BREVE HISTÓRICO DO MEU AMOR POR SÃO PAULO
Aos 25 dias do mês de outubro de 1965, a ditadura militar se consolidando a todo vapor, cheguei em São Paulo, para ficar, deixando para trás a minha encantadora Boa Esperança do Sul – SP e o seu clima de paz.
Ex-seminarista, desajeitado pela timidez, dinheiro contado no bolso, ocupei de início uma vaga previamente reservada na pensão da Av. Mercúrio, 78 - região do Parque D. Pedro - parte integrante do casario na lateral do Palácio das Indústrias, que então abrigava a Assembléia Legislativa Paulista. Antes de esta mudar-se dali para o Ibirapuera, onde permanece, parti para novo endereço, cerca de dois meses depois da minha chegada.
Desta feita, convidado por amigos, fui para um minúsculo AP no Viaduto Nove de Julho, 160. Bem flechado pelo Cupido, estava selada minha atração crescente pelos fascínios do Coração (Centro) da Capital, que paulatinamente se estenderia pela geografia do seu corpo como um todo.
Assim, no santuário do “AP72”, alugado sem contrato formal, apenas apalavrado, instalamos a nossa “república” de jovens, verdadeiro coração de mãe, pelo fato de abrigar moradores sempre em número maior que o da sua efetiva capacidade. Era a lógica da solidariedade inata do brasileiro. Durante 13 anos, fui a “mão de ferro” daquela pequena comunidade, sempre reconhecida pela simpatia e companheirismo da moçada. Drogas, jamais
Ajuizados e atentos aos nossos limites, pudemos curtir o que de melhor Sampa nos oferecia.
Embora rejeitando o modelo político então vigente, nossa oposição era discreta o bastante para nos livrar da pecha de coniventes com a ditadura. O trabalho era muito importante para a nossa própria subsistência e dos nossos familiares enraizados no Interior. Não podíamos, pois, correr riscos. No meu caso particular, saí da Av. Mercúrio em janeiro de 1966 e em fevereiro do mesmo ano comecei a trabalhar na Light, depois Eletropaulo, meu primeiro e único em...
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BREVE HISTÓRICO DO MEU AMOR POR SÃO PAULO
Aos 25 dias do mês de outubro de 1965, a ditadura militar se consolidando a todo vapor, cheguei em São Paulo, para ficar, deixando para trás a minha encantadora Boa Esperança do Sul – SP e o seu clima de paz.
Ex-seminarista, desajeitado pela timidez, dinheiro contado no bolso, ocupei de início uma vaga previamente reservada na pensão da Av. Mercúrio, 78 - região do Parque D. Pedro - parte integrante do casario na lateral do Palácio das Indústrias, que então abrigava a Assembléia Legislativa Paulista. Antes de esta mudar-se dali para o Ibirapuera, onde permanece, parti para novo endereço, cerca de dois meses depois da minha chegada.
Desta feita, convidado por amigos, fui para um minúsculo AP no Viaduto Nove de Julho, 160. Bem flechado pelo Cupido, estava selada minha atração crescente pelos fascínios do Coração (Centro) da Capital, que paulatinamente se estenderia pela geografia do seu corpo como um todo.
Assim, no santuário do “AP72”, alugado sem contrato formal, apenas apalavrado, instalamos a nossa “república” de jovens, verdadeiro coração de mãe, pelo fato de abrigar moradores sempre em número maior que o da sua efetiva capacidade. Era a lógica da solidariedade inata do brasileiro. Durante 13 anos, fui a “mão de ferro” daquela pequena comunidade, sempre reconhecida pela simpatia e companheirismo da moçada. Drogas, jamais
Ajuizados e atentos aos nossos limites, pudemos curtir o que de melhor Sampa nos oferecia.
Embora rejeitando o modelo político então vigente, nossa oposição era discreta o bastante para nos livrar da pecha de coniventes com a ditadura. O trabalho era muito importante para a nossa própria subsistência e dos nossos familiares enraizados no Interior. Não podíamos, pois, correr riscos. No meu caso particular, saí da Av. Mercúrio em janeiro de 1966 e em fevereiro do mesmo ano comecei a trabalhar na Light, depois Eletropaulo, meu primeiro e único em emprego até a aposentadoria em 1996.
A propósito, o meu espírito conservador e a minha fidelidade aos princípios basilares de família, herdados dos pais e reforçados no seminário, foram o esteio da minha caminhada na trilha do Bem.
Trouxe sementes boas e as plantei nas terras produtivas dos bandeirantes. Em troca do meu suor, Sampa só me deu bons frutos.
Aos 27 dias do mês de dezembro de 1979, com 33 anos de idade, 13 dos quais como paulistano assumido e gratificado, decolei, sem volta, para os braços de minha amada, nos altos da Aclimação, de passagem trocando alianças na histórica Igreja Nossa Senhora da Glória – Paróquia de São Joaquim – no tradicional e laborioso Bairro do Cambuci.
Poeta Alceu Sebastião Costa
“Querida São Paulo, apesar dos momentos cruciais da tua história, como o em que as nuvens negras da intolerância e truculência dos generais turvaram o teu céu e brigadeiro, nunca nos desamparaste com pelo menos uma nesga do sol da esperança no porvir. Obrigado” (Poeta Alceu Sebastião Costa)
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