Eu poderia ter uns 10 anos, quando surgiu uma novidade trazida por meninos maiores no afã de mostrarem-se entendidos nos segredos do amor. A novidade era que, se conseguíssemos três fios de cabelo de uma menina por quem tínhamos interesse e fizéssemos que fossem cortados três vezes por uma "formiga feiticeira" ela "daria" para nós.
A primeira dificuldade apresentava-se para conseguirmos os tais três fios de cabelo, e em segundo lugar o que significaria "dar" para nós; isso era um enigma difícil de decifrarmos, presos que estávamos ainda, à inocência da infância.
Movidos pela curiosidade usávamos de todos os expedientes para conseguirmos o troféu que nos faria amados pelas deusas daquele momento. Ai surgia a dificuldade insolúvel, como descobrirmos a tal formiga feiticeira? Acabávamos tentando que uma formiga saúva (porque a achávamos com aspecto de uma feiticeira) cortasse o trançado dos três fios de cabelo. Nunca conseguimos e ficamos sem saber se de fato a simpatia poderia funcionar.
(José Wladimir Klein enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 06 de julho de 1998 pela página na internet, atualizada em 29 de janeiro de 1999.)