Nasci em Mineiros do Tietê, no estado de São Paulo. Meus pais eram lavradores, minha mãe trabalhava separada do meu pai, ela me levava junto desde pequenininha para trabalhar na lavoura de café. Depois veio a cana-de-açúcar. Começamos a trabalhar muito cedo na lavoura. A gente ia na escola até a hora do almoço e depois ia ajudar o pai com a mãe na roça, era bem difícil. A minha mãe também cuidava da gente e da casa.
O meu pai gostava de cantar. Então à tarde, depois que a gente jantava, ele sentava em uma escada, a gente sentava perto dele e ele ficava cantando. Não tinha luz elétrica, não tinha rádio naquela época, a gente ficava ouvindo ele cantar “Menino da porteira”.
Eu fiz a 2a série em Igaraçu, a gente morava no sítio, e a escola ficava a uns dois quilômetros de distância, tinha que ir a pé, não tinha condução. Depois, o meu pai me tirou da escola porque era difícil para ir, eu fiquei parada um ano. Aí os patrões do sítio conversaram com meu pai. Como eles moravam em Barra Bonita e iam buscar leite na cidade, eu vinha com eles para a cidade.
Com quinze anos, eu trabalhei na casa de um senhor que tinha usina em Mineiros do Tietê, pertinho de Barra Bonita. Trabalhei lá catorze meses como copeira, mas depois voltei para trabalhar na lavoura de novo. Eu não me acostumei muito com o serviço na casa de família. Não tinha horário para começar, não tinha horário para parar, como a gente ficava no serviço, tinha que trabalhar até o último jantar, arrumar a cozinha. Na lavoura a gente já tinha mais horário.
Fiquei em Igarassu até os vinte anos, quando me casei, muito nova ainda. Ele arrumou serviço, e o emprego era melhor, então viemos morar em Barra Bonita e ficamos casados 39 anos. Sair do sítio para ir para a cidade foi uma novidade para mim. O sítio não tinha luz elétrica, a gente não tinha televisão, era tudo mais difícil, não tinha carro. Já na cidade era mais fácil, tudo mais perto, se a...
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Nasci em Mineiros do Tietê, no estado de São Paulo. Meus pais eram lavradores, minha mãe trabalhava separada do meu pai, ela me levava junto desde pequenininha para trabalhar na lavoura de café. Depois veio a cana-de-açúcar. Começamos a trabalhar muito cedo na lavoura. A gente ia na escola até a hora do almoço e depois ia ajudar o pai com a mãe na roça, era bem difícil. A minha mãe também cuidava da gente e da casa.
O meu pai gostava de cantar. Então à tarde, depois que a gente jantava, ele sentava em uma escada, a gente sentava perto dele e ele ficava cantando. Não tinha luz elétrica, não tinha rádio naquela época, a gente ficava ouvindo ele cantar “Menino da porteira”.
Eu fiz a 2a série em Igaraçu, a gente morava no sítio, e a escola ficava a uns dois quilômetros de distância, tinha que ir a pé, não tinha condução. Depois, o meu pai me tirou da escola porque era difícil para ir, eu fiquei parada um ano. Aí os patrões do sítio conversaram com meu pai. Como eles moravam em Barra Bonita e iam buscar leite na cidade, eu vinha com eles para a cidade.
Com quinze anos, eu trabalhei na casa de um senhor que tinha usina em Mineiros do Tietê, pertinho de Barra Bonita. Trabalhei lá catorze meses como copeira, mas depois voltei para trabalhar na lavoura de novo. Eu não me acostumei muito com o serviço na casa de família. Não tinha horário para começar, não tinha horário para parar, como a gente ficava no serviço, tinha que trabalhar até o último jantar, arrumar a cozinha. Na lavoura a gente já tinha mais horário.
Fiquei em Igarassu até os vinte anos, quando me casei, muito nova ainda. Ele arrumou serviço, e o emprego era melhor, então viemos morar em Barra Bonita e ficamos casados 39 anos. Sair do sítio para ir para a cidade foi uma novidade para mim. O sítio não tinha luz elétrica, a gente não tinha televisão, era tudo mais difícil, não tinha carro. Já na cidade era mais fácil, tudo mais perto, se a gente precisasse ir para outra cidade tinha ônibus, já tinha luz elétrica, a gente tinha uma televisão, geladeira… solteira eu não tinha nada disso.
Quando casei eu morava no centro, em Barra Bonita, na Primeiro de Março, depois de quatro anos e meio de casada a gente conseguiu essa casa na Cohab. Mudei em 1980, faz 41 anos que moro na mesma casa.
Eu aprendi costurar muito cedo, então quando queria alguma coisa eu pegava roupa para fazer, costurava para os vizinhos lá do sítio, reformava, fazia vestidos, camisa, short, o que as pessoas pediam de costura eu fazia para ganhar um dinheirinho para comprar alguma coisa para mim. Eu trabalhava em casa, aprendi a fazer tricô na máquina de tricô.
Depois comecei a ser voluntária aqui na escola (EE Cônego Francisco Ferreira Delgado Júnior) que meu filho estudava, porque estava com falta de funcionário. Depois entrei pela prefeitura para trabalhar na escola, trabalhei dois anos e meio pela prefeitura, prestei concurso pelo estado, passei e trabalhei mais de trinta anos só nessa escola. Entre a prefeitura e o estado eu trabalhei mais de trinta anos.
Estudei muito, meu filho e meu marido falavam assim, “qualquer dia nós vamos achar caderno dentro das panelas”, porque onde ia na casa tinha caderno, na cozinha, no quarto, na sala, onde eu ia levava o caderno para estudar. Estudei muito, tive ajuda de duas professoras, porque fazia muito tempo que eu tinha parado de estudar. Fiquei muito nervosa, passei em 4o lugar e tinha cinco vagas, três efetivas e duas não eram efetivas. Entrei e não era efetivada, depois prestei outro concurso e me efetivei.
Quando comecei era servente de escola, depois passei como auxiliar de serviços. No final eu trabalhei como merendeira à noite, a prefeitura não tinha merendeira, à noite eu fazia o serviço de servente e depois na hora do intervalo fazia a parte de merendeira.
Eu adorava trabalhar com os adolescentes. Eu me lembro do café que sobrava dos professores, da secretaria, dos inspetores, da limpeza, eu sempre guardava para eles. E eles vinham na cozinha, “dona, estou com sono, você não tem um pouquinho de café?”, e eu dava o café para eles e voltavam rapidinho para sala. Era um meio de cativar eles, eu acho que é um meio deles virem para a escola, porque tem muitos que às vezes não tem nem um cafezinho em casa.
Acho que não tinham liberdade de falar com as mães, a liberdade eles tinham com a gente, eles vinham perguntar, falar e a gente aconselhava, porque no fundo, na escola a gente se torna uma mãe, às vezes um psicólogo, uma enfermeira… a gente não é só o funcionário.
Aquele calor dentro de uma sala de aula não é fácil, eles trabalhavam vinham cansados para estudar à noite, e tomar um suco quente? Eu não achava certo, eu me desdobrava, eu fazia o gelo, deixava tudo prontinho para no outro dia, quando ia fazer o suco, dar um suco bem geladinho para eles se sentirem amados, amparados. Era muito gratificante porque a gente sentia que eles ficavam felizes, era uma coisa que eu fazia com muito amor.
Eu gostava muito quando era formatura, era muito bonita a festa de final de ano, ou no mês de junho, que tinha festa junina, tinha a Miss Cônego, era uma festa muito bonita. Tinha festival, ajudava na costura, as professoras faziam as fantasias loucas, eu ajudava a fazer.
Tenho o sonho de ver minha neta formada, ela está fazendo engenharia ambiental. Eu acho que tudo o que se aprende é muito importante para a vida da gente. Fui uma pessoa que terminei o meu ensino médio, ensino fundamental com cinquenta anos. Até então tinha feito só até a 4a série, mas sempre quis terminar. Depois, com cinquenta anos, falei: “Eu vou terminar!”. Se eu tivesse tido a oportunidade que nem os alunos de hoje tem, acho que teria feito uma faculdade de artes. Eu acho que seria professora de artes.
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