IDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Celso Sutter. Eu nasci em 19 de setembro de 1947, na cidade de Chavantes, interior de São Paulo. FAMÍLIA Meu pai chamava-se Amadeu Emílio Sutter e minha mãe chamava-se Luzia Galiarde Sutter. Eles eram de origem européia. Meu pai era da Suíça e minha mãe da Itália. Meus avós também, a mesma formação: suíços e italianos. Não cheguei a conviver com eles porque eu sou o décimo segundo filho; sou o último filho e a diferença de idade entre mim e o meu irmão mais velho é relativamente elevada. Quando eu nasci, meus avós estavam com 70, 75 anos. Eu cheguei somente a conhecer o pai do meu pai. Mas convivi com ele acho que um ano, um ano e pouquinho, eu tinha aproximadamente entre oito e dez anos, mais ou menos. Os meus avós trouxeram os meus pais que já eram adultos, se conheceram e se casaram aqui no Brasil. Eles vieram no início do século passado para o interior de São Paulo. Desenvolveram o trabalho deles, cresceram e depois formaram a família. Continuaram sempre no interior de São Paulo. A minha mãe trabalhava em casa porque 12 filhos não permitiam fazer outra coisa. Um parto atrás do outro é uma dificuldade muito grande. Hoje não existe mais isso; eu, por exemplo, tenho dois filhos. A minha geração quase todos optaram por dois ou três filhos. Então a minha mãe desenvolvia o trabalho do lar. Meu pai durante longo tempo trabalhou numa pequena fazenda onde era administrador. Depois, estabeleceu-se com atividade com caminhões; ele tinha alguns caminhões de transporte, trabalhou longos anos nessa área, até o final da sua vida. Os meus avós eram agricultores, moravam na zona rural. Eu tenho 11 irmãos; sou gêmeo e o meu irmão faleceu logo no início de vida. Os 11 permanecem vivos. A minha família é muito grande porque são muitos filhos desses irmãos, muitos sobrinhos casados. Os meus irmãos são todos aposentados; quem está em atividade atualmente sou...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Celso Sutter. Eu nasci em 19 de setembro de 1947, na cidade de Chavantes, interior de São Paulo. FAMÍLIA Meu pai chamava-se Amadeu Emílio Sutter e minha mãe chamava-se Luzia Galiarde Sutter. Eles eram de origem européia. Meu pai era da Suíça e minha mãe da Itália. Meus avós também, a mesma formação: suíços e italianos. Não cheguei a conviver com eles porque eu sou o décimo segundo filho; sou o último filho e a diferença de idade entre mim e o meu irmão mais velho é relativamente elevada. Quando eu nasci, meus avós estavam com 70, 75 anos. Eu cheguei somente a conhecer o pai do meu pai. Mas convivi com ele acho que um ano, um ano e pouquinho, eu tinha aproximadamente entre oito e dez anos, mais ou menos. Os meus avós trouxeram os meus pais que já eram adultos, se conheceram e se casaram aqui no Brasil. Eles vieram no início do século passado para o interior de São Paulo. Desenvolveram o trabalho deles, cresceram e depois formaram a família. Continuaram sempre no interior de São Paulo. A minha mãe trabalhava em casa porque 12 filhos não permitiam fazer outra coisa. Um parto atrás do outro é uma dificuldade muito grande. Hoje não existe mais isso; eu, por exemplo, tenho dois filhos. A minha geração quase todos optaram por dois ou três filhos. Então a minha mãe desenvolvia o trabalho do lar. Meu pai durante longo tempo trabalhou numa pequena fazenda onde era administrador. Depois, estabeleceu-se com atividade com caminhões; ele tinha alguns caminhões de transporte, trabalhou longos anos nessa área, até o final da sua vida. Os meus avós eram agricultores, moravam na zona rural. Eu tenho 11 irmãos; sou gêmeo e o meu irmão faleceu logo no início de vida. Os 11 permanecem vivos. A minha família é muito grande porque são muitos filhos desses irmãos, muitos sobrinhos casados. Os meus irmãos são todos aposentados; quem está em atividade atualmente sou somente eu, que também sou aposentado, porém, continuo trabalhando, e vou continuar por um bom tempo ainda. Eles seguiram junto com o meu pai, trabalharam por longo tempo com ele na atividade de transporte de mercadorias. Depois, trabalharam sozinhos e se aposentaram. MIGRAÇÃO Fiquei até mais ou menos os 12 anos em Ourinhos, uma cidade do interior de São Paulo. Depois, eu me mudei para São Paulo onde fiquei mais ou menos até 24, 25 anos. A partir daí eu comecei a trabalhar em indústria farmacêutica. Depois eu trabalhei no interior, no Vale do Paraíba, vim para Campinas, me casei aqui e no início da década de 80, eu me estabeleci no ramo farmacêutico com varejo, farmácia. Eu escolhi Campinas porque eu sempre tive uma vontade muito grande de trabalhar na área comercial, desenvolver alguma atividade comercial. Eu vim para cá porque houve uma chance de eu desenvolver, dentro da própria empresa, uma função aqui em Campinas e também a própria cidade com certeza me ofereceria maiores oportunidades. Eu optei por Campinas e mudei para cá dia 1º de maio de 1975. Portanto faz 32 anos que eu moro aqui em Campinas. CIDADES / CAMPINAS / SP Quando eu vim para cá a cidade tinha acho que 400 mil habitantes. A cidade era mais tranqüila, era uma cidade com um número de pessoas bem inferior do que é hoje. Os bairros eram mais próximos do centro. Toda a atividade comercial se desenvolvia mais no centro. Era muito mais fácil a ligação, o intercâmbio de pessoas naquela época do que hoje. Porque hoje a cidade está por volta de dois milhões de habitantes, mais ou menos. É uma cidade muito grande e ela expandiu-se para todos os setores: norte, sul, leste, oeste e se tornou uma cidade muito progressista porque é uma região extremamente industrial, extremamente desenvolvida, acredito que um pólo que abrange São Paulo. A região que mais oferece oportunidades é onde nós estamos. Portanto, é realmente uma região que nos beneficia muito, muito mesmo. CIDADES / OURINHOS / SP Era uma cidade pequena. Quando eu saí de lá tinha aproximadamente uns 25 mil habitantes. Hoje talvez tenha uns cem mil, por aí. Eu acho que cresceu muito pouco apesar de ser uma cidade importante; ela faz a divisa com o Paraná e lá se faziam as trocas de trens. O pessoal que se locomovia de São Paulo para o interior, para o Paraná, faziam as chamadas baldeações nesse lugar. O veículo mais usado para viagem era o trem, porque as estradas não existiam. De Ourinhos a São Paulo somente existia a Raposo Tavares, uma estrada sem asfalto; eram poucos quilômetros com asfalto, a maioria era de terra e se levava muito tempo para percorrer esses 400 quilômetros. Hoje não. Por isso que existia o trem que fazia o percurso em dez horas: saía à noite de São Paulo e no outro dia de manhã estava lá; era mais prático. Depois, com o regime militar, as coisas foram entrando em outro eixo, fizeram essas grandes rodovias, grandes investimentos e abandonaram totalmente as ferrovias, que eu acho que foi uma pena; foi lamentável tirar as ferrovias de circulação porque elas ofereciam conforto, segurança e também era muito econômico para o consumidor. E os transportes também eram quase todos por ferrovia. Hoje nós temos transporte quase que totalmente por rodovias, e isso é um transtorno para todo mundo, porque encareceu muito a vida de todos. Ourinhos era uma cidadezinha que vivia da economia do café, pequenas fazendas de café, depois passou-se para a cana-de-açúcar, foi o ciclo seguinte. Eu saí de lá, tinha uns 13 ou 14 anos. A cidade está lá, desenvolveu bem, mas tem um limite de desenvolvimento. Hoje ela basicamente produz a cana-de-açúcar. A área está totalmente tomada por grandes indústrias tendo atividade na extração do álcool e do açúcar. As indústrias da época, que trabalhavam em outros setores, praticamente desapareceram daquela região. INFÂNCIA Eu fui para Chavantes ver a casa onde eu nasci, onde nasceram todos. Mas lá eu não tenho registro nenhum que eu possa mencionar, porque a minha vida mesmo era em Ourinhos. Eu gostava muito de nadar, nós nadávamos no rio porque não tínhamos condições de ser sócios de clubes; caminhávamos quatro, cinco quilômetros a pé, íamos nadar sempre, sem que o pai ou a mãe soubessem porque não era permitido. E à tarde jogávamos futebol; futebol de campo, futebol de salão, basquete, vôlei, essas coisas todas. Estudávamos em colégios estaduais porque na minha época não existiam colégios particulares. Colégios particulares surgiram décadas depois com as mudanças do próprio sistema de ensino do país que não ofereceu aquilo que todos nós sabemos, não deu continuidade àquilo que era básico e passou a ser desenvolvido pela escola privada, a qualidade dos estaduais foi ficando pra trás. Nós tínhamos muitos amigos até os 15, 16 anos. Saíamos todos os sábados. Nós tínhamos horário pra sair de casa e horário pra entrar; depois das dez não se entrava mais e a porta se fechava, não se entrava mesmo. Minha mãe era assim e todo mundo obedecia. Nunca houve nenhum tipo de problema. Hoje não, os filhos saem de casa às 11 e não tem hora para voltar. Às vezes, chegam no outro dia e está tudo bem. É assim hoje, a realidade mudou muito. Com toda essa liberdade, mudou e nós temos que entender que tudo mudou mesmo, e que temos a nos adaptar a essa nova realidade. Nós não fazíamos muitas brincadeiras, nós tínhamos atividades mais esportivas e aos finais de semana nós nos reuníamos e jogávamos futebol em outra cidade, jogávamos em fazenda, e à noite nós íamos para o jardim e ficávamos vendo as meninas. Quando dava 15 pras dez, nós íamos embora pra casa. TRANSPORTE Andei muito de trem e fiz questão que os meus filhos andassem. Nós pegamos o trem aqui na estação e fomos até São Paulo e voltamos. Era Santos-Jundiaí e estavam em fase de interromperem esse transporte. Inclusive o trem que nós andamos era o trem ainda que eu andei na época, nada de especial: a primeira classe, uma poltrona com não muito conforto, não tinha nada reclinável; e a segunda classe era um banco de madeira. Mas era divertida a viagem, era um pouco longa e todo mundo viajava de trem. Todo mundo viajava porque nem mesmo os ônibus tinham condições. A indústria, se nós formos ver, se estabeleceu no país a partir da década de 60; até então era tudo importado. Eu lembro que o meu pai tinha um Chevrolet 38. Nós estávamos em 55 por aí e era um carro moderno. Existia o Dolfine, o Aero Willys, o Gordini, a Romiseta, quando eu era criança. E a Lambreta que depois foi substituída pelas motos. Acho que eram quatro, cinco marcas de carros que existiam. Eu diria que até a década de 60. Depois surgiu o Karmann Ghia; eu me lembro quando chegou aquele modelinho bonitinho. Na década de 60 vieram carros mais modernos da Volkswagen como a Brasília e o TC, o Karmann Ghia TC e tinha uma perua. Da Chevrolet era o Opala, que tinham lançado; da Willians tinha o Aero Willys, foi lançado em 66 e tinha os modelos importados, os carrões importados que eram pra poucas pessoas. Eu me lembro que eu servi o Exército em 66 e, naquela época, os carros que mais tinha eram aqueles “rabos de peixe”, aqueles Impalas, carros bonitos que até hoje a gente vê nos filmes mais antigos. Eram carros importados, a indústria aqui estava praticamente no início e os carros eram bem simples e acessíveis, porém poucos podiam comprar. COTIDIANO Quem escolhia as minhas roupas era a minha mãe. Quando ela achava que eu precisava de uma calça ou de uma camisa, a gente ia na cidade. Lá existia uma loja, não sei se existe ainda, chamava-se Bandeira Branca. Nós íamos até essa loja e ela escolhia o que eu precisava: camisa, calça ou alguma coisa assim e comprava. Não era eu que escolhia, ela escolhia: “Tá bom assim, tá bom.” E comprava. Supermercados não existiam. Existiam grandes atacadistas de produtos alimentícios. Teve o que deu origem ao Eldorado, que era J. Alves Veríssimo. Ele tinha em cada cidade de porte de 25 a 30 mil habitantes, um grande prédio, mas ele vendia tudo desde óleo até arame farpado. E ali ele tinha os seus vendedores, que trabalhavam externamente visitando os grandes consumidores da zona rural, e tinha o varejo que era efetuado pelos vendedores que trabalhavam dentro de suas lojas; era mais ou menos assim. Havia os famosos armazéns que ficavam ao lado das nossas casas onde se comprava através da caderneta, a famosa caderneta; se marcava diariamente aquilo que se consumia e no final do mês ia-se até o local e pagava a conta. Era até interessante, funcionava bem. Meus pais iam a São Paulo a trabalho, sempre a trabalho. Compras naquela época em São Paulo... Hoje é uma rotina, o pessoal sai do interior vai pra São Paulo justamente pra ter um meio de vida, comprar alguma coisa e revender no interior, ou para o próprio consumo, ou conhecer novidades e melhorar o seu guarda-roupa, etc. FORMAÇÃO A minha vida foi muito interrompida porque eu fiz o curso primário em Ourinhos. A escola chamava-se Instituto de Educação Horácio Soares, só tinha aquele na cidade. Ia até o clássico, na época, o científico e o normal. O normal acho que era outra linha, lá era mais o científico e o clássico. O normal era uma linha para um outro tipo de escola do Estado, não me lembro, ou juntos, não me lembro exatamente agora. Sei que eles se direcionaram para esses três cursos. E após disso vinha o vestibular e a faculdade. Eu fiz o primário, depois eu fui para São Paulo e fiz o secundário. Eu sempre trabalhei, desde os 12 anos. O curioso, na minha época, é que nós não conseguíamos estudar porque os cursos acima, ou seja, os cursos ministrados eram todos durante o dia, e durante dia só podiam estudar aqueles que não trabalhavam, quem trabalhava não tinha direito a estudo. Eu fui ficando pra trás porque eu sempre trabalhava, mas fiz alguns vestibulares, passei, tentei, mas não deu. Eu só fui realmente terminar a minha faculdade depois, com 30 anos. Casei, estabilizei e voltei a fazer um curso, um cursinho rápido de seis meses pré-vestibular, prestei vestibular e fiz. Como a minha mãe faleceu quando eu era muito jovem e nós morávamos em São Paulo - meu pai faleceu bem mais tarde - todo mundo queria que eu voltasse para o interior: “Volta para o interior, volta para o interior.” Eu falei: “Não, não vou voltar.” Que já era a segunda viagem que nós tínhamos feito: fomos no início de 62 voltamos no final de 62, aí voltamos início de 63, quando foi 26 de fevereiro de 64, minha mãe faleceu e o pessoal: “Vamos voltar.” Eu estava com 16 pra 17 anos e falei: “Eu não volto mais.” E não voltei mais. Eu fiquei em São Paulo. CIDADES / SÃO PAULO / SP Eu tinha uma irmã casada que morava em São Paulo. Logo em seguida, outra irmã solteira que se casou, mais dois irmãos solteiros e eu. Os dois solteiros voltaram; eu, o mais novo, fiquei. Eu fiquei porque eu tinha 16 pra 17 anos, fiquei um tempo com a minha irmã, depois eu fui pra uma pensão, fui morar numa pensão. Aí veio a época do quartel. Fiquei um ano no Exército, em 66, época da revolução. Fiquei um ano morando no quartel. Eu já tinha emprego, anteriormente, trabalhava numa indústria que é aqui de Salto e de São Roque, a Brasitalma, uma indústria italiana. Eu já trabalhava lá desde os 14, 15 anos. Quando eu fui para o quartel me afastei, mas com direito a volta. E quando eu voltei, terminei o tempo de militar, continuei trabalhando nessa empresa. Fiquei mais um ano, dois anos, e resolvi partir pro comércio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu trabalhava no departamento de matéria-prima e importação, mas eu gostava muito de sair para a rua, fazer contatos, conversar com as pessoas. Parecia que você tinha mais informações, desenvolvia mais as suas coisas. E aquilo me chamou muito atenção. Quando eu voltei do quartel houve a oportunidade de trabalhar no departamento de vendas e eu fui. O próprio gerente de vendas viu alguma coisa em mim. Nós trabalhávamos com tecidos na área do mercado da região da Rua 25 de Março, aquelas ruazinhas onde tem as galerias. Os grandes atacadistas, os grandes distribuidores de tecidos ficavam todos naquela região. Hoje são todos coreanos e chineses. Naquela época, árabes e judeus ficavam ali. Na verdade, os judeus se concentravam mais no Bom Retiro, no varejo, e o atacado ficava com os árabes ali na região do Mercadão. Esse senhor, o gerente, me deu oportunidade de eu visitar algumas lojas. Eu com aquelas amostras comecei a visitar, fui tomando gosto por aquilo e falei: “Quer saber de uma coisa? É isso aqui que eu vou fazer, eu gosto disso.” Fiquei alguns anos lá e depois resolvi sair. Pedi para sair, eles concordaram, eu falei: “Vou tentar uma outra coisa.” Por que eu pedi pra sair? Porque eu convivia com alguns amigos que trabalhavam na indústria farmacêutica e eu percebi que eles tinham um ganho muito maior na atividade farmacêutica, possibilidades maiores de crescimento. Eu falei: “Vou tentar” Resolvi sair e fiquei em busca de uma oportunidade até que eu consegui. Desenvolvi todo esse trabalho. GOLPE MILITAR Foi um período muito difícil, sabe? Eu me lembro que eu servi em 66 e eu não conhecia profundamente a política. Os meus objetivos eram outros. Eu tinha muitos amigos intelectuais voltados para a atividade política. Eu via a política de uma forma não tão profunda quanto eles; eu enxergava bem a política, mas eu não procurei me envolver muito porque eu percebi que essa parte de liderança na área política não era o meu forte. Eu estava preocupado com a situação do país, com o desenvolvimento da sociedade, melhoria de vida de todo mundo, porém a repressão era muito grande, era muito grande, era muito forte. E eu me lembro que eu morava ali na Rua General Osório esquina com a Rua Santa Ifigênia, perto daquela rodoviária antiga, que não existe mais ao lado da Sorocabana. Eu subia a pé a General Osório, atravessava o Largo do Arouche, subia a Rego Freitas, subia a Consolação e estudava no Marina Cintra, um colégio estadual ali do lado do cemitério. Depois eu passei para o Caetano de Campos, pra fazer o científico. Era um colégio mais credenciado de São Paulo. E era difícil a semana que eu... Nós mostrávamos o documento. A repressão era grande, ou era carteira de estudante ou carteira profissional. Primeiro eles pediam a carteira profissional, depois a carteira de estudante. E quem não estivesse munido de uma das duas, automaticamente, ia detido, preso pra averiguações. Esse foi o regime da época que eu conheci, tanto é que a minha carteira andava no bolso. Ou estudante ou a profissional. Teve uma época que eu tive dois empregos... Uma vez, eu saí num desfile de Sete de Setembro; era um domingo, isso, provavelmente, em 67. Já tinha saído do Exército e fui ver o desfile. Nós estávamos no Viaduto do Chá e estavam estourando bombas. Bateram a mão no meu peito e imediatamente pediram meu documento e eu não levei aquele dia; eu fui preso, fiquei detido numa perua durante quatro, cinco, seis horas. Aquilo foi enchendo, enchendo de gente. Depois o pessoal resolveu me soltar e levaram as outras pessoas não sei pra onde. Mas era uma repressão muito grande, não havia liberdade nenhuma, na imprensa não se publicava nada, tudo era totalmente escondido, não se falava nada. Era o caos, foi o caos. Foi uma época horrível. Via-se diariamente, logo cedo, o Esquadrão da Morte que operou durante uns 10, 15 anos; todas as noites saíam em quatro ou cinco e eram encontrados em determinados locais em bairros, que operaram muito tempo esse esquadrão. Não sei se ele foi positivo ou negativo, sei que pelo menos na época, a criminalidade não era tão forte. Claro que o regime também não permitia isso, todo mundo tinha que exercer um trabalho, tinha que exercer a profissão, alguma profissão, o que não se podia era ficar na rua, tinha que se identificar e trabalhar. Hoje não, hoje a pessoa anda na rua sem documento algum, você está conversando com pessoas que você nem sabe quem são. Esse é o nosso grande problema hoje. Hoje nós vivemos num anonimato, nós estamos convivendo com um monte de gente que nós achamos até que conhecemos, porém não conhecemos nada, essa é a realidade atual. JUVENTUDE Bailes direto, todo sábado tinha baile, festas lá em São Paulo. São Paulo é maravilhoso, eu adoro São Paulo. São Paulo foi minha grande cidade, a cidade do meu coração. Apesar de eu ter morado pouco mais de 10 anos lá, São Paulo eu conheço mais do que dos 32 de Campinas. É uma cidade maravilhosa, Nós nos divertíamos nos bailes. Muitas opções. Nós tínhamos tipos diferentes de atividades no final de semana: você podia ir para o Horto Florestal, você podia ir para o Pico do Jaraguá, para o Zoológico, para o Museu do Ipiranga, para o Aeroporto de Congonhas, ver subir e descer aviões. Você podia ir até na rodoviária que era do lado de casa, dar uma olhada naquela circulação de ônibus. Mas tinha tanta coisa boa pra ver: Horto Florestal era uma delícia, então se escolhia: “Aonde nós vamos domingo?” Porque sábado nós trabalhávamos até meio-dia. Sábado à tarde, normalmente, ia ao cinema, ou à tarde ou à noite. No domingo, nós escolhíamos um local pra ir, passava o dia, saíamos cedo e voltávamos à tarde. Ia, por exemplo, ao Zoológico e passava o dia. “Vamos pra Água Branca” Todo fim de semana nós tínhamos um compromisso. Nós éramos mais ou menos em cinco ou seis amigos que saíamos juntos. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A empresa farmacêutica é um ótimo caminho, é um ótimo aprendizado, te oferece muitas oportunidades para crescimento, por quê? Porque as exigências são muito grandes. Você tem que andar com os livros em baixo do braço, dia e noite, submeter-se a provas constantes e ter um preparo profundo, mas profundo mesmo, porque senão, você não mantém o emprego. Isso possibilitou um crescimento profissional muito grande na área de medicamentos, conhecimentos técnicos, de produtos, de doenças, estudos. Nós fazíamos cursos, estávamos sempre reciclando. Nós tínhamos que estudar, por exemplo, se um produto era indicado para o coração, nós tínhamos que conhecer tudo sobre o coração, tudo sobre o concorrente, tudo sobre ele e quais os efeitos que ele proporcionaria ao paciente para que isso fosse levado ao médico e nós convencêssemos o médico para que prescrevesse o produto. Portanto, as exigências eram tantas que tínhamos que nos dedicar integralmente ao trabalho, dia e noite. Era um massacre, porém se ganhava muito bem, valia a pena. Eu acredito que todos da minha época, que nós convivíamos, todos se deram muito bem. Todo mundo, eu vejo hoje, terminou sua atividade, já estão aposentados, e todos conseguiram os objetivos que planejaram. Pra mim foi um pouco diferente: aquilo era massificante, altamente cansativo e eu aspirava mais, eu queria sair, mas sair significava algo que tinha que ser muito bem pensado, por quê? Primeiro envolvia dinheiro, já era casado, eu já tinha os meus filhos e tinha um ganho relativamente bom, que proporcionava o pagamento de todos os gastos necessários para família. E para eu sair, eu tinha que sair pra alguma coisa própria. O meu objetivo era alguma coisa própria. E foi o eu fiz, eu esperei uma oportunidade. Vou contar um segredo: eu nunca imaginei, na minha vida, que eu seria dono de farmácia. Durante mais de dez anos eu visitei farmácia e os hospitais, eu trabalhei em São Paulo, Vale do Paraíba, trabalhei no sul de Minas, trabalhei em Campinas e sempre dentro de farmácias e hospitais de todos os níveis. Eu não suportava trabalhar sábado, domingo e feriado. Eu falei: “Jamais vou comprar uma farmácia na minha vida” E faz 28 anos que eu tenho farmácia, fora os outros anos que se passaram que eu trabalhei para esse povo todo aí. Eu me adaptei aos sábados, aos domingos e aos feriados. E até há uns cinco, seis anos atrás, eu trabalhava sábado, domingo e feriado. Eu deixei de fazer isso há pouco tempo. Isso foi difícil porque eu saía de manhã de casa, meus filhos saíam para escola, eu voltava à noite, eles estavam dormindo, eu convivia com essas crianças praticamente só no domingo à tarde ou no domingo à noite. Eles crescerem comigo, mas nós nos víamos mais nos finais de semana porque eu chegava, eles estavam dormindo, voltava eles dormindo. Mas foi bom porque eu acho que o meu projeto foi cumprido. Eu imaginei que levaria longo tempo, me propus e fui em frente. FÁRMACIAS A primeira farmácia foi muito interessante. Eu não queria montar farmácia, não queria nada de farmácia e eu aspirava uma outra coisa. Perto da minha casa tinha uma farmácia que fechou de repente. Eu cortava o cabelo bem aqui no Castelo, perto do Bosque dos Alemães. Eu ia lá todo mês. Um dia, esperando pra cortar o cabelo, o barbeiro comentando com o cliente que estava na cadeira: “Não, você vai conseguir o ponto sim, porque você vai conseguir, eu vou ajudar.” Eu pensei: “Esse cara está louco, vão reabrir essa farmácia, uma loucura.” Essa farmácia foi reaberta, eu ouvi aquela conversa ali, passaram dois ou três anos, ela foi reaberta e um dia eu cismei passando por ali... Porque eu passava lá pra comprar algum remedinho, algumas coisas para as crianças porque era na minha rua; eu morava na João Arruda e eu passava ali na, Miguel Penteado, subia a Oliveira Cardoso, Miguel Penteado, ia e comprava alguma coisinha. Um dia eu resolvi: “Bom, sabe de uma coisa, vou comprar essa farmácia” Paguei caro, fiz um péssimo negócio na época, não tinha muita experiência, a empresa me liberou, me deu algumas vantagens, liberou meu fundo, liberou algumas coisas, eu fui um bom funcionário e pediu que eu até indicasse uma outra pessoa. E eu comprei aquela farmácia. Engraçado que o gerente, quando ele veio me visitar, ele olhou para mim e disse: “Você vai sair da Pfizer pra entrar nessa farmácia?” Eu falei: “Eu vou” “Você vai sair?” “Eu vou” Ele não acreditou, eu falei: “Mas eu vou sair” E deu certo. Essa farmácia, eu fiquei com ela de 81 até 95. Depois eu comprei outra, depois mais outra até chegar na São Luís. Em 93, eu comprei a São Luís. Eu tinha uma no Cambuí, na Irmãos Bierrenbach, que era em frente a Padaria Riviera, que já não tem mais; tinha uma antiga também perto do Centro de Convivência chamada Farmacity. Essa do Castelo é a São Luís. Eu abri uma no shopping, em 94, eu tenho até hoje, no Shopping Campinas. Depois, eu montei mais duas: uma na Alves Machado e uma na Francisco Glicério, essas não foram bem; na Alves Machado tinha o camelódromo, muito problema. E ali em frente ao Poupatempo não deu retorno satisfatório; eu resolvi encerrar a atividade. Abri uma na Unicamp, em frente ao Hospital das Clínicas, um laboratório de manipulação também. E aqui no centro, na Conceição. A primeira que eu comprei foi a Drogaria Castelo de Campinas Ltda. A segunda foi Camille Drogas, no Cambuí. Terceira foi a Farmacity, na Júlio Mesquita. A quarta foi a São Luís, na Conceição. A quinta foi a São Luís, do Shopping Campinas. A sexta foi a São Luís, da Glicério, em frente ao Poupatempo. E a sétima foi da Alves Machado. Fora a da Unicamp que eu inaugurei em 2002, essa na frente do Hospital das Clínicas da Unicamp. Hoje eu tenho somente quatro lojas. Nós diminuímos um pouco em função do próprio momento econômico que não é muito bom pra comercialização de medicamentos. A própria economia mudou muito e ficou um pouco difícil com os impostos. Dificultaram muito a operação na área de varejo. Então nós reduzimos um pouco e estamos trabalhando apenas com esse número. FARMÁCIA SÃO LUÍS Foi muito interessante porque eu sempre fui um homem de decisões rápidas, nunca fui uma pessoa em minha vida de ficar esperando muito tempo para decidir alguma coisa. Sempre fui muito agressivo nas minhas decisões comerciais: “Vamos fazer? Vamos fazer Dá pra fazer? Dá. Então vamos fazer” Eu tinha um amigo que faleceu prematuramente, era vendedor e trabalhava na Farmacity. Ele insistia muito pra eu comprar a Farmacity: “Você tem que comprar, você tem que comprar.” Isso na Camille. Eu falei: “Não, agora não dá, quando der eu te aviso” Um dia, eu falei: “Agora dá pra eu comprar a Farmacity” Ele me apresentou para o dono e fechamos o negócio. Só que eu pedi que ele me ajudasse porque ia ficar muito pesado pra mim, eu já tinha a outra anterior. Imaginava que ia ficar pesado, depois ficou tremendamente pesado. Ele falou: “Eu ajudo sim.” Passaram uns oito, nove meses, uma tarde ele me chamou lá fora na calçada e falou assim: “Celso, eu conheço o Senhor João. Eu já trabalhei na São Luís. Você tem que comprar a São Luís.” Eu falei: “Você está louco, eu não tenho cacife pra comprar a São Luís, não tenho condições, não dá. Esquece isso.” Passou uns 20 dias, ele falou: “Celso, você tem que comprar a São Luís.” Ficou me cutucando, sabe? “Mas como?” “O Seu João gosta de você...” O dono anterior... “Ele conhece você.” Na verdade, eu vendia pra ele quando era representante. Eu falei: “Mas eu não tenho condições de comprar. É a melhor farmácia da cidade.” Porque ela é essencialmente de manipulação, era a farmácia mais cobiçada da cidade, sempre foi a menina dos olhos de quem passou por lá. Pra mim é a menina dos meus olhos. É um charme aquela farmácia. Tanto que tive oportunidade pra mudá-la e não mudei porque o pessoal gosta dela daquele jeito. Ele insistiu mais duas ou três vezes, acabou marcando uma entrevista com o dono da farmácia. Depois de muita conversa eu acabei comprando a farmácia. Estou lá até hoje. Foi difícil, mas eu comprei. E olha que pra mim foi uma vitória; eu ter chegado lá foi o topo, o momento de glória da minha vida. Porque começar como eu comecei, chegar aonde eu cheguei, trabalhando como eu trabalhei... Quando eu cheguei na São Luís, eu tinha prometido pra mim mesmo - eu não cumpri - eu falei: “Vou ficar cinco anos aqui e vou sair, não vou trabalhar mais.” Porque nessa área, como em outras áreas parecidas, não é um trabalho de oito horas por dia; é um trabalho de 14, 15, 16 horas. Porque ela abre às sete, fecha às dez. Você não tem horário de almoço, você tem que comandar um monte de pessoas, você passa a nem almoçar mais, só a jantar. Eu me lembro que tinha dias em que eu chegava em casa, eu deitava, eu levantava, parecia que eu não tinha nem me virado na cama, dormia na mesma posição; eram seis horas certinhas de sono, a cama não precisava nem arrumar porque eu deitava, tomava um banho comia e deitava, daqui a pouco levantava, vivia mais cansado, parecia um zumbi. Só ia descansar no domingo à tarde. Durante a semana era muito corrido. Então eu falei: “Não, já fiz todos esses anos 14, 15, 16 horas por dia, o pessoal trabalha oito horas e todo mundo faz horário de almoço, todo mundo tem o seu final de semana, o meu já acabou faz tantos anos.” Eu não tenho sábado, não tenho domingo, para mim sábado e domingo sempre foi igual já faz 30 anos. Tanto que eu me perco, não sei se hoje é segunda, se é terça, se é sábado, se é domingo; tanto faz. Eu falei: “Eu vou ficar cinco anos aqui”. Minha proposta foi cinco anos e vendê-la e vai fazer 15 anos que estou lá. Cheguei a ter sete lojas ao mesmo tempo. Mas aí desequilibrou um pouquinho porque a minha expectativa era que meus filhos me ajudassem quando eles crescessem. A opção deles foi outra e como eu nunca interferi nas decisões deles... Quando eles se preparam pra fazer uma faculdade, eu tinha condições de pagar qualquer faculdade pra eles e em qualquer lugar, eu diria fora daqui inclusive; me preparei para isso. A conclusão foi essa: “Vocês escolham o curso, se vocês fizerem aqui nós temos patrimônio, vocês dão seqüência. Se vocês optarem por outra coisa, nós vamos começar a diminuir.” E eles optaram por outra coisa. Optaram, não querem varejo, não querem trabalhar com público. FAMÍLIA Sou divorciado desde 93. A minha ex-esposa é uma excelente assistente social. Trabalhou grande parte da vida no Cândido Ferreira, hospital lá em Sousas, com os pacientes alcoólatras, recuperação de alcoólatras, doentes mentais, área mais de doentes mentais e esses abandonados, doentes crônicos. Ela trabalhou na prefeitura também. Eu me lembro que a minha filha, que hoje tem 26 anos, quando ela ia de manhã lá para o hospital, ela levava a minha filha junto, que ela amamentava. Minha filha cresceu dentro do hospital. O Cândido Ferreira hoje está muito diferente, mas na época era muito bonito. Sousas também mudou muito. Chegou um tempo que eu falei - acho que quando eu estava com quatro lojas - falei: “Eu vou precisar da sua ajuda.” Ela deixou o hospital e veio trabalhar comigo. Mas como ela era assistente social, não tinha nada a ver com comércio, ela me ajudou, fez tudo o que foi possível, foi excelente todo o período que nós trabalhamos juntos, me ajudou muito, mas ela não era comerciante, era assistente social. Aí no fim nós dividimos tudo, nos divorciamos, metade para cada um e cada um foi fazer a sua função. Os meus filhos não querem. Acho que com essa globalização que veio de 97, 98 para cá ela se fixou mais a partir de 2000, 2001 com essa abertura toda. Isso dificultou muito a vida desse pessoal mais jovem. Eu vejo grandes ilusões. Grandes perspectivas ilusórias desse mundo computadorizado. Eu, por exemplo, adotei um esquema, tenho um monte de computadores, mas eu já até escrevi programas: “Faz um programa assim, assim, assim.” Pra analista colocar e fazer o programa, inclusive de farmácia, mas eu não sou muito chegado em computador. Eu não sou muito chegado em sentar e ficar na internet. Eu não fico, eu não vou ficar. Isso é uma proposta que eu vou cumprir também, eu acho que isso não vai me pegar mais, nem tem chance. É que eu acho que é um mundo muito atraente pra quem está começando, mas quem viveu tudo que eu já vivi e como eu vivi esse mundo, pra mim não interessa muito não. Não faz parte do meu mundo. COMÉRCIO DE CAMPINAS Na época em que eu me estabeleci estavam construindo o Shopping Center Iguatemi; 78, 80, foi na época que o Eldorado aqui, inclusive, pegou fogo e depois nunca mais fizeram nada. Agora parece que está saindo um mercado de novo. O centro era muito movimentado. As oportunidades de negócios eram maiores, a concorrência era menor, a qualidade nos serviços era muito boa, muito boa mesmo. Hoje, nós estamos vivendo um momento que a concorrência é tão grande, tão grande, que as pessoas vendem, vendem mercadorias muito abaixo daquilo que compram. Existem muitas falcatruas no mercado em todos os níveis. Isso dificulta muito o trabalho de pessoas honestas. Porque se você compra por dez, você não pode vender por dez, nem por 11. Você tem que tirar, pelo menos, o seu custo. Grande parte do custo de uma empresa hoje é o imposto. Hoje os impostos, de uma maneira geral, a nível estadual, municipal e federal, levam 10, 12% da empresa. A folha de pagamento leva, mais ou menos, 10, 12% da empresa e outros encargos de custo fixo e variável levam mais 6, 7, 8%. Nós chegaríamos a um custo de, aproximadamente, 30%. Se nós voltarmos em 80, nós tínhamos um custo de 15; hoje nós temos um custo de 30. Em 80, nós trabalhávamos debaixo pra cima com 30%, de cima para baixo com 42,71. Ou seja, comprávamos um remédio por 10 e vendíamos por 14,71. Hoje nós compramos por 10 e vendemos por 12,22, 22%. O governo tirou 17%, colocou alíquotas a partir de 98, já desconta diretamente na fonte. Já tira do produtor aquele lucro que seria da farmácia, já reverte para o governo em forma de impostos como o IPI do carro que significa que o carro não é caro, caro são os impostos. Ou se nós pegarmos um carro popular, ele custa 22 mil, ele deve custar, no máximo, quatro, cinco mil reais. Mas o governo leva 60, 70% de IPI, depois vem o lucro da indústria. Em 98, eu estava discutindo com um cara da GM - eu comprei um Vectra e paguei 25 mil - nós estávamos discutindo o custo dele que não chegava a sete, oito mil. Os impostos são o câncer do país. Acho que os impostos e a corrupção. E nós vivemos em um país com um problema crônico porque os impostos aumentam mais e essa parte é totalmente intocável. Porque é um protecionismo muito grande. Nós temos o caso do Renan [senador Renan Calheiros, à época acusado de corrupção] que está lá enrolado, hoje vão fazer a votação. Depois, vai para o Senado; provavelmente, no Senado eles devem votar a favor dele, quer dizer, a gente percebe que é uma pessoa totalmente inescrupulosa, uma pessoa que não tem qualidade pra representar nada e é o presidente do Senado do país. E nós temos exemplos que mostram que, infelizmente, nós não podemos confiar na administração pública. Minha visão é essa: nós não podemos. Eu nunca fiz um projeto econômico pensando no governo; sempre fiz um projeto econômico me protegendo do governo. Porque ele coloca uma meta, nós não podemos acreditar na meta porque não é verdadeira. Agora, se eu coloco uma meta, a minha meta é verdadeira, eu vou tentar cumpri-la, se eu não cumprir eu falhei por motivos técnicos mas não por outros motivos. O governo coloca uma meta, depois... Vamos pegar o caso da CPMF, o imposto do cheque que era uma coisa provisória pra ser revertida para saúde; vai fazer 13 anos, uma coisa provisória, e eles querem tornar definitiva. Que país é esse? Não dá mais pra você ser sacrificado com impostos. É mais fácil você deixar de ser comerciante do que continuar suportando essa carga tributária. Essa é a minha visão como economista. É mais fácil você desistir do que ficar participando de uma corrupção, pagando impostos altíssimos sem ter praticamente lucro nenhum, mantendo uma máquina trabalhista falha que dá toda a cobertura para o empregado e não tem nenhum tipo de investimento, ou algum tipo de lei que faz com que o empregador aumente sua produtividade, aumente o número de funcionários, aumente o seu capital e aumente a sua empresa. Isso não existe no país. Existia a camada do político, o comandante supremo que é o presidente e a turma que anda junto com ele. Depois vem os grandes empresários que decidem as leis juntamente com o governo. Por que quais são os projetos econômicos? Quando existe alguma medida econômica, eles não vão chamar o Celso Sutter. Eles vão chamar o Antônio Ermírio de Moraes, o Abílio Diniz, o Gerdau: “Vai Brasil, vamos decidir aqui.” Vão chamar quem tem muito dinheiro e quem mais vai junto? Banqueiro. Banqueiro é o pára-choque, ele recolhe o dinheiro e fica com quase todo; dá uma parte para o governo e o grande empresário também leva a fatia. Se você pegar o jornal de ontem, a Folha de 30 de agosto, você vai ver que o pobre hoje consome 1%. 99% é da classe rica e 1% do consumo é das demais classes. Acho que nós estamos incluídos nela, nós não consumimos mais nada. E quem faz alguma coisa pelo país? Corporativismo. Nós temos o exemplo desse promotor que assassinou um jovem de 20 anos, a própria corporação protegeu o sujeito; ele ganha 10 mil e 800 reais e vai ficar em casa, de férias, ganhando, porque não foi aceito na cidade dele, não vai ser aceito. Agora, existe a possibilidade de ele ir a um júri popular? Porque ele não foi aceito. Você viu na televisão, jornais? Como é que nós fazemos, esse é o nosso país Quem comete grandes crimes não é punido, quem não faz nada, ladrãozinho de galinha, o cara que pega um pacotinho de açúcar, vai preso e às vezes não sai mais da cadeia. Antigamente, eu me lembro - o meu pai era assim e eu sou assim - eu tomo uma decisão, se eu tomei, fiz um acordo, acabou; chama-se “fio de bigode”. Isso não existe mais, não existe mais. O cara faz com você o acordo hoje e amanhã ele te manda embora. Isso não é o meu mundo. Se eu falar que sete horas eu vou estar na sua casa, nós vamos resolver aquele negócio, você pode me esperar que eu vou chegar às sete horas ou um minuto pras sete, mas sete e meia. Não é o meu estilo. E se eu não puder ir, eu vou ligar antes e vou falar: “Olha, eu não posso ir por isso, isso, podemos marcar uma outra hora?” Isso não existe mais. Existe é um enganando o outro, pessoas de mau caráter, desonestidade. E quem criou isso? Não veio do governo militar não. Eu acho que ele foi ruim, destruiu, aniquilou o país, sucateou e depois deu para a democracia. Só que o pessoal que veio quis tirar muito de uma vez só. Não dá, não há sociedade que resista. Se nós pegarmos de Norte a Sul do país - só São Paulo que divide um pouco porque tem o Maluf [Paulo Salim Maluf], tem seis ou sete correntes fortes que querem o poder -, mas se nós pegarmos o Nordeste, estado por estado cada um tem um dono. Começa lá no Maranhão com o seu Sarney [José Sarney] e vem descendo, vem descendo, chega até praticamente no Rio. Espírito Santo tem dono, Aracaju tem um dono, Miguel Arraes é o dono daquela área, junto com o Marco Maciel, de Recife; os Collor da vida são donos de Maceió, que é Estado de Alagoas e assim por diante. ATENDIMENTO Existem dois tipos de relacionamento na farmácia, o moderno que é esse tal de auto-serviço e o antigo que é esse ombro a ombro mais tranqüilo, que você chega e pede uma informação: “Ô fulano, você pode me dar uma informação? Para que serve isso? Você pode mostrar o que está escrito aqui? Vocês fazem esse tipo de medicamento?” Você ter o contato direto com o cliente, você informá-lo, você orientá-lo. Esse é um trabalho de qualidade. Existe o trabalho que as grandes redes fazem que é o auto-serviço: dá um treinamento para o pessoal, uniformiza todo mundo, faz sistema de cooperativismo, joga cada um em sua função, arruma um gerente e a pessoa vai lá, pega as caixinhas, passa no caixa e vai embora. Qual é a diferença? Existe uma diferença fundamental nisso que é importante destacar: as farmácias que fazem um trabalho como a minha, um trabalho de atendimento direto ao cliente, fazemos no dia-a-dia, ali no balcão e que é muito importante. Por quê? Porque você consegue entender o cliente, você consegue conversar, trocar informações com ele. Agora, o auto-serviço não. A pessoa chega lá, pega uma caixinha aqui, passa no caixa e vai embora. Infelizmente, esse trabalho de auto-serviço está predominando no país inteiro. As leis que predominam no país, a cada dia, vão tirando essa fatia do mercado. Antigamente, você ia à farmácia e media sua pressão; nós não podemos mais medir pressão. Imagina uma São Luís não pode medir pressão Ninguém pode Você vai lá: “Aplica uma injeção pra gripe. O meu avô tomou aqui.” Você fala: “Hoje não pode mais, precisa de receita médica.” Furava a sua orelha: “Ah, eu quero colocar um brinco.” Coisa tão simples, um brinquinho de ouro, dá uma lixadinha nele, marcou, não pode mais. Curativo? Não pode mais. Tudo isso não pode mais, só com receita. Isso dificulta muito porque se nós fossemos desenvolvidos e todos tivessem acesso a locais onde isso fosse feito, seria ótimo. Mas a nossa população não tem locais que a atenda. Fizeram leis pra que isso não seja realizado, porém, não oferecem ao consumidor sistemas que possam atender a esse pessoal. Agora você tem olhado no jornal que o governo está revendo se a farmácia pode medir pressão ou não. Parece que eles vão liberar. Nós tínhamos grandes produtos, a Benzetacil que era uma beleza, a Despacilina que era uma beleza, as vacinas, as antitetânicas que onde você ia você levava. A maletinha sua vem carregadinha e qualquer coisinha você tinha como resolver. Hoje você não tem mais nada As grandes indústrias vieram, formaram os grandes grupos, tiraram todos esses produtos colocaram produtos plus: não sei o que lá plus, não sei o que lá “x” com algo mais, e triplicaram o preço. Tiraram aquilo que realmente... Uma Despacilina custava o quê? Dois Reais? Uma Benzetacil que tem ação por 21 dias, você toma uma de 200, você tem ação por 21 dias e mede-se a corrente sangüínea e ele tem concentrações efetivas e eficazes. Não tem mais, foram tirando, tirando. O problema já é sério porque as grandes redes predominam. Eles tem uma lucratividade maior, tem farmácias no país inteiro, tem o poder de compra maior, podem vender o remédio mais barato, a negociação deles é muito mais vantajosa e nós fomos deixados de lado. O governo Henrique [Fernando Henrique Cardoso] apoiou, principalmente no Serra [José Serra], porque eu acho que o Serra foi o melhor Ministro da Saúde que nós já tivemos. Foi incomparavelmente o melhor e ele falou: “Genérico tem que entrar. Alternativo tem que entrar, manipulação tem que valorizar.” Entrou esse Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] sabe quem foi o Ministro da Saúde do Lula no primeiro mandato? Trocou quatro ou cinco vezes, começou com aquele Lucena lá que é um corrupto, está incluído nesses processos. Depois vieram outros três que eu não sei nem quem são. Desse governo agora eu nem sei quem é. O protecionismo às multinacionais é muito grande. A manipulação seria o ideal porque você vende o medicamento a um quinto do preço da marca; os sais são todos importados, precisa de um apoio lá de cima, mas lá em cima tem os lobbies que comandam, fazem as leis, chegam aqui. Agora é tudo na base da lei. É inviável. A tendência de uma farmácia como a São Luís é desaparecer. Eu estou falando como conhecedor do assunto. Porque uma farmácia como a São Luís ou como todas as São Luís que existiram no Brasil - porque cada cidade grande ou pequena tem uma - se ela não tiver um apoio público, não tiver alguém que dê um suporte político pra que ela opere com mais liberdade, ela não vai permanecer, não tem chance. O FARMACÊUTICO Todas as farmácias, obrigatoriamente, têm que ter um farmacêutico presente. Todas. É obrigatório, é uma lei executada na íntegra. Existe fiscalização, punição, uma série de fatores que fazem com que isso seja realizado com eficiência. Todas as farmácias têm obrigação, de acordo com as normas da ANVISA [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], tem um número, é obrigatória a presença de um farmacêutico. Na minha mais ainda porque eu manipulo e a manipulação tem o farmacêutico que fica. A prioridade é a manipulação, mas ele corre a loja inteira. Na outra também tem um farmacêutico. Essa é uma necessidade cumprida na íntegra. PROPAGANDA Eu já trabalhei com bastante publicidade no passado. Depois tivemos uma fase em que paramos. Agora esse ano, durante uns quatro meses, nós trabalhamos com carro de som divulgando a farmácia, divulgando os preços e descontos. O carro de som trabalhando nos pontos estratégicos da cidade, dos bairros. Nós paramos há uns 20 dias atrás. FORMAS DE PAGAMENTO Quando eu comprei a loja, em 93, 80% do faturamento era a vista. Hoje inverteu, 20% é a vista, 80% é a prazo. Hoje não tem mais dinheiro; é convênio ou cartão de crédito. O dinheiro aparece no mercado com data marcada. Ele começa a aparecer hoje e você pode marcar uma semana. Se você for na cidade amanhã, a cidade vai estar um borbulhão; todo mundo sacando, pagando prestação. Nesse dia o movimento é fraco, ninguém gasta, é só pra pagar as contas. O dinheiro dura uma semana, depois cai. Quando chega lá pelo dia 25, 26, o movimento vai lá embaixo. COMÉRCIO DE CAMPINAS O movimento do centro está caindo muito. Nós tivemos um problema no ano passado que eu acho que refletiu muito, mas muito mesmo. Eu me lembro que nós estávamos numa fase de crescimento e, de repente... Vocês vão recordar dos incêndios nos ônibus lá para abril, maio. Nós estávamos num processo de ascensão e de repente começaram a matar policiais, aquela repressão toda, incêndios no país inteiro. Campinas regrediu totalmente, não recuperou mais. Eu tenho impressão que o pessoal está indo mais para shoppings, abandonaram o centro. Depois das seis, das seis e meia... Nós fechamos às dez; quando é nove horas tem que fechar, senão você é assaltado. CLIENTES Nós temos clientes que compram lá há muitos anos. Primeiro foi o avô, depois o filho, depois o neto, agora o neto que casou e tem filho. A fidelidade é uma coisa que a concorrência e o próprio sistema tentam tirar, mas eu acho que tem certas coisas que ficam, que são importantes. Você viveu, você teve experiência, gostou, é bom? Então você passa para os outros. LABORATÓRIO É a melhor manipulação, melhor laboratório da cidade. O meu laboratório de manipulação, no segundo andar, é realmente moderníssimo, todo estruturado, nós temos tudo, controle de qualidade, sala de pesagem, cabines para fazer antibióticos, cabines para fazer hormônios. Temos salas específicas pra cada departamento, temos alas de lavagem, é um verdadeiro centro cirúrgico. E os sais que nós usamos são na totalidade importados. Quase tudo é importado da China, da Europa, Estados Unidos. É tudo coisa de qualidade, bom e barato. É que o povo não tem idéia. E a mídia quando você vai bem, se ela jogar alguma coisa em cima de você, te tira do foco. Você pode fazer um negócio, você ficou 80 anos, você foi muito bem, porém, se, de repente, alguém fala mal: “Ó, aconteceu isso.” Ou diz alguma coisa que não é verdadeira e o povo acredita, você tem problema. Em qualquer tipo de atividade isso pode ocorrer. DESAFIOS O grande desafio são os projetos econômicos do governo. É a inconstância naquilo que é proposto. O Plano Cruzado de 86 foi um fracasso. Foi um fracasso que movimentou toda a economia em todos os setores. Nós tivemos um desabastecimento total. Eu me lembro que 86, nós estivemos na prefeitura com o prefeito Grama [José Roberto Magalhães Teixeira]. Nós estivemos no salão vermelho da prefeitura em uma reunião porque nós resolvemos fechar todas as farmácias; nós não tínhamos medicamentos para vender, não tínhamos autorização de aumento e não tínhamos o que fazer. Esse Plano Cruzado foi um desastre. Depois veio o Plano Bresser, veio um monte de outros planos. Esse foi um desafio. Segundo desafio, nós continuamos tendo a concorrência desleal, protecionismo a grandes grupos econômicos que atuam no mercado. A concorrência desleal seria dumping no preço, momentaneamente o sujeito abaixa o preço, coloca lá, elimina o concorrente e depois volta a subir. Isso é muito comum na área econômica. Nos últimos cinco anos, nós temos o problema de mercadorias que entram irregularmente; são mercadorias trazidas dos caminhões e jogadas no mercado. Não preciso dizer como isso acontece. Ontem mesmo, eu não recebi o pedido de uma grande distribuidora, liguei: “Pôxa, não recebi o pedido até agora, vocês entregam cedo.” Ela perguntou pra mim: “Qual o valor do seu pedido? Nós tivemos um problema ontem, aliás, toda semana nós estamos tendo um, nós tivemos um ontem.” Eu falei: “Olha, deu mais ou menos uns dois e meio, três mil.” Ela falou: “Então vai ter que ser repetido, nós re-faturamos tudo ontem.” Carga roubada. Um caminhão tem por volta de um milhão e meio de medicamentos que vai distribuindo. Essa mercadoria entra no mercado, é redistribuída, já tem provavelmente o pessoal que compra por um preço de... Você imagina se o remédio custa 20 reais, eu acho que é vendido por dois, porque ele tem que pegar o dinheiro. É assim que funciona. Isso tira toda a competitividade, não tem como competir. E o imposto, as pessoas que sonegam, quem sonega tem uma lucratividade maior. São esses os desafios. Os desafios são muitos, o Estado é ineficiente na área de cobrança, na área de protecionismo; na hora de fiscalizar realmente quais são os pontos importantes, ele não está preocupado. SEGREDO DO SUCESSO Eu acho que, primeiramente, é você ter um projeto de trabalho, um projeto de vida, um projeto determinado. E você acreditar que você vai vencer. Você tem que projetar que você vai vencer não importa quais sejam os empecilhos, não importam quais sejam as dificuldades. Qual é o tempo que eu vou ter pra desenvolver isso? Vamos estabelecer um tempo: eu vou demorar cinco anos, mas eu vou vencer. Trabalhar adequadamente, ter uma equipe boa. Se você não tiver uma boa equipe... Isso eu posso falar com segurança porque eu também falhei, eu não sou perfeito, eu tive momentos de grande equipe e momentos em que a equipe também falhou; é como um time de futebol, não é sempre que ganha, ele conquista alguns títulos, mas também perde. Agora, se você tem uma grande equipe, tem bons objetivos, tem ótimas idéias e tudo isso bem planejado não tenha dúvida que você vai ter sucesso. Mas precisa de muita força de vontade, muita dedicação, muito trabalho e acima de tudo acreditar. CIDADES / CAMPINAS / SP Eu acho que Campinas desenvolveu muito. É uma cidade progressista, sem dúvida nenhuma. Os projetos que chegam a Campinas são todos de qualidade. Nós podemos observar o desenvolvimento na área da construção civil, principalmente, a modernidade desses projetos que é algo fantástico, nós percebemos todos eles. Na área de hotelaria o desenvolvimento é muito grande, nós temos uma rede grande de hotéis desenvolvendo um imenso trabalho aqui. A área industrial, o desenvolvimento, por tratar-se de um pólo próximo a São Paulo, próximo de tudo que acontece... Porque tudo que acontece no Brasil acontece em São Paulo. Campinas é praticamente São Paulo; tudo de São Paulo se estende a Campinas. Eu acho que Campinas, sem dúvida alguma, é uma cidade privilegiada porque a tendência dela, com toda a movimentação que há aqui, com essa estrutura toda industrial, com essa estrutura comercial forte, eu acredito que o desenvolvimento aqui cada vez vai ser mais acentuado. Quem escolher Campinas e quiser investir, aqui é a região adequada. Eu acho que eu acertei quando eu vim trabalhar aqui e desenvolver o que eu desenvolvi. É uma grande cidade, sem dúvida alguma. LIÇÕES DO COMÉRCIO Com o comércio nós aprendemos de tudo. Lições de vida como ter muita paciência, muita cautela em tudo que você for fazer, muito equilíbrio. E as lições nós aprendemos no dia-a-dia. O comércio é uma grande escola e cada dia é uma aula. Ao longo desse tempo todo eu convivi com milhares e milhares de aulas. E a lição de vida que eu tirei daqui foi o sucesso da minha carreira profissional. Eu fui muito bem ao longo desses anos e consegui com o maior orgulho atingir o objetivo maior que era minha ascensão profissional. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu parabenizo vocês. É um grande projeto. Eu acho que essa divulgação tem que ser ampla, tem que conseguir um número maior de informações, tem que trazer isso para a população, tem que mostrar isso mesmo que isso sirva de exemplo, ou que mostre a realidade das pessoas que passaram por isso e aonde chegaram. É um projeto que enobrece a cidade, é um trabalho de muita qualidade. Tudo isso que vocês estão fazendo merece, realmente, parabéns. E tem que divulgar, tem que falar, tem que mostrar porque nem sempre aquela pessoa, ou aquele que não aparece, está ausente, ele não está produzindo. Muito pelo contrário, ele está produzindo e muito, e a maioria das pessoas não conhece aquele que produz, conhece o resultado, mas muitas vezes não sabe quem é que fez como que aquilo chegasse lá. Parabéns a vocês e continuem com essa meta que vale a pena, acho que vale a pena mesmo.
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