Comerciante e Prefeito

P/1 – Bom, seu Adilson, boa noite. Nós gostaríamos de começar a entrevista com o senhor nos falando o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.

R – Boa noite. Meu nome é Francisco Adilson Natali, nasci em 15/2/1939.

P/1 – E o senhor nasceu em que cidade?

R – Na cidade de Caçapava no estado de São Paulo.

P/1 – E o nome dos seus pais?

R – José Francisco Natali e Neli Nantes Natali.

P/1 – E o nome dos seus avós o senhor se recorda?

R – É Giuseppe Natali e Lúcia Povarini Natali.

P/1 – E foi seu avô que minguou para o Vale ou foi algum antes dele?

R – Sim. Eles vieram no vapor San Gotardo em 1894. Vieram de Rovigo da Itália até Santos. Depois subiram até São Paulo e aí nos brindaram chegando até Caçapava. E aí começou tudo.

P/1 – Então, o senhor sabe se eles vinham já direto da Itália para Caçapava ou se foi alguma coisa que foi definida quando eles chegaram no Brasil? O senhor sabe?

R – Não, acho que as coisas começaram a criar corpo com a chegada deles aqui. embora, logicamente, já tenha havido alguma troca de correspondência e isso tenha permitido algumas novidades, alguns conhecimentos, alguns contatos para que eles pudessem vir para Caçapava. Que era um pólo cafeeiro na época então, famoso, então eu acho que eles preferiram ficar em Caçapava.

P/1 – E os seus avós faziam o quê, senhor Adilson?

R – Eram agricultores.

P/1 – Agricultores. E o seu pai então já nasceu aqui? Nasceu no Brasil?

R – Já nasceu aqui.

P/1 – E a atividade que seu pai exerceu?

R – Eles vieram da Itália com uma das irmãs do meu pai que chamava-se Regina. Então essa veio ainda menina. Passou por aquelas intempéries da viagem, né, aquele problema da febre e tal, mas conseguiu se safar. Depois os outros nasceram em Caçapava e hoje tem alguns deles lá. O derradeiro era o meu pai.

P/1 – É.

R – É o último.

P/1 – Foram muitos irmãos do seu pai?

R – Ele tinha, tinha três irmãs e tinha dois irmãos. O Joaquim...

P/1 – A exceção dessa, então, todos nascidos em Caçapava.

R - ...José e Pedro. São três irmãos homens. E Regina, Maria e Elvira.

P/1 – Hum, hum. E a atividade que seu pai exerceu?

R – Olha, o meu pai sempre foi comerciante. Desde 1900, que ele é de 1910, então 1925 mais ou menos, ele já garoto ele já comerciava. Nas estradas. Porque na época tinha muita dificuldade. As cidades aqui a maior da época era Taubaté. E Caçapava muito próxima e vizinha daqui não tinha um desenvolvimento como tem hoje, né? Essa facilidade que tem. então ele tinha as vendas, que eram chamadas, que os armazéns, os comércios da época eram considerados vendas, chamavam vendas. E ele comerciou durante muito tempo ali nas estradas, com carrinho, com banca na beira da estrada. Enfim. Até que ele prosperou e depois veio para a cidade aonde ele trabalhou de empregado. Depois ele foi sócio de algumas pessoas que tinham uma certa influência na época e aí montou o seu próprio ramo de negócio. Ele trabalhou com cereais, trabalhou com varejo, depois ele trabalhou com atacado. Trabalhou com combustíveis, com bebidas, trabalhou depois com distribuição de adubos e produtos químicos. Aí passou para uma máquina de beneficiar arroz e moinho ou engenho de fubá. Que era o produto do milho, que era canjica, canjiquinha, quirela, farelo e a própria canjica branca. E sempre com comércio junto, paralelo.

P/1 – Mas quando o senhor diz que ele comerciava nas estradas, na época estrada de ferro?

R – É, estrada de roça. Estrada rural.

P/1 – Ah, sim.

R – Essa estrada que liga os bairros de Roseira, Roseirinha, bairro do Pinheirinho, Marambaia. Então essas regiões é que eles comercializavam os produtos ali. Mexeu muito com produto da região ali.

P/1 – E o senhor tem irmãos, senhor Adilson?

R – Tenho.

P/1 – Quantos irmãos o senhor tem?

R – Eu tenho duas irmãs mais velhas. Tenho Selma e Marli, eu, depois dois irmãos: Brasil e Eduardo.

P/1 – Hum, hum. E o senhor cresceu em Caçapava?

R – Sim.

P/1 – E como é que era Caçapava na época que o senhor era criança?

R – Olha, eu estudei em Caçapava até 49. Depois eu fui para Lorena, que era, estudei no colégio São Joaquim. Depois mais a frente estudei no Nogueira da Gama em Guaratinguetá. E depois vim para Caçapava, fiz a escola de comércio que era Escola Técnica de Comércio. Depois eu fiz vários cursos e inclusive controle mental e consegui depois de muito tempo, muita dificuldade de tempo eu me formei em Direito.

P/1 – Mas Caçapava já era na grande na época que o senhor era criança? Como era a cidade?

R – Olha, a gente vai dizer que Caçapava cresceu nos meu governos, né? Mas na verdade a gente quando pegou a cidade ela tinha aproximadamente 37 mil habitantes. Hoje nós temos quase 110 mil. Eu fui prefeito de 1983 até 88, depois a segunda vez de 93 a 96. É 96. E agora, de 2001 até 2004 se Deus quiser.

P/1 – E quando o senhor era criança tinha estrada de ferro que passava na cidade?

R – Tinha. A estrada começou junto da cidade. É, porque na verdade nós éramos parte da cidade de Taubaté. Porque Caçapava velha pertencia a Taubaté. E dali que saiam as Bandeiras. Nós tivemos núcleos de bandeirantes, tivemos um afloramento que foram terras doadas para a santa, né? Que era Nossa Senhora da Ajuda, na época. Que era costume quando uma pessoa não tinha filhos, então legava isso para a igreja ou para o santo. Então existem terras hoje de Caçapava velha, e com uma divisão política que houve na época, e com o advento da estrada de ferro a população se deslocou para onde é hoje a cidade de Caçapava.

P/1 – Porque aí a estação foi colocada não nessas terras da chamada Caçapava velha?

R – Não. Hoje Caçapava está distante de Caçapava velha aproximadamente oito quilômetros.

P/1 – Ah, então, porque a estação se colocou mais a frente então a população foi para lá?

R – Isso.

P/1 – E tinha comércio nessa época? Mercados, armazéns?

R – Tinha. O mercado muito precário, mas nós tínhamos sim. É, Caçapava chegou a ter um lugar de destaque no comércio, porque fazia, porque nós tínhamos estrada co São José dos Campos ma época, Taubaté, Buquira, Buquirinha. Era fácil o acesso para a cidade de Jambeiro que logo após alcançar Jambeiro conseguiria chegar a Paraibuna e conseqüentemente a Caraguatatuba e São Sebastião. Ubatuba da nossa época de garoto ainda não tinha ligação com Caraguatatuba. Ele passou a ter uma ligação depois de muito tempo, né, mesmo na nossa infância.

P/1 – E o senhor fazia alguns passeios até a praia quando o senhor era criança?

R – Sim.

P/1 – O senhor lembra como é que era esse trajeto? Como é que fazia...

R – A estrada era de terra, né? Tinha, eu lembro lá que existia uma cachoeira, logo no alto da serra. E tinha uma mesa de pedra onde as pessoas faziam lanche. Porque a visitação à cidade de Caraguatatuba era uma epopéia, né? Você tinha que sair cedo, levar o frango assado ou aquela, o frango co farofa. Enfim, tinha que ir preparado para as coisas que acontecesse. Porque se chovesse seria difícil alcançar a praia no espaço programado.

P/1 – Mas ia de carro?

R – Sim.

P/1 – Ia de carro...

R – Ford 29.

P/1 – (riso) Do seu pai?

R – Às vezes alugado.

P/1 – E ia a família toda, seu Adilson?

R – Sim.

P/1 – A mãe e todos os irmãos?

R – Sim.

P/1 – E aí passava uma temporada na praia? Ou ficava só um dia?

R – Olha, nós passávamos uma temporada.

P/1 – E como é que era Caraguatatuba?

R – Caraguatatuba tinha algumas pensões, tinha o hotel onde nós ficávamos – que a gente tem uma grata recordação – que é o hotel da dona Binoca. Que é famoso lá na época, né? E durou aí muito tempo. Depois a cidade se desenvolveu. Com a pavimentação da cidade no tempo do presidente Jânio Quadros a coisa andou bastante.

P/1 – Para voltar era a mesma dificuldade? Demorava mais tempo para ir ou para voltar?

R – Não. Com a pavimentação já não, já...

P/1 – Mas na época que o senhor era criança?

R – Ah, sim, levava aí umas três horas.

P/1 – Para ir? E para voltar?

R – Para ir.

P/1 – Também a mesma coisa?

R – É a gente tem uma grata recordação lá.

P/2 - E das viagens de trem o senhor lembra?

R – Bom, o trem, veja, quando antes da Rodovia Presidente Dutra a estrada era essa que hoje é chamada SP-63, né? Que é essa Rio-São Paulo. Nós temos lá a Rio-São Paulo, temos essa do Dom Pedro e temos a Dutra. Hoje, Carvalho Pinto também. Mas a estrada e ferro era o acesso mais rápido e seguro para as pessoas que tentavam alcançar a cidade da capital. Que seria São Paulo. Dada a dificuldade. Porque quando chovia aquele caminhão ou as caminhonetes que tinham na época elas encravavam ali na, nos atoleiros que era as estradas de terra. E a estrada de ferro chovesse ou fizesse sol ela mantinha-se da mesma maneira. E vários comerciantes, na época que eu era garoto e que a gente tem lembrança, eles viajavam de trem. Para fazer compra em São Paulo depois voltavam a noite no famoso expressinho.

P/1 – O seu pai também fazia esse trajeto? Ele ia para São Paulo de trem para comprar mercadoria?

R – Ele ia de trem.

P/1 – Porque seu pai teve um armazém, não é isso?

R – Teve. Ele teve vários pontos comerciais. E teve uma época que ele trabalhou como agente do Banco do Brasil. Em uma loja de eletrodomésticos que ele fundou que chamava-se A Mascote. Que vocês vão ter a oportunidade de ver a foto, eu acho que nos próximos dias. Depois ele partiu, o comércio maior dele foi a máquina de beneficiar café, café não, fubá. Moinho de fubá. É, era na Rua Marechal Deodoro, se não me engano o número de lá era 161. E ali foi o ponto alto do primeiro tempo. no segundo tempo ele veio construiu um prédio ali e ontem até hoje o prédio de três pavimentos onde ele montou a Eletrolar. Teve lojas em Taubaté e teve duas em São José dos Campos concomitantemente. Ao mesmo tempo a de Caçapava e uma em Taubaté e duas em São José dos Campos.

P/1 – Mas nos anos 30 ele já tinha um armazém? Ele contou uma história da revolução...

R – Sim, na revolução ele estava na Ponte do Paraíba. Chamava-se Armazém da Ponte.

P/1 – Armazém da Ponte. Em Caçapava?

R – Isso, em Caçapava.

P/1 – Esse armazém é que era pertinho da estrada de ferro, não é isso?

R – Isso. Já em 1950 ele fundou juntamente com mais três pessoas, se não me engano, um cinema em São José dos Campos, que é o Cine Santana. Que foi hoje tombado pela prefeitura como patrimônio histórico de São José. E foi fundado por ele. Nós estivemos lá no bairro de Santana durante algum tempo. depois logicamente com a mudança de mercado, né, com a mudança de ramo de negócio ele passou a trabalhar com eletrodoméstico.

P/1 – Hum, hum. Mas o senhor, voltando um pouco a sua trajetória, o senhor cresceu em Caçapava, o senhor já falou dos locais aonde o senhor estudou. E na sua época de juventude, Caçapava já tinha crescido um pouco mais?

R – Já. Caçapava, já tinha na época que eu era garoto, mais ou menos seis mil habitantes. Eu sou de 39.

P/1 – É.

R – E hoje a gente tem orgulho de falar que eu sou o único no mundo que tem dupla cidadania. Eu tenho cidadania lorenense, eu sou cidadão de Lorena. Nasci em Caçapava. E tenho a cidadania de Caçapava do Sul. então eu sou caçapavense e Caçapavano.

P/1 – Mas por que essa diferença seu Adilson?

R – Porque são as duas cidades chamadas Caçapava. Uma é do Sul e a outra de São Paulo.

P/1 – Ah, certo.

R – Só que lá eles falam Caçapavano, e nós aqui falamos caçapavense. Então esse é um fato inédito. Não conheço outra pessoa que tenha essa dupla cidadania. Com a mesma, o mesmo nome, né?

P/1 – E no seu tempo de garoto tinha baile em Caçapava para freqüentar, tinha cinema?

R – Tinha, tinha baile em Caçapava, em São José, Pinda, Guaratinguetá, Cruzeiro, Jacareí, São José dos Campos.

P/1 – O senhor ia nesses bailes das outras cidades?

R – Ia.

P/1 – Como é que o senhor ia? De carro?

R – Nós íamos de carro. Às vezes de trem.

P/1 – Mas aí o senhor tinha um grupo de amigos?

R – Tinha, certo.

P/1 – Aí ia só os amigos?

R – Éramos contemporâneos. O pessoal de ginásio, o pessoal de comércio. Sempre tem – o que o pessoal fala patota hoje, né – tem aquela ligação, aquela turma. Então as pessoas da mesma idade, ou diferença de um ou dois anos para a frente e para a trás. Então ela tinha a turminha. Mas a coisa era mais disciplinada, mais respeitada e mais vivida do que as coisas que a gente sente hoje.

P/1 – E para ir nesses bailes vocês se arrumavam? Iam mais arrumadinhos?

R – Sim, claro. O baile era a rigor, só.

P/1 – Era a rigor?

R – É, ou então de terno e gravata.

P/1 – E comprava tudo em Caçapava? O terno, a gravata, tudo?

R – Caçapava, às vezes São Paulo.

P/1 – Ia para São Paulo fazer compra também?

R – Isso.

P/1 – Mas aí o senhor ia com seu pai ou com a sua mãe?

R – Sim, eu sou de 39. Então 1951 eu já estudava interno. Então quando é interno dá uma abrangência, dá uma abertura muito grande. A gente aprende muita coisa. Porque você fica interno, confinado. É como se fosse uma concentração futebolística. O time que vai jogar amanhã já se concentra hoje. Então a gente fica 24 horas por dia com uma gama de amigos ali que a gente vai se integrando no conhecimento e nas coisas do mundo. Aprende coisa boa e coisa ruim também.

P/1 – E esse colégio era aonde?

R – As boas a gente guardou as ruins a gente...

P/1 – Já esqueceu.

R - ...não seguiu não.

P/1 – E onde ficava o colégio seu Adilson? O colégio interno ficava aonde?

R – Lorena.

P/1 – Em Lorena.

R – São Joaquim.

P/1 – Colégio São Joaquim?

R – Colégio São Joaquim. Eu fiquei interno lá.

P/1 – E por que é que o senhor foi para o colégio interno?

R – Olha, na época eu não sei se modismo, ou interesse ou cultural, porque na época não existia muitos colégios. Não existia muita cultura. Então como o meu pai era um cidadão abastado já há muito tempo ele quis possibilitar que os filhos estudassem e se formassem. E para isso ofereceu um estudo de primeira qualidade.

P/1 – Todos os filhos estudaram em colégio interno?

R – Não.

P/1 – Não.

R – Só os três.

P/1 – Só os homens?

R – Não, só os três, as duas moças que estudaram no Colégio Campineiro, de Campinas, que era um colégio de freiras. Estudaram no Bom Conselho de Taubaté e se formaram depois em Caçapava. Mas no período de abundância nós tivemos oportunidade de pelo menos fazer a base da educação pelos colégios.

P/1 – Como é que era o cotidiano do colégio interno?

R – Bom, colégio de padre se fala em latim desde cedo até de noite. Se reza muito, se vai muito a igreja e se estuda bastante. Eu acho que valeu muito esses anos que a gente teve no colégio interno. Essa base que a gente teve na cidade de Guaratinguetá também, que é aonde nós tivemos no Colégio Nogueira da Gama. Então eu acho que serve aí de alicerce para que a gente continuasse os estudos. Porém as coisas mudam, os nossos destino sentem algumas modificações. E quis o destino que eu fosse comerciante também. então desde garoto aficionado pelo automobilismo e pelas coisas da indústria eu fiquei com meu pai. Desde 1949, com 10 anos eu já estava trabalhando.

P/2 – O senhor começou a trabalhar com 10 anos, com o seu pai?

R – Com 10 anos.

P/2 - E como era trabalhar com o pai, um garoto?

R – Olha, eu trabalhei 35 anos com ele. Eu muito responsável e ele muito exigente. Mas valeu, foi uma escola. Foi um aprendizado.

P/2 - E o que é que o senhor fazia?

R – Tudo. Era, veja, como filho a gente tem algumas vantagens e algumas desvantagens. Era mais exigente, porque eu era filho tinha que fazer as coisas com mais perfeição. E por outro lado não tinha muitos direitos não. Porque os direitos, logicamente, eram para aqueles que eram funcionários. Mas eu aprendi muito, ganhei muito, eu acho que devo parte de minha vida das coisas que fiz e que ganhei a ele.

P/2 - Mas qual foi o seu primeiro trabalho com o seu pai?

R – Meu primeiro trabalho foi logo que eu me dei por interesse do comércio, por interesse eu não sei se pela vontade de andar em caminhão que eu comecei a trabalhar.

P/2 - Mas o senhor andava de caminhão transportando mercadoria?

R – Isso, andava ajudando. Descarregar, carregar e assim por diante. Depois eu engarrafei vinho, engarrafei aguardente, o pessoal fala envazar hoje, né? Mas no nosso tempo era garrafa de vinho. E vendi muito querosene, muita gasolina. E mexia com a máquina de beneficiar arroz, algumas coisas a gente fazia na máquina e outras não. pela idade a gente não tinha condições de fazer a ligação de movimento da máquina a gente não podia fazer. Mas o moinho de fubá, canjica e outros a gente trabalhava bastante.

P/2 - E quem que eram os clientes do seu pai aqui do Vale?

R – Olha, nós tivemos atacado. De Caçapava a gente lembra de quase todos, né? Rua por rua, nome por nome da cidade toda. Porque desde essa época a gente andava nas ruas da cidade vendendo. Porque o meu pai dava uma lista de produtos que tinha no atacado e a gente saía vendendo. Principalmente bebidas da Antarctica. Que nós fomos vendedores durante muito tempo. Eu delineio, se precisar fazer uma lista, de quase todas as pessoas que eu vendia. A maioria eu lembro ainda de quase todos. Pessoas muito importantes. A maioria infelizmente já faleceu.

P/2 - Mas vocês forneciam para bares, restaurantes. Nós éramos distribuidores pesados. Vendíamos desde Barra Mansa até Suzano, Mogi das Cruzes. Itaquaquecetuba.

P/2 - E como que era o transporte dessas bebidas?

R – Transporte era transporte rodoviário. Nós tínhamos uma empresa de transporte também. E papai teve além da empresa de transporte teve uma construtora. Então isso facilitava bastante. É dito até que quem tem um olho em uma cidade que não tem nada, é rei, né? (riso) Então ele teve um conhecimento bom. Ele se preparou durante muito tempo no comércio, foi muito honesto durante muito tempo, a vida toda. Então com isso ele ganhou um know how, um conhecimento e uma credibilidade que nós hoje desfrutamos disso. Do nome, da tradição, que a gente tem na nossa terra, no Vale, no estado de São Paulo.

P/1 – Verdade, né? Porque o seu pai é conhecido em todas as cidades que nós estivemos.

P/2 - Onde nós estivemos _____________

P/1 – Em Taubaté, Lorena, foi citado o nome do seu pai como dos grandes comerciantes do Vale. Até hoje as pessoas lembram disso.

R – É, hoje ele está com alguma dificuldade de locomoção mas a cabeça muito boa. Lembro de tudo. E Oxalá na época que vocês forem fazer uma visita lá ele esteja em condições de atender.

P/1 – Não, nós conversamos já com ele. Estivemos lá conversando com ele.

R – Acredito que depois, se prepararmos, né, assim uma data que vocês possam ir – avisado logicamente pelo nosso preposto aí, o Arlindo, – a coisa possa caminhar a contento.

P/1 – Qual era a melhor praça? O senhor falou que era de Barra Mansa até, vocês vendiam de Barra Mansa até...

R – Até Suzano. Itaquaquecetuba.

P/1 – Pois é, e qual era a melhor praça do Vale do Paraíba para negociar?

R – Olha, todas as praças eram boas. Nós vendíamos muito em Cruzeiro, vendíamos bastante em Guaratinguetá, Aparecida não era tão grande. São José dos Campos. O comércio de Caçapava era melhor que o de São José dos Campos na época. Taubaté, não é? Campos do Jordão e outros.

P/1 – Isso nós estamos falando dos anos 50 ou 60?

R – Isso, de 50 ou 60.

P/1 – Dos anos 50. Porque Caçapava era melhor porque tinha lá aquele batalhão do Exército já ou não?

R – Já, tem. Desde 1918.

P/1 – E 18, então, isso movimentava mais o comércio da cidade?

R – Movimentava. Porque na época as cidades não tinham tantos recursos, a industrialização ainda não tinha chegado aqui. Com a vinda da General Motors e da Johnson e de algumas outras indústrias ali. Aí a Cocta, depois Ita, depois CTA, depois o próprio CTA que continua. Com a Embraer a coisa deslanchou. A Ericsson também possibilitou enriquecimento bastante para São José. Mas isso naquela época não tinha. A coisa começou a explodir na verdade, foi na época da Rodovia Presidente Dutra. Então existe antes da Dutra e depois da Dutra. A Dutra além de ser um excelente corredor de transportes ela foi um integralizador de sucesso e desenvolvimento para o estado de São Paulo e para o Brasil. Porque você vê nós temos o estado do Rio de Janeiro e o estado de São Paulo pela Dutra. Une dois grandes estados. Que na época ainda uma pista só, sem acostamento, como foi inaugurada. A coisa melhorou muito depois. Mas foi feito uma aproximação entre as cidades.

P/1 – O senhor lembra da inauguração?

R – Lembro.

P/1 – O senhor lembra? O senhor esteve lá na inauguração com o seu pai?

R – Estive.

P/1 – Lembra algum detalhe que pudesse estar contando?

R – A gente via alguma coisa, inclusive tem um livro. Mas eu lembro uma corrida que houve quando o Chico Landi foi corredor de baratinha, de automóvel, ele, o João Manuel Fangio e mais outros que vieram e fizeram praticamente a inauguração da estrada. Isso se deu por volta de 51.

P/1 – E veio o presidente da época, né?

R – É, a inauguração foi em alguns lugares. Porque são 300 a 400 quilômetros de estrada.

P/1 – Então, na parte de Caçapava é que teve essa corrida que o senhor está falando?

R – Não, não. Teve, a caravana passou, porque eram 400 quilômetros. Então seria difícil fazer uma inauguração em cada cidade.

P/1 – Mas ela foi sendo inaugurada por trechos, né? O senhor disse porque ela não ficou pronta totalmente em 51, ficou?

R – Olha, o trecho mais complicado que houve que eu tenho lembrança, na época, foi aqui em frente a Volkswagen em Taubaté. Que tinha um lugar lá que cada vez que chovia carregava a estrada e caía carro lá de montão. É o Passagem do Guaçaí que eles falam. Então isso a gente como garoto ouvia falar: “Olha, aconteceu um acidente, caiu um carro lá porque a estrada rodou.” Então isso é famoso. Agora, como elemento integralizador como foi o Rio São Francisco para aquela região, a Dutra foi para nós aqui. Eu acho que a Dutra deve ter sido um elemento de maior importância na época. E que nós estamos obtendo os resultados agora. Graças a ele, né? Ao Eurico Gaspar Dutra.

P/2 - E o seu pai como ele trabalhava com distribuição, com circulação de mercadorias ele deve ter dado um salto na vida comercial dele com a inauguração da Dutra?

R – Ah, sim, claro. Todo negócio, todo desenvolvimento ele tem dois lados: tem muita gente que ganhou muito dinheiro com supermercado. E tem algumas pessoas que perderam tudo com supermercado. Com farmácia, né, e com outros. Com marcenaria, carpintaria, depósito de material de construção. Então além da sorte depende da qualidade, da capacidade de trabalho, do modo que a pessoa comercializa. Do preparo que a pessoa tem. Porque em todo lugar tem ossos e tem espinhos, né? Todo caminho tem espinho.

P/2 - E nessa época de inauguração da Dutra em que armamos ele atuava já?

R – Olha, nós tínhamos isso que eu lhe falei. Comércio de arroz, de milho, que é o moinho de fubá. Distribuíamos produtos químicos que seriam adubos.

P/2 - Ah, tudo isso já em ____

R – Tudo junto. Porque ele tinha quase meio quarteirão de equipamentos.

P/2 - E a mascote?

R – A mascote veio logo em seguida. Eu lembro que nós distribuíamos a máquina de costura. Que na época se falava em Pfaff, e se falava muito em Singer. Aí nós importamos uma quantidade imensa de máquina de costura Crosley. A gente não esqueceu. E isso tinha que montar e por à venda, né? Depois vieram as marcas como Vigorelli, Leonan, e outras tantas que têm aí.

P/2 - E a mascote vendia o que exatamente, só as máquinas?

R – Nós vendíamos na época da, bicicletas, né? Que era bicicleta Gorick, depois nós chegamos a vender fogões com gás de querosene, que era fogão que o pessoal falava fogão a querosene. Que toda hora do almoço recendia aquele cheiro de querosene. Aí mais para a frente, isso por volta de 55, 54, quando chegou a o gás, que o gás engarrafado GLP, ele já foi em 56, 55, 56. Gás Líquido de Petróleo. Que é esse de botijão que o pessoal fala. a primeira marca que a gente trabalhou foi Liquigás. Era um tambor comprido de 10 quilos. E que tinha uma borboleta que a gente tinha que ter uma chave para trocar o tambor. Hoje não, hoje ele é mais fácil. Vendemos muitos fogões. Inclusive hoje eu estive conversando com uma pessoa que comprou um fogão nosso sem que a mulher soubesse. E eu fui entregar o fogão. Cheguei na casa, a mulher não quis que descarregasse o fogão. “Não, não, o meu marido não comprou de maneira nenhuma. Ele não tem dinheiro, não pode comprar.” Não comprou. Ele trabalhava na Usina Vigor em Caçapava, que era uma cooperativa de leite. E aí a gente foi conversando, conversando, explicamos à ela que ele tinha comprado na época que começava a surgir as prestações, né? Porque a pessoa comprava para pagar em 10 meses, ou 12 meses. Ela deixou descarregar o fogão mas pediu para voltar a tarde para pegar de volta. Aí o marido chegou acomodou a situação.

P/1 – E vocês começaram a vender, porque o fogão era caro, então? O fogão era caro. Já precisava ser vendido em prestações?

R – Olha, não era caro. Mas na época a dificuldade, que quando a senhora falou em sexto BI, que era o Regimento Ipiranga as cidades eram pequenas. E as cidades que tinham uma folha de pagamento constante e certa se desenvolveram. É o caso de Lorena, é o caso de Pindamonhangaba, o caso de Caçapava e outras que nós temos por aí. Porque todo mês era certo aquele, aquela folha de pagamento que distribuía dali àquelas famílias e aqueles soldados, aquilo era uma fonte de renda para a cidade. E durante muito tempo a cidade dependeu desse favorecimento. Então depois veio a industrialização. E nessa industrialização até hoje, logicamente, as cidades que têm mais indústrias têm mais potencial de pagamento. Ela tem uma carta mais forte através dos impostos.

P/2 - E como é que eram vendidos esses fogões e essas máquinas de costura? Era para todo o Vale? Como que era a venda?

R – Não, normalmente eram vendidas, o eletrodoméstico nós concentramos só em Caçapava. Claro que alguma vez saía uma geladeira para Caraguatatuba, uma para Jacareí etc. Depois nós montamos uma outra loja aqui em Taubaté e depois duas em São José.

P/2 - E as mercadorias chegavam como?

R – Chegavam por transportadora e eram distribuídas nas lojas e logicamente entregue à população através do crediário.

P/1 – Vocês foram os pioneiros no sistema de crediário, seu Adilson?

R – não, acho que não. Nós fizemos parte desse processo,

P/1 – E quem montava esse equipamento que chegava? Máquina de costura, bicicleta? Tinha...

R – Não, aí veja, quando nós começamos agora já a partir de 57 beirando 54 que a gente iniciou, aí 57 que deslanchou já havia o surto da industrialização no estado de São Paulo. Aí já tinham as máquinas, as geladeiras.

P/1 – Já haviam os ___________

R – Já era completo. Os móveis já vinham montados. Passou por um processo de velocidade. A gente acredita que essa venda de eletrodoméstico a partir de, na verdade a partir de 58 ela teve uma, um desenvolvimento muito grande. Uma coqueluche, né?

P/2 - E já tinha anúncios que o senhor tinha que fazer para estar divulgando esses eletrodomésticos?

R – Ah, sim, claro.

P/2 - E o senhor anunciava, o seu pai anunciava?

R – Veja, essa parte eu era garoto nessa época, essa parte ficava mais ao pessoal da direção. Mas sempre tinha sim, nós já usávamos o rádio. Já usávamos esse elemento do jornal, os panfletos. Os volantes que a gente fala. Televisão não. Não existia essa propaganda maciça que existe hoje. Nós pegamos a Rede Tupi, ainda, né? O Silvio Santos ainda era animador do programa, você imagina. Com a Cacilda Lanuza, que foi colega dele durante muito tempo. hoje parece que ela está em Pernambuco, se não me engano. Então são coisas de época.

P/1 – Isso nós estamos falando ainda da Mascote, não é isso?

R – Não, não.

P/1 – Já da Eletrolar.

R – Já da Eletrolar.

P/1 – A Eletrolar inaugurou então...

R – A Mascote ela funcionou por volta de 50 e pouco. Em 58, 57, 58 a Mascote, a Eletrolar foi fundada em 1957. A partir daí já não, já foi só Eletrolar.

P/1 – E ela foi fundada em Caçapava, mas só retomando, ela tinha lojas em outras cidades do Vale.

R – Sim, em São José dos Campos e Taubaté.

P/1 – E tinha crediário próprio a Eletrolar?

R – Tinha. Nós tínhamos crediário próprio. Meu pai tinha fazenda de gado, tinha fazenda de eucalipto. Não uma, mas ele tinha várias. Então a diversificação tanto no campo imobiliário como no campo de investimento e agropecuário possibilitou a ele alcançar o que ele tem hoje. E a gente foi beneficiado também, porque a gente fazia parte desse processo.

P/1 – E na Eletrolar é que o senhor aí já foi na condição de sócio do seu pai, é isso?

R – Sim, desde 57.

P/1 – E o senhor cuidava especificamente do quê, nessa sociedade?

R – Era mais mecânico, técnico, né? Motorista, entregador, peão. Fazia tudo.

P/1 – As compras da Eletrolar quem decidia era o seu pai?

R – Era o meu pai.

P/1 – Ele recebia...

R – Sempre foi ele.

P/1 - ...ele recebia vendedores.

R – Sempre foi a peça mais importante na nossa empresa.

P/1 – E os vendedores vinham conversar com ele e ele escolhia, era isso?

R – Sim claro.

P/1 – E fazia o pedido.

R – É, a pessoa que é compradora, e que é um excelente vendedor ela deve ter um tino para isso, né? E logicamente ele além da sorte ele tinha muita visão e logicamente conhecimento e técnica. Possibilitava ele comprar um produto de boa qualidade e com uma venda muito rápida. Ele foi um mestre. Aprendemos muita coisa com ele.

P/2 - E era comum, seu Adilson, um comerciante do Vale ter mais de uma loja? Ou isso era raro?

R – Olha, eu dificilmente eu consigo lembrar de outras pessoas que tiveram mais de uma loja.

P/2 - Porque a gente não ouviu isso, né? Eu tenho a impressão que talvez o caso do seu pai seja pelo menos o único que a gente tenha notícia até agora de ter, inclusive próximas, né? Caçapava e Taubaté, né?

P/1 – É, nessa época...

R – É, Caçapava e Taubaté e São José. Em São José nós tivemos duas.

P/2 - E eram iguais as lojas?

R – Sim, trabalhava com os mesmos produtos. Nós trabalhávamos com colchões, que eu vendo aqui colchões da Probel. Móveis Luis XV, que era o sofá-cama. Quando saiu o sofá-cama em 57, 58. Nessa época o que se vendou de sofá-cama não estava escrito em gibi nenhum. Tinha fila esperando. Porque não existia isso. Antes era cama patente e só. Depois aí começou o sofá-cama. Que era só o sofá-cama, tá, tá, que aí desmontava. Depois começou o conjunto de sofá-cama, sofá e duas poltronas. Sofá-cama e duas poltronas laterais que não eram cama. E eram coqueluche. Como foi o coqueluche da geladeira, da máquina de lavar roupa, da máquina de costura. Não tinha uma casa que não tivesse uma máquina de costura, isso em qualquer cidade. Hoje, agora, com esse comércio de roupas feitas parece que complicou. Mas mesmo assim existem muitas máquinas.

P/2 - E como é que dava conta de cuidar de todas essas lojas? Qual que era a equipe que trabalhava em cada uma delas?

R – Era montado, né? Tinha o gerente, tinha a escrituraria, o caixa. E dependendo do volume de venda tinha um, dois, três, quatro vendedores. A cidade que mais vendia no começo era Caçapava mesmo. Depois em Taubaté, nós abrimos a loja em Taubaté que foi aqui na Rua Sacramento, depois Rua Marques Durval. Aí nós abrimos as lojas na Rua XV de Novembro, 121, depois 132 na cidade de São José dos Campos. São José vendeu mais do que as duas cidades juntas. Porque nós pegamos o boom de desenvolvimento. A mineirização de São José dos Campos. Porque hoje tem mais mineiros em São José do que o próprio joseirense ou valeparaibano. Tem eu acho que percentual de mineiros que tem em São José dos Campos é muito grande. E isso dado à disposição de trabalho deles, a cultura, a técnica, a educação desenvolveu São José assim. Para estar no lugar que está hoje. Quer dizer...

P/2 - E o senhor poderia falar um pouco do comércio de Taubaté e do comércio de São José nessa época? Havia concorrência? Como era o centro?

R – Havia. Taubaté sempre foi a cidade mais importante do Vale naquela época. Nós tínhamos aqui a Casa Cabral, não sei se esse é o nome. Mas que tinha elevadores já. Em 1940 e poucos. E tinha para você ter uma idéia, era considerado as lojas de departamento. Tinha um andar que era só roupa, um andar que era só brinquedo e assim por diante. Taubaté teve um comércio maior do que o de São José dos Campos, e o de Caçapava. Depois dada esse desenvolvimento, porque era considerado São José dos Campos um Eldorado. Quer dizer, todo mundo que queria ganhar dinheiro, queria ficar rico vinha para São José dos Campos. Então explodiu a cidade.

P/2 - E a loja era no centro?

R – Em 60, 70. Na verdade foi de 65 a 75 que houve essa explosão.

P/2 - Quer dizer, bem depois da inauguração da Dutra, né?

R – Ah, sim. Porque veja, como observador a gente acha que São José dos Campos foi muito privilegiada pela situação cartográfica e geográfica. A topografia de São José dos Campos é perfeita. Tem condições de abrigar qualquer tipo de coisa. Você falar hoje: “Vou montar uma Disney World, em São José dos Campos.” Tem condições de fazer isso. A situação topográfica de São José ajuda muito, não é verdade?

P/1 – Mas para isso o senhor estava falando da questão da Dutra, vieram as empresas e tal. O comércio de Caçapava antes era mais forte. Então o que é que aconteceu? Ele não se desenvolveu por causa da...

R – Não, ele não era mais forte do que o de São José, mas era tão quanto.

P/1 – E porque é que de repente, só por causa da industrialização, o senhor acha?

R – É porque veja a cidade de Paraibuna e de São José ficou mais próximo de São José do que de Caçapava. Quer dizer, o acesso das outras cidades para atingirem São José dos Campos era mais prático do que ira à Caçapava. O pessoal de Campos do Jordão era mais fácil ir lá. Porque essa estrada aqui Campos do Jordão – Taubaté existe agora, naquela época não tinha. Então tinha que fazer aquele trânsito lá.

P/1 – Quer dizer, como é que ia então para Campos do Jordão?

R – Ia por São José.

P/1 – Por São José. Isso na década de 40?

R – É, e logicamente tem alguns fatores de saúde também que colaboraram bastante para que São José se desenvolvesse depois. Existia primeiro uma retenção de progresso motivado a alguns fatores de saúde. Tanto para São José como para Campos do Jordão.

P/1 – O senhor diz por causa da tuberculose, na época?

R – É, então as pessoas não se predispunham a visitar, tanto São José dos Campos como Campos do Jordão. E quando o faziam, faziam com alguma reserva. Não tinha, o comércio não era pujante como é hoje. O pessoal parava ali já meio com, querendo já sair. Quer dizer. Chegava já querendo ir embora. (risos)

P/1 – Já queria ir embora.

R – E que na verdade não tinha nada a ver. As coisas, depois a própria cultura do povo foi melhorando. E a gente acha que essa distância que existe hoje, de 1900 para 2000 nesse século houveram todas as coisas que poderiam acontecer no mundo. E a velocidade hoje, do 2001 para a frente é muito mais rápida do que um ano de hoje é equivalente a mais de 10 anos daquela época. Em uma projeção, é claro. Porque de 1900 as coisas eram complicadas. De 1910 a 1920 se considerar ela era melhor no segundo decênio ela no ano 20 ela era melhor do que no ano 10. O dobro. Mas hoje é violentamente mais rápido. Por exemplo, as coisas que aconteceram em 1960, hoje nós vemos acontecendo em um ano naquela época hoje em 15 dias. É o desenvolvimento, o conhecimento. É como se fosse um computador. É o computador. Se você adquiri-lo hoje, daqui a um ano, embora ele tenha não sei quantos megabytes aí ele vai ter um problema que vai, poder estar superado o ano que vem. Então essa cultura, essa tecnologia está avançando muito. e a gente vê isso na própria educação. que nós vemos crianças hoje que lidam com computador como se mexe com um garfo e faca. Em compensação não sabe fazer conta de cabeça, usa a maquininha. Sete vezes oito, “então deixa eu pegar a máquina aqui.” Aquele estudo primário que a gente tinha, básico, que favorecia a velocidade de raciocínio hoje eles não têm. Mas em compensação têm uma velocidade de manejo através da máquina que oferece uma cultura muito mais forte.

P/2 - E, vamos voltar para a Eletrolar. Tínhamos loja em Caçapava, tínhamos loja em Taubaté, e tínhamos loja em São José.

R – Duas em São José.

P/2 - Duas em São José. A que mais vendia primeiro em Caçapava, depois vem Taubaté...

R – Depois Taubaté.

P/2 - ...depois chegamos em São José.

R – Isso.

P/2 - Quanto tempo essas lojas funcionaram, seu Adilson? Até quando?

R – Olha, de 61, de 57 a 61 nós tivemos na Praça da Bandeira próximo ao Cine Brasil. Um cinema que existia lá na época. Depois em 61 na época da renúncia do Jânio Quadros, no dia, se não me engano foi no dia 25/8/1961 nós transferimos essa loja para esse prédio de três pavimentos construído pelo meu pai. Muito bem. Daí de 61 até 65 nós tivemos com loja em Taubaté. Acredito que foi, é, com loja em Taubaté. Ano seguinte nós já começávamos em São José dos Campos. Final de 65 começo de 66.

P/2 - E essa lojas funcionaram por quanto tempo?

R – Ficaram até 73.

P/2 - Até 73. E em 73?

R – 73 papai resolveu diversificar o emprego do dinheiro que ele tinha. Então ele adquiriu alguns imóveis, comprou fazendas, começou com gado, começou com plantação de eucalipto. Porque a velocidade de venda naquele ano já começava a cair no normal, né?

P/2 - Mas o senhor acha que em função do quê? Alguma, algum, uma questão ligada ao sistema?

R – Não, dói próprio modismo. Hoje está muito em moda o computador. Nós temos uma maré de venda de coisas. Por exemplo hoje existe uma praga que chamasse telefonia, não é isso? Ela trás um benefício muito grande, mas não tem, ou se tem é um número muito pequeno de pessoas que ainda não tenha celular. A senhora vê pessoas que não sei se tem condições de pagar a conta mas que tem celular. Então é um modismo.

P/2 - Mas daí as lojas foram fechadas? O que aconteceu?

R – Como?

P/2 - Depois que ele resolveu diversificar? Não?

R – Não, não fechamos.

P/2 - Só diversificou. Continuaram abertas?

R – Nós resolvemos centralizar. Aí logicamente ele vendeu as propriedades, né? As lojas que nós tínhamos em outras cidades ele vendeu. Obteve um lucro relativamente bom e que compensava mais vender do que continuar.

P/2 - E ele vendeu para comerciantes do Vale?

R – Vendeu para uma empresa do Vale. Todas elas, menos Caçapava. Caçapava nós continuamos lá ainda durante muito tempo.

P/2 - Ah, continuou só com a loja de Caçapava?

R – Continuamos. Aí era móveis. Eletrodoméstico e alguma coisa.

P/2 - Mas chamava Eletrolar ainda?

R – Isso.

P/2 - E aí continuou com a loja por quanto tempo ainda?

R – Ah, nós ficamos com a loja eu acho que mais uns 10 anos, por aí. É, então é um modismo. Hoje se inventar aí um, hoje é o telefone, é o celular. Mas esse é o que mais está vendendo hoje é o celular.

P/1 – O eletrodoméstico também foi um modismo dos anos 60?

R – Foi. Foi também. Porque na época quem não tinha geladeira comprava geladeira. Sofá-cama, sofá-cama, né? Então essas coisas. O óculos por exemplo foi um modismo, né? Além da necessidade de se manter uma visualização das coisas ele tem um certo performance, tem uma certa classe no óculos. Tem um óculos diferente do outro. tem pessoas que têm dois, três, quatro tipos diferentes de óculos. Como foi a caneta. Nós tivemos pessoas que tinham várias canetas. Caneta Parker, caneta Sheaffer. Hoje nós temos outras marcas. E talvez até melhores que as outras. E surgiram aí outras, esferográficas, né? Então eu acho que tudo vai de um modismo também. E quem logicamente se beneficia disso e tem a sorte de se envolver em um processo desse de venda corre o risco de ficar rico. Ou o caso do carnezinho, né? E de outras coisas que o pessoal tem preferência. Não é verdade? Por uma questão de sorteio, ou a pessoa vai ali em busca de um encantamento, de um sorteio, ou do produto mesmo, ou compra para pagar a prestação. Então esse favorecimento existe hoje de, vamos dizer de 55 para cá. O que não tinha. A pessoa para comprar um produto, uma geladeira tinha que ter muito dinheiro. E com esse financiamento a coisa prosperou. Deu oportunidade para mais pessoas e uma condição de saúde. Porque na verdade a geladeira substituiu a gordura de porco, que era colocada a carne lá dentro dessa vasilha e jogava uma gordura. Aquilo ficava, funcionava como geladeira. E depois saiu o fogão a gás, como era o fogão elétrico, o fogão a carvão. O fogão a gás de querosene, o fogão a gasolina, fogão a gás e assim por diante. É o modernismo. As coisas vão se modernizando. Na época fez a estrada velha, que era a estrada de terra. Se falava: “Olha, passou um automóvel aí a 60 quilômetros por hora.” Então era, 60 quilômetros era para nós garotos era uma fabula. Pô, o carro andou 60 quilômetros. Hoje eu acho que se andar a 60 quilômetros a gente vai receber uma porção de adjetivo na estrada, né? (risos) E então são essas coisas. Hoje o carro está mais fraco na lataria, mas ele está mais rápido. Então nós pegamos um carro que anda aí a 140 ou 160 com uma faculdade muito grande.

P/2 - E tanto anos no comércio, o seu pai e o senhor de quais atividades no setor do sindicato ou da associação, tinha essa relação com o sindicato do comércio? Já existia? Quando começou a existir?

R – Não, o sindicato é uma coisa nova aí. A associação já é antiga. A Associação Comercial e Industrial de Caçapava já existia. Papai participou. Foi sócio lá, foi colaborador durante muito tempo.

P/2 - Desde quando, o senhor lembra?

R – Não tenho idéia. Mas ele participou de várias coisas da comunidade, da sociedade. Foi fundador de instituições. Então foi uma pessoa que viveu intensamente na sua cidade, na sua família, no seu comércio. Foi um, a gente fala assim que é um homem de sete instrumentos, né? Que ele toca todos os instrumentos: piano, sax, violino, pistão e etc. E ele no comércio tocou os sete instrumentos. Porque ele mexeu com posto de gasolina, com cinema, com engarrafamento de vinho, de pinga, de álcool. Trabalhou com petróleo, trabalhou com transporte. Quer dizer, teve uma gama de coisas dado à criatividade. Ou sei lá, esse diz que o tino que tinha para o próprio comércio, né? Teve bar, teve restaurante. Então essas coisas todas formam um mundo. E a gente aprendeu muito. Porque a gente está sempre envolvido ali segurando na barra da calça mas está participando de tudo. Pelo menos visualizando e aprendendo. Eu hoje estava lá no meio de pessoas – que eu estou fazendo governo itinerante – e a senhora: “Prefeito, o que o senhor está fazendo aí?” E tinha um monte de cachorro lá na praça. E o cachorro estava lá perto da gente. Eu falei assim: “Ah, eu estou aqui jogado para os cachorros aqui.” (riso) Mas falei isso com um carinho muito grande. Porque ela veio: “Ah, eu quero ficar aí com o senhor.” E ficou lá. Então essa afetividade que o meu pai transmitiu pelas coisas que ele aprendeu também e nos ensinou a gente carrega até hoje.

P/1 – O fato do senhor ter sido comerciante ajuda na política, seu Adilson?

R – Sim, ajuda.

P/1 – Por que é que ajuda?

R – Ajuda porque o tato das coisas e o trato que a gente tem. Existem dois tipos de educação, né? A gente fala sempre isso: educação berço, que é aquilo que a gente aprende na nossa casa, na cultura familiar. E a outra a educação escola, que a gente aprende na escola. Tanto coisa boa como coisa ruim a gente aprende na escola. Hoje graças a Deus está parando aquele negócio de escrever em banheiro, né? Mas da época que eu viajava na Dutra, ô, tinha coisas horrorosas escrito lá. porque era o comportamento da população era aquilo. A incultura, né? Hoje não, hoje os banheiros, os bares, o cotidiano da gente melhorou muito. Tanto é que o pessoal está vivendo mais. Se fosse em uma outra época eu acho que eu já tinha morrido. Que eu tenho 64 anos. Então quando eu era garoto falou assim: “Nossa, morreu uma pessoa com 50 anos.” Então os meus amiguinhos falavam: “Ah, 50 anos também já viveu bastante, né?” (risos) Então, a gente hoje está com 64. e hoje a gente já vê que mudou um pouco o filme. O pessoal fala assim: “Não, olha, a longevidade hoje está mais presente. O pessoal está vivendo mais.” Está vivendo mais e melhor.

P/1 – E o comerciante ele tem que ter então, no seu entendimento, uma coisa a mais para perceber outras coisas?

R – Tem. Além dessa duas educações ele tem que ter o tino, né? Porque não adianta, tem pessoas que, por exemplo eu estava lendo um livro essa semana sobre doutor Osvaldo Cruz. Que nasceu aqui em São Luis. Foi um gênio, foi um médico sanitarista de primeira grandeza. Nobre, digno, trabalhador e honesto. E a gente deve muito a ele. Mas ele na verdade gostaria de ser fotografo. Então a gente viu isso no livro. Então veja, ele viver em uma situação para que ele foi educado, para que ele foi endereçado mas ele só se completou quando ele fez um curso de fotografia. Que para ele aquilo não era nada. E hoje a gente vê que a maioria das pessoas que se formam como mestre, como professor, como pedagogo ele não deixa a profissão. É a classe que mais fidelidade tem pela profissionalização. Ele se forma professor ele fica o resto da vida como professor. No entanto nós temos aí advogados que são advogados mas que exercem função de motorista, de consultor, de comerciante e assim por diante. A abrangência de conhecimento é infinita. A gente está sempre aprendendo. E o comerciante tem uma gama porque ele conversa mais com mais pessoas durante o dia. Então às vezes ele ensina, às vezes ele aprende. E ele, e o objetivo do comerciante além da satisfação do cliente, do freguês, do comprador ele tem logicamente o lucro. E aquilo é envolvente, é apaixonante. Quanto mais a pessoa ganha mais ele vai ficando enriquecido intimamente e financeiramente. E vai aprendendo. Então é uma paixão. Como é o motorista de caminhão, como é o professor, como é o fotógrafo e como é o próprio político. Que é dito aí popular que “quem faz aquilo que gosta faz melhor”.

P/1 – Eu só queria voltar uma coisa, quando o senhor era criança ou adolescente, quem fazia as compras da casa era a sua mãe? De roupa...

R – Sim.

P/1 - ...enfim. E ela achava tudo o que vocês precisavam em Caçapava? Ela não precisava sair?

R – Não, não. houve época que não. que logicamente é aquilo que eu te falei, hoje existe o modismo, hoje é o telefone celular. Eu acho que está em primeiro lugar. E na época era o terninho. Além do brinquedo que a gente tinha. E que não eram todas as pessoas que tinham brinquedo, porque existia uma diferença muito grande de qualidade de vida, de oportunidade também financeira, nós íamos à São Paulo. Eu me lembro que eu ganhava alguns terninhos de calça curta que era comprado naquela casa José Silva. E que eu comprava isso lá, ela comprava e eu ganhava um estojo para levar na escola. Isso eu não esqueci mais. Porque era a cidade que oferecia mais.

P/1 – Mas com o tempo isso foi mudando? Aí já foi tendo de tudo em...

R – Foi, foi porque o próprio comércio nosso. Hoje por exemplo nós tínhamos, nós tivemos na antiga venda, que era o armazém, que era o varejão nós chegamos a ter isso. Que era a Cerealista Brasil, nossa. Trabalhamos com outros mercados e tudo. E eu cheguei a vender sabão na porta quando era garotinho. Para aprender. Papai queria que a gente ficasse rápido de raciocínio para vender, para aprender, para atender as pessoas. para ter um contato com a população. E a gente percebeu que nessas idas que nós tínhamos à São Paulo, cada vez que a gente ia lá, embora a idade ainda pequena, mas a gente percebia o desenvolvimento da cidade. Percebia que a cidade estava caminhando. E Caçapava não era diferente das outras. Ela também à medida que foi tendo o mercado de alimentação o abastecimento da cidade ele vai acompanhando logicamente os passos de desenvolvimento. Nós tivemos agora a vinda do supermercado Pão de Açúcar para Caçapava. Tivemos o supermercado Simpatia. Tivemos o Boaventura. Tivemos agora, a pouco tempo, o Champion. E vamos inaugurar sexta-feira o Dia, que é outro supermercado. Temos lá em baixo um outro supermercado. E a cidade está se desenvolvendo por causa da demanda. Então a procura está fazendo com que essas grandes lojas vão para lá.

P/1 – E o senhor lembra além da, é lógico da loja do seu pai, alguma outra loja que se destacava em Caçapava, no comércio de Caçapava? Por exemplo, tecido se comprava aonde?

R – Então, em Caçapava sempre teve tecido.

P/1 – Então, mas que loja existia que marcava mais?

R – A Brasileira. Nós tivemos a Brasileira, tivemos a Lojas Teci, tivemos a Casas Farat. Tivemos a loja Cisne e outras. Que a gente vai levantar isso na cidade toda.

P/1 – Hum, hum. O senhor faz compras prefeito?

R – Faço.

P/1 – Para o senhor, para a sua família?

R – Faço. Eu mesmo que vou ao supermercado.

P/1 – E compras pessoais? Roupas essas coisas o senhor compra também.

R – Também.

P/1 – O senhor gosta de fazer compra?

R – Gosto. Eu adoro supermercado.

P/1 – Que bom. (riso) E o senhor casou em que ano prefeito?

R – Casei em 65. Namorei 10 anos.

P/1 – O senhor conheceu a sua esposa aonde?

R – Eu conheci ela era noiva. Teve um trabalhão. Mas eu consegui pegá-la.

P/1 – Lá em Caçapava mesmo?

R – É. Eu fui em, eu tive que conquistá-la primeiro, né? (riso)

P/1 – O senhor olhou para ela e gostou?

R – É.

P/1 – Aí descobriu que ela era noiva depois?

R – Isso, namoro a gente começa de repente. Depois aí com a continuidade dos olhos, da observação a gente vai gostando ou não. Vai brotando o interesse. E depois desse interesse que levou uns três anos mais ou menos eu a namorei durante 10 anos. Eu casei em 65. Do casamento eu tenho três filhas. Tem um que é o mais velho José Francisco, formado em Oceanologia. Se formou, fez mestrado. Fez extensão. Preparou tese para doutorado e hoje ele está fazendo, passou para o quarto ano de Medicina. Não quis, na época não ofereceu muita Possibilidade para ele na Oceanologia. Tenho a menina que é fonoaudióloga casada com um oficial da Marinha. E tenho o caçula que se formou fez o segundo grau. Ia entrar na faculdade mas resolveu ser piloto de helicóptero. Está fazendo um curso no Campo de Marte, deve se formar ano que vem.

P/1 – O casamento foi em Caçapava, o seu?

R – Foi em Caçapava.

P/1 – Foi bonito?

R – Foi bonito.

P/1 – E a sua noiva, como é que ela chama a sua esposa?

R – Elenice.

P/1 – Elenice, na época a usa noiva ela fez o enxoval comprando as peças em Caçapava ou ela foi comprar fora?

R – Fez. Comprou tudo em Caçapava.

P/1 – Comprou tudo em Caçapava. O vestido de noiva fez lá também?

R – É, naquele tempo tinha os malões, né, aquela canastra. Que o pessoal fazia enxoval durante anos, né, ia comprando as peças e tudo. Hoje a coisa ficou diferente, porque primeiro as coisas mudam hoje muito rápido. Os costumes mudam. Então aquilo que hoje está na moda, daqui a 2, 3, 4 anos não está mais. Está fora de moda, né? E existe aquele trabalho artesanal que hoje existe mas muito pouco. Que é a parte de acabamento da roupa, do bordado, etc.

P/1 – E o senhor, o que é que o senhor acha do Sesc estar fazendo um trabalho como esse de recuperação da história do comércio?

R – Acho muito bom. Porque isso daí vai botar um interesse muito grande das pessoas, dos estudiosos, das pessoas que querem aprender. E tem interesse pela história. Isso a senhora sabe que é uma cachaça, né? Querer saber as coisas. É mais ou menos aquela pessoa que coleciona. Então o colecionador, o cego, a pessoa que ama e a pessoa que gosta tem mais visão e mais sensibilidade...

(Fim do CD 01)

R - ...do que as outras pessoas. O cego consegue detectar filigrana de uma nota ou de um selo que a gente não consegue. Mesmo sem olhar. Ele percebe aquilo. E a pessoa que ama olha com outros olhos. Com olhos de observador. Das coisas que estão, a delicadeza do taco, o verniz das coisas, a porta. O acabamento do granito, da madeira, etc. E o colecionador é a pessoa que tem além de uma afeição pelas coisas, pela arquitetura, ele tem também uma profundidade de experiência. Ele pega, eu sempre digo que existem vários martelos, cada um para bater um tipo de prego. Nós não podemos de maneira nenhuma bater um martelo para colocar um vidro em um automóvel – que é colocado com martelo de borracha – com martelo de ferro. Se não a gente quebra o vidro. E um preguinho que nós vamos colocar em um quadro, em uma gravura tem que ser um martelo especial. Tem que ser um martelinho muito fino, etc. Existe uma diferença muito grande. Eu não consigo detectar mas existe. Veja, nesse eu consigo descobrir. O marceneiro é aquele que faz isso. o carpinteiro é aquele que faz o telhado. Então se nós colocarmos um cara que faz o telhado para fazer esse móvel vai ser um desastre. E se nós colocarmos esse para fazer o telhado vai ser um desastre também. Porque ele vai querer moldar aquilo de maneira do embelezamento. Então eu acho que tudo tem a sua função. E eu quando olhei para essa moça eu olhei com olhos de um marceneiro, né? (riso) E de um cego que queria detectar tudo que ela pudesse me oferecer, a gente está junto a tanto tempo. E esses filhos são nossos, né? Nós temos tido muita felicidade. A gente tem até medo de ficar falando isso porque a gente sai aí na rua está arriscado a ter um mal súbito. Mas nós fomos muito felizes. Somos, né? E existe uma coisa que infelizmente está acontecendo que é a desintegração da família. Que a medida que o tempo passa, não sei se por modismo ou por sei lá, por vaidade ou por outros interesses mas está, a coisa está complicando. E a medida que passa a velocidade é maior.

P/1 – É Verdade. Então agradecemos.

R – Eu falei muito, eihn?

P/1 – Não, não falou.