Memória dos Brasileiros
Depoimento de José Celso da Cunha
Entrevistado por Antônio Domingues e Cláudia Leonor
Juazeiro 07/12/2007
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MB HV 087
Transcrito por Paula Leal
P/1 – Oi, seu Celso. Vou pedir pro senhor falar o nome inteiro, o local de nascimento e o dia da data de nascimento.
R – Nasci em Juazeiro a quatro de março de 1918. (04/03/1918)
P/1 – Nome.
R – 1918.
P/1 – Qual é o nome completo do senhor?
R – José Celso da Cunha.
P/1 – Qual era o nome do pai do senhor?
R – João Celso da Cunha.
P/1 – E a mãe?
R – Josefa Rodrigues da Cunha.
P/1 – O que eles faziam? O que o pai do senhor fazia, qual era a profissão dele?
Qual era a profissão, qual era o trabalho dele?
P/2 – O trabalho dele, seu Celso.
R – Meu pai era maquinista de navios.
P/1 – E a mãe?
R – Minha mãe era doméstica.
P/2 – Como é que era a cidade quando o senhor era pequeno?
R – Eu era pequeno e... não, meus pais não podiam me botar na escola, meu avô era empregado da receita do Estado e me botou na escola pagando dez mil réis naquele tempo, eu fui pra escola em 1928 no primário, em 1929 no segundo ano e 1930 no terceiro ano. Veio a revolução e eu sai da escola e nunca mais. Agora, tudo que eu aprendi depois foi no, depois eu aprendi a arte de sapateiro e ainda tenho por lembrança dessa infância aquele ferro ali. Depois de sapateiro eu fui ser empregado no comércio de Espanhol em Salvador, que foi meu grande professor, fui ser empregado do comércio porque no balcão a gente aprende a escrever e a ler e relações públicas. Depois eu voltei a trabalhar pela arte de sapateiro mas um rapaz gostou da minha irmã e como eu era o líder da família, éramos cinco irmãos e eu era o líder da família, que eu quem ajudava, que ajudei a criar meus irmãos, eu fui quem dei o sim do noivado dessa irmã e ele era chefe do tráfico da navegação e me convidou, larguei o negócio de arte ___________, vou trabalhar na navegação. E ele tirou minha caderneta de navegação da Marinha Mercante de (tarefeiro?) que era a profissão inicial em 1935 e em 36 eu comecei a viajar como (tarefeiro?).Caí na simpatia dos capitães do navio de comissário e eles me deram uma patente mais alta que era de dispenseiro, ganhava o ordenado e uma gratificação. Ganhava 90 mil réis por mês e 30 de gratificações. Depois eu fazia meu serviço na dispensa e esse comissário desse navio era muito meu amigo e ele era um pouco relaxado no trabalho porque ele gostava de tomar cerveja e eu deixava meu serviço e ia fazer o serviço de comissário, e os companheiros diziam que eu ia fazer por puxa-saquismo mas eles não sabiam que eu estava progredindo o meu conhecimento. O fato é que chegou outro diretor da navegação e escolheu esse comissário como chefe dos fiscais e abriu a lacuna para comissário, eu não tinha diploma, não tinha concurso mas ele responsabilizou pelo meu trabalho e me deu lugar de comissário na vaga dele, que a navegação tinha um quadro de funcionários, era 21 comissários, 21 comandante e não podia ter aquela ____________, e eu fui preencher a vaga desse comissário, depois veio a comissão da Marinha, de Guerra, fazer um concurso aqui em Juazeiro, veio do Rio de Janeiro, e eu me inscrevi e dentre 11 candidatos a comissário eu passei em segundo lugar e permaneci na vaga permanentemente. Em 1953 abriu-se um concurso para comandante de navios em Minas, Pirapora, e eu viajando pra lá e me inclui no meio lá e fiz o concurso de Comandante de, pra comandante, e passei, dessa data em diante passei a ser comandante, em 1953. Em 31 de agosto de 1968 eu me transferi de Minas Gerais para aqui para minha terra para poder me aposentar, trouxe a família toda, esse meu filho que está aqui do meu lado estudava em Belo Horizonte, no colégio Anchieta, no colégio de padres, embora ele fosse evangélico, mas era um colégio de muita eficiência e dessa ele tirou o título escolar e nós viemo embora pra Juazeiro e aqui ainda dei três viagens aqui pra Barreiras, outro pra Santa Maria da Vitória e outra pra Ibotiramar e aí enquanto a aposentadoria saia, eu me aposentei a 31 de agosto de 1968. Aí em fevereiro de 69 eu mudei-me com a família toda para Salvador para os estudos de meu filho e lá em Salvador eu vi no jornal uma vaga para encarregado de embarcações do ____________, que iniciava-se a construção do ______________, e eu me apresentei, teve alguns que disseram que eu não podia porque eu era de uma navegação fluvial e lá o caso era marítimo mas eles não sabiam que eu já tinha sido aprendiz de marinheiro da Marinha de Guerra em Salvador, eles esqueceram que eu tinha viajado na Navegação e Comércio do Rio de Janeiro, de Santos ao Pará, e a capitania disse “Não, ele pode ser, contanto que ele faça invés de um estágio de 30 dias ele faz um estágio de oito dias para conhecer o porto.” Eu fiz um estágio de oito dias e conheci o porto de Aratu e fiquei tomando conta das embarcações durante a construção do _____________ durante quatro anos. Depois que terminou os filhos debandaram para aqui porque deixaram suas namoradas e eu voltei de novo para Juazeiro. Chegando aqui eu já fui ser gerente de uma empresa, convidado pra ser gerente de uma empresa. Depois de gerente dessa empresa um amigo meu aqui, que era dono de uma casa, de uma consultora de construção civil me convidou para montar uma firma em sociedade de material de construção e eu juntei-me com ele e montamos a firma. Depois esse meu sócio num desastre aqui perto de Juazeiro, numa caminhonete morreu e a família veio, retirou a parte dele e nós acabamos com a firma. Eu fui convidado por um amigo deputado para ser chefe administrativo da Faculdade de Agronomia, como eu tinha um filho que trabalhava lá no laboratório eu perguntei “Quem é que está nesse lugar?” ele disse “É um senhor que chama-se Artur Brandão.” Como esse senhor era irmão maçônico meu e eu não queria melindrar respondi ao deputado amigo porque dentro do lugar estava um amigo meu e eu ia melindrar, e ele ainda disse “Ah, você ainda é desse tempo? O cara é político e você ...” Mas eu respeito ainda, sou do tempo antigo, respeito ainda. Aí depois ele volta a me telefonar “tem um cargo agora de encarregado da (URGS?) pra tomar conta de quase quatro mil casas populares aí em Juazeiro, venha tomar posse.” Aí eu perguntei, quem é encarregado aqui era o senhor Valfredo Minas Novas, outro, pessoas que foram companheiras de navegação, era chefe administrativo da aviação e aposentado e eu respondi que não queria o lugar outro amigo que era maçon e eu não queria melindrar. Eles “Não, é porque aí cresceu muito, tem quatro mil casas e ele é do tempo que tinha duas mil casas e agora precisa de dois chefes encarregado. Aí eu aceitei, fui lá em Salvador e tomei posse, passei seis anos nesse lugar, administrando as casas populares de Juazeiro, depois de semear a esposa sabe que emprego não “enrica” ninguém, o ordenado de capitão do navio que eu tenho dá pra nós vivermos e eu aposentei e não consegui aposentar trabalhando aí pedi pra sair, e a Secretaria do Estado da Bahia me dificultou, me deu mais trabalho pra sair do que pra entrar, cheguei a um outro deputado amigo que falasse na minha admissão e foi assim que eu arranjei de sair. Daí pra cá estou descansando até agora, só fazendo entrevistas para os amigos daquilo que eu tenho conhecimento.
P/1 – E seu Celso, me conta uma coisa, quando o senhor era criança o senhor fazia muitas viagens?
R – Eu fazia, eu, eu fui um dos tripulantes de navio que mais viajava, cheguei a viajar até de férias porque eu era, dizem que eu era comandante, quando era comissário era comissário de ________ larga, quando era comandante era comandante de _________ larga, havia muitas enciumadas porque eu vivia só embarcado porque aquele que era embarcado, o comandante que era embarcado ele tinha ordenado duplo porque ele tinha o ordenado dele base, ele tinha 30% porque foi incubido de comandar aquele navio, sobre o ordenado dele, tinha 30% de gratificação da função de capitão do navio, tinha 25% de insalubridade, tinha, ganhava todos os feriados, sábado e domingo, dias chamados dias remunerados, por isso o ordenado dobrava e todo mundo tinha vontade de viver viajando mas eu viajava constantemente não só pelo prestígio, porque eu fui considerado o comandante mais eficiente na questão econômica, eu fui considerado o comandante mais rápido, recordista de viagem. Ninguém alcançou esse recorde de 14 dias de viagem de Pirapora a Juazeiro e Juazeiro a Pirapora. Saí de Pirapora no dia sete, era dia de horário, chegando em Juazeiro no dia 11, saimos de Juazeiro no dia 12 chegando em Pirapora no dia 21, 14 dias de viagem ida e volta. Foi pros meus anais de ficha como recordista a ponto de chegar a direção almirante, que era o diretor da navegação, elaborar uma gratificação pra aquele que alcançasse aquele alvo que eu alcancei. Renda e recorde de viagem e eu fui o primeiro a ser convidado para receber essa gratificação. Chegando à empresa dei com um auditório de mais de 600 pessoas, eu recusei-me a receber a gratificação porque não se dá gratificação onde tinha 39 tripulantes eu sozinho ser agraciado com isso quando 39 tripulantes foi, foram culpados dessa renda e desse recorde, eu causaria um ciúme a eles e eles iam botar eu pra ir viajar sozinho pra fazer aquele record, de maneira que eu recusei e fui considerado como rebelde pros colegas comandantes porque tavam todos de olho nessa gratificação.
P/2 – Seu Celso, mas porque vocês conseguiram bater esse recorde, assim, o que aconteceu na viagem que vocês foram tão rápido?
R – Eu consegui porque existem 34 cidades na ribeirinha que nós aportamos e eu já com a prática que tinha antes de ser comandante vi onde era as válvulas das demoras e os acordos aqui eram subvencionados pelo serviço de correio e eu chegar num porto pra deferir um passe provando de que passei ali, fiz escala ali eu teria que telegrafar para os amigos do correio para que eles iam esperar muitas vezes no porto e eu só deixava o desembarque dos passageiros e embarque pra poder demorar naquele porto, e aí economizava muito, não dava pra passear, de fazer turismo porque eu estava em trabalho, dava o tempo somente do desembarque de cargas e passageiros e embarques, não pra __________ e fazia renda.
P/1 – Seu Celso, o filho do senhor me disse que o senhor sabe um verso de todas as cidades, as cidades, de todas as cidades que o vapor passava tem um verso com as cidades.
R – A cidade o que?
P/1 – Todas as cidades.
P/2 – Tem um verso, um verso pras cidades que o senhor ia passando, um poema?
P/3 – Não tem aquele verso de Pirapora do _____, Januário não sei o que...
R – Ah sim, eu saia de Pirapora, que era o porto inicial no dia sete e vinha para cidade São Romão, essa cidade São Romão, cidade antiga que ela foi sede de distrito até Belo Horizonte. De São Romão vinha para São Francisco, cidade São Francisco, e cidade São Francisco vinha pra Maria da Cruz, era um porto de fazia conexão com Montes Claros, de Maria da Cruz vinha pra cidade grande de Januária, de cidade de Januária eu vinha pra Matias Cardoso, de Matias Cardoso ia pra Itacarambi, de Itacarambi vinha para Manga, de Manga vinha, Manga era a última cidade de Minas, agora vinha pra Bahia, Carinhanha, Malhada, Malhada para Carinhanha, que é a primeira cidade baiana, de Carinhanha vinha pra Bom Jesus da Lapa, de Bom Jesus da Lapa pra Sítio do Mato, Sítio do Mato onde fica a boca do afluente do rio corrente, e do Sítio do Mato vinha para Paratinga, antigo Rio Branco, de Paratinga vinha pra Ibotirama, antiga Bom-Jardim cidade, de Ibotirama vinha pra Bom Pará, de Bom Pará vinha pra Cidade da Barra do Rio Grande onde desemboca o Rio Grande, o Rio de Barreira e o confluente do rio Preto. De Barra vinha pra cidade de Chic-chic, de Chic-chic vinha pra cidade de Pilão Arcado, de Pilão Arcado vinha pra cidade de Remanso, de Remanso para ___________, são trechos encachoeirados de Remanso para Juazeiro são os trechos mais difíceis da navegação, são os trechos encachoeirados. De ______ vinha pra Casa Nova, de Casa Nova pra Sobrado, que hoje é Sobradinho, de Sobradinho para Juazeiro. Tem uma lenda muito conhecida dos antigos remeiros do Rio São Francisco, eles tinham uma lenda muito bonita, eles trabalhavam remando aquelas embarcações, seis meses de viagem, aquelas barcas cansativas para Jamboaba para buscar rapadura, e eles cantavam enquanto trabalhavam remando eles cantavam “Juazeiro da Lordeza, Casa Nova da Caristia, _________ da Nobreza, Remanso da Valentia, Pilão Arcado da Miséria, Chic-chic dos bundões” era uma família que era considerada, chamada de bundão. “Chic-chic dos bundões, Itacu só da coco e Barra só tem barão.” Quando tava na vista de uma pessoa de Barra dizia que Barra só tem Barão mas quando tava na vista dizia “Pilão Arcado da Miséria, Chic-chic dos bundões, Itacu só da coco e Barra só tem ladrão. Bom Jardim da rica flor, Rio Branco da Santa Cruz, triste do povo da Lapa se não fosse o Bom Jesus, Carinhanha bonitinha, Malhada também é, __________ e morre um, paga imposto em Jacaré, que é hoje Itacaré. Januária da cachaça, São Francisco dos caloteiro. Januária da cachaça, São Francisco dos caloteiro... São Romão dos caloteiro e Pirapora... Januária da cachaça, São Francisco da Pirataria, São ________ dos caloteiro e Pirapora da putaria. Quando tava na vista do povo de Pirapora tinha outro nome mas, porque Pirapora era sede de mulherios de vida livre do povo da navegação e foi considerado cidade da putaria.” De maneira que essas lendas a gente não esquece, decora e fica gravado como um computador.
P/2 – E tem outras histórias que o senhor se lembra da navegação?
R – Não, tem muitas histórias sobre questão da navegação, ou seja, eu viajava nesse navio que vocês viram aí no retrat Juraci Guimarães e num trecho muito grande que é o trecho da Lapa pra Carinhã, são 30 léguas, são 180 quilometros e o navio cheio na primeira classe e um casal com uma criançinha de colo, e sempre aconteceu isso em vapores de pessoa se jogar dentro da água, sem quê nem pra que, de pessoas enlouquecer. Não sei se era tédio ou qualquer coisa, eu sei é que existia isso. E esse casal mais ou menos a tardezinha, porque as refeições de bordo era o café da manhã as sete horas, a bordo saia café sete vezes ao dia, caia sete horas da manhã, nove horas da manhã um cafézinho simples, meio dia depois do almoço café simples, duas horas da tarde café simples, cinco e meia da tarde depois do jantar, meia noite o café da meia noite dava aos tripulantes e dava aos passageiros, café com churrasco, café com massa, cinco horas da manhã era o último café que acordava até passageiro pra dar aquele cafézinho e o jantar ia sair as cinco e meia e aí o pessoal começou a aglomerar no salão com oito meses, cada uma com oito cadeiras, representando 64 lugares e ali o casal ficaram se ____________ no navio olhando a paisagem do rio e o rio navegando. E esse navio era um navio muito veloz e que provocava muita onda por causa da sua força e ele aí de uma hora pra outra ele enlouqueceu e as crianças que tava nos braços ele jogou dentro d´água lá de cima e criou uma revolta imensa no meio dos passageiros e aquele povo todo agora rezava e tudo e nós tripulantes providenciamos a descida do bote, o ____________ com dois marinheiros remando e a gente via já ao escurecer nas ondas da força das águas que o navio botou a gente via aquela criança subindo e descendo sem afundar nas ondas das águas. A gente até quando escureceu a gente podia alcançar e esse bote foi na direção pra ver se salvava a criança e todos os passageiros e tripulantes naquela expectativa, na espera na balaustra do vapor parado no meio do rio esperando aquela decisão. Depois chegou o ___________ com os dois marinheiros, uma criançinha, aquele homem enlouquecido, o povo revoltado querendo pegar ele pra até linchar mas ele dizia “Santa Filomena, não deixa ela morrer.” Ele dizia assim em voz alta “Santa Filomena não deixa ela morrer, Santa Filomena não deixa ela morrer.” e aquele povo acalmava quando ele dizia aquilo, até quando o ____________ chegou com os marinheiro e junto do navio com aquela criança intacta, sem beber um gole d´água, normalmente, assim, foi um ato de milagre que eu conheci, foi um ato bonito que eu conheci até hoje naquele povo. Então histórias que a gente gravou. E conheço também uma história muito triste de um empurrador. Os almirantes da revolução que assumiram a navegação do São Francisco vieram parar aqui três almirantes e dominaram a navegação e eles daí pegaram a inventar a criação de nova navegação através que essa navegação era centenárias, haja visto esse vapor saiu da Marinha tem mais de 200 anos, ele saiu da Marinha e foi o primeiro navio do São Francisco, ele foi comprado por uma viúva no rio das velhas, abaixo de Pirapora cinco léguas desemboca o rio das velhas e esse navio foi criado nesse rio das velhas e era dessa viúva e o governo do estado da Bahia comprou esse navio ________________ comprando esse navio por cinco conto de réis e trouxe para Juazeiro como primeiro navio a ____________ as águas do São Francisco. E é por isso que esse navio está em praça pública como um atrativo, como um atrativo turista e como um museu, porque ele representa muito bem a história do São Francisco. Aqui tinha trinta e tantos navios, o São Francisco, navios que vieram de diversos países, como tinha quatro navios americanos vindo do Mississipi, tinha navios que veio da Alemanha, Juraci Guimarães, __________, Iguaçu e outros navios vieram da Alemanha e outros e outros de maneira que, tinha navio inglês, de maneira que esses almirantes tentaram demolir esses navios e vender como ferro velho e criar uma navegação mais eficiente dizia eles e criaram aqui uma série de rebocadores empurrando quatro ___________ de 250 toneladas que representaria muito bem o tráfico de cargas, das cargas mais influentes do Rio São Francisco que é a gesita, a florita e a magnesita, sem falar nos cereais produzidos no São Francisco. Passageiros, passagem mais barata, tráfico de cargas, de vívaros, couros e peles mais barato da produção do São Francisco. E eles criaram essa navegação e demoliram e é por isso que eu tenho essas fotografias de lembrança. Criaram os rebocadores que estão aí e não surtiram efeito e é essa história que eu quero contar a vocês sobre esse rebocador. Dentro desses rebocadores eles, eles construíram duas lancha-ônibus, essa viagem que fazia de Pirapora nos navios antigos americanos de seis dias essas duas lanchas foram construídas pra fazer em 48 horas, eles trouxeram para essas duas lanchas motores a jato da Alemanha que conduzia as lanchas do rio Sena, mas aqui no São Francisco eles esqueceram e a Engenharia Naval tomou um blefe porque as águas, esse tipo de motores funcionam muito bem em águas paradas mas em águas correntes não funciona e os navios tão se acabando aí, e as duas lanchas tão se acabando aí encostadas sem nunca viajar porque não produziram e os rebocadores produziram mas eles dependiam calado mas aprofundado de mais de dois metros ao passo que os navios com calados, com cascos feito a base de prato e não de quilha, eles produziam muito bem porque eles passavam nos bancos de areia como um prato. Quando sofria encalhe saia escorregada através de puxada pelos caibros de ___________. Como estava dizendo, tem um fato muito curioso sobre esses rebocadores. Em certo trecho desse rio São Francisco um rebocador se encalhou e o encalho foi de proporções muito demorada e um de seus pilotos desceu para balisar e esses rebocadores o seu motor era muito possante, que tinha uma força fabulosa que tiravam ele do encalho mas quando esse piloto estava balizando atrás do rebocador e que ele ordenou pra que desse marcha para trás para trazer e ver se desencalhava essas águas atraiu esse moço, um rapaz muito elegante, esse piloto era um rapaz que nós chamávamos ele até de americano que ele era de olhos claros, ele era avermelhado, ele era forte, e eles foi tragado pela ___________ dos motores e trazido pra dentro daquelas, a cada empurrador desse tem três motores possante dentro de uma calha pra evitar paus e pedra e esse na puxada das águas levou ele pra dentro e esse rapaz saiu como carne passada na máquina, uma coisa trágica que eu me lembro. Me emociona até. Uma calamidade. E outros e outros casos de morte no rio São Francisco.
P/2 – Conta outro pra gente, outro causo.
R – Eu, como eu disse a vocês, eu fui, não sei se eu contei já, já contei que foi eu na navegação tinha mais de três mil funcionários mas só dois funcionários nós conhecemos que começou na estaca zero e chegou ao fim. Fui eu, José Celso da Cunha que comecei como tarefeiro e fui a capitão do navio. E Marcelo Rui Barbosa, que começou como tarefeiro e foi a capitão de navio. Marcelo Rui Barbosa, de maneira que ele que, eu louvo a Deus por essa vitória, por ter sido muito combatente, porque eu sou muito persistente, quero ver, quero conhecer e quero chegar, sou dessa maneira, e por isso eu cheguei onde tinha chegado, onde muitos formados não tá. Um juiz de Direito que era passageiro da gente, viajava com a gente, tinha inveja do nosso, na nossa vida, do nosso cargo e do nosso salário. Agora, infelizmente a revolução veio acabar com muitos direitos que os fluviais tinha. Primeiro, nós era aumentado pelo salário mínimo, nós era aposentado, nós fomos aposentado dentro daquela base que recolhemos, recolhemos 35 anos e com aquilo nós teríamos que estar ganhando, como existe hoje no poder judiciário, que o juiz que se aposenta ele fica com o ordenado toda a vida, o deputado, o senador tudo fica, só o INSS é que corroe o ordenado daquele que é aposentado, civis, e que contribuiu, porque eles quiseram fazer, eles depois da Revolução eles quiseram fazer figura com chapéu alheio, existia uma base de sete tipo de NTS, existia o nosso que era IAPM, Instituto de Aposentadoria do Marítimo, existia dos bancários, existia dos industriários, existia dos comerciários, existia do Apetec, existia do rural, de maneira que eles acabaram com isso e fizeram um IN só e com isso aí na Constituição de 88 eles acharam, eles, o povo da revolução em 67 pegaram esse povo que nunca pagou ao INSS e botaram como aposentado por tempo, por idade, pegaram o rural que nunca pagaram e botaram dentro do Instituto pra se aposentar sem nunca ter contribuído, e nós estamos pagando até hoje por esse povo porque nós aposentamos com a base de 15 a mais salário mínimo na época e devido a ... a Constituição ter tirado o aposentado de ser atrelado ao salário mínimo nós hoje estamos sofrendo desgaste, hoje se eu sou capitão do navio eu to de cabo pra baixo, eu to de cabo, de soldado, de tarefeiro, porque eu estou ganhando igual tarefeiro.
P/2 – Vamos dar uma paradinha...
R – Como eu estava falando pra vocês, todos aqueles que recolhiam na base de 15 salários, 20 salários mínimo, hoje estão ganhando na base de cinco salários assim, seis salários, por causa desse, por causa da constituição de 88, eu requeri e fui completamente tolido de ser reajustado, de ser revisado, por quem, pessoas de fora hoje, me disseram que eu pedi essa revisão com erro por causa da constituição, o que eu devia ter pedido com base da minha aposentadoria, eu me aposentei em 68 e a constituição foi em 88, 20 anos depois, eles não podiam tirar de mim direito adquirido, 20 anos adquiridos, de maneira que era isso que eu queria falar, de maneira que eu vou requerer, vou procurar um advogado agora para requerer direitos adquiridos, que eles estão me negando, porque, eu acredito que a Constituição possa reger a tirada do aposentado, do salário mínimo de 88 pra cá, mais pra trás não, agora ficou governador a dar 25, 20, 15 % ao salário mínimo e ficar dando três, esse governo de Lula, por exemplo, em quase quatro anos, em quatro ano ele deu 18%, duas vezes de 4% aos aposentados e duas vezes de 5% ,e esse ano agora deu de 3,3%, agora a inflação ta muito mais de que isso, no entanto nós estamos murchando o ordenado, parece que a intenção do governo é nivelar toda aqueles que ganham 20, 15, 10 salários, nivelar ao salário mínimo, todo aposentado, alegando que o INSS ta em banca rota, mas dá pra muito ladrão levar dinheiro, muito ladrão, tem uma advogada do Rio de Janeiro que levou 360 e tantos milhões e foi presa, mas não recolheu o dinheiro, e nós estamos com falta desse dinheiro, bom queria contar uma história a vocês sobre, eu queria contar uma história a vocês no tempo da grande guerra, da segunda grande guerra, eu viajava no navio Juraci Magalhães, chegamos em Pirapora recebemos um comunicado das coordenações do Exército, existia cinco coordenações, quatro ou cinco coordenações, uma no Rio de Janeiro, uma em Belo Horizonte, uma em Pirapora, uma em Petrolina e outra em Recife, essas coordenações, eles tinham cada um, um coronel para receber ali o material ________que viu lá do Rio de Janeiro e as praças para levarem para Itália, e eles faziam conexões aqui, de Recife para Dacar, e Dacar daqui pra lá, eles comunicaram a nós lá em Pirapora de que nós aguardássemos as ordens do Exército, e não marcasse viagem enquanto eles não dissesse porque, até que depois dos três dias veio a ordem para que nós preparássemos a viagem _____cargas e tudo, para que nós transportássemos 125 cadetes do exército comandado por uma coronel, um major e um capitão, mas chegaram em Pirapora, foram diretamente para bordo, acomodamos eles e marcamos a saída de Pirapora, e o capitão era muito intransigente e exigente, ele perguntou a mim, como era a viagem, explicou qual era o gargalho da demora para chegar, que eles tinham pressa, aí nós dissemos que o navio pegava muito combustível, que era a lenha, demorava sempre nos portos de lenha, duas horas a mais, e ele disse então você dê 20 passagens a esses passageiros que vem ai de São Paulo para ir pro Norte, para eles irem ajudando a botar lenha pra dentro, e nós demos 20 passagens, e dentro daquelas 20 passagens que demos, saímos de Pirapora, chegando perto entre São Romão e São Francisco, um dos passageiros roubou o outro, e roubou o dinheiro da mala e jogou a mala dentro da água, na fila para receber os________, pela manhã, receber o café, comentava-se naquela fila que tinha sido roubado e que tudo, eu tinha um cozinheiro, tinha o sobrenome de Carneiro, ele era da cor escura, era preto, ele gostava muito desse negócio de candomblé, e ele chegou a dizer pra vítima, o que foi roubado, de que se desse a ele a metade do dinheiro que ele descobria quem era o ladrão, e que ele chegasse em São Francisco, comprasse um quilo de milho, uns alfinetes, um pouco de dendê, várias coisas que ele deu lá, que ele descobria, aí ficou certo, logo que acabou a fila, o ladrão ele inexperiente chegou ao Seu Carneiro, olha seu Carneiro, pelo amor de Deus, não descubra não que foi eu quem roubei, ah! Não, o seu Carneiro falou, ah! Não, tem que valorizar o meu serviço, já era o reflexo do meu serviço, ah! Não, você tem que ser punido por isso, ah! Seu Carneiro, eu lhe dou mais da metade, Seu Carneiro, não, aí chegando num trecho muito largo do rio, entre São Romão a São Francisco, esse passageiro ladrão, se jogou no meio do rio, mas ele não sabia nadar de braço, mas nadava de cachorro e nadava muito bem, como o rio estava em decadência, estava na maré de vazante, o navio dificultou muito na atracação, enquanto ele foi mais ligeiro, a sair na praia, mas nesse tempo de vazante fica os atoleiros, e ele foi preso pelo atoleiro no capinzal, e deu tempo dos marinheiros saltarem e pegarem ele, trouxe ele ao vapor e o navio, lá nós prendemos ele no camarote, aí o capitão pegou a bocejar, dizendo: Você é um ladrão sem vergonha, descarado, você tem que apanhar até, agora atrapalhar nossa viagem, nós tínhamos pressa de chegar, você atrapalhar, aí o japonês, tinha um dos passageiros, que eu dei passagem, que era japonês, e ele disse, depois do capitão blasfemar muito, dizer a ele que ele era ladrão, Brasileiro é ladrão mesmo, você é ladrão, daí o Capitão, não diz do Brasileiro ladrão, Brasileiro é bonzinho, aí diz é ladrão mesmo japonês, japonês já brasileiro é ladrão, todo brasileiro é ladrão, ô capitão, não diz todo brasileiro é ladrão, brasileiro é bonzinho, ô japonês como é chamado na língua japonesa ladrão? Ele disse tim e dois ladrão? Tim tim e três ladrão? tim, tim, tim, ô japonês se fosse muito ladrão assim, ele disse cantando: tim, tim, tim, tim, tim,tim, tim, de maneira que eu guardo isso na cabeça por recordação, porque está acontecendo justamente hoje, ta se vendo que é, brasileiro só fala que o outro está roubando porque não pode roubar, mas ta uma crise horrível de corrupto no Brasil, ladrão, esse japonês chegando aqui em juazeiro assaltaram aqui em juazeiro e esse japonês, acredite vocês, era um engenheiro japonês que estava traçando o mapa do Rio de São Francisco, a navegação tinha mudado para São Francisco, não era ________, e ele tava ele com, Japão como era comparsa da Alemanha, eles estavam preparando o mapa para sabotar o Brasil aqui pelo rio de São Francisco, ele foi preso aqui com o mapa, depois de ter a policia de juazeiro ter desconfiado dele, dele ficar num vai e vem daqui de Piranga para Batateira duas léguas devido ao calor, ele ia chegava lá, dava uma sede ,voltava e bebia água, ia de novo e ficou naquele vai e vem, desconfiaram dele e prenderem ele e ele era um espião, e acharam na bagagem dele um mapa do Rio do São Francisco.
P/1 – Seu Celso, por que São Francisco era importante nessa época assim de guerra?
R - O que era o que?
P/1 – Porque ele era importante nessa época da guerra?
R – Ele quem?
P/1 – O rio de São Francisco?
R – O rio de São Francisco era porque era o tráfego para transporte das Forças Armadas, para mandar para guerra lá na Itália e o material bélico, ele tinha cinco coordenação, saia um material do Rio de Janeiro e vinha para Belo Horizonte, de Belo Horizonte vinha de trem para Pirapora, de Pirapora descia de navios cargueiros para Petrolina, de Petrolina para Recife e ai atravessava para Dacar, agora tem uma história também interessante, eu viajava para Barreiras no Rio grande, e uma chata afundou no meio do rio, carregadas de tecidos, vígaris, bebidas de todo tipo, e veio um navio de salvamento pra nós tirarmos ali, mas nesse intervalo o rio dava, o povo tava atacado muito em paludismo, era muito paludismo o povo de *boralu* era atacado, e ai inventaram de que aquela bebida,aqueles conhaques, aquelas bebidas podia ser usada ali pra amenizar a febre do paludismo, mas como diziam lá que eu era bom mergulhador e eu entusiasmado por isso, botava eu para mergulhar, embora eu não bebesse nada alcoólico, mas botava eu para mergulhar pra tirar bebida para eles, e eu bebia, e eu descia no mergulho entre a chata afundada com as caixas de bebida quebradas lá no fundo e as duas embarcações ao lado para servir da base para suspender a chata afundada, botava se uma vara e uma corda e eu descia com a vara e a corda para trazer as bebidas para dar a eles para beber, e aquilo pegou a ficar todo dia, até que pegou a ficar escassa devida a correnteza por baixo, a água levava as embarcações fez uma correnteza por baixo, ai um certo dia eu vendo já escassa ali onde eu tinha costume de pegar, mas eu corria a perna por debaixo do navio pra trazer as garrafas e nesta hora escorreguei a mão da vara e me vi lá embaixo perdido e me lembrei de Deus, e bati, quando subi bati a cabeça no casco da embarcação e me achei como perdido, mas felizmente Deus ouviu e as águas correntes debaixo me tirou, na segunda vez que vinha a tona, sai fora, sai a tona da água e nadei para beira do rio, e já sai com muito sacrifício nas galhas das canjaranas, que bagiava o rio, de maneira que desta vez em diante, desse dia em diante eu nunca mais quis saber de mergulhar porque não ganhava nada com isso e só era os elogios e eu ia nos elogios e eu nunca mais eu fiz isso, até mesmo nadar que eu nadava muito, daí atravessava de Juazeiro para Paraíba do fogo aqui brincando, não fiz mais isto, mas de maneira que é um conto que eu tenho para vocês.
P/1 – Como que o Senhor aprendeu a nadar?
R – Fugindo de casa com companheirismo, eu era menino, meus companheiros dizia vamos embora, deixa a roupa para não desconfiar, deixe a roupa, lá de baixo da moita de pau, e nós vamos trabalhar, eles enganavaque nós ia quebrar melancia dentro d’água e nós ia com melancia quebrada dentro d’água e aqui aprendia a nadar e atravessar, na navegação é uma coisa interessante, aqui tem o navio daqui, carregava passageiros, todo transporte pra São Paulo para essas zonas de trabalho era vindo do norte, tinha que passar por aqui pelos vapores, aqui no São Francisco, acredito até que o presidente Lula tenha ido pra São Paulo vindo daqui de Pernambuco por aqui pelos vapores, aqui os vapores conduziam cerca de 100 e tantos passageiros na segunda classe, na base de 60,80 de primeira classe, muitos deles acomodados e outros dormindo em colchões e rede, mas era assim, alimentação muito boa de bordo,era selecionada, variada e naqueles tempos passado, daqueles tempo de 1940 existiam o paludismo por aqui, havia muita doença de paludismo no Rio de São Francisco, na navegação havia muita disenteria, cada pessoa ali preso, tudo assim, não havia um tipo para se exercitar e tudo, mas continuava ao povo viajar por aqui assim mesmo, o camarote da gente tinha sempre uma bolsa de remédios necessários para esses fins: gripes, paludismo, injeções, soros, contra cobra e remédios contra disenteria, mas só veio a melhorar mais o sistema de saúde no Rio de São Francisco depois que, depois que mudaram o tipo de alimentação, alimentação era muito complicada com gordura de porco, depois que mudou para a banha vegetal ai melhorou muito o índice de disenteria, a outra coisa é que tinha muitos temporais aqui no rio, e nos temporais eu me lembro muito que levei minha esposa e esse menino era muito pequeno, no braço e nós atracamos e o temporal veio com chuvas de granito, e quando ele tava de camiseta e eu também, quando acabou o temporal, as costas dele e minha estava tudo assada daquelas pedras, e finalmente porque o temporal é uma coisa interessante, ele da aqui no São Francisco aos quatro ventos, veio do leste, ele vem do oeste, ele vem do sul e ele vem do norte e faz aquela rosa, de maneira que o navio fica doido, se não atracar bem vai ao. fundo, virado e chegou a ter na flórida, navios aqui já com temporal, aqui em São Francisco, mais aqui existe uma cidade que tem, que atrai muitos romeiro na época da festa, a festa do 6 de agosto, que é a festa do Bom Jesus da Lapa, atrai todo nordestino, sulinos, de toda região até estrangeiro para essa festa e vem de todos os transporte: aéreo, rodoviários, fuviários, eles ali exporta quase 50 mil pessoas ali, dentro deles aqueles romeiros pra pagar promessas e outros para negociar, negocio até com santos, ídolos, eu me lembro muito bem de um rapaz que foi comigo pra lá, chamava José, diz que lá na Paraíba só dá Zé e esse rapaz trazia quatro malas de santo, e eu perguntei a ele curiosamente como é que ele vendia o santo, como é que ele descobria o nome do santo? Ele descobria pelo pedido do cliente, o cliente chegava e pedia um São Bartolomeu, um São Disidério, e ele não conhecia, ele tirava aquele mais feio e mais assim torto, aquele que tirava assim e ele dava e ele adorava ele como fosse, e ele vendia lá na Lapa, mas ele disse eu deixei na Lapa para vender essas quatro malas de santo, mas eu fui a Pirapora e quando voltei para pegar esses passageiros de volta, encontrei ele na beira do rio, para mim já não era mais um passageiro comum, era pra me pedir uma passagem, pelo menos para Xique Xique, onde ia ter uma festa e ele poderia vender o resto do santo, o ________ ficou com o resto do santo, uma mala e o resto ele não tinha mais dinheiro, que gastou no tabares, ali é muita coisa, ai eu dei a passagem a ele para Xique Xique mais ele chegando no Xique Xique a festa não era na cidade Xique Xique era num lugar no distrito de Xique Xique chamado Marrecas, que era cinco léguas abaixo de Xique Xique e ele não tinha dinheiro para vir para Marrecas e tomou, botou a mala na cabeça e veio para essa festa que era o último dia lá na Marrecas, para ver se vendia esse resto de santo, para poder chegar na terra dele, e ele chegando na Marrecas, chegou de noite na hora que ia iniciar a novena que encerrava a festa, mas ele disse que quando olhou para o santo que estava lá festejando, e olhou para um santo que ele vendia, ele disse que se entusiasmou para vender o resto do santo, ele abriu a mala na porta da novena e chegou aquele povo a rodear, e ele disse você é um herege, em plena novena querendo vender santo agora quando iniciou a novena, ele disse não, eu pare ai a novena e venha comprar o santo depois eu digo porque mandei parar, ele disse assim: ai pararam, ele disse arranje comida ai, água que eu estou morrendo de fome e sede, ai arranjaram ali, fritaram ovos, trouxeram água e deram comida, beber, agora você diga porque teve prestigio para mandar parar, ele abriu a mala e mostrou os santos, é porque aquele santo que está ali no cantinho, fui eu que fiz, ele disse que vendeu os santo todo lá.
P/1 – (Risos) Era muitos romeiros que ia para Bom Jesus da Lapa?
R – Olha muito romeiro, a romaria eles hospedem lá cerca de 30 a 50 mil pessoas assim, de todo lugar ali, é uma, o policiamento extensivo vai daqui de Salvador, muito policiais, guardas, e tudo porque a confusão é grande, muitos cabarés, muitas arrelias, muito roubo, essas coisas tudo.
P/1 – E na época que o senhor trabalhava na navegação eram muito vapores que desciam, como é que era isso?
R - Não, não as vezes os vapor não, os vapores levavam e despejavam os passageiros e ia, só viagem normal, mas nós tava no navio grande, nós muitas vezes chegamos lá, nós ia explorar parceiros recreios com aquele povo, pagavam, usavam o bar do navio, deixavam uma renda boa, de maneira que nós fazíamos isto, parceiro de recreio, você ia passeando com aquele povo tudo, pagavam.
P/1 – O senhor já acompanhou alguma procissão lá em Bom Jesus da Lapa? O senhor acompanhava as procissões?
R – Não
P/1 – Só trabalhava?
R – Só trabalhava, não saia do meu pé de serviço.
P/1 – E seu Celso conta um pouco pra gente como é que era a tripulação?
R – A tripulação do navio desde, por exemplo, de passageiros que estou falando a vocês desses americanos, era 39 tripulantes, era composto por nove oficiais, esse nove oficiais era comandante, era dois práticos e dois ajudantes de prático, levam cinco, um comissário de bordo que é relações públicas e o intendente, é o homem da escrita onde cumpre e vende, é o comissário, seis, dois, primeiro e segundo maquinista, seis e dois oito, e o contra mestre, são nove oficiais e o resto é os tripulantes comuns, é quinze marinheiros, doze a quinze marinheiros, depende do navio, três folguistas e três carvoeiros, um cabo de máquina, é dois cozinheiros, primeiro e segundo cozinheiro, e duas camareiras, é seis tarefeiro, aqueles que servem as mesas, servem a bagagem dos passageiros, camarotes, é o que aceia o navio, é o tarefeiro, é e só isso, são 39 tripulantes, cada um com sua função, o nove oficiais já está dizendo ai, ele tem regalias, ele tem mesas como passageiro de primeira classe, mas os demais tripulantes ele é comparado ao passageiro de segunda classe, alimentação e tudo, era do convés para baixo, o navio se divide em quatro partes o navio, chama-se convés, onde fica o marinheiro, convés, máquinas onde fica máquinas, foguistas e carvoeiros, e cabo de máquina, câmara é onde fica os taefeiros, camareira, cozinheiros e comissário que comanda tudo isso, e passar disto onde fica o comando do navio, o práticos, _________ e o comandante, de maneira que é divido em quatro partes.
P/1 – Os passageiros ficam onde?
R – E os passageiros, aquele que fica na primeira classe, chama-se câmara, ali onde fica camarote e mesas e tudo, salão, está mesas reclináveis, cadeiras reclináveis tipo avião, salão de fumar, salão de jogar, tudo ali, onde vão beber sua cervejinha, seu refrigerante, ali passageiros, a refeição como disse, ela é variada e é muito boa, tem cardápio, como ele é, sete horas da manhã com toda massa e ovos, e qualquer coisa da região, o cuscuz, o aipim, a batata, tem tudo isso, biscoitos, bolachas, pães, tem tudo isso no barco, quando é 11h30min sai o almoço, tem que ter três almoços variados de carne, três pratos, terrinas, aquelas travessas, os talheres, a mesa bem botada aqui para ser servido pelo tarefeiro á francesa, tem uma mesa assim disposta onde fica todas as terrinas, as travessas e eles saem a servir seus pratos, o que você deseja, bota ali, tem os vidros de água nas mesas, tem o guardanapo ao lado junto com os talheres, depois sai a sobremesa, o doce, depois o cafezinho, a 5:30 sai o jantar, para poder dar tempo a pessoa jogar e fazer o quilo ali até chegar na hora de dormir, é uma situação de boa que lhe digo a você, todo mundo que tem fastio lá fora que chega dentro do vapor come muito, não sei o que tem ali, come muito e ele já fica ali, sete vezes café por dia, 5:00 horas da manhã, 7:00 horas, 9:00 hora, 11:30, 14:00, 17:30, 12:00 noite, sai café.
P/1 – E seu Celso como que é ser comandante?
R – Como é? É que eu alcancei os comandantes do Rio de São Francisco, eles tinham rei na barriga, era um comandante autoritário, muitas vezes ultrapassavam,eram até ignorantes, ultrapassava porque era donos de si e achavam que era dono de todo mundo, alcancei assim os comandantes, depois veio a geração _______chegando os mais assim, os que pegavam também experiências, como é que deviam, aqueles tripulantes eram tratados como escravos, muitas vezes eu vi o marinheiro almoçando, o marinheiro tomando café e caindo dentro d’água pra desencalhar o vapor, saltar pra atracar os navios, no momento que estavam na refeição, e por gritos, o porque o regulamento da marinha era muito exigente, existe 24 itens no regulamento para os tripulantes, desses 24 itens tem como causa dois que é embriagues, que causa mais exigente dos tripulantes, é a embriagues, vem a causa quinta que é doença adquirida á bordo, você aí desembarca do navio pela aquela causa quinta, é tratado pela empresa e ganha, a sexta não é tratada pela empresa porque é doença não adquirida á bordo,os tripulantes tinham muitas doenças venéreas adquiridas por aí e trazia pra dentro do vapor e aquele ali desembarcava doente, e aquela doença não tinha assistência na navegação, dentro do comando, tinha a causa oitava era você ser por ordem, ser transferido desse navio para aquele navio, chama causa oitava, a causa nona é você desistir daquela viagem redonda, aquele que não tinha nomeação, era um tripulante contratado, ele desembarcava pela causa nona, a causa 18 de um navio para outro, a causa 20 é você ser desembarcado pra servir em terra, eu fui desembarcado muitas vezes pela causa 20, para servir como presidente de inquérito, fui desembarcado muitas vezes para balanço do almoxarifado da empresa, era uma empresa muito grande em material de construção, de chapas, arrebites, máquinas, e fui desembarcado também na causa 20 para chefiar, eu fui chefe do tráfego, comandando 1128 tripulantes, quem embarcava e desembarcava era eu, quem recebia do diretor a ordem para o navio sair, e aí eu tinha que providenciar a viagem, era eu como chefe do tráfego, eu tinha meus auxiliares, tinha os ajudantes, os datilógrafos, a moça datilógrafa, tinha os escriturários que faziam os _________, mandava os tripulantes assinarem os ________tudo isso, de maneira que a vida do tripulante era essa, ele servia á bordo e servia em terra, agora sendo que em terra como qualquer chefia ele tinha comissão, o que ele perdia comissão de bordo mas recebia aquela dali e servia aquilo que o diretor ordenava, agora aquela causa muitas vezes 19 que botava o tripulante á disposição, é aquele que desembarcava e ficava aí a disposição para que quando houvesse outra vaga ele embarcar, essa é a 19, é a causa também que dava férias, eles dava férias a ele e ficava _______na causa 19, e quando ele vencer as férias dele, estava disponível para o embarque, causa 19, a causa 23 é a aposentadoria e a causa 24 que é a última é a causa morte á bordo, o comandante a bordo ele é uma cidade, e o comandante a bordo ele é o juiz, ele é tudo a bordo, ele tem no seu camarote o código cível que rege o nosso regulamento, ele tem o regulamento da capitania dos portos, que é essa que eu estou ditando, o RDM ( Regulamento Marítimo ), que pune, suspende tudo enfim, eu quando era iniciante, naquela época eu fui taefeiro, dispenseiro, comissário, era o tempo desses comandantes que eu lhe falei, arrogantes, mas eu tive o meu método como comandante, muitas vezes eu fui censurado pelos próprios outros colegas comandantes, chegaram a me chamar de demagogo, porque eu almoçava com o marinheiro na porta da cozinha, sabe por que? Porque eu vim lá do chão, sabia como estimulava eu estar em contato com o subordinado, porque eu cheguei lá em cima, eu não cuspia na cabeça de quem estava lá embaixo, é por isso que eu achei e bati recorde de viagem, porque eu achei nos tripulantes todos um companheiro, um amigo, ganhavam dinheiro igualmente, no mesmo sentido nós, agora na hora que necessitava o pulso, eu chegava, mas isso era coisa rara, não constituía um inimigo, hoje se a navegação voltar-se a funcionar pessoas do meu calibre, do meus temas comandar não comandaria, primeiro a corrupção campea, depois eu conheci companheiros, comandantes que todos saiam ricos, eu não sai com uma casa, tenho essa casa aqui com uma filha minha que tirou, eu não sai com uma casa, cumpri o meu dever cumprido, de ganhar o que eu podia gastar com minha família e eu sou evangélico, não tinha _________ mas conheci muitos comandantes que era fazendeiro, teve comandante que tinha 50 casas, comandantes era considerado rico, que teve comandante daquela época é que ele pegava na mão do dono daquele posto de lenha, dono do posto que não saia, lavava a mão com álcool, tão bonzinho que ele queria ser, esse tipo de comandante que estou dizendo isso, eu fui comissário dele, e ele morreu afogado num naufrágio, e que o corpo dele foi achado quatro dias depois, que ninguém podia pegar nele, quer dizer, pra você ver , medir o que é nosso, pra comparar com o semelhão, de maneira que são essas as histórias ai do São Francisco.
P/2 - Seu Celso eu gostaria que o senhor me falasse mais um pouco sobre essa questão do senhor ser um Comandante ser Juiz, de ter muita autoridade dentro do barco, como um comandante tem muita autoridade no barco e que ele é o juiz, né?
P/1- Ele tem o código civil, o que era assim, o que acontece?
R – O comandante a bordo ele é como juiz, é como um, um prefeito, porque a bordo se nasce uma criança a bordo, nós temos que ir lá escrever no diário de navegação o nascimento daquela criança e dali nós extraímos o registro dessa criança, se casa uma pessoa a bordo, nós fazemos o casamento ali a bordo, de acordo o diário oficial, nós dali o código civil, nós fazemos ali o casamento e queremos que celebre o casamento ali, se a pessoa morre a bordo como fizemos várias vezes, nós fazemos inventário, nós fazemos levantamento e fazemos da lista e do diário de navegação , o atestado de óbito , de maneira que eu acho que tudo ali é autoridade, nós somos a autoridade a bordo e é oficial tudo isso, torna se oficial tudo isso.
P/1- E o senhor casou alguém, uma criança já nasceu? Conta pra gente dessas, conta pra gente se o senhor já teve que fazer registro de uma criança, já fez registro de casamento?
R- Tudo a gente extraia dali, naquele tempo nós saia até no punho, existe uma criança e uma certidão de óbito, uma coisa a certo ali, quando morria uma pessoa nós enterrávamos numa cidade dessa aí, nós, o registro da cidade não é que dá não, é porque ele morreu a bordo, tudo era bordo, se nós prendíamos uma pessoa, fomos receber um telegrama que ali ia um criminoso, ou ia um ladrão, nós o prendíamos a bordo e entregávamos a policia ali, oficializava a entregar o documento dele, com laudo e pronto, para ele ser punido ali, dentro daquele ali, não era punido pelo laudo da delegacia não, laudo de bordo.
P/1- E casamento, o senhor já fez algum casamento?
R- Não, eu não fiz casamento, fiz atestado de óbito, fiz atestado de criança, atestado de nascimento, certidão de nascimento, fiz várias coisas, e eu vou contar a vocês uma Historinha curta também, ai vocês viram ali um navio que eu mostrei, só ele viajava pro Rio Preto, Jansimelo, aquele Jansimelo conduzia as professoras que não existiam naquelas cidades, em Santa Rita nem Formosa, não existia professora, elas iam todas daqui de Salvador, de Petrolina, de Barra, elas iam todas de vapor para ir para lá, levavam sempre uma irmã, uma mãe, qualquer coisa para ter com ela durante o ano, no fim do ano elas desciam de férias, né, e naqueles tempos que iam não só as professoras, mas também como iam os estudantes que estudavam, que existia três grandes Colégios no Rio São Francisco, o Colégio das Freiras Nossa Senhora Auxiliadora daqui de Petrolina, onde era o celeiro da Formatura de são Francisco, o Colégio também religioso, da cidade da Barra, é onde formava também toda aquela região, daqui até a Barra era Petrolina, da Barra até Januária era a Barra aqui em formosa, vinha esse povo todo daí, de Januaria o Colégio também, de maneira que esse povo embarcava os estudantes, enchia o vapor, como não tinha lugar para dormir, sentava rodeado dos bancos da mesa e aproveitava aquelas pessoas para jogar cartas, essas coisas tudo, e saindo da Barra cheio de professores e alunos, cheinho, e o vapor só existia dois camarotes, e esses dois camarotes era usado para troca de roupa, de sanitário, troca de roupa, essas coisas, e botar bagagem, bom, e esse pessoal ficava todos ali rodeados, á noite aquele silencio, ficavam sem dormir até tarde, esse navio era feito um vagão, uma porta de banda de um lado, e uma porta do outro, você olhava o rio de uma lado, e olhava o rio de outro, aquela banda evitava, você fazia feito um balançado na banda da porta para baixo, havia ventilação, havia as janelas, as venezianas, havia ventilação boa, num certo trecho de Barra para cima, aquelas professoras e alunos escolheram a senhora de idade que ia, que ela se mostrou saber botar cartas, e todo mundo ali desejava que ela dissesse alguma coisa sobre as cartas, e ela pegou a botar cartas, 20 léguas acima de Barra, é onde nós entramos para o bom fluido de Rio Preto, e entramos em Rio Preto, é um rio que a água é tão escura, que você vê uma moeda lá no fundo, um prato você vê que parecendo uma moeda, de tão fundo que é, porque é cascalho, cascalho se rebolando na correnteza da água, esse rio é tão corrente que de Boqueirão para Santa Rita, são 16 léguas, você leva quatro dias para subir, e para descer para passar em Santa Rita cinco horas da manhã e meio dia você chega, para você ver a velocidade das águas, quatro dias subindo e meio dia descendo, precisa o remunero ser muito bom motorista para poder dirigir naquelas voltas, naqueles pontos estratégicos, entramos para o córrego de Rio Preto, já escuro, quando chegou na madrugada, o vento naquela banda de porta, e aí o vento deu, na hora que estava botando as cartas ali, para uma professora, e uma dama de paus voou e caiu dentro da água, e aquela senhora de idade encabulou que era ela que ia cair na água, que ia morrer afogada, é por isso que eu disse a vocês a pouca hora, que é muito comum pessoas enlouquecer a bordo, não sei o que é, acontece que ela enlouqueceu, aí chamamos quatro marinheiros, porque a vontade dela era pular a porta e cair dentro da água, aí acabou o negócio de botar cartas, o povo ficou tudo assombrado, foi quando chamei quatro marinheiros, botei dois de um lado de uma porta e dois no outro para amanhecer ali feitos vigilantes, para evitar o desastre, mas ela iludiu o marinheiro, uma hora que cochilou, ela pulou dentro da água, o vapor viajando, escuro, a gente não pode, a gente parou o vapor, botou os marinheiros demais, que a ma gela é estreita, a gente botou os marinheiros de um lado e de outro, correndo á margem para ver se achava, dentro da água o vapor desceu umas léguas, descemos e não encontramos a mulher, aí levantamos o inventário dela, todo mundo ficou ali assombrado, levantamos o inventário dela, fizemos o levantamento de morte dela, de como foi, juntamos todos, chegamos no destino dela que era Formosa, que era Santa Rita, deixamos a bagagem dela com os parentes e deixamos tudo ali, seguimos viagem Santa Rita, seguimos viagem á Formosa, depois de seis de uns seis a oito dias nessa viagem, nessa tragédia, chegamos em, de Formosa recebi um telegrama que essa mulher apareceu, boa e sã, lá naquela fazenda e que estava debaixo de um arvoredo, calçando as sandálias feito das folhas de bananeira, pra você vê?, Voltamos, chegamos á Santa Rita, pegamos a bagagem dela na delegacia que entregamos os laudos, para fazer a causa morte, tomamos, chegamos cá no porto dito, empossamos, chegamos lá, apanhamos ela, embarcamos ela, para trazer de novo para Barra, onde ela embarcou, ela boazinha, ela nos contou que aquela hora ela enlouqueceu, ela caiu dentro da água, ela diz que viu todo mundo procurando ela, ela se agachou debaixo das ________, do arvoredo que sombreava a água e ali ficou, quer dizer, são histórias do nosso cotidiano de São Francisco, trouxemos ela e entregamos para eles na Barra.
P/1 – (Risos), Seu Celso, o senhor viajou muito, por muito tempo, eu queria que o senhor contasse um pouco, qual era a paisagem de São Francisco, o que o senhor via do barco?
R – Desse rio que eu estou falando, rapaz, lá tudo era frutíferas, os passageiros saltavam do João Cibelo, para ir de pé, porque o vapor era tão, devido à água corrente, passava o dia para tirar duas léguas, e o passageiro saltava de manhã para ir de pé, saboreando as frutas da margem, caju, manga, lima, laranjas, e tudo da margem, banana, essas coisas tudo, e iam saboreando nas margens, e iam de um lado e de outro, para encontrar o navio para atravessar na hora da dormida, já no córrego de barreira, era um rio muito acidentando em volta, tem um trecho que tem 12 voltas, esse trecho chama se Soares, essas 12 voltas se não for uma pessoa muito prático ali, abarroa, porque é saindo de uma volta e entrando em outra, dizem os Historiadores lá do rio, que aquele rio foi feito por são Pedro bêbado, montado numa ema, (Risos), já o rio grande que é o rio são Francisco, esse é majeado pelas fazendas, pelos portos de lenha, e pelas cidades, são 34 cidades que obrigatoriamente era, era obrigada a gente a atracar para fazer o serviço de correio, o navio ganhava, a subvenção do navio era paga pelo serviço de correio, então esse lugar se não comprovasse com o passe que adquirisse do agente do correio ali, não tinha direito a subvenção, esse Saldanha Marinho, eu fazia viagem para santa Maria, chegava cá, a gente trazia, como colecionava, como trazia dinheiro, ele era remitido, dali vinha subvenção mensal de todas as viagens, as viagens tinha número, fazia os correios, os navios grandes tinham que estar à frente do próprio serviço de correio, tinha o camarote, viajava ali e fazia o serviço. Este Saldanha Marinho fazia também uma viagem obrigatória aqui em baixo, Pernambuco, tem uma cidade aqui em baixo, Boa Vista, que ele navegava até lá. Eu fiz essa viagem 11 vezes, essa última viagem que eu fiz sai daqui no dia 27 de julho e fui para Santa Maria da Vitória, e ele 27, chegávamos aqui sempre no meio do mês, aqui esperava chegar aqui, chegava aqui no fim do mês, lá mais ou menos pro dia 20 esperava antes do dia 27, esperava aqui dia 4, todo 4 tinha que fazer essa viagem pra fazer o serviço de correio, levava passageiro, levava carga, daqui pra Curaçá, pra Boa Vista, ai a gente fazia essa viagem, a última viagem eu fiz em agosto de 53, que botei, recebi, quando eu cheguei aqui, atraquei no porto onde tem as barquinha ali, atraquei ali e recebi um recado vindo do continuo do diretor que eu deixasse, que eu não levasse o vapor pra empresa não, deixasse o vapor ali que o vapor tinha sido doado pelo Estado à prefeitura de Juazeiro. O prefeito naquele tempo chamava-se Américo Tanuri e o vapor foi entregue, o vapor desceu pra ali, onde ele era estacionado antes desse lugar e ali não tinha cais, ali ele foi botado umas linhas, botado guincho lá em cima e ele foi levado lá pra cima da beira do rio através de guincho e lá foi feito o estacionamento até esse ano que foi mudado pra ___________. Eu, a principio, eu condenei a mudança dele, mas depois que eu fui a inauguração dele, que o prefeito mandou vir me buscar aqui, pra que eu fosse lá falar ao governador, foi o último comandante que atraquei ele aqui, eu vi que o lugar hoje é muito bom, muito estratégico, e ficou muito bem instalado ele ali naquele lugar.
P/1 – Seu Celso.
P/1 – Ah, desculpa, continua.
P/1 – Seu Celso tinha muito jacaré nos rios?
R – Tinha, é eles tinham muito, tinham pouco no Rio Grande, porque o Rio Grande era muito explorado, mas nos afluentes tinha muitos jacarés, muitas aves, esse Rio Preto, por exemplo, era um tipo parecendo um pantanal, eram capivaras, muitas, eram muitos jacarés, como o rio ali era estreito, tinha ali ______________ de repetição, que eu atirava ali pra brincar com os passageiros, pra mostra capivara, _________ muitas cobras grandes, eu vou dizer a você, uma vez eu mandei, uma vez, tava muito escuro e eles viajando a noite nesse _________, mandei atracar, a correnteza tava muito grande, tava muito trabalhoso, eu atraquei, daí vamos deixar amanhecer o dia, mandei atracar o navio, num arvoredo que atracou o navio, no outro dia de manhã, quando foi pra sair, fomos ver e o navio tava amarrado, tinha matado uma cobra, amarrou em cima da cobra, quer dizer, nós vivia na beira do rio, cheio de cobras, pequenas e cobras grandes, tinha cobras ai que rolavam na rola do vapor, que tinha 12 metros, a sucuri, por exemplo, era uma cobra comum ali no Rio Preto, nunca vi ai no vapor duas coisas que me chamam a atenção até hoje, nunca vi um marinheiro morrer de congestão porque almoçou e tomou café e caiu dentro daágua, nunca vi, marinheiro tudo era forte, musculosos, marinheiros tudo era assim, fortes, homens fortes, nunca vi um marinheiro morrer de cobra, caia a tacar o vapor em cima das cobras. Eu me lembro uma vez que eu mandei entregar o Juraci, num capinzal e quando ele saltou do vapor pra amarrar o vapor lá fora, caiu dentro do capinzal, que o capim tava por aqui, que eu via ele pedia ao companheiro dele, me dá um pau de lenha ai, o marinheiro daqui deu o pau pra ele, ele abriu assim as folhas do capim, que eu vi que suspendeu depois um Jaracuçu, ele caiu em cima do Jaracuçu e não mordeu, parecia uma coisa, é uma benção, era uns homens, chegava os passageiros a dizer, eles são uns heróis, escrevia tudo o que vocês tão escrevendo ai, eles escreviam pra citar. O Rio Preto era munido dessas coisas, já o Rio Barreiro tem jacarés e capivara, mas o Rio Grande tinha pouco dado a convivência da navegação era muito maior e esses outros era raro.
P/1 – E o Rio São Francisco?
R – O Rio São Francisco inteiro era raro, dado ao movimento que era cotidiano, não só dos vapores como só das barcas, que tinha centenas de barcas que viajavam ali, barca motorizada, barca a remo , a vela.
P/1 – Conta um pouco a paisagem do São Francisco, do velho Chico, como que é a paisagem, como que ela vai mudando?
R – A passagem é bonita quando ela é na cheia, na seca, porque na cheia você alcança a mata dentro do rio, a mata dentro do rio, muitas vezes, você atraca com o vapor no olho do pau, e na seca não, na seca muitas vezes você atraca o vapor distante da cidade, um quilômetro , agora, dois quilômetros, muito diferente a paisagem da seca, lugar que tem cais atraca no cais, outras vezes, longe do cais, já na cidade você atraca cá em baixo da cidade, se você quer ir na cidade conhecer, é distante , na lapa, na cheia você atraca no cais, pra ir conhecer a gruta da lapa, era uma distancia, demora muito pra você ir e voltar, uma poeira danada.
P/1 – Seu Celso, e qual que era a vegetação nas margens do São Francisco?
R – A vegetação?
P/1 – Isso.
R – A vegetação era diversa, tirava toda madeira para ser transportada, do cedro a umburana, tudo isso para as carpintarias, essa coisa toda, as linhas, os caibros, tudo é tirado, da mata a ribeirinha, aqui é como o “madonas” era a mesma coisa, era tirado pra isso, cheio de fazendas, cheio de roças, cheio de tudo, cada uma tinha seu limite lá, aqueles que as arvores ficavam velhas, cortavam as arvores pra fazer lenha pra vender aos vapores, era o vapor que comprava lenha, sustentava aquele povo, sustentava comprando a lenha e vendendo querosene pro povo, mascate que viajava a bordo, vendia rapadura para aquele povo, vendia açúcar, vendia o sal ,que era o mais precioso daquele povo é o sal, pra temperar, salgar os peixes, pra fazer tudo, salgar as carnes, que eles matavam la , caça tudo, querosene que não tinha luz em lugar nenhum, era tudo a base de cambiero , de maneira que era assim a vida no Ribeirinho.
P/1 – E é muito diferente em Minas, na Bahia, como é que vai mudando a paisagem? Como que a paisagem vai mudando no São Francisco desde Minas até a Bahia?
R – A paisagem? Eu passei desse vapor chamado Juraci Magalhães, entre a lapa e a sete légua acima da lapa, entre lapa e Caminhana, eu passei oito meses encalhado, passei de uma seca a outra, o que encalhei, encalhei em março e sai em novembro, porque em novembro foi que veio a cheia, encalhamos porque na cheia as ilhas, forma- se ilha, você navega por um lado e pro outro pelo rio, não tem, não tem canal predileto, mas vem a vazante e estupro, muitas vezes fora de época aquela vazante e você muitas vezes encalha fica como aconteceu, Juraci encalhou do lado direito da margem, do lado direito da margem subindo o rio, entre a ilha e esse lugarejo, e aqui no lugar que encalhou, veio o dia _______, ele tinha noventa e tantos passageiros para primeira classe e cento e tanto de primeira classe, quando foi de noite as seis horas da noite, o _____ tava quase no seco, e ai criou-se o xampu, o pantanal, o rio só passava só do outro lado, o canal ficou do outro lado, e dizendo que passou ali, os passageiros tiveram que seguir seu destino e outros navios que foram à socorro foi carga e passageiros, e outros navios passavam primeiro, levavam um pouco e nós tripulantes ficamos lá oito meses e aproveitamos e consertamos o navio para as jornadas futuras, do casco ao rezo, foi funcionário foi, foi os homens que trabalhavam em solda elétrica, tudo enfim, foram fazer, pintores e todos, fizeram ali aquele serviço todinho para preparar o navio para o homem, e ali eles foram, e saiu novinho em folha dali, em novembro e novembro recebe uma ordem, não venha para a sede que era Juazeiro, siga a viagem, venha assim do mato, carregue-se do mato, madeiras e tudo que assim do mato, tem uma cidade de muita madeira para vender e pranchões e madeiras e muito lugar de algodão, caroço de algodão, e nós viemos e descarregamos aí, e seguimos a Pirapora, da volta de Pirapora, descemos já nas águas do rio, chegamos oito meses a Juazeiro, eu era solteiro ainda, eu era cabeludo, naquele tempo já existia cabeludo que era moda La, ia fazer o cabelo na Lapa, depois voltava pra La, La a nossa diversão era trabalhar conserto no vapor, depois jogar cartas,você sabe, dali me preparei para me casar, dali me preparei para me casar, ganhei muito dinheiro, economizei muito dinheiro ali, que jogava e ganhava, ali fazia jogo de cartas, sete e meio, mas não a dinheiro, era na base de cigarro, como o cigarro ali era ouro, eu vendia o cigarro de novo, comprava farinha dali daqueles brejos, milho, feijão, vendia aos vapores que passava, e ganhei muito dinheiro e me preparei para me casar.
P/1 – Como o senhor conheceu sua esposa?
R – Eu conheci minha esposa pelo um acidente, o irmão dela casou se com minha irmã, aqui ele veio servir a navegação, foi ele um empreendedor da minha campanha até aqui, foi ele que me tirou de ser sapateiro para ser, para trabalhar na navegação, ele noivou com minha irmã e casou se com minha irmã, eu quem foi que deu o pedido de casamento, e ele me tirou de ser sapateiro para me botar lá para ser ________ele era chefe, chefe de uma embarcação que embarcava o povo, ele estando aqui, veio uma irmã dele, mais velha, aqui passear na casa dele, poucos dias depois chegou aqui na casa, caiu num forte e morreu, três dias depois morreu, quando ela estava ainda os três dias, esta irmã dela, mais outra casada, ela era solteira, veio mais uma casada e o marido, vieram ver e assistiram o sepultamento em tempo, ela era noiva, e esse rapaz que casou com minha irmã, tinha trazido o noivo dela para ser empregado na empresa, ele era um bom carpinteiro, marceneiro e trabalhava na empresa, quando chegou desse lugar, Cachoeira que era a terra deles, que era noivo de minha mulher, que é uma lugar pequeno, quando ele chegou aqui num lugar onde é um mar de mulher, ele ficou doido por mulher, o noivo dela, e aqui arranjou mulher arroba assim, e aí meu cunhado mandou dizer a ela e ao pai que aqui estava cheio de mulher, e ela mandou acabar, e ela La sem namorado e eu também era noivo aqui de outra, aí eu apresentei minha noiva a ela, e eu conheci o noivo dela, foi assim, uma troca assim de gentilezas, no sétimo dia que a irmã dela tinha morrido, elas foram viajar de trem para salvador, depois desse dia eu já fui embarcado, no Saldão Marinho para ir para Santa Maria, e ela foi me embarcar, mas ela era noiva, foi me embarcar e conheceu como era o negócio lá, foi me embarcar, e lá eu prometi, vou trazer lá de santa Maria tem muito doce, doce de coco, doce buriti,doce de leite, vou trazer um doce para você, parecia até que a gente já era, ela ficou confiante naquilo, eu fui á viagem, e ela viajou pra cá, Salvador, mas esse cunhado meu, acabando o noivado dela, estava namorando lá com um primo dela, olhos de gato, olhos claros, gente boa, namorando lá, e eu chequei de viagem aqui, minha mãe me recebeu e me disse: José, sua noiva já é noiva de outro, eu digo o que? Mesmo assim á noite eu fui lá, como de costume eu fui lá, chequei lá achei ela sentada na cadeira, na porta com o noivo, ela morava com uma irmã e o marido da irmã era dono de clube de futebol, e lá hospedava vários jogadores de futebol, vindo de outro lugar, e ela namorou com esse jogador de futebol, dentro de casa, parece que o negócio é gostoso, dentro de casa, tudo, e lá quando eu chequei, fui lá olhei o negocio, apertei a mão tudo assim, via de pé, fui no _______ e ela acabou e eu acabei, o negócio normal, se emprenhou a namorar ai pela beira do rio, nunca me lembrei não, mas depois meu cunhado estava doente, esse cunhado meu caiu doente, e eu viajando nesse vapor Juraci Magalhães, chequei aqui de viagem, minha mãe foi no vapor de Rangel, esse meu filho tem o nome dele, botei pro João Rangel, Rangel desceu muito doente, o médico constatou que é problema no coração, aí eu digo, eu chequei aqui domingo e disse: Então terça feira nós vamos La, ele era pra mim, não cunhado, era um irmão, dos irmãos muito bom, eu vestia a roupa dele tudo assim, calçava sapato, ia pras festas, aí foi mas mamãe pra salvador, cheguei lá, achei ele, falando nitidamente sentado, sentado, problema no coração, tratamento médico lá, né, e essa irmã dele namorando com um primo, vinha de noite, essa irmã dele desgrenhada, cuidando dele, mais do que a própria minha irmã, minha irmã não cuidava quase dele porque essa não dava vaga á ela, cuidando do irmão assim, aquilo me impressionou, impressionou, bom! Chegou na terça feira, na quarta feira ele piorou, como morava perto do mercado modelo lá em Salvador, inventava de noite, tinha uns parentes lá para fazer aquele velório, aquela coisa tudo lá, o caso dele tinha piorado, digo: vamos comprar esteiras ali no mercado modelo, e eu sai com ela e as sobrinhas dela, aquele bocado de mocinhas, antes vou contar pra você como começou, antes no jantar, a mesa era comprida, nós jantávamos, o dono da casa era um professor Flávio Dias Coelho, eles sentavam na cabeceira aqui, e eu sentei aqui do lado direito dele, e ela sentava desse lado, qualquer desvio ali, eu peguei aqui no pé dela, assim de fronte, o cunhado dela aqui na cabeceira e eu de fronte dela, peguei no pé dela, e eu vi quando ela soltou um rizinho assim, como a gente é malicioso, aquele rizinho me deu uma entrada muito grande, aí levei de novo o pé e peguei, e ela achou bom, gostou, eu também achava, bom! Inventaram esse negócio para poder a gente ir passear e comprar umas esteiras lá, e eu era o Coronel que catava o dinheiro, era eu, eu fui mas ela pra comprar, toda aquela meninada pra comprar as coisas pra ele no mercado, aquelas coisas, brinquedos, e foi aquela meninada toda e eu fui, eu sei que quando eu voltei do mercado o namorado que era o primo dela, já tinha ido pra lá, não viu ela, soube que ela tinha saído comigo, já não esperou mais, e arribou, quando eu vou com ela voltando do mercado, já pegado na mão, ele passou e viu a gente e não voltou mais, e aí no sétimo dia eu prometi, eu vou casar com você, eu vim embora, aprontei ela, eu aprontei ela de calçado, luto, de roupa e tudo, despedi e vim embora, viajei aqui, ele morreu no dia 1º de maio, 7 de maio eu ia embora, em outubro, em agosto eu fui pedir ela aos pais dela, que era donos de cartório, o pai dela, hospedava o padre lá no lugar e o padre disse: Eu vou fazer o casamento, e acertamos para tudo isso, mas eu vim me embora, pedi em casamento, dia 15 de agosto eu vim me embora, em outubro ela veio passear aqui, ela tinha um irmão aqui, eu trouxe um irmão para trabalhar na navegação, e mandei ao irmão para que pedisse ao pai que ela vir passear aqui, o pai consentiu, ela veio passear aqui, aqui eu pedi consentimento ao pai, casei aqui, aprontei tudo, foi assim que comecei a história, em nove de outubro agora passou-se 64 anos, vida feliz ,eu não teria mega sena que pudesse pagar a vida que tenho de casado com minha esposa, amo e ela me ama, nunca tivemos nem provocação nem separação, nunca tivemos nada, a poder dos meus filhos dizer assim, eu queria achar uma esposa como minha mãe, eu queria achar um esposo como meu pai, tudo, 64 anos fizemos agora, minhas coisas são todas de recorde, são recorde, 64 anos de casados, 63 anos eu fiz em fevereiro, vou fazer agora 64 que sou maçom, 40 anos vou fazer que sou aposentado, tirei 35 anos de serviço, isso é recorde, só que vivo contando as Histórias tudo com a maior nitidez do mundo, lembrando de tudo isso, lembro como meu primeiro dia de namoro, coisa sensacional, nunca vi, uma coisa que parece ave Maria, fui passear com ela, passeando na praia, mais a sobrinha, mais ela, ah! que delicia, nunca tive entrada perigosa com ela, porque ela é uma mulher muito restrigida, basta dizer quando ela vêm pra cá, recomendada pelo pai, a minha mãe, eu era vigiado, eu dormia num quarto e ela num outro, ela era vigiada até de madrugada, se eu tava deitado no meu quarto e ela no quarto dela, eu não podia conversar com ela aqui, eu fui um namorado e noivo que não tive ensaio, nem provocação de que eu poderia ser o marido dela, não tive, fui casada bruta, porque eu não tive, eu viajava e os dias que passava aqui ,ainda era vigiado e assim.
P/1 - Como chama sua esposa, seu Celso? O Nome de sua esposa?
R - Silvina Rangel Cunha, ela chamava se chamava Silvina Rangel de medalhões, mas Silvina Rangel Cunha, esse meu filho chama-se João Rangel Cunha, meu segundo filho, embora ele é técnico de computador, ele chama-se Rogério Rangel Cunha, minha terceira filha, mora em Feira de Santana, casada com um homem que lida com bois, ela tem neto já, ela chama-se Sueli Rangel Pedreira que o marido dela é Pedreira, Cunha Pedreira e a Susana Rangel Cunha, foi casada, o marido a largou, arranjou uma mulher e foi pra Minas Gerais e ela ta aqui, tirei da casa dela, ela já tinha casa própria, a tirei da casa, eu moro aqui e crio a filha dela, olha o tamanho dessa menininha, criei aqui, adotei ela, a Sueli e tudo, a Késia que é mãe da menininha, e ela mora aqui comigo.
P/1 - Seu Celso tem alguma coisa que a gente perguntou?
R - Tem o caçulo, o meu filho caçulo, o caçulo era pastor adventista, morreu, tem um mês e tanto que morreu, morreu assim de um enfarte, 50 anos fez agora dia três de dezembro, morreu de enfarte.
P/1 – O seu Celso porque a navegação de São Francisco foi extinta? Por que parou de ter os navios?
R – Parou por falta de navegação, os criminosos acabaram com o vapor, o navio, criaram uns empurradores, os empurradores não têm, não tem navegação na estiagem , ai parou, parou, ficou os ________devendo os funcionários aí, agora tem uns dois meses ou três que o Presidente da República decretou a falência da navegação, a Fronave, e a Fronave está extinta, está prometendo criar outra navegação, não sei se vota no sábado, eu duvido, criar uma navegação não de um dia pra outro, aquilo é vagarosa, construir um vapor, transferir um vapor, vem desarmado, armado, criar tripulantes, porque eu, não existe mais aquele povo credenciado, carteado, diplomado pra viagem, os oficiais não existem, a maioria morreram tudo, meus companheiros todos, eu sou o sobrevivente de uma revolução, eu, meus companheiros tudo já morreu, tem hora que eu fico lembrando assim, daqueles milhares de companheiros, todos os comandantes.
P/2 – Seu Celso, a gente está finalizando, mas assim, a construção da Barragem de Sobradinho, como que influenciou na navegação de são Francisco?
R- Primeiro existiu outra barragem, aí é o trecho mais perigoso, ai onde está o Sobradinho, não era ali a navegação, não era ali, era pro outro lado do norte, era um lugar chamado Cachoeiras, Cachoeiras do Sobrado, e dessa cachoeira do sobrado foi construído uma eclusa, no tempo do Presidente da República Gaspar Dutra, eclusa Gaspar Dutra, foi no tempo do Gaspar Dutra era presidente.
P/2 – Descreve como que funciona uma eclusa pra gente?
R – Ela fechava, era feito uma represa dentro de uma ilha, você fechava, as águas chegava ao limite que queria, e ali abria e descia, abria as comportas e descia o vapor como descia do elevador, nós com Chata, com tudo descia ali, na inclusa, a foi depois criou a ponte com abertura que quando a gente apitava La encima e o encarregado da comissão do Vale São Francisco, e abria a ponte como dar corda num relógio, abria manualmente, depois tornaram, ligaram a eletricidade, elétrica, era mais rápida, abria e via a cor do vapor que vinha, a altura, tem vapor muito alto, e vapor mais baixo, e depois foi criado, isso a inclusa em 45, depois o próprio rio e as enchentes destruiu ela, de tanta força, a água tem muita força, destruiu as ilhas e furou e surgiu a inclusa e veio aí a criação da Barragem de Sobradinho, a Barragem de Sobradinho teve que matar muitas cidades, matou a cidade de Casa Nova, cidade de Remanso, toda essa matou aí, por essa redondeza ,matou tudo aí, criou novas cidades, foi como que tivesse demolido, passado um trator e entulho e criado outra cidade aí, criou esse Sobradinho aí, que é muito boa, mas ela não foi totalmente perfeita na sua construção, porque a produção de peixes caiu assustadoramente, porque o peixe, ele tem aquele período, que chama Piracema, né, é a produção do peixe naquele período, e eles não descem rio, o peixe não desce rio pra fazer a piracema, para fazer a produção, ele sobe as águas correntes, eles subiam, e ali na inclusa tinha subida, mas na Barragem de Sobradinho não tem subida pros peixes, fechou totalmente, aí diminuiu a produção do peixe, quem viveu piracema daqui de Juazeiro pra baixo viveu, quem não viveu, tem somente a raiz daqueles que ainda passeia por aqui, outro dia eu vi o peixe no supermercado em Salvador quase a metade do preço do que juazeiro, em Salvador.
P/2 – E Seu Celso, o que influenciou na navegação a construção da barragem nova, a barragem nova, o que influenciou na navegação ou não influenciou nada?
R – Não, a barragem nova ela não beneficiou quase nada, foi quando veio o término da navegação, aparentemente ele não contribuiu nada pra navegação até agora, pouca coisa contribuiu pro valor que foi jogado La, porque é muito deficiente a decolagem de sobradinho, você vem La de sobrado pra cima, você vem numa altura, uma altura de mais ou menos uns dez metros, vamos fazer assim a hipótese, você vem La de Sobradinho navegando num rio que vem com dez metros acima de Sobradinho pra baixo, quando chega em sobradinho que você faz a cruzage do navio, ou com uma Chata, ai a cruzage, você abre a comporta, ela desce pra ficar no nível daqui, você desce aqui, cruzage é uma coisa formidável, uma engenharia muito bonita, muito prática e eficiente, segura, não tem nada, nada, nada.
P/2 – Seu Celso, quais são os sonhos do senhor pro Rio São Francisco, assim, o que o senhor deseja pro rio São Francisco?
R – Eu não tenho sonho, e ainda estou duvidando, está existindo aí a luta dos governos, que tem assumido aí, de uns 30 anos pra cá, não tem um governo que tenha olhado pra o São Francisco, o São Francisco, o rio São Francisco quando ele tinha uma lei, quando vigorava essa lei, que dava ao rio São Francisco 2% da renda da Nação, esse 2% era jogado no rio São Francisco, em benefício da limpeza, da dragagem, aqui existia, pra dizer melhor, existia umas duas, umas três ou quatro dragas no são Francisco, draga de areia e draga de pedra, duas de uma, duas de outra, você queria abrir um canal, no lugar onde tinha perigo de pedras, quebrava ali, aquela dragagem e abria aquele canal ali, se você tinha um perigo onde tapou, porque o rio são Francisco é muito traiçoeiro, você viaja aqui pra Pirapora nesse rio aqui, passou aqui nesse rio, conservou que ele mudou daqui, é muito traiçoeiro, é preciso a praticage tenha muito golpe de vista, porque aqui não chama se como La no mar, La no mar chama assim timonero, o piloto aqui chama se o prático, ele vive de acordo com a prática que ele tem da navegação no rio, ele conhece onde é o fundo e onde é o raso para poder botar o navio, ele conhece onde tem a coroa, onde tem um pau afundado para furar o vapor, onde tem pedras ele conhece, e conhece os trechos perigosos de cachoeira onde ele pode fazer as manobras que ele quer e o navio que ele quer e sabe fazer a manobra, de maneira que é assim aqui, no são Francisco, é muito traiçoeiro, por isso ele era muito beneficiado quando ele tinha esse 2%, e quando acabou que pegaram o dinheiro por La mesmo e não jogado cá, acabou o benfeitor do rio São Francisco, era uma Deputado Federal chamado Manuel Novaes, ele era quem canalizava tudo isso para que o São Francisco, o beneficio, ele tinha uns chefes aqui, ele empreendeu aqui uma empresa que chamava-se Comissão do Vale São Francisco, esse beneficiava o rio São Francisco, ele fez o rio São Francisco, esses cais, todo o rio São Francisco foi feito por esse dinheiro, esses hospitais regionais de Minas até chegar aqui foi feito com esse dinheiro, esses colégios foi beneficiado com isso aqui, esse correio telégrafo foi beneficiado com esse dinheiro, essa ponte foi beneficiada com esse dinheiro, essa cidade que tem rios por fora, foi como Jacobina por exemplo, ela é cortada por dois rios, rio do Ouro e Tapicuru, lá não tinha cais e lá era muito febril , cercou toda de cais, a cidade ficou bonitinha parecendo uma Veneza, aqui era uma fazenda, aqui nessa cidade de, a cidade do Feijão aqui como é.
P/2- Irecê?
R – Ireçê era uma fazenda e ele mandou mil trator ai e fez a fazenda aqui, hoje supri aqui quase Nordeste de Feijão, Irecê hoje é uma cidade movimentada e lá em Barreiras o Americanos trouxe pra lá, porque Barreiras parece é o nível daqui, mas a altura de Barreiras tem 80 ou 90 metros, que é uma serra perto de Barreiras, que Barreiras fica assim parecendo que está num buraco, mas não, o nível daquela serra ai vai bater em Goiás e ali em cima foi feito o aeroporto de Barreiras, trazendo o Americano pra barreiras, o Americano, a Barreiras hoje era um lugarzinho pequeno, Barreiras, e hoje é uma cidade que tem nove a dez bancos, é uma cidade hoje que supre hoje com a soja, cidade hoje muito movimentada, muito grande hoje a cidade de Barreiras, o comércio muito, engole Juazeiro e Petrolina, em dinheiro correndo em Barreiras.
P/2 - O seu Celso foi fazer uma última pergunta para gente acabar, é, conta a história do negro d’água?
R – Não há historia do negro d’água, porque eu não vi e não prestei atenção a isto, porque não dei valor a isto, porque lendas que a gente não vê e não conhece de um pega, de maneira que ouvia falar de negro d’água como ouvia falar, quando eu era menino, tinha medo de caipora, nunca vi caipora aqui , lobisomem, é homem virando bicho aqui atrás de mulher e tudo, que é o que vira lobisomem.
P/2 – Mas que o pessoal acreditava no negro d’água?
R – Agora o povo dizia que viu, que viu um negão saindo dentro d’água, viu um, a gente desembarcava cem saco de farinha ali em Santana de Sobradinho, e de manhã amanhecia faltando não sei quantos sacos de sobradinho, a gente diz não viu quem apanhou não? Não, foi o negro d’água que apanhou, quando a gente via, a gente ia fazer uma pesquisa na casa de um pescador que tava ta fiando lá dentro da cachoeira, pescou farinha, ah! Isso tudo é lenda da mentira, pescar farinha dentro d’água, saco de farinha, é querer enganar os outros, quem botou como símbolo aqui tem um negro d’água ai, como um símbolo no rio de São Francisco, é como um símbolo da sereia lá no mar, você já viu uma sereia lá no mar? Não viu, você já viu um caipora no mato? Não viu, é como nunca vi negro d’água, nunca vi, eu queria ver uma negra d’água, não negro.
P/2 – E seu Celso tem alguma coisa que a gente não perguntou que o senhor gostaria de deixar registrado, gostaria de falar alguma coisa que a gente não tocou? Teve alguma coisa que a gente não perguntou pro senhor, alguma coisa que o senhor queira falar que a gente não perguntou?
P/1 – Tem alguma história que ficou faltando?
P/2 – Alguma coisa que o senhor queira falar que a gente não perguntou?
R – A gente lembra de acordo com a seqüência que a gente vai conversando, a gente tem muito, muita coisa, mas á queimar roupa assim, não ta na seqüência assim não, só se a gente quisesse ter uma agenda, alguma coisa.
P/2 – O que o senhor achou de ter dado a entrevista pra gente?
R – Eu me sinto viu, lisonjeado por isso, e honrado por vocês fazerem isso, porque eu, pra mim, hoje eu revivi, eu nasci de novo, depois de 40 anos de aposentado, eu vivi de novo, falando pra vocês, tudo daquilo que vivi, a minha vida foi isso, a minha mulher me diz que me sinto bem quando estou conversando com um irmão, com um companheiro assim, conversando daquilo tudo que já passou, quem morreu, quem não morreu, quem passou, quem não passou, e pra mim me sinto completamente realizado com essa visita de vocês, com essa entrevista de vocês, me sinto bem mesmo.
P/2 – Nós é que estamos lisonjeados.
R – Que ocasione os seus desejos, que completem aquilo que vocês desejam, com essa entrevista minha, que ela sirva de um laço e um esteio para qualquer outra história, que vocês la no sul não tem conhecimento dessas histórias daqui, eu transportei, eu tenho ai guardado não sei onde, em minha gaveta, um papel desse tamanho que o vapor foi o Benjamim Guimarães que eu comandava por ultimo, eu transportava turistas, e ele veio com 36 turistas, todos eles da cidade de Campinas ouviu? Da cidade de Campinas, e eu toda vida tive desejo de ir em São Paulo, para me encontrar com esses turistas, porque eles pertenciam quase a uma família Meireles, dentistas, médicos, engenheiros, advogados, mulheres, homens tudo ali, 36, e a gente teve uma convivência formidável de Pirapora para Juazeiro, na véspera da chegada a Juazeiro, que o ônibus já esperava eles aqui para eles conhecerem salvador, a atração turística de Salvador, eu promovi um jantar, mandei fazer a leitoa, peru, uma coisa toda assim, e promovi um jantar e la no salão da frente, botamos as cadeiras todas, pra todos ali contar, cada um tinha a obrigação de contar uma anedota, dentre as centenas e milhares de anedotas que eu conheço, anedotas de salão, anedotas apimentadas, tudo, coube a mim contar, e um deles uma vez me telefonou de la de Campinas, fazendo uma pergunta sobre essa anedota, porque a anedota tem o fundo dela, era um jegue, a finalidade da anedota que eu contei era um jegue, você sabe que aqui no Norte, não chama jumento, burro, chama jegue aqui no Norte, e eu la na hora que eu fui intimado a contar a anedota, veio na mente essa anedota, que um senhor morava fora da cidade, e toda semana ele vinha montado num jegue, fazer a feira, trazia os alforjes, como é só uma vez por semana, ele fazia a feira, botava nos alforjes, botava encima dos jumentos, amarrava num pau, quando estava ruim mesmo, montava no jegue, o jegue levava ele, mas teve um dia que ele veio, fez a feira, botou nos alforjes, botou encima dos jumentos os alforjes, amarrou num arvoredo costumeiro, e saiu, e foi comer água, quando estava bem ruim, bem ruim mesmo, no pau, ele veio atrás do jumento pra levar ele, ele não achou, só achou o pedaço do cabresto do animal, aí ele saiu pra li como bêbado, saiu cambaleando por ali, perguntando se viu o jegue dele, se viu o jegue dele por ali, pela cidade, fora da feira, até que ele entrou assim numa rua, numa rua de gente bem, e ele viu uma multidão na porta e ele chegou pra frente, ali estava se realizando um casamento, como bêbado não pede licença em lugar nenhum, um mal educado, ele entrou ali porta adentro do casamento, naquele momento, gente fina ali, tudo, ai chegou assim, viram ele assim, indesejável assim, vestes assim, tudo assim e ruim, chegou levou ele assim, e disse: tome aqui um pau aqui e vá dormir, deram ali uma talagada a ele boa, aí ele virou e saiu, mandaram ele dormir, saiu pelo um corredor, ele olhou assim, num quarto da noiva, ele viu o colchão dessa altura, estava bonito assim o quarto da noiva, (Risos), Ele olhou ali e disse: não é possível que tenha mandado eu dormir aqui, não é possível, mesmo assim ele entrou pro quarto, e ali ele viu o tapete, deitou ali no tapete, mais tarde rolou ali no tapete para debaixo da cama, e ficou ali dormindo, houve o festejo do casamento ali, tudo enfim, e houve os comes e bebes, tudo ali, quando foi meia noite, a despedida dos convidados, despede convidados e deixaram os dois noivos, deixaram o casal sozinhos, eles se recolheram ao quarto, o casal se recolheu ao quarto, e ele pegou a tirar a grinalda, o véu, ficava a fazer aquela admiração, pegou a tirar o vestido, a tirar tudo, depois ele tirou tudo, quando ele descascou a noiva mesmo, que deixou na paleta mesmo, ele afastou e disse: ETA! Minha filha parece que eu estou vendo o céu e as estrelas, aí o bêbado botou a cabeça assim debaixo da cama, e disse: Vê se você vê o meu jegue aí, (Risos), Ele estava procurando era o jegue, isso aí, o cara me telefonou La de Campinas, perguntando: Comandante, vê se você vê o meu jegue aí?
P/2 – (Risos), Que ótima a história, Seu Celso muito obrigada pela entrevista, a gente está muito lisonjeada de ter conversado com o senhor.
R- Eu que agradeço a vocês de ter chegado até aqui, e eu sei que vocês não estão fazendo por brincadeira, eu sei o quanto eu me interessei para cooperar, porque analiso vocês, depois de mim, analiso vocês, o sacrifício, de vocês terem deslocado La do Sul pra aqui, e fazer essas reportagens, porque La no Sul já está escasso, eu digo isso porque convivi com São Paulo, morei em São Paulo, enfim conheço o Rio, eu conheço vários Estados, e sei perfeitamente a escassidão, e as coisas mais que tem que ser vivenciada, está encubada pelo Norte, aqui no Nordeste, só com a chegada de Lula, nordestino ao Governo está clareando mais, está abrindo mais o nordeste para as coisas, visitar vocês aqui eu me sinto muito feliz em estar cooperando com vocês aqui, e peço a Deus que vocês sejam felizes e que isso possa frutificar para a profissão que vocês estão enfrentando.
P/1 – Muito obrigada.
P/2 – Muito obrigada seu Celso.
P/1– Muito bom, (palmas )
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