Nathasha Kaminski é filha caçula de João Carlos Kaminski e Marili Aparecida da Costa Vieira Kaminski. Irmã de Andreas e Théo, que desde cedo se comportavam como parceiros para as mais inventivas brincadeiras, como tomar banho de barro em dia de chuva em um terreno vazia ao lado da casa. Vizinhos dos parentes próximos, tinha tios, madrinha e avós por perto. Ela lembra que mãe se dedicou exclusivamente à função materna desde o nascimento do irmão mais velho e o pai foi o provedor e em um momento da vida a família se mudou para a cidade de São José dos Campos por conta do trabalho do pai na empresa Kaiser.
Restrita ao círculo familiar em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, Natasha se vê “uma caipira” naquela época e lembra do estranhamento em todos os sentidos na nova cidade. Além das condições econômicas da família que ascendeu aos padrões sociais, a escola era particular e as crianças tinham outros consumos e hábitos. A escola seguia o método Montessori, ela lembra dos laboratórios e das oportunidades de crescimento pessoal que teve nas experiencias escolares que considera importantes em sua formação. Estudou nessa escola até os quinze anos e sua memória são as rodas de skate junto com os amigos e os irmãos. Mas relata também a amizade em um círculo feminino que mantem até hoje. Amigas inseparáveis que compartilharam as primeiras experiencias das festas, das paqueras, dos beijos, do primeiro sutiã, da puberdade e medos.
Usava óculos com grossas lentes, diz que era briguenta entre os garotos e diz ter dado trabalho aos pais porque brigava na escola. Era chamada pelos meninos de “Beth, a feia”. Mostra foto desse momento com a tentativa de explicar o nome. Mas diz que ao começar um curso técnico de administração de empresas, orientada pelo pai, parece que se descobriu e se tornou mulher. Fez cirurgia na vista e tirou os óculos da face e se tornou observadora do mundo. Ao...
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Nathasha Kaminski é filha caçula de João Carlos Kaminski e Marili Aparecida da Costa Vieira Kaminski. Irmã de Andreas e Théo, que desde cedo se comportavam como parceiros para as mais inventivas brincadeiras, como tomar banho de barro em dia de chuva em um terreno vazia ao lado da casa. Vizinhos dos parentes próximos, tinha tios, madrinha e avós por perto. Ela lembra que mãe se dedicou exclusivamente à função materna desde o nascimento do irmão mais velho e o pai foi o provedor e em um momento da vida a família se mudou para a cidade de São José dos Campos por conta do trabalho do pai na empresa Kaiser.
Restrita ao círculo familiar em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, Natasha se vê “uma caipira” naquela época e lembra do estranhamento em todos os sentidos na nova cidade. Além das condições econômicas da família que ascendeu aos padrões sociais, a escola era particular e as crianças tinham outros consumos e hábitos. A escola seguia o método Montessori, ela lembra dos laboratórios e das oportunidades de crescimento pessoal que teve nas experiencias escolares que considera importantes em sua formação. Estudou nessa escola até os quinze anos e sua memória são as rodas de skate junto com os amigos e os irmãos. Mas relata também a amizade em um círculo feminino que mantem até hoje. Amigas inseparáveis que compartilharam as primeiras experiencias das festas, das paqueras, dos beijos, do primeiro sutiã, da puberdade e medos.
Usava óculos com grossas lentes, diz que era briguenta entre os garotos e diz ter dado trabalho aos pais porque brigava na escola. Era chamada pelos meninos de “Beth, a feia”. Mostra foto desse momento com a tentativa de explicar o nome. Mas diz que ao começar um curso técnico de administração de empresas, orientada pelo pai, parece que se descobriu e se tornou mulher. Fez cirurgia na vista e tirou os óculos da face e se tornou observadora do mundo. Ao narrar, coloca-se em contemplação do mundo à sua volta e diz aprender muito com esse comportamento. Gosta de observar o trânsito das pessoas em rodoviárias, por exemplo. E fazia a mesma coisa na vida com os irmãos, assistia suas experiencias como se estivesse fora delas, mas atenta ao comportamento dos pais.
Em um tempo sem informações acessíveis, a mãe soube lidar com as escolhas dos irmãos na adolescência. A sabedoria dos pais, a busca por informações da mãe lhe ensinou que em tudo a informação é libertadora. Ainda bastante nova ela entendeu a decisão da mãe em acolher os filhos e amigos na segurança da casa. Natasha lembra de ajuntamentos de mais de dez rapazes em casa e ao mesmo tempo a ausência dos irmãos por meses porque estavam com a banda em alguma praia. Os irmãos tinham problemas na escola e ela assistia ao sofrimento da mãe e aprendeu muito com toda essa experiência. Depois de esgotar essas experiencias, os dois irmãos fizeram caminhos mais ou menos convencionais, são responsáveis, estudaram, trabalham, o mais velho se tornou pai e ela o admira imensamente nessa função. Considera que nunca teve momentos de rebeldia porque assistiu de perto o que foram esses momentos dos irmãos e tantos amigos próximos.
Brincava de skate e de Barbie e fazia ginástica rítmica. Decidiu estudar e seguir os caminhos do pai na área de gestão de projetos. No meio do curso começou a trabalhar em um escritório de contabilidade e foi convencida em migrar para a área de Administração, mas não terminou. Se encantou com o atendimento ao cliente, conseguiu uma vaga em um call center. Nunca mais foi reconhecida como “Beth a feia”, muito pelo contrário, os namorados vieram, as baladas de rap e reggae e foi quando se mudaram novamente para Curitiba. Resolveu fazer um curso tecnólogo em Processos Gerenciais e veio para Araquari diante do desafio de trabalhar na equipe de implantação da fábrica BMW. Morando sozinha em Joinville, ao final do trabalho foi contratada pela empresa NeoGrid e sua carreira estava ascendente. Suas metas de vida estavam pautadas: “trabalho, dinheiro, ter um cargo, ter uma carteira assinada, gerente de não sei o que, era prioridade, era a meta”.
E foi nesse momento que as dormências na mão apareceram. Era a Esclerose Múltipla, mas um colega sugeriu que pudesse ser um AVC e ela foi ao hospital. Teve a sorte de encontrar um especialista em plantão e foi diagnosticada. A internação foi a indicação, mas ela pediu para ir em casa pegar uma mala. Junto coma família estava muito nervosa, foi na internet e entendeu que iria se transformar em uma “samambaia”. Os pais ficaram muito chocados, choraram e ela foi para o hospital. Sem conseguir dormir bem, no outro dia assistiu a um programa televisivo sobre a Esclerose Múltipla. Percebeu que as informações do Google eram exageradas e se tranquilizou. Uma semana no hospital fazendo pulsoterapia, uma semana de licença em casa se recuperando dos efeitos colaterais do corticoide, voltou ao trabalho. Ela lembra que foi complicado o recomeço porque as pessoas, assim como ela, não tinham informação. Ela tinha divulgado em rede social sobre a doença, no desejo de que todos soubessem, julgou que esconder seria pior.
Mas ela não esperava que a reação dos colegas fosse de “pena”. Percebeu que algumas pessoas sentiram não empatia, mas piedade dela. Começaram a tratá-la de forma diferente. Ela lembra de sentir raiva com o que chamou de hipocrisia. Porém, das pessoas da equipe, as mais próximas e dos chefes ela ouviu: “fala, o que você precisa? Precisa fazer alguma coisa?” Os chefes foram visitá-la no hospital, o gerente levou flores e ela acolheu aquele carinho. Lembra que alguns meses depois do diagnóstico ela ganhou uma bonificação, por ter demonstrado, mesmo com a doença, resultados. Mas havia uma exigência maior por parte dela que a levou a um acúmulo de funções e a um crescimento com uma conta física muito alta: um esgotamento e uma crise de burnout. Foi quando ela decidiu se dar férias, e pela primeira vez na vida fez uma viagem para o Caribe, Colômbia.
Com crises de fadiga constantes, a necessidade de adaptação no ritmo de trabalho, avaliou que os constrangimentos por não conseguir atingir com sucesso as metas que almejava poderiam ser muito negativos e veio a infelicidade no trabalho. Decidiu se demitir e abriu novos sonhos. Planos para uma longa duração, um dia ter uma clínica de terapias alternativas. Algo que possa ajudar as pessoas. Ela entendeu que trabalhar com as pessoas seria um caminho, entendeu que tudo na vida tem dois caminhos. Ela poderia negar a doença e continuar a vida como se nada tivesse acontecido ou então pega-la e pensar: “ok, o que essa doença tem para me ensinar? Foi isso que eu resolvi fazer. [...] Então, assim, eu entendi como se fosse uma missão de ajudar pessoas, independente se é com a minha doença ou com outros problemas, mas em ser solícita, e ser solícita, acho que é isso. Se tem uma coisa que eu gosto de dizer que a esclerose me trouxe é isso, de ser solícita”. Quem é “Beth, a feia?”
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