Meu nome é Zaqueu da Silva Iriqueiro. Tenho 26 anos, nasci no dia nove de junho de 1996, em Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia. E tenho o maior orgulho de ter nascido nesse lugar.
Com mais ou menos oito, nove anos de idade, comecei a dançar. Na verdade, eu já dançava, fazia muito sucesso. Eu dançava muito com a minha irmã. Depois que eu tive um encontro com o movimento hip hop, foi algo assim: “É isso que eu quero!” Fui a um ensaio, fui a outros ensaios, dancei a primeira vez, me apresentei.
Com mais ou menos nove anos de idade, o meu irmão, Lucas, se matou dentro do meu quarto. Eu lembro perfeitamente como foi. Quando abri a janela do lado direito, ele estava caído, no canto, e ele morreu assim. Eu me lembro perfeitamente dessa imagem, que ele morreu assim, como se estivesse dando um sorriso. Sabe um sorriso bem leve, de canto? E a cabeça encostada na parede. Eu vi aquilo, parei por uns minutos, dei a volta, entrei no quarto e me ajoelhei perto dele. Fiquei olhando para ele, sorrindo. A arma ainda estava no chão, o sangue estava escorrendo.
Não entendia exatamente o que era perda, mas eu sabia que naquele momento eu não teria mais ele. De alguma forma não teria mais como falar com ele, ou como brigar com ele, jogar bola com ele. Não tinha mais essa possibilidade.
Desde esse dia eu passei a ser mais retraído, tanto na escola, quanto no sentido de amizades. Na dança nem tanto, porque ali é onde eu me encontrava.
Mais ou menos uns dois, três anos depois, meus pais decidiram se separar. Minha mãe começou a morar na casa do fundo, ele na casa da frente. E um outro irmão, Daniel, nesse período já era dependente químico. O meu irmão que se matou tinha envolvimento com roubos, por isso a arma e algumas coisas escritas em blusas que nós encontrávamos. Outras pessoas relatavam que ele fazia algumas coisas e foi o que nos fez entender que a arma era para o uso dos furtos.
Nós mudamos, sabe o que é fim? Bem no fim do bairro...
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Meu nome é Zaqueu da Silva Iriqueiro. Tenho 26 anos, nasci no dia nove de junho de 1996, em Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia. E tenho o maior orgulho de ter nascido nesse lugar.
Com mais ou menos oito, nove anos de idade, comecei a dançar. Na verdade, eu já dançava, fazia muito sucesso. Eu dançava muito com a minha irmã. Depois que eu tive um encontro com o movimento hip hop, foi algo assim: “É isso que eu quero!” Fui a um ensaio, fui a outros ensaios, dancei a primeira vez, me apresentei.
Com mais ou menos nove anos de idade, o meu irmão, Lucas, se matou dentro do meu quarto. Eu lembro perfeitamente como foi. Quando abri a janela do lado direito, ele estava caído, no canto, e ele morreu assim. Eu me lembro perfeitamente dessa imagem, que ele morreu assim, como se estivesse dando um sorriso. Sabe um sorriso bem leve, de canto? E a cabeça encostada na parede. Eu vi aquilo, parei por uns minutos, dei a volta, entrei no quarto e me ajoelhei perto dele. Fiquei olhando para ele, sorrindo. A arma ainda estava no chão, o sangue estava escorrendo.
Não entendia exatamente o que era perda, mas eu sabia que naquele momento eu não teria mais ele. De alguma forma não teria mais como falar com ele, ou como brigar com ele, jogar bola com ele. Não tinha mais essa possibilidade.
Desde esse dia eu passei a ser mais retraído, tanto na escola, quanto no sentido de amizades. Na dança nem tanto, porque ali é onde eu me encontrava.
Mais ou menos uns dois, três anos depois, meus pais decidiram se separar. Minha mãe começou a morar na casa do fundo, ele na casa da frente. E um outro irmão, Daniel, nesse período já era dependente químico. O meu irmão que se matou tinha envolvimento com roubos, por isso a arma e algumas coisas escritas em blusas que nós encontrávamos. Outras pessoas relatavam que ele fazia algumas coisas e foi o que nos fez entender que a arma era para o uso dos furtos.
Nós mudamos, sabe o que é fim? Bem no fim do bairro Conquista. Na época já era conhecido como se fosse o Iraque 2, era um lugar extremamente violento, “tomem cuidado!” Quando eu me mudei era piso grosso, era só no reboco, não tinha energia. Era como se nós tivéssemos retrocedido drasticamente, como se tivéssemos voltado para o início. Eu me lembro que a gente viveu um tempo sem luz, era luz de velas.
Até os meus doze anos frequentava a mesma igreja que a minha mãe. Depois conheci a Marcela; ela era a líder do grupo da igreja, era mais velha que eu. Comecei a participar deste grupo e parei de frequentar a igreja da minha mãe, para frequentar essa igreja que a Marcela ia, que tinha um grupo de dança.
Marcela começou a ter um relacionamento, se casou, e conheci o Marcelo, que é esposo dela. Comecei a ter um relacionamento como se fosse filho deles, hoje eu chamo eles de pai, de mãe.
Concluí o segundo ano do ensino médio, fui para o terceiro, trabalhando ainda, morando com a minha mãe. Nesse período eu gostava de sentar na frente; sentávamos eu, esse colega meu, e tinha mais duas colegas que eram conhecidas dele - uma é a Brenda, que é minha esposa hoje. Entre conversa e namoro, foram mais ou menos dois anos e um mês, até nós nos casarmos.
Estou hoje com 26 anos de idade, curso duas faculdades, pretendo ter mais um filho, o mais cedo possível! Minha esposa também quer, só para deixar registrado. Eu amo minha família, amo cuidar da minha família.
Street dance para mim é escape. Quando eu estou dançando, algumas pessoas gostam muito de elogiar, “é muito expressivo”. Mas só eu sei como estou por dentro. Às vezes, independente da música… Pode ser um toque, pode ser apenas um vento, pode ser som nenhum. É como se os movimentos expressassem morte também, porque eu posso fazer isso, eu sinto que eu posso fazer isso. Eu posso dançar a morte, eu posso dançar a vida, eu posso dançar a tristeza, mas eu também posso dançar a felicidade.
Eu posso dançar sorrindo, mas também posso dançar chorando. Eu posso dançar só com os braços, só com as pernas, ou simplesmente só no meu inconsciente. Dançar para mim, além de ser o escape, é onde eu consigo colocar para fora tudo aquilo que às vezes não quero falar.
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