Projeto Memórias do Comércio 2020-2021 – Módulo Bauru
Entrevista de Roberto Francisco de Bau - Sebo do Baú
Entrevistado por Luis Paulo Domingues e William Carneiro
Bauru, 26 de janeiro de 2021
Entrevista MC_HV011
Transcrito por Selma Paiva
P1 - Vamos lá! Senhor Roberto, pra começar, eu gostaria que o senhor falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que o senhor nasceu.
R1 – Sim. Meu nome completo é Roberto Francisco de Bau, nasci dia 4 de agosto de 1962, eu sou de São Paulo, capital, sou da gema, nasci no Itaim Bibi, em São Paulo.
P1 – Legal. E qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Meu pai é João Francisco de Bau. Ele estava vivo até o ano passado, com 94 anos faleceu trabalhando no sebo, meu vizinho aqui do lado. Ele que construiu tudo isso aqui, depois eu dei, estou dando continuidade, né? Minha mãe chama-se Maria Estela da Silva Bau.
P1 – O senhor lembra o nome, teve convivência com seus avós e lembra o nome deles?
R1 – Tive mais com a minha avó, da parte do meu pai. Da minha mãe faleceu todos, né? O meu avô e minha avó da parte da minha mãe não conheci. Mas a minha avó eu vivi muito com ela.
P1 – Como ela chama?
R1 – Eles são do sertão da Bahia, é a Dona Ana Rosa Bau, a minha avó.
P1 – Legal.
R1 – É uma senhora mulata, aquelas tipo bugres, né, aquelas velhonas bugres linda demais, com aquelas saionas. Eu sempre grudado nela, eu ia para o sertão da Bahia, lá em Cafarnaum, que minha mãe e meu pai nunca saíam aqui de São Paulo, de São Paulo lá, a gente morava lá. E eu que ia, meu pai dava um dinheirinho e a gente ia ver a minha mãe, a mãe dele e o pai dele. E ataca eu e minha mãe naquela estrada, naqueles ônibus antigos, quatro, cinco dias dentro de um ônibus e vai, é uma história maravilhosa. Conhece tanta gente, aquele radinho de pilha, Roberto Carlos tocando no ônibus, nunca esqueço isso daí na minha cabeça e eu era pequeno, tinha dez, onze anos de idade. Chegava lá, na rodoviária de Feira de Santana e andava mais duas, três horas em cima de um pau de arara. Não é ônibus não, é aquele caminhão, você pendurado lá, eu e minha mãe. (risos) Gente, aquela poeira entrando no seu olho, você chegava todo vermelho, de tanta terra vermelha lá no sertãozão da Bahia. E aí vai.
P1 – Então...
R1 – A casa da minha avó era uma casa de barro, sabe aquelas casas de barro, feita de barro?
P1 – Sei.
R1 – Cheio de... os varalzinho era tudo cheio de carne salgada, que eles salgavam a carne para... era pouca água que tinha, né, a seca sempre predominou no nordeste, né, ainda mais no sertãozão. Andava muito de jegue. Era jegue. O carro lá, quem tinha aqueles jipes, era rico. Então era jeguinho ou então era bicicleta, (risos) era assim.
P1 – E o senhor teve irmãos? Tem irmãos?
R1 – Tem o meu irmão Antônio Sérgio. Ele está em São Paulo, aí.
P1 – Está em São Paulo?
R1 – Está em São Paulo, não faz parte do sebo não, né?
P1 – Tá legal. E o senhor sabe de onde veio a sua família? Porque eles são do nordeste, né, mas esse sobrenome de Bau é diferente, né?
R1 – Meu filho andou puxando isso aí, o meu filho e o nome, o sobrenome é judeu. Ele foi atrás da árvore genealógica, aqueles negócios, né, o meu filho e aí ele puxou, puxou, puxou e chegou até aquele filme, A Lista de Schindler. Tem esse filme, né?
P1 – Tem.
R1 – E na lista de Schindler, no cemitério, no final do filme, tem a família Bau. Ele falou: “Pai, o senhor tem descendência de judeus”. Mas a minha família, meu pai, meu avô são tudo negros, são altos, eu que nasci pequenininho e meu pai também, mas o meu avô era muito alto, sabe aqueles pardão, sabe aqueles... mas você sabe que tem descendência de negros, mesmo. Mas agora não sei, o judeu é meio branco, me confundi um pouco, não entendi, é uma mistura, né?
P1 – É. Às vezes pode ser de antes, né?
R1 – É, do Bau eu só sei isso aí só, descendência com judeu.
P1 – E como que seu pai veio parar em São Paulo?
R1 – Através do problema de serviço, de não arrumar serviço no sertão, a pobreza, a seca e muita gente veio de lá assim, tentar a vida em São Paulo ou em outras capitais. Meu pai fez a vida em São Paulo, viveu em São Paulo e ama São Paulo, amava né, que ele faleceu, mas sempre com gratidão a São Paulo, né? Fez a vidinha dele, através de zelador, sempre trabalhou na área de... primeiro ele foi para o Paraná, da Bahia ele foi para o Paraná, cultivar café em uma fazenda lá, isso eu lembro que ele falou para mim. Foi para lá numa fazenda, lutou, lutou lá, fazia, trabalhava direitinho. De lá ele conheceu um rapaz que vinha para São Paulo. Ele trabalhou bastante lá, o pessoal gostava muito dele lá e o trouxe para São Paulo. E em São Paulo, aqui, ele começou a trabalhar em banca de jornal, ele conjuminava muita banca de jornal, aí ele trabalhou, como estava trabalhando de zelador, sempre trabalhou de zelador, né? E de zelador, na Rua Barão de Campinas, ali, esquina com a Alameda Glete, foi a minha infância ali, perto da Folha de São Paulo, eu descia de carrinho de rolimã, eu e a molecada, de pneu, andando de pneu, empurrando pneu. Olha, é uma loucura! (risos). E vai que vai. E na esquina na Alameda Glete tinha uma banca de jornal que era do meu pai, do lado, do outro lado, do lado direito, tem um posto, não sei se tem um posto de gasolina ainda e tinha uma padaria do lado da banca e no prédio do meu pai eu que tomava conta, ele era o zelador, mas era eu que tomava conta do prédio, enquanto ele ficava na banca de jornal. E foi assim que começou. Aí tem o Messias também, o Messias começou com o meu pai também, só que o Messias começou lá na Sé, né, ele tinha uma banquinha na Sé, o Messias.
P1 – O Messias era seu amigo? O que era?
R1 – Amigo de São Paulo, é, um sebo grande do Messias lá, né? E aí a gente ia buscar o jornal de madrugada, eu e meu pai sempre, ia até a Sé, o Centro lá e encontrava o Messias, com um montão de gente lá, o Brandão também tinha banca de jornal, todo mundo. Eu era pequenininho, meu pai que contava isso aí para mim. E aí era tudo amigo, né e aí começou a vender, vendia muita figurinha, Tarzan, tinha muito Tarzan, aqueles álbuns antigos que agora, no sebo, é raro. Antigamente era fácil achar isso. E assim foi, conjuminou o trabalho de zelador e até eu casar, eu casei, cresci, casei e meu pai continuou como zelador e ficou lá mesmo em São Paulo e aí eu, a minha esposa é de Bauru aqui e comecei a trabalhar no Banco e fui, fui, entregava jornal em São Paulo. Fazia um montão de coisa em São Paulo, a gente se vira, faz muita coisa ao mesmo tempo. Aí comprei um apartamento, com esse dinheirinho comprei um apartamento aqui no quilômetro três da Anchieta, na Vila Livieiro e vim pra cá e ia resolvendo. A minha esposa trabalhava na Bowls Eletrônica aqui na Avenida São João, agora é United, uma empresa multinacional. E fomos, fomos, fomos tocando a vida. Aí minha esposa resolveu vir para Bauru e eu vim, eu não era nada, só namorava, aí eu falei, ela falou: “Não, vou ter que ir embora, não sei o que, tal, tal, tal” e resolveu. Falei: “Não, vou atrás dela”. Peguei uma moto, eu tinha uma CG velha, (risos) uma CGzinha quatro marchas, peguei dois cheques do Unibanco, (risos), pus no bolso, falei só para minha mãe: “Mãe, vou buscar a Vanda”, que é a minha esposa, né? “Mas você é louco, você nunca viajou”. Nunca tinha viajado, nunca tinha pegado estrada para longe, só para Santos, né? Aí peguei a estrada ali, vim pela Castelo Branco, vim embora.
P1 – Viu, senhor Roberto...
R1 – Aí vim encontrar com ela aqui em Bauru. Caí na estrada, o ônibus Expresso de Prata passou, eu colado no ônibus, assim, o ônibus passou, caí dentro de um buraco lá em Tatuí, o caminhoneiro me trouxe (risos) - graças a Deus não me machuquei, porque estava muito bem equipado - de Tatuí até Bauru, que ele estava indo para Dracena, um senhor de idade muito bacana. Pessoal me ajudou a colocar em cima do caminhão a moto, o pessoal do posto. Olha, é cada aventura!
P1 – Eu imagino.
R1 – Cheguei aqui em Bauru e tudo bem, aí comecei a minha vida aqui em Bauru. Comecei. Quando eu cheguei em Bauru eu olhei o céu, é um céu diferente, no interior é um céu azul, São Paulo é mais nubladão, né? Eu me encantei com o céu de Bauru. E com a aliança no bolso, eu tinha comprado a aliança no Mappin. Eu comprei a aliança no Mappin para pedir a mão em casa... em namoro, né, noivado, namoro. E aí fui, vim na casa deles, foi a maior festa, ninguém entendia nada, aquela, eu todo machucado com a aliança na mão, pedindo a mão da minha esposa Vanda para os pais dela aqui no Redentor. Aí foi, casamos, tudo e comecei a trabalhar aqui na Editora Alto Astral, nas empresas aqui, né? E aí eu comecei a trabalhar na Editora Alto Astral e aí eu tinha Unimed e meu pai estava muito doente em São Paulo, problema de esôfago. Foi aí que começou o sebo, hein, problema de esôfago. Eu posso começar? Estou falando muito?
P1 – Não, não. Eu gostaria de voltar só um pouquinho, na sua infância lá em São Paulo. O seu pai estudou? Chegou a estudar? Nesse meio tempo que ele chegou até São Paulo, ele chegou a ir para a escola estudar?
R1 – Não, ele só fez mesmo o primário. Ele sabia escrever, ele ensinava, ele entendia muito, ele era muito inteligente, na medida da proporção dele. Ele sabia o alfabeto, sabia fazer conta muito bem, as continhas sabia, ninguém enrolava ele não, entendeu? Mas ele estudou até o primário, só.
P1 – E você, na sua infância, como você passou a infância lá em São Paulo? O que você lembra do seu período de infância, das brincadeiras, do ambiente, do lugar que você morava, como que era?
R1 – Meu Deus do céu, foi uma infância maravilhosa. Eu sempre, a infância antiga é uma infância que você brinca na rua, você brinca de pega-pega, o pega-pega estava constante com a gente, com o pessoal, próprio em São Paulo, em São Paulo você vê que não é interior de... em São Paulo você fazia amizades ainda, naquele tempo. Então, na minha rua ali, em qualquer rua que tinha, a gente fazia amizade com o pessoal lá. Então, a gente brincava na rua de bola de gude, né, de tirar bola de gude, brincava de pega-pega, brincava de esconde-esconde, era muito gostoso. Como te falei, brincava, comprava uns carrinhos, amarrava um fiozinho no carrinho, rodava quarteirão e fazia que estava viajando, contando história, o carrinho quebrava na estrada, você arrumava ali no chão, você conversava com o carrinho, era uma brinca... era uma coisa, olha, parecia que era real, tudo o que a gente fazia era real, não tinha malícia, brincava com menino, com menina, ficava junto ali, não existia aquele negócio como é hoje, coisa maliciosa.
P1 – E que bairro que era?
R1 - Depois você vai crescendo e não vai brincando mais, mas não existia.
P1 – E qual era o bairro de quando você era criança, que você morava?
R1 – Eu morava, eu morei na Rua Frei Caneca, certo? Ali perto da Rua Augusta, quando faz aquela curvinha da Rua Augusta ali, eu morava ali perto da escadaria da Nove de Julho, que desce, eu descia muito aquela escadaria, subia, se escondia, pulava naquele buracão da escadaria ali, da Frei Caneca, para se esconder do pessoal, dos amiguinhos. Ixi, pulava no prédio do lado, de um moço lá que tinha um jardinzinho para se esconder e o cara: “Sai daí, Roberto, sai daí, está estragando a minha grama”. (risos) E assim vai, era ali a minha infância.
P1 – Senhor Roberto...
R1 – Depois eu passei para minha, depois eu mudei para... eu ia muito para Guarulhos, com as minhas sobrinhas, para o Grajaú, a gente ia muito para as casas dos parentes. Como a gente morava na mesma cidade, a gente ia para as vilas. Então, nas vilas a gente brincava mais ainda. Se a gente brincava lá no Centrão, nas vilas a gente brincava mais ainda. Nas minhas férias eu ia para a casa das minhas primas, dormia tudo na mesma cama, mulher com homem, não tinha nada disso, era só alegria.
P1 – E o senhor estudou onde, na escola em São Paulo?
R1 – Estudei em São Paulo ali na Conselheiro Antônio Prado, na Barra Funda.
P1 – O senhor lembra o nome do colégio, dos professores?
R1 – O primeiro é Escola Estadual Conselheiro Antônio Prado, na Vitorino Camilo, esquina com a Eduardo Prado ali.
P1 – E o senhor gostava da escola? Gostava de ir na escola?
R1 – Adorava. Primeiramente, desculpa, primeiramente estudei no Colégio Maria José, mais para cima um pouco, ali perto da Barão de Limeira, Barão de Limeira com a Alameda Glete, lá na frente, lá para quem vai para a Duque de Caxias lá, onde tem a escola Coração de Jesus. Fiz minha Primeira Comunhão no Coração de Jesus lá, naquela praça, onde agora é a Cracolândia, que virou lá, né? Eu não sei, parece que virou Cracolândia lá, mas antigamente a gente andava tudo aquilo lá brincando. Era tudo lindo, antigamente, lá. Depois que fui para o Colégio Conselheiro Antônio Prado, aí fiz o resto do meu... até o colegial lá.
P1 – E o senhor gostava de qual matéria? Dos professores, o que o senhor lembra, que matéria que o senhor ia melhor?
R1 – Eu gostava muito da parte de História e Geografia, puxado, na Matemática eu era meio lento. Física, Matemática, Química, eu sofria um pouco. A Dona Dalva, tem até uns livros da Dona Dalva aqui. Ela era brava e a Dona Dalva era de Matemática e o professor Rui era de Português, parecia aquele, parecia o Rui Barbosa. Ele era com aquele bigodão dele assim, (risos), branco, mas muito elegante, aquela roupa bem elegante, aquelas roupas tudo fechada, até em cima, com a régua de madeira na mão. Ai, meu Deus! Quando ele passava perto de você, se você não falasse... porque era tomada, você tem que ler o livro e ele tomava alguma coisa lá na frente lá, tomava alguma matéria daquele livro, falava alguma coisa daquele livro, para você falar em chamada oral. E você, se você não fizesse, meu pai! Mas olha, hoje eu agradeço, mas na época as pernas tremiam com o professor Rui, viu.
P1 – Sim.
R1 – Mas História e Geografia eu ia bem.
P1 – E na escola...
R1 – Tinha francês antigamente, tinha francês, tinha latim. Bom, a gente estudava francês e latim antigamente nas escolas, inglês, né?
P2 – O senhor lembra alguma coisa de francês?
R1 – Francês eu: “Bonjour, mademoiselle, comment ça va? e aí vai. Francês eu gostava. (risos)
P2 – E na escola, o que os professores falavam do senhor? Era mais comportado, mais agitado, como é que era?
R1 – Eu ficava na frente porque a minha absorção - agora melhorei muito - de memorização era meio devagar. Então, eu ficava mais na frente. Eu mesmo ia para a frente ali, ficava ali, mas nunca tive reclamação, eu era quieto, era tímido, quieto, né? Então, na hora de sair para fora eu bagunçava, jogava bola, bagunçava mesmo na hora do recreio, mas na sala de aula era um santinho. (risos) Do pau oco. (risos)
P1 – E desde essa época que vem a paixão do senhor pelos livros? Ou pela escola ou pela banca de jornal do seu pai? Como o senhor se interessou por esse universo da literatura, dos discos? Eu sei que o senhor tem discos de vinil, muito aí também. Como o senhor se apaixonou por esse meio? Já começou aí?
R1 – Não, começou aqui em Bauru só. Eu não era muito fã de leitura, não.
P1 – Sei.
R1 – Então, foi aqui em Bauru que comecei. Meu pai, aí retornando naquele material lá, eu vim para cá, entrei em uma empresa boa, tinha Unimed, trouxe meu pai para cá, né, pela Unimed, o Doutor Aulus fez a cirurgia nele, trouxe meu pai e minha mãe. Doutor Aulus fez a cirurgia nele e ficou bom, né? E aí ele veio para cá e começou a trabalhar não de zelador, mas de porteiro e aí comprou uma banca de jornal aqui na Rua Treze de Maio, onde eu tenho o meu sebo aqui agora, mais para cima um pouco, na mesma quadra, tinha uma banca de jornal. Ele comprou uma banquinha lá, isso aí há trinta anos.
P1 – Certo.
R1 – Trinta anos atrás e foi, foi, foi, comprou a banquinha e aí começou na banca ali, ele começou ganhar, ele fazia jogo de bicho, vendia Julia, Sabrina, aqueles livrinhos de bang-bang vendia também, é o que vendia, certo? Aí ele começou, ele era muito cativante devido à recepção do zelador em São Paulo, ele fazia de tudo, ajudava as pessoas, então a comunicação dele era excelente, maravilhosa. E aí foi, foi, foi e começou, o pessoal descia e: “Senhor João, uma doação para o senhor. Senhor João”. E começou a doar livros. Trinta anos atrás, vinte e poucos anos atrás, meu filho está com 32 anos, então a gente calcula trinta anos, porque meu filho nasceu dentro do sebo, dentro da banca de jornal e depois veio para cá. Meu filho está com 32 anos, está estudando já, está em Piracicaba, está formado, graças a Deus, né? Então, “senhor João”, deixavam os livros lá, eram saquinhos, eram caixas e começou a encher a banca, não cabia, a banca era pequena. E até então eu trabalhava de vendedor, eu já tinha saído daquela empresa lá.
P1 – Eu queria perguntar para o senhor, o senhor começou trabalhando com o que lá em São Paulo e quando veio para cá, veio trabalhar com o quê?
R1 – De motorista.
P1 – Lá em São Paulo?
R1 – Lá em São Paulo motorista e motociclista, lá é motoboy. Trabalhava no Banco Comércio Indústria de São Paulo, Comind, lá em Alphaville. Tenho registro, tenho a carteira de motorista profissional, de moto e de carro. Então, eu trabalhava resgatando material, cheque, né? Compensação, na Grande São Paulo e São Paulo mesmo, com as motos e com carro. Quando não dava para ir de moto, era enorme lá o Comind, tinha muitos veículos. E como trabalhava eu e alguns, trabalhavam bem e conhecia bem as ruas de São Paulo, conhecia bem São Paulo, então sempre estava fazendo. Quando estava para ir embora, que era meio período, o pessoal: “Roberto, fica para fazer hora extra”, porque muita gente faltava, os motoqueiros, alguns e eu sempre fazia hora extra, trabalhava direto, trabalhava de cedo até a noite em São Paulo, né?
P1 – Sim.
R1 – E aí fui, trabalhei na Gazeta Mercantil entregando jornal também. Entregava jornal e vendia assinaturas, ali perto do Diário Popular, no Centro, né?
P1 – Sei.
R1 – Então, ali eu comprava as fichas telefônicas, aquelas redondinhas, ia, comprava um saco, ia para a Telesp, sentava lá e começava, lista telefônica e ligava para as empresas, oferecendo a assinatura da Gazeta Mercantil. Ganhei muito dinheiro com isso aí.
P1 – E foi nessa época que o senhor conheceu...
R1 – Agora, só na entrega...
P1 – Hum?
R1 – Como?
P1 – Nessa época que o senhor conheceu a sua esposa, que era namorada?
R1 – Não, eu estava começando a conhecer, não estava namorando ainda. Ela estava me paquerando e eu estava fugindo dela, que eu não queria namorar (risos) e ela querendo me paquerar. Aí comecei a trabalhar na Inca, a Inca é uma imobiliária, até hoje tem em São Paulo. Ali que a conheci, ela era recepcionista da Inca, né? Ali, Nove de Julho esquina com a Rua Estados Unidos, certo? Ali eu a conheci, nos conhecemos, começamos a.… ela começou a frequentar a minha casa, certo, lá e tudo, aí daí eu morava na Rua Melo Alves, já, meu pai morava na Rua Melo Alves, lá em São Paulo. A Rua Melo Alves da Rua Estados Unidos era uns dez quarteirões para lá, não é dois quarteirões, até chegar na Avenida Rebouças, eu morava quase esquina com a Avenida Rebouças. Era Melo Alves e a Avenida Rebouças. Era o prédio, inclusive era o prédio da Elis Regina. Um minutinho, por favor.
P1 – Tá bom.
R1 – Melo Alves, né?
P1 – Sim.
R1 – Aí na Melo Alves lá, no prédio da Melo Alves, não sei se você conheceu a Elis Regina (risos).
P1 – Só pela TV.
R1 – Elis Regina. A Elis Regina comprou um apartamento lá no Edifício Melo Alves, meu pai era zelador de lá. Todos os zeladores de São Paulo - agora mudou um pouquinho - antigamente tinham, poderiam morar, ou lá em cima, morar no último andar ou no térreo e lá na Melo Alves a gente morava no térreo. E a Elis Regina mudou para lá e tal, tal, tal, com os filhos, João Marcelo, Maria Rita, Pedro Mariano, as empregadas, tal, tal, chegou lá, tudo bem. Está lá a Elis Regina lá, meu pai sempre cativante, comunicativo e a Elis Regina gostou do ‘seu’ João, apreciou, gostou assim da educação do ‘seu’ João, estava tudo certo. E o João Marcelo descia para andar de bicicleta, o João Marcelo e eu tinha o meu black power antigamente lá e ficava ali. Eu tinha um black power enorme, (risos) eu tinha uma Mobilete vermelha, andava tudo com aquela jaquetona, não sei o que, calça Lee, né? E jovem, 18 anos, frequentava a Chic Show, né, lá em São Paulo, no Palmeiras, aquelas danças dos anos 80, o black power, né? E aí vai. E andava assim, aí o João Marcelo, um dia, me viu passar com aquela roupa e eu estava indo para a Chic Show, no sábado. O João Marcelo estava lá fora e o João Marcelo: “E aí, moço, como que é, não sei o quê”. Falei: “Oi, tudo bom?” Até aí não sabia quem era João Marcelo nenhum, era um menino pequenininho ele era e aí ele falou: “Eu sou o filho da Elis Regina, tal, tal, tal”. Falei: “Oi, tudo bom? Beleza”, não sei o que, tal. E ele falou: “Você vai aonde com essa roupa?” Ele falou para mim: (risos) “Você vai pra onde com essa roupa aí?” Eu falei: “Vou no show, vou dançar na Chic Show, é discoteca”, né? “Ah, bacana com essa roupa, está elegante”. Falei: “Está bom” e tal. E foi embora. Eu fui embora, fui, ele ficou. Aí ele começou a descer direto e falar com meu pai sobre mim: “Ah, o Zé é meu filho, não sei o que e tal”. Aí ele começou, ele foi na minha casa, no apartamento, onde morava, lá no fundo. Eu estava lá sentado e aí começamos a conversar. Daí em diante ele não desgrudou mais de mim, o João Marcelo. Ele falava muito de música, tudo o que ele fazia era com a mão, sabe? Balanço, James Brown, Earth, Wind and Fire, tudo ele tocava, ficava tocando, começava. E eu falava: “Para, João Marcelo, com essas coisas”. E eu tinha essa Mobilete vermelha e tinha uma Variant vermelha, com banco de couro preto, a Variant vermelha eu tinha, né? Bicuda ela era. E aí eu tinha que sair pra cá, pra lá e onde eu tinha que ir, ele grudou em mim. Eu tinha que ir: “Eu vou com você”. Falei: “Não, você não pode ir comigo”. Eu ia muito para o Ibirapuera correr, andar de bicicleta, andar de skate e ele queria ir comigo. Aí eu tinha que falar com a Dona Elis Regina: “Dona Elis, seu filho quer ir comigo”. Eu subia lá e ela estava toda descabelada, com aquele cigarrão do lado assim (risos). Ela não estava nem aí com a vida brava. Ela abria, eu vi a parede dela assim, uma aparelhagem de som na parede inteira, coisa mais linda. “Dona Elis, eu tenho que ir lá no Ibirapuera, tenho que ir na Rua Augusta ali, fazer um negócio perto da Paulista e o João Marcelo quer ir comigo, a senhora o autoriza ir?” “Mãe, deixa mãe, deixa eu ir”. Aí ela deixava. “Vai, Roberto, vai, leva ele e tal”. Aí eu levava, levava ali, levava pra cá, pra lá, ia muito no... ali na Paulista ali, na Rua Augusta com a Paulista ali tem o Bob’s, né, ia muito no Bob’s, não frequentava muito o McDonalds. No Bob’s ele gostava de comer aquele lanchinho de hambúrguer com ovo, né, Coca-Cola, essas coisinhas, mas não desgrudava. E quando fui para Santos também, a Variant só vivia quebrando (risos), aí fui para Santos e ele quis ir comigo. E eu falei: “João Marcelo, é uma fria ir comigo”. Descer é fácil, para subir é complicado, na serra. E vira e mexe ela quebrava e não tinha guincho, essas coisas, antigamente, não tinha, tudo era complicado. Aí ele falou: “Não, eu vou, eu vou, eu vou” e aí eu fui falar com a mãe dele de novo e a mãe dele deixou ele ir e fomos. O levamos na Variant, amassando tudo, ela esquentava demais, era um calor dentro daquela Variant e a família toda dentro e ia um outro carro atrás também, um Fusquinha. E ele sempre me acompanhou, grudado em mim. Aí até o dia que ele estava comigo e nós estávamos chegando do Ibirapuera, aí veio aquela polícia. Ah, não, aí ela comprou um ônibus, o Danúbio Azul, aquele ônibus grande que ela ia fazer a turnê dela e nem fez a turnê. O ônibus pegou a calçada inteira do prédio, assim, a coisa mais linda. E aí ficava parado o ônibus dela lá, deixou parado lá, aí veio a Fafá de Belém, vinha muito o Milton Nascimento, João Gilberto sempre estava lá, direto, o pessoal andando lá, tudo à vontade. O pessoal ia para a casa da Elis, né? Aí eles foram lá na.... e eu estava chegando com ele, o ônibus estava encostado lá, tinha acabado de chegar e a polícia estava lá dizendo que a Elis Regina tinha falecido. Menino, mas foi uma correria danada! Eu peguei o João Marcelo e já levei lá para casa, segurar um pouquinho ele lá, né, acalmando devagarzinho, não falei nada. E aí a Maria Rita estava com a babá, o Pedro Mariano também que era bem menorzinho, a Maria Rita era super vesga. Mas você olhava para ela e os olhos dela eram virados assim, que você não.... agora melhorou, arrumou os olhos, tudo, mas era bem vesguinha, ela.
P1 – Mas e depois dessa época, ‘seu’ Roberto? Depois dessa época o senhor veio para Bauru atrás da sua futura esposa, né?
R1 – Futura esposa. Cheguei aqui, comecei a trabalhar, né.?
P1 – No quê?
R1- Trabalhei aqui na Cris Café, negócio de conferente de café, no armazém do Ceasa, Ceagesp, né, mas trabalhava com café. De lá fui trabalhar na Editora Alto Astral, de motorista, encarregado e motorista e depois foi, fiquei quatro, cinco anos lá e depois fui, aí veio a... quis montar uma lanchonete, foi a pior coisa. Eu falei: “Vou montar uma lanchonete e vai dar tudo certo”. Eu e minha esposa juntos já e meu pai aqui. Aí fomos, fomos, sem experiência nenhuma, mas tinha dinheiro, porque trouxe dinheiro de São Paulo, né? Tinha três casas aqui, não sei o que, tal, tal, tal, carro e moto. Fui injetando na lanchonete. E falei: “Como sei pilotar moto, eu vou entregando”. A minha esposa sabia fazer lanche bem, minha cunhada boa cozinheira e tal e fomos, fomos, fomos e deu certo, mas aí começou a... tinha uma sócia, certo? A gente fez sociedade e começou a ter alguns desvios de dinheiro, alguma coisa sumir e não rendia o dinheiro. E como eu estava na rua, a minha esposa estava na chapa, a minha outra sócia estava no caixa e começou a não dar certo. E comecei a pegar, dava meu cheque e tal, tal, tal e voltando cheque, voltando cheque. Peguei, vendi uma casa, vendi outra casa, vendi um carro e falei: “Opa, está tudo errado, vou perder tudo, (risos) vou parar”. E aí parei. Parei, mas estava quase tarde já, minha esposa estava doente, deu asma grave devido a chapa, freezer, chapa, freezer, né, deu asma grave mesmo assim. E aí meu pai na banca, meu pai eu tinha colocado na banca, uma banquinha aqui, ó.
P1 – Ainda não estava no sebo, né?
R1 – Na banquinha. E aí começou a encher a banca e aí, meu pai, de vez em quando ia ajudar na lanchonete, depois da banca, ele fechava e ia ajudar. Como ele era comunicativo, garçonzinho, todo mundo gostava do meu pai lá na lanchonete também. E depois, atrás da banca tinha um terreno baldio e era do Iamspe, era um mato danado. E aí meu pai conversou com o pessoal do terreno atrás da banca, conversou com o pessoal do Iamspe, para ver se podia arrendar por enquanto, alugar não, arrendar, para depois ir pagando um valor para eles. E o cara aceitou lá e foi, limpou, passamos, carpimos, limpamos tudo, passamos, jogamos pedra e fizemos um estacionamento atrás da banca, aqui no Centro, um estacionamento. Aí foi, aí começou, aí tinha a banca e o estacionamento atrás. E aí meu pai, como ele não para quieto, começou a aumentar a banca atrás e chegando livro. E meu pai começou a aumentar a banca atrás. O serralheiro vinha e aumentava um pedacinho. Parecia, sabe aquele João de Barro? E fazia os pedacinhos e tampava, tudo do jeito dele, meio rústico, é com chapa aqui, chapa ali, um negócio em cima, telha Eternit, luzinha em cima. O homem era ligeiro, viu? E foi, foi aumentando, ele mesmo fazia ali. Ele e chamava um rapaz só para soldar, ele mesmo fazia tudo dentro, de vez em quando eu o ajudava. E foi aumentando e aumentou bastante, sobrou vaga para os carros. E aí eu fiquei desempregado. E meu pai era muito... minha esposa veio trabalhar com ele, que não estava dando conta sozinho, por causa dos livros e meu pai me chamava: “Roberto, vem me ajudar aqui que é muita coisa, tem estacionamento, mais livro”. Eu falei: “Não tenho, eu vou trabalhar com isso aí? Vamos morrer de fome, eu, o senhor e a Vanda, vamos morrer de fome com isso aí”. Eu falei isso para ele. Ele falou: “Que morrer de fome, não sei o que, tal, tal, tal”. Eu vi e, como eu estava parado, eu fui pra lá e falei: “Eu vou, está bom”.
P1 - Que ano foi isso?
R1 - Em 1989, não em 1989, foi em 1983, isso foi em 1983 e foi. Falei que estava e me enganei, falei que ia passar fome ali e fomos, fomos, fomos. Eu que manobrava os carros, arrumava os carros e livro chegando, livro chegando, colocava nas paredes, eu com caixa, arrumando e sempre arrumando, começamos a vender, comecei a olhar com outros olhos os livros. Meu pai já olhava, já, meu pai conversava com todo mundo, desde um doutor, desde um promotor, até uma pessoa humilde, um médico, todo mundo que encostava ali, parava e conversava com ‘seu’ João, tinha tempo para falar com todo mundo e agora ele faleceu, mas até hoje chega gente para falar do ‘seu’ João, para falar meus pêsames, um ano passou já. As rádios aqui o homenagearam, a Jovem Pan News, a 96 FM. O Facebook, o pessoal, os estudantes, eu não sabia que a proporção era tão grande, os estudantes falando do ‘seu’ João, que era grato, inclusive. Quando o pessoal não tinha dinheiro para comprar, meu pai falava: “Leva, vai estudar e me traga o diploma. É isso que eu quero, vai estudar lá, me traga o diploma e está tudo certo”. Ninguém esquece isso que ele falava, entendeu? Nunca negou um livro para ninguém, o ‘seu’ João. E aí foi embora e eu fiquei agora, na incumbência de dar continuidade ao sebo.
P1 - E como é que mudou, do primeiro lugar, para este lugar que o senhor está agora e para aquele que tinha na Rodrigues? Como que vocês desceram a rua?
R1 - Tinha banca de jornal em cima, aí no estacionamento a família Duque comprou aquele terreno do Inps, é uma família forte aqui em Bauru, comprou o terreno do Inps. Gostava do meu pai, arrendou para o meu pai, mas aí a família é grande, da família Duque e comprou e se reuniram e compraram o terreno de cima também, para fazer um shopping, certo? E aí foi, foi, foi, fizeram um shopping, mas não mexeram na banca, mas o shopping não deu certo, porque eles injetaram e fizeram um shopping muito chique para o Centro da cidade e não deu certo. A gente avisava: “’Seu’ Manoel Duque, vai com calma, faz uma coisa mais humilde, que vai virar mais. Um shoppinho mais...”, né? Não, fizeram uma coisa de luxo, de luxo, de luxo, quebrou o shopping, fechou. Era enorme, como daqui e virava a outra esquina lá. Está tudo fechado, certo? E aí veio o pessoal do negócio de cobrança, Multicobra, estas coisaradas, cobrança e alugaram lá, ficou muito fechado, alugaram lá e aí mandaram tirar a banca, uns advogados poderosos aqui em Bauru, da Multicobra. Eu não sei, porque a banca tinha quase 25 anos já, 23 anos, fora os meus trinta anos que nós estamos lá, a banca quase cinquenta anos. Foi, foi, foi, lutamos, mas eu não tinha força, não tinha muito advogado, né, não tinha como contestar com as coisas e aí perdemos, arrancaram a banca e pronto, acabou. E aqui, como eu estava, eu não queria sair daqui, desci aqui a esquina aqui, eu desci aqui para esquina e depois, teve aqui um... teve aqui essa lojinha aqui, que era uma vidraçaria aqui, a loja, era uma vidraçaria e dessa vidraçaria não tinha mais nada aqui, aí eu aluguei aqui, aluguei para não sair desse quarteirão, aluguei aqui e tinha um fundo aqui e comecei trazer o material da banca, mas o rapaz falou que eu tinha direito a parte de cima também, que eu não conhecia, que lá em cima é enorme, certo? Eu falei: “Como é que eu vou encher isso aqui de livro?”, entendeu? Aí foi, foi, foi e enchi, estou transbordando de livro, não tem nem onde andar aqui dentro. São meus clientes eu falo, estão tudo aqui os clientes e aí vai, esta história é do sebo aqui.
P1 - (São todos do seu pai, né?)____________ (39:51)?
R1 - É, e meu pai nunca quis ficar comigo aqui, ele abriu na.... falei: “Pai, fica comigo, vamos ficar aqui junto”. Não, ele montou o sebo na Rodrigues Alves lá, também ficou uma par de tempo lá, ele ficou quase 23 anos lá, aí ficou lá, ficou lá e ele sempre competindo comigo e o pessoal vinha aqui e falava: “Roberto, infelizmente eu tenho que ir lá no seu pai, porque eu não posso levar”. Eu falava: “Vai lá sossegado, não tem problema, está tudo em casa”. (risos) Então, tanto a cativação dele, né, o jeito dele tratar as pessoas, né, ele era bem cativante mesmo. Aí montou, ele montou lá, eu montei aqui e aí ele faleceu, eu trouxe tudo pra cá agora, acabou tudo lá e eu estou aqui.
P1 - E como é que você faz para catalogar tanto livro e tanto disco de vinil, né, que tem os discos aí também, né?
R1 - Bastante, disco tem bastante.
P1 - E como você divide tudo isso?
R1 - Catalogar livro, a gente cataloga, tem uma mocinha, agora com esta pandemia está meio parado, mas a gente tem uma moça, está muito tempo com a gente aqui e já temos quase duzentos mil itens catalogados aqui. Não tem nem mais ou menos um quarto do acervo, que o acervo é muito grande, então não dá para catalogar tudo, a gente tenta colocar nas prateleiras por áreas, tenta, mesmo assim transborda, se você vir aqui você vai ver, é tudo lotado. Então, a gente tenta moldar de acordo como vai, mesmo assim o que está na prateleira catalogado marcado, a gente acha, eu vendo, um senhor me ensinou: “Roberto, começa a vender on line, que você vai precisar”. Isso antes eu não achava interessante, depois fui, fui, comecei a injetar on line também, né? Entrei na Estante Virtual e eu estou há quase quinze anos com eles lá. Isso aí que está me ajudando um pouco a sobreviver, está entendendo? Fora aqui a física, eu tenho a on line também. Os discos também, tudo é por caixa, eu ponho nos engradados, que eu tenho pouco espaço: MPB, rock, estas coisas, né, sertanejo, tudo assim, tudo em engradado de frutas, né?
P1 - E o senhor digita tudo isso no computador? Tem como o senhor procurar?
R1 - Não, _______ (42:22) não, livro sim.
P1 - O livro sim, entendi. E qual que é a sua clientela melhor aí?
R1 - São Paulo.
P1 - De todo tipo de gente?
R1 - Hum?
P1 - A sua clientela é formada por todo tipo de gente? Como que é?
R1 - Todo tipo de gente, é eclética.
P1 - Eclética?
R1 - Desde uma pessoa humilde, que vem sempre aqui, professores universitários, estudantes, senhoras, jovens procurando quadrinhos, de tudo o que você imaginar, o repertório é grande, viu?
P1 - Sim.
P2: Senhor Roberto, o que mais sai aí, quais que são os livros que mais saem, ou quadrinho, gibi?
R1 - Quadrinho é da Marvel, né: Hulk, Thor, Homem Aranha, Batman, esses são os carros-chefes, os carros-chefes mesmo dos gibis. Tex, aquele gibi Tex, de bang-bang, mama mia, como o pessoal gosta.
P1 - E tem os livros raros que valem uma fortuna porque só tem um ou que só tem dois no mercado?
R1 - Tenho esta linha de materiais antigos, raro, sim. Fica num saquinho plástico, de 1800 e pouco, né, uns livros bem antigos mesmo, de vários temas, né? Tem muita coisa interessante.
P1 - E o senhor está tendo sucesso, mandar livro pela internet, para fora de Bauru, tudo?
R1 - Eu mando, já mandei livro pra Austrália, já mandei livro para o Japão, para Portugal, fora o Brasil mesmo, né? Para o Japão eu mandei muito tempo e deu uma parada agora. Para a Austrália eu achei interessante, uma pessoa comprou um livro, um romancinho lá de Sidney Sheldon, mas pagou quase sete, oito livros a mais, (risos) para poder mandar este livro. Eu achei: “Mas porque uma pessoa quer comprar um livro, né?” Comprou um livro de dez reais, para pagar quase cem reais de frete, teve que converter a dólar, converter no Banco do Brasil, converter, para poder você mandar o material para a Austrália. Portugal sempre mandei também bastante coisa.
P1 - E como é que o senhor faz a sua propaganda? Tem propaganda no Facebook, o senhor usa a rede social?
R1 - Eu sou daquele tempo ainda da boca a boca, do cartãozinho, meu pai ensinou isso: “Põe o cartão no bolso e sai, onde você... falou com alguém, mesmo que a pessoa conheça você, olha meu cartão, a pessoa daquele cartão passa para outro e passa para outro”. Do cartãozinho, do panfletinho, né? Eu sou, isso aí faz muito efeito ainda e a boa recepção, você recepcionando uma pessoa bem, a pessoa vai falar bem de você: “Ah, o rapaz do sebo? Ah, vai lá que o rapaz é muito simpático, vai lá que o rapaz...”, está entendendo? É a boa recepção, é o cartão de visita, ainda é um marketing muito forte. Agora tem as plataformas que ajudam bastante a gente, graças a Deus, sabendo usar, tem o WhatsApp, muito bom, estamos falando, quem diria que eu estava... teria que se deslocar de lá pra cá, agora não precisa mais, estamos aqui, falando aqui, graças a Deus! Tem o Facebook, que você pode fazer propaganda; tem o Instagram que agora está muito forte. Estou começando a mexer nisso aí, mas muita calma ainda, entendeu? Mas a minha molecada, meus sobrinhos, estão tudo me ajudando, me ensinando a me engajar nessa vida on line, mas está dando certo, isso ajuda bastante.
P1 - Ok. E os discos? Hoje em dia o LP está voltando a ter valor, acho que o senhor já percebeu isso. Que antigamente você comprava o disco de vinil, estava meio solto lá por cinco reais, agora tá valendo mais, o senhor já aproveitou?
R1 - É, tem discos caros, viu? Tem que começar, ainda bem que tem estas pesquisas no Google, que ajudam bastante. Antigamente a gente vendia um disco caro, barato, porque você não tinha noção. Agora você tem como trabalhar em cima, tem disco raro, tem disco mesmo orquestrado, mesmo, né? Tem disco de cinco reais até de trezentos, quatrocentos reais. Um Black Sabbath de rock, duplo, se você bobear, você paga quinhentão, seiscentos reais. Então, você tem que saber. Inteiro, bonito, com capa, com encarte, tem que estar tudo assim também, não adianta estar o disco todo estragado, aí não tem valor nenhum, mas um disco bem feitinho, bem arrumado, tem valor. Até disco de novela mesmo, se você souber arrumar direitinho, bem arrumadinho, custa dez, oito reais, sete reais. Depende da quantidade que o pessoal compra. O sebo tem muito disso, a negociação, tem muito acontecido isso: “Ah, ‘seu’ Roberto, se eu levar três, quatro livros, dá para dar um desconto?” Eu já tinha dado, fiz um desconto em um só, ele quer mais desconto em cima de três, quatro livros, mas a gente vai acabar cedendo, né? É sempre isso, um bate papo e você vai.
P1 - Fala Wiliam, você quer falar?
P2: Sim.
P2: Então, ‘seu’ Roberto, quais são os discos aí mais diferentes que o senhor tem: um Black Sabbath, um Pink Floyd, o que o senhor tem aí?
R1 - Black Sabbath eu não tenho mais, eu o vendi já, mas eu tenho ainda Guns and Roses, eu tenho Kiss, tenho U2, tem bastante coisa. Ixi, tem Caetano, os Caetano antigo, tenho Gil antigo, meio raro, tenho aqueles Amelinha - os brasileiros - tenho Dalto, aqueles antigos que é meio caro também. Tenho Elvis Presley, tem Beatles e aí vai, se for garimpar aqui, você começa a achar.
P2: Dos Beatles deve ser valiosíssimos, né?
R1 - É discos, aí tem valores diferentes, né?
P2: Sim.
R1 - Tem de cem reais, duzentos e cinquenta, duzentos e pouco, né, entendeu? O pacote.
P2: Tem de pagode também?
R1 - O pacote. Vende o pacote.
P2: Sim. O senhor costuma anunciar estas promoções, bolar uma promoção, falar: “Vou vender este disco aqui com este, mais os livros”, o senhor faz?
R1 - Não, estou começando a aprender ainda, o tal de Instagram que eu não sei mexer ainda e minha sobrinha está começando a me ensinar um pouco. Eu tenho meus vizinhos de sebo por aqui, menores, né, que já estão fazendo isso, tem sebos de residência que estou sabendo, que estão fazendo isso, de caseiro mesmo, né, não é o meu, como do meu tamanho. Então, eu vejo lá, eu entro no Facebook e vejo sebo da região aqui, tudo vendendo em casa, pouquinha coisa, mas vendendo livros. Então, eu tenho que aprender mexer nisso, aprender, mas vou aprender rápido já, breve, breve. Eu já comecei a postar algumas coisas, mas eu tenho que fazer mais algumas coisas mais, existe mais na plataforma do Instagram ou do Face, tem mais alguns conteúdos que você pode melhorar mais a propaganda, seu marketing, né? Estou aprendendo para dar um...
P1 - Exatamente. “Seu’ Roberto e como que foi para o senhor o desafio do ano passado, que foi o ano da pandemia? Que ainda está sendo, né? Como que o senhor se virou com tudo fechado, com menos gente? O que o senhor bolou para conseguir passar por esse período ruim?
R1 - Olha, eu fiquei meio apavorado, porque eu pago aluguel aqui, mesmo antigo, mas muita gente, meus vizinhos aqui fecharam, inclusive uma está fechando agora aqui, pessoal antigo, está tudo fechando. Eu estou aqui, eu vi muitas coisas passarem aqui no sebo, eu vi muita gente fechar e eu aguentar, eu aguentando, o velho navio aqui aguentando, mas essa pandemia me deu, me assustou um pouco, me assusta ainda, porque não tem movimento na rua, está parado, o Centro está parado e agora está em fase vermelha de novo aqui, está atacando, está complicado. Até sair essa vacina, até vacinar todo mundo, vai chão ainda, vai o ano inteiro, a gente tem que se cuidar bastante e o comércio está muito devagar, ainda mais para vender livros. Isso aí eu estou, quem está me ajudando, eu fui para o Uber, fazer uns bicos no Uber, estou fazendo à noite, tudo para ajudar também. É assim que estou vivendo: eu trabalho cedo aqui, faço correria também. Agora, com esse negócio de vender via Facebook e Instagram, estou começando a aprender, estou vendendo algumas coisinhas, vou entregar nas casas, está entendendo? É assim que estou fazendo, é tudo um pouquinho, não está dando um dinheirão, mas é até poder acabar esta pandemia.
P1 - Certo. E quanto à família do senhor?
R1 - Um minutinho, por favor. Oi?
P1 - Só faltou perguntar da família do senhor, o senhor tem quantos filhos?
R1 - Quantos filhos? Eu tenho um filho.
P1 - O que ele faz, mesmo? O senhor já disse e eu esqueci aqui.
R1 - Ele estudou aqui em Bauru, fez Unesp, fez Programação aqui no CTI, fez Unesp de Design, completou aqui na Unesp, estudou tudo aqui dentro no sebo, era pequenininho espirrando aqui, lendo gibi, lendo livros, ia na livraria do lado para ler. Além de comprar no sebo aqui, além de pegar no sebo, ia lá na livraria fazer conta, para eu pagar para o gerente lá. O gerente chegava __________ (53:26) ali: “’Seu’ Roberto, seu filho fez conta lá” e taca comprar livro para ele lá, fora do sebo aqui. Aí ele passou em concurso. Falei: “Faz concurso, João, para você não ficar passando apertado, até você se engajar na sua área” “Ah, pai, não sei o que”. Eu e a mãe dele empurramos, que ele é inteligente, ele passou em três concursos públicos, aí ele entrou na área da Saúde.
P1 – Muito bom.
R1 - Ele trabalha na Saúde, lá no Souza Lima, né, para não passar aperto, graças a Deus que ele tem isso aí. Porque o Design aqui em Bauru é muito complicado você arrumar um serviço, só em capital mesmo, entendeu? Aí ele, todo ano faz Enem. Ele está formado, tudo, mas ele é igual com a prova. Agora vai fazer Enem agora domingo, eu falei: “Pra que, João, essas coisas? Você está velho já, rapaz” “Não, eu vou fazer Enem, pai”. E vai. Agora, o Enem, há 2 anos que ele fez Enem, ele passou em Medicina em Roraima e passou na Engenharia Florestal em Piracicaba, na USP e passou na Unesp também, em Sorocaba, Engenharia Florestal, parece que tem lá Engenharia Florestal também. E ficamos e falei: “João do céu, o que você está aprontando?” Em Medicina lá em Roraima. Medicina ele não gosta, não gosta de sangue, não sei o que. Aí ele falou: “Vou para a USP”, vai estudar de novo, já tem uma faculdade, aí foi pra USP, fomos conhecer a USP. Ataca eu, a mãe dele e ele ir para a USP, para fazer a matrícula dele lá. Linda, cidade linda demais, Piracicaba, né? E a faculdade é maravilhosa lá, fiquei encantando, com o que ele conta e tudo.
P1 – Agora ele está lá?
R1 – É, agora ele está lá em Piracicaba, conseguimos transferi-lo, demorou bastante, eu conheci o diretor do Souza Lima aqui, foi uma luta para transferi-lo, eles não queriam transferir, não queriam e foi, foi, foi, foi, ele conseguiu, mas mesmo assim ele ficou quatro meses vindo de Piracicaba para Bauru, arrumaram para ele trabalhar na biblioteca à noite, só para bater cartão, para fazer a hora, né? Ele vinha de sexta-feira, saía da faculdade lá e vinha pra cá, até transferir, conseguiu transferir. Aí está lá agora, fazendo, acabando a faculdade, está no setor administrativo da saúde lá, sobrevivendo lá, até arrumar um serviço. Agora ele está lá em Piracicaba, como tem mais coisa para fazer, ele conseguiu fazer um curso de Design lá, de projeto de casa. Então, está fazendo esse curso de um ano. É interessante, dá dinheiro isso aí, viu? Ele monta a casa, trabalha junto com o engenheiro, o engenheiro entra para fazer e oferece o serviço dele. Ele monta, como você quer, ele monta uma casa, com os móveis, prontinha, do jeito que o cliente quer, mas não está, está fazendo curso ainda, entendeu?
P1 - Qual que é o nome dele mesmo, o senhor me falou?
R1 - Hã?
P1 - Qual que é o nome dele?
R1 - João Silvestre Medeiros de Bau.
P1 - Estamos chegando já no final. O que o senhor diria, qual que é o segredo de manter um negócio como este, durante tanto tempo, dando certo? Porque é conhecido o sebo do senhor em Bauru, todo mundo conhece.
R1 - Eu sobrevivo pelo conhecido que nós somos. O segredo é: eu acredito que é você não desistir, perrengue todo mundo vai ter, altos e baixos, eu tive uma fase aqui que eu não tinha mais onde recorrer para poder sobreviver aqui, entendeu? Não estava vendendo, deu outras crises, várias crises no Brasil que só tem crise e você vê que o navio fica assim, balança, vai, sobe e desce, minha esposa sempre do meu lado, eu e ela. Isso aí eu tinha nove funcionários, nove, tudo digitador colocando na internet, agora não tenho mais ninguém, é só eu aqui e minha esposa, um sebo enorme desse aqui. Minha esposa está fazendo em casa lá, que ela tem problema de risco, eu montei um sebinho lá, on line, lá na minha cozinha: coloquei três armários na cozinha lá, computador lá, tirei daqui e coloquei lá, levo para lá, embrulha e vai para o Correio. On line lá. E o físico estou aqui firme, está entendendo? E não desisti, eu não desanimo. Às vezes ela está desanimada, eu vou lá, a levanto, vamos, vamos. É preocupante? É preocupante, mas você está entendendo? Eu faço uma coisa aqui, uma correria aqui, uma correria ali, para pagar as continhas e não desanimo. É isso aí, é o alto astral, é a positividade e lutar e não ficar reclamando, não.
P1 - E para o futuro, o que o senhor acha? Para o futuro, como é que o senhor vê o futuro do seu negócio, o senhor tem algum plano de expansão, pelo menos desta parte de venda on line? O senhor acha... porque muita gente lê. Então, é o on line que vai dar certo? O que o senhor acha do futuro?
R1 - Olha, eu acho: o sebo não acaba, acaba quem desiste: “Ah, vou fechar, acabou e pronto”. A cultura física, existe a cultura on line, os livrinhos lá, e-book, você compra pela internet, mas nada você compra e não tem aquele apalpar, a visualização. Você vê o livro lá, vê a página, vê a traseira, vê a data, pronto e compra. É uma coisa meio robótica. E o físico não, o físico você pega o livro, como tem meus clientes aqui que está com o livro na mão, pega os livros, olha dentro, vê uma leitura, vê um resumo, vê prefácio. Do outro ele vai vendo outra coisa que não tem nada a ver com a pessoa. Ele pegou um livro aqui que interessa, daqui ele pega outro que chamou atenção, é assim que vai e dá para olhar, a pessoa está apalpando, pegando e vendo, por isso que não vai acabar nunca o sebo. Desculpa, está acabando.
P1 - Mas o senhor vai investir na venda on line também, né?
R1 – Vou, com certeza, vou sim, estou me preparando direitinho. É o que eu falei: minha sobrinha vai me ensinar, vou pegar algumas pessoas aí, né, da própria família mesmo, vou montar alguma coisinha. Material eu tenho, está entendendo? E vou investir on line sim e o físico eu vou deixar aberto, porque está chegando material aqui, porque chega material né, eu tenho que deixar aberto. O pessoal desce: “’Seu’ Roberto”. Agora mesmo passou três, quatro pessoas e falou que vai trazer material para mim. Então, tenho que deixar a loja aberta, está entendendo?
P1 – Legal. E, só para terminar, o senhor tem...
R1 - Doação de livro não existe mais, é mais o pessoal que, devido a dificuldade, devido ao conhecimento, tem que comprar, nem que seja mais barato um pouco. Quanto mais barato eu comprar, mais eu posso passar para os clientes mais em conta, está entendendo?
P1 - E o senhor, tem algum tipo de literatura que o senhor gosta mais? Para você ler?
R1 - Eu gosto muito de material esoterismo, eu gosto de ler muito material de administração, na área de vendas, puxar para marketing, me estimular sempre, abrir um leque para mim, para os meus negócios, né? Livro de... não é de autoajuda, mas um livro assim, que levante seu astral, livro que levante seu astral. Ia falar autoajuda, mas autoajuda não é autoajuda, é um livro que te eleva. Eu leio de tudo um pouco: eu leio Seicho-no-ie, aqueles livros bons também de ensinamento, livros do Içami Tiba, do Lair Ribeiro, livros... O Monge e o Executivo também, maravilhoso e aí vai.
P1 – Muito bom. Legal. ‘Seu’ Roberto, tem alguma coisa...
R1 - Aprendo muito com os meus clientes, viu? Meus clientes me ensinam muito. Aqui, de sábado, de vez em quando encosta um, vem outro, vem outro e do nada pega o livro e fala sobre o livro, o outro vem: “Não, mas este livro eu já li, não sei o que”, conta a história, aí o outro vem, forma uma palestra, um bate papo de conhecimento e ataca ‘seu’ Roberto entrar no meio lá, aí eu aprendo (risos) e debato também. É uma delícia, você não tem ideia, fica uma reunião, ninguém conhece ninguém ali, a gente faz uma amizade maravilhosa, se torna todo mundo amigo ali.
P1 – Ótimo! É isso que eu ia perguntar, fala.
P2: Então, o senhor teve já uma Variant vermelha, que o senhor estava falando, uma Mobilete, usava Black Power, na época, andava de skate...
R1 - Eu levei um tombo do skate, descendo na chuva, descendo a Alameda Franca, aí eu desci a Oscar Freire e, descendo de skate, pá, pá, escorreguei, bati as costas na árvore, quase quebrei minha costela na árvore. (risos) É que eu era novo, aguentei, mas olha foi uma pancada, de skate.
P2: E trabalhou também com moto-entregas, né? Eu ia perguntar, porque, assim, hoje em dia é muito mais fácil a gente trabalhar como motoboy - eu já trabalhei - pela questão do mapa, do aplicativo do celular, Google Maps, você consegue saber certinho aonde você vai, mas e na época quando não tinha?
R1 - Eu não estou me gabando, mas no meu tempo era na raça, eu e mais uns seis motoqueiros, motorista e motoqueiro, a gente conhecia muito São Paulo. Então, eu falei para ele, a gente ficava, a gente estava na hora de ir embora, o encarregado falou: “Vocês vão ficar” “Ah, mas porque fulano...” “Não, mas vocês vão ficar porque a rota é ferrada”. Tinha uma rota de Cotia lá que ninguém queria fazer, porque a rota de Cotia, depois das cinco e meia, você tinha que buscar o material lá em Cotia, os cheques, era a rota que batia sol na sua cara. Então, a viagem toda era de sol, você não enxergava nada e tinha que esgoelar a moto, a moto você tem que voar, senão não dava tempo, era muita agência para você fazer e tinha muito acidente feio e mandava pra lá, mandava, era eu e o Formiga Atômica, era outro menino pequenininho, era os dois ligeiros, que fazia a rota de Cotia que era ferrada. Rota também da Avenida do Estado também era violenta, mas era gostoso.
P1 – ‘Seu’ Roberto, tem mais alguma coisa que o senhor queria dizer, que a gente não perguntou, sobre a sua vida ou sobre o ramo do comércio que o senhor trabalha, que é importante, que a gente não falou?
R1 - Em São Paulo, eu trabalhei - eu esqueci de falar para você - na Churrascaria Rodeio, uma churrascaria famosíssima em São Paulo, na Oscar Freire, ali. Aí eu trabalhei lá e meu chefe era o Doutor Varela, acho que não está mais lá, ele era chefe, era sargento do exército, bravo, era o gerente geral de lá, da Churrascaria Rodeio. Lá ia muito a Xuxa, o Pelé, Falcão ia lá, só artista famoso e eu ficava, eu era o office boy lá. Foi ali que o senhor Varela me presenteou com a carteira de motorista, de moto, desculpa e comprou uma Mobilete para trabalhar na empresa lá, lá que eu comecei a trabalhar de Mobilete. Aí eu comprei a minha, mas ele me tirou uma carta de moto, isso eu nunca esqueço. O senhor Varela, trabalhei quase três anos lá na churrascaria Rodeio, lá.
P1 - Muito bom! ‘Seu’ Roberto, eu queria agradecer ao senhor pela entrevista, foi muito interessante! É que o senhor não lembra de mim, mas eu já fui algumas vezes, comprei livros bons aí, livros até da Rússia.
R1 - Eu conheço, o nome não, mas a visualização a gente memoriza, viu? Você não é estranho, não. (risos)
P1 - Eu queria agradecer muito o senhor pela entrevista. Isso, a sua entrevista vai ficar no portal do Sesc, no portal do Museu da Pessoa, que é um museu de pessoas. Como o senhor acabou de contar a história da sua vida e, no futuro, acredito que por causa da pandemia não vai sair agora, mas ainda vai sair um livro com todo este conteúdo, a gente está vendo se ainda consegue fazer o livro, apesar da pandemia. E vai um jornalista, um jornalista não, um fotógrafo ligar para o senhor, para fazer umas fotografias do senhor aí, um ensaio fotográfico e uma produtora, nossa amiga, vai te ligar também, para buscar, se o senhor tiver alguma coisa antiga, matéria de jornal, alguma foto antiga, que ela possa copiar e devolver para o senhor, para a gente poder colocar no acervo também, tá bom?
R1 - Material nosso antigo, né?
P1 - Não, foto do senhor, quando o senhor era criança, foto do sebo quando começou, mas é só para tirar cópia, a gente devolve para o senhor, só tirar cópia.
R1 - Sei, vou começar a separar alguma coisa aqui.
P1 - Isso, muito obrigado.
R1 - Obrigado vocês, para eu ajudar a contribuir com vocês, pela cultura do Sesc, cultura do Brasil.
P1 - Foi uma honra! Um abraço, ‘seu’ Roberto.
R1 – Saúde para você! Deus abençoe, obrigado.
P2: Um abraço, ‘seu’ Roberto, muito obrigado pela entrevista!
P1 - Até logo, um abraço.
P2 – Um abraço.
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