Projeto Memórias do Comércio de Bauru
Entrevista de Fábio Carvalho
Entrevistado por Luís Paulo Domingues e Cláudia Leonor
Entrevista número 006
Bauru, 22 de janeiro de 2021.
Transcrito por Selma Paiva
Então vai lá, Luís Paulo.
P2 – Legal. Fábio, pra começar, de praxe, assim, eu queria que você dissesse, para ficar registrado aí no vídeo: o seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade em que você nasceu.
R1 – Sou Fábio Souza Carvalho, sou de Bauru, nasci em 15 de fevereiro de 1986.
P2 – Legal. E qual que é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Cássio Nunes Carvalho e Maria Elídia Souza Carvalho.
P2 – Sim. E dos seus avós?
R1 – Itacolomy Carvalho, Lúcia Marinho Carvalho e da parte da minha mãe é José Souza e Josefa Souza, não lembro… não conheci (risos).
P1 – Normal.
P2 – E você tem irmãos, né?
R1 – Tenho um irmão.
P2 – Você tem um irmão, só(?).
R1 – Cássio Souza Carvalho. Um irmão só, mais velho.
P2 – Legal. E você, quando você nasceu, você morava em qual bairro?
R1 – Morava aqui no Centro, três quadras para cima aqui da loja do calçadão.
P2 – (Sei). O que que você lembra dessa sua época de infância, assim? Como que era… as coisas que tem na sua memória, assim. É… Como é que era o lugar que você morava?
R1 – A gente morava num prédio, né? Então sempre teve amizade com o pessoal do prédio, né, ia para rua e depois de um pouco maior, assim, quando mudamos de bairro, né, com dez anos, daí eu lembro que eu andava mais de bicicleta, sempre estava na casa de amigos e jogava ‘bets’ na rua, né, que a rua era bem tranquila, tinha um campinho de futebol ali na praça. Era bem, assim, tranquilo.
P1 – Que bairro era?
P2 – Pra que bairro que você…
R1 – É, nós mudamos ali para a Vila Zilo, que é próxima do Estoril.
P2 – Sim. E como é que era o ambiente lá nessa época, né, que é muito diferente de hoje, né?
R1 – Era. Era bem tranquilo, né? Nossa rua, ali, era uma divisão entre bairros, né? Era o Estoril e começava a Vila Zillo. A hora que começava a Vila Zillo, não tinha asfalto, não tinha galeria… era, digamos assim, um bairro abandonado, né? Então, a iluminação pública também parava na rua de cima, né, até onde ia o asfalto. Então, a gente tinha essa limitação, né? Sair, tinha que voltar até escurecer. Então, quando era inverno, volta até às seis e, quando chegava o verão, o horário de verão, a gente conseguia prolongar um pouco mais, até umas oito, oito e meia.
P2 – E você aproveitou um pouco, esse… esse fato de viver no limiar da cidade, né? Porque depois da sua casa já era meio que uma floresta, né? Vocês brincavam de --__________ (04:03), iam fazer umas expedições no meio do mato, ia até o riozinho lá embaixo…
R1 – Tinha. Tem um riozinho ali onde era… passando o Taiú, né, onde hoje em dia é o Estoril V, né? Então, a gente andava de bicicleta, tinha um terreno grande em que nós montamos uma pista de bicicleta, então tinha um buracão, fizemos rampas. Fizemos bastante coisas, assim, que os amigos da escola eram ali próximo, né, o Atheneu, onde nós estudamos. Então, a maioria dos amigos moravam na região, ali, né? Então, a gente sempre ia ali ou ia no clube, no BTC de campo, ou na Luso também.
P2 – Sim. E você começou direto no Atheneu? Foi sua primeira escola?
R1 – Sim, sempre estudei no Cisne Real e depois no Atheneu.
P2 – No Atheneu. E o que que… e o que você lembra da escola, assim? O que você gostava na escola, o que que você não gostava… o que te… quais quais as matérias que você mais gostava, um professor que você lembre, que, que foi legal para você?
R1 – É, a gente gostava de educação física, sempre, né? Sempre tinha… no Brasil, aqui, sempre foi futebol, né? Eu falo no Brasil porque eu cheguei, no terceiro colegial eu morei uma época no Canadá, né? E tinha aula de educação todo dia e cada semana era um esporte diferente, um preparativo diferente para primeiros socorros, tudo. Mas no Brasil ele dava a bola, que era o que a gente gostava mesmo e ia chutando e brincava bastante, né? Mas também eu me adaptei bem com matéria de Matemática e gostava também de Geografia.
P2 – Na escola você já tinha, assim, uma visão que você teria um tino bom pra... pro comércio, assim?
R1 – Não, eu sempre fui um aluno que passei de ano, né, nunca fui um dos melhores alunos da sala. O importante ali, na época, era passar de ano, né, tinha uma convivência ali… nunca fui de estudar muito em casa, né, mas minha presença era praticamente 100%. Na faculdade, também, tive várias matérias com 100%, né, então, eu ia para escola, prestava atenção, tudo, mas chegava à tarde e ia brincar com os amigos na rua.
P2 – Sei. Muito… é...a vida como era no passado, aqui nessa região da zona sul, era, era bem livre né, bem interessante. E o que que você lembra da vida da sua família, assim, dos seus avós, da origem da sua família? Sua família tem origem de imigrantes, assim, veio de fora? Ou já era daqui?
R1 – É, o meu avô fala que a parte dele era indígena, né? Tanto que todos os… ele e os outros irmãos têm tudo nome indígena, né: Jaguaribe, Tajaribe, Piragibe, Itacolomy, né? Então, são todos brasileiros, nenhum foi imigrante. Tanto da parte da minha mãe, quanto da parte do meu avô. Do meu pai, né?
P2 – E você sabe se eles têm algum vínculo com o nome da rua onde é a Casas Carvalho? Batista de Carvalho?
R1 – Não, não tem vínculo nenhum...
P2 - Nenhum deles?
R1 - Não. É outro, é outro Carvalho.
P2 – Família Carvalho. Ah… E o que você pode falar dos seus avós, assim, que você lembra?
R1 – Então, na verdade a gente não tem muita recordação, né? Depois que minha avó faleceu em 1994, né, o meu avô Itacolomy, aí ele logo ficou com outra esposa e meio que a família se separou, né? Mas por volta dos anos 2006, que eu comecei a vir mais na loja… antes eu vinha todo sábado, né, porque todo dia de manhã meu vô estava na loja, né? Então, era cinco e pouco da manhã, ele chegava aqui na Casa Carvalho, ia na igreja, depois ele voltava para loja, esperava o meu pai chegar. Daí que era o dia que eu vinha, também, para ter um pouco mais de contato com ele, que… não lembro de ter recordação antes, de ter contato com ele. E depois a gente ia de novo tomar café e ir na igreja e nove e pouco ele já ia embora. Então, era a rotina de contato que eu tinha com ele. E, um pouco antes dele morrer, uns seis meses, sete meses antes dele falecer, ele foi morar aqui perto, num hotel, no Centro da cidade, mesmo quarteirão da loja, né, então daí eu tinha mais convivência com ele, levava ele para jantar, para comer, ir no médico, essas coisas. Ele ficou um mês, mais ou menos, no hotel e depois ele foi morar com a gente na casa do meus pais, né? Até que ele faleceu lá na casa dos meus pais, depois de cinco meses, mais ou menos. Então, (era)foi esse contato que eu tive com ele, da minha recordação.
P2 – E você… você sabe a história da Casas Carvalho, assim? É a quarta geração, vai fazer cem anos, né? Quem que começou a Casas Carvalho?
R1 – Foi meu bisavô, né? No ano que meu vô nasceu, ele nasceu em 1924, em janeiro, daí eles mudaram para Bauru, no começo de junho, né? E ele era alfaiate. E daí, em 30 de junho de 1924 ele abriu, aqui, na residência aqui, onde era a Casa Carvalho e começou a fazer roupas, né, porque a ferrovia é bem próxima aqui da loja, a estação, né? Então, são sete quadras, oito quadras da ferrovia, né? Então, a ferrovia de Bauru aqui, a Noroeste, era o que interligava, né, o estado de São Paulo e o Brasil com o exterior, né? Corumbá, tudo. Então, foi assim que ele começou a fazer ternos, né? Montava, fazia os ternos por alguns anos, né, até que começou a chamar outras pessoas para ajudar. E depois não dava conta de produzir todos os ternos sozinho e ele começou comprar algumas roupas prontas. E daí que foi implementando mais a loja, né: chapelaria, malas, esses tipos de itens. Camisa, né?
P2 – Sim. E naquela época… sim, e naquela época esse tipo de vestimenta, né, que a Casas Carvalho é uma… é um ramo de negócio, de uma vestimenta mais fina, né: ternos, camisa social, calça social. Eu sei que tem a parte mais esportiva, mas naquela época era um comércio voltado - você... não sei se você sabe ou se lembra, era é... ou ouviu falar dos seus avós - era voltado para todo o mundo ou era mais para um público mais elitizado, assim?
R1 – Eu não sei para qual faixa de renda, mas acredito que seja mais elitizado, por pegar as pessoas que viajavam, né? As pessoas que estavam sempre viajando era quem tinha mais dinheiro, né, frequentava mais… tinha condições de produzir uma roupa sobre… no tamanho certo da pessoa, né, feito à medida, né? Então, era mais elitizado, acredito eu.
P2 – E o prédio das Casas Carvalho sempre foi o mesmo, é esse que vocês estão aí, né?
R1 – Isso, sempre é... foi no mesmo local.
P1 – Agora, você falou que eles moravam, também, aí, no local? Como é que se organizava a loja com a casa?
R1 – Isso. Tinha uma parte que era a casa, né, no fundo, né, e daí… na verdade, a loja não era do meu avô, né, era do… começou com os outros irmãos, porque meu avô era um dos filhos mais novos, né? Então morava o Enéias, morou outros parentes aqui na época, tudo e daí eles foram aumentando a loja e foram se organizando, né? A casa era no fundo e a loja sempre ficou na frente. Até que saíram e ampliou a loja depois. Mas não sei em que ano que eles saíram, né?
P1 - Uhum...
P2 – Seu avô era alfaiate, né? Ele chegou em Bauru no ano que você… que… que a casa foi aberta. Eles vieram de onde? Você sabe?
R1 – Eu esqueci o nome…
P2 – Você sabe dizer de onde eles vieram?
R1 – Sei, mas eu esqueci o nome. Já lembro, já. (risos)
P2 – Tá legal.
R1 – São… Vou lembrar. Já, já eu lembro.
P1 – Não tem problema.
R1 – Vamos para outra e eu já volto nessa.
P2 – Não, tudo bem. Aí, a administração passou pro seu avô, Itacolomy, né?
R1 – Isso.
P2 – E depois pro seu pai.
R1 – Como ele era mais novo, né, primeiro foi pros irmãos, né e ele era funcionário dos irmãos. E daí ele foi… os irmãos foram devendo, ele foi guardando dinheiro, ele comprava uma parte dos irmãos, foram fazendo, né, até o momento que ficou entre o meu vô Itacolomy e um outro irmão dele. E meu pai começou a trabalhar na loja desde 1970, mais ou menos e em 1993 o meu pai comprou a outra porcentagem do tio dele, né? Então ficou só para família, então. Desde então. Daí meu vô… meu pai também ganhou uma parte do meu avô Itacolomy e a outra parte ele comprou do tio dele.
P2 – E você sabe se teve fases na casa na Casa Carvalho, assim? Fases boas, ruins é... teve momentos é… que a sua família pensou em mudar de ramo? Ou sempre foi uma atividade que sempre deu um certo lucro e deu para manter e progredir?
R1 – É, eu acredito que na época do meu avô ele tenha ganho bastante dinheiro, né? Mas quando meu pai assumiu, a loja devia em cartório, tinha muitas duplicatas em atraso, estava numa época difícil do governo do… do governo do Brasil, né? Muitas trocas de moeda, inflação alta, mas acho que desistir, ele nunca pensou. Ele tem, ele abriu outros negócios, meu pai já teve empresa de ônibus, tudo. Mas ele sempre investiu na loja, tentou fortalecer e, quando estava difícil, teve a abertura do Bauru Shopping, que daí foi quando ele começou a expandir, a ter novos… pensar no futuro, né? Pensar numa outra região, num outro tipo de público para atender.
P2 – Sim. E aí, como é que foi essa mudança para o shopping center, né? Porque ela sempre… a Casa Carvalho sempre conseguiu manter aquela clientela fiel, mesmo no Centro da cidade. Aí a cidade foi indo lá para a zona sul, né? E como foi essa mudança, assim? Como que distribuiu o público?
R1 – É, então, nós somos conhecidos mais, como você comentou, com roupas tradicionais, né, que o pessoal entende como terno, blazer e calça social, né, mesmo já fazendo anos que a gente vende bermuda, cueca, chinelo, né, sunga, né? Mas o pessoal conhece a Casa Carvalho como loja de terno, né, bem tradicional. Mas em 1990, lá no Bauru Shopping, meus pais abriram uma empresa que chamava Gift Balloon. Era um quiosque que você comprava uma pelúcia, uma garrafa, alguma coisa assim e você colocava o presente dentro do balão e daí a gente enchia o balão, colocava papelzinho, brilho e a pessoa… era um embrulho, digamos assim. Ficou um ano assim, conhecendo o shopping, né, com essa empresa. E daí surgiu um ponto interessante ali na praça central e daí resolveu montar a Casa Carvalho lá, né, para tentar pegar esse outro público. E foi bem difícil no começo, né, vários dias com a loja zerada, o shopping era pequeno, não era estruturado, né? O shopping de Bauru não é igual os shoppings de hoje, que é um único dono, né? Então, era como se fosse uma galeria grande, né? Várias pessoas, investidores, médicos que compraram lojas para as esposas trabalharem na época, né, para fazer com que movimentasse, saísse de casa um pouco. Então, o shopping não tinha todo esse incentivo em marketing, era o primeiro shopping grande da região, né, então foi… não existia praça de alimentação, cinema, né? Que é o que, hoje em dia, atrai todo o público familiar que movimenta o shopping, né? Então, no começo foi bem difícil, nessa época do Bauru Shopping, também.
P2 – Certo. E hoje em dia você acha que… como que você vê essas duas lojas, né? Como que você vê a loja aí do Centro é... e o Centro da cidade também, né? O Centro da cidade, existem críticas, né, que ele sofreu uma certa descaracterização, o pessoal foi muito para zona sul. Como que vocês mantêm o comércio, e como… aí no Centro da cidade e como você vê o Centro da cidade, assim, hoje?
R1 – É, até a gestão passada, do prefeito passado, né, o calçadão estava abandonado, né? Faz anos e anos que, depois que montou o calçadão mesmo, na época que fez as pedrinhas, fez o calçadão, os arcos, estava controlado, né? Daí o calçadão, os lojistas, tinha uma associação de lojistas que cuidavam do calçadão, né? Então, sempre que o DAE, por exemplo, fazia uma obra ali, tirava a pedra, ia lá um pessoal dessa associação e voltava a pedra no lugar do calçadão, né? Cuidava, fazia uns enfeites de Natal, decoração, campanhas, mas o Ministério Público, né, proibiu que houvesse essa associação e desde então ficou por conta dos prefeitos, né? E desde então os prefeitos não tomam conta, né? Então, quando o DAE abre um buraco ali para consertar um cano, por exemplo, no quadrado que era todo preto ele me põe uma pedrinha, usa pedra branca, descaracteriza todo o desenho que era do calçadão, né? Então, você vê que ficou abandonado, tanto pela... pelos prefeitos, né? Faz já… o ano passado não teve nenhum enfeite de Natal, os últimos anos foi bem acanhado, né? Mas popul... o Centro é vida, né? Sempre precisa de mais coisas para revitalizar, né, talvez fazer mais prédios perto da estação. Essa ferrovia, ou voltar a funcionar, né, ou utilizar o terreno para construção de prédios, casas populares, com que... faça com que movimente mais população no Centro da cidade e as pessoas não precisam se locomover tanto, né, para chegar no trabalho ou comprar o que precisam, né? E… e o Bauru Shopping sempre veio crescendo, né? Teve outro shopping, o Boulevard, que acho que está há mais ou menos uns seis ou sete anos em Bauru, foi muito bom para a cidade, né, fez com que o Bauru Shopping se movimentasse, construísse mais estacionamento, né, porque ele era, sempre foi sozinho, por anos, né, então sempre quando tem a concorrência é bom para se mexer, né? Tinha anos que, chegava o Natal, não tinha onde estacionar, né? Daí, com a chegada do outro shopping, dividiu um pouquinho o público e o Bauru Shopping teve que fazer mais vagas, se mexer, ampliar a praça de alimentação, trazer cinema, grandes redes de lojas, né? Então, o Bauru Shopping é bem frequentado. Nós também fizemos algumas pesquisas no ano passado e o ano retrasado, referente à nossa loja, né? Pegamos um público de cem clientes, né, das nossas lojas, para saber o que eles achav… que compraram, né? Os cem clientes que compraram durante os meses de agosto a outubro, né, de 2000 e 2019, né? A pesquisa foi feita em novembro. E… pra saber o que eles acharam da loja, como foi o atendimento, se gostaram, né? Como, como foi feito… a compra foi concretizada, né? Todos gostaram, a maioria, né, mais de 95%, tudo. E uma das coisas, das perguntas, era: “Você foi direto para a loja ou você foi pro shopping ou pro calçadão (né)?” Aqui na loja do calçadão, 85% vieram direcionadas para a loja, né? Só 15% das vendas que aconteceram eram pessoas que estavam frequentando o calçadão e de repente vieram para a loja. Já no Bauru Shopping, esse índice caiu para 63%, que foram direcionadas para a Casa Carvalho. Então são… o shopping é bom, porque atrai novos públicos, né? Atrai os jovens, né? Como a gente vende camiseta de algumas marcas mais modernas, né, então o público que acha que é só terno, no shopping, ali, ele bate o olho e acaba indo conhecer a loja, comprar, fazer a compra.
P2 – Então, o perfil do seu… da clientela da Casa Carvalho, ela não é só de gente que se veste com terno, né? Vocês vendem roupa para gente mais nova, também, não é? Mais jovem...
R1 – Vendemos. Vendemos bastante bermuda, né, camiseta com estampa, que é o que o pessoal mais jovem historicamente gosta, né, tem listrado… trabalhamos com marcas modernas, né: Dudalina, Calvin Klein… então, isso acaba atraindo esse público mais jovem, né? Trabalhamos também com calçados da Democrata, né? Então tem sapatênis, mule, mocassim, que é algo que atrai todo o público, jovem ou mais velho, né?
P2 – Mas você diria que, assim...
R1 – A gente fala que a gente tem…
P2 – Pode falar.
R1 – A gente comenta que a gente tem roupa para todas as ocasiões, né? Não é para o público, né? Então, digamos que tem um senhor que vai para praia, então ele consegue comprar aqui uma sunga, um short de piscina, ele também, se ele é um advogado, vai ter camisa, terno, gravata, né, um sapatênis para ele poder sair, tanto no dia a dia, aqui, no final de semana ou um sapato para ele usar durante o trabalho, né? Então, a gente fala que a gente tem roupa para vestir o homem a qualquer momento.
P2 – Legal. E quando que começa a sua história na Casas Carvalho? O que você lembra? Desde pequeno você já deveria ir, né, mas conta um pouco disso.
R1 – É, eu lembro muito pouco de eu frequentar aqui a loja do calçadão, né? Eu lembro mais que eu ia no, no Bauru Shopping com a minha mãe, para brincar lá no Bauru Shopping, né, (risos) que tinha outros lojistas que tinham filhos da mesma idade, né, não podia deixar as crianças em casa e ia lá, né? O segurança corria atrás, falava que estava brincando na escada rolante, dando comida para os gatos, não sei o quê. Então, eu lembro que eu ia mais para brincar. E depois que eu voltei do Canadá, né, no terceiro colegial, eu já tinha resolvido que eu ia fazer Administração, né, entrei na ITE em 2004. Logo que eu entrei, eu quis trabalhar na empresa Júnior. Em maio já fui contratado ali na empresa Júnior, fiquei como diretor, né, até o final de 2004. Em 2005 assumi como presidente da empresa Júnior, eu fiquei um ano como presidente e, em fevereiro de 2006, eu comecei direto aqui na loja. Então, a partir de 2006 eu comecei aqui na Casa Carvalho. Como eu estudava no período da manhã, eu vinha na parte da tarde, sábado eu trabalhava aqui, às vezes de domingo eu ia na loja do Bauru Shopping, né, mas sempre no começo eu fiquei mais na loja do calçadão. Daí tinha a gerente aqui na Casa Carvalho que já estava há 29 anos aqui, quando eu entrei. Então, ela me ajudou, me treinou bastante. Quando ela se aposentou, em 2008, eu comecei a assumir mais as funções que ela fazia, né, de gerência, de compra, de planejamento.
P1 – Mas você começou fazendo o que, Cássio?
P2 - No início…
P1 - ou (Cássio) Fábio… você começou trabalhando com o que, exatamente?
R1 – Então, eles não, não… meu pai nunca forçou nada, né? O importante era eu chegar na loja, né? Então, eu cheguei na loja e colei na gerente, né? Daí então vinha representante, ajudava a arrumar o estoque, fazia balanço, limpava as prateleiras, porque, é… aqui no calçadão entra muita poeira, né, então a gente sempre tem que estar limpando as prateleiras, né? A loja… eram três portas, na época era mais aberto, né? Então entrava poeira. Tinha o carrinho do lanche, poluição, né? O carrinho do lanche, que era bem grudado na porta lateral da Rio Branco, então vinha aquele cheiro de bacon, né, (risos) que depois de um tempo a gente nem sentia mais. Os clientes falavam: “Nossa, não dá um cheiro de fome aí?” Está acostumado, nem percebe. Então, entrava um pouco de gordura na vitrine, né, tinha que estar sempre limpando. Praticamente tinha representante todo dia, então via, via a coleção, programava, né? E foi indo assim, ganhando responsabilidade aos poucos. E daí, quando ela saiu, já.. eu já tava… já tinha me formado, já estava direto na loja e eu assumi todas essas funções, né: trabalhar com a parte de marketing, né, que a gente fazia, né? Na época a gente fazia, todo mês, campanha na TV, né? Na Globo, na Band. Então, todo mês tinha que pensar qual seria a campanha do mês seguinte, se ia ser promoção, se ia ser para divulgar a loja, ou se uma liquidação, que modelo, como que ia ser, onde ia filmar, então a gente… empresa pequena, familiar, eu fazia de tudo.
P2 – E o que que você achou mais difícil, quando você começou, na Casa Carvalho? Assim é... atendimento ao cliente, contabilidade, é… escolher o que vai comprar do representante?
R1 – É, os pontos mais difíceis…
P2 – O que você achou...
R1 – Os pontos mais difíceis são: a compra, né, porque você faz uma compra errada, comprou muito, ficou com o dinheiro parado, não dá certo. Comprou pouco, faltou, não consegue repor, vai comprar do concorrente, né? Então, a compra foi bem difícil, né, a gente já tinha um histórico, né, de vários anos. A gente tem esse histórico, então a gente se baseia sempre pelo ano anterior, dois anos antes, né, vê como que está a curva de crescimento ou de queda e tenta adivinhar, né? Às vezes a gente compra camisa manga curta, sobra no tamanho quatro, na manga longa falta no tamanho quatro. Então, a gente tenta ir adequando, fazendo o melhor, né, vê o histórico, tem um sistema para isso. E outro ponto era a responsabilidade, né? Ter a confiança dos outros funcionários, né? Como eu disse, na época a gerente tinha vinte e nove anos de casa, mais ou menos e tinha outros também com essa mesma… com esse mesmo tempo de casa, né? Há dois anos se aposentou uma que tinha trinta e oito, em 2017 se aposentou um que ficou quarenta e um anos na loja, né?
P1 – Nossa!
R1 – Então, eles… eles estavam na loja antes de eu nascer, né? Então, essa… era provar que eu estudei, que eu tinha conhecimento, né e que ia dar conta, né? Então, foi criar a confiança deles.
P3 – Queria fazer uma pergunta. Desculpa. É… Oi, boa tarde, tudo bem, Fábio? Boa tarde, pessoal. É... eEu queria fazer um adendo, uma pergunta. Você falou, é… recorrente, né, desses funcionários que ficam, sei lá, vinte, trinta, quarenta anos na loja e você, você é um rapaz jovem, chega agora, tipo, e é um dos herdeiros, né, o filho do dono. Eu achei muito interessante na hora que você colocou a questão de passar confiança. Como que foi isso, de você passar confiança para que eles pudessem, tipo: “Ah, eu acho que esse. esse rapaz dá conta. A gente… ele agora é o nosso patrão.” Como que funcionou essa troca? Você disse que a gerente havia te treinado. Como que funcionou? Conta um pouco mais, por favor.
R1 – É, eu tinha que mostrar um pouco as planilhas, né, principalmente na parte de compra, né, eu falava… que eles estavam acostumados a olhar e comprar, né? E eu não. Como eu não tinha esse costume, então eu fui nos dados, né? Eu falava: “Não, essa numeração tem bastante, não vai comprar porque vai vender tanto, né. Nos últimos anos vendeu tanto, não precisar comprar tanto” “Ah, mas você acha isso?” “Ah, os números estão mostrando, né?”. Então, eu tentava pegar mais pelos números, né, para ter uma certeza. É claro que eu ia bastante no feeling deles, né? Sempre que… que eu comecei a fazer compras, antes era só a gerente que comprava, né? Daí, depois que eu assumi, eu sempre os chamei eles, né, para trazer responsabilidade também, né? Para eles escolherem o que nós vamos vender, né, para eles se comprometerem. Às vezes tem uma peça um pouco mais moderna, que a gent… não é o costume de venda da loja e eu falo: “Tem certeza? Vamos arriscar, vamos não sei que, não? Pode ir… ah, então pega uma grade menor”. Então, a gente foi construindo juntos, né, fazendo junto, né, o rodízio de vitrine. Então, cada um fazia uma vitrine, para não sobrecarregar uma pessoa e todo mundo se interagia, pra integrar, né, do que tem de coleção, né? Porque às vezes o funcionário ficava parado e não sabia o que tem no estoque. Ah, então monta a vitrine, para você ver o que tem no estoque, para poder movimentar, tanto a peça que está lá, mostrar pro cliente e você saber o que tem na loja, né? Saber as combinações, saber como que funciona as coisas. Então, foi mais ou menos isso que eu adotei e a gente segue até hoje assim.
P2 – E esse tipo de coisa, todas essas que você está contando, você aprende na faculdade, mas é mais na raça, né? Você diria que… não tem… tem como aprender isso na faculdade ou só lá no dia a dia, mesmo?
R1 – Não, a faculdade é um geral, né, não tem como ela explicar, né: “Numa loja de roupa vamos fazer assim”. É uma teoria geral, como tem que ser feito, né, os cálculos, tudo, né? A gente aprende um geralzão, né, um pouco de cada matéria, um pouco de Marketing, Logística, né? E a gente vai implementando tudo no dia a dia, mesmo, né?
P1 – Mas, assim, é… falando duas coisas, perguntando du... juntando uma pergunta, duas coisas que você falou: a questão da vitrine, né? E esse feeling, né? Vai lá no estoque, tudo. É… Como é que se monta uma vitrine, assim, como a Casa Carvalho, que você tem é... bastante vidro ali na frente, são várias portas, vocês estão numa esquina, é bastante vistoso ali, né? O que tem que entrar na vitrine, Cássio? Ó, eu tô te chamando de Cássio, desculpa....
R1 – Sem problema.
P1 –Fábio…!
R1 –É, a gente tenta… são três vitrines, né, que nós temos, né? A gente sempre tenta deixar uma mais social, né, então colocar os manequins com terno, blazer, né, um terno infantil, que a gente trabalha. E pôr os acessórios da parte social, que seria gravata, suspensório, prendedor de gravata, né, uma carteira, lenço, né? Então, uma, uma vitrine a gente deixa assim. Nas outras a gente tenta deixar um pouco com camisa, short… o outro com camiseta, chinelo, bermuda, né? A gente vai mesclando. Quando é promoção de terno, põe mais terno. Quando… agora, no final do ano, como não está tendo evento, não está tendo casamento, igreja, formatura, o pessoal de Direito não tem usado tanto terno, então a gente deu uma tirada dos ternos da vitrine, né, deixou um, dois manequins, só, com terno. E o restante a gente colocou mais camiseta, que é o que está saindo mais, né? Então, a gente vai sentindo como que é o mês, se é um mês mais para terno, se é um mês com menos terno e vai moldando a vitrine conforme vai precisando, né? Na semana entre o Natal e o Ano Novo, vamos colocar mais peça branca, amarela... E assim a gente vai trabalhando.
P2 – Certo. E como é esse... na sua avaliação, o seu ramo de atividade? É… fala um pouco sobre isso. Como é que, como é que está esse ramo de atividade hoje em dia? No país ou na nossa região?
R1 – É, está bem complicado, né? É uma incerteza, né? Cada semana é uma incerteza se fecha, não fecha, a restrição de horário, né? Logo que começou a pandemia, tudo foi fechado, né? Aqui em Bauru ficou quase… um pouco mais de sessenta dias, tudo fechado. E nesse meio tempo a gente tinha uma loja em Botucatu e não tinha como dar assistência, então nós fizemos uma liquidação lá, conseguimos vender um pouco de mercadoria e o restante trouxe para Bauru, dividindo entre a loja do calçadão e do Bauru Shopping. A gente trabalhava com meia porta quando podia, né, mas nos primeiros decretos falavam que não podia ter prova, né, então você não podia provar nenhum produto aqui em Bauru. Então, você não podia sentir o cheiro do perfume, não pôr a roupa, né? Então, essa dificuldade tem até hoje, porque as pessoas leram esse primeiro decreto, entenderam isso e agora, já quase onze meses depois, as pessoas ainda ligam e perguntam: “Mas eu posso provar roupa?” Então, é essa dúvida que acontece, assim, né? Então, quando anunciam que vai mudar de fase, a fase muda dali, teoricamente, três dias, né? Então a pessoa: “Ai, Bauru vai ficar na fase vermelha”. Como aconteceu hoje: as pessoas acham que já está na fase vermelha, então acabam não indo para o comércio. Então, as pessoas de outras cidades, no momento que a gente está na fase de laranja, né, até amanhã, até domingo, ligam: “Ai, como que está o horário?” Em Bauru está podendo trabalhar por doze horas, diferente do que está previsto no decreto estadual, que são por oito horas. Então, a pessoa de São Manuel liga: “Mas eu posso ir? Que horas? À noite vocês vão estar abertos?” Então, é uma… como a gente vende bastante terno para a região, para o pessoal, o pessoal da região, nossos clientes de Botucatu também, muitos vinham para Bauru, comprar em Bauru, o pessoal de Botucatu preferia comprar em Bauru do que na nossa loja em Botucatu e ainda vem bastante gente, então eles ligam. Às vezes não sabem, falam: “Ah, se aqui tá fechado, lá também vai estar.” Então, essa dificuldade do local está bem complicado.
P1 – Quais foram os desafios para vocês, assim, adaptarem a loja para esse momento da pandemia, assim, além da questão da prova da roupa?
R1 – É, a gente se adaptou, todos os decretos, né, com álcool em gel, distanciamento, né, isolamos um provador que era mais próximo do outro, né e fizemos mais propaganda nas redes sociais, WhatsApp, venda online. Nossa entrega aumentou bastante, né, a gente já ofereceu para os clientes a levarem roupa, né, a gente nunca foi uma loja de ligar e falar: “Ó, tô levando essa sacola para você”. Não, a gente sempre oferecia assim: “Não quer levar?” Porque a mulher vinha e levava pro marido, né? “Não quer levar isso, não quer levar aquilo?”. Poucos homens vêm e acabam levando para provar em casa, né? A maioria dos homens já são mais práticos, querem decidir na hora. Mas as mulheres falam: “Não, vamos levar, ele prova, depois devolve.” Então, esse tipo de venda, de atendimento ao cliente, aumentou bastante nesse período, né? E a gente está se adaptando ainda, né? Depois de muitos meses ainda… a gente achava que não ia mais fechar, não ia diminuir e agora, semana que vem, volta a fechar tudo de novo.
P1 – A fase vermelha. A fase vermelha fecha tudo, mesmo?
R1 – Fecha tudo, mesmo.
P1 – Ou fecha...
P1 – Fecha tudo?
R1 – Fecha tudo. E daí, agora com esse decreto novo, né, daí falam: “Ah não, a fase vermelha só fecha das vinte às seis da manhã”. Não, mas isso é só pra quem está na outra fase, né? Então, são regras que são alteradas semanalmente, praticamente, né? Que confunde tudo a cabeça de quem trabalha, do consumidor, de todo o mundo. Então, o pessoal fica sem saber como que vai ser a semana seguinte, como não vai ser, como vou programar compra, como não vou. Se… Pra gente aqui no interior, né, que é quente, né, como que a gente vai programar a compra de inverno? O pessoal vai estar saindo, vai estar em barzinho? Vai estar em festa? Vai usar jaqueta, não vai usar jaqueta? Ou vai usar a do ano retrasado, porque o ano passado num… (risos) ninguém recebeu inverno. Já estava tudo fechado, né, foi fech… fechou meio de março, então as compras, né, de inverno, jaqueta, suéter, a gente recebe de março, abril e maio, né? Então, ano passado nós não recebemos. Nós e as grandes varejistas: Riachuelo, Pernambucanas, também não tinham nada de importação. Então, será que a pessoa, esse ano, vai usar, não vai? Vai ficar com a roupa de três anos atrás de novo? Então, essa é a incerteza que nós temos.
P1 – Ô Fábio, aumentou, assim, o tipo de demanda, assim, de roupa para fazer home office, como a gente está fazendo agora, live, essas coisas, aumentou a demanda? Como é que você vê isso?
R1 – É, então, pra gente aumentou o número de vendas de camiseta, né? Chinelo de quarto, pijama aumentou bastante, né? (risos) Essa parte de… de casa, assim, aumentou, né, que o pessoal acaba ficando mais, né? Eu vejo meus amigos, eles mandam foto no grupo, estão de bermuda e chinelo e uma camisa, um paletó, né, tirando…né? Que ninguém enxerga, né, enxerga só a parte de cima, né, então… (risos) A parte de baixo, né, era o que falava que os repórteres usavam bermuda, né e o paletó e a gravata, lá, né, na bancada do jornal antigamente… (risos).
P1 – (Risos)...
P2 – Viu... Você acha que… que esse ramo, essa parte da... do terno, da gravata, das roupas mais sociais… ela sempre, sempre teve demanda, sempre vai continuar tendo? Bastante gente ainda usa?
R1 – Bastante gente ainda usa. Eu acho que, não comparado com antigamente, né, que a pessoa ia num teatro, num cinema, todos que iam na igreja usavam ternos, né, iam bem sociais. Mas a gente sempre teve uma procura alta de terno, né, o pessoal… casamento, formatura, eventos, festas sociais, né, da cidade, sempre teve essa procura. E assim que voltar essas atividades, a procura vai retomar, né? No final do ano, nossa… nós tivemos um aumento, né, de venda de terno, por causa que a cada dois anos tem eleições. A cada quatro anos tem eleições municipais, e… municipais, né? Então, vereadores da região, prefeitos. Então, foi quando a gente teve um pouco mais de venda de terno, por causa que esse pessoal precisava, né, então… o pessoal vai continuar precisando...
P2– E como é que voc…
R1 – … usar terno.
P2 – Sim. E como é que vocês chegam nesse público específico? Como que é a propaganda de vocês, o que vocês usam das redes sociais, de internet, né, mais recentemente, né?
R1 – É então, como eu comentei, a gente fazia TV, né, Band, Globo, até 2016, mais ou menos, todo mês a gente estava na TV, né? E então era a TV TEM e a Band, né? A Band atinge um raio de cidade muito maior do que a Globo Bauru, né? A TV TEM, no caso. Mas a TV TEM atingia Marília, Botucatu, né, São Manuel, as cidades das regiões. Então, foi com isso que o pessoal da região conheceu mesmo a Casa Carvalho, né e hoje em dia a gente utiliza mais as redes sociais: o Google, o YouTube, o Facebook e o Instagram, né, pra… pra chegar nos clientes. E os clien… e os nossos funcionários também, né, como nós temos uma… um cadastro grande dos clientes que já compraram na loja, sempre entram em contato, né, vê o período que a pessoa faz tempo que não compra, né: “Ah, comprou terno ano passado, será que esse ano está precisando?” Puxa no sistema ali, manda mensagem, já sabe a numeração, manda foto, sabe? “Ah, tanto em tanto tempo ele compra cueca, vou mandar a foto da cueca que ele gosta…” Então, a gente tem esse… esse controle, né, para poder continuar com o público.
P1 – Deixa eu te perguntar uma coisa, esses...
P2 – Você já…
P1 – Desculpa, Lu. Posso?
P2 – Pode, pode sim…
P1 – É… Eu lembro muito, assim, de… de várias lojas ali da Batista, quando era criança e assim: esses funcionários mais antigos, de trinta, trinta e cinco, quarenta anos, tinham os clientes fixos, né, você comprava… você lembra disso? Assim: você comprava com o fulano, você... você era cliente do fulano, não tinha concorrência entre os vendedores. Tinha isso na Casa Carvalho?
R1 – Tem, continua ainda, né?
P1 – Ou ainda tem? É?
R1 – Ainda tem. O cliente vem: “Ah, eu vou comprar com o Wilson. Ah, eu vou comprar com o Minondas”, né? Como é… é por vez, né, então o vendedor vai, daí se o cliente falar: “Ah, eu vou comprar com tal vendedor”, então continua, o cliente continua procurando o vendedor, né, que: “Ai, sempre comprei com ele, ele já sabe o que eu pego, ele sabe a cor que eu peguei da última vez”. Então, isso continua.
P1 – O cliente é fiel ao vendedor?
R1 – É fiel ao vendedor.
P1 – Incrível, né?
P2 – E sempre foi esse foco regional? Desde a época da… da ferrovia, tudo já, já… a Casa Carvalho não, é… não tem o foco só em Bauru, né, como você está dizendo…
R1 – Não, é, desde o início, né, quem… quem usava a ferrovia, a maioria não era de Bauru, né, era do exterior, ou era de outra parte do estado, de outra parte da região do estado, né? Então, o público mesmo de Bauru sempre foi forte, né, mas atendia bastante gente de fora de Bauru.
P2 – Certo. E… e vocês mantém essa… essa preocupação na… na divulgação, de pegar todas as cidades daqui do entorno?
R1 – É, agora que a gente não tem mais a loja de Botucatu, mas antes a gente colocava um raio da… das nossas lojas, né, um raio de oitenta quilômetros, né, então… quando tinha Marília, né… Marília, Bauru e Botucatu, a gente sempre punha um raio de oitenta quilômetros para pegar essas regiões.
P2 – Certo.
P1 – Ô… ô Fábio, mas assim: Bauru é muito quente, né, o pessoal… tem muita gente, assim, fora... que tipo de… pra gente registrar, pensando que é uma… uma entrevista histórica, né, que tipo de cliente usa terno para trabalhar?
R1 – Bastante gente do Banco usa terno, o pessoal da igreja usa terno, os advogados, juízes, promotores, pessoal da parte de Direito usa terno, né? A gente vende bastante uniforme pra… pra algumas grandes empresas, né, pra hotel, pra hospitais, né, o pessoal da recepção usa terno. Então, a gente tem uma… esse tipo de cliente, né, além de vereadores, prefeitos e o pessoal que vai em casamento, formatura… basicamente isso.
P1 – É que quando a gente pensa, a gente lembra mais desses momentos. Agora, assim, pensando nesse cliente, qual… assim, você está falando assim, que abrange de Bauru até Botucatu e Marília, a clientela da… da Casa Carvalho?
R1 – Abrange, abrange bastante. Como a gente sempre fez propaganda na Globo, né, então ela não era local, né? É isso que eu falo. Ela pega não sei quantos municípios, mas é um raio muito grande da cidade, né? E então o pessoal acabava conhecendo e sabendo que aqui tem terno, então… aqui na Casa Carvalho do calçadão, como a loja tem espaço, né, sempre foi maior, então aqui a gente trabalha do… (com) por exemplo: de terno, do tamanho 2, que é infantil, do 2 ao 16, daí o tamanho adulto, né, começa no 44, a gente vende até o 76. Então, o pessoal que é mais gordinho e não encontra terno, aqui ele vai encontrar. Então, tem terno para todos os tamanhos. Bermuda até o tamanho 70, camisa até o tamanho 12, camiseta. Então, o pessoal da região que tem dificuldade em achar nas suas cidades vem aqui, que está acostumado.
P1 – Maravilha.
P2 – E as formas de pagamento? É… o que o pessoal usa mais, hoje, pra pagar, né? Antigamente era muito dinheiro, né, cheque. Como é que é hoje?
R1 – É, aqui na loja 92% é cartão. Então… e os outros 8% são dinheiro, né? Então…
P2 – Existe crediário?
R1 – Não mais. Nós cortamos em 2017. Quando mudou o sistema.
P1 – Foi até 2017?
R1 – Foi até 2017. Daí nós mudamos o sistema e então falei: “Vamos mudar, pra não…” Dava até para criar no sistema, mas falei: “Não, não compensa”.
P3 – Eu até...
R1 – … hoje em dia todo mundo tem cartão, né, então é mais fácil.
P3 – Eu ia até perguntar, ô… ô Fábio, que você falou que não tem mais o crediário, né? Então, tipo, nem o famoso, né, ou falecido, não sei, fiado? Porque, tipo, já conversei com pessoas que falam assim: “Nossa, é… o crediário a gente mantém e também até o fiado, para aqueles clientes fixos”, né? Tipo, de pessoas que você já compra há muito tempo e tem uma certa confiança. Então, se não tem crediário, dessa outra forma também não tem?
R1 – Não, a forma de pagamento é cartão ou dinheiro, né? O que a gente faz é: autoriza a levar pra casa para experimentar, né, pra provar e o que não der certo, devolve. E quando vem devolver ela paga ou com dinheiro ou com cartão.
P3 – Entendi.
P1 – É…
P2 –(E venda online?)
P1 – Pensando que é uma entrevista histórica, explica pra gente o que é o crediário, assim...
R1 – É, o crediário é o… é o financiamento da loja, né? Então, a pessoa vem, compra, né, ela não tem cartão, não tem dinheiro, a loja (ela) autoriza o cliente a levar a mercadoria, e é como se fosse uma nota promissória, mas é um financiamento com a loja, né? A loja não cobra juros, né, no nosso caso a gente não cobrava juros, parcelava em até cinco vezes, né, uma entrada e mais quatro e era um financiamento da loja, né? Então a loja comprava do fornecedor, dava um crediário, né, dava um crédito pro cliente fazer essa compra. E alguns esqueciam, não tinham tempo de vir, outros tinham alguma dificuldade, não conseguiam pagar e a loja tomava prejuízo. Então, por séries de fatores, a gente preferiu cancelar. Mas nós cancelamos mais porque a grande maioria dos nossos clientes, mais de 95%, trabalham com cartão: crédito ou débito.
P1 – E para pagar o crediário a pessoa tinha que ir até a loja, de novo.
R1 – Tinha que ir até a loja. Um dos benefícios do crediário era esse, né: fazia com que o cliente voltasse todo mês e daí o forne… o vendedor já empurrava outra mercadoria, né? E daí ela falava: “Ah não, deixa mais uma parcela”... “Ah não, faço duas, três sem entrada, então não precisa pagar essa”. Então, era uma forma de vender, né, fazer com que ele viesse todo dia na… todo mês na loja, né? Mas o risco da loja era muito alto, também, o prejuízo do cliente não pagar.
P1 – Vai, Lu.
P2 – Legal, e venda online? Venda online é um...é um ramo bom?
R1 – Está no nosso foco de novo, né? Nós já tivemos uma loja online por dois anos, né? Na época a gente só vendia calçado Democrata, né? Nós… nós compramos um estoque à parte, nós fizemos um planejamento, né e divulgava bastante, né? A gente investia cinco, sete mil reais mensais em propaganda, né? O pessoal fala: “Ah, mas não tem… não paga aluguel”, mas o que você investe em propaganda para divulgar a loja, chegar nos clientes, é o preço de um aluguel de um estabelecimento, alguma coisa assim, então… mas nós não tivermos sucesso. Então, nós ficamos dois anos tentando, tentando e nós cortamos. Nós fizemos com calçado Democrata, porque desde 2003, lá no Bauru Shopping, nós tínhamos calçados lá na Casa Carvalho até 2002, só que a loja acabou ficando pequena. E daí, em 2003, nós abrimos uma loja Casa Carvalho que só vendia calçados Democrata. E daí algumas pessoas da região acabaram copiando a ideia, também, até a fábrica gostou e, a partir de 2012, a Democrata viu que era uma franquia e então, desde 2012, ela é chamada de Democrata, virou uma franquia. Então, a gente tem uma franquia da… nós inventamos uma franquia da Democrata para a Democrata. (risos). Então, nós temos essa parceria com a Democrata e fizemos esse teste com eles, né? E os nossos fornecedores de roupa, né: camisa, calça, terno, na época não autorizavam a venda online, né, então só eles poderiam vender. Então, eu comprava Dudalina e eu não podia vender no site. Individual, Fideli, High Stil, entre outras marcas. Então, o único que na época autorizava era o calçado e nós tentamos por dois anos e não deu certo. Mas a gente já está revendo, né, agora, por causa da pandemia, os fornecedores estão autorizando também, né, algum tipo de venda online e a gente está com isso em mente, para retomar.
P2 – E o que que você acha da - é dentro do seu ramo, né, essa pergunta - morte dos alfaiates, né? Não era mais chique quando tinha o alfaiate que fazia sob medida? Acho que você não pegou essa fase, mas seu pai pegou, né, o alfaiate.
R1 – É chique, é. É legal. Aqui em Bauru eu conheço uma pessoa que ainda faz terno, camisa, né? Chama Nascimento. Meu pai até fez uma camisa, esse final de ano, aí. Ele tinha um linho que ele tinha ganho do meu vô e daí ele fez uma camisa. Levou lá e o cara fez uma camisa de linho sob medida para ele, com o tecido que ele tinha, tudo. Fica certinho, né? Só que, hoje em dia, as marcas, né, têm dentro de, tanto terno quanto camisa: “Ai, camisa tamanho 3”. Mas dentro do tamanho 3, ele tem o Slim, ele tem o Comfort, ele tem o Super Slim, tem três, quatro medidas que uma medida vai vestir no tamanho do cliente, né? E aqui, como a gente, desde o começo, teve alfaiate, fazia a roupa, tudo, nós temos uma costureira em cada loja, né? Tinha em Botucatu, em Marília, aqui na no calçadão e no shopping. Então, sempre que precisar de algum ajuste, barra, faz a barra. Tem que soltar a cintura, apertar cintura? Ah, o cliente está provando, o paletó deu certo, mas a calça fechou, mas está muito apertada. Então sobe, leva para a costureira, a costureira solta, ele vê: “Ah, ficou bom.” Daí ele gostou, daí depois, então, ela faz tudo o ajuste certinho, finaliza a calça certinho, né, se tem que importar o punho do paletó, descer um pouco o punho. Então, a gente tem esse… essa preocupação de ter esse alfaiate, essa costureira dentro da loja, né? Então, a gente tem esse benefício pro cliente, né? E, por estar dentro da loja... hoje mesmo me mandou um cliente de São Manuel, dois acabaram de ligar na verdade, eu achei que era o mesmo, um estava falando pelo WhatsApp, daí ele ligou: “Ai, eu sou de São Manuel”, mas era o outro. Ele falou: “Ah, eu tô indo amanhã para Bauru, eu preciso de um terno, tenho uma reunião uma e meia, dá tempo?” Falei: “Dá.” Porque a costureira está aqui na loja, né? Então, ele chegando dez horas, a costureira é rápida. Se for uma barra, em quinze minutos ela consegue fazer. Se é punho, comprimento, tudo, uma hora e meia, duas horas, ela faz um terno completo, né, os ajustes. Então, esse é um dos benefícios que a gente tem na loja e não cobra nada mais por isso.
P3 – É como se fosse… ô, Fábio, será que é um alfaiate, não delivery, né, mas um alfaiate de pronta entrega, né? Eu acho que é um super diferencial e também resgata os primórdios da loja, né? Muito interessante isso da… da costureira. Ou seja: ele já sai de lá com um produto próprio para uso, né?
R1 – É… Principalmente para…
P3 – … não vai precisar ele ter de procurar.
R1 – Principalmente para quem é de fora é um benefício, né? Porque às vezes a pessoa vem…
P3 – Total.
R1 –… compra: “Ai, tenho que voltar daqui uma semana”. É outro gasto, né?
P3 – É...
R1 – Então, como a gente já tem…
P3 – Total.
R1 – ...ela aqui, é isso, né? As outras lojas que eu conheço, ninguém tem esse trabalho dentro da loja, né, e esse funcionário…
P3 – Esse serviço, neh?
R1 – ... interno, né? Sempre manda para um terceirizado. Então, vai mandar para o terceirizado, às vezes tem que esperar acumular, para pagar o motoboy para levar, alguma coisa assim.
P3 – Total.
R1 – E daí fica pronto dali três dias. O nosso não, o nosso comprou, se ele aguardar ali, dependendo de como estiver a costura, quinze minutos ele já sai com a roupa pronta.
P3– Legal.
P2 – Legal.
P2 – E o que, ô… Fábio, o que que você acha… está certo que (enfim) você tá na quarta geração, né? É… O que você acha que garantiu o sucesso desse negócio durante quase cem anos, né? Vai fazer cem anos em 1924. É… O que… você tem essa opinião formada na cabeça? O que fez a Casa Carvalho, desde 1924, ser sempre tão atuante em Bauru e região, até hoje?
R1 – É, então, era… sempre foi a qualidade dos produtos, né e principalmente os funcionários, como eu disse, né? Por anos e anos nós cont… nós tivemos funcionários bem antigos, né, funcionários que começaram como mirins na loja, cresceram, ficaram quarenta anos, né? Antes deles também teve outros funcionários que ficaram, né… antigamente era… o pessoal ficava nas empresas, né? Gostava de vestir a camisa. Não que hoje não vist... veste, né, mas antigamente, né, ficava. Hoje, às vezes, dependendo do funcionário, por duzentos reais a mais, cem reais a mais, ele troca uma empresa que está certa, para uma empresa que prometeu uma coisa e às vezes chega lá e não é o que prometeu, né? Então, essas troca de funcionários são grandes, né? E também parece que hoje em dia as pessoas enjoam mais, né, falam: “Ah, não está me satisfazendo isso”, né? E antes parecia que era muito mais prazeroso trabalhar no comércio, né, conhecer as pessoas, conversar, né? As pessoas iam mais na loja, batia papo, aqui no calçadão era ponto de encontro, né? Até hoje, em campanhas políticas, os políticos têm que passar no calçadão, né? Se não passar, ele… parece que não fez a campanha política dele. Então, o calçadão é um…
P1 – Descreve um pouco o calçadão...
R1 – Oi?
P1 – Descreve o calçadão pra gente.
R1 – É, como toda cidade…
P2– É quem… quem vai...
R1 – … tem algumas pessoas características, né, que… ambulantes que ficam aí, né, que... então... todas as cidades têm o seu característico, né? E o calçadão de Bauru, aqui, é formado por sete quadras, né, da quadra um à quadra sete da… da Batista de Carvalho, né? Ele consiste em… tem alguns arcos no meio do calçadão, né? Os dois da ponta são fechados, né, cobertos e os… e o arco do meio não é coberto, né? Na época foi porque o bombeiro não autorizou, caso pegasse fogo, pra… pra subir com o caminhão, atacar água, alguma coisa assim. Foi isso que eles alegaram em 1991, acho, que foi feito o calçadão. Então, por isso que cobriram os das pontas, né, que qualquer coisa na esquina, na… nas subidas das transversais, conseguiria apagar algum tipo de incêndio, mas na época não... o bombeiro não autorizou o fechamento do arco do meio. E… e é isso, o calçadão no... é bem movimentado… antigamente, a.. as… a principal quadra - é… antes de existir o calçadão, né - o principal quadra da Batista, era a quadra um, dois e três, né, que eram mais perto da rodovia, né, da estação ferroviária. Hoje em dia, as principais quadras são a três, porque ainda tem a, a Americanas ali né, que atrai bastante público; a quatro também tem grandes lojas; a cinco, Pernambucanas, Riachuelo; e aqui onde nós estamos, na seis, também tem os grandes magazines, né: Casas Bahia, Magazine Luiza. Nesse quarteirão são quatro lojas: duas do Magazine, duas da Casas Bahia, além de outras lojas tradicionais como a nossa, também.
P2 – Legal.
P1 – E como é que você …
P2 – E como é que é trabalhar com a…
P1 – Desculpa, Lu. Pode falar, desculpa.
P2 – Não, eu ia perguntar como é que é trabalhar com a família, né, trabalhar com o pai. É… é legal, às vezes é chato? Como é que é?
R1 – Então, ele sempre me deu liberdade, né? Nunca… nunca no começo, pôs tanta pressão, assim e tudo. Mas é gostoso trabalhar, né? Nós nunca tivemos brigas. Meu pai sempre foi moderno, digamos assim, desde 1990, 1989, mais ou menos, ele já implantou o computador na loja, então já… ele sempre foi à frente, assim, né? Então, ele sempre teve iniciativas de coisas (né) à frente do tempo, né? Porque para ter um computador era super caro, mas precisava, era modernidade. E rede social. Quando surgiu máquina digital, ele comprou pra pôr no site. Então, a máquina era grandona, era com disquete, né? Então, a gente punha um disquete pequenininho lá, o quadradinho, cabiam dezenove fotos, né? Então, pra máquina caber um disquete, imagina o tamanho que era a máquina, né, para alimentar o site, né? Então, sempre ele teve iniciativa dessa parte moderna. E quando eu entrei, fui tentando implementar outras coisas modernas, né, trazer um público mais jovem, com roupas mais, mais jovens, né? E minha mãe fica mais na loja do Bauru Shopping, né? Então, a gente não se cruzava muito, né? Se via em casa, tudo, como eu ficava mais no calçadão. E daí, depois de uns anos para cá, que eu ainda tenho rodado mais as lojas, não tem mais as lojas de fora, né, de Botucatu e Marília, então eu fico mais no Bauru Shopping controlando as duas lojas, também, faço a parte de compra, tudo. Mas eles sempre me apoiaram, me deram incentivo e força, para melhorar.
P2 – E o seu irmão? Qual ramo que ele foi?
R1 – Ele… ele fez Administração em São Paulo, na FAAP, né? E daí ele trabalhou alguns anos na Credicard, da… do Credicard City, depois ele mudou, pra… pra Telefônica e já faz uns quatro anos que ele tá na VR benefícios, né, que é do.. de vale-refeição. Ele é diretor da VR, hoje.
P2 – Ai, que legal.
P1 – Ele não quis ficar no…
P2 – E ele...
P1 – E …assumir a loja junto contigo?
R1 – É, ele tem vontade, ele gosta, né, do interior, de… de ficar aqui, né? Mas como ele foi pra lá, né? São Paulo é onde é o dinheiro, digamos assim, construiu a família dele, né? A esposa dele, a família é... também mora toda em São Paulo, tudo, então ele acabou ficando mais em São Paulo, né? Ela trabalha lá. Mas, nesse último ano, por causa da pandemia, eles acabam ficando umas três semanas na casa do meus pais, aí ficam duas em São Paulo, aí vem e fica mais duas. Então, como trabalham em home office, né, então… mas o… o objetivo deles é… é ficar na empresa onde eles estão e continuar crescendo por lá.
P1 – Aham.
P2 – E… e você? Você se casou… é...
R1 – Sim...
P2 – É… montou família, ou foi morar...?
R1 – Sim, eu…
P2 – Como é que está sua vida?
R1 – ...Tenho uma namorada, desde o começo da escola, digamos assim, desde a oitava série a gente começou a namorar, o pai dela não deixou, no primeiro colegial a gente não namorou e depois, no segundo colegial, a gente voltou a namorar, desde 2002. Namoramos onze anos, nos casamos já faz quase oito anos e agora em dezembro nasceu nossa filha, a Larissa, dia primeiro de dezembro.
P1 – Ai, que gostoso, novinho, né?
R1 – Novinho.
P1 – É gostoso, né?
R1 – É bom. (risos)
P1 – É a quinta geração, aí, da Casa Carvalho?
R1 – É a quinta geração. Não sei se vai ser da Casa Carvalho (risos), se ela vai gostar ou não, né? Mas tomara que goste, também.
P2 – E o que você gosta de fazer fora o trabalho, assim? Sair, esporte? O que você faz, quando não está pensando…
R1 – É, hoje em dia a gente tem vários grupos de amigos, né? Grupos da escola, né, por exemplo, o grupo da época do Atheneu, onde eu sempre estudei e a maioria dos meus amigos também estudaram na mesma escola por muitos anos. Todo Carnaval, por exemplo, a gente viaja para uma casa na praia, alguma coisa assim. Então, aluga uma casa e nós vamos em trinta, trinta e seis. Então, desde 2003 acontece isso. Então, todo ano a gente tem essa reunião. Esse ano não vamos poder participar, mas a gente tem essas amizades, daí tem amizades da academia, que um vai na casa do outro. Lá no prédio onde eu moro tem quadra de futebol, tem a churrasqueira. Então, a gente acaba ficando mais assim, com os amigos, mesmo, do que sair em barzinho, restaurante. Acaba convivendo mais com… com as pessoas, indo mais na casa do outro, né? Interior é mais assim mesmo, né? Conhece o pessoal, vai na casa, cria… cria amizade fácil, tudo é próximo, né? “Ah, vem aqui em casa”, “Onde é? Ah, tá bom…” ,“Vamos… vamos em tal lugar agora?”, “Vamos”! Então, não é aquela logística que eu imagino que seja em São Paulo: a pessoa sai de manhã e já tem que saber se vai pra… sair à noite, se não vai, se vai para faculdade, sair da faculdade onze e meia, pra no outro dia acordar às seis, né? Duas horas de trânsito. Então, Bauru não. “Vamos em tal lugar?” ,“Ah, então agora vamos...?”, “Vamos!” Então é assim: a gente convive mais com os amigos, às vezes vai no barzinho, depois do barzinho acaba indo na casa dos outros. É isso que eu faço.
P1 – Muito bom.
P2 – Legal. E pro futuro… o que você acha é, é... do... aí já falando do seu negócio, pode falar...
R1 – Eu não escutei, cortou a…
P2 – É… pro futuro. O que você pensa do futuro da Casa Carvalho? O que que é… Você pensa em expandir pra mais cidades, quando a situação melhorar? Como que você vê a Casa Carvalho no futuro?
R1 – É, a... nosso projeto agora é expandir, ou para Bauru, né, talvez no Boulevard Shopping, né, ou em outra região da cidade. Como nós fizemos pesquisas, né, ela aponta que o nosso público aqui do calçadão, ele vem direcionado para loja, né? Então, não sei se seria ou tirar a loja daqui, ou abrir um outro ponto, né? A ideia é manter, manter essa loja, abrir um outro ponto, né, ou no alto da cidade ou no outro shopping, tudo vai depender de como for essa incerteza aí, de abre e não fecha. E tentar fazer a loja online, mesmo, funcionar, né, com outros fornecedores, ou comprar de… de terceiros e colocar nossa etiqueta, né? Criar uma marca sem ser Casa Carvalho, mas que venda na Casa Carvalho, ou utilizar mesmo a nossa marca Casa Carvalho, né? E abrir outros negócios também, mas dentro de Bauru, né? Como a gente já tem uma franquia da Democrata, né, abrir outras franquias, para que seja um complemento da loja masculina.
P2 – Legal. Cláudia, você gostaria de…
P1 – Eu… eu queria tirar uma dúvida!
P3 – (eu daria uma dica)...
P1 – Eu queria tirar uma dúvida. Ô Fábio, você falou… quando você falou do calçadão, a primeira vez que você falou, você falou da associação, né, que tinha…
R1 – É, existia uma associação. O dinheiro era meio que um dinheiro carimbado, digamos assim. Nós, aqui do calçadão, pagávamos uma parte a mais no IPTU e esse dinheiro do IPTU ia para essa associação, e... Mas a prefeitura não poderia repassar esse dinheiro carimbado para essa associação, porque a hora em que o dinheiro entra para, pra prefeitura, um dinheiro público, ela tem que destinar uma parte pra a educação, pra a saúde, não sei o quê. E daí essa associação, como tinha os funcionários, tinha… contratava advogado, às vezes, se precisava de alguma coisa, né? Então, foi por isso que teve que acabar, porque a prefeitura não poderia mais repassar o dinheiro para essa associação.
P1 – Mas qual que era o papel da associação, assim, frente ao calçadão? Melhorias? Que que…
R1 – É, ela man…
P1 – ...ficava previsto?
R1 – ...mantinha em ordem, fazia a limpeza, né, (no meio) das pedrinhas. Às vezes criava um matinho, ela tirava, uma pedrinha saía, ia lá a pessoa, fazia. Ela fazia a divulgação na TV, fazia divulgação pra… pra região, né, colocava faixas, mantinha em ordem. Existe uma lei do calçadão, que é proibido ambulante no calçadão. E o… e a lei fala que é… tinha uma lei anterior, que falava que era dez metros da esquina para cima ou dez metros para baixo e depois eles reformularam a lei, que é da Rodrigues Alves até a Primeiro de Agosto, né?
P1 – Não pode ter?
R1 – Então… Não pode ter venda de… de ambulante, né? Então…
P1 – Mas é o que mais tem!
R1 – ... não poderia existir camelô (nos) nas transversais e nem no meio do calçadão pode existir, né? Então, quando param nas nossas esquinas, aqui eu falo (nossa), que é minha e do pasteleiro da frente, aqui, né, na Rio Branco, a gente sempre liga para prefeitura e solicita que a... venha o fiscal aqui e avise a pessoa que ela não pode ficar aqui. Eles falam: “Ah, mas lá embaixo pode! Lá embaixo tem gente.” Não, mas não pode, né? Mas os outros comerciantes não ligam. Eu acho que, se tem a lei, acho que ela tem que ser cumprida, o pessoal acaba enfeiando, né?
P1 – Aham.
R1 – E a gente paga todo um… o IPTU, paga todo um... os impostos e encargos pra uma pessoa, que normalmente é de fora da cidade, vem numa época que acha que tem mais movimento, que normalmente é até o quinto dia útil, até o dia dez do mês, ou época de Natal, Dia das Crianças e acaba fazendo esse tipo de vendas, né? Então, teoricamente não pod... Teoricamente, não. Não pode ter nenhum tipo de tenda, banquinha, nada no meio do calçadão, que englobe o que está na lei, da Primeiro de Agosto à Rodrigues Alves.
P1 – E falando, assim, mais assim da sua experiência de menino, assim, que lojas você lembra aí do Centro, assim, que você gostava de ir, de esporte, tênis? Que que você… Você teve já a sua passagem lá no shopping, mas aí do Centro, o que você lembra, assim, das lojas referências suas?
R1 – Então, o que era referência era a Yara, né, que era aqui do lado, grudado com a Casa Carvalho, né e vendia roupa, calçados, né? Tanto que nossa loja lá no Bauru Shopping é num dos imóveis que era da Yara, né? Eu acho que eles tinham seis boxes, né e a gente tá ocupando dois. E a Americana, né, a gente sempre ia na Americana, também. Eram essas duas lojas que eu lembro.
P1 – E o que você comprava ou comia, né? Você pegou a época da lanchonete da Americana ou não pegou?
R1 – É, ia na lanchonete, tomava sorvete. Era mais ou menos isso que a gente fazia lá.
P1 – É...
P2 – (Acho que a Daiana)...
P1 – Daiana, quer fazer alguma pergunta?
P3 – Não, eu ia… eu estava observando o que você falou e, conhecendo um pouco da sua história, eu acho que vale muito a pena, é… vocês investirem na loja online com uma marca própria, mesmo. Eu acho que… talvez esteja jogado, não sei. Estudei um pouco de… de Comunicação e Marketing...
R1 – É, então...
P3 – ... e eu acho que pode dar muito bom, porque...
R1 – ... já que os fornecedores não autorizam, né, não autorizavam, né, vender o produto ali…
P3 – Ah, é… Ou no caso de terceiros, né, você achar terceiros bacanas, com material de qualidade, uma vez que é o nome de vocês, né?
R1 – É, a no… a no...
P3 – E… eu acho que vai dar b…
R1 – A dúvida nossa, a gente não sabe se vende como Casa Carvalho, né, o site vai ser Casa Carvalho, né?
P3 – Uhum.
R1 – Ou se o produto, né, que hoje a gente compra de algumas marcas, e que colocam a nossa etiqueta, né? Gravata, terno, calça jeans, né? Ou se a gente cria uma marca com outro nome, que seja nossa, né e acaba…
P3 – Esteja habituado, neh?
R1 – ...fortalecendo essa marca. Isso. Essa é a nossa dúvida, de… de registrar uma nova marca, essas coisas assim.
P3 – Entendi.
P1 – Esse é o futuro da Casa Carvalho, esses são os planos pro futuro?
R1 – Sim, é o plano pro futuro. Que já estamos, já… alinhando.
P3 – Um e-commerce.
R1 – Que é presente, já, também.
P1 – Vai, Lu. Pode… estou satisfeitíssima.
P2 – É, então. É… Eu gostaria… tem alguma coisa que você gostaria de falar, que a gente não perguntou? É que muitas perguntas que nós fizemos você pode achar meio óbvio, como por exemplo descrever o Centro, mas essa entrevista vai pro portal, que vai pro mundo inteiro, né, então é legal a pessoa ter uma visão…
R1 – Uma visão.
P2 – ... da vida da pessoa entrevistada. Mas tem… tem alguma coisa que você gostaria de falar, que acha que seria legal falar na entrevista?
R1 – Não, eu só… só lembrei que a cidade que meu (vô)... meu bisavô veio é… acho que é São Simão.
P1 – São Simão!
P2 – São Simão. De Ribeirão.
R1 – É. Ele veio de São Simão.
P2 – (Então a gente, a gente…)
R1 – Mas...
P2 – E eles vieram de lá pra cá?
R1 – Isso. Em junho de 1924.
P2 – Ah, que legal! Pertinho de Ribeirão. Que a gente está trabalhando lá em Ribeirão com esse projeto, também.
R1 – Aham...
P2 – Então, eu… eu gost… eu gostaria de agradecer a entrevista, é importantíssimo a gente ter o nome da Casa Carvalho na… no… no bojo (de tudo) do que a gente está fazendo, de Bauru, né? Uma... Vai fazer cem anos a loja, uma loja que todo mundo em Bauru e na região conhecem. E eu queria agradecer você, agradecer ao seu pai e a todos aí…
R1 – Muito obrigado.
P2 – ... pela participação, tá legal?
R1 – Obrigado...
P2 – Cláudia?
R1 – muito sucesso aí, vocês.
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