Projeto Conte Sua História
Depoimento de Márcia Edna Pacheco Siqueira Brito
Entrevistada por Lucas Lara e Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 04 de outubro de 2018
Realização: Museu da Pessoa
PCSH_HV701
Transcrito por Rosana Rocha de Almeida
Revisado e editado por Paulo Rodrigues Ferreira
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Projeto Conte Sua História
Depoimento de Márcia Edna Pacheco Siqueira Brito
Entrevistada por Lucas Lara e Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 04 de outubro de 2018
Realização: Museu da Pessoa
PCSH_HV701
Transcrito por Rosana Rocha de Almeida
Revisado e editado por Paulo Rodrigues Ferreira
P/1 – Muito obrigado por estar aqui compartilhando sua história com a gente. E a gente sempre começa com três perguntinhas básicas: quero saber seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Então... Meu nome de solteira é Márcia Edna Arrabal Pacheco e a data de nascimento é 08 de abril de 1947.
P/1 – Em que cidade você nasceu?
R – Em São João da Boa Vista, por acaso.
P/1 – Por que por acaso?
R – Porque começa aí, não é? Os meus pais moravam no norte do Paraná, numa cidade chamada Cambé, e quando minha mãe estava com cinco meses de gestação eles fizeram uma viagem de trem até São João da Boa Vista para o casamento de um tio. Em São João moravam meus avós paternos e era o tio - irmão do meu pai, o tio mais velho - que ia se casar. Aí, minha mãe teve um sangramento no caminho e o médico que foi consultado, lá em São João, proibiu-a de voltar para o norte do Paraná, para Cambé. E ela foi obrigada a ficar em São João esperando eu nascer. Então, não podia enfrentar uma viagem de volta - porque a viagem de volta era de trem - e com o risco de abortar. E para não acontecer isso, eu fiquei em São João!
Então, foi por acaso que eu nasci em São João. E, nesse período todo, tem uma história interessante, porque o meu pai voltou para o Paraná, ele trabalhava com café...
P/1 – Qual o nome do seu pai?
R – Mário Nogueira Pacheco. E a minha mãe ficou na casa da minha avó, que era sogra, que ficou responsável pelo parto e por tudo que acontecesse, não é? Minhas tias, que eram solteiras, elas moravam junto. Então, deve ter sido bom para minha mãe esse aconchego, esse período. Mas o meu pai escreveu uma carta por dia para ela, eu não sei quantas ela respondeu, mas ele todo dia ia ao correio e mandava uma carta. E eu me lembro até de um pacotinho de cartas, amarradinhas que minha mãe guardava. Um dia, ela brigou com ele, acho que a briga foi muito feia, ela pôs fogo em todas as cartas! É brincadeira? (risos) Eu fiquei tão brava com ela, quando eu fiquei sabendo, mais velha! “Você destruiu a minha história” (risos). “O começo da minha história!” Então, o começo da minha história, realmente, eram as cartas do meu pai! Provavelmente ele imaginava que era um menino, ou se era uma menina, naquele tempo não se sabia, não é? E ele ficou esperando eu nascer, mas lá no norte do Paraná. E quando eu nasci, ele foi para São João. E quando eu tinha 17 dias, ele, com minha mãe, voltaram. Aí não havia mais risco algum. Eles passaram por São Paulo e a minha mãe conta que ele a levou para fazer um passeio de táxi pela Avenida Paulista, naquela época! 1947. Minha mãe ficou encantada com a Avenida Paulista, porque ela era do interior do Paraná, nunca tinha estado em São Paulo e aí diz que foi uma coisa linda o passeio que eles fizeram. Eu, com dezessete dias, conheci a Avenida Paulista! (risos)
P/1 – E qual é o nome da sua mãe?
R – Minha mãe chamava-se Maria Dolores Arrabal Pacheco.
P/1 – Fale um pouquinho mais deles para a gente! Como eram seu pai e sua mãe?
R – Então, meu pai era de São João da Boa Vista, de uma família de muitos lá. Ele estudou... Naquele tempo era Comércio o curso equivalente ao colegial hoje, mas ele era então contador, fez Contabilidade. E, na época em que ele se formou, já tinha menos empregos na cidade em que ele morava, que era São João da Boa Vista, e mesmo em Poços de Caldas, a cidade mais próxima. Ele conhecia muita gente na cidade, a família era muito conhecida, as minhas tias escreviam no jornal - eu tinha uma tia que era poetisa! Pessoal, toda a família do meu pai estudou. Foram muitos filhos, mas todos estudaram. As mulheres todas eram professoras e os homens fizeram esses cursos que os homens faziam na época. Nenhuma fez faculdade, mas formaram-se em Contabilidade, Comércio... E na época, os empregos eram menos. Então, eles iam se aventurar. Meu pai foi o primeiro que se aventurou para o norte do Paraná. Aí, ele foi para essa cidade, que se chamava Cambé, próximo a Londrina. Londrina e Cambé eram cidades mais ou menos iguais em tamanho. Londrina, um pouquinho maior. Cambé, um pouquinho menor. Mas muito próximas. E ele foi para lá e começou a trabalhar em café. Mas quando chegou em Cambé, ele conheceu a minha mãe. E a história deles, como se conheceram, é interessante porque minha mãe estava noiva de um italiano, que meu avô queria que ela se casasse, e meu pai tinha deixado uma noiva em São João! E eles se conheceram no correio, um mandando uma carta para a noiva de São João e a minha mãe mandando uma carta para o noivo italiano, desistindo do noivado! Aí ele se conheceram e diz que meu pai falava: “Ela era mal educada! Me deu um empurrão na fila!” (risos) Aí, começaram a prestar atenção um no outro. Aí, uma cidadezinha pequena... Meu pai ofereceu música para ela na praça, meu avô ficou muito bravo! Foi tomar informação sobre aquele forasteiro que tinha chegado lá, mas justamente para um tio dele! (risos) E aí eles começaram a namorar assim. Depois de um tempo, depois dessa paquera então, eles se encontraram. Foi um caso de amor mesmo, não é? E aí, depois disso, casaram-se em 1946. As duas famílias eram muito diferentes. A família do meu avô para o lado da minha mãe, era uma família já de Londrina, eram fazendeiros, eram muito... Uns espanhóis muito bravos assim. E a família do meu avô do lado do meu pai, o Cincinato - o nome do pai do meu pai era Cincinato - era uma família mais atuante politicamente. Meu avô lia muito jornal e eles eram mais voltados para socialismo-comunismo, e hoje seria o caos, não é? Naquele tempo também era! (risos) Isso que eu fico pensando: se hoje existe essa confusão de pessoa falar: “Ah, comunista, porque não sei o quê...” e briga direita, esquerda, direita, esquerda, naquele tempo era igual!
E isso impediu que as duas famílias se unissem, sabe? Se completassem. Ao invés disso unir família, isso desune. Isso leva pessoas boas dos dois lados para a distância. Então, essa é uma crítica grave que eu acho que eu tenho em relação a essas posturas radicais, intransigentes, difíceis, não é?
P/1 – E falando nessa coisa de posturas distantes e indo ao extremo, você comentou com a gente que, na época da guerra, seu pai quase foi para a guerra? Como foi?
R – Pois é, meu pai, quando solteiro, na época em que ele estava no Exército foi a época da Segunda Guerra, não é? Então ele ficou, realmente, fazendo treinamento para ir para a guerra. Só que não deu tempo, ele acabou não indo, a guerra acabou antes da vez dele, por sorte! (risos) Porque pode ser até que não tivesse voltado.
P/1 – Fala um pouquinho mais sobre sua mãe.
R – A minha mãe era uma pessoa muito alegre, muito dinâmica, muito caprichosa, e ela gostava de cantar! Na verdade, eu acho que ela gostaria de ter sido uma cantora. Ela tinha uma voz muito bonita, mas, naquela época, nenhuma mulher seguia uma carreira assim com tanta facilidade. Mas ela cantava muito para a gente, declamava! Brincava! Fazia roupa de boneca! Até quando a gente cresceu um pouco, ela ficava brincando e a gente arrumava a cozinha! (risos) Ela era muito divertida. Minha mãe foi uma pessoa muito legal. Assim... Mas eles tiveram, lógico, durante toda a vida, todo esse percurso, quando era... Desde que eu nasci, até os seis anos de idade, a gente morou nessa cidade, junto com os primos que eram de lá, com a família do meu avô materno. Tinha vários primos da nossa idade e a família do meu pai, alguns irmãos do meu pai foram indo para o Paraná também, tentar melhorar de vida. Então, até 1953, várias pessoas da família do meu pai também foram para o norte do Paraná e acabaram se casando com pessoas de lá, os jovens. O meu avô acabou indo morar lá para cuidar dos filhos, que estavam dando trabalho! (risos) Minha avó não gostou nem um pouco. Eu tinha uma tia, que já era professora, escrevia no jornal de São João, que acabou indo para lá também e depois foi ser professora nos colégios de Londrina, do Paraná, nesse período. Mas a vida dela mudou muito porque ela saiu de uma cidade com mais cultura, com mais dinamismo e foi lá para o norte do Paraná. É que eles são muito religiosos, muito cordatos, muito acomodados e acabaram ficando por lá um tempo. Aí, quando meu pai faliu, em 1953, eles acabaram mudando todos de volta. E então, começou a nossa andança. Esse período foi bem revolucionário na nossa família, não é? Porque daquela fase tranquila, brincando com primos, segurança, a gente passou a mudar de uma cidade para outra. Meu pai foi primeiro, antes da minha mãe, minha mãe foi depois, comigo e com a minha irmã. Primeiro nós fomos para Poços de Caldas. A gente morou em Poços de Caldas porque tinha alguns parentes que moravam lá e meu pai arrumou emprego lá. Primeiro emprego que meu pai arrumou - e eu acho que foi o único - ele foi ser gerente da Força e Luz. Por quê? Porque os amigos dele puseram-no como gerente da Força e Luz, em Poços de Caldas, para cobrar a luz do padre, do prefeito! (risos) Do juiz! E assim que ele cobrou a conta dessa turma, ele teve que ir de volta para o norte do Paraná, porque a falência dele... Ele tinha que responder, volta e meia o Fórum chamava.
Aí, ele tinha que voltar para Londrina e perdia o emprego. Daí voltou, ficou um tempo e a falência foi uma coisa tão absurda, tão absurda, porque em Londrina um amigo meu falou que eles estudavam a falência do meu pai como tudo que tinha sido feito errado num processo. E na falência sobrou dinheiro. Então, a gente recebia um dinheiro da falência e a gente viveu alguns anos com essa mensalidade. Eu nunca ouvi falar nisso, mas era assim, a gente se manteve. Meu avô materno, de vez em quando, ajudava. Mas, escondido. Porque eles estavam todos brigados. Porque faliu, porque não sei o quê, ninguém... Ficou uma coisa meio briguenta na família, não é? Mas quando ele dava dinheiro, ele deixava embaixo de uma toalhinha, ou escondido, porque meu pai não queria pegar, minha mãe não queria também, e ficavam aquelas histórias. Mas assim mesmo ele deve ter ajudado. Aí, a gente mudou de Poços Caldas e foi morar em Mogi-Mirim. Em Mogi-Mirim meu pai abriu uma venda, foi na época da candidatura do Jânio e do Adhemar de Barros a governador de São Paulo. Bom, meu pai tinha uma venda numa esquina da cidade onde tinha comício e meu pai era muito comunicativo. E tinha um tio de sócio e a venda ficava um movimento... Minha mãe brava! (risos) E não deu muito certo. Ficaram um tempo com a venda, a gente ia pegar chocolate, coisa... (risos)... Foi um período bom, mas foi por pouco tempo. Aí, fomos de Mogi-Mirim para São Paulo, fomos morar na Pompeia, perto de onde morava minha avó, mãe do meu pai, que tinha mudado para lá também. Moramos na rua Raul Pompéia e, nesse período, minha mãe engravidou. Eu tinha de oito para nove anos, a minha mãe ficou grávida. Imagina, numa situação difícil, complicada, mudando de lá para cá, ela engravidou. Aí, em dezembro, nasceu meu irmão, sem um braço. Foi um drama na família, uma coisa assim... Muito dramático! Se bem que ele não tem o braço esquerdo, tem até o coto e não tem... É estranho ver um bebê sem braço, não é? Aí, foi muito chocante aquela história de bebê sem braço e não sei o quê, a gente ficou bastante chocado mas para nós era um bebê, não é? Minha mãe ficou muito mal, meu pai também ficou abalado, e nesse período eles resolveram que iam mudar de volta para Poços de Caldas porque meu pai devia ter alguma proposta, alguma coisa para fazer lá. Aí, minha mãe, como estava muito abalada com o nascimento, internou a mim e à minha irmã. Bebê novinho em casa, a gente foi interna no Colégio São Domingos, onde a gente ficou no ano de 1956 - nós ficamos meio ano internas. Mas foi um período que marcou, não é? Você sai de casa, num tumulto, com bebê, e vai para o internato? A minha irmã chorava! E eu tinha que consolar minha irmã e, para mim, eu estava saindo de um problema, eu me lembro de que não me abalei tanto assim de ter saído de casa. Para mim, era tudo novidade. Eu fiquei sentida, lógico, a gente tem aquela presença do pai e da mãe e, de repente, você tem umas freiras tomando conta de você, fazendo você acordar cedo, tomar banho frio! Não é brincadeira, não! (risos)
P/1 – Você lembra do primeiro dia quando chegou nesse internato?
R – Mais ou menos. Sabe, essas coisas a gente apaga! Não deve ter sido bom, porque eu apaguei, não tenho muita lembrança assim. Eu tenho lembranças boas, de brincar, de ir para um bosque, da hora da refeição, de brincar no recreio! De estudar muito pouco, estava no terceiro ano, então eu era... Já escrevia carta para minha mãe. Um dia, eu achei a cartinha lá que escrevi para minha mãe perguntando se meu irmão já estava tomando papinha, perguntando... Falando que as freiras eram boazinhas, mas eu era supervisionada, não é? (risos) Aí, a gente ficou esse meio ano e acho que na metade do ano eles mudaram para Poços de Caldas e a gente saiu do internato. Aí foi bom, foi um período em que a gente viveu lá até meu irmão fazer um ano.
P/1 – Antes da gente avançar nessa história, só para não me perder, queria saber uma questão, de curiosidade mesmo. Você sabe a história do seu nome?
R – Márcia Edna? Ah, não sei, minha mãe foi quem escolheu. Ela fala que tinha uma amiga do meu pai que queria que pusesse Salomé em mim! (risos) Ela ficava muito brava! Agora, Edna eu não sei de onde veio, deve ter sido de algum livro que ela leu, e Márcia era moda naquele tempo. Agora, minha mãe juntar Márcia Edna não é? Meio estranho. Ela conta que achava lindo o nome, mas eu não acho tão bonito assim não! (risos)
P/1 – E você comentou do seu irmão, da sua irmã... Quantos irmãos você tem?
R – Então... Eu tenho uma irmã que é dois anos mais nova.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Magali. A Magali era mais extrovertida do que eu, ela era mais rueira, fazia amizade com mais facilidade, eu era mais reservada. Essa coisa de mudar muito, de mudar de cidade naquele período de infância, acho que me deixou mais assim observadora, eu fiquei mais... Não fazia muita amizade, mas ficava prestando atenção demais nas pessoas. Eu não era tão sociável quanto minha irmã, tinha até inveja dela ser assim. Aí, quando a gente mudava de uma cidade para outra, eu nem ligava, ia embora e falava: ‘tchau, estou indo!’ A minha irmã chorava, fazia um drama, se despedia de todo mundo, ia do mesmo jeito! (risos) Mas ela chorava, se despedia. Eu não despedia, não ligava, ia embora. Então, essa coisa me fez não estabelecer muitas ligações assim de infância, não ficar muito afetiva com as pessoas. Acho que mais uma defesa de você estar junto, conviver e depois ir embora mesmo! Então... Mas acho que isso foi um bem, me ajuda a viver melhor, eu não me apego tanto para sofrer demais quando me separo, mas também não deixo
de conviver bem com todo mundo. Deixa assim um traço de personalidade um pouco forte.
P/1 – E quais eram as brincadeiras de infância?
R – Ah, a gente brincava na rua, a gente fazia muita... Brincava de casinha, brincava de boneca, brincava de fazer roupinha, a minha mãe ajudava, minha mãe deixava brincar bastante dentro de casa com as coisas, as brincadeiras eram da época, da infância mesmo, bem de roda, de pique, de correr, de... Depois, quando meu irmão fez um ano e meu pai já estava mais estabilizado nas coisas, a gente voltou a morar no norte do Paraná, a gente foi morar em Rolândia, que tem aquelas fotos que eu tenho, de escola, não é? Aí, ficamos mais próximos de novo da família do meu avô materno, mas não na mesma cidade, numa cidade um pouco para a frente. Rolândia é uma cidade... Não sei se vocês já ouviram falar... É bem próximo de Londrina, mas é uma cidade para onde muitos alemães foram. Tanto que se chama Rolândia por causa de um guerreiro chamado Roland, alemão, não sei o quê. Então, eu tinha muitas amigas alemãzinhas na infância, no período de ginásio, tinha bastante amigas japonesas, que não deixavam a gente colar de jeito nenhum! (risos) E que faziam uns cadernos lindos, riscadinhos de vermelho embaixo! O meu sempre começava bonito, assim, todo arrumadinho e depois ia avacalhando! (risos) Mas eu era muito boa para desenhar, para fazer as capas de trabalho, aí elas queriam que eu fizesse. Então, de vez em quando elas me ajudavam com alguma coisa. Aí, meu período de ginásio foi todo em Rolândia, foi quando eu peguei... Foi período de adolescência, eu estudei num ginásio estadual. Nunca estudei em escola particular, sempre em escola pública. Nessas cidades em que eu morei - São Paulo, depois voltamos para Poços, Mogi-Mirim, sempre estudando em escola pública. Só a primeira escola em que eu estudei, que foi em Mogi-Mirim, quando era bem pequena, no primeiro ano, que era uma escolinha que se chamava Escola da Dona Mariazinha. Não, não foi em Mogi-Mirim, foi em Poços de Caldas. Que era de uma amiga da minha tia, que foi a escola em que eu aprendi a ler. Mas eu já sabia quando entrei na escola, minha mãe já tinha ensinado. Aí, era aquela escolinha bem antiquada, não é? Me lembro de um episódio engraçado desse período, em que eu via as crianças perguntando: “Professora, deixa eu ir na casinha? Professora, deixa eu ir na casinha?” Pensei: “Nossa, que legal, a escola tem casinha, vou brincar na casinha!” Aí, eu lá: “Professora, deixa eu ir na casinha?” Ela deixou. Mas onde é a casinha? “Ah, fulaninha, mostra para ela onde é a casinha”. A menina foi comigo e eu pensei: “Ainda vou ter uma amiguinha para brincar de casinha”. Cheguei, ela abriu a porta, era o banheiro! (risos) Foi minha primeira decepção com escola, não é trágico? Casinha era banheiro, são episódios de escola!
P/1 – E você costumava ouvir muita história em casa?
R – Sim! Meu avô, pai do meu pai, adorava contar história de assombração para os netos, então a gente ouvia bastante história de assombração do vô Cincinato. Meu pai era um bom contador de história, a minha mãe também contava história, cantava, declamava poesia que tinha história, a gente ouvia muita história sim. E mais em casa do que na escola, escola era uma coisa mais rígida.
P/1 – E alguma dessas casas - você mudou bastante - alguma delas lhe marcou de alguma forma?
R – Ah, todas, não é? As casas eram a coisa mais interessante do mundo, porque em cada casa as coisas são de um jeito, ainda mais mudando de cidade, de estado. Por exemplo, na infância, eu morei em São Paulo, Minas e Paraná. No Paraná, as casas eram de madeira, em algumas casas o banheiro era fora! Cada casa era de um jeito, a mais pitoresca que a gente morou, que até eu contei a história uma vez aqui, foi uma casa em que a gente morou, em Poços de Caldas. A gente chegou em Poços, acho que foi na primeira vez que a gente mudou para lá, meu irmão nem tinha nascido ainda. A gente chegou e minha mãe achou uma casa muito fácil, uma casa boa e barata, e alugou logo a casa. E aí, um dia, ela estava andando na rua e uma mulher parou e perguntou para ela: “Foi a senhora que alugou a casa mal assombrada?” (risos) “Que casa mal assombrada?” “Aquela casa é mal assombrada! A senhora está morando na casa mal assombrada, a senhora nunca escutou nada lá?” (risos) “Porque lá morava uma mulher muito ruim, que fazia isso e aquilo com os escravos dela.”
E contou uma história horrorosa para a minha mãe. E ficou aquela coisa da casa assombrada, minha mãe chegou em casa morrendo de rir e falou para todo mundo: “Vocês sabiam que esta casa é assombrada? Que tem uma assombração que mora aqui e não sei o quê!?” E aí começou aquela história de ter assombração na casa. E até aquele dia a gente nunca tinha escutado nada, a partir daquele dia a gente começou a escutar umas coisas na casa! (risos) Uns barulhos! E a gente começou a ficar meio assustada, não é? Aí, minha mãe deu um nome para a assombração, chamava-se Gertrudes. A Gertrudes... Minha mãe pegou... Era uma casa comprida assim, tinha uma sala, um corredor e uns quartinhos que saiam do corredor e, lá no fundo, a cozinha. Uma casa bem antiga mesmo, dava impressão de ser assombrada mesmo! (risos) Era alta, com pé direito alto. Então tinha uma salinha onde ela fazia tricô e uma cadeira de balanço, que ela implicava da gente ficar balançando, sabe aquelas cadeiras de balanço antigas? Aí, a minha mãe falou: “De hoje em diante, a cadeira de balanço vai ser da assombração. Ninguém senta na cadeira de balanço, que a cadeira é da Gertrudes.” (risos) Aí, ninguém podia sentar na cadeira, a cadeira era dessa Gertrudes, a gente ia lá fazer companhia para a Gertrudes, as amigas da minha mãe iam fazer tricô e chamavam: “Vamos lá na casa da Dolores fazer tricô com a assombração?” (risos) A assombração virou uma piada tão grande em casa, mas a gente morou um tempo só na casa, não aguentamos muito a convivência com a assombração! (risos) Mas foi um período que foi resolvido dessa forma, com bom humor, a tática da minha mãe para a gente não ficar com medo, e a diversão, não é? Porque a gente vive a vida se divertindo,
a gente não leva assim... A minha família não levava muito a sério. Meu pai era divertido, minha mãe também, então essas coisas são bem típicas deles, não é? Quando acontece alguma coisa, levam sempre para o lado da piada, da brincadeira, da gozação e acabam vivendo melhor, acho isso um lado positivo.
P/1 – E falando em diversão, como a Márcia já mocinha se divertia? O que você saía para fazer?
R – Ah, olha, a gente ia em festinha... Naquele tempo estavam começando os Beatles, não é? Tinha jantar dançante, tinha festinha, tinha uns bailinhos nas casas das amigas. Tinha baile, baile com orquestra, com conjunto, era uma coisa bem interessante! Era divertido. E paquerava! Nessa época de ginásio, tive um primeiro namorado. Eu tinha uns quinze anos, estava terminando o ginásio e o namorado queria namorar sério! Eu falei: “A solução é internar!” (risos) Eu tinha terminado o ginásio e falei para a minha mãe: “Não quero estudar mais aqui, não. Pede para o vô me internar, quero fazer científico!” (risos). Fui estudar interna. Estudei meio ano interna no Santa Inês.
P/1 – E o menino? (risos)
R – ... Para me livrar do namorado! (risos) Mas foi bom, eu queria mesmo fazer científico, era um sonho e não tinha científico lá, por que eu vou... Quero fazer o que não tem! (risos) Fui fazer científico no Santa Inês, sabe o Santa Inês? Um colégio que tem ali perto da Três Rios? É, na rua Três Rios mesmo, era um colégio de freiras também. Por que nesse colégio? Porque umas meninas de Londrina eram sobrinhas da madre superiora desse colégio, era um colégio conhecido, e não sei o quê, e elas também estudavam lá. E eu morava lá perto, na mesma cidade, então foi referência e fui eu para lá. Mas aí eu fiquei meio ano, voltei para Londrina e o namorado já tinha acabado, não é? (risos) Já tinha acabado o namoro. Não conseguia acabar assim o namoro. Voltei para Londrina e tive um monte de namorados, já estava mais fácil de resolver as coisas! (risos) Em Londrina, eu fui estudar num colégio chamado Londrinense, estudei mais meio ano no Londrinense até terminar o primeiro científico. Aí achei que ia ser melhor ser professora e mudei no segundo ano, fui fazer Magistério.
P/1 – E de onde veio essa decisão de ser professora?
R – Para poder trabalhar logo, para resolver, para poder ser independente. E eu gostava de ser professora na brincadeira também, era bem mandona! (risos) Fiz a Escola Normal, mas eu sou muito criativa! Então, na época, foi muito bom fazer Magistério, porque em Magistério você tem que fazer material didático, eu fazia aquelas coisas mirabolantes, fazia muita coisa! E quando eu me formei, o Magistério era um curso curto, não era longo, eu tinha 18 anos quando me formei no Magistério. Assim que me formei, abriu um concurso em Londrina. Prestei concurso novinha, não é? E passei, mas passei em centésimo, quinquagésimo sétimo lugar, não passei em primeiro! Não era muito estudiosa não! (risos) Eu era de fazer as coisas, não de estudar muito. Mas a escola para a qual eu fui determinada, não tinha ficado pronta, estava no chão. E eles, para não me deixar sem escola, me puseram na escola mais central da cidade, aquela que eu te falei, a Hugo Simas, que era na frente da minha casa. Fui lecionar e me deram uma sala de pré-primário, aquela que tem aquele aluninho lá. Aí, na sala de pré-primário, eu me acertei lá! Eu fiz um monte de coisas com aquelas crianças. Eu contava história, fazia televisão de caixote, fazia teatro com eles... E eu brincava muito, cantava, fazia muita coisa, e virei a professora do pré! Fiquei famosa lá no pré e aí não me deixaram mais ir embora! Então, eu não voltei mais para a outra escola.
P/1 – E você lembra do primeiro dia de aula?
R – Lembro!
P/1 – Como foi?
R – Foi assim, pegar aquele monte de criança na minha frente assim, interessante. Foi interessante. Lembro sim, eu tinha até os aluninhos, primeiro dia de aula crianças que nunca tinham ido para a escola, então eu deixava a porta aberta e ficava lá contando uma história, fazendo uma sedução, aí chegou o diretor da faculdade com o filho dele. O filho berrando que não queria entrar e eu falei: “Não, deixa ele aí na porta, não precisa entrar não, pode deixar aí na porta”. Deixou na porta, e o diretor junto! E eu comecei blá, blá e o menino foi entrando, entrando e entrou. Então assim... Eu era boa mesmo nisso. Até hoje eu sou! (risos) Seduzo um pouco e as crianças vão muito bem nessa sedução, assim é fácil.
P/1 – E de onde você tirava essa inspiração para a contação de histórias, para as propostas todas que você fazia com eles?
R – Ah, sabe, surge assim. Primeiro contar história é uma coisa que, na minha família, sempre contaram. Então, a gente tem essa facilidade. E inventar, fantasiar, também. Porque com criança, nada é o que é, não é? Então, se você fantasiar um pouco, se você quer silêncio, você fala: “Olha, nós vamos escutar o que está se passando lá fora, vamos ver quem ouve o primeiro barulhinho”. E você vai cativando. De vez em quando, tem uns apuros também, não é? (risos) Mas é bom, é bom trabalhar com criança. Até hoje eu gosto. Daí, nesse período, eu comecei, entrei na Faculdade, tudo era em frente à minha casa. A escola em que eu lecionava era em frente à minha casa - eu morava numa esquina, num predinho, a escola era em frente á minha casa. A Faculdade era em frente à minha casa. Aí começou em Londrina a Faculdade de Medicina, entrou um monte de moço novo lá na Faculdade de Medicina, vindos de fora. A gente começou naquele namoro com os moços da Faculdade de Medicina! E os de Londrina mesmo, bravos para caramba, não é? Aí, eu comecei a namorar um dos estudantes de Medicina. Já quando ele estava no primeiro ano e eu estava no primeiro ano de Faculdade, a gente namorou esse período todo, ele no período de Faculdade dele, e o meu. Enquanto eu lecionava, estudava, matava aula! (risos) Aí, o meu namorado estudava lá também, porque a Faculdade não tinha ficado pronta e eles emprestavam de Odontologia! Aí, depois, a Faculdade foi para outro lugar, então era tudo no miolinho da cidade ali. Eu passei esses anos lá, de juventude e de namoro, em Londrina, numa época que... Aí foi a época da repressão, foi 1967, 1968, 1969, 1970. Me formei em 1972, um período bem chato, de que a gente lembra com reservas. Mas quando você é jovem, você quer mais é festar, sair, passear. Eu viajava bastante, vinha muito para São Paulo, mas a gente não tinha a liberdade que se tem hoje, não é? Assim mesmo eu sempre fui muito livre, minha mãe e meu pai não me seguravam muito não. Porque com essa história de mudar, mudar, mudar, aí a gente fica mais livre, não é? Eu sempre fui mais independente. Quando eu me formei, vim para São Paulo. E vim com o meu namorado, que também veio para cá. Mas a gente não ficou junto, como se fica hoje. Eu fiquei morando na casa da mãe dele, eu num quarto e ele no outro. Aí, naquele mesmo ano, a gente se casou. A gente se casou aqui.
P/1 – Qual o nome dele?
R – João Martins Siqueira Brito
P/1 – Antes da gente continuar, deixa só eu te perguntar: como era dar aula no período da ditadura?
R – Era assim... Para criancinha, não tinha problema. Para o pré-primário era na boa, não é? Não ia falar de repressão com criança! (risos) Mas quando eu vim para São Paulo, eu peguei aula bem pertinho da minha casa - eu pego sempre aula perto de casa. Peguei aula de Geografia e Educação Moral e Cívica. Isso foi em 1973. Educação Moral e Cívica numa escola do estado, em que a diretora era amiga do Laudo Natel. Era assim uma... Um pessoal bem ligado com a política, com a repressão, não é? E era uma chatice. Era uma chatice. E eu dava aula assim, ensinava os símbolos da pátria, aquela história. Como eu dava aula à noite, eu deixava todo mundo dormir! (risos) Não falava muito. Outro dia, encontrei com uma menina que teve aula comigo nesse período, e ela falou: “Lembra quando a gente perguntava coisas para você e você respondia que não podia responder porque paredes têm ouvidos?” (risos) Eu ficava quieta, às vezes nem sabia, mas não respondia e as paredes levavam a culpa! (risos) Eu passei, não é? Com essa facilidade. Mas aí eu lecionei só dois anos, porque nasceu minha filha, meu marido era médico e ele fazia residência, trabalhava em dois empregos e a gente não tinha como deixar a filha, deixar o bebê. Eu não queria deixar com sogra, minha mãe não morava aqui, aí eu parei de lecionar. Eu não era efetiva mesmo e estava muito chato, muito chato lecionar. Os alunos já estavam ficando... Já não eram tão bons, eu não gostava de lecionar Educação Moral e Cívica. Geografia eu gostava, mas não gostava da idade, colegial, ginásio, assim. Eu gosto, mas prefiro pequenininhos. Aí eu não tive muito problema para parar não, eu parei de lecionar e combinei com meu marido que ia parar para ficar em casa, cuidando dos filhos e fazendo o que eu pudesse fazer. Aí, nesse período, eu tive mais um filho. Continuei sem trabalho fixo, sem trabalho e fiz... Errei um pouco por não ter ido me especializar em alguma coisa, para a USP, estudar mais. Eu fiquei fazendo curso de Arte, fiquei fazendo trabalhos para as amigas, fazendo coisas para os outros, fazendo isso e aquilo, cuidando dos filhos, cuidando da casa, inventando em casa. Aí, um dia, inventei que ia participar de um concurso, criei um brinquedo e mandei o brinquedo para o concurso - inventava muita coisa. Mandava para cá, procurava colocar aqui, fiquei sem trabalho fixo, mas sempre trabalhando, sempre criando. Teve um período em que eu criei um cartão, que eu achei que era muito legal, que era um coração que abria e virava um pinto! (risos) Eu trouxe ele para vocês! Eu sou a única mulher... Vou ganhar dinheiro com o pinto! (risos)
P/1 – E aí você começou a vender o cartão? Como foi? (risos)
R – Não, eu fiz assim... Ah, eu brincava com aquele cartão, mostrava para todo mundo, ensinava a fazer, não é? Aí eu levei para umas Associações, levei para uma Associação chamava VIVA, logo que estava aquela coisa da AIDS, de pôr medo, de assustar, porque você vai morrer, porque AIDS, porque mata, porque não sei o quê. E punham muito medo, não é? Eu falei... Ah, tem que lidar com isso com um pouco mais de humor, não é? E para mim esse cartão era uma forma de lidar com humor, era um cartão porta preservativo, então você punha a camisinha, abria e fazia a brincadeira. Sugeria o lugar que era para pôr e tinha a camisinha ali. Aí eu fui levar numa Associação de prevenção da AIDS, eles gostaram, queriam, não sei o quê, mas não podiam produzir. Fui em uns publicitários... Foi um vexame! Porque eles riram de mim! (risos) Fiquei puta da vida! (risos) Não faço mais isso. Foi no ano antes, 1999. Nossa, já pulei bastante tempo. Eu peguei o cartão e participei da Feira Erótica. Teve um grupo que tinha uma barraca na Feira Erótica, de incentivo ao uso do preservativo. Aí eu levei, eles mandaram produzir, mandei fazer mil preservativos, ganhei mil camisinhas e fui lá. Eu vendi sabe aonde? No Museu de Arte Moderna. Na lojinha. Aí, como é que eu vou sair vendendo isso? Me conta! (risos) Não foi muito fácil, não é? Até hoje eu tenho, eu trouxe uma aí para deixar com vocês. (risos) Até hoje eu tenho essa produção. Uma vez até fui pedir patente desse cartão! (risos)
P/1 – Deu certo? (risos)
R – Não! (risos) Você acha que essas coisas dão certo?! (risos) Mas só para mostrar que eu trabalho, não sou uma não trabalhadora! (risos)
P/1 – A criatividade tem seu valor! (risos)
R – Mas eu tinha que ganhar dinheiro com isso, não tinha? Ahm?
P/1 – Antes de entrar nessa parte mais criativa, você comentou do seu filho e da sua filha. Fale para a gente o nome deles e como foi a sua experiência de ser mãe. Como foi pegar seu filho no colo pela primeira vez?
R – Não, isso é coisa incrível, não é? Quando você tem o primeiro filho é uma emoção tão grande, tão grande, que você não pode descrever. É muito interessante. E eu sempre curti, sempre achei que ia ser uma boa mãe, uma ótima mãe, maravilhosa! (risos) Mas não é tanto assim (risos). A gente tenta. Eu sempre fiz muita coisa com ele, eu realmente parei de trabalhar para criar os filhos! Então, eu ia fazer com eles teatro, fazia roupa para eles, fazia fantasia, sempre convivi muito. Levava na escola, buscava da escola, levava no esporte, buscava no esporte. Meu filho teve um período em que ele fazia esporte, estudava música, então é igual a hoje, você tem que levar. Ou contrata uma perua ou a mãe leva. Então, me ocupei muito com isso, até eles crescerem.Depois entraram na faculdade, ainda não dirigiam, eu ia levar para a USP, voltava, buscava.
P/1 – Qual o nome deles?
R – A mais velha é a Marina e o outro, o meu filho, é o Arthur. A Marina é de 1974 e o Arthur é de 1977, eles têm pouca diferença. Mas foi bem incrível, eles também foram ótimos filhos. Sempre dão aquele trabalho de filho, não é? Não dá para dizer que não dá trabalho, mas são legais até hoje, são muito bacanas. Que mais?
P/1 – E nesse processo, os filhos foram crescendo e como veio a ideia de começar?
R – Ah, então... Aí, conforme eles foram crescendo, as nossas vidas foram... Por exemplo, teve crises financeiras, dificuldades também emocionais... Depois de 30 anos de casada, eu me separei. Aí, quando eu me separei, eu falei: “E agora? Não tenho aposentadoria, não trabalho fixo!” Fiquei uma pessoa... Tenho uns imóveis na separação, que rendem uns aluguéis, então é uma aposentadoriazinha, não é? Mas eu tinha que arrumar um trabalho. Aí fui procurar escola para voltar a lecionar, quase morri! Porque além de ganhar pouco, a escola onde eu ia arrumar aula era bem pertinho da minha casa. Aluno perto de casa, sabendo onde você mora, mal educado! (risos) Hoje em dia não está fácil, não é? E o Magistério está muito ruim, está muito difícil lecionar e além de tudo você ganha pouco! Eu não tinha me especializado, não tinha ficado estudando, tinha ficado... Feito isso e aquilo e aquilo, então não podia... Fui ser voluntária num trabalho, tenho um monte de amigos artistas, porque eu fiz um monte de cursos de Artes, aí arrumei um trabalho numa Associação chamada Cachuera. Cachuera é uma Associação de cultura popular que documenta a cultura popular. E eles estavam desenvolvendo um projeto educacional com crianças e estavam organizando a festa do Boizinho do Cachuera - Festa do Boi. Entrei lá para ajudar a organizar a Festa do Boi, então entrei com a parte das fantasias. Foram vários artistas, várias pessoas, foi aí que eu comecei a criar esses bonecos que eu agora faço, não é? Que eu desenvolvo de outra forma. Naquela época, a gente fez as fantasias que eram próprias dessa Festa do Boi. Que eram o Boi, a Bernunça, o Francisco, aquelas personagens... E a gente fez umas oficinas de bonequinhos com as crianças. Umas amigas falaram: “Ah, essas oficinas de bonequinhos são legais, a gente podia oferecer para as escolas e procurar isso e aquilo”. Nós começamos a nos oferecer numa escola, fizemos numa escola, fizemos em outra e fomos fazendo assim. Aí, eu me desliguei dessa turma, porque não continuaram lá o trabalho, eu comecei a propor e fazer, nem sei como começou. Um amigo meu ia lançar um livro e eu fiz os bonecos do livro dele. Ele lançou na Livraria da Vila, foi o primeiro trabalho que eu fiz na Livraria da Vila, isso foi... Ah, faz tempo... 2003, 2002... A gente fez o trabalho na Livraria da Vila e aí a Livraria da Vila chamou a atenção para o trabalho que a gente fez lá, foi um sucesso aqueles personagens do livro lá, não é? Eu fui chamada para fazer outras oficinas e as editoras começaram a me mandar livros para eu desenvolver um projetinho para fazer um lançamento. E cada livro que eles lançavam, eu desenvolvia uma oficina do livrinho. Se era um coelhinho, eu fazia um coelhinho. Se era um ratinho, eu fazia um ratinho. Se era um sapo, fazia um sapo. E aí, desenvolvia um trabalho com as pessoas. Geralmente era uma bagunça! Nesse trabalho, eu levo o material; no começo, eu levava um monte de coisas, muito material, ficava aquele monte de pano no chão! Aí, depois, comecei a organizar melhor, fazer os kits, fazer o banco de olhos, o banco de bocas, o banco de orelhas! E fui desenvolvendo melhor. O SESC começou a me chamar para alguns trabalhos. Me chamou uma vez e não me chamou mais. Perguntei: por quê!? E agora? E aí, como pessoa física você paga um imposto danado. “Agora, o seguinte: ou você abre uma empresa ou não vai ter mais trabalho. Melhor você abrir uma empresa.”. Aí, eu abri uma empresa, comum, que pagava um monte de imposto, imposto disso e daquilo. E comecei a pegar mais trabalho de lançamento de livro, de SESC, de escola. E foi aí
que eu comecei o meu trabalho de professora de enrolação! Minha empresa passou de complicada para Simples e hoje tenho essa empresa Simples e sou contratada às vezes, vou desenvolvendo outros trabalhos. Eles me ligam e falam: “Você faz isso?” Antes de saber que eu faço, eu falo: “Faço.” E depois vou descobrir se eu faço e como eu faço! (risos). Eles mandam muita coisa para mim. E foi isso que deu certo. Agora, de vez em quando, me chamam para fazer contação de história em festa infantil! Eu desenvolvi uma televisão de manivela que conta história! E vou fazendo, vou inventando coisa. Invento o mosquito da dengue! (risos)
P/1 – E quais são os materiais com os quais você costuma trabalhar? Como foi a escolha desses materiais?
R – Ah, eu trabalho com tudo. Trabalho com papel, com tecido, mas, basicamente, para esse trabalho carro chefe, que é da empresa... A empresa chama Caixa d’Água 33.
P/1 – Por que esse nome?
R – Porque quando eu casei, eu fui morar lá na Freguesia do Ó, que é onde mora a família do meu ex-marido. E as casas que eu tenho são umas casinhas na Freguesia e, numa das casas, nos fundos dela tinha uma caixa d’água que, embaixo, era moradia. E foi nessa caixa d’água que eu abri o meu ateliê. E ela é no número 33 da rua. Então, o nome ficou Caixa d’Água 33, porque começou numa caixa d’água! (risos) Hoje a caixa d’água sou eu, eu carrego.
P/1 – E de onde vêm as ideias para os bonecos?
R – De onde? A gente vai fazendo assim: meu irmão também trabalha muito comigo, meu irmão é artista, esse mais novo. Ele agora está trabalhando comigo porque ele morava em Itacaré, na Bahia, e aí ele teve que vir fazer uma cirurgia de prótese de quadril, então faz um ano que ele está aqui. Ele teve que fechar uma loja de arte que tinha em Itacaré, onde ele fazia esses bonecos. Ele começou a fazer os bonecos comigo, só que ele é mais perfeccionista, então ele faz os bonecos do Mick Jagger! Faz molequinho soltando pipa! Faz umas coisas incríveis. Ele faz uns bonecos que fazem sucesso e vendia muito na loja. Faz um cachorro de fio elétrico, que você puxa e ele anda! E ele vende isso, eu tenho lá em casa os cachorros. E ele veio para cá e nós estamos trabalhando juntos este ano. Inclusive, nesses trabalhos que eu pego no SESC, ele vai comigo. Só não está na empresa, não é? Mas ele faz comigo.
P/2 – Deixa eu lhe perguntar uma coisa. Parece que foi uma coisa meio casual chegar até aí!
R – Sim!
P/2 – As coisas foram acontecendo, sem ser uma decisão sua: “Vou trabalhar com isso exatamente”. Qual você acredita ser a importância de lidar com o lúdico para as crianças? Acha que seu trabalho tem algum resultado com eles?
R – Sim, tem tudo a ver. Porque, primeiro, a coisa criativa e o lúdico estão juntos, não é? Caminham juntos. E a criança fantasia, e eu vivo de fantasia. Eu vivo de contação de história, de brincar, e acho importante. Porque é aí que a criança aprende, é aí que ela adquire postura, a criança aprende brincando. Tinha que ter muito mais brincadeiras nas escolas, muito mais! Eu acho que falta esse lado, inclusive na formação das professoras - não sei se isso se ensina, mas acho que ensina. Porque quando eu levo o material que eu desenvolvo para as pessoas, para ensinar, todo mundo descobre alguma coisa e faz alguma coisa diferente. Se não se ensinasse, eles não fariam, não é? Então eu aprendo, às vezes, mais ensinando do que ensino mesmo. Eu aprendo com as
pessoas. Te dá uma grande oportunidade disso, e com criança se aprende muito também. Agora, eu tinha uma história da infância, que eu ouvia contar e eu mudei o final da história. Porque eu achei que para a criança de hoje aquele final não cabe mais, nessa época. De não deixar comer porque você não ajudou, sabe? Uma coisa assim... Então você vai mudando, conforme... E isso muda, muda e também você tem que ser maleável. Você tem que ser, ao mesmo tempo, agente de mudança e a mudança. Você tem que mudar. Essa coisa de mudar muito de cidade, de se adaptar sempre a uma coisa nova, de se adaptar novamente a novas pessoas, isso lhe faz aprender a conviver, aprender a mudar, aprender a... Por isso que quando as pessoa dizem: “Ah, eu vou mudar!”... Eu digo: “Graças a Deus você vai mudar”. E, às vezes, quando não mudo de casa, eu mudo as coisas de lugar na minha casa.
P/1 – E como é o seu dia a dia hoje, Márcia?
R – É variado! (risos)
P/1 – Conte para a gente.
R – Eu moro numa vila, na casa em que meu filho morava. Meu filho é arquiteto, não é? Então, a casa meu filho arrumou, ela está bonitinha, ela está toda arrumadinha. Aí, eu cuido da minha casa, tenho uma faxineira a cada 15 dias, então tem bastante trabalho em casa. Mas eu fico... Eu nunca sei muito bem o que vou fazer naquele dia, eu sei assim, quando tenho compromisso, como hoje aqui, como o trabalho que vou ter. Então, por exemplo, vou ter um trabalho para o Sesc. Eu tenho que me organizar para esse trabalho, tenho que desenvolver material. eu levo pano cortado... Tenho muito trabalho em casa para desenvolver isso que faço. Porque as pessoas só não são criativas porque não têm material na mão! Então, quando você leva o material, começado, cortado, a possibilidade de escolher... Você não tem que fazer o olhinho do boneco, mas você tem lá um azul, um verde, um amarelo, um alucinado! Você tem um cabelo de pelo preto, um enroladinho de pano e você dá um monte de oportunidade, você tem numa caixinha uma gravata... De vez em quando eu descubro que as pessoas pegaram um negócio de uma caixinha minha, que eu nem sabia que estava lá. Então eu tenho muita coisinha, muita coisa que eu vou criando, vou deixando e, às vezes, tenho até dificuldade de organizar. Então, a maior parte do tempo eu passo organizando as coisas, tentando organizar as minhas coisas, coisa que eu jamais consigo! (risos) Porque ao mesmo tempo em que eu organizo, eu desorganizo! Tirando coisa do lugar e pondo em outro, então em casa junta poeira mas não junta mofo! (risos) Porque tudo sai do lugar, nada fica no lugar, os armários não têm sempre as mesmas coisas nos mesmos lugares, a não ser na cozinha, nos básicos da casa, mas o resto, às vezes, você entra na sala e tem um monte de pano no sofá, tesoura em cima da mesa, às vezes corre o risco de achar tesoura até dentro da geladeira! (risos)
P/1 – E fora essas coisas mais voltadas ao trabalho, o que você gosta de fazer?
R – Eu gosto de cinema, tenho muitas amigas, eu fico às vezes demais... Estou ficando um pouco demais na rede social, mas estou parando, estou enchendo, estou enjoando. Eu publico, eu escrevo! Eu telefono...
P/1 – Você tem um blog, não é?
R – Eu tenho um blog: caixadagua33.blogspot.
P/1 – E o que você escreve no seu blog?
R – Na verdade, eu não escrevo muita coisa não. Mais ponho foto e, na verdade, nem sou eu que ponho foto. Eu mando para um amigo meu, que trabalha muito comigo, há muitos anos, chama-se Carlos Relva. Este meu amigo, eu pago por mês para ele fazer isso, porque ele tem uma filhinha que nasceu comprometida demais, ela tem oito anos, ela não senta, ela não fala, ela tem a cognição assim bem comprometida, e ele tem que levar... Ele que cuida da filha. Então, ele tem que trabalhar em casa. E quando eu tenho algum trabalho que ele pode participar indo, ele trabalha comigo. Quando ele não pode ir, por exemplo, eu pago isso para ele fazer, porque eu não quero fazer. Eu mando para ele e ele arruma foto, põe direitinho. Eu mando um texto e ele publica! Mas eu não escrevo muito não, deveria escrever mais. Acho que isso é uma falha.
P/1 – E esses textos que você escreve são sobre o quê?
R – Sobre o trabalho que eu fiz! Praticamente um comunicado do que aconteceu, pois é pouca coisa, não tenho escrito muito não. Às vezes, é mais para mim. De vez em quando, os cadernos meio desorganizados, eu acho um lá que em eu escrevi sobre alguma coisa, estava tentando fazer uma história da família. Porque meu filho falou: “Ah, mãe, se você não escrever sobre a família, a Nicole não vai saber nada da família da gente”. Aí eu vou lá e escrevo um pouco sobre a família, aí eu enjoo, perco aquele caderno, vou procurar outro e começo em outro! (risos) Sou meio desorganizada, viu? Para falar a verdade, precisava me organizar melhor.
P/1 – Você falou dos filhos. A Nicole é a neta?
R – É, então... Realmente, o meu filho tem razão. Se alguém não passar essas informações para ela, como vocês estão fazendo aqui, não é? Que estou contando um monte de lero-lero, (risos), a Nicole não vai saber, não é?
P/1 – E você tem outros netos?
R – Tenho um neto mais velho, que é o Rafael, que convive mais comigo, porque a Nicole mora em Miami. Eu tenho menos convivência com ela. E o Rafael, eu convivi muito com ele desde que ele nasceu. Ele também está sempre presente nos trabalhos que eu faço! Ele me acompanha, no blog mesmo você vai ver ele pequenininho nas oficinas. Eu corro o risco de ser processada por explorar mão de obra infantil! (risos) Mas não exploro muito não, ele vai me acompanhando só! (risos)
P/1 – E o que ele faz nessas oficinas? Como ele te ajuda?
R – Ah, ele ajuda ensinando, mostrando como é que enrola, pegando material... Aquelas coisas! Agora ele vai na oficina lá do SESC, de animação, já mais velho, ele vai mais compenetrado assim. Aí, seriamente mesmo.
P/1 – E como é para você ver o seu neto lhe ajudando a fazer o trabalho?
R – Ah, eu acho ótimo, é divertido. É muito bom. É importante essa convivência. Com meus filhos eu não tive tanta oportunidade quanto estou tendo com o Rafael. Porque era outra relação. A relação entre avó e neto é diferente da relação entre mãe e filho. Mãe e filho tem que ver a lição, cuidar da roupa, cuidar da comida, cuidar do filho, ver se comeu, se dormiu, se ele escovou os dentes! E neto não, o neto é mais solto, é mais na brincadeira. Agora mesmo a gente fez um trabalho de escola e ele aproveitou a minha televisão para contar história de como ele aprendeu a ler. Aí, às vezes, ele vem pedindo ajuda e eu ajudo a fazer o trabalho de escola. Ele me ajuda no meu trabalho também, é uma troca, não é? (risos)
P/1 – Você comentou dessa TV que você criou e mesmo lá fora estava contando para a gente, da oficina com bonecos stop motion. De onde vieram todas essas ideias de trabalhar com áudio e vídeo também?
R – É, vai indo. De curiosa, de curiosidade. de vivência, de convívio com o neto, com as outras pessoas. Hoje em dia, o mundo é aberto. É só você abrir a internet e encontra informação sobre tudo. E de muitos amigos. Eu tenho amigos de todas as idades, então quem trabalha comigo no stop motion é gente mais jovem. Eu não faço a edição, eu faço o boneco. Eu faço captação de imagem, aí a edição eu deixo para eles! Não me é interessante ficar aprendendo tudo também, não é? Porque eu acho assim: você tem que dividir com as outras pessoas, o máximo possível. Então o Carlos Relva, por exemplo, ele faz edição, ele publica no Youtube, ele faz tudo que eu não quero fazer. (risos) O outro meu amigo, que é produtor, cuida de propaganda, de divulgar, de me ajudar, são muito íntimos assim, muito chegados e sempre mais jovens que eu, lógico! (risos) Não é melhor?
P/1 – E agora, entrando num momento mais reflexivo, o que a Márcia hoje gostaria muito de realizar? O que você ainda quer realizar? Sonhos, coisas que você quer fazer.
R – Como estou sempre deixando a vida me levar, eu não fico sonhando muito não. Eu queria assim ficar um pouco mais tranquila financeiramente para não ter que correr atrás do dinheiro. Então, isso seria uma boa tranquilidade. Mas eu não estou pensando que isso seja uma coisa que esteja fácil no momento. De não me preocupar com a parte financeira. Agora, o sonho, com essa idade, quando fico pensando, é não ter Alzheimer! (risos) Tenho muitas amigas mais idosas... E saúde, não é? Eu acho que a saúde... Você conseguir cuidar da saúde e não ter nada, ter pouca coisa - porque alguma coisa sempre vai tendo - já é bom. Agora, sou realista. Daqui para a frente vou ficar velha, mais velha, mais velha, mais velha, vou ficar velhinha! Uma casa de repouso, será? Não sei, não sei o que vai acontecer. Eu sonho continuar trabalhando, continuar fazendo coisas, continuar atuando, mas não tenho um sonho assim. De viajar? Não. De morar num lugar mais tranquilo? Talvez. Mas aí, eu ia me aborrecer. Eu fui morar um tempo na Ilhabela, achando que ia ser o máximo, não é? A minha mãe estava velhinha e eu morava sozinha com ela, depois que me separei. Aí, minha irmã morava em São Sebastião, também estava querendo mudar para Ilhabela. Eu falei: “Ah, então vamos morar nós duas juntas e cuidamos da mãe. E eu vou experimentar morar na Ilhabela”. Fiquei dois anos lá, achei chato. Quem está acostumada a morar numa cidade grande, não se adapta mais. Mesmo que eu tenha mudado muito, tenha morado em cidade pequena, eu acho que hoje em dia para mim é muito chato. Não tem cinema, não tem teatro, não tem gente! Então, não é um sonho. Às vezes, você pensa que seria bom, mas eu acho que, pensando bem, não é.
P/1 – E como foi para você parar um pouquinho nesse corre-corre do dia a dia para contar sua história?
R – Ah, eu adorei conhecer vocês! (risos) Contei um pedaço, não é?
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não perguntou e você gostaria de falar?
R – Não, a vida tem tanta coisa, acontece tanta coisa, não é mesmo? Isso aí não dá para contar nesse pouco tempo, mas o básico é isso.
P/1 – Não tem nada de básico.
R – (risos)
P/1 – Agora conta para a gente desse vestido lindo que você está usando!
R – Ah, então... Este vestido, eu vim com ele porque ontem eu usei com as crianças, não é? Eles adoraram, que é o vestido de chuva. Este vestido, a minha mãe era viva ainda quando ela fez, ela que fez este vestido. Ela fez o vestido e era todo branco. Só assim... Era para um réveillon, ela fez para mim e ela usava também - usava eu e usava ela. Ela tem foto com este vestido e eu também, quando ele era todo branco. Aí, a gente estava na Ilhabela, ela estava idosa e eu resolvi começar a bordar o vestido, comecei a fazer este bordado aleatório, não é? E eu estimulei minha mãe a bordar também, então ela bordou um pouco do vestido, aí bordamos e ele era só bordado. Aí, tinha um carnaval e eu ia passar lá em Itatiba, com umas primas minhas que saem em blocos, saem no carnaval de rua e fazia tempo que eu não ia em carnaval. E eu falei: “Ah, vou para o carnaval lá em Itatiba”. Eu falei: “Vou fazer uma fantasia”. E tinha uma sombrinha, tirei a cobertura da sombrinha e pendurei aqueles mosquitos da dengue nela, fiz essas gotas, essas gotas são as malhas dos bonecos que eu faço! (risos) Elas estão com um pouquinho de cola na ponta para ficar durinha. Aí eu preguei as gotas, que são gotas de chuva, e levei o guarda-chuva com os mosquitos da dengue e a fantasia foi de água parada! E agora eu vivo de fantasia quando eu vou em algum lugar interessante, e ponho este vestido. (risos) Como visitar você era importante, vocês aqui... Era interessante, eu pus o vestido de chuva. Atualmente, ele é vestido de chuva, mas ele era vestido de água parada. (risos)
P/1 – Muito bom. Márcia, então, em nome do Museu da Pessoa e do nosso, do Genivaldo e do Paulo, foi um prazer ouvir um pouco da sua história, entrar um pouco em contato com você. Em nome do Museu da Pessoa, agradeço muito.
R – Vocês são muito simpáticos e eu também adorei vir contar história aqui para vocês!
P/1 – E agora vamos lá fora que eu quero ver esse cartão!
R – (risos)
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