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História
Personagem: Zeneida Souza Silva
Por: Museu da Pessoa, 3 de maio de 2012

Bordando outra vida

Esta história contém:

Bordando outra vida

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"O pai nunca pôde deixar a gente na escola. Estudei pouco. Tinha que trabalhar pra ajudar. Quando começamos a ir pra um grupo escolar, Íamos correndo, a pé. Era longe. Eu e meu irmão corríamos atrás da professora: ela de bicicleta, e nós correndo atrás. Eu sinto saudade até hoje de estudar...tão bom. Andava a pé, mas era divertido. Papai trabalhava na roça, mexia com gado, plantava capim. Mãe cuidados dos filhos e da cada.

A roça não era nossa, ele trabalhava pra outra pessoa. O que eu mais lembro é que meu pai era bravo. Pegava os filhos pra bater, colocava em fila esperando pra apanhar. A mãe era boa. Às vezes ele batia até nela porque ela apoiava os filhos, guardava coisas que nós fazíamos. Era baixinha, branca, cabelo curtinho, magrinha...boa pra nós. Eu nem saía de casa, meu pai não deixava. As amigas pediam pra ele para eu ir ver um jogo, pra ir na festa, mas ele dizia “Pode chorar sangue”, e eu ficava chorando, sem ir.

Eu casei com quinze anos com meu primeiro namorado e aí parei de trabalhar. Meu filho mais velho tinha problemas nos rins, ficava muito internado no hospital e eu ficava lá com ele. O caçula não mora comigo. Ele tem, acho que é esquizofrenia. Fica agressivo. Disse que ia me matar dormindo. Então eu construí dois cômodos pra ele, pra morar aqui perto. Meu marido morreu vai fazer dezessete anos. Estava trabalhando, veio almoçar em casa. Descansou um pouco e foi pra roça de novo. Daqui a pouco, voltou, mandou eu arrumar a casa porque estava com tremura e dor de cabeça. Aquela tremura chegava a sacudir a cama. Botei três cobertas pra ele, mas não passava.

O médico examinou e disse que era a garganta inflamada. Aplicou três injeções e viemos embora. Passamos a noite e quando foi três horas da manhã eu levantei pra fazer o almoço pros meninos que trabalhavam. Ele dava aquela ronqueira, aquela ronqueira... Eu destapei: ele já estava todo urinado, as unhas já todas roxas....

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Dados de acervo

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Projeto: Mulheres Empreendedoras Chevron

Depoimento da senhora Zenaida Souza Silva

Entrevistada por Rosana Miziara

Local: Bom Será, Itapemirim (ES)

Data: 3 de maio de 2012

Realização: Museu da Pessoa.

Código da entrevista: MEC_HV012

Revisado por Grazielle Pellicel

P/1 - Rosana Miziara

R - Zenaida Souza Silva

P/1 – Você pode me dizer seu nome, local e data de nascimento?

R – Zeneida Souza Silva. Bom Será.

P/1 – Em que data?

R – 25 de agosto de 1954.

P/1 – Seus pais são de Bom Será?

R – Sempre foram.

P/1 – E seu pai e sua mãe moravam aqui em Bom Será? Onde é a casa deles?

R – Eles moravam lá em Coroa da Onça.

P/1 – Coroa da Onça é uma região daqui?

R – É...

P/1 – Por que é que chama...

R – Na chegada, quando a gente vem da Vila, não tem uma entrada que vai lá pra beira rio, assim?

P/1 – Tem.

R – Pra cá... Aquela casa anterior, João de Cruz, você conhece? João de Cruz, uma casa que tem desse lado. Assim...

P/1 – E a casa existe ainda?

R – Existe.

P/1 – Como é que é essa casa?

R – De laje. Tá lá, velhinha, mas em pé ainda.

P/1 – Quem é que morava nessa casa?

R – Era papai, eu [e] mamãe. Tinha dois irmãos.

P/1 – O que é que o seu pai fazia?

R – Papai trabalhava na roça, mexia com gado, plantava capim, roçado. Fazia tudo.

P/1 – E sua mãe?

R – Mãe só cuidava dos filhos, mesmo.

P/1 – Mas era uma roça dele ou ele trabalhava pra alguém?

R – Trabalhava pra alguém, pra Ronildo. Ronildo Coelho.

P/1 – Era o patrão dele?

R – É.

P/1 – E seu pai... Quem é que exercia a autoridade na sua casa, seu pai ou sua mãe?

R – Papai.

P/1 – Ele era mais bravo, como é que era?

R – Papai era bravo, pegava nós pra bater... Fazia fila de criança!

P/1 – Você brincava do que, na infância?

R – Brincava de boneca.

P/1 – Sozinha ou tinha outras amiguinhas?

R – Tinha, brincava com as meninas.

P/1 – E você tinha alguma educação...

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