P/1 - Dona Aninha, vamos começar. Qual é o seu nome completo, data e local de nascimento, por favor?
R - Aninha Back, eu nasci no dia 26 de agosto de 1941, em Salete, Santa Catarina.
P/1 - O nome do pai e da mãe da senhora?
R - Eu sou filha de (Vendelino?) e Paulina Back?
P/1 - O local de nascimento deles?
R - Braço do Norte, lá no sul do estado, Santa Catarina também.
P/1 - Os dois nasceram na mesma cidade?
R - Os dois nasceram na mesma cidade. Isso.
P/1 - E como era a família do pai da senhora, da mãe?
R - Olha, a família do pai e da mãe eu não conheci quase nada porque sou a penúltima da família. Só conheci a mãe do meu pai, mas muito pouco, se chamava Amália. Então, não tive muito relacionamento com os meus avós. Não tive essa alegria na vida, de conviver com os avós. Pelo fato de a gente estar longe, porque antes de eu nascer eles já foram morar perto de Salete, primeiro Brusque, depois Salete, então eu não tive assim... Com alguns tios, tive envolvimento um pouquinho.
P/1 - Tem irmãos, quantos?
R - Comigo somos em dez, cinco já falecidos e cinco ainda estamos bem vivos.
P/1 - A senhora lembra da rua, do bairro que a senhora morava, na casa da infância da senhora?
R - Onde eu nasci mesmo que pertencia a Salete, se chamava, nem bairro se chamava aquele tempo, era (Riovildre?). Então não tinha nome de rua, foi em 1941, não tinha nome de rua.
P/1 - E a senhora lembra da casa?
R - Ah, da casa eu lembro.
P/1 - Como era?
R - Mais da segunda casa onde eu... Há uma casa nossa na, eu nasci numa família assim muito religiosa, muito unida, mas muito pobre, meu pai e minha mãe lutaram muito pra sobrevivência, pra poder nos dar escola e tudo mais, lutaram muito. Então, lembro dos meus primeiros cinco anos que a gente passou até fome, um pouco de fome, comia aquela... Hoje em dia não se escuta mais falar nisso, mais era café com farinha, mas foram indo. Meu pai trabalhava com terras, com lavoura e com...
Continuar leituraP/1 - Dona Aninha, vamos começar. Qual é o seu nome completo, data e local de nascimento, por favor?
R - Aninha Back, eu nasci no dia 26 de agosto de 1941, em Salete, Santa Catarina.
P/1 - O nome do pai e da mãe da senhora?
R - Eu sou filha de (Vendelino?) e Paulina Back?
P/1 - O local de nascimento deles?
R - Braço do Norte, lá no sul do estado, Santa Catarina também.
P/1 - Os dois nasceram na mesma cidade?
R - Os dois nasceram na mesma cidade. Isso.
P/1 - E como era a família do pai da senhora, da mãe?
R - Olha, a família do pai e da mãe eu não conheci quase nada porque sou a penúltima da família. Só conheci a mãe do meu pai, mas muito pouco, se chamava Amália. Então, não tive muito relacionamento com os meus avós. Não tive essa alegria na vida, de conviver com os avós. Pelo fato de a gente estar longe, porque antes de eu nascer eles já foram morar perto de Salete, primeiro Brusque, depois Salete, então eu não tive assim... Com alguns tios, tive envolvimento um pouquinho.
P/1 - Tem irmãos, quantos?
R - Comigo somos em dez, cinco já falecidos e cinco ainda estamos bem vivos.
P/1 - A senhora lembra da rua, do bairro que a senhora morava, na casa da infância da senhora?
R - Onde eu nasci mesmo que pertencia a Salete, se chamava, nem bairro se chamava aquele tempo, era (Riovildre?). Então não tinha nome de rua, foi em 1941, não tinha nome de rua.
P/1 - E a senhora lembra da casa?
R - Ah, da casa eu lembro.
P/1 - Como era?
R - Mais da segunda casa onde eu... Há uma casa nossa na, eu nasci numa família assim muito religiosa, muito unida, mas muito pobre, meu pai e minha mãe lutaram muito pra sobrevivência, pra poder nos dar escola e tudo mais, lutaram muito. Então, lembro dos meus primeiros cinco anos que a gente passou até fome, um pouco de fome, comia aquela... Hoje em dia não se escuta mais falar nisso, mais era café com farinha, mas foram indo. Meu pai trabalhava com terras, com lavoura e com serraria, coisas de madeira, mas não sei porque não teve assim muita sorte, acho na questão administrativa, né? Então, nós somos uma família que lutamos bastante, passamos necessidade nos meus primeiros anos que eu lembro, e depois a gente foi indo, tinha o necessário pra viver, estudamos em escolas pública. Muito religiosos, meus pais eram até severos demais pro tempo de agora quando eu penso, mas uma família assim muito unida, muito junto.
P/1 - Os irmãos eram todos muito unidos?
R - Sim, bastante.
P/1 - Brincavam muito, quais eram as brincadeiras?
R - Ah, brincadeiras mais assim com bonecas, no tempo, que eu lembro. E três dos meus irmãos passaram um tempo no seminário, então uma das coisas que me gravou do tempo de criança é que quando eles voltavam de férias, a gente sentava em cima das toras de madeira e cantava (a vozes?). Aquilo foi uma cena muito bonita que eu gravei, todos na minha casa têm voz muito boa pra canto, todos nós, o pai e a mãe também tinham, né?
P/1 - Então todos e cantavam?
R - É. A gente juntava e cantava, a vozes, porque todos sabiam cantar e assim era uma cena muito bonita. Mas brincava assim de casinha, de boneca, essas coisas assim, não tinha muitos brinquedos, a gente sempre foi...
P/1 - E como era o dia-a-dia da casa, era movimentado, tinha muita________?
R - Não. O trabalho era na roça, na serraria, e eu, desde pequena, sempre gostava muito de cuidar da casa, da limpeza da casa. Como meu pai tinha serraria, então eu buscava a serragem que era colorida, porque cada tipo de madeira tem uma serragem, eu colocava na frente da casa, assim tipo tapete, alguma coisa assim, eu gostava de deixar bonito, né?
P/1 - Fazia isso (na frente da casa?)?
R - É. Fazia isso. Já desde criança, sempre cuidei bastante da casa.
P/1 - E o que a senhora lembra da casa, da (sua infância?)?
R - Ah, eu lembro da sala grande, eu lembro dos quartos com aquelas cobertas de penas, lembro da mesa grande onde a gente sentava pra tomar as refeições, lembro da oração do terço que a gente fazia juntos, lembro das missas que a gente ia junto, era quase como que obrigado todo mundo a ir para a igreja, né? E aos seis anos eu já fui pra escola. Na escola também sempre me dei muito bem, graças a Deus, sempre aprendia bem. Mas uma das casas que eu lembro mais, era sala bem ampla, simples, com o chão com aquelas frestinhas até, mas tudo muito bem ajeitadinho, sempre muito limpo, muito agradável.
P/1 - E os irmãos ajudavam a arrumar, ajudavam a mãe?
R - Os irmãos, os que tão acima de mim, não eram muito de cuidar da limpeza como eu gostava, hoje em dia (falo bastante?), xingava muito com eles (riso). Quando eu tinha tudo (arrumado), eles chegavam e bagunçavam, que é normal, meninos, né? Mas era coisa passageira, nunca tive uma briga que eu lembre, não me marcou nenhuma briga, só lembro que eu gostava de tudo arrumadinho e eles, às vezes, não...
P/1 - A diferença de idade era grande, como foi a adolescência assim com todo mundo?
R - A diferença de idade entre nós irmãos é dois anos, dois anos e um mês...
P/1 - Não era muito grande...
R - Um ano e nove meses, a base de dois anos, a diferença, de um e de outro. E aos 13 anos, fui pra um colégio, sai de casa. Eu também já era a penúltima, meus irmãos, alguns, já estavam casados, então eu vivi a minha adolescência no colégio de irmãos, lá em Rodeio, Santa Catarina.
P/1 - E a senhora começou a estudar aos seis anos, a senhora falou.
R - É, aos seis anos na escola primária, né?
P/1 - E a senhora se recorda da escola, como eram os professores?
R - Recordo. Era a escola lá de (Riovildre?), eram irmãs, as professoras. Nossa, pra mim, era uma alegria chegar na escola, gostava muito. Às vezes, eu ia lá na casa delas, eu lembro bem da escola, do lugar, tudo.
P/1 - Usava uniforme, a senhora lembra do uniforme?
R - Usava. Branco e azul. Blusa branca e sainha azul. Usava uniforme, era exigido pelo governo, naquele tempo.
P/1 - E ai foi pra um colégio...
R - Daí eu formei até a quarta série, fiquei mais uns dois anos em casa, e daí, fui para um colégio onde comecei a estudar a quinta série, que, naquele tempo, chamava ensino fundamental ou quinta a oitava série...
P/1 - Ginásio?
R - Isso mesmo, ginásio. Fiz todo o ginásio, daí fiz a preparação pra ser religiosa que tinha os anos de preparação também pra isso, né? Parei os estudos pra fazer essa outra preparação mais de acordo com a congregação, que é uma congregação de irmãs que trabalha com o povo, foi fundada pra atender as crianças em lugares pobres e moravam com o povo, no começo. Depois nós tínhamos a nossa casa, mas que o povo cedia pra nós. Então a gente morava naquela casa, mas não era nossa, e trabalhava em escola pública, aquilo era pra sustento nosso e também da congregação.
P/1 - Essa escola veio depois do colégio, esse curso?
R - Ah sim, quando eu me formei, quer dizer, eu estudei o ginásio e daí eu fiz mais três anos de estudos só da congregação, daí eu me formei de irmã. Naquele tempo tinha hábito, tudo. E daí eu comecei logo a trabalhar em escola pública, que era o nosso carisma...
P/1 - A senhora usava o hábito?
R - É, usei quatro anos o hábito, depois veio liberdade pra tirar quem queria e eu tirei logo. Gostava muito de recitar poesias no tempo de colégio, fazer teatro, foi coisas que me marcou no colégio, teatro, poesia e canto.
P/1 - E ele era como um internato?
R - Era internato, saia de férias em janeiro.
P/1 - Ai só nas férias ia pra casa?
R - Só nas férias e ficava o ano todo fora de casa.
P/1 - E essa volta nas férias era bom assim?
R - Era uma coisa super esperada. Nossa! Uma das alegrias que eu lembro como criança é quando meus irmãos vinham do seminário de férias, era uma festa, era uma alegria mesmo a chegada, e assim quando eu chegava também, né?
P/1 - Eram muito unidos mesmo...
R - Muito. É.
P/1 - E a lembrança mais marcante desse período de escola todo do…
R - Do trabalho com crianças?
P/1 - É, desse período todo de estudo, desde o comecinho até o internato, tem alguma lembrança marcante assim?
R - A lembrança que eu tenho do tempo de colégio é aquilo que eu já falei de participar de muita coisa cultural. Eu aprendi muito no colégio e aquela alegria, por exemplo, de ir para casa, a amizade que a gente formava entre o grupo, todas adolescentes. Daí teve um ano que eu parei o estudo pra ir ajudar uma outra casa de irmãs que tava precisando de alguém que desse aula. Então já fui lá dar aulas. E eu gostava muito de crianças e o relacionamento com criança sempre foi uma coisa muito agradável, gostava, fora da sala de aula, “Tchau!” e assim muito, não se limitava à sala de aula, né?
P/1 - E ai formou-se professora?
R - É, daí eu me formei irmã, mas como a nossa congregação trabalhava em escolas públicas, automaticamente, fui trabalhar como professora em escola pública. Isso por 25 anos, em quatro lugares diferentes.
P/1 - E ai começou a trabalhar?
R - É.
P/1 - Com que idade a senhora começou a trabalhar?
R - Eu comecei a trabalhar com 23 anos.
P/1 - E o primeiro emprego a senhora lembra?
R - Foi de professora. Foi num lugar assim bem no interior, se chamava Pombinhas, e lá eu comecei a dar aula, quer dizer como formada já, porque eu já tinha feito experiência como estudante, mas lá fiquei só dois anos, daí eu fui pra outro lugar, fiquei mais dois anos. E depois voltei para um terceiro, onde fiquei 10 anos, que foi Nova Trento. Lá aconteceram muitas coisas bonitas. A gente primeiro morava num casarão, depois construíram uma casa bonita pra nós irmãs que estávamos lá. Lá eu fazia muito coralzinho com as crianças, danças com as crianças, festinhas, né?
P/1 - Em Nova Trento?
R - Em Nova Trento.
P/1 - Na escola pública?
R - Escola pública. A gente ensinava de tudo pra eles, até um parque infantil nós conseguimos construir naquele ano, nesse lugar, em Nova Trento. Graças a Deus, Deus sempre me deu muita vontade de querer fazer as coisas, isso é dom de Deus, é claro, o dom Deus dá e a gente tem que saber responder e saber produzir também. Mas eu sempre tive essa vontade de ajudar e corria atrás e fazia passeio com as crianças do primário na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Hoje em dia, quando lembro da coragem de fazer isso...
P/1 - Como a senhora ia, como eram essas viagens?
R - De ônibus, em Florianópolis tinha um colégio de jesuítas que eu podia deixar as crianças lá, assim para ir no banheiro, coisa assim, daí íamos pra lagoa, fazíamos um passeio de barco, a gente voltava lá e voltava pra casa, era perto.
P/1 - E a criançada adorava?
R - Adorava. A criançada adorava os passeios.
P/2 - Era perto?
R - É, dava hora e meia. Mas foram passeios muito bonitos, eu gostava muito de trabalhar com crianças.
P/2 - E ai senhora foi dar aula em outras escolas lá mesmo?
R - Sempre em escolas públicas. Trabalhando, às vezes, só como professora. Às vezes, como professora e diretora. Porque em escolas pequenas não tinha uma só diretora, até 1980. Daí, em 1980, fui pra uma escola pública também que era um colégio estadual, onde trabalhei, primeiro, como auxiliar de direção e, depois, como secretária...
P/1 - Sempre em Santa Catarina?
R - É, sempre em Santa Catarina. Daí lá eu não fui professora de sala de aula, eu trabalhava na parte administrativa.
P/2 - Administrava mesmo?
R - É, isso porque comecei a sentir um pouquinho o peso do trabalho com crianças, não tinha mais muita paciência como tinha no começo. Daí pedi pra pegar um outro trabalho no colégio, que não fosse direto na sala de aula.
P/1 - Mas no colégio mesmo?
R - É.
P/1 - E em que ano começou a trabalhar com a Natura, como que a Natura surgiu?
R - Ah, antes de começar com a Natura, teve a vinda pra São Paulo...
P/1 - A senhora veio pra cá. Conta um pouquinho disso como foi essa vinda?
R - Em 1987, por causa de mudança política, eu fui exonerada do meu cargo de secretária, que era cargo de confiança, mudou o partido, ai sempre mudava, né, e como eu já podia me aposentar, encaminhei a minha aposentadoria, naquela ocasião. E a minha grande preocupação era assim, eu era religiosa, irmã, tinha que obedecer as ordens, no caso do conselho, da madre, tudo, e eu percebi que irmãs aposentadas não eram muito felizes. Um ano estavam num lugar, um ano estavam em outro lugar, e eu não queria isso pra mim, daí eu comecei assim a pensar no que eu poderia fazer. Daí, em agosto de 1987, no mês do meu aniversário, eu me dei o presente de falar com a madre, eu disse: “Olha, eu vou me aposentar, mas eu quero fazer uma experiência diferente. Eu quero ficar três anos fora da congregação e eu vou tentar uma paróquia, um lugar pra eu trabalhar pra ganhar o meu sustento, embora já ia ser aposentada também, mas eu quero fazer um trabalho diferente.” Ai ela me respondeu: “Olha, você tem esse direito, não posso negar.” E daí que eu vim conversar com aquele casal, aqui em São Paulo, eu coloquei essa minha intenção pra eles, e eles me levaram nessa paróquia aqui em São Paulo, pra ver se eles me aceitavam trabalhar ali, se me davam moradia, né? E eu fui muito bem acolhida, graças a Deus. Embora que a pessoa quase, bem dizer, nem me viu, uma vez no curso só, mas aceitou e eu vim em fevereiro de 1988, já no ano seguinte.
P/1 - Que paróquia era?
R - Nossa Senhora das Dores, perto do Museu Ipiranga. E lá eu fiquei trabalhando seis anos como secretária na paróquia, e quatro anos morando com eles, com o grupo de seminaristas e os padres da paróquia. Eu tinha moradia, isso foi combinado quando eu fui. Daí comecei já ver compra de apartamento, durante esse tempo, e em 1994, depois de completar seis anos, pedi pra sair desse trabalho, não porque não precisasse ou porque não gostava, porque teve alguns probleminhas de relacionamento com mudanças também de pessoas e eu achei que não ia me sentir bem lá. Daí eu pedi pra sair, mas em São Paulo foi um dos maiores sofrimentos meus, ficar desempregada, mesmo tendo pedido, porque daí eu vivi aquela experiência, de depois dos 40 você procurar emprego e ninguém mais, parece que não esperam mais nada desse tipo de gente. Daí eu ia num lugar, fazia entrevista, “Ah, depois a gente liga”. Aí, ia em outro lugar, chegava numa sala cheia de gente, tudo gentinha nova, e eu ia lá preencher. Quando chegou um dia, eu cheguei em casa, chorava muito, daí eu disse: “Não, não vou mais fazer isso. Chega”. Peguei jornais e foi onde encontrei na rua Riachuelo, a possibilidade de você comprar produtos e revender, nunca tinha vendido nada, absolutamente nada, a não ser as coisinhas lá como secretária de igreja, velas e essas coisas, mas muito pouco. E também não usava muito produto, usava alguma coisa, mas muito pouco. E daí eu fui lá buscar esses produtos, olhei, não entendia nem muito bem pra que eles serviam, porque também eles não tinham essa assessoria, eles queriam que alguém vendesse, né?
P/1 - Cosméticos, não era pra Natura ainda?
R - Cosméticos e bijuteria. Eu ofereci lá no prédio, já morava no prédio, no apartamento que eu comprei, e eu fui oferecer pra um casal muito amigo do prédio, e eles, acho assim por carinho, por amizade, compraram bastante, eu fiquei super feliz. Nossa! O zelador também comprou, ofereci mais no prédio. Mas ai o dono da casa disse assim: “Aninha, se você precisa vender alguma coisa para ganhar uma renda financeira, então vende Natura que é produto bom, e nós vamos ser os seus primeiros clientes.” Eles se chamam João e Cida, hoje eles não moram mais lá no prédio, mas a gente se conversa por telefone. E pagaram o kit de entrada, fizeram questão de pagar o kit de entrada, e daí me deram uma embalagem com o telefone e eu liguei pra Natura, e a promotora demorou uns 15 dias pra vir lá em casa, que eu tenho um carinho muito grande por ela, pena que eu não tenho nenhuma foto pra colocar nesse meu trabalho porque ela merecia estar, se chama Regina, Maria Regina Dobra, sei até ai. E ela me incentivou muito. Daí, quando ela disse assim: “Olha, pra fazer pedido tem que ter 100 pontos.” Eu disse: “100 pontos Regina? Imagina se vou fazer 100 pontos.” E ela respondeu assim pra mim: “Você vai fazer isso e muito mais.” E eu topei. Entrei, fui fazer o cursinho pra aprender, comecei a participar das reuniões e isso foi agosto de 1994. Quando chegou o natal, tinha todos aqueles estojos, foi a minha experiência mais sofrida na Natura. E eu não tive coragem de comprar antes, medo de não vender. Fui primeiro oferecendo pra um, pra outro, e quando eu tinha toda a minha lista de estojos, eu fui pedir na Natura, não tinha mais nenhum. Daí eu tava com visita em casa, eu liguei pra essa promotora, pra Regina, e disse: “Regina, eu tenho um monte de estojos que eu preciso vender, que as pessoas me pediram e não tem mais nada na Natura.” Daí primeiro ela me puxou a orelha por telefone, ela disse: “Eu te avisei Aninha, eu disse pra você comprar antes, você não teve coragem.” Eu disse: “Mas, é o meu primeiro ano.” Daí disse: “Mas, eu vou te ajudar”. Ela me deu o nome de uma consultora que tinha estoque, eu fui lá e eu não ganhei quase lucro nenhum, porque daí a pessoa já passava com menos comissão. Mas atendi todas as minhas clientes, e ainda levei um presente pra consultora que me arrumou os estojos. Quando vi aquilo, eu pensei “Ah tá! Tudo a gente tem que aprender o que acontece, né?”. Daí, em janeiro, isso aconteceu em dezembro, eu tirei um pouquinho de dinheiro da poupança e comecei a fazer um pequeno estoque, fui fazendo estoque. E, no final daquele segundo ano, eu entrei em 1994, 1995 eu já fui pro jantar, já tava entre as dez primeiras. Foi assim, o que valeu muito eu ter coragem de entrar nesse trabalho, porque, no começo, eu ia assim, a pé ou de ônibus, com a sacola com os produtos, oferecendo primeiro. Mas procurei as pessoas amigas, e daí as pessoas me elogiavam muito: “Você tem jeito Aninha, vai em frente, vai dar certo.” E eu fui acreditando e deu certo mesmo, deu muito certo, muito mais certo do que eu podia imaginar.
P/2 - A senhora lembra da primeira caixa de...
R - Ai lembro. Nossa! É uma emoção. Chega a caixa da Natura na sua casa, tu vai abrir, aquele cheirinho, vou vender produtos de beleza. Daí, comecei a usar também alguma coisa. Vinha os brindes, vinha as amostras, foi assim uma experiência muito bonita. E naquele tempo, claro, como eu nunca tinha vendido nada, nem fazia pedido, não tinha muita experiência, era através da promotora, e daí ela foi ensinando, né?
P/1 - Qual produto marca essa história da senhora com a Natura?
R - Os produtos de tratamento de rosto são os que mais me marcou, porque acho que eu também sentia necessidade, e quando eu ia mostrar os produtos, mostrava essas coisas. Nas reuniões elas incentivavam muito, a pessoa começar a se cuidar, então eu dizia: “Olha gente, se eu tivesse conhecido a Natura antes, não teria nenhuma manchinha porque teria usado o produto (assolar?), então a gente tem que cuidar”. Assim foram as coisas que foram me identificando, o pessoal começou a se simpatizar também, hoje em dia são clientes e são amigas, né?
P/1 - E um produto que tem o jeito da senhora, lembra de um produto que seja?
R - Ai, é perfume.
P/1 - Ah é?
R - É, perfume Biografia. Me marcou muito, Biografia feminino.
P/1 - É?
R - É. Marcou muito. E a linha Chronos, que quando comecei usar pra mim foi, nossa, vou poder começar a usar a linha Chronos, que não é uma linha muito baratinha, né? Mas é uma linha boa, comecei a usar e daí...
P/1 - E vende bem?
R - Sim, vende. Quem começa a usar, dificilmente deixa de usar.
P/1 - E um produto que tem a cara da Natura, qual a senhora acha que seja?
R - Agora é a linha Ekos. Naquele tempo era mais a linha Chronos, mas agora é a linha Ekos, sem dúvida nenhuma. Por causa do trabalho de biodiversidade, essas coisas, né? Então, identifica muito com o jeito da Natura, esse cuidado com o meio ambiente e tudo mais.
P/1 - E o produto mais vendido?
R - Eu vendo mais produtos de tratamento, e depois, perfumes masculinos. Vendo mais do que femininos.
P/1 - E os mais conhecidos quais são?
R - De produtos da Natura, a linha Chronos. Agora, a linha Ekos e a linha de perfumaria. A perfumaria é muito conhecida e muito valorizada.
P/1 - E antes da linha Ekos, quais eram os mais conhecidos?
R - Ah, por exemplo, pra cabelos, tinha a linha Simbios. Antes da Chronos, tinha a linha (Perena?), que ainda cheguei a conhecer. Mas, logo que entrei, começou a linha Chronos, então, a linha Ekos, depois. Mas, as outras coisas já tinham.
P/2 - E os clientes, a senhora tava falando clientes amigos. Como é o trabalho da senhora com os clientes, a captação de novos, a manutenção dos antigos?
R - É, daí no começo eu ia nas casas, fiz a clientela nas casas. No lugar onde eu estou trabalhando hoje, antes de começar trabalhar, fui vender produtos, porque eram pessoas já conhecidas, mas tive dificuldades de ir lá. Uma coisa que me marcou muito é que marcava e não ia, porque eles já me conheciam pelo trabalho de secretária nas paróquias. Parecia que, pelo fato de estar desempregada, não tinha muita abertura pra ir lá, não sabia se eles iam me receber bem. E fui. Me disseram no telefone: “Você não só pode vir, você deve vir”. Aquilo me abriu espaço, todos compraram o dia que fui lá, fiz uma venda excelente.
P/2 - Na paróquia onde a senhora trabalhava?
R - Não, no lugar onde eu trabalho hoje.
P/1 - A senhora não trabalhava lá ainda?
R - Não, ainda não. Eu fui em novembro vender lá, eu comecei em agosto, fui vender só em novembro lá, e depois eu fui trabalhar em fevereiro do ano seguinte.
P/1 - E foi assim que a senhora conheceu o lugar?
R - Não, eu já conhecia porque eu já trabalhava como secretária de paróquia e a gente tinha encontros lá, tinha contato, então eu já conhecia o pessoal quando cheguei lá. Depois, com o tempo, eu fui colocando vendedoras, fui aumentando o meu estoque, quando apareceu a possibilidade de entrar no grupo de empreendedores me convidaram e eu disse sim. A gerente veio lá em casa, a Gisele, eu disse sim. Daí comecei, porque naquele tempo eu vendia muito bem Natura, tava sempre entre primeiro, segundo ou terceiro lugar, geralmente segundo e terceiro, o primeiro era da (Gilsa?), quando nós pertencíamos àquele grupo juntas, né? E vendia bastante bem, então daí, as melhores foram convidadas pra formar esse grupo de empreendedoras. Eu entrei nesse grupo. Ali eu já tinha um estoque bastante grande e já começavam a juntar outras consultoras que não tinham estoque, então já passava produtos. E esse relacionamento com as consultoras que a gente vai trocando produtos é uma coisa muito bonita, porque a gente se torna amigas mesmo, não só na troca de produtos, é uma questão de ajudar mesmo com palavras e coisas assim.
P/2 - E como eram as primeiras clientes assim, a senhora ia visitá-los?
R - Eu ia nas casas, geralmente com mulheres, no começo, e as mulheres compravam também pros homens, mas o contato era com as mulheres, eu ia na casa, daí como era amiga, era cafezinho, era isso, né? E depois, mais tarde, eu já fazia muito por telefone. Hoje em dia, não vou mais nas casas, mas é por problemas de saúde. Não vou mais nas casas mais. A clientela, as clientes e os clientes também ligam e a gente acorda na maneira de eles pegarem os produtos, ou na minha casa mesmo ou na portaria, tem muita gente que vem na minha casa. Tenho um quarto só com os produtos, mandei fazer um armário próprio também.
P/1 - Como a senhora faz a entrega agora?
R - Agora eles vem pegar na minha casa ou eu deixo na portaria do meu prédio e eles pegam, daí faz o pagamento direto na conta e lá no serviço eu levo muita coisa de gente que compra lá, e que eu ainda tenho umas três vendedoras lá no serviço. Como é lá mesmo, então quando tenho a sacola grande, eles vêm me pegar e eu levo, senão, deixei as vendedoras. Ali que entra a história da minha sobrinha, porque ela vendia para mim no Hospital Jaraguá, que ela trabalha no Hospital Jaraguá, em Moema, né? E incentivei pra ela começar a vender Natura. Ela, como eu também, nunca tinha vendido, mas começou a vender e no hospital ela vendia muito bem. E quando apareceu um problema de saúde, eu não tinha mais condições de ir de ônibus levar lá pra ela, era sempre a noite porque ela trabalha de plantão, daí eu disse: “Vitória, vou te indicar pra vender direto com a Natura.” , “Ai, será? E depois tem que pagar as contas em dia e tal.” Dai eu disse: “Não, mas você vai dar conta, você vende bem e você vai ver que você vai ganhar mais lucro.” E coloquei, e eu lembro bem que quando indiquei, o Pedro Vilares mandou uma cartinha agradecendo e eu respondi pra eles dizendo: “Vocês vão ter orgulho da minha sobrinha.” E ele respondeu de novo, porque o relacionamento com a Natura tenho muita facilidade por causa da Internet, então, sou bastante conhecida. E ela entrou já fazem três, quatro anos, e tá sempre entre as dez primeiras, vai muito bem mesmo.
P/2 - Dona Aninha, vamos retomar aqui um pouquinho só pra gente compreender. A senhora já estava na Natura quando a senhora arrumou um outro emprego, vamos contar um pouquinho essa história pra chegar na Internet, nessa sua nova (fase?)?
R - Eu fui vender produtos lá, né, e daí em fevereiro, isso foi em novembro, em fevereiro de 1995 ligaram dizendo assim: “Olha, vai sair uma funcionária daqui, ela pediu pra sair, que ela trabalhava num colégio, e ela indicou o seu nome pra trabalhar aqui”, perguntando se eu aceitava. No dia seguinte, fui lá conversar com eles pra saber salário, horário e tudo mais e daí o padre que coordenava lá perguntou assim: “E quando você quer começar?” Eu disse: “Amanhã.” Ele disse: “Amanhã?” Eu disse: “Não, eu venho amanhã.” Fiquei um mês com a Regina, que foi a pessoa que me indicou, pra aprender o trabalho, e comecei a trabalhar. E no dia que ela saiu, fez um gesto muito bonito, que me marcou muito, ela colocou em cima da minha máquina de escrever, que ainda não tinha computador, e escreveu assim: “Você foi a pessoa mais certa para ficar no meu lugar.” Escrito nesses termos assim, aquilo me deu tanta segurança de que de fato o trabalho ia dar certo e tal. E daí eu fiquei lá, comecei esse trabalho lá como secretária...
P/1 - Em 1995?
R - Em fevereiro de 1995. E daí lá começou a se comprar computador, começou a se fazer alguma coisa já no computador, no Word, no Excel, e eu não sabia, né? Eu fui fazer um curso, pertinho lá da minha casa, na Avenida Dom Pedro, e aprendi o básico de Word, de Excel e queria aprender a fazer etiquetas. Uma coisa que me marcou nesses cursos, eu tinha que aprender a fazer etiquetas, por causa do banco de dados lá. Aí chamei o professor um dia na minha casa pra responder as minhas dúvidas. Daí pronto, daí eu aprendi, ensinei pra muita gente, e em novembro do mesmo, já comprei o meu computador, já treinava em casa e fui me familiarizando. Pra mim, a compra do computador e começar a trabalhar no computador, antes naquele tempo nem mexia com Internet, mas era assim, foi uma coisa que me deu muita alegria. Porque percebi que você pode ter 50, 60 anos, que se você tem coragem, o novo que aparece, você enfrenta e aprende e é capaz de fazer, só que a gente tem que ter coragem de se meter, senão não vale mesmo, né? E depois a Natura começou com Internet, começou a abrir a possibilidade de fazer pedidos por Internet, eu tinha o computador no meu quarto, eu lembro tão bem, eu fui fazer a experiência do primeiro pedido por Internet, quando terminei, bati palma (riso) “Parabéns Aninha!”, disse pra mim mesma. Porque o pedido tinha dado certo, era uma forma muito mais simples de fazer, quer dizer, mais simples. Hoje em dia, mais prático. Tudo mais, de todas as dicas, você não perde nada fazendo pedido pela Internet. Naquele tempo, não dava todas as informações. E ainda o tempo que eu não tinha o speed, eu pagava também pra fazer. Mas comecei a fazer, e quando comecei fazer pela Internet não queria mais saber do (cam?), do telefone, sempre ocupado. Daí chamou a atenção da Natura isso, porque nos encontros eles incentivavam o uso da Internet, mas lembro que numa pausa de um encontro desse, o Mauro Melo era o nosso gerente, e eu disse: “Muito bem Mauro, vocês pedem que a gente faça os pedidos pela Internet, mas tem que melhorar uma porção de coisas, porque é muito demorado, você gasta muito, você perde brindes porque não tem todas as informações.” E ele começou a me focalizar, a prestar atenção em mim por causa das críticas construtivas. E ele me chamou um dia, perguntou se eu não queria, isso deve ter sido em 1996 ou 1997, por ali, não lembro bem o ano que o Mauro me chamou, e perguntou se eu aceitava fazer uma entrevista, ah foi em 2001, tá naquela revista lá, foi depois. E daí eu disse: “Eu aceito, se você acha que eu sirvo pra isso, eu aceito.” Daí eu fui bater fotos, fizeram a entrevista por telefone, eu comecei a participar dessa revista, com dicas da Aninha. Fui homenageada nos encontros, já tava no grupo de empreendedores, muito valorizada, daí o pessoal vinha: “Mas como Aninha, é difícil?” Eu disse: “Não é difícil, gente”. Eu incentivava muito mesmo o uso da Internet, e fiquei marcada na Natura por causa dessa minha garra, dessa minha coragem de aprender sempre mais, e ajudei muitas a comprar o seu computador e começar a trabalhar na Internet.
P/2 - A senhora ensinava inclusive a usar?
R - Ensinava bastante, por telefone, fiz muitos pras amigas minhas pela Internet. Até que elas resolveram comprar, mas fiz muitos pedidos pras amigas.
P/2 - E clientes, atualmente a senhora trabalha também pela Internet?
R - Hoje em dia não muito porque a gente tem esse relacionamento de amizade tão grande que as pessoas ligam mais, mas tem, recebo e-mails também. Muitas pessoas que, às vezes, ligam pra Natura, daí a Natura também liga porque pelo CPF tem as pessoas mais perto, né? A minha história assim com a Natura sobre a Internet é uma história muito bonita, que a Natura me valoriza muito, eu agradeço muito isso porque é a valorização mesmo. Eu acho assim que todos têm a obrigação de se atualizar e aprender e não ficar à margem das coisas que a vida vai oferecendo, mas como nem todo mundo faz isso, acho que por isso que ela prestou atenção em mim nesse aspecto, prestou mais atenção, não é que não prestava antes, prestou mais atenção. Mas foi uma coisa assim que me deu muita alegria interior, muita segurança, mostrou que eu tô viva, que a gente pode sempre aprender. E uma prova mais clara disso foi no ano passado quando eu comecei a aprender a alimentar sites. O site da região onde trabalho, do local onde trabalho. No começo, a pessoa me orientava por telefone e eu ficava tontinha, daí um dia eu disse pra ele: “Olha, você vai tirar um tempo, senta comigo, me dá por escrito os passos, aí tenho certeza que vou fazer”. Fizemos isso, pronto, ai engatou.
P/1 - Esse começo com a Internet, com o computador, foi por conta também do trabalho da Natura?
R - Também do trabalho, o trabalho de computador foi pelo meu trabalho, trabalhar em Word, em Excel, mas pela Internet, foi a Natura. Hoje eu trabalho muito na Internet, no site, mas que me fez assim me familiarizar, foi a Natura. E eu, hoje em dia, tenho um trabalho de Internet muito bom. Mando mensagens, as pessoas muitas vezes respondem: “Caiu como uma luva.” Por exemplo, a mensagem que a gente manda, assim pras pessoas amigas que tenho cadastro, procuro mensagens, tem muita mensagem bonita, daí mando uma por semana, uma a cada 15 dias pras pessoas, e pro pessoal da Natura já conhecido também.
P/2 - Pros clientes também?
R - Pras clientes, quem tem e-mail, que nem todas têm. E é uma coisa assim, é um trabalho bonito, a Internet ajuda muito o relacionamento com as pessoas. Ela não tira esse valor do contato humano, de conversar, de olhar no olho, de sentir a pessoa perto, mas ajuda muito a manter os relacionamentos, e ajuda a dar uma palavrinha, às vezes, no momento certo sem você saber, chegou lá a palavra pra aquela pessoa que precisava através de uma mensagem. Eu sempre mando um recadinho pessoal também.
P/1 - Ah, aproveita. Como é esse trabalho hoje de venda com a Natura, tem uma estratégia de venda, a senhora vende um pouco menos, mas continua fazendo a consultoria, como a senhora faz hoje?
R - Eu vendo menos em quantidade, eu vendo menos por problema de saúde, eu tenho um problema de saúde crônico, que eu descobri (em) 2000, e que por causa disso tive que deixar, a gente diz assim colocar o pé do freio, então desacelerar um pouquinho. Eu tive que tomar umas decisões assim, por isso, deixei vendedoras, não vou mais nas casas entregar. Isso tudo expliquei pros clientes, o pessoal me conhece e entendeu muito bem, e faz questão de vir lá em casa, ou então, às vezes, eu vou na igreja e levo lá a pessoa. Esse contato, hoje em dia, é feito assim, a gente negocia a forma de entrega do produto, os clientes novos, se não posso levar, vejo alguém que leva pra mim.
P/1 - E a senhora continua fazendo consultoria?
R - Ah sim, muito. Lá no serviço eles dizem assim: a Aninha é aquela pessoa que cuida de nós, no todo assim, também na beleza, né? Esses dias apareceu uma pessoa toda vermelha, daí eu só olhei assim: “Poxa Antônio, hein!” Ai disse: “ Ah, eu, aquele dia, não pus protetor porque tava nublado.” E ele tem problema com aquelas manchas. No dia seguinte, eu trouxe um produto da Natura, passei e ele ficou bom logo. Então, eu fico muito atenta aos clientes. Se a pessoa tem, eu percebo que alguma coisa alguma coisa de produto vai fazer bem pra ela, eu digo. Nem todos podem comprar, mas eu falo.
R - É uma outra coisa assim que eu agradeço, valorizo, é que pelo fato de eu começar a vender Natura, percebi dons que eu não sabia que tinha. Eu era comunicativa, sou uma pessoa muito acolhedora, mas nunca pensei um dia que eu pudesse chegar na casa de alguém e ficar oferecendo produtos e ensinar a usar os produtos, dizer pra que é bom e tal. Imagina se me passava isso pela cabeça. E realmente percebi que tenho jeito. Tenho facilidade de conversar, de fazer as pessoas se sentirem bem comigo. Despertou dons que eu não sabia que tinha e a Natura também me ajudou muito nesse lado social de participar de jantares, de sentir aquela alegria do belo, da coisa bem feita, da coisa assim com carinho. Aqueles jantares que são sempre feitos com carinho em cada detalhe. E tudo isso faz muito bem pra pessoa, a gente se sente valorizada, amada pela empresa, pelas pessoas, e tudo isso eu fui percebendo nesse meu trabalho, a beleza das coisas, do preparar bem, do carinho, o relacionamento com o pessoal da Natura. Uma empresa tão bem conceituada. Eu tenho o Fábio, aquele da Natura net, a gente troca e-mails. Eu mando e-mail, ele responde. Então, isso é bom pra gente, faz bem pra gente, né?
P/2 - E o que é ser belo, bonito pra senhora, o que é a beleza, essa que a senhora tá falando?
R - O que eu considero beleza, no seu todo, é ter bom gosto pelas coisas, e a pessoa se sentir bem com ela mesma, é estar bela por dentro, se sentir bonita, se sentir bem, de bem com a vida. Porque daí transparece também essa beleza. E valorizar os pequenos gestos de beleza que você sempre vê em todo canto, isso vai trabalhando esse aspecto de belo dentro de você. Saber apreciar a flor, a natureza, curtir com as coisas bonitas da vida.
P/1 - A Natura acrescentou alguma coisa nessa visão de mundo?
R - Acrescentou muito, mas muito mesmo. Imagina, quando eu pensei, eu que vim de lá do interior, em aparecer um dia na televisão, em ser fotografada, aparecer em revista, isso nunca passou na minha... Eu já fiz três programas de televisão, agora o último com a Ana Maria Braga, e isso é muito bom te dá uma alegria enorme, eu sou muito agradecida, agradecida mesmo com a Natura.
P/1 - O que mudou na senhora depois que a senhora entrou na Natura?
R - Ah, eu me sinto mais segura, me valorizo mais, acredito mais nos meus valores, acredito mesmo e me sinto mais de bem com a vida. Eu acho assim, a Natura me fez ajudar a continuar sendo muito ativa e ficar atualizada com as coisas, sempre querer aprender um pouco mais, não fugir de nenhum convite, porque, às vezes, a gente pode, mas será que vai dar certo, vai dar bem? Não deixo isso entrar em mim quando alguém convida. E daí, com isso, já fui na rádio também com pessoas amigas que trabalham em rádio, com isso vai abrindo também coragem pra você participar de outras coisas, né?
P/1 - A Natura mudou nisso, na forma de contato com o mundo?
R - É, eu tenho mais familiaridade, por exemplo, com pessoas que trabalham com TV, que trabalham com rádio. Às vezes, vou junto. Ajudou muito. Sou mais gente, mais feliz e admiro mais a minha vida, admiro mais a vida em seu todo.
P/1 - O maior desafio e o maior sonho alcançado, quais foram?
R - O desafio foi quando comecei vender Natura, foi um desafio pra mim, eu comecei vender, pra mim aquilo, no começo, não tinha tanta certeza, mas eu precisava do dinheiro e me meti nesse trabalho, foi um desafio muito grande mas consegui. E o outro desafio foi começar a trabalhar com a Internet, no começo, lembro quando eu era professora lá bem no interior, usar máquina de escrever, já achava o máximo, (riso) de repente, tô lá trabalhando na Internet, “Aninha, como que se faz isso?”, “Entra aqui. Faz aqui. Entra lá.” Meu Deus, como as coisas mudam. Mas, vender foi um desafio pra mim porque não sabia que eu tinha esse dom, percebi depois. E o meu sonho em São Paulo era ter casa própria, eu não posso dizer assim que eu tenho porque não tá toda paga. Meu sonho era assim, eu sempre desejei ser uma pessoa feliz, que me sentisse bem, e São Paulo me ajudou muito pra isso porque se cria uma porção de possibilidades de você se abrir mais, de você se sentir mais e perceber os outros. E o relacionamento social é maior. A Natura tem ajudado muito. Então, tenho sonhos ainda. Por exemplo, tocar violão, eu gostaria de tocar violão porque gosto muito de música.
P/1 - Mas sonhos, os grandes sonhos que a senhora tem pra alcançar?
R - Gostaria de voltar para Santa Catarina, pagar o meu apartamento aqui, daí vender aqui e ir pra lá. É um grande sonho que eu tenho com uma amiga minha do serviço. É, se continuar em São Paulo depois que eu tiver bem financeiramente, que eu já paguei o apartamento, a gente abrir um espaço de ajuda pras pessoas, banhos, massagens, não de nós fazermos, porque eu já na minha idade não daria talvez mais pra esse serviço, por problemas de saúde. Mas assim, a gente cuidar do bem estar das pessoas, estar na sala de (acolhida?) com música, relaxamento. É um sonho que nós temos, e um que trabalha conosco se empolgou tanto com o nosso sonho que foi até ver uma casa já. Mas, é um sonho. Isso é pra daqui a três, quatro anos, mas ainda penso de fazer isso, menos trabalhar num lugar desse. Porque eu percebo o quanto faz bem uma palavra. Não sei se foi você ou se foi a Claudia que, no telefone, agradeceu a mensagem que eu tenho no telefone. Acho que foi a Claudia.
P/1 - Foi a Claudia.
R - E muitas pessoas fazem isso.
P/1 - Ah não. Eu fiz isso. Eu gravei. Ela tem uma mensagem no telefone, e eu liguei, liguei de novo, não tava. Aí, na segunda vez, prestei mais atenção na mensagem, e, naquele momento, foi muito bom ouvir aquilo, aí agradeci, lembrei agora.
R - E tem muita gente que agradece. Então eu percebo que com isso, uma palavra de esperança faz bem pras pessoas, e numa sala de, por exemplo, assim num lugar de tratamento de pessoas, a gente poderia fazer um bem imenso.
P/2 - Essa vontade de trabalhar com esse tipo de coisa vem um pouco do trabalho que a senhora faz na Natura?
R - Veio muito com isso, muito pelo trabalho da Internet. Porque na Internet, hoje em dia, eu tenho certeza, eu posso dizer isso de coração, eu agradeço a Deus, eu ajudo muita gente com mensagenzinhas que mando, ajudo muita gente. Eu faço um trabalho em nome de uma pessoa, não vou dizer o nome da pessoa porque se alguém depois vai escutar e vai dizer - “Ah, não é ele que faz.” Faço um trabalho no nome de uma pessoa e respondo, as pessoas fazem pedidos, desabafam, contam problemas, e eu mando uma palavrinha pessoal pra essa pessoa. E é gente de Miami, gente do Japão, gente muito mais aqui do Brasil, claro. Mas o que as pessoas se sentem ajudadas, protegidas, renova a esperança, uma pessoa que tava desanimada, que é escritora, voltou a escrever, e nós vamos no lançamento do livro, eu disse pra pessoa que eu faço, eu disse: “Nesse lançamento do livro, você vai e eu vou sem dizer que sou eu que faço esse trabalho, é claro. Mas eu vou como sua amiga pro lançamento desse livro.” E vamos mesmo.
P/1 - A Natura define esses valores de compromisso com a verdade, satisfação, beleza. Isso veio desse trabalho de consultoria. Na consultoria a senhora também usa isso e trouxe pro seu dia-a-dia?
R - É. Porque a Natura realmente tem valores muito bonitos: a verdade, a coragem, o desafio, a criatividade, o respeito pelo meio ambiente. A Natura tem valores, nossa, cada vez eu fico mais empolgada. Acho mais bonito a empresa como um todo por causa desse trabalho paralelo que ela tem, não só na venda de cosméticos. Vende cosmético para a pessoa estar bem, mas, ao lado disso, olha muito o outro aspecto da pessoa no seu todo também, né?
P/1 - Esses conceitos a senhora trabalha bastante também, usa?
R - Trabalho, uso bastante no meu trabalho lá, porque o meu trabalho é muito no computador, mas é também atendimento de pessoas. Então, uso muito isso.
P/1 - A senhora tem um contato grande de pessoas ali?
R - É, muito grande. E percebo que as pessoas se sentem bem ao desabafar comigo, eu não me acho assim uma pessoa de tanta paz, mas as pessoas dizem que eu transmito paz. Porque eu também sinto tristeza, também sinto, às vezes, um pouco de solidão, tudo mais. Mas os outros não percebem isso. Engraçado, parece que, quando eu to lá no serviço ou coisa assim, mesmo no prédio, eu percebo isso.
P/1 - Esse período da Natura tem um aprendizado muito grande, mas quais os principais aprendizados ou o principal aprendizado desse tempo da carreira da senhora na Natura?
R - O que mais eu aprendi com a Natura, entrando nesse trabalho, foi de ter sempre coragem de acompanhar o novo que aparece. E outros valores, é você se valorizar por aquilo que faz, acreditar no seus valores, ajudou muito isso, acreditar nos seus valores, acreditar que dá certo. A Natura ajuda muito isso nas reuniões e eu já tenho bastante isso dentro de mim, esse pensamento positivo. A Natura me ajudou muito a reforçar esse lado de aspecto positivo das coisas.
P/1 - Quais as dicas que a senhora daria pra uma futura consultora?
R - Ah, eu diria pra ela assim “olha, começa com coragem, acredite em você e vai dar certo, pode ter certeza que vai dar certo, vai com calma, vai conversando, procura as suas clientes”. Dou dica na questão financeira de não atrasar faturas, isso aconteceu esse ano com uma aqui, veio comprar de mim e logo entrou, indiquei pra ela vender. E “sempre acreditar que dá certo, tem que acreditar nos seus valores, você é capaz, dá certo, começa que dá certo”. A frase que eu mais digo é assim: “Começa que dá certo.”
P/1 - A gente tá quase no finalzinho agora, a senhora fazendo um auto-retrato, qual seria o auto-retrato da dona Aninha?
R - Ah eu dizer o que acho de mim?
P/1 - Uhum.
R - Ah, eu acho que sou uma pessoa muito feliz, sou uma pessoa corajosa, não foge dos compromissos, não tem medo de aprender, né? É assim, viver e aprender mesmo, a gente sempre tem coisas novas pra aprender, isso eu percebi pelo site, que eu achava que não ia conseguir e, hoje em dia, é facílimo. E sou uma pessoa de muita esperança, confio em Deus, confio na vida, acredito em mim. No momento do ano passado que tive um problema de saúde muito sério, quando os médicos vieram avisar - “Olha, a sua vida tá por um fio.” Eu por uns segundos repensei, quer dizer, lembrei da minha vida, questão de segundos, mas disse pra mim mesma “A minha vida foi muito bonita, Deus está comigo”, e fiquei tranquila, tranquila mesmo. Se o meu momento de partida for tranquilo como aquele, vai ser muito bonito morrer. Fiquei tranquila. Então, me acho uma pessoa feliz, muito amada pelos outros, eu também me amo, tá certo, mas eu sou muito amada pelas pessoas e percebo o carinho que as pessoas tem comigo. Me sinto bem, me sinto eu: Aninha, inteira, com garra, com coragem, com vontade de fazer as coisas. Respeito, aprendi muito a respeitar os meus limites agora. É uma coisa que aprendi, foi uma lição de vida muito boa, aceitar a própria limitação, e ter coragem de dizer que não, às vezes, pela própria condição física e tudo.
P/1 - O que a senhora achou de ter participado dessa entrevista?
R - Eu achei mais um presente da vida. É mais um presente da vida. Até eu pensei assim, acho que agora a Natura nunca mais me chama porque eu não tenho mais novidades pra passar, o que eu sou, eu sou, já passei. E, de repente, veio esse convite. Então, pensei: “Nossa!”. Mas tenho que agradecer muito mesmo, a Deus e as pessoas, de eu ser tão valorizada assim, entre tantas. Eu fiquei entre as 20. Eu me considero uma pessoa simples, mas ao mesmo tempo, com coragem. Se for olhar o meu lado social, sou uma pessoa muito simples, que tá lutando pela vida ainda. Mas eu me sinto muito amada pelo povo da Natura também, muito amada mesmo.
P/1 - Em nome da Natura e do Museu da Pessoa, a gente agradece muito a sua entrevista.
R - Eu agradeço muito vocês.
P/1 - Ficamos muito felizes com a sua entrevista.
R - Terem me chamado, terem esperado eu voltar dos meus dias de férias, né?
P/1 - Valeu a pena.
R - Valeu, foi muito bom.
P/1 - Muito obrigado dona Aninha.
R - É, se tem mais alguma coisa que precisar perguntar, mas acho que deu, né?
P/1 - Acho que deu agora, tem só...
R - Todo caso, por telefone, né?
P/1 - Alguns detalhes das imagens, com certeza
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