Depoimento de Amalia Acetozi Massafera
Entrevistado por Rosali Henriques e Flávia Barbosa
Araraquara, 16 de setembro de 1999
P/1 – Dona Amalia, para começar a entrevista diga seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Eu nasci dia 25 de junho de 1917, em Araraquara.
P/1 – Qual o seu nome completo?.
R – Amalia Acetozi Massafera.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meus pais são Secundino Acetozi e Maria Prozilo Avanci, depois Acetozi, né, também.
P/1 – Qual a origem deles?
R – Italianos, de origem quer dizer, eles são descendentes, né, porque os meus avós vieram da Itália, tanto materno como paterno e fixaram aqui, adoraram Araraquara, mais engraçado é ela contar, né, a minha avó sabe, contava que no navio quando eles distribuíam banana, ela achou tão gostosa a banana, ela comia com casca e tudo (riso) depois que ela aprendeu que não era como maçã, que comia com casca, e a banana ela comia com casca.
P/1 – Por que eles vieram aqui pra Araraquara?
R – Ah porque eles escolheram aqui, acho que foi distribuído, né, os lugares que, como é que fala, quando vem de lá pra cá.
P/1 – Imigrantes.
R – Imigrantes, vieram como imigrantes, olha trabalharam, viu, os italianos, os alemães, os japoneses, sírios, colônias italianas, ela ficou aqui e veio já casada de lá com dois filhos, depois teve os outros aqui, minha tia Rosinha, meu tio Pedro, olha depois tiveram mais filhos, tiveram a tia Elvira, outra tia mais o meu pai, que o meu pai era o caçula e foram criados aqui, adoravam Araraquara.
P/1 – Com que eles trabalhavam?
R – Ele trabalhou na Estrada de Ferro, sabe, quer dizer, antes ele trabalhou na Prefeitura, quando teve a febre amarela aqui, ele foi convocado pra carregar os corpos das pessoas que morriam lá no cemitério, sabe, naquela época era convocado porque assim, foi uma peste que matou minha avó materna, não paterna, minha avó materna não, ele era convocado tinha que pegar...
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Entrevistado por Rosali Henriques e Flávia Barbosa
Araraquara, 16 de setembro de 1999
P/1 – Dona Amalia, para começar a entrevista diga seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Eu nasci dia 25 de junho de 1917, em Araraquara.
P/1 – Qual o seu nome completo?.
R – Amalia Acetozi Massafera.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meus pais são Secundino Acetozi e Maria Prozilo Avanci, depois Acetozi, né, também.
P/1 – Qual a origem deles?
R – Italianos, de origem quer dizer, eles são descendentes, né, porque os meus avós vieram da Itália, tanto materno como paterno e fixaram aqui, adoraram Araraquara, mais engraçado é ela contar, né, a minha avó sabe, contava que no navio quando eles distribuíam banana, ela achou tão gostosa a banana, ela comia com casca e tudo (riso) depois que ela aprendeu que não era como maçã, que comia com casca, e a banana ela comia com casca.
P/1 – Por que eles vieram aqui pra Araraquara?
R – Ah porque eles escolheram aqui, acho que foi distribuído, né, os lugares que, como é que fala, quando vem de lá pra cá.
P/1 – Imigrantes.
R – Imigrantes, vieram como imigrantes, olha trabalharam, viu, os italianos, os alemães, os japoneses, sírios, colônias italianas, ela ficou aqui e veio já casada de lá com dois filhos, depois teve os outros aqui, minha tia Rosinha, meu tio Pedro, olha depois tiveram mais filhos, tiveram a tia Elvira, outra tia mais o meu pai, que o meu pai era o caçula e foram criados aqui, adoravam Araraquara.
P/1 – Com que eles trabalhavam?
R – Ele trabalhou na Estrada de Ferro, sabe, quer dizer, antes ele trabalhou na Prefeitura, quando teve a febre amarela aqui, ele foi convocado pra carregar os corpos das pessoas que morriam lá no cemitério, sabe, naquela época era convocado porque assim, foi uma peste que matou minha avó materna, não paterna, minha avó materna não, ele era convocado tinha que pegar carroça e levar os corpos pra lá, depois ele trabalhou na estrada de ferro, depois aposentou morreu antes, né, mais cedo.
P/2 – De que região da Itália era a família do seu pai?
R – Eu tenho lá em casa agora não lembro viu, o meu avô paterno era de... naquele lugar bonito, era família religiosa, eram todos padres e a irmã era freira, aí ele fugiu veio pro Brasil, ficou na Argentina e ele aplicou o que aprendeu em casa, coisa, construir, construções, meu avô era um italiano bonito, napolitano, ele era de Nápoli esse eu lembro o outro, um era da baixa Itália o outro era do norte, toda família tanto a parte do meu marido como a minha, todos italianos, nós somos de origem total de italiano, não tem nada de...
P/2 – A senhora chegou a conhecer algum desses avós, conviveu com eles?
R – Conheci o avô materno, conheci ele se chamava Luciano, era um homem muito bonito, muito bom, tinha uma chácara lá em cima na vila, que ele plantava, tinha o tipo italiano, costume dele usava tamanco, meias vermelhas, aquelas coisas, plantava uva no quintal inteirinho plantado era lindo, mas quando minha avó morreu deixou os dois filhos pequenos, então ele pôs uma empregada em casa. História de italiano é assim mesmo, arranjou uma empregada, botou na casa, no fim acabou tomando conta das crianças mas tendo um filho com ela, minha tia considerada minha tia Lúcia, mas não casava não, ficava deixava os filhos e cuidava, ajudava. Meu avô foi pra Santos e arrumou outra mulher em Santos, teve outra filha pois trouxe pra cá, aquela confusão de italiano, é mesmo viu.
P/2 – Não era fácil não, né?
R – Não foi fácil, pra ele foi muito difícil, depois ele morreu cedo também, um homem já tava casada mas eu conheci, tive o prazer de conhecer e todos os outros irmãos que ele tinha tido também e da avó paterna, eu adorava, a avó Ernesta, um encanto, morava ali em frente à Faculdade da Farmácia, vocês não conhecem aqui, né, e ali tinha jardim. Quando tinha circo ela ia buscar o adubo dos elefantes, das coisas pra, então as flores davam deste tamanho, ela falava sabe por que... Ah, ela trabalhava é com macarrão eu lembro dela daquelas mesas grandes, largas, né, ela com aquele pau largo fazendo, abrindo a massa de macarrão, a gente tem uma lembrança muito grande e muito bonita, do trabalho, do amor que eles tinham, tinha adoração pelo Brasil, eles não quiseram voltar mais pra Itália, de jeito nenhum, adoravam o Brasil, Araraquara pra eles era um...porque eles sofreram muito lá, passaram fome, além do frio, a guerra, a coisa, não tinham e é tão linda a Itália, passei lá, lindo.
P/1 – Quantos anos a senhora tinha quando esses avós faleceram, como foi a sua convivência com eles?
R – Tive os dois filhos pequenos e ela morreu em casa, depois quando eu fui pra Marília ela estava em casa com meus pais, convivi bastante com ela, exemplo de pessoa que vem de fora, aquela força que eles tem pra trabalhar, não mede sacrifício, fazem, lavam roupa tudo que precisa fazem, hoje não, ninguém quer fazer mais nada, não é, elas vinham com aquela garra de trabalhar, de fazer, não escolhiam serviço, faziam tudo que precisava, ela ia buscar lenha que nas matas, lá tinha, criava cabrita a gente tomava, por isso que tenho os dentes bons porque ela me dava leite de cabra.
P/1 – E ela fazia queijo de cabra também?
R – Não fazia queijo, a gente tomava leite e outro parente do meu avô, eles faziam queijo, mas essa aqui não fazia, ela pegava a cabritinha e dava aqueles copos grandes sabe, quando tinha tosse, ela punha o ferro dentro do forno, queimava aquilo e punha dentro do leite, lembro tão bem eu falava gente, tratava da tosse comprida com isso, a vovó fazia isso, no forno ela punha lá o ferro...
P/1 – Como assim?
R – Tinha o ferro, porque não tem o ferro, aquela coisa que eles tratam hoje, era assim, que tratava.
P/1 – Ela fazia algumas comidinhas típicas italianas?
R – Ah macarronada italiana, sopa, capeletti, o caldo, tudo era especial, né, aquela comida saborosa, muito amor e carinho, muito gostoso, as bracholas, as pizzas, quer dizer, grava, não precisava, mas depois a gente vai desembaraçando, soltando e fazendo, hoje eu adoro porque eu estou em casa, sair à rua não pode, é perigoso, de noite nem se fala, de dia tomo cuidado, até planta, é casa, flores quer dizer eu tô reservando tudo que foi deles, já me passou, passa gente. Pensa que não, mas passa, as coisas das mães, dos avós, fica na gente, fixa, por isso é que eu penso que as crianças de hoje, os pais estão deixando muito, é um reflexo da gente, né.
P/1 – Voltando um pouco, era o tempero que a sua avó usava?
R – É isso, a carne bem frita porque era bem vermelhinha, cebola e o alho, é isso que nós fazemos, usava muito óleo, né, muito óleo de oliva, óleo bom.
P/1 – O óleo vinha de lá ou era daqui mesmo?
R – Não era daqui, agora a carne de porco eles derretiam e faziam pedaço de carne faziam deixava na gordura, aquelas latas grandes, guardava os pedaços tudo naquela lata, quando queria um pedaço de carne tirava, era um hábito antigo, era mais gostosa.
P/1 – Eles moravam em chácara?
R – Não.
P/1 – Na cidade mesmo?
R – Na cidade, moravam ali em frente à Faculdade Escola de Farmácia, a vovó tinha uma casa na esquina, ela comprava era danada, não sei ela tinha o espírito sabe forte pra negociar pra fazer as coisas, viva, não ficava pedindo esmola, os outros aí pedem né, porque veio pra cá sem nada, não tinha nada, filho e tudo, trabalharam numa chácara que agora é atrás da escola, tinha uma chácara lá eles trabalharam lá, dali foram saindo procurando outro lugar, quando podiam compravam uma casa, enfeitavam a casa com flores, com tudo, depois vendiam aquela, compravam outra, é interessantíssimo viu, a força que eles trouxeram.
P/2 - Tinha quintal nessa casa que eles moravam?
R – Tinha quintal, mas não era também tanto assim, sabe.
P/2 – Frutas.
R – É, ah do meu avô tinha lá em cima da chácara tinha tutto, tinha banana tinha fruta, quantidade, uva então era aquilo, que ele tratava, né, minha avó plantava, a gente chegava lá tinha aquelas vagens sabe, comprida, bonito era isso, porque distribuía pra vizinhos, tinha muita solidariedade naquela época, eles distribuíam, faziam aqueles pães grandes e os pães era maravilhosos, e o forno era de lenha, tudo com sacrifício, eles torravam café em casa, pão, tudo isso, moía, era tudo moidinho.
P/1 – E a senhora lembra das brincadeiras de infância, que tipo de brincadeiras vocês faziam aqui em Araraquara?
R – Nós éramos em muitas irmãs, a gente brincava muito no quintal, que eu morei logo ali na Rua 3, Rua 2 perto do Banco Bradesco então tinha muitas casas ali e tinha os quintais, mas a gente brincava na rua de roda, pega-pega, sabe, roda, podia brincar na rua, sabe.
P/1 – A senhora lembra de alguma música de roda ?
R – Ah todas aquelas musiquinhas bonitas, todas as musiquinhas de roda, lembra, saudade daquele tempo, porque era lindo.
P/2 – Eram quantos irmãos na sua casa?
R – Somos seis, eram sete, morreu uma menina e somos seis, quatro mulheres e dois homens.
P/2 – A senhora é a mais velha?
R – Eu sou a mais velha, depois de um ano nasceu a outra a Ida, depois mais um outro nasceu Isabel, depois no outro ano nasceu a Ernestina, depois no outro ano nasceu a Celina que morreu, depois daí nasceu o primogênito José, que nasceu com quase cinco quilos, quase não, cinco quilos. Era parteira naquele tempo, calcula minha mãe coitadinha baixinha, pequenininha, né, cinco quilos ele tinha, depois aí passou mais um pouco e morreu Celina nesse intervalo nasceu Pedro, os dois são dentistas e as duas professoras e eu fui tudo, foi pajem de irmão, mãe e pai junto, né, tudo que aparecia eu fui fazendo.
P/1 – A senhora cuidava de todos os irmãos?
R – Sempre né, tinha empregada tudo, mas a gente, a gente era mais velha, a mãe sempre dizia: “Olha, fulano.” E ela costurava, tinham moças que aprendiam o ofício, tinham rapazes que aprendiam alfaiate, a gente ia dormir, papai estava trabalhando, levantava ele estava lá trabalhando, fase dura viu, sustentava todos os filhos, a gente ganhava presente no Natal e no aniversário. E ninguém reclamava, era uma felicidade, né. Hoje, eu falo pro meu filho: “Gente, não dá tanto assim que eles não valorizam.”
P/1 – Seu pai era alfaiate?
R – Era alfaiate, costurou muitos anos aí.
P/1 – Com quem ele aprendeu o ofício?
R – Com seu André Rosito é bem nos antigamente. Era lá no largo onde tem a biblioteca, não a biblioteca é pra cá, perto de casa, não é a biblioteca ,como é que é a outra que tem, até que brigaram porque o prefeito fez, mas ficou bonito gostei, achei, tem o grupo escolar, aquela praça, lá.
P/1 – Numa praça.
R – Aquela praça e a casinha dele era ali, hoje é um prédio grande ali.
P/1 – Esse senhor ensinava o ofício?
R – O ofício é, naquele tempo eles aprendiam, pagavam pra aprender o ofício, né, desde pequeno, iam pra escola mas depois vinham pra casa e aprendiam o ofício.
P/1 – E seu pai resolveu ser alfaiate?
R – É.
P/2 – Aprendeu desde pequeno?
R – Desde pequeno, ele tinha feito datilografia, mas ele gostou, era artista naquele tempo estava até registrado na carteirinha de artista eu até ia pegar pra mostrar pra ela, mas esqueci, não achei, tá guardadinho e a mamãe, foi criada sozinha com um irmão, também foi aprender o ofício, também teve que pagar pra aprender costurar e fazia os vestidos, aquelas coisas lindas que fechadinha, aquelas cinturinha, sabe.
P/1 – A senhora sabe com quem sua mãe aprendeu o ofício?
R – Eu não lembro o nome agora, mas ela contava, não era madame que ele chamava, tinha outro nome que davam pra quem ensinava o ofício, esqueci agora como é que era.
P/1 – Era modista?
R – Não era modista, acho que era modista, né, modista era quem costurava, né, essas que ensinava tinha outro nome, sabe.
P/1 – E ela fazia os vestidos?
R – Nossa, lindo.
P/1 – Como eram?
R – De época lindos, lindos, tenho até hoje lá as revistas lindas, sabe, que traz os modelos, completamente diferente dos de hoje, que era só em preto e branco, tudo apertadinho sabe, bonito, longo.
P/2 – E ela costurava todas as roupa da família também?
R – Não, depois ela deixou, ela ajudava papai a fazer calças essas coisas, na alfaiataria e ensinava as moças, né, o ofício, aprender, eram camisas e as calças, e por fim foi aumentando, foi melhorando aí eles compraram máquina de plissê, de royal, de ajour, botões, então tinha oficina grande, as moças ajudavam, né, e ela ficava junto e ela fazia os plissês, aquelas saias plissadas lindas, eles faziam lá e eu estava lá por perto. Apesar que quando eu quis aprender, tinha uma pessoa que ensinava o ofício, a costura, eu quis aprender a costurar papai não me deixou, aí minha avó me deu dinheiro porque eu adorava, né, queria aprender costurar e papai não queria, já queria que eu fosse pra escola mas estava ali no meio ajudando todo mundo, né? Aí a primeira coisa que eu fiz foi um vestido pra minha avó. Ela já estava arcadinha, né, e me ensinou como é que tinha que botar o negocinho pra, aí fui começando costurar para as minhas irmãs, fiz vestido de noiva de todas elas e costurava lá, fazia saias pra papai pra tailleur que ele costurava muito pra senhoras e eu tinha muito gosto, muito jeito pra... gostoso.
P/1 – Como é a saia plissada?
R – Você não lembra, não é da tua época, você nunca passou todo esse tempo vocês não viram, nossa é uma saia, o godê você sabe como é o godê, então tinha uma forma que ficava todo riscado, marcado, papel especial, a gente ia em São Paulo comprar papel especial, bem dobradinha ficava como uma sanfoninha, era abrir o pano ia dobrando sabe, depois você passava a ferro, era interessante, ficava aquela saia linda, justinha na cintura e aquele godê bonito, eu tenho uma saia ainda lá, tenho uma saia preta bonita, teve um tempo que ainda usou, uns quantos anos, uns oito anos atrás, agora é capaz de voltar, viu.
P/2 – Na hora que lava não sai o plissado?
R – Ah sai, né, aí você manda plissar, aqueles babadinhos da gola, vocês não pegaram isso vocês são, é na nossa época era aqueles babadinhos na gola, tudo era muito bonito, a costura hoje é tudo mais, mecanizado, põe na máquina corta tudo, faz tudo, antigamente não, era mais, tinha mais trabalho, né.
P/1 – Cada vez que lava esse plissado tem que voltar plissar?
R – Mas também não precisava fazer toda vez, porque não precisava, quando acontecia alguma coisa, lavava e plissava ia direitinho, agora nem sei se tem mais quem faça plissê, lá em São Paulo deve ter alguma coisa ainda, né, mas eu não tenho visto nada mais acho que por enquanto não tá, aquele foi o auge sabe, foi vestidos de noivas, vocês não lembram nada de plissê, de coisa nada nada, como elas são meninas hein, quantos anos você tem?
P/2 – Eu tenho 23.
R – 23, eu tenho três, quatro vezes mais que você. Não pegaram nada.
P/1 – Dona Amalia, na época da sua infância como era Araraquara, a cidade, era grande ou pequena?
R – Muito gostosa, onde morei, era depois o Zerbini tinha uma refinação de açúcar e na esquina tinha as professoras que davam aula no colégio então elas tinham música e na frente tinha outros músicos, tocava no cinema, os músicos tocavam, era a coisa mais linda, então a gente ia mais cedo pra ouvir os músicos, era seu Abrita, era seu Cortez, tinha muitos, o último morreu agora foi o pai dele quem tocava, era lindo então a gente ia ao cinema pequeno, né, e mesmo pequeno papai fazia a gente ir ao teatro. Nosso Teatro Municipal que era lindíssimo, a gente era pequeno a gente ia ver as companhias que chegavam aqui, nisso o papai mandava as três maiorzinha a outra era pequenininha não ia, ele mandava tinha que ir, ele não ia porque tinha que trabalhar e nós íamos, depois ele ia buscar.
P/1 – E o cinema?
R – E o cinema era lindo, o cinema depois de mocinha... Tinha a sessão das moças, que a gente ia na sessão das moças, né, porque era... Depois do cinema a gente ia dar a volta até naquela praça lá em baixo fazer o footing, daí os namoradinhos passavam e ficavam tudo paradinho lá e a gente passava, até lá em cima, até o cinema daqui, depois dava a volta, sabe... Nos bailes também eram bailes bonitos, era bem animado, era bem, sabe, hoje não sei porque a gente não freqüenta, não vê, mas acho que é muito barulho é muita, naquele tempo era mais música, mais alegre, bate aquela coisa, minhas netas vão, imagina, a gente voltava pra casa os pais ficavam esperando, marcava hora, tinha que voltar uma hora, ficava lá esperando e hoje volta às 6 horas da manhã, às 5 horas da manhã. Eu fui lá, onde que eu fui, em Cancun eu acho que fui, é em Cancun tem aquela fumaça feito, fiquei espantada, que soltava aquela fumaça, uma neblina, né, cheia, em Cancun, num restaurante lá.
P/1 – E nessa época em Araraquara, sua família freqüentava festas religiosas?
R – Tinha procissões lindas, passavam por casas, procissões lindas, nossa as filhas de Maria, os marianos, São José, depois os que acompanhavam, muito bonita, era.
P/1 – Qual é a religião da sua família, dos seus avós?
R – Minha mãe era filha de Maria, meu marido era mariano, meus cunhados lá, era tudo mariano. Depois meu pai ficou espírita, que aquela nata dos espíritas que vinham pra cá e meu pai tornou-se espírita, mas foi uma base pra mim, viu, dentro dessa religião que eu pude aproveitar o que eu passei, que eu vi que não era diferente de ninguém, que a vida estava ali pra todos que eu tinha que pegar a cruz, não foi cruz porque foi um aprendizado aqui na vida, eu acho que foi uma base muito grande que eles me deixaram, que eu herdei sabe, mas em casa eles eram marianos eram tudo, meus filhos fizeram primeira comunhão, ninguém nem ele nunca decidiu faça isso faça aquilo não, mas hoje todos eles lendo, lêem tudo acompanham tudo, sobre espiritismo sobre religiões, tem livre-arbítrio, ninguém interfere.
P/2 – Como os seus pais se conheceram?
R – Eram vizinhos, isso aí foi trama da minha avó com a madrasta da minha mãe, que eles eram vizinhos assim de quintal, então podia... Ela tinha interesse, minha avó, porque minha mãe trabalhava bastante cedo, tinha vidinha bem disciplinada, então tinha interesse porque queria arranjar uma moça boa pro filho dela, né, mas ele também era muito trabalhador, muito honesto, então né, foi por intermédio das comadres, casaram cedo, com 19 anos eles casaram, né, com 20 anos já tinha eu pequenininha lá, menina e assim por diante, trabalharam bastante.
P/2 – Ao todo, quanto tempo eles ficaram casados?
R – É, bastante tempo viu, fizeram bodas de prata, eu não cheguei a 10 anos de casamento, eles chegaram a 60 anos mais, um com 82 e outro com 79, papai morreu primeiro depois a mamãe.
P/1 – Então chegaram até às bodas de ouro?
R – É, quase.
P/1 – Vocês freqüentavam que escola aqui em Araraquara, como era o ensino naquela época?
R – Aqui tinha escola italiana, onde é hoje, tem um, lá na avenida aquela, esqueci aquela avenida, ali tinha uma escola italiana, da Sociedade Italiana e como nós morávamos aqui, eu comecei freqüentar escola italiana ali na Rua 1, era pequena, tinha que 5, 6 anos botava na escola e tinha uma fotografia linda, que podia ter, das meninas que freqüentavam, a Dona Honorina era professora. Freqüentei muito tempo, um ano, dois anos lá, acho que com sete anos, oito anos a professora achou, não aí eu entrei pro grupo escolar, naquele grupo lá da, que grupo que é aquele, acho que é Pedro José Neto, não Pedro José Neto é o de cá, aquele lá é Carvalho, esqueci o nome agora, mas eu entrei naquele grupo adorei, aprendi tanto, professoras excelentes, tanto carinho, tanto, era muito bom muita disciplina.
P/2 – A senhora lembra de alguma professora em especial?
R – Ah lembro, mas todas já morreram, dona Nair que hoje tem ali um doce, morreu a família toda, lembro de diversas delas, dona Zenaide tem até uns papéis lá que elas mandaram que o Paulinho Silva que me mandou até que tinha meu nome lá, com nota grande, né, deu pro Roberto lá bem guardado, mas aí ela pediu que eu saísse da escola italiana porque estava fazendo confusão, sabe.
P/2 – Por que?
R – Estava fazendo confusão italiano com o Grupo Escolar, né, eu chegava eu ia nas duas e estava fazendo confusão no Grupo que era português, né?
P/1 – Por que na escola italiana só se falava italiano?
R – É só se falava italiano, eu aprendi italiano e quando fui pro Grupo Escolar, no português, aí fazia confusão, aí parei, paramos com aquilo.
P/2 – A senhora fazia as duas ao mesmo tempo?
R – Fazia, mas pequena, depois eu sai com 8 anos fui pra lá e só fiquei no português, fiz ginásio na madureza que era naquele tempo, fazia à noite porque minhas irmãs precisavam estudar, estava tudo no colégio eu então era a mais velha, você sabe, mas a gente fez com tanto carinho que você nem percebe que podia evitar, o Roberto: “Mãe, por que a senhora num se formou, não fez alguma coisa.” Falei: “Ah Roberto, nem sei, naquela época lá estavam todos, mesmo pra casar, né?” Meu pai: “Ah não, mas você tem que casar, mas enquanto suas irmãs não se formar, você não pode casar, você tem que ajudar aqui.” É esperamos, a paciência do meu marido esperou.
P/1 – O que mais aprendia na escola italiana?
R – Ah, mais o italiano mesmo, tinha cartilha deles, livros deles italiano cantava, eu tenho fotografia ,é uma pena que não trouxe, todas as menininhas assim pequinininhas com a mãozinha assim, que era o coisa o Mussolini, né, a gente ficava, imagina você. Tinha uma com 2 anos, a outra com 3, a outra com 4 eu tinha 5, 6... 5 aninhos todas as da fila menores assim na frente tudo com a mãozinha assim, levantadinha lá e a dna. Honorina que era a professora e todas já essas alunas lá e tem, e tem um engenheiro aí: “Teu pai tá lá, teu pai tá naquela fotografia, deixa eu mostrar pra ele, na escola italiana.” Acho que eles nem deve ter, lindo, a escola.
P/2 – A senhora aprendeu falar bem o italiano?
R – Aprendi, entendo italiano, né, agora voltei pra escola, agora tem aqui o Círculo, eu quero voltar porque quero, mas minha sogra falava calabrês era bem outro dialeto, meu avô era napolitano, era o clássico e os outros falavam, então a gente vivia entendia um entendia o outro mas você vê, dentro de casa já era difícil, os pais, a escola português, não tinha....
P/1 – Seus pais em casa falavam português?
R – Ah, português, meu marido que falava muito italiano, porque a minha sogra carregava bem o calabrês, ela era da Calábria, da baixa Itália, ela carregava Fortunata.
P/1 – Como a senhora conheceu seu marido?
R – Ele me conheceu. Tinha um cinema ali na Rua 2 e nós fomos ao cinema, elas me convidaram, minhas amigas eram todas mais velhas, eu era a mais nova eu acho tinha uns 15 anos... E todos moravam perto, um tinha funerária, outro casa de móveis, cada um, e nós fomos ao cinema e sentamos na fileira toda, depois num dava pra uma sentar, uma saiu e foi ficar atrás que tinha mais uma amiga e ficou uma cadeira vaga. E eu fiquei na ponta ele sentou, ficamos ali, e a gente... estava escuro, Diabo Branco foi o filme, Diabo Branco, um cavalo bonito que parecia, e ele me conheceu lá, me conheceu olhou e olhou e via que a gente conversava baixinho, me esperou na saída do cinema, olhou, olhou, marcou. E tinha um rapaz que trabalhava com ele na Força e Luz, que era freguês do papai, seu Borges. E daí ele perguntou quem eu era e aí ele falou: “É aquele seu Acetozi, num sei o quê”. Mas eu não estava nem aí com o namoro, imagina, mais velha, namorar, minhas irmãs era namoradeira, mas eu não, era presa em casa, presa não, era de ficar em casa, trabalhar e fazer aquela coisa toda, mas ele ficou na marcação, então ele dizia pro pessoal: “Sabe, eu vou acabar de criar essa menina.” E foi mesmo, porque foi com persistência dele, minha irmã falava: “Nossa, ele tem os olhos mais lindos que eu já vi”, minhas irmãs: “Olha, você não dá confiança pra ele”. Aqueles olhos verdes lindos, né, ele era muito bom, muito meigo, mas eu não queria saber de namorar, sei lá o que eu tinha na cabeça, mas eu não queria saber. No fim me convenceu, pronto, me convenceu e foi pra casa, continuava viajando, viajava muito pra companhia, porque instalava as oficinas de força e luz, né, quando ele ligava aquelas coisas ele tinha era aferidor, e o grupo ia pra lá no fim, ficamos quatro anos noivos, porque minhas irmãs ainda não estavam formadas, elas foram se formando (risos), você vê, me casei com 23 anos e nasceram Luiz Antonio, Roberto, eles eram pequenos, ele falou: “Não vou mais viajar, vou parar, eu quero ficar na minha casa, chega.” Pediu licença e aí ficou mais um tempo, porque o chefe pediu, pra preparar mais uma turma pra continuar, que a sede era em Campinas, naquela época, pra ele deixar, ele ficou mais um pouquinho e meu cunhado ficou em Marília, compraram a casa lá, Casa Caibros, ficaram lá, meu filho falou: “Não, chega, já fiz minha obrigação, nós vamos embora, fomos pra Marília e as casas lá em Marília, era tudo de taco, tudo de madeira, vocês conhecem Marília? Não. As casas todas de madeira japonesa, que não acabava mais, sobradinho, uma gracinha que era cidade nova, tinha 16 anos, 18, quando eu mudei pra lá, mas era aquelas ruas largas e tinha comércio bom, tinha movimento porque era perto de Bauru, perto de, tinha movimento, nós fomos morar também numa casinha de madeira, bonitinha, eu pus, ele mandou uma porção de caixotes, não tinha terra, eu botei terra, botei as plantinhas, ficou bonitinho, ficou toda enfeitada, tudo bonitinho, depois aí ele resolveu, nós mudamos pra uma casa boa, de tijolo, mesmo com quintal, que tinha o lugar pros meninos brincarem, que aí nasceu Carlos Eduardo nessa casa primeira, né, nasceu Carlos Eduardo lá, nó saímos, fomos pra outra casa e tinha campo de futebol, jardim a volta toda, vinha aqui em Araraquara comprava roseira, enchia a casa, cada rosa linda, porque a terra era boa, virgem né, aquela rosas maravilhosas e foi uma época feliz, de repente ele ficou doente, menino, pronto, acabou a história.
P/1 – Ele era mais velho que a senhora quantos anos?
R – Cinco anos
P/1 – O que era vendido nessa Casa Carlos?
R – Calçados, depois no fim ficou lingerie, também eles aumentaram, mas aí...
P/1 – Era ele sozinho ou ...
R – Não, tinha um sócio, sócio que era o meu cunhado, mas era dele tudo, ele que pôs, sabe, vendeu terreno, casa, tudo que tinha aqui, comprou, como o meu cunhado também viajava, minha cunhada não tinha filhos, ela tomava conta, enquanto nós esperamos aqui pra ficar tomando conta do capital lá. E desembaraçou, foi bem, porque o comércio foi muito bom lá em Marília, eles compraram a loja e foi, e tinha muito movimento e a loja estava muito bem e ele ficou doente, fiquei, pensei, pensei não, meus cunhados diziam. Meu cunhado é advogado e achava que eu tinha que deixar o patrimônio pros meninos, mas não dava certo, mudei uma casa perto ali pra ver se, mas as crianças tinham liberdade, não podiam ir na loja descalços, não podia ficar não sei, num sei que lá, e briga, não dava mesada e as crianças voltavam chorando. Ah, falei não, peguei um caminhão, botei tudo dentro, tinha uma casa ali perto, fui embora, mudei pra cá. Aí cheguei ali, meu cunhado foi lá, acertou, vender minha parte, que eles queriam né, que, vendeu a parte eu vim embora e me estabeleci aí. Antigamente era o Minervino na esquina que hoje, a Torra-torra e ali eles me alugaram. Então tinha uma portinha ali e eles me alugaram, então fiz a lojinha ali de brinquedos e lingerie, depois a dona da casa era meio louquinha jogava água de cima, assim, na prateleira, não sei por que, viu, enciumada, acho, jogava água molhava todas as caixas que vinham da Etam, as coisas bem arrumadinha tudo, molhava, aí meu cunhado veio e desfez sociedade, tive que sair de lá e fui pra alfaiataria do papai, papai tirou a alfaiataria dele e montei a loja lá, fiquei lá e foi bem, continuando bem tudo direitinho, aí resolveram vender ali disse que iam fazer um cinema, não sei se era verdade ou se era mentira, sei que me apertaram e seu Henrique Lupo dizia pra mim que eu era vizinha, né, morava ali perto e ele morava pra cá, ele dizia: “Olha Amalia você muda lá pro prédio” que eles estavam fazendo agora ali na Rua 2 que tem ali, muda ali pro Lupo, muda pra lá, eu disse: “Ah seu Henrique mas é, eu tenho medo, é muito dispendioso, tenho medo. Mas medo? Você trabalha, quem trabalha não tem que ter medo”, me dizia, ele me incentivou muito seu Henrique, viu, seu Henrique Lupo. E depois o Hilton também era meu vizinho e a Lílian, todos eles me incentivaram, no fim acabei botando a loja ali no prédio e foi bem, foi aumentando, fui criando meus filhos, estudaram em São Carlos, não pagava, só pagava comida, ele dizia: “Você tem coragem de mandar, põe eles no banco.” Eles ofereciam emprego no banco pros meninos, seu Otacílio o gerente, eles me conheciam: “Põe os meninos, eles estão com 14, 15 anos eu arranjo um serviço pra eles.” Eu falava: “Ah mas eu queria que eles estudassem, o pai deles queria tanto que eles estudassem, mas eles tem que estudar seu Otacílio.” Foi sorte viu, porque sozinhos eles, logo de começo eles entraram, fizeram um curso bom aí no IEBA e depois foram pra São Carlos também fizeram curso bom, um entrou primeiro depois o outro, depois o terceiro e a loja me deu um força porque pra aumentar mais, eles despesa, né, na freguesia também eu era conhecida, quer dizer que então, me ajudou bastante.
P/2 – Lá em Marília a senhora chegou a trabalhar na loja?
R – Não. Eu tinha as crianças pequenas, não cheguei.
P/1 – Fabricava também calçados ou só revendia?
R – Não, tudo pronto, tudo direitinho, do Rio Grande do Sul de toda, calçados finos e bons, a loja era muito boa, né, gente de todo canto lá e agora deixaram, o ano passado, o marido morreu, ela tá doente, fechou a loja. Meu filho falou assim um dia, aquele que mora em São Paulo, falou pra mim: “Mamãe, olha ali.” Ele estava na sorveteria, então olhei: “A senhora tá vendo aquela loja Tarallo, uma loja grande, se nós tivéssemos ficado lá em Marília, olha o que ia sobrar pra gente.” Falei: “Tá vendo.” Porque tinha que tomar conta de loja, né, eles fecharam agora a loja Tarallo também ali, comércio tá difícil, eu reconheço tá difícil, sim viu.
P/1 – E a senhora abriu aquela loja aqui de lingerie e brinquedo logo quando a senhora era
R – Logo, bem pequenininha é, depois eu sai daí porque a dona começou jogar água, molhar, então saí que fui pra casa de papai, já aumentou um pouquinho, ficou maior, né, depois de lá, pediram o prédio onde o papai morou anos, né, porque iam fazer o cinema, aí que o senhor Henrique Lupo dizia: “Amalia, sai daí porque se eles vão fazer alguma coisa, você vai lá pro prédio, lá tem a loja, lá tinha Modas Amalia, que meu filho que pôs o nome e ainda tem até hoje a outra loja de eletricidade e uma Amélia que vendia sutiã, meias, miudezas sabe, as três lojas sabe, mas estava bem ali bem situada na Pedro Clodoaldo Medina, Clodoaldo e do outro lado até hoje tem ainda aquela loja, depois era uma relojoaria mais pra baixo, agora tem as Meias Lupo que estão vendendo. Acho que tá assim muito... não sei, falta uma coisa (riso) na nossa rua viu, na Nove de Julho tá muito misturado, muita coisa, essas bancas assim populares, acho que tira um pouco do fino do comércio, eu acho que tá muito popular, né, fica muito... o comércio já não tem... que as lojas eram boas, sim lojas delicadas todas com, se bem que mudou também o sistema não é mais aquele de costureira que ficava ali, alfaiate, a gente ia nas indústrias em São Paulo, eram alfaiates, eram costureiras que tomavam conta, hoje põe na máquina, corta, põe, vai embora.
P/2 – A senhora ia comprar mercadoria em São Paulo?
R – É eu ia, mas depois, uma época eles telefonavam, tinha a exposição, né, então a gente ia escolher, exposição não, era como dizia, as moças desfilavam, tinha os desfiles, né, de lingerie, de roupa, de vestido, de tailler, de tudo, a gente telefonava, ia pra lá, escolhia o que queria.
P/2 – Durante o tempo que a senhora ficou no comércio, a senhora mudou, digamos o foco, que a senhora começou com a lingerie e brinquedos, né, e depois a senhora foi mudando aos poucos o foco do comércio?
R – Não trazia, quando via por exemplo uma coisa, bolsa, sapato, uma coisa, sempre acrescentava, né, foi acrescentando, o forte lá em casa ficou roupas, principalmente pra professora aqueles vestidos clássicos, né, que a gente comprava, que elas queriam vestidinhos abertinhos, às vezes esporte, com manguinha, aquela coisa, né, e vestidos finos também, que daí papai dava correção em todos, eu também acertava ficava até tarde arrumando
P/2 – A senhora trazia de São Paulo e arrumava aqui?
R – Vinha, despachava muito, né, aquela lady aquelas blusinhas finas, muitas fábricas, muitas do Rio também, minha irmã mora lá no Rio, muita coisa.
P/1 – E como a senhora ia pra São Paulo comprar?
R – Então, um dia de trem, quando ia pro Rio dava uma parada no Rio, tomava a barca pra ir pra Niterói que ela morava em Niterói, depois lá tinha um viajante que tinha umas coisas lindas, sabe, então eu comprava dele, escolhia, que era vizinho da minha irmã e depois eles mandavam, eram de Petrópolis. Você vê a gente quando precisa tem uma força eu não sei de onde vem viu, porque eu fiz coisa que hoje eu fico pensando: “Imagina, eu ia em tanto canto.” Lá em São Paulo os becos que eu ia sozinha, né, não estava nem aí, às vezes não tinha dinheiro nem pra tomar um copo d’água, chegava na estação, falava: “Pronto agora acabou, agora o que é que eu faço, né, não tinha, ia embora, não tinha aquela preocupação de ter, de juntar eu falei: “Não, vamos embora.” Carregava uma malinha,, meu filho falou: “Mãe, onde que a senhora vai? “ Pau-de-arara, ele falava, não tinha nem luxo nem nada, ia bem à vontade que era pra poder andar, ficava num hotelzinho que era mais barato, que era conhecido, né, e consegui uma freguesia boa, amiga, sabe com os gerentes, agradeço tanto porque eles me ajudaram bastante. Depois meus filhos ser formaram e acharam que não fui eu, os médicos acharam que eu tinha problema no rim porque estava inchando, aí mandaram, fui pra São Paulo o médico achou que eu tinha que ser operada do rim, aí um filho que estudava com outro amigo lá em São Paulo, o mais novo, disse: “Ah, não vai operar antes de eu conversar, eu conversei com um professor sobre seu caso e gostaria que a senhora fosse lá, ele pediu pra senhora ir lá.” Aí vim embora, fiquei e fui lá conversar com Dr. Samuel atendeu e falou assim: “Amanhã a senhora volta.” Voltei no dia seguinte, ele disse: “Não é comigo, é com outro médico, que eu falei com ele também e vai acertar.” Aí fui com outro médico, Dr. Geraldo, até hoje eu me trato com ele, era tiróide que não funcionava, então o rim estava grande, estava retendo líquido, estava tendo gota, estava tendo tudo e era tiróide, até hoje trato de tiróide que ela não funciona, senão teria ficado com a loja até hoje viu, cheguei aí os meninos venderam a loja e acabou.
P/2 – Quando a senhora tinha loja, como os fregueses pagavam. Era à vista, caderneta, como era?
R – Era aquele negocinho, pagavam punham lá iam passear e ficavam devendo sabe, esqueciam da gente, cê vê até a classe...
P/2 – A senhora dividia?
R – Dividia, né, às vezes elas num obedeciam, outras obedeciam e eu tinha que tirar do banco, né, pra cobrir duplicata, era uma coisa chata, isso detesto, até hoje quando lembro as benditas, maledetas duplicatas, porque ficava com tudo lá no livro e nada do dinheiro porque elas compravam assim, vendia muito bem, tinha movimento bom, mas na hora de receber era duro viu, tenho pena de comerciante. Sofre.
P/1 – Como que era a disposição da loja , prateleiras, vitrines, manequins, como organizava a loja internamente?
R – Ah, pena que eu não trouxe a fotografia pra você, não porque daí fiz, como ela era comprida, eu fiz assim, a parte toda sabe, as gavetas, e em cima o expositor, né, então a gente punha as bonecas com os vestidinhos de criança, das moças, aqueles vestidos finos, Mas trazia um, não podia trazer muita coisa porque vestido fino não podia, né, e aquilo punha na vitrine, vendia logo, né, tinha sorte porque tinha coisa boa e as gavetas e os balcões, do lado de cá tinha um balcãozinho, lá no fundo tinha um vestiário, né, tava bonitinha. Agora, hoje eles fizeram outra loja, mudaram ali na Rua Dois tem outra loja lá, tiraram, não aproveitaram todo, não, o sistema estava bem exposto, expunha tudo, gaveta de sutiã, gaveta de calcinha, gaveta de tudo, porque a combinação que usava muito e agora tá voltando, parece combinação os vestidos, né, naquele tempo era combinação, as anáguas, aquelas todas de rendas, lindas.
P/2 – A senhora tinha funcionários?
R – Tinha bastante.
P/2 – Quantos mais ou menos?
R – Tinha uns oito.
P/2 – Como eram treinados?
R – A gente ia mostrando, falando, ensinando, né, e tem umas aí que tão bem casadas, casaram com médico sabe, que elas eram simplizinhas e o que elas ganhavam, pagavam pra estudar, pra se manter no estudo, se formaram em inglês, tem uma que é professora de inglês e uma outra que era boazinha morreu, foi embora pra Barretos, não quis ficar mais aqui e morreu afogada, a Maria, e tem diversas delas aí que a gente, às vezes me telefonam pergunta se eu não quero por loja eu falei: “Agora, não.” Podia ter, mas precisaria ter aquela coragem, aquela coisa de viajar, pra fazer aquilo, não faria mais não.
P/1 – Por quanto tempo que a senhora teve loja?
R – Acho que quantos anos, acho que quase vinte anos, dezoito anos por aí, aí meus filhos construíram essa casa onde eu moro, eles se formaram, aquela coisa toda, também eles se formaram com 23 anos, logo já trabalhando, já ginásio de esportes, já hotel, já fizeram mil e um coisa aqui na cidade, eles são ativos e daí fiquei lá no apartamento, morando lá no apartamento, mas ficou muito triste sabe, porque a gente sozinha, né, aí disse: “Eu quero sair daqui.” Aí eles compraram ali, na coisa e depois fizeram a minha casa, bom eu falei: “Olha então termina logo se é pra eu morar lá, termina logo que eu estou cansada de ficar aqui.” Mudei pra lá, terminaram a casa e mudei pra lá, daí disse: “Ah não vou ficar aqui.” Deu uma tristeza sozinha, né, na casa, uma tristeza, eu falei: “Ah não vou ficar.” Eles disseram: “Ah mamãe, nós deixamos três meses pagos, se a senhora não acostumar a senhora pode voltar pro apartamento.” Quando foi chegando: “Meu Deus, com o sacrifício deles, com o carinho deles, com o amor deles fizeram isso daqui, essa maravilha eles me fizeram e eu estou desprezando, não quero ficar, falei não, vou ficar, sim.” Hoje eles querem que eu saia, que eu vá pro apartamento e não quero mais sair. Dá licença. Estou com calor. Olha como eu gosto de vermelho.
P/2 – A senhora lembra do início, quando montou a primeira lojinha, quais foram as suas dificuldades maiores?
R – Dificuldade?
P/2 – Por que, embora seu marido tivesse loja, a senhora nunca tinha trabalhado no comércio.
R – Bom, mas eu tinha pratica de lidar com o pessoal porque em casa era alfaiate e lidava com muita gente, eu já tinha um tino pra isso, veio daí, né, porque lidava com as freguesas do papai, nas saias, uma blusa, uma coisa, as freguesas que levavam os botões lá, tinha as mocinhas que faziam mas a gente estava perto quando precisava de uma coisa eu fazia, fazia tudo, fazia royal, fazia tudo, estava em tudo, quer dizer que então isso é uma coisa nata já lidava e foi fácil pra mim, não tive dificuldade. Quando tinha um defeito na roupa, eu mesmo consertava eu via, eu falava: “Ah vamos fazer isso, fica maior, então põe menor, aqui eu alargo a cintura.” E todo mundo se dava bem porque eu entendia, né, tive o preparo, aquela experiência lá com ele valeu, foi meu diploma.
P/2 – Como foi no início a parte mais burocrática do negócio, de pagamento e compra, de pagamento de duplicata?
R – É, no início a gente tinha um senhor Scavon, né, que ele era o guarda-livro, então a gente deixava, mandava pagar, tinha um rapazinho, né, venciam as duplicatas a gente mandava pagar, dava os cheques tudo e mandava pagar, quando não ia lá pedir mais um prazo pro gerente sabe, senão eles falavam, aí me ensinavam: “Eles estão comprando muito fiado, manda já assinado essa duplicata e nós descontamos pra você e trabalhamos com o dinheiro.” Foi assim, eles mesmos foram sabe, o gerente daí dos bancos devo muito a eles, seu Otacílio, Ivo, Vieira, foram amigos.
P/1 – Do que a senhora mais gosta no comércio?
R – No comércio?
P/1 – O que mais lhe agrada?
R – Ah, eu gosto do comércio assim, acho que tudo sabe, da disposição, da cortesia das meninas com o freguês, que acho muito importante, mercadoria bem acondicionada, bem, né, preparada e uma coisa bem feita, vou fuçar em tudo, ver tudo, né, e verifico, a gente tem tarimba, já aprendeu , convivi com eles, né, então tem, enxergo.
P/2 – A senhora ficava o tempo todo na loja?
R – Na loja, ficava o tempo todo, abria e ia embora e à noite quando elas faziam faxina vinha faxineira mas a gente ficava lá, limpando e arrumando, é trancava tudo depois os meus filhos ficavam bravos: “Mãe a senhora tá aí.” Depois ainda levava pra casa muita coisinha pra arrumar porque a freguesa ia viajar ou ia sair ou então, sei lá, é foi, mas compensou sabe, compensou porque pelo menos os meus filhos são o que são, estão os três aí graças a Deus e eles são ótimos, então teve, foi sacrificado sim, nossa, não tinha hora, não tinha nada às vezes tinha que, e eu com aquele problema de rim lá não sabia lá o que era e dá remédio e dá coisa e eu lá trabalhando, não tinha, caía, quantas vezes caía da escada lá tá com gota, mas nem sei, é.
P/1 – Os seus filhos chegaram a trabalhar na loja também?
R – Não, ninguém trabalhou, eles iam lá xeretar lá como é que estava, né, às vezes dá um dinheiro, quantas vezes eles começaram: “Mamãe olha aqui, sabe, é uma coisita pra pagar. Eu falava: “Ah não tá tendo, não estou descontando, não sei o quê.” Eles iam, pagavam mas sabe, mas é acho que estava na hora de eu tratar das minhas flores, fazer meu macarrão, meu pão.
P/2 – Em que ano a senhora fechou a loja?
R – Sabe que foi em 79, acho que foi, não mais, oitenta e... vê como a gente se perde, nós estamos em 99, é acho que 89, foi.
P/2 – Então tem uns 10 anos...
R – Eles venderam pra um senhor, depois ficou com era, os empregados ficaram.
P/2 – Com o mesmo nome?
R – É, com mesmo nome, depois ela acho que ficou doente também, a dona ficou doente ele vendeu pra outro, aí foi um relojoeiro lá, como é que era o nome dele, o relojoeiro montou relojoaria lá, tirou e aí ele aproveitou as vitrines, as coisas, punha lá.
P/1 – Ainda é o mesmo lugar?
R – Agora é outra pessoa que tem, botou loja de novo, fez uma modificação lá, porque moda muda muito, você vê, moda tem que saber escolher, o clássico, o vestido de baile, vestido de festa, vestido de toda hora, desde pra professora, era um modelo, elas não podiam, né, era saia e blusa e coisa mais prática, você tem que selecionar mesmo, tinha pra madrinha, né, casamento, noiva, é a moda , eu consegui, sim, graças a Deus, eu fiz tailleurs bonitos, né, elas vem e falam: “Nossa, eu tenho ainda aquele casaco, tenho aquele outro, aquela lingerie ainda tenho, tão bonita, sabe.
P/1 – Na loja a senhora vendia vestido de noiva também?
R – Não.
P/1 – Não. Só vestido de baile?
R – Só vestido esporte, vestido, tinha a Casa das Noivas ali perto de casa tinha a Casa das Noivas faziam vestidos para as noivas mesmo.
P/2 – Chegou a fazer algum tipo de promoção pra conquistar clientela, ou tinha alguma forma agilizar mais a venda?
R – A gente sempre tinha, né, tinha um saldo alguma coisa que a gente dava, num instantinho elas acabavam, não ficava como agora assim, sabe, porque agora tá sempre em liquidação, apesar de que lá não tinha nada disso, naquela época não, porque ficava peças assim, a gente dava desconto, levavam, não tinha esse tempo comprido como é hoje, não tinha necessidade, que é a época do frio tinha mas, agora não, você vê faz frio, faz calor faz tudo junto, naquela época tinha estação certa, a gente tinha frio, tinha que ter taiuller coisa, o pessoal viajava vinha casacos e coisas lindas que os Gravinas, o pessoal aí comprava tudo lá, né, eram coisas finas, coisas que podiam apresentar em qualquer lugar que tinha.
P/1 – Vamos dar uma paradinha, um minutinho.
P/1 – Lembrando da loja daqui, a senhora fazia propaganda através de rádio, jornal, ou outro tipo de propaganda?
R – Fazia propaganda, dava folhinha pequena, pra professora guardar na bolsa, sabe umas folhas bonitas tenho no armário ainda tem algumas lá, devia ter trazido pra você ver, bonitinha tinha propaganda na rádio também, de vez em quando dava umas dicas.
P/1 – A loja tinha um slogan?
R – Tinha.
P/1 – Como era?
R – É, Modas Amália, como é que eles diziam lá, dizia, né, nós temos roupas pra senhoras, crianças venha nos visitar, era aquele bordãozinho de, não tinha muito, era mais Modas Amália ela dava, na época de Natal, época de coisa sempre tinha, um slogan que eles mesmo adaptavam lá pra gente sabe.
P/1 – Que mais adaptava?
R – É, sempre tinha, né, no Natal a gente ficava todo, depois tinha as árvores mais bonitas, a gente enfeitava, fazia árvore de Natal, lindas árvores todo mundo procurava fazer, eu então me esmerava, me arrebentava, toda enfeitada toda bonita e até hoje eles ainda falam: “Nossa, no Natal eu ia ver suas árvores.” É assim, tem criatividade, ele tem eu sinto isso, que tem criatividade, uma coisa eu faço, organizando , então era bonita era muito, dava muita lembrança pra mim no Natal mas tinha que superar isso, porque foi uma época que marcou muito, minha mãe ficou doente e mas eu tinha que superar então, tinha que, as crianças adoravam, né, Papai Noel as coisas que tinha lá botava Papai Noel, bonecas e músicas, foi bom.
P/2 – A senhora estava falando da época que o seu marido estava doente, quantos anos tinha seu marido quando morreu?
R – 39.
P/2 – Jovem.
R – Nós saímos de Marília fomos pra, em Marília não souberam me dizer o que ele tinha, fomos pra São Paulo, nós fomos em novembro e ficamos lá até junho, aí voltamos pra cá mas ele morreu, operaram da cabeça, não sei se foi certo ou se foi errado o que eles fizeram, sei que ele era moço. suportou tudo.
P/1 – Que doença ele teve?
R – Disse que era tumor no cérebro, mas aqui os médicos diziam assim pra mim: “Mas se fosse tumor no cérebro ele estaria com células cancerosas.” E hoje brinco com meus filhos e falo: “Ele não teve câncer no cérebro.” Eles falam: “Mamãe, a senhora fala isso mas eles enganaram a senhora.” Falei: “Enganaram nada.” O médico chegava perto de mim falava: “Que judiação que fizeram com esse moço.” Coitado, foi na cabeça, sabe, naquele tempo era, vai aumentando o conhecimento, melhorou muito agora, porque agora eles fazem um furinho e enxerga, naquele tempo eles cortaram toda, tudo foi uma judiação e foi justamente no Natal, né, que nós passamos, depois tocava aqueles hinos, ele estava na cama e as irmãs iam no quarto com aqueles hinos de Natal, nossa ele pedia pra não tocar que era muito triste, ainda ele falava, depois ele parou não falou mais, então a gente guarda lembrança mas isso tinha que fazer força, até hoje eu falo: “Eh! Natal eu faço porque tem os filhos, tem os netos agora que vem.” A gente tem que superar tudo, não pode ficar amarrada, né, tem que caminhar não pode, faz de conta tudo, eu falo pra eles, não eu faço de conta e vai indo, se ficar segurando não vive, não caminha, ninguém caminha.
P/2 – Voltando à loja, além dessas professoras, quem mais era seu cliente? A senhora direcionava....
R – Eu tinha sim, tinha bastante, era uma seleção de, porque ali podiam mais, né, os melhores, tinha muita gente que deixava de comprar em Araraquara sua cidade e vai embora, né, compra em Ribeirão, não sei o que lá, depois no fim vem reclamando, né, tinha muita gente que fazia isso, mas a maioria, porque aqui nós tínhamos a Contadoria que era muita gente, que agora fechou não tem mais, tem todas as professoras de Grupos que elas compravam lá, outra coisa que tinha muito a contadoria era na Rua 1, tinha a fábrica que as moças era outra classe que comprava coisas mais sutiãs e a lingerie, todo mundo é uma só, mas conforme o preço da mercadoria aí tinha a seleção também porque daí tinha esses que vende de um carro aí o Chevrolet aquela freguesia toda, eles queriam melhor, né, porque era mais caro, que era tabelado quase que toda meia Lupo, lingerie era tudo tabelado naquela época sabe, tinha uma comissão lá de, a seleção era, porque era coisa fina, coisa boa então é uma pessoa, que mais de Grupo, professoras, do ginásio, do IEBA, quase todas as professoras eram minhas freguesas e as alunas, que também hoje tão casadas, tão com filhos (riso), elas falam: “Ah ainda me lembro tenho aquela manta bonita que quando meu filho nasceu.” Tinha o gerente de banco que passa lá: “A senhora não quer por?” Eu falei: “Eu não quero não.” Eu tenho mais ainda, muita coisa.
P/2 – A sua clientela era mais masculina ou feminina?
R – Não mais mulheres, né, mas tinha uma época que tinha roupa pra rapaz também, que usava aquelas zorro, cor-de-rosa lembra, aquele rosa bem pálido, calça com blusões tudo, da Borges era uma fábrica boa que era pra rapaziadinha, então as mães compravam pros filhos, mas era mais pra senhoras mesmo e criança.
P/2 – A clientela era exigente, como que era a sua clientela?
R – Sempre tem exigente, escolhiam porque era variedade, né, dependia delas gosto, cor e gosto tinha o mais fino, o médio, né, coisa prática, tinha que fazer isso porque isso dia-a-dia você não vai com vestido charmoso e andar na rua, que eles falam que é, coroa que sai toda enfeitada, tinha que ser bem discreta.
P/2 – Eram as embalagens, a tinha alguma sacola, papel especial pra embalar sua mercadoria?
R – Tinha sacola, tinha uma moça bonita na sacola sabe, tinha.
P/1 – Eram todas iguais?
R – É, eram todas iguais e o papel também tinha, papel de bobina mas a maioria como eu tinha coisa mais fina tudo era naquela sacola plástica branca, tinha uma moça bonita, sabe que não guardei nenhuma daquela, tenho tanta coisinha em casa, daquela não fiquei com nenhuma, era bonita, é tinha as fábricas boas, né, que forneciam essas...
P/1 – Mas quem escolheu essa moça, foi a senhora?
R – É eu escolhi, era preta toda sabe, num papel, bem vaporosa sabe, também preto e a bolsa era branca, sacola branca de plástico bonita.
P/1 – E quando a pessoa pedia um presente?
R – Ah, tinha caixa também, tinha caixinha de fazer presente, porque daí eu punha as meninas pra aprender fazer, porque eu fiz o curso de embalagem e as meninas tinham que fazer, elas aprendiam fazer porque o presente sem uma embalagem bem feita não tem, né, no mínimo que seja, tem que ser embalagem, tinha as pequenininhas, as maiores, mas você não gosta, vai pedir pro namorado, pra mulher, pra filho, você tem que apresentar bem e eram brancas, caixas brancas com enfeite, a moça na caixa.
P/2 – A moça também na caixa.
R – É tinha moça na caixa.
P/2 – Tinha alguma fita, alguma coisa assim?
R – Ah, daí a gente punha, né, completava, não na caixa não tinha moça, só tinha na sacola, na caixa a gente punha as fitas, enfeitava, tinha uma etiquetinha também de Modas Amalia, tinha uma folhinha bonitinha e tem uma lá ainda das Modas Amalia, distribuía para professoras que elas guardavam na bolsa sabe, era prática.
P/2 – Em relação aos seus funcionários, como era a relação entre vocês ?
R – Tinha uniforme, botava uniforme bonitinho sabe, punha uniforme preto e branco não, era vestidinho cor-de-rosa com bolinha branca, variava, de vez em quando mudava, mas elas eram boas, você tinha amor, né, tinha alguma que mexia sabe, que a gente via, que sabe que levavam coisa, mas a maioria não.
P/2 – Ficaram muito tempo com a senhora?
R – Ficaram muito tempo.
P/2 – Qual deles ficou mais tempo?
R – Ah, tive bastante, né, tem uma relação lá, tive a Clarice, tive Augusta que daí eles venderam aí num, Augusta, Clarice, Maria essa uma que é professora, a outra que tá casada e tem um mocinho também que ficava, subia na prateleira, andava na coisa no alto assim sabe, que ficava lá, estudava a noite e de dia ele ficava lá em casa, quem mais tinha lá, tinha o guarda-livro seu Scavon, tinha outro rapazinho que fazia escrita sim, porque os meninos não faziam não tomavam conta, eles estudavam fora, né, tinha que.
P/2 – Esse uniforme era a senhora que desenhava, que escolhia, comprava pronto ou mandava fazer?
R – Mandava fazer ou então comprava quando tinha, né, quando vinha a... a gente escolhia de cada uma, um tamanho e trabalhava todos iguais, era bonitinho, não era aquele uniforme sabe, formal não, era vestidinho cor-de-rosa e branco e do outro branco e azul, sempre tinha uma coisinha pra, era bonitinho.
P/1 – Quantos anos, a senhora se lembra, quantos eram, quantos tipos de uniforme tinha?
R – Quantos, tinha diversos dele, a gente trocava, né, porque daí usava aquele lá muito tempo depois aí já mudava, né, tinha outro xadrezinho de saia e blusa com blusinhas bonitinhas que vinham, então ia mudando pra ficar uniformizado, pra ficar igual, né, não ficar.
P/1 – Era tudo de saia?
R – Mas saias não eram tão curtas como agora, né, eram comprida bem no joelhinho aqui, agora as saias estão bem lá em cima, logo depois veio a saia muito curtinha, que mais tem que falar, ah ali na frente tinha os discos que tocava Roberto Carlos.
P/2 – Mas é aquela loja em frente?
R – Era em frente ao Medina, o Mercantil do Lar ela já era em frente.
P/2 – Na sua loja tinha alguma música ambiente, a senhora colocava alguma música?
R – Não, porque o dia inteiro o outro tocava lá não precisava eles vendiam, tocavam o dia inteiro, Mercantil do Lar vocês não conhecem aqui, né, é do Clodoaldo Medina.
P/2 – Falando em lojas, em que lojas que a senhora comprava aqui em Araraquara ou compra, naquela época e agora?
R – Agora, eu compro na Viamar porque eles mandam em casa, de vez em quando elas vão umas sacolas lá: “Ah, Dona Amalia tem isso, tem aquilo e outro.” Sabe, mandam lá mas a Viamar é aqui.
P/2 – É loja?
R – É loja, tem roupa, tem banho, cama, mesa e lingerie também tem, é grande a loja lá então a moça manda lá de vez em quando, mas eu falei, ela tem mandado eu disse: “Eu dispenso porque estou com tanta roupa, não faz frio, a gente usa blusinha leve coisa, não faz frio.” Só pra quem viaja mesmo aí precisa levar se não, não e aqui quem tem, a Renata creio que vai demolir o prédio ali aquela casa que tem do lado ela vai pôr a loja dela ali também, ela tem coisa bem boa muita boutique por aí mas eu não vou, em boutique não.
P/1 – Quando a senhora tinha loja a senhora comprava onde?
R – Ah, comprava das fábricas, né, as fábricas em São Paulo e no Rio.
P/2 – Essas roupas que usava, pegava algumas na loja?
R – Ah, pegava, ou então fazia, eu costurava minha roupa, levava em casa e fazia, tem tanta coisa lá que ainda eu fiz, eu posso usar.
P/2 – A senhora tinha tempo de costurar?
R – Você vê como é que era, não sei te explicar, como é que dava tempo pra tudo e hoje eu não posso porque a minha mão incha, deu uma doença aquela coisa, minha mão incha e não segura e o japonês está me tratando, eu fecho a mão, mas não tem sensibilidade pra segurar agulha, eu sinto viu porque eu acho uma falta, ela incha olha aí, só dá pra fazer pão, macarrão, molho, lidar com planta.
P/1 – Produtos de beleza, essas coisas, a senhora comprava muito naquela época, onde as pessoas compravam, as mulheres que iam na sua loja ...
R – Tinha sim bastante aqui, é tem as farmácias sabe que forneciam tudo, as farmácias, agora hoje não, hoje já tem casas especializadas, naquela época não tinham não tão assim, hoje já tem o Avon, tem a outra, aquela outra lá em cima, eu compro muitas coisas deles lá, da Natura, não é Natura que tem em São Paulo muita, como é que chama aquela loja.
P/1 – Boticário.
R – Boticário, pra mim mesmo eu compro no Boticário, gosto do Boticário, as pessoas também, acho que cada um, né, as minhas noras compram lá, quando eu viajo eu paro lá sabe, no aeroporto, lá eu compro, lá tem muita coisa em vez de trazer de lá Paris de coisa, eu já trago de, compro lá que é bem mais em conta e carrega.
P/2 – A senhora viaja bastante?
R – Viajei, agora tô parada viu, há dois anos eu fiz uma viagem pra Europa, meus filhos obrigaram: “Vai sim.” Mas sabe, foi por causa do negócio de política, dessa vez eu não gostei muito não, porque as pessoas ficam muito retraídas com a gente, eles não tratam bem a gente, é a culpa que eu tenho, meu filho é político se não botou o nome do pai dela lá, porque falaram os nomes dos prefeitos quando falaram o nome de um dos pais dela e era uma amiga boa pra gente viajar, nossa ficaram... Eu senti muito essa viagem que eu fiz eu senti, foi linda a viagem, a estrada cheia de flores cheia de papoulas, sabe toda papoula, rosa que caia (riso) na Itália, na França, Portugal, de passagem, dormia dia seguinte não pode, tem que ser mais tempo nas cidades, vocês nunca foram pra lá, já foram? Pra onde que você foi? É lindo, né, maravilhoso na época que eu fui estava tudo florido, né.
P/2 – E é meio cansativo, né, pra senhora ficar dormindo e acordando em outro lugar.
R – Eu gosto, não faço questão, eu gosto, não me canso não.
P/2 – E a senhora vai com grupo, não é isso?
R – É com um grupo, mas uma viagem boa.
P/1 – A senhora pratica alguma atividade de esporte?
R – Não, eu pratico em casa, eu vou na natação, natação não, na hidráulica sabe, logo vou começar, só o que eu faço, não faço mais nada, ando bastante, subo e desço escada, não sei quantas vezes por dia e o médico falou: “Olha quem sobe e desce escada assim, não precisa quebrar a cabeça de andar bastante, porque já tá fazendo exercício.” Falei: “Então eu já estou mais do que...” São exercícios muito grande.
P/2 – Dona Amalia, comparando a época de sua infância e a da sua juventude, qual a loja mais famosa de roupa pra mulher aqui de Araraquara?
R – A Casa Barbieri, é lindo, tinha tanta coisa sabe, tinha outras lojas sim, mas não assim de roupa feita mesmo, eles vendiam, muita gente em casa sabe, a Casa Barbieri tinha muita coisa, teve outra loja aqui que tinha roupa sim, esqueci o nome dela, bem em frente de casa, tanto é que os dois morreram já, tinha muita roupa já também, mas agora que o comércio aumentou bastante aqui, tinha mais era boutiques, ah... era vendiam em casa, vendiam bastante coisa que elas vendiam, esqueci do nome dela, aquela que arruma até o, que ela vendia roupa em casa, que arruma os passeios pra Holambra sabe, ela mudou de profissão não é mais comerciante, agora ela é ajeita as convenções e a gente passeia de, vai pra Caldas Novas, vai pra sabe, ela tinha roupa, mas a Casa Barbieri foi pena, era tanta coisa bonita, casa de sapato era Imperial, nossa, a gente não saia dali que era, agora a Imperial fechou, acabou, tinha outras lojas a Jô, a outra são boas as lojas estão bem instaladas, acho bonitas, gosto.
P/2 – A senhora comprava sapato nessa Imperial?
R – Imperial, com a Marina era já, conhecia os defeitos dos pés, então ela já vem certinho.
P/1 – Compras de casa, de supermercado, de alimentação, onde a senhora compra?
R – Olha, quando a gente era criança, quando era menina, que morava na Rua 2 tinha na esquina o Haddad ia lá, eu lembro que a mamãe dava uma cadernetinha ia lá e eles marcava o que comprava, quando era muita coisa pesada o mocinho levava pra casa, depois tinha a Casa Vieira, que tinha bastante, tinha que era por perto, né, que tinha mais, depois tinha uma loja aqui em cima grande, ali era a padaria depois que era do Dall’Acqua depois eles puseram Sé. E tudo comprava no mercado mesmo e tinha feira livre aí na Rua Santa Cruz , a gente comprava tudo lá, vinha em tudo saco de arroz e coisa, a gente comprava, muito gostoso, tão bom que era, as feiras de segunda, quarta e acho que domingo que tinha também, comprava nas feiras e também tinha muita gente que vendia de carrocinha, hoje não tem mais isso, eles passam com cestinha com alguma coisa vendendo, mas antigamente tinha.
P/2 – O que eles vendiam?
R – Vendiam verduras, frutas é como aquele que te contei que vendia banana, o senhor vendia aqueles cachos grandes de banana , carrinhos e ia lá o papai comprava um ou dois cachos toda semana ele passava vendendo na rua, o mascate que vendia botão vendia coisa, dessas coisas eu lembro, quando eu era criança tinha.
P/1 – E como eles passavam na rua eles chamavam a atenção?
R – É o mascate batia, fazia aquele, o outro fazia, tinha uma matraca, né, que chamava, eu lembro bem desses, viu, que passavam.
P/2 – A senhora lembra de algum mascate em especial, alguma pessoa em especial, algum nome de mascate?
R – Ah, esse aí é esse que eu falei pra você que mascate que vendia, ainda tem um filha aqui e o, ah queria lembrar o nome dele agora, tem uma filha que eles faziam doce sírio que era uma delícia, ah era aquela, sabe depois que eles pararam aí a mãe morreu e não sei, e ainda tem a filha disse que ela faz, não faz assim um, era uma delícia doce sírio aquilo espetáculo, como era o nome deles? Ah, falei hoje já esqueci, seu mascate, que mais que ele vendia coisa, hoje não tem mais, muito tempo já que acabou o mascate, né, mas tinha muito, eles iam vendendo nas ruas.
P/2 – A senhora mora sozinha?
R – Moro, quer dizer, eu tenho uma secretária que fica a noite lá, vem às 7 e vai embora às 6 da manhã e tem uma mocinha também que, ah não adianta morar, deixa os filhos aproveitarem a vida deles, fazer a vida como eles quer, como fiz com a minha sozinha e resolvendo, agora a gente fica, intervém sabe. Não adianta eu tenho três filhos mas não quero não, intervém sem querem porque o neto fez isso, por aquele fez outro, porque a empregada num, sempre a gente tá dando palpite, num pode cada um tem que ficar na sua, né.
P/1 – Quantos netos a senhora tem?
R – Tenho oito, tenho aquele de São Paulo tem três e o mais velho tem três e o Roberto tem duas meninas, tem um já saindo da Poli, o Sérgio Luiz já tá saindo da Poli o último ano, a Marina tá na Mackenzie também tá no quarto ano, vai pro quinto, e a Lilia que entrou agora, estudiosas, uma gracinha e depois o outro tem um, Alexandre tem 9, 13 anos e o rapaz que tá com 19, tá fazendo cursinho lá em São Paulo tá mais bagunçada, aqui a mãe fica mais lá em São Paulo não dá tempo, tá fazendo cursinho, o meu filho mora lá.
P/2 – Qual a sua rotina hoje, seu dia-a-dia?
R – No dia-a-dia, ah agora é assim: fico, gosto muito de casa, gosto de casa demais, fico, a empregada chega, varro o quintal, faço isso, quando ela não sai saio com a cachorrinha e dou uma volta no jardim, a Susi, depois eu volto venho na cozinha e faço o macarrão, eu faço o molho, faço um bolo e dou pra um dou pra outro, mando pra neta, né, e não deixo empregada fazer, arrumo o quarto, as minhas coisas eu não gosto de tá deixando bagunça, então eu me ocupo bastante em casa, lido com as plantas, tiro uma planta daqui ponho pra lá, mudo, é rotina. Eu gosto de sair, cinema a gente não vai porque o filme eu não gosto mais do enredo, da coisa que eles estão passando, sabe, acho que piorou muito, só assisto as novelas um pouco, porque aí descanso, mexo o dia inteiro, fico lá que a menina, a moça chega às 7 horas, depois nós ficamos assistindo, depois quando chega 9 horas, tomo meu banho e já vou dormir, tomo remédio, quando é 6 horas a cachorrinha chama, que ela quer descer, ela quer fazer xixi lá na porta do banheiro, aí eu desço, ela vai lá, depois fica em pé, daí meu irmão traz o pãozinho, eu faço pão, mas ele me traz toda manhã dois pãezinhos lá do Lima, padaria ótima viu, aquele pãozinho gostoso, quentinho, quebrando e é minha rotina senão, não tenho saído muito não, porque cê vê, clube eu não tenho ido, vou agora começar lá no Circulo, esse mês quero ver se eu começo, com as aulas de italiano e tem o grupo lá, né, que eles fazem tudo dia 29 fazem a festa do nhoque, gostoso lá, reuni toda italianada lá.
P/2 – Mas a senhora cozinha lá o nhoque ou só vai comer?
R – Eu não, eu vou comer não gosto muito, mas vou, eles fazem uma festa bonita, música italiana bonita, então passa uma horas, depois da natação aqui, não a natação hidráulica, não aprendi a nadar, você acredita, difícil.
P/1 – Falando em comida, a senhora tem um prato preferido?
R – Não, sabe que eu gosto mesmo, é aquele feijãozinho gostoso mesmo temperadinho que chega ali, com aquele pratinho de feijãozinho com pãozinho, mais nada, põe um pouquinho de farofa, elas vivem pedindo: “Vó, sabe eu queria um pouquinho de macarrão.“, eu já faço o macarrão, já ponho no freezer, o macarrão pronto, depois chega na hora, tiro o macarrão, tem o molho também no freezer, tira a porção, degela, tempera e manda ela vai buscar, então minha vida é isso fazer pão, macarrão: “Ah vó, manda pãozinho pra mim”, mando pra São Paulo pãozinho porque elas guardam, esquenta na hora, né e fica confortável, eu tenho prazer, me satisfaz.
P/2 – A gente já tá se encaminhando pro do depoimento, e queria perguntar se a senhora mudaria alguma coisa na sua vida, se pudesse?
R – Não, não queria que voltasse, mas também não mudaria nada, não porque todas as etapas eu fiz de tudo e vem as, como é que se diz, intuições, as coisas que no momento eu resolvo tudo, num é que eu aprendi porque eu gosto disso, e faz aquilo, quando eu estava na loja fazia com amor, quando eu estava lá com os irmãos, a gente olhava os irmãos era com carinho, com amor e olhava a pequenininha, olhava a outra, que tinha gente que ajudava lá mas eram todos rabichadinho com a gente, porque ele estava mais velha, brincava e fazia, né, bom, depois foi outra fase, de escola e de coisa toda, depois foi com costura e isso com aquilo, ia ver minha avó, vinha com ela até ali na estrada de ferro, ali ia levar comida pro meu avô, ia junto, pequena, quer dizer que todas as fases eu tenho lembrança boa, só não tenho da doença do meu marido, mas foi uma fatalidade, foi uma coisa que, uma pena, eu acho falta e sinto, gostaria que ele, né, mais não queria, nada, isso num queria que voltasse nada, meus filhos eu agradeço que eles são bons, cooperaram bastante e são, Deus me ajudou muito nessa parte e mas eu não quero, acho que minha missão já está comprida que seu precisar partir, estou em paz, vou em paz, fiz o que pude, que devia ter feito, num saí da linha nem um, eles falam pra mim: “Mãe.” Outro dia mexeram comigo: “Escuta, porque a senhora não casou outra vez. Mas vocês estão malucos.” Nem dava tempo de olhar o lado de cá, imagina de olhar o lado de cá.” que complica, complica mesmo, não voltaria não, mesmo com saudades de pai, dos avós, a gente tem saudade dos filhos pequenos, dos irmãos, do meio, dos amigos, né, tem saudade, mas não queria voltar não, acho que já, porque você olha em todo meio tem uma coisa assim, todo mês, às vezes o rico tem o que comer não pode comer porque tá doente, o pobre quer comer não pode comer porque não tem, então tá dividido, tá certo a gente não pode medir.
P/2 - Tem algum sonho, um projeto?
R – Não, eu quero que meus netos, né, aí a gente gosta quer vê-los formados... Imagina meu marido tinha loucura pelos filhos, queria vê-los. Nossa, uma paixão, sempre economizou sempre guardou pra poder, né, então a gente vê que tá, não sei cada um tem que ter seu pedacinho na vida que ninguém muda, a gente tem que, passa aquilo num muda não, porque eu gosto da minha casa, das minhas flores, de animais, gosto de um passeio no norte, né, pro Pantanal, quando eu tiver uma oportunidade podendo eu vou, saúde eu trato quando precisa não deixo ficar trato, porque eu não quero dar trabalho pra ninguém.
P/2 – O que achou de ter dado esse depoimento?
R – Eu que pergunto pra vocês, o que vocês acharam do meu depoimento, farofa, tanta coisarada, minha vida foi um pedacinho disso, né, foi muita coisa junto isso daí que eu vivi, né, tenho meus irmãos vivos ainda, que são todos somos unidos, graças a Deus, pai e mãe foram um exemplo pra gente, então a gente, né, tem Deus, né, tenho fé, acho que tudo tem, gosto de religião, acho que todos tem que ter religião ter uma fé, ter um caminho pra caminhar certo, que precisa tá fazendo muita falta, o pessoal tá desviando de uma crença, de uma coisa, precisa ter uma pra seguir, sem isso a gente não acompanha.
P/2 – A senhora gostaria acrescentar mais alguma coisa que a gente não perguntou?
R – Não, não sei ,acho que falei demais até falei, olha uma hora, agora vamos almoçar lá em casa, eu vou fazer macarrão, quer?
P/2 – Então a gente agradece a entrevista, agradece o macarrão, muito obrigada.
R – Obrigado vocês.
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