/1 – Então esse pessoal da comunidade que é mais pobre, aqui na cidade o pessoal.
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R – Na cidade tem também, mas acho que a comunidade às vezes passa mais necessidade.
P/1 – Aqui na cidade tem muita violência?
R – Até que nessa época agora, até que está, dificilmente vê um homicídio aí, mas antes, antigamente era cruel aí, não podia nem sair.
P/1 – Por quê?
R – Logo quando, voltando, logo quando eu era adolescente, assim, tinha uma época aí que tinha muitos garimpos por aqui, garimpo, aí havia muita pistolagem aí, matava muita gente aí.
P/1 – Pelo garimpo, os garimpeiros?
R – Sim, se matava aí na cidade, eles matavam gente inocente, às vezes oito horas da noite a gente podia, papai recolhia tudo nós porque não podia ficar na rua, arriscado levar uma bala, alguma coisa, aí foi, aí os garimpos foi falindo, foi por falta de ouro, aí foi se acabando.
P/1 – É isso que melhorou?
R – Melhorou, melhorou muito.
P/1 – Mas os garimpeiros, eles matavam as pessoa por quê?
R – Mais intriga assim deles, intriga.
P/1 – E droga não tinha, ou tem?
R – Nessa época não tinha, agora, depois que passou negócio de droga, negócio de gangue, tinha muita gangue, drogas, aí depois melhorou, agora esses tempos, agora está bom de mais, a pessoa pode andar aí de noite.
P/1 – Está bom?
R – De vez em quando assalto também, que nunca está cem por cento, assim, sem nada de violência, de vez em quando assalto, até um tempo desse, faz umas duas semanas que assaltaram os Correios, soube?
P/1 – Não, me conta.
R – Foi, assaltaram os Correios.
P/1 – O que levaram dos Correios?
R – Levaram 93 mil reais de lá.
P/1 – Nossa! E já se sabe quem foi?
R – Teve até refém lá, ninguém nunca descobriu quem levou.
P/1 – Mas não foi alguém da região?
R – Acho que o pessoal daqui não tem toda essa coragem, não.
P/1 – Foi bem feito o assalto?
R – Acho que não, não foi bem feito, porque machucaram pessoas lá dentro, os assaltantes.
P/1 – Foi violento?
R – Foi violento.
P/1 – Não descobriram nada, quem era?
R – Não, até hoje não descobriram, não.
P/1 – Os Correios ficou fechado por causa disso?
R – Acho que uns dois dias ele abriu, já abriu de novo.
P/1 – Os Correios aqui é muito importante?
R – É demais.
P/1 – O que é a importância dos Correios?
R – Porque a gente, hoje em dia a gente paga conta, lá tem banco, lá tem o Sedex.
P/1 – Vocês usam o Sedex?
R – A empresa usa muito, que a gente compra peça lá em Manaus, em São Paulo, motores, aí vem, chega rápido, aqui não tem.
P/1 – Então o Correios tem uma importância porque chegam as coisas, que mais, vocês pagam coisa lá?
R – Paga, conta de energia, de luz.
P/1 – Tudo é feito nos Correios?
R – É tudo feito, a maioria é no correio.
P/1 – Mais é o quê?
R – É isso aí, pagar conta lá, fazer encomenda, isso aí, é muito importante os Correios, o atendimento é bom lá também.
P/1 – Fora os Correios qual é o outro lugar mais importante aqui da cidade?
R – Hospital, hospital é importante, antes do hospital a gente dependia do hospital aqui do Pará antes, aqui não tinha, só era o posto, e agora a maioria do pessoal depende do pessoal de lá.
P/1 – Por que fizeram um bom hospital aí?
R – Foi, porque daqui ficou só o pronto-socorro aqui que funciona, aí lá não, lá pode internar, faz cirurgia, faz tudo lá.
P/1 – É novo esse hospital?
R – Não, acho que faz uns, faz um tempinho que ele foi inaugurado já, está melhor do que esse daqui, o pessoal daqui vão pra lá.
P/1 – Mas isso tem a ver com o que, com a política?
R – Tem, tem a ver com a política.
P/1 – E a política daqui do Amapá está boa agora?
R – Está péssima.
P/1 – É?
R – É.
P/1 – Por quê?
R – Ah, muitas coisas erradas aí, você vai dar uma volta na cidade pra você ver lá como é, a rua como é que está, cheia de buraco.
P/1 – Suja?
R – Cheia de buraco, suja, até que um tempo aí, falta de energia antes, racionamento, o povo se reuniu, aí fizeram uma manifestação aí, até que melhorou, se não fizesse isso.
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tinha dia que a gente ficava dois dias sem energia, uma noite, é quente aqui a região, ficava ruim demais.
P/1 – Todo mundo tem ar condicionado aqui?
R – Acho que de cem por cento, acho uns 40 por cento tem, hoje em dia ar condicionado é uma necessidade, assim, não é boçalidade, é necessidade porque você dormir só com o ventilador não dá, não.
P/1 – Muito quente.
R – Muito quente.
P/1 – É mais quente agora ou é mais quente na época do verão?
R – A época do verão é mais quente, no inverno é quente, mas não estão quente que nem no verão.
P/1 – Está bom, Tiva, a última coisa que eu queria te perguntar agora, se você pudesse escolher algum lugar, outro lugar do Brasil que você fosse conhecer, qual seria?
R – Rio de Janeiro.
P/1 – Por quê?
R – Aquela praia, Copacabana, tenho vontade de ir lá, só vontade.
P/1 – Você viu pela televisão?
R – É, pela televisão só, tomar um banho no mar lá, é o meu sonho.
P/1 – Está bom.
FINAL DA ENTREVISTA
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