IDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Antonio Ruiz Vilanova, eu nasci em São João da Boa Vista, em 28 de janeiro de 32. FAMÍLIA Meus pais eram Salvador Ruiz Castilho e Águeda Vilanova. Meus avós, Salvador Gimenez e Helena Del Castillo. São de origem espanhola. Vieram todos da Espanha, meus avós e meus pais. Vieram de navio, no começo do século, fugindo da guerra, como a maior parte do povo. Eles vieram direto pra São João da Boa Vista. Desembarcaram em Santos. Em São João da Boa Vista, eles trabalhavam na lavoura. Moravam na roça. Meus pais, em 32 - eu nasci em 32, mas com três meses meu pai me trouxe pra Guararema - compraram uma propriedade em Guararema, meus avós e meus pais. Nós ficamos em Guararema até 43, 44, mais ou menos. Aí depois viemos pra São José dos Campos. Eles trabalhavam na roça, e as terras daqui, pra lavoura, são péssimas. Então, eles foram se cansando, cansando. Acabaram vendendo e se mudaram pra cidade. Na cidade, meu pai tinha banca no mercado. Vendia cereais, verduras. Banquinha pequena. Mercadão. Mercadão Central. Meu pai tinha umas três ou quatro bancas nesse Mercadão. TRABALHO Nessa época eu já trabalhava com meu pai. Tem um senhor que tinha banca no mercado, que já faleceu, é avô do Jairo Pinto. Chamava seu Ângelo Pinto. Eu trabalhei pra esse homem no mercado, também. Seu Ângelo Pinto, um italiano, tinha banquinha logo na parte de cima do mercado. Eu era ajudante, como eu tinha doze anos mais ou menos, ficava ajudando em tudo. Ajudante, ajudava na banca, no mercado, ajudava a limpar, ajudava a vender ali, era pequenininho, tinha doze anos. Naquele tempo só podia trabalhar com catorze anos. Eu fui trabalhar com o Salomão Diamante. Casa Salomão. CIDADES São José dos Campos Naquela época tinha Salomão Diamante, Casa Diamante e Israel Diamante. Tudo diferente. Salomão Diamante é lá em cima, ainda tem o prédio dele; a Casa Diamante é onde é uma galeria hoje;...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Antonio Ruiz Vilanova, eu nasci em São João da Boa Vista, em 28 de janeiro de 32. FAMÍLIA Meus pais eram Salvador Ruiz Castilho e Águeda Vilanova. Meus avós, Salvador Gimenez e Helena Del Castillo. São de origem espanhola. Vieram todos da Espanha, meus avós e meus pais. Vieram de navio, no começo do século, fugindo da guerra, como a maior parte do povo. Eles vieram direto pra São João da Boa Vista. Desembarcaram em Santos. Em São João da Boa Vista, eles trabalhavam na lavoura. Moravam na roça. Meus pais, em 32 - eu nasci em 32, mas com três meses meu pai me trouxe pra Guararema - compraram uma propriedade em Guararema, meus avós e meus pais. Nós ficamos em Guararema até 43, 44, mais ou menos. Aí depois viemos pra São José dos Campos. Eles trabalhavam na roça, e as terras daqui, pra lavoura, são péssimas. Então, eles foram se cansando, cansando. Acabaram vendendo e se mudaram pra cidade. Na cidade, meu pai tinha banca no mercado. Vendia cereais, verduras. Banquinha pequena. Mercadão. Mercadão Central. Meu pai tinha umas três ou quatro bancas nesse Mercadão. TRABALHO Nessa época eu já trabalhava com meu pai. Tem um senhor que tinha banca no mercado, que já faleceu, é avô do Jairo Pinto. Chamava seu Ângelo Pinto. Eu trabalhei pra esse homem no mercado, também. Seu Ângelo Pinto, um italiano, tinha banquinha logo na parte de cima do mercado. Eu era ajudante, como eu tinha doze anos mais ou menos, ficava ajudando em tudo. Ajudante, ajudava na banca, no mercado, ajudava a limpar, ajudava a vender ali, era pequenininho, tinha doze anos. Naquele tempo só podia trabalhar com catorze anos. Eu fui trabalhar com o Salomão Diamante. Casa Salomão. CIDADES São José dos Campos Naquela época tinha Salomão Diamante, Casa Diamante e Israel Diamante. Tudo diferente. Salomão Diamante é lá em cima, ainda tem o prédio dele; a Casa Diamante é onde é uma galeria hoje; e Israel Diamante, mais pra baixo, que era pai do doutor Davi Diamante, que também tinha comércio. Três Diamante que tinham na rua Quinze. O Salomão Diamante tinha móveis, e vendia tecidos e calçados. Casa Diamante era a casa mais bacana que tinha em São José, vendia de tudo, muito linda a casa, uma casa muito bacana de relógios, era a coisa mais... E o seu Israel Diamante tinha uma casa de colchões e móveis, também, pegado à Casa Diamante. TRABALHO Fui trabalhar com o Salomão vendendo móveis, vendendo sapatos, vendendo tecidos, vendendo tudo. Eu trabalhava, decorava, levava... Eu, por exemplo - existia onde é a Santos Dumont hoje, um sanatório, chamava esse sanatório Esdras, ainda existe essa rua Esdras. E o sanatório, o gerente era amigo do Salomão, então como era sanatório de doentes, sempre que morria doente, eles queimavam tudo. Então comprava aquela quantidade de colchões, de guarda-roupas, tudo, que a gente transportava em caixas. Cada um que morria, eles queimavam: aquele lá não usava mais. Morria um doente, aquele lá, principalmente colchão, já... Antigamente, tinha fábrica de colchões aqui em São José mesmo, colchão de capim. E a gente transportava em carroça, ajudava a vender calçados. Vendia muitos calçados, porque Santana não tinha loja, antigamente. Então o pessoal de Santana subia pra cidade. CIDADES São José dos Campos Em Santana morava bastante gente, mas não tinha comércio como aqui em cima. Era um pessoal de poder aquisitivo bom, até bom. Mas é que não tinha, não tinha comércio lá. Hoje tem bastante comércio lá, antigamente não tinha, antigamente era mais aqui em cima. Isso nos anos 45, 46. Nessa época, em São José era maior parte era sanatório, mesmo. Depois foram erradicando. O que era a tuberculose? Era falta de alimento. Depois mandaram pra Campos do Jordão, lá mesmo erradicaram a tuberculose. A tuberculose, pra mim, eu acho que é falta de se alimentar bem. O seu Salomão Diamante fornecia esses móveis pra esse..., pra todo mundo. Mas pro Esdras era mais porque era em quantidade. Nas pensões era a mesma coisa: quando morria uma pessoa, aquele colchão, não queria mais. O colchão era um colchãozinho de capim, bem simples. Não é como hoje, os colchões bacanas. Antigamente era uma fabriquinha de colchão que tinha ali na rua Sebastião Húngaro. Seu Benedito Pinoti que fazia os colchões, colchões de capim. Ele pegava de carroça, trazia pra loja, da loja distribuía. Lá vendia guarda-roupa, os guarda-roupa de canela, geralmente só de solteiro, só de solteiro. Geralmente era uma pessoa em cada quarto, os doentes. Tinha um guarda-roupinha de solteiro, tudo, até uma madeirinha bonita, de canela. A gente levava. TRABALHO Trabalhei lá com ele até 47. Aí eu fui trabalhar no Mercadante e Companhia Limitada. O Mercadante tinha um posto de gasolina, tinha oficina mecânica. Tinha oficina mecânica, funilaria, pintura, lavagem de carro: era uma firma muito completa, muito boa. E mais pra frente, vendia automóveis, vendia bicicletas: uma firma muito boa. Ali comecei a aprender, comecei vendendo gasolina, depois já comecei a aprender funilaria, pintura. CIDADES São José dos Campos Nessa época era tudo carro importado. Você raspava todo o carro, raspava ele inteirinho, preparava ele, pintava. Era oficina muito boa, porque sempre os carros de Aparecida do Norte era tudo reformado. Mais ou menos, ali..., depois ali, eu fiquei ali até...50. [Em] 50 eu saí, fui trabalhar na rede Murat, uma firma muito boa, os melhores profissionais iam pra lá. Era a mesma coisa: mecânica, funilaria, pintura. Tinha muitos carros, nessa época. Não é como hoje, mas tinha. Tinha, maior parte carro de praça, maioria carro de praça - particular não tinha muito, não. Maioria carro de praça. Porque a gente reformava carro, que não tinha, como hoje em dia, carro novo: era tudo carro importado. Quando ia ficando velho, tinha que fazer aquela reforma nele: raspar inteirinho, dar fundo, aplicar massa, pintar. E sempre fazia isso, os carros de praça. Tinha bastante carro de carro de praça porque aqui tinha bastante sanatório de doente. Tinha viajante que era encarregado de, por exemplo: o sujeito representa um hotel, ele ia na estação - que o pessoal vinha de trem, não tinha ônibus como tem hoje - e lá, ele pegava as malas, levava naquela pensão, e assim. Os carros de praça iam lá na estação buscar essa gente que vinha de fora. E vinha muita gente. Antigamente, vinha bastante, antigamente não tinha, não tinha rodovia Dutra, não tinha ônibus. A condução do povo aqui era o trem. O trem central. Na hora do trem, os carros de praça desciam. Ficava tudo ali no largo da Matriz. Todos ali. Depois, na hora do trem, eles desciam lá, pegar os passageiros pra botar. Aí depois foram ampliando, aí foram ampliando os pontos de carro. Antigamente era só no largo da Matriz; depois foi ali na praça Cônego Lima. Foi tendo mais, mais ponto de táxi. TRABALHO Então, na oficina, a maior parte era carro de praça. A maioria era... Tinha particular, mas não era tanto como hoje, não: era bem pouquinha gente. O popular não tinha poder aquisitivo pra comprar carro, hoje em dia o carro é financiado, é facilitado. Antigamente, não. Era mais a vista, mesmo. Eu era funileiro. Você tinha que ser artista, porque não tinha peça pra repor, você tinha que cortar, remendar, ajeitar. Hoje em dia usa muita massa. Eu nunca usava massa, eu usava estanho, eu estanhava os carros. Hoje em dia usa massa plástica. Eu não, nunca usei massa plástica. E a gente aprendeu a mexer com funilaria, eu aprendi a temperar peças, a fazer peça, tudo, eu aprendi ali na Ford. Tinha um senhor que era ferreiro, e eu aprendi a temperar ferramentas, temperar peças. Aquele senhor lá era simplesmente o Ferreirinho, homem humilde, bacana. Antigamente, você tinha que ser artesão, mesmo, você tinha que ter boa vontade. Inclusive, hoje é mais fácil: você quer um negócio, vai e compra. Antigamente você tinha que fazer, mesmo, na raça e na boa vontade. Nos anos 50, fui trabalhar na agência Ford. Eu trabalhei quatro anos, mais ou menos, no Mercadante e Companhia Limitada. Aí, já nos anos 50, eu mudei pra agência Ford, porque eu já sabia trabalhar, já queria crescer. Aí, na Ford, eu fiquei até 54, e fui trabalhar por minha conta. Eu aluguei um pedaço de uma oficina na Vila Maria, pegado à Torrefação Aurora. E ali comecei a trabalhar, trabalhava dia e noite. Aí depois eu fui achando que estava muito pequeninho o espaço que eu trabalhava, que tinha que ter espaço maior, porque tinha bastante clientela. Acabei comprando ali na Nelson D’Ávila, comprei do comandante Oladir Marcondes. Ele tinha escritório de contabilidade. Eu comprei ali do comandante Oladir Marcondes, era [por] volta de 57, comecinho de 57. Aí preparei um rancho bem simples lá, pra começar a trabalhar. Depois, como o passar do tempo, fui melhorando, fui ampliando, ampliando, ampliando. Em 57 eu montei, montei a oficina de funilaria e pintura. Um rancho bem simples, aí com o tempo eu fui melhorando, ampliando aquilo lá. Eu lembro de um caso, de uma pessoa que caiu no rio Buquira. Chamava seu Geraldo Teixeira, um senhor muito bacana. Ele vinha vindo de levar um passageiro lá pro lado de Buquira, e a pessoa que ele foi levar falou: “Dorme aqui em minha casa, seu Geraldo, dorme aqui”. Seu Geraldo: “Não”, não quis. E ele caiu no rio Buquira, na curva. E ele não morreu afogado porque Deus não quis. O carro caiu na água, aí o caminhão do guincho tirou. Foi a gente, eu recuperei o carro do seu Geraldo, na Ford. Não tinha muita batida porque não tinha muito carro como hoje. Hoje tem muito carro. TRANSPORTE A estrada era de terra, bem pior que as de hoje - hoje em dia as estradas são boas. O carro andava, levantava uma pedra e amassava. Isso eu resolvia. Fácil. Eu me lembro que em 50, Getúlio Vargas veio fazer uma inauguração de uma Variant, e teve uma festa lá no Bela Vista. E tinha um homem chamado João Lopes Simões, que era gerente do banco Mercantil. Ele tinha comprado um Taurus e ele se confundiu: em vez de pisar no breque, pisou no acelerador. Ele bateu na traseira de um carro, do doutor Sebastião Henrique da Cunha Pontes, um Ford canadense, rasgou tudo. Eu recuperei aquilo tudo: soldava, fazia aquilo bonito. Ele ficou até admirado, que não acreditava que ia ser recuperado. COMÉRCIO Eu nunca tive problema pra receber, não. Até porque, como eu gosto das coisas corretas, e coisa, isso tudo... Por exemplo: eu não deixava o carro sair sem pagar. Primeira coisa. Já combinava antes, sabe? Olha - se eu não me engano - , nenhum freguês me deu o cano na vida. TRANSPORTE Aí a Dutra foi feita em 48, 48, 50. O Eurico Gaspar Dutra era presidente da república, ele começou a Dutra. Eu sei que nós fomos assistir o jogo, em São Paulo: São Paulo e Corinthians. Fomos metade pela Dutra, metade pela estrada velha. Nós saímos oito horas, chegamos duas horas da tarde em São Paulo. Porque estava fazendo a Dutra em partes, assim. Foi em 48 que eles começaram. Eu lembro bem disso aí. Quando veio a Presidente Dutra foi uma beleza. Era uma pista só, depois fizeram a outra pista. CIDADES São José dos Campos Aí aumentou a coisa de acidente: à medida da proporção que vai aumentando os carros, vai aumentando acidente. Eu tinha muita clientela, porque como eu estava ali perto do Centro Técnico Aeroespacial, CTA, tinha bastante pessoal do Rio, tudo. Recebia muitos carros do pessoal do Rio de Janeiro. CTA é uma maravilha. Quem que não deve obrigação pro CTA? TRABALHO O carro mais difícil de arrumar era o DKV, que judiava da gente. Ah, DKV judiava da gente: as portas abriam ao contrário, o pára-brisa era ruim de encaixar. Como judiava da gente. Isso me lembra: era na agência Ford, veio uma cantora famosa, pra fazer inauguração da venda de carros, Dalva de Oliveira. Veio a Dalva de Oliveira. Veio fazer um show lá. Beleza. Veio pra isso. A primeira televisão de São José dos Campos foi o Henrique Murat que pôs ali na praça, ali na rua Quinze, onde hoje é o estacionamento do Diamante. Depois o Mercadante também tinha [uma televisão] ali, na praça Afonso Pena. Televisão todo mundo assistia. Primeira televisão que chegava aqui. Agora todo mundo tem televisão. Ralei pra mais de metro aqui em São José. Nunca tive tempo pra paquera. Porque o meu pai veio da roça, meu pai perdeu tudo. Meu pai tinha coração grande, emprestou pra outro, perdeu tudo. Nós não tínhamos onde morar, não tínhamos trabalho. Meu pai tinha que ir no mercado, tinha que trabalhar. Eu era praticamente o que mais me mexia em casa. Eu tenho mais cinco irmãos: três irmãs e mais dois irmãos. Ah, coitados, meus irmãos eram mais..., trabalhavam, mas não tanto, o que trabalhava mesmo era eu. CIDADES São José dos Campos Naquele tempo você trabalhava. Diversão não, sequer. E na rua Quinze andar de cima embaixo. Lembra? Rua Quinze, tinha um passeio na rua Quinze de Novembro, que vinha até na esquina do banco Bradesco, na esquina do largo da Matriz. Esse era o passeio na cidade, nada mais. JUVENTUDE Não ia em baile. Não tinha antigamente isso aqui, muito difícil. Agora sim, agora tem forró aqui, forró ali. Não era assim. E nós, também, não tínhamos tanto poder aquisitivo, também. COMÉRCIO O comércio... Você pra compra um jogo de... Tinha que ir na Florêncio de Abreu, em São Paulo. Tudo que você precisava tinha que ir pra São Paulo comprar. Depois, aí, com o tempo foram vindo pra cá. Agora... Eu ia de carona, ia de carona com os amigos caminhoneiros, porque eu consertava muitos caminhões, eu ia com eles, me levavam, comprar tudo em São Paulo, tudo, tudo. Até pouco tempo atrás, eu me lembro que os meus filhos ficavam na lojinha pequena, quando já tinha... Aí eu parei com a funilaria [em] 69 e comecei com parte de venda de guarnições. Aí, eu lembro que meio-dia eu pegava a picape, ia pra São Paulo, virava São Paulo de pernas pro ar. Sete horas da noite eu estava na loja pros meus filhos irem estudar. Isso fiz muitos anos. Agora não, agora faço mais nada, agora fico só de olho. Então, eu ia pra São Paulo só pra comprar ferramentas, comprar mercadoria. Outras coisas já tinha aqui, tinha casas de confiança: Salomão Diamante. Tinha umas casas boas, tinha lojas boas aqui. Ia comprar ferramentas, comprar mercadorias, comprar máquina de furar, máquina de lixar. Isso tinha que ir lá. Isso tinha que ir lá. CASAMENTO Eu casei no dia 29 de maio de 1954. Tinha 21 anos. Não tinha nada, eu trabalhava na agência Ford da Henrique Murat ainda, aí saí no dia 1º de maio e casei no dia 29. No dia 1o de maio eu montei uma oficina. Aluguei um pedaço, ali pegado à Torrefação Aurora, e comecei a trabalhar ali. Eu fui comprar meus móveis pra casar, fui comprar em Jacareí, tinha uma loja, como é que chamava? Tem os meninos, ainda estão por aí, o Plínio e o Arno, loja de móveis... Comprei lá, porque era mais fácil comprar lá. Comprei, deixei guardado um ano lá na... Antigamente você comprava assim, e deixava guardado. Não que fosse mais barato lá em Jacareí, talvez tinha mais escolha, mais fácil. E eles, depois, eles montaram a loja aqui. Daí, eles vieram montar a loja aqui, mas antes só tinha lá. Eu comprei os móveis, ficaram um ano lá guardados, até que eu conseguisse a gente ter uma casinha pra casar. FAMÍLIA Eu tenho um filho mais velho, que chama Antônio Ceridônio, que é o que toma conta quase de tudo. O Toninho nasceu no dia 3 de maio de 1955. Tenho mais quatro. A Ana Lúcia nasceu no dia 1º de maio. Aí, deve ser, porque é três anos mais nova que o Toninho, deve ser de 58. Depois nasceu o Alexandre, que é outro dos filhos que eu tenho. Nasceu no dia de São José, o Alexandre. Depois tem outra que chama Helena Cristina, que trabalha na prefeitura. Tenho um genro que é engenheiro da Embraer. Depois tem aquele um, médico, que trabalha em São Sebastião, que aprendeu com nós a trabalhar. Hoje também tem uma lojinha de vidro lá em São Sebastião. TRABALHO Eu mudei da funilaria porque ia morrer de tanto trabalhar com a funilaria; eu tinha serviço demais, ia ficando louco. O meu amigo, o Sérgio Sobral de Oliveira me trazia tudo os carros da TV Cultura pra eu fazer. E eu tinha bastante clientela aqui. Aí eu falei: “Não, vou acabar ficando louco”. Porque, ele queria que fizesse: “Não você faz, faz, faz”. “Faço.” Ficava acumulando, acumulando trabalho. “Chega, vou parar.” CIDADES São José dos Campos O Sobral. Sobral é uma maravilha, Sobral deu um impulso fabuloso a isso aqui. Sérgio Sobral de Oliveira, o que nós devemos de obrigação pra ele... Não teríamos a Embraer, não teríamos nada, nem o Inpe. Tudo passado pelas mãos do Sérgio Sobral. E teve mais gente, claro, teve gente que eu não estou muito a par, mas teve mais gente. O CTA é uma maravilha. O CTA, eu acho que ele chegou era COCTA. Inclusive ele se chama COCTA. E a entrada da COCTA era ali pela curva que vai pra Caraguá, era ali. COCTA: comissão não sei que lá. Eu tenho um irmão que trabalhou 53 anos lá, um irmão que entrou menino, meu irmão mais velho. E saiu agora, faz um ano e pouco, do CTA. Então era COCTA. E quem que não deve obrigação pro CTA, quem que não deve? E aí, a chegada é que mudou a cidade. Porque a nossa cidade tem uma área topográfica muito linda, praticamente, é muito grande. E o CTA é um centro de estudos avançados. Veio tanta coisa pra cá através do CTA, gente, uma maravilha. Eu acho que nós temos a viação Carlos Santiago, nós temos, mínima coisa por causa do CTA. Veio tanta gente bacana de fora, tantos engenheiros, militares, gente da alta, gente que valorizou isso aqui, que deu impulso a São José dos Campos. Aumentou o comércio, aumentou e foi embora. Cresceu muito e até pras cidades vizinhas foi muito bom isso aqui. Porque foi crescendo, crescendo, crescendo, atraiu. Os empregos aumentaram, os empregos aqui. Depois já veio a General Motors, já veio a Rodhia, já veio uma porção de indústria veio pra cá. COMÉRCIO Depois eu só mexia com as guarnições: parte de carroceria, carroceria. Já não mexia mais com funilaria. Não mexi também com mecânica. Mecânica sempre tinha uns amigos ali que trabalhavam com a gente, mas eu não. Guarnição é vidro e carroceria. Vidros, as borrachas, tudo aquilo que faz parte de carroceria. Eu acho que eu fui o primeiro a mexer com isso. Eu, praticamente, graças à freguesia, a freguesia vai te empurrando pra um lugar bom, a freguesia boa vai te empurrando. Quando você trabalha correto, o freguês vem e vai te dando aquela força, você vai acreditando. Eu tinha um amigão aqui, que se chamava seu Taira, que era chefe dos fiscais, falava: “Ruiz, não cresça Ruiz”. “Mas como que não vou crescer, tem que crescer, gente.” Que ele já sabia que, claro, quanto mais se cresce, mais problema você vai ter. Mas tem que ter problema e solucionar. Eu me lembro que eu ia em São Paulo comprar vidro de carona, com uma bolsinha. Ia na rua do Gasômetro. Era pouquinho. Antigamente, era pouquinho serviço, não é como hoje, não, [que] tem que ir de caminhão: antigamente você ia fazer um carro, ia, comprava, terminava, entregava. Fazia outro carro, ia, buscava. Eu nem tinha estoque. Depois fui, à medida que fui - depois de 69 - , aí eu fui obrigado a ir crescendo e fazendo. Hoje em dia tem já quase carro, quase vidro pra tudo quanto é carro. Você tem que ter, agora. Hoje tenho gente só para mexer com isso. Tem pessoa só pra isso. Tem o estoquista, pessoa que controla, pessoa que dá entrada, saída; tem uma pessoa que compra, uma pessoa que compra e vende, lá. Cada pessoa... Quando você cresce tem que ter uma pessoa pra cada seção, tomar conta daquilo lá, ele é responsável por aquilo lá. Senão não tem jeito. Porque quando você é pequenininho, você vai, compra um vidro ou dois, vem, coloca. Agora, a gente, por exemplo, o sujeito quer um vidro desse aqui, telefona: “Tem?”. “Tem.” Carro importado, carro nacional: você tem que ter [as peças], gente. Você tem que ter estoque. É muito difícil aquele vidro que nós não temos. A maioria nós temos. Antigamente, clientes eram homens. Agora é mulher, que tem mais mulher que homem. Não entendem, mas elas vão lá porque têm confiança. Que não são enganadas. E a gente tem que jogar limpo, e jogar limpo sempre. Agora é mais mulher do que homem, porque tem mais mulher do que homem. Antigamente era mais homem, lógico. Quando sai uma novidade, por exemplo, quando nós precisávamos de treinar pra consertar...: nós consertamos espelho, bate, o espelho bate e quebra, meus funcionários iam na fabrica aprender lá, fazer estágio. Agora, depois, mudou, antigamente o pára-brisa era puxado com cordinha, barbante... Então, os primeiros vão na fábrica, aprendem, vêm e servem de professor pros outros que entram. A maioria dos funcionários nossos, a maioria, 99%, aprendem com nós ali. E muitos aprenderam e estão trabalhando por aí. Inclusive muitos funileiros que já trabalharam comigo têm as oficinas deles por aí. Eles treinam lá e ficam bom de serviço. E a primeira coisa que eu exijo é dignidade, isso eu não abro mão: eu não admito que engane o freguês, de jeito nenhum. Porque se enganar o freguês está enganando a mim, está enganando a ele, o freguês em primeiro lugar, não enganar o freguês. E sempre jogar limpo com o freguês, “porque é isso, isso e isso”. Nada de querer forçar a venda. Não, isso não pode. Mas tem muita gente que força a venda por aí, quebra a cara. Porque o freguês descobre que está sendo enganado. Então, primeira coisa: o comerciante tem que ser honesto, correto. TRANSPORTE Com a Dutra melhorou. Aí ficou um corredor entre São Paulo e Rio, melhorou bem. E esse corredor foi... Ah, maravilha. FAMÍLIA Meus filhos que são maravilha também, que levaram meu nome pra frente, que são bacanas também, graças a Deus. Então, nós abrimos mais uma, temos lojinha na Andrômeda e temos uma lá perto do Uemura, também. Porque agora meus netos também [estão] trabalhando com a gente. Graças a Deus, dei sorte. Meus filhos são bons, agora os netos também estão tocando. Quer dizer, que eu vou encaminhando eles. É a terceira geração. Precisa [trabalhar]. É bom, porque o homem tem que ter uma ocupação na vida. O que falta nesse país ainda são escolas. A minha loja é uma escola. Ensinei muitos funileiros, muitos vidraceiros, meninos que chegaram doentes ali - que eu tenho, que eu curei, que tratei, que ensinei - estão vivendo. O que falta nesse país são escolas. Se tivesse mais escolas, as cadeias não estavam repletas de homens, meninos na Febem, não estava. Que se esses meninos tivessem aprendido o caminho - tem que ensinar o caminho bom. Agora não tem o que fazer: vai soltar papagaio, vai isso, vai aquilo, vai roubar. Faltam escolas aqui ainda, e muita escola. Não é quatro paredes que eu digo não: é uma escola onde ele aprenda tudo, é carpintaria, é... carpintaria, mecânica, pra fazer tudo, tudo, tudo. Que ele possa sair de lá um homem já formado pra enfrentar a vida. RELAÇÃO COM O COMÉRCIO Nós, eu e minha esposa, no comecinho, a gente ia comprar roupa ali na José Paulino, isso aí, mas há muitos anos. Agora tem tudo aqui. São José tem tudo, uma maravilha. Ah gosto, ah gosto de fazer compras. Eu não gosto muito de ir em shopping, eu gosto mais de ir em feira. Eu gosto mais, eu me identifico muito com esse pessoal, assim, trabalhador. E shopping eu não sou muito chegado, que tem que andar bastante, e correr, correr, correr. Agora, se eu hoje quero comprar uma camisa, tem que ir no shopping mesmo. Aí tem que ir no shopping. Camisa dessa, assim, eu não preciso comprar, que eu tenho tantas - meus filhos me deram tantas camisas. No centro, no centro praticamente agora não vou, porque tem shopping. A patroa vai no shopping, compra pra mim, ou senão compra pra ela. Agora no centro você não compra quase mais nada. O que você compra, que você pode comprar é televisão, uma coisa ou outra. Mas, praticamente, roupa você vai em shopping, que você tem diversas opções pra procurar e olhar. Mas a feira - vai na feira, para você ver como é gostoso, vai pra você ver como é delicioso. Amanhã mesmo é dia que eu vou fazer feira aqui, perto de vocês. Sábado eu vou fazer lá... É uma delícia Coisa que eu me vejo com esse povo trabalhador, é muito gostoso. VIDA ATUAL Eu gosto de plantar pêssego, de colher pêssegos. Tenho uma plantação de pêssegos. Adoro porque é muito gostoso, é uma terapia gostosa. Quando eu não estou lá na minha loja, olhando, eu vou lá trabalhar um pouquinho na minha chácara. CIDADES Litoral Quando os filhos eram pequenos, nós fazíamos passeios pro litoral. Íamos de Kombi. Eu tinha Kombi. Todos os filhos iam: iam três filhas e os filhos comigo. Nós íamos pra praia, voltava, tal. Eu tinha aquilo, cheguei a ter casa na praia, cheguei a ter casa na praia, depois. A gente ia para a Prainha, Caraguá. Antigamente, a estrada era horrível, era de terra. Cheia de curvas, só poeira, quando subia na... Quebrava muito o carro. As estradas eram horríveis, desgasta mais. FAMÍLIA Tenho dois netos trabalhando comigo, mas eu tenho onze netos. Eu sou muito rico. AVALIAÇÃO Comércio Eu acho que você nunca pode abrir mão de ser correto: isso em primeiro lugar, você não pode abrir mão. Aí você já, você encontra muita dificuldade, mas você vai ter a recompensa na frente, não tenha dúvida. Agora, aquele que não é honesto, coitado, ele vai quebrar a cara. Diria pra todo mundo, pra todo mundo. Pros meus funcionários, eu chego: “Filho, você, o que é do freguês é do freguês, o que é nosso é o nosso”. Sempre assim: primeira coisa é ser honesto com todo mundo, mas com todo mundo, não é só com o freguês. Com os empregados, com o governo, com o fisco, com o fornecedor. Eu nunca me lembro de ter dado um cheque sem fundo pra alguém, e nunca me lembro de ter pagado título no cartório, eu brigo pra pagar conta que extravia o documento. Isso é muito bom, porque você não vai ter problema mais tarde, você tem problema agora, que é apertado, aquilo, mas você não tem problema depois, não. Que nem a pessoa que mente: pessoa que mente... Se você não mentir nunca, você não precisa lembrar o que você falou. Agora, se você mentiu, você vai ter que inventar uma porção de mentira depois, pra poder...
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