Sou filha de Hardy Kowalesky e Cecília Sperindione Kowalesky. Meu pai nasceu no Núcleo Campos Salles. Filho de Virhen Kowalesky,que todo o mundo o conhecia como Guilherme Kowalesky, e de Guilhermina Mengue, que era filha de alemães. Moravamnum sítio desse núcleo. Com seus 18 anos, mais ou menos, ele veio para Cosmópolis, trabalhou na Sorocabana por um tempo e depois, logo em seguida, foi para o cinema. Um pouco antes de se casar com minha mãe, ele sofreu um acidente, quase mortal, pela explosão de um cilindro de gás. Mas depois ele se recuperou e voltou a trabalhar. Daí foi convidado pela Sorocabana para trabalhar em Santos, e até foi lá para ver o serviço, mas não gostou muito. Hardy e o Cinema ambulante: como tudo começou O senhor Durval Dias Arruda já tinha uma pequena empresa de cinema ambulante com outro sócio, mas esse sócio queria sair do negócio e vender a parte dele. Então meu pai a comprou e se tornou sócio do Durval. Primeiro ele comprou a Melancia, um furgão redondo, verde. E todos conheciam como Melancia do Catrela, que era o apelido do meu pai. Não me pergunte por que, porque eu não sei. Era assim que ele era chamado quando era jovempor todos os amigos dele, principalmente os de cinema.Ele começou passando filmes em alguns lugares de Campinas, em bairros como São Jerônimo epor aqui também. Depois que ele vendeu aMelancia, comprou um Ford e foi, junto com o serviço dele de cinema, ser taxista nos bairros. No tempo da Melancia, o pessoal se reunia lá em casa. O Bibi, o Adolfo, o Bira iam com o meu paino Salto Grande ou na ColôniaCarandina e faziam o vai e vem dos rolos de filme, porque acontecia mais de uma projeção. Enquanto no Carandina estava passando o primeiro rolo, ele ia para o Salto grande montar o projetor. Voltava para o Carandina, esperava terminar o rolo, levava para o Salto Grandee depois voltava para o Carandina para pegar o segundo rolo, e assim por diante. Então na mesma noite, passava o filme em...
Continuar leituraSou filha de Hardy Kowalesky e Cecília Sperindione Kowalesky. Meu pai nasceu no Núcleo Campos Salles. Filho de Virhen Kowalesky,que todo o mundo o conhecia como Guilherme Kowalesky, e de Guilhermina Mengue, que era filha de alemães. Moravamnum sítio desse núcleo. Com seus 18 anos, mais ou menos, ele veio para Cosmópolis, trabalhou na Sorocabana por um tempo e depois, logo em seguida, foi para o cinema. Um pouco antes de se casar com minha mãe, ele sofreu um acidente, quase mortal, pela explosão de um cilindro de gás. Mas depois ele se recuperou e voltou a trabalhar. Daí foi convidado pela Sorocabana para trabalhar em Santos, e até foi lá para ver o serviço, mas não gostou muito. Hardy e o Cinema ambulante: como tudo começou O senhor Durval Dias Arruda já tinha uma pequena empresa de cinema ambulante com outro sócio, mas esse sócio queria sair do negócio e vender a parte dele. Então meu pai a comprou e se tornou sócio do Durval. Primeiro ele comprou a Melancia, um furgão redondo, verde. E todos conheciam como Melancia do Catrela, que era o apelido do meu pai. Não me pergunte por que, porque eu não sei. Era assim que ele era chamado quando era jovempor todos os amigos dele, principalmente os de cinema.Ele começou passando filmes em alguns lugares de Campinas, em bairros como São Jerônimo epor aqui também. Depois que ele vendeu aMelancia, comprou um Ford e foi, junto com o serviço dele de cinema, ser taxista nos bairros. No tempo da Melancia, o pessoal se reunia lá em casa. O Bibi, o Adolfo, o Bira iam com o meu paino Salto Grande ou na ColôniaCarandina e faziam o vai e vem dos rolos de filme, porque acontecia mais de uma projeção. Enquanto no Carandina estava passando o primeiro rolo, ele ia para o Salto grande montar o projetor. Voltava para o Carandina, esperava terminar o rolo, levava para o Salto Grandee depois voltava para o Carandina para pegar o segundo rolo, e assim por diante. Então na mesma noite, passava o filme em dois ou três lugares. No estábulo da Usina, uma pessoa do local era encarregada de estender um pano branco em dois mourões, no alto. Meu pai chegava, montava o equipamento e se não tivesse chovendo, era ao ar livre.Se tivesse, eles iam para dentro do curral, e eram acompanhados de boi, vaca e o “gostoso” cheirinho de estrume. Muitas vezes aconteceu isso. O equipamento de cinema consistia num alto-falante grande, que geralmente era posto na frente, e o projetor atrás. Eram filmes de 16 mm, bastante chanchada, faroeste, eles adoravam, era na granja, no estábulo, no Saltinho, na Carandina, na maior parte das colônias da Usina Ester, a princípio. E tinha o São Jerônimo que era da Usina Ester, mas lá em Campinas. Companheira do pai Eu sou a filha mais velhae acompanhei parte dessa história.Vivia com meu pai e minha mãe de dia, e à noite eu ia para a casa da minha avó, porque geralmente minha mãe acompanhava meu pai, principalmente quando tinha bilheteria. Nos lugares fechados como na Usina Salto Grande, elaé que era a bilheteira. Quando era ao ar livre a sessão era gratuita, em alguns lugares tinha bilheteria, aqui no Cosmopolitano às vezes tinha,às vezes meu pai fornecia o filme para ajudar o clube, havia também o Cine Alvorada. Era uma coisa variada. Tudo isso entre 1950 e 1960.E passava bastante Mazzaropi, era o que eles mais gostavam. Muitos filmes com dupla sertaneja antiga, O Gordo e o Magro, comédias, os filmes da Atlântida, bastante musicais, eles gostavam bastante. Eu não me lembro bem da reação das pessoas porque eu era pequena, raramente ia junto, só algumas vezes, porque era a noite, e eu tinha 6, 7 anos. Nadir Nallin O Nadir começou com o meu pai como projetista quando ele foi para a Cinematográfica Campineira.Quando meu pai teve o cinema no Cosmopolitano, Nadir era molequinho e já vinha ajudar em alguma coisa, mas na realidade o vínculo mesmo entre os dois começou em Campinas. Ele foi sócio na Cinematográfica, que funcionava fazendo projeções nas casas das pessoas. Nessa época não tinha vídeo, DVD, nem nada.A televisão tinha horário para funcionar, não tinha programação o dia todo, então muitos médicos e pessoas que tinham mais condições alugavam todo o equipamento, um filme e o projetista, para assistirao filme em casa. Fizeram muito isso na década de 1960 em Campinas. Eu fazia escola normal e meu pai trabalhava muito com isso quando começou como filmador na TV Excelsior. Gravava comerciais, eventos, porque o Durval Dias Arruda era o representante da emissorana cidade.Entãomeu pai começou a expandir a parte de gravação, que era o que já fazia aqui em Cosmópolis nos desfiles, nos eventos e em Paulínia também, porque produzia conteúdo para a Excelsior. Inclusive uma vez fui garota propaganda de um clube de Americanaem um comercial. Vinham muitos artistas famosos para cá por causa da Excelsior. Recebemos Nicete Bruno e Paulo Goulart, por exemplo. Na época estava muito famosa a novela Redenção, então as pessoas do elenco vieram participar do baile de debutantes daqui.Também tivemos cantores famosos no Clube, o seu Nino facilitava a vinda deles, convidava,e assim ele promovia a TV e ao mesmo tempo ajudava a cidade, ajudava o Clube, difundia.Foi uma época muito legal, muito boa.A gente se preparava para os bailes. Todos eram como o baile de aniversário do Clube, todo mundo fazia roupa nova, se vestia bem, e era um tal de não ter lugar em cabeleireiro já queeram poucos. Era um evento que movimentava a cidade. Meu pai e o Nadir sempre se adoraram, mas eles brigavam que nem cão e gato, meu pai tinha um botão na bilheteria, que tocava na cabine, que era em cima. Porque às vezes o Nadir bobeava um pouquinho ou acontecia qualquer problema, e o carvão da máquina desencostava e escurecia o filme, então meu pai apertava o botão, todo mundo escutava e o Nadir já arrumava. Era muito engraçada essa relação entre os dois.Brigavam, brigavam e se amavam. Hoje em dia se você falar do meu pai com o Nadir, ele é como eu, chora também, porque eram os companheiros.Tenho lembrança deles saindo juntos para pregar propaganda em Artur Nogueira. Uma vez por semana pelo menos meu pai ia para São Paulo buscar novos filmes nas distribuidoras, tinha a Fox, a Metro. Quando eram de 16mm ele trazia mais do que um, porque a embalagem era menor, eram umas caixas parecidas com maletasem que cabiam uns três rolos de filme. Jáos rolos de 35mm eram bem mais pesados, e ele começou a buscar desses quando começou com o cinema aqui. Melância encalhada Tem uma história antiga sobre a Melancia, ela acabou encalhando uma vez, na realidade não encalhou, caiu dentro do rio. Se não me engano era o Altair Madsen que estava dirigindo, voltavamà noite com chuva, era uma ponte estreita e o riozinho deve ter subido. Só sei que ela foi parar dentro do rio. No outro dia foi um Deus nos acuda para tirar, teve que ir trator. Eles aprontavam cada uma nessa época que vocês não fazem ideia. Na volta das exibições eles iam olhando para ver se tinha alguma coisa boa pelo caminho, e pegavam milho verde; se viam que tinha laranja, paravam para pegar, de noite, na estrada de terra, no escuro. Tinha que acontecer alguma coisa engraçada no meio disso tudo, né? Essa foi uma das vezes, dessa vez estragou um pouco a Melancia. Ela era muito engraçada, você abria a porta de trás e tinha dois bancos na lateral, aquilo ia cheio, na hora de brecar ou virar, era um tal de mudar de lado... Eles erammuito palhaços, uma turma muito unida, muito legal. Meu pai teve bons amigos. Grande família Meu pai era um pouco mais velho que os demais, e todos eram ligados através também do esporte, o Cosmopolitano Futebol Clube era um vínculo muito grande entre eles. Cosmópolis era uma cidade pequena, então o Clube era o centro de atividades maiores aqui, principalmente pelo futebol. E tudo acontecia na minha casa, eles iam lá sair, carregar equipamento, porque às vezes iam muitos equipamentos, três projetores, três ou mais alto-falantes,porque tinha que colocar um de cada lado dependendo do lugar.Então eu via mais essa movimentação, era pequena, me lembro daqueles homens enormes, porque todos eram grandes, altos, em volta de mim, todo mundo me pegava no colo, eu lembro disso como uma grande família. História de amor no Cinema Ambulante O Altair Madsen arrumou até uma noiva numa incursão dessas, ele ia ajudar meu pai a projetar, conheceu uma moça em Americana, se casou com ela e ela mora aqui até hoje, ele já é falecido, são pais da Claudia Madsen, que foi diretora de escola aqui. Foi uma história de amor que começou através do cinema ambulante do meu pai. Quando era pago, como no Cosmopolitano, eles limpavam, iam ajudar a abaixar os bancos das cadeiras, arrumá-las, porque no começo eram cadeiras individuais, daquelas de bar de antigamente, de vime entrelaçado.Depois vieram cadeirasagrupadas, de madeira. Isso no Cosmopolitano antigo, lá embaixo.Quando meu pai comprou, arrendou o Cine Avenida, eram cadeirasde madeira, logo em seguida ele introduziu as poltronas.A princípio ele zelava por essas poltronas, porque logo no começo houve bastante vandalismo. Ele começou a fotografar antes de começar a sessão para ver quem tava onde, porque se aparecesse cadeira rasgada ele saberia quem era, aí diminuiu um pouco. Mas sempre foram um grande problema esses atos de vandalismo. E nessa época quando começou o Cinema Avenida e ainda tinha essas cadeiras de madeira, tínhamos que reservar lugar para o coletor de impostos, para o delegado de polícia, o prefeito, então existiam umas capas, e esse serviço era meu, eu as colocava nos bancos reservados para as autoridades. Tinha também um camarote no Cine Avenida, que era privê, então a gente sentava em cima, naquela parte para ver o filme e tinham pessoas que às vezes preferiam sentar lá epediam para meu pai, ele permitia. Cosmópolis girava em torno do Cine Avenida, sábado e domingo tinha o famoso sobe e desce na rua, o passeio era ir até o Cine Avenida e voltar. O trajeto era ir até a esquina do Banco Itaú, mas com a chegada do cinema ele entrou no percurso, o banco saiu, passou a ser dele até a praça do Coreto. Quantos namoros se iniciaram no Cine avenida, né? Quanta gente aprende quanta coisa através do cinema? O meu pai mesmo, entendia e percebia muita coisa em inglês, não chegava a falar, de tanto assistir filme com legenda. E foi nessa fase que o Nadir veio de Campinas, mudou para cá, com a esposa, do lado do cinema tem uma casa, é a dele, e veio trabalhar com o meu pai como projetista. Depois quando meu pai vendeu o Cine Avenida para o OssimarDavinha, o Nadir continuou com ele e trabalhou inclusive nos cinemas do shopping. O Nadir também é uma história viva do cinema de Cosmópolis, porque foi desde o Cine Avenida, até terminar, até fechar as três salas do shopping. Ele é ótimo, sempre amou, adorou, tem os cartazes, tem umas coisas ótimas lá. O Cine Avenida era um cineteatro, tinha um palco muito bom, todo de assoalho. No fundo, quando meu pai arrendou, ele colocou uma tela de cinema. Mas antigamente era uma tela de cinema menor, quando tinha peça de teatro ela era erguida para trás e para cima, e ela se transformava num teatro com coxia e camarins. E nesse espaço que estava cheio de tralhas quando ele arrendou, pois fazia tempo que o prédio estava fechado, eles encontram um filme sobre a história da Usina Ester, que recuperaram e entregaram para a Usina Ester, era um filme de 35mm que não sei porque tinha sido esquecido no teatro. Aqui chegou a ter grupo de teatro, bem antes, tanto é que o nome era Cine Teatro Avenida.Um dos grandes precursores do teatro foi o seu Alcides Frungilo, que dá nome ao Centro de Memória, ele fazia parte de um grupo daqui. Relação de Hardy com o cinema Meu pai tinha uma paixão enorme pelo cinema, tanto é que para nós ter cinema em casa era a coisa mais normal do mundo.Ele vivia e respirava cinema. Quando ele recebia algum filme muito legal na Cinematográfica e não tinha nenhum aluguel para aquela noite, trazia para casa, reunia a família e a gente assistia. Esse era um dos muitos privilégios de ter um pai que amava cinema. Ele gostava tanto de ver cinema como de filmar. Era uma paixão para ele registrar os momentos eguardar isso, poder rever. Quando ele gostava do trecho de algum filme e via que o filme estava muito estragado, tirava, cortava forao pedaço de que gostava para guardar de lembrança. Ele trabalhava na cinematográfica e tinham um aparelho que colava os filmes, porque eles arrebentavam muito por serem de celuloide, se esquentasse demais, principalmente os de 35mm, criavam bolhas, arrebentavam e era necessário colar. Ás vezes esse defeito pegava um trecho grande. Então para não dar uma quebra muito grande, parecer que tava cortando, às vezes era preferível tirar uma cena para dar uma sequência mais razoável. Aí é que ele aproveitava para guardar esses pedacinhos que ele tirava. E muitas vezes ele montava esse equipamento em casa e assistia. Viveu cinema até o fim, mesmo depois de ter vendido o Cine Avenida e que parou de trabalhar diretamente com cinema, uma das primeiras coisas que ele fez quando surgiu a Sky, foi fazer uma assinatura de TV a cabo, tanto é que acho que ele é o mais antigo cliente daqui de Cosmópolis. Passava o dia vendo filme, amava aquele canal MGM, que passa muitos filmes antigos, sabia citar os artistas, lembrava das histórias. Imagino que na cabeça dele tinha um arquivo de cinema. Por isso toda vez que assisto Cine Paradiso, me emociono, porque me lembra muito meu pai. Eu acho um filme lindo...E acho meu pai meio parecido com aquele senhor do filme. O cinema, assim como a leitura, traz uma cultura geral muito grande, a gente viaja para o mundo todo através do cinema.Agora nós temos televisão, vídeo, DVD, tudo. Quando a gente fala disso para a criançada de hoje, eles vão falar: “Imagina, eu entro no Google e faço qualquer coisa”.Realmente, agora sim, mas na minha época não tinha isso, imagina. E poder ver Romeu e Julieta com a trilha do Franco Zeffirelli numa tela de cinema era uma coisa maravilhosa.E era para poucos, porque nem todo mundo tinha o privilégio de ir ao cinema. Ele guardava em agendas os filmes que passava, quantas pessoas foram à sessão, a bilheteria, era muito organizado. E com o cinema ambulante era a mesma coisa.Na casa da minha mãe tem coisas do arco da velha, dá para montar um museu, porque ela não mexeu em nada ainda, está tudo guardado. Registros É muito interessante pensar que era mudo, porque sonorizar o filme ficava muito caro, então meu pai filmava em 16 mm e depois colocava uma música de fundo. Não tinha computação gráfica, não tinha computadorpara fazer o letreiro e o título do filme.Então nós comprávamos cartolina grande, colorida e ele comprou um jogo enorme de letras, quemontávamose virava o letreiro do filme, tipo “Jubileu de prata de tal coisa”, “Desfile cívico em comemoração ao aniversário da cidade”, sempre com a data para poder marcar bem. A gente colocava o cartaz deitado e meu pai subia numa escada e filmava de cima para baixo, para poder saber do que se tratava e para ter um título pelo menos.Era eu que ajudava nisso, ele sempre me pedia ajuda e era muito bom, sinto saudades. Muita coisa de Cosmópolis, os desfiles cívicos, bailes de debutante, de aniversário do clube, eleição da Miss Cosmopolitano, que foi quando a TV Excelsior também estava presente registrando o evento, inaugurações, jogos de futebol, ele tinha muita coisa, isso desde 1951, 1952, quando o Cosmopolitano foi jogar em Poços de Caldas e ele filmou.Tem a filmagem de um almoço no Cosmopolitano, do time de futebol, na época em que eles iam jogar no Pacaembu e faziam a preliminar de um jogo importante, mas disso quem entende mais é meu irmão, e eles foram almoçar na casa do Seu Adão Martelli. Meu pai tem a filmagem, depois tem um pouco da filmagem do campo, não dava para filmar tudo porque era muito caro naquele tempo, eu me lembro que 3 ou 4 minutos de filme era bem caro, não era coisa acessível não. E graças a ele é que temos um pouco da história de Cosmópolis registrada, senão acho que não teria nada em movimento, só mesmo fotos. Cosmópolis fez desfiles cívicos lindos e ele filmou quase todos, das escolas, aí já era colorido.Esse de Poços de Caldas era um filme em preto e branco, porque era mais antigo. O cinema também me ajudou muito, porque assim que nós nos casamos, eu e o Rui, eu era e sou professora, e ele trabalhava na Usina Ester, quando meu pai abriu o Cine Avenida, nós assumimos a bombonière do cinema e isso nos ajudou bastante no início do casamento.Porque aqui não tinha, inclusive os doces a gente ia comprar em Campinas, foi assim que o Odair Sala começou a vender doces, e hoje é esse poderio todo, mas ele começou como vendedor de doces. Nós começamos a comprar dele e um dia chegou uma moça, que queria um Nalis, eu olhei e não tinha Nalis ali, no fim era Halls, aquele drops.Não podia fazer barulho depois que começava o cinema, e muitas vezes o negócio era de vidro, então a gente vendia, mas vendia morrendo de medo de atrapalhar. Meu pai teve cinema em Paulínia também, eu fui bilheteira lá. Isso era antes de abrir aquela avenidona ali no meio, onde a gente passa quando a gente entra na cidade. Ali era a linha do trem, onde tem a praça era a parte de baixo da rua principal, em frente àquela igreja menor, e o nosso cinema era quase em frente à igreja e dava fundo para a linha do trem. O trem passava com o cinema funcionando.Eu ia durante a semana depoisde assistir às aulas noGepan durante o dia, fazer a bilheteria lá em Paulínia. Tinha os meus amigos de Paulínia que vinham estudar aqui e acabei fazendo mais amigos em Paulínia, graças também ao cinema. E eu assistia, porque tinha que ficar até o final, não tinha como ir embora, então assistia filmes e mais filmes. Foi uma vida muito boa nessa parte, agradeço muito ao meu pai, porque conheci muita coisa bem antes do que muita gente, graças ao cinema e graças ao meu pai. Acho até que meu pai foi um pouco cupido, foi meio circo também para cidade, porque aqui não tinha muita coisa para fazer, então ele levou distração, divertimento, até conhecimento para muita gente daqui e deixou registrada boa parte da história da cidade, então sinto muita admiração e tenho muito orgulho de ser filha dele. O cinema foi para ele o que foi para aquele senhor do Cine Paradiso e eu fui um pouco daquele menininho, que acompanhou e que se apaixonou também pelo cinema. Ele passou muito disso para a gente. Edição de texto por Heyk Pimenta
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