Projeto: Mulheres na Construção Civil
Entrevista de Cristiane Marian
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 30/05/2023
Entrevista n.º: MNCC_HV006
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Crica, para começar eu queria que você dissesse seu nome completo, a data e o l...Continuar leitura
Projeto: Mulheres na Construção Civil
Entrevista de Cristiane Marian
Entrevistada por Bruna Oliveira
São Paulo, 30/05/2023
Entrevista n.º: MNCC_HV006
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Crica, para começar eu queria que você dissesse seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R - O nome completo é Cristiane Marian, nasci no dia 22 de dezembro de 1985, numa cidade bem pequenininha em Santa Catarina, chamada Angelina.
P/1 - O nome dos seus pais?
R -
Minha mãe é Ermelinda e meu pai é Elídio.
P/1 - E o que que eles faziam?
R -
Eles são, na realidade, agricultores, do interior de Santa Catarina, ainda vivem lá até hoje.
P/1 - E eles ainda são agricultores?
R - Hoje, são aposentados, mas eles sempre tem lá o seu dia a dia, na hortinha, tem uma rotina lá. E aí tem um outro sítio que eles ficam cuidando, estão sempre ocupados com isso.
P/1 - E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R - A minha mãe é a referência de uma mulher bem forte, não só emocionalmente, mas fisicamente. Ela até é minha referência como mulher, da força da mulher. Uma pessoa muito gentil, muito generosa, muito amável, então ela está sempre pronta para ajudar, ela sempre tem uma palavra ou um carinho, nos momentos que a gente precisa. E meu pai é um ser extraordinário, tudo que eu aprendi na minha vida, principalmente com relação a negócios, como a gente se porta e tudo que eu construí, eu acredito que veio muito dele. Eu lembro de uma frase do meu pai, de quando eu tinha uns nove anos de idade, eu estava mudando de escolinha, então estava indo de uma escolinha pequena no sítio, para uma escolinha maior que era no centro da cidade, no centro, que era uma cidade um pouquinho maior. Eu lembro que ele falou para mim: “Filha, não importa o que você faça, faça sempre bem feito.” E aí essa frase ficou muito marcada para mim e levo isso para minha vida empresarial, para minha carreira e levo ela como exemplo para minha vida. Então, tudo que eu faço, eu sempre faço com muita amorosidade, que veio da minha mãe e muito bem feito, que veio do meu pai.
P/1 - E como eles se conheceram?
R - Eles se conheceram num baile, se conheceram num baile, já se apaixonaram, casaram, tiveram quatro meninas, quatro mulheres, eu sou a caçula dessas quatro. Eles sempre contam essa história e riem bastante de todas as situações.
P/1 - Você contou que tem irmãs. Qual o nome delas? Como que era a relação com elas na infância?
R - Foi uma infância muito gostosa, porque como a gente morava no interior, a gente brincava muito, tinha avó morando perto, então sempre foi muito bacana. A minha irmã mais velha é a Rosana, inclusive, foi minha sócia na minha primeira empresa, uma pessoa também extraordinária. A outra do meio, é a
ngela, também muito querida, ela sempre cuidava bastante de mim, porque eu era bem ‘aprontadeirinha’ quando era criança. E a outra é a Rosângela. Então, Rosana,
ngela, Rosângela, que são as junções e eu vim Cristiane.
P/1 - E você conheceu os seus avós?
R -
Sim, conheci todos os meus avós, tantos maternos, como paternos. E cheguei a conhecer um bisavô também.
P/1 - E eles eram lá de Santa Catarina?
R - Sim, sim! Todos eles moravam pertinho, coisa de cidade do interior, então morava minha família, meu pai, minha mãe e minhas irmãs, avó paterna era vizinha e a materna morava a 2 km, mais ou menos. Então, a gente sempre… todos os dias ia na [avó] materna e quando ia para escola, a gente dava uma fugidinha, que era para ir para a avó paterna também, que era perto da escola, onde a gente estudava, eu e minhas irmãs.
P/1 - E por que que você chama Cristiane, você sabe?
R - Quem escolheu meu nome foi a minha mãe, então ela escolheu Cristiane, porque eu nasci no dia 22, então meu pai queria que fosse Natália, por causa do Natal e minha avó materna também. E minha mãe falou, não, Natália não, vai ser Cristiane, porque é nascimento de Cristo, então vai ficar esse nome. E assim foi! Ainda bem que é a minha mãe que manda.
P/1 - E como que foi o nascimento, te contaram? O dia do seu nascimento.
R - Não! Na realidade, eu nasci… Nunca perguntei detalhes do dia do nascimento, mas foi em Angelina, no hospital pequenininho que tem lá, eu nasci à 01:30 da manhã. Então, eu lembro que minha mãe falou que ela achava que conseguia segurar. Imagina, quarta filha, já estava ali acostumada com todo o processo, e aí foi para o hospital e eu nasci no mesmo instante.
P/1 - E quando você pensa na sua infância tem algum cheiro, alguma comida, ou alguma data comemorativa que marque essa época para você?
R - Nossa, tem! Eu sou muito direcionada pelo cheiro, então tem várias. Mas uma memória afetiva que eu tenho da infância, é que, todo sábado à tarde, minha mãe fazia bolo, então sempre no sábado à tarde, até hoje, eu tenho esse hábito, eu vou para uma cafeteria ou faço em casa um bolo que me lembre essa data. Então, o cheirinho de bolo sempre lembra minha infância. E as datas, meu avô paterno era muito festeiro, então me lembro da infância sempre estar entre muitas pessoas, de festa, cheiro de churrasco. E hoje eu nem como mais carne. Mas quando eu sinto o cheiro, me lembra também desses momentos. Então, eu tenho essas duas bem fortes.
P/1 - E que bolo que você gostava quando você era mais pequena?
R - Bolo de laranja, bolo de laranja e bolo de fubá, que minha mãe fazia também bastante.
P/1 - E você lembra da casa onde você passou a infância, como que era?
R - Sim, é a mesma casa, ainda, onde meus pais moram hoje. Então, sempre que eu vou para lá, tanto a casa dos meus pais tem essa memória e a casa que era dos meus avós paternos, a minha irmã mais velha comprou, quando eles faleceram, teve todo trâmite. Então, eu tenho muita memória sempre, desses dois lugares, sempre que eu visito é muito presente.
P/1 - E como era a casa?
R - A casa da minha mãe é uma casa de tijolinho, bem carinha de sítio, bem carinha de interior, bem gostosa. E a do meu avô e da minha avó, ela é muito especial, porque como eu cresci lá com os meus primos, é uma casa muito antiga, sabe aquelas casas antigas com parede de barro, é uma casa daquela, só que ela tem um sótão. Então, tem uma escadaria em madeira, de canela, totalmente lixada, bem lisinha, que ela sobe para um sótão. Eu, meus primos, minhas irmãs, a gente brincava o dia inteiro naquela escada, subindo, descendo. Então, tem uma memória muito forte assim. E é bem carinha de casinha de sítio mesmo, com fogão à lenha, no canto, uma mesa bem grande, onde meu avô recebia todos os amigos dele. E aí com um quintal também, pelo lado de fora, com muita fruta, tem de tudo, pé de pinhão, então é bem carinha de sítio.
P/1 - E quais são as brincadeiras que você lembra dessa época, que você gostava mais?
R - Sempre brinquei muito de futebol, por incrível que pareça. Eu e minha irmã, a Rosângela, que foi a que tinha a idade mais aproximada minha, a gente brincava com dois vizinhos, sempre na rua e esses vizinhos também tinham primos, a gente também tinha priminhos ali morando perto. Então, no sábado e no domingo, a gente sempre se reunia e ficava o dia inteiro jogando futebol, vôlei, futebol, ficava naquela brincadeira, às vezes, esconde-esconde. Porque na frente da minha casa lá, dos meus pais, tem uma baixada, assim, com várias pedras e um campo de futebol, então a gente ficava ali brincando o dia inteiro.
P/1 - Conta um pouco para mim, como era Angelina nessa época?
R - Naquela época, ela continua como está hoje. Angelina é uma cidade muito pequenininha, no interior de Santa Catarina, na época que eu era criança, talvez teriam seis mil habitantes, vai! É bem pequenininha! E ela tem uma gruta lá, então ela é famosa por ter a Gruta da Nossa Senhora da Conceição. E ela é basicamente uma pracinha, uma igreja, uma escola de freiras, que foi onde eu estudei depois, no centro, uma escola maior. E essa gruta. É basicamente isso, então uma cidade super pequenininha também, bem interior mesmo.
P/1 - Crica, e quando você era pequena, você tinha sonho de ser alguma coisa, assim, específica, tinha alguma profissão na sua cabeça, ou não passava, só queria brincar nessa época. Como que era?
R - Teve duas fases, quando eu era pequenininha, eu queria ser cantora, não podia ver um microfone que eu já estava atuando. E aí, depois, conforme eu fui crescendo, eu tive muita vontade de fazer Agronomia, tanto que eu fiz vestibular, não passei. Por causa da referência dos meus pais, eu achava bonito entender que momento que planta, que momento que cresce. Então, tinha essas duas profissões bem distintas.
P/1 - E qual a primeira memória que você tem da escola?
R - Da escola, eu tive uma memória sempre… era uma escola bem pequenininha. Eu lembro que a gente brincava muito lá. E a professora da escola é minha amiga até hoje, inclusive, professora Ivete, o nome dela. Então, era uma lembrança de chegar e ir se divertir, porque ela era muito divertida, passava atividades. E eu tinha um contexto peculiar, porque eu aprendi a falar alemão, antes do português, porque a minha família é descendência alemã. Então, do primeiro ano de vida até os sete anos, que foi o momento que eu fui para a escola, para a primeira série, eu não falava português, eu falava o básico do português e falava alemão. Em casa, só falava alemão. Então, foi um processo também de aprender palavras em português e conjugar, enfim. Então, foi muito assim, de aprendizado e de brincadeira, sempre foi muito leve.
P/1 - Como foi esse aprendizado do português com sete anos, nesse momento?
R -
Ah, foi tranquilo, foi tranquilo! Porque eu sempre fui muito dedicada a estudar, a aprender, sempre tive essa curiosidade de saber, então foi super tranquilo.
P/1 - E na escola, depois você contou que você foi para uma escola maior, como que foi esse momento?
R - Foi bem desafiador, foi bem desafiador. Porque eu fui sozinha, meu pai não me levou, eu ia numa condução. Eu lembro que a minha irmã, ela sempre estava comigo na escola pequena e, na granja, ela não foi, então era sempre eu sozinha, com algumas colegas. Tinha uma priminha, que era minha vizinha, que também ia. E no primeiro dia eu senti um medo muito grande, de sair da minha casa sozinha, sem meu pai e minha mãe. Porque até então, só saía de carro com meu pai e com a minha mãe, para ir para cidade grande. Porque do interior onde os meus pais moram, onde eu vivi, até essa escola, são 13 km de estrada de chão. Então, para mim, era muita novidade, ia conhecer todos os coleguinhas, interagir com outros colegas, tive bastante medo, foi desafiador.
P/1 - E como que foi depois do medo, o que que você sentiu? Como que foi a sua vivência nessa escola nova?
R - Foi ótima! Depois desse primeiro ano, que daí eu saí da quarta série, fui para quinta série, nessa adaptação, eu comecei a expandir muito, a crescer muito. Eu lembro que no terceirão, lá tinha-se o costume de fazer camisetas do colégio, e aí era o terceirão, último ano. E quando a gente fez a nossa camiseta, a nossa turma, a diretora proibiu a gente de usar, porque não tinha a logo da escola, tinha o desenho daquele rato, Pink e Cérebro, tinha o desenho do cérebro e tinha umas nuances laranja. E ela proibiu! E eu sempre fui muito para frente, falei: “Ah, tudo bem, ela proibiu, então a gente amarra essa camiseta na cabeça, como forma de protesto, e a gente vai usar na nossa camiseta”. E aí eu lembro que os meus pais foram chamados, enfim. Então, sempre criando burburinhos e novidades.
P/1 - Tinha alguma matéria que você gostasse mais?
R - Aí Física. Física e Filosofia, eu gostava muito do professor de Filosofia e gostava muito do professor de Matemática e de Física, eram as duas matérias, eram mais instigantes para mim. E são até hoje! Gosto muito de Física.
P/1 - E os professores marcantes dessa época, são eles?
R - E o professor de Inglês também foi bem marcante pra mim, na época que eu tinha uma matéria de Inglês, o Renato, porque ele sempre era muito divertido, e aí aprender uma outra língua era sempre bem animador para mim. Então, tem essas memórias, do Dário, que dava Filosofia, do Renato, de Inglês. E o professor de Matemática, agora eu não lembro, seu Zequinha, era um Senhorzinho, bem bravo.
P/1 - E como foi a passagem da infância para adolescência?
R - Foi uma passagem tranquila, foi uma passagem bem tranquila. Eu sempre fui muito de ficar com meu pai e minha mãe, e aí, na adolescência, começou mais um movimento de sair com os meus amigos, com as minhas amigas, a gente tinha alguns eventos que a gente ia, mas sempre eram eventos, assim, super tranquilos, ia um na casa do outro, tinha eventos… Na época, eu era voluntária numa igreja evangélica, que é lá da cidade, dava aula para crianças também, voluntária na cidade. Então, foi uma transição bem tranquila.
P/1 - E o que você fazia para se divertir nessa época?
R - Na adolescência, continuou o futebol, e aí tinha uma saidinha de vez em quando com as amigas, mas era bem tranquila.
P/1 - Eram amigas da escola?
R - É, amiga da escola. E tinha uma amiga, tem ela até hoje, a Mônica, ela estudava num bairro diferente, então a gente se encontrava, às vezes, no final de semana, nesses encontros da igreja. Então, era sempre novidade, era maravilhoso.
P/1 - E como que foi… depois do terceirão, que você estava contando, que você se formou, como que foi esse momento da formatura, os próximos passos, o que aconteceu?
R - Então, quando eu ia me formar, eu já sabia que eu não ficaria em Angelina, não teria como fazer uma faculdade, não teria uma possibilidade de expansão. Então, eu já tinha decidido que eu iria morar em Florianópolis, que é a capital de Santa Catarina. E aí morei um tempo com a minha tia. Então, eu lembro que eu me formei e dois meses depois, eu falei: “Ó pai e mãe, tô saindo, vou morar em Floripa com a minha tia, até encontrar um lugar para morar, vou procurar um emprego, estudar”. E fui! E foi um momento muito marcante, as minhas duas irmãs já moravam na capital, em Florianópolis. Então, eu fui já mais segura, sabia que elas estavam lá, para alguma eventualidade, estava com a minha tia, por mais que ela trabalhasse muito e nós ficávamos em casa, eu tinha suporte dela ali. Então, eu fui, procurei um trabalho e comecei a fazer cursinho à noite. Então, foi um processo, assim, que foi muito disruptivo, porque eu saí daquela tranquilidade, só estudar, para estudar, trabalhar e dar conta da casa. Foi um processo bem intenso, assim.
P/1 - Qual foi a primeira impressão quando você chegou em Floripa, nessa época?
R - Eu sentia a cidade muito grande, era tudo muito grande, era tudo muito novo para mim.
P/1 - E você sentia o quê, sentia medo, animação? O que você estava sentindo?
R - Nesse período, eu me sentia bem animada, bem animada e bem confiante. Não tive medo desse processo, porque era um processo também que eu queria muito. E aí, eu lembro que um mês depois que eu fui morar, um dos meus primos, cuidava de uma parte de um colégio, que dava cursinho de graça. E eu consegui um cursinho de graça lá com ele, estudava à noite, conheci muita gente. E aí eu lembro que era um sentimento de muita novidade, porque era uma ruptura também, a maneira que eu morava, a maneira que eu lhe dava, ia dormir cedo com os meus pais. Era uma outra rotina, chegava muitas vezes do cursinho dez da noite. Então, foi mais de animação mesmo, eu não senti tanto medo nesse processo, estava mais madura também.
P/1 - Você tinha dezoito anos nessa época?
R - Dezoito anos, exatamente.
P/1 - E foi nessa época que você começou a trabalhar ou você já tinha trabalhado antes?
R - Não, essa época eu comecei a trabalhar. Então, eu consegui um emprego provisório numa padaria, perto da minha tia, e aí ali eu fiquei, para conseguir pagar o meu cursinho, todas as minhas questões. Então, desde o começo eu nunca dependi dos meus pais, fui e pagava minhas contas. E aí, assim que eu consegui me estabilizar, que foi mais ou menos uns seis meses, aí sim, fui trabalhar numa outra empresa, uma empresa de ar condicionado, inclusive, virei vendedora técnica. E aí fiz o curso técnico de Climatização e Ar Condicionado, para entender mais a dinâmica. E aí fui morar com uma prima minha que também veio para Florianópolis, também veio para a cidade grande, que era lá do interior também. Então, a gente morou juntas por um tempo. E ficava naquele processo maluco, trabalhando o dia inteiro, estudando à noite. Foi bastante tempo na realidade nesse processo.
P/1 - Nessa época você já tinha a ideia do que você queria cursar na faculdade?
R - Já! Nessa época do curso técnico eu já sabia que eu queria fazer Engenharia. E aí, eu tentei fazer o curso pela Federal, só que era um curso integral, então eu não conseguiria trabalhar e estudar. E eu pensei, bom, então eu vou pagar essa faculdade. Continuei o meu trabalho, fiz um outro curso, um Técnico em Edificações, é como se fosse um técnico de Engenharia. E aí, nesse período, eu fui chamada para trabalhar na Gerdau, num escritório de representações da Gerdau. E aí, em dado momento, o meu chefe, eu falei: “Chefe, agora eu me formei, me formei em Técnica de Edificações, mas eu quero continuar estudando”. E para a minha surpresa, ele ficou muito animado com a minha iniciativa e falou, tudo bem! Pode escolher a faculdade que você quer, que eu vou pagar 50% para você. E foi muito especial, assim, porque eu me senti muito apoiada naquele momento. E tenho um carinho gigantesco pelo Quinorio até hoje, ele me deu muita referência empresarial, um ser humano fantástico, um chefe sem igual. Então, ele pagou a minha faculdade, na realidade ele pagava até mais que 50%, uma faculdade caríssima. E eu comecei a estudar à noite, trabalhar de dia com ele, no curso e estudar à noite na graduação de Engenharia Civil. E aí todo esse processo de crescimento, ele também acompanhou, no escritório. Então, quando eu estava muito cansada de trabalhar o dia inteiro e estudar à noite, ele via, ele me chamava, perguntava o que que estava acontecendo. Então, foi um processo muito especial. E também me sentia muito acolhida por ele, ele tinha essa tratativa, não só comigo, mas com os outros funcionários, é muito especial, assim, um olhar bem humano.
P/1 - E as suas irmãs, elas faziam faculdade ou você foi a primeira, como que foi?
R - Não! Minhas irmãs, elas têm o trabalho delas, mas elas optam em dar um pouquinho mais de atenção na maternidade. Então, eu sempre falo que eu sou ovelha negra ou ovelha colorida da família, porque eu fui disruptiva nesse sentido, que acabei dando muito foco para carreira. Mas desde pequena era um desejo já que eu tinha, com sete anos de idade, eu já sabia que eu queria estudar, que eu queria entender mais do mundo, que eu não ficaria em Angelina. Isso foi uma construção.
P/1 - E eu queria saber se a sua família apoiou você entrar em Engenharia, como foi esse processo?
R -
Sim, sim! Meu pai sempre queria que eu fizesse Direito, aí depois que eu fiz Engenharia, que aí eu até fiz um projeto para ele, ele tem um chalé. E aí ele entendeu a complexidade, e aí ele foi entendendo a complexidade que é, e foi apoiando cada vez mais. Mas sempre apoiaram.
P/1 - E nessa época
do Técnico em Edificações, tinha outras meninas na sala, no curso, como que era?
R -
Não, quando eu entrei, eu era a única mulher! Na realidade tinha duas, só que tinha o grupo A e o grupo B, então eu era do grupo B, que era a única. E tinha a Patrícia, que era do grupo A, que era a única. A gente brinca, foi ótimo, porque o curso técnico ele é muito na prática, então sempre que a gente ia para nossa casinha, chapiscar, assentar piso, acabava sendo eu: “Não, deixa que a Crica faz!” Os meninos gostavam de me sacanear. Então, eu aprendi tudo, aprendi tudo na prática, pintar, passar seladora, chapiscar. Então, eu sempre fui o braço, assim, a frente da turma também de alguma forma, porque todo mundo vinha perguntar para mim, “O que você acha? Vamos fazer isso daqui! O que você acha da turma fazer?” Eu sempre fui meio líder deles ali junto.
P/1 - E nessa época, você sofreu algum tipo, assim, não só de preconceito, mas, assim, de olhares, que não era para você estar lá, ou foi muito tranquilo? Como foi?
R - Na época do técnico, era muito diferente, eu nunca tive nenhum olhar dos meus colegas, muito pelo contrário, sempre me apoiavam muito e era muito mútua essa troca. Mas eu tive com professores, professores falando, perguntando por que que eu não ia fazer um curso de menina. Lógico, professores mais velhos, às vezes, com uma outra concepção de realidade: “Ah, vou escrever de rosa para a Cris!” Coisas assim, e que não impactavam em nada.
P/1 - Uma coisa que eu queria saber, antes da gente começar a falar da faculdade, é se você lembra o que você fez com seu primeiro salário?
R - O meu primeiro salário, nossa! Eu paguei o meu cursinho, foi bem investido. Paguei um outro cursinho que eu queria fazer na época, específico, em português, porque como eu vim dessa origem, tinha bastante falha. Eu lembro que eu paguei a parte um cursinho de português, no meu primeiro salário.
P/1 - E como foi o primeiro dia de trabalho na Gerdau?
R - O primeiro dia foi bem desafiador, foi bem desafiador. Porque era um escritório aberto, então eram quatro pessoas. E o sistema era diferente, era uma dinâmica diferente, mas… Aos poucos, eu fui me adaptando, assim, porque na realidade lá, eu brinco que eu fazia um papel de elástico, entre a fábrica e entre o cliente. Então, eu me sentia sempre tendo que contornar muito as duas situações. E foi de muito aprendizado.
P/1 - E como foi quando você entrou na faculdade? O que mudou na sua vida nessa época, se mudou alguma coisa?
R - Nossa, mudou, mudou muito! A entrada na faculdade, na realidade, ela foi um dia depois que eu me formei no técnico, me formei, última aula, no outro dia eu já tinha faculdade. Então, eu nem respirei e fui de novo. E a faculdade me surpreendeu, porque como ela era uma faculdade paga, tinha alunos, alguns mais velhos, a gente teve muita matéria base, que era matéria do terceirão e eu fiquei surpreendida na primeira prova, porque tecnicamente eu me achava uma pessoa inteligente, eu tinha boas notas no terceirão, a vida inteira estudiosa. Primeira prova de cálculo na faculdade, minha nota, 3, falei: “Ah, eu acho que eu não sou tão inteligente assim, preciso me dedicar mais”. E aí, eu lembro que na segunda prova, que era recuperação, tirei 10, até o professor veio falar comigo, enfim, elogiou. Mas foi um grande baque, assim, falei, nossa, vai ser puxada essa faculdade. E foi já de saída.
P/1 - E tinha alguma matéria que chamava sua atenção, ou algum professor, professora?
R - Uma matéria que foi bem complexa para mim foi a matéria de Materiais, porque realmente é bem complexo, envolve Física, envolve comportamento de materiais, então, ela foi bem complexa. E um professor que eu gostei muito, foi um professor de Física e ele era muito dedicado, ele ensinava de uma maneira muito diferenciada. E ele era do Nordeste e ele tinha uma palavra que ele usava, ‘certinho’, “Vocês estão vendo isso? Isso aqui está certinho!” E o apelido dele ficou Certinho, eu contei para ele que o apelido dele era Certinho. Até hoje eu conheço ele só como Certinho. Então, ele me chamava muita atenção, assim, e me chamava no corredor, a gente trocava ideia, sempre tirei muito proveito desse contato com os professores para aprender.
P/1 - E tinha professoras ou colegas no curso de Engenharia?
R -
Tinha! No curso de Engenharia eu já tinha bastante colegas, quando eu iniciei a primeira cadeira, devia ter umas 80 pessoas, dessas 80, talvez umas 20, 30, eram mulheres, já estava mais equilibrado. E tenho grandes amigas desse período também. E tinha professoras mulheres também, inclusive de cálculo linear, foi uma professora que deu para a gente.
P/1 - Tem algum momento marcante da faculdade que você lembre?
R -
O mais marcante foi a formatura, o mais marcante foi a formatura. Durante o meu processo da faculdade, teve um período que eu estava muito cansada, então eu tranquei por seis meses, para reavaliar se era aquilo que eu queria. Porque eu via muito cálculo, muito concreto, muita coisa técnica. E algumas pessoas falando de coisas, como: “Ah, vou construir pontes!” E eu sempre me ligava a engenharia no lado um pouquinho mais humano, entender como a Engenharia poderia ajudar pessoas, projetando cidades, soluções, porque, no fim das contas, é sobre pessoas, cidades são para as pessoas. E aí, eu parei a faculdade, tive esse período de reavaliar, que foi ótimo e voltei nesses seis meses. Eu continuei fazendo duas matérias online, estudando, mas eu realmente parei, assim, de colocar aquela intensidade. E foi muito bacana, porque acredito que, desde esse momento, eu já entendi que a minha Engenharia seria mais voltada para o humano, tanto que as minhas colegas me chamavam de Engenheira de Humanas, na faculdade: “A Engenheira de Humanas, a Crica é Engenheira de Humanas”. Então, eu já vim com esse olhar. E aí, lógico, se adaptar, você vê todo mundo naquele padrão, prédio, ponte, e você é diferente de certa forma, você tem essa adaptação: “Ah, não, sou diferente, mas ok, tá tudo certo!”
P/1 - E como foi, depois da formatura? Você continuou trabalhando onde você estava, como foi esse momento?
R - Não! Na realidade, quando estava na metade da graduação, eu já tinha o desejo de atuar com obras, era um desejo que eu tinha, era a única coisa que eu queria, eu queria atuar com obras, para entender a dinâmica, porque eu sabia que era diferente. Então, eu pedi demissão da Gerdau, Quinorio não quis me demitir, isso foi em 2016, ele: “Não, você está maluca, no meio da crise de 2016.” E aí, eu fiquei muito insegura, porque ele pagou grande parte da minha faculdade, e aí eu teria que arcar com o restante sozinha e ao mesmo tempo, me senti ingrata, porque ele me ajudou até ali e agora eu estava saindo, quase me formando e expliquei toda a situação para ele e logicamente ele entendeu, esse meu desejo de querer mais da Engenharia, porque na Gerdau era mais Administrativo e, na Engenharia, entrava muito pouco só no projeto do aço cortado dobrado. E aí, eu saí desse emprego, ganhando muito bem, obrigada, para estagiar, porque eu queria pegar experiência e queria atuar em obras. Meu projeto era ser uma Engenheira de obras para uma grande construtora, embora eu já tivesse um desejo, de que talvez eu pudesse ter os meus clientes também. E aí, aconteceu um episódio, numa das primeiras entrevistas de trabalho para uma obra, era uma grande construtora de Florianópolis e surgiu uma vaga de estagiária de obra e, essa vaga, ela não foi anunciada, ela era fechada por indicação. Então, minha amiga Vânia, que era minha colega da Engenharia, ela falou: “Crica, tem uma vaga lá, manda o teu currículo”. E o meu namoradinho da escola, tinha uma amiga lá dentro também, era amiga da Vânia também, indicaram ele. Então, eu concorri a minha vaga de trabalho, eu e meu namoradinho da escola, da faculdade também. Pois bem! Aí fomos fazer entrevista, ele falou: “Ah, Crica, na realidade, você vai ser escolhida, você já é técnica, já trabalhou com obras, já trabalhou com projeto de aço e eu sou um mero estudante e tenho aqui minha experiência pequena com obra.” E aí, uma semana depois, o Marcelo me liga chorando: “Crica, você não vai acreditar, eu fui escolhido!” E, naquele momento, eu não conseguia nem ficar triste, eu fiquei feliz por ele ter sido escolhido para a obra. E eu entendi, se eu quisesse ir para a obra, eu teria que ter meus próprios clientes. E aí comecei esse processo, continuava fazendo estágio para projeto, para ganhar experiência e comecei a buscar meus próprios clientes, já nesse período da faculdade. Então, eu saí da Gerdau na metade da faculdade, estagiei mais um ano e já comecei a empreender.
P/1 - E como foi esse momento de empreender, quais foram os desafios?
R -
Ah, todos possíveis, né! Começando pela parte… A parte comercial eu já tinha, parte de vendas, eu já tinha essa tratativa, mas eu não me entendia como marca, não me entendia como marca pessoal, tive que aprender tudo sobre negociação, marketing, de alguma forma também, me vender, porque eu tinha essa dificuldade, porque você acaba se vendendo. Então, quando eu me formei, que eu achei, nossa, agora eu vou ter paz, vou ter mais tranquilidade, eu entrei mais profundamente no processo de aprender, tudo sobre empreendedorismo. Então, eu continuava trabalhando durante o dia e, a noite, pegava cursos aleatórios de marketing, vendas, posicionamento e nos finais de semana, enquanto os meus amigos saíam, eu ia para eventos de network, empreendedorismo e sempre estava presente nesse ecossistema de empreender, porque era isso que eu queria. E aí, de novo, foi uma ruptura muito grande, porque você ser CLT, que vai ali, presta seu trabalho, tem todo mês um salário, é muito diferente. Eu lembro que eu comecei a minha rede social, porque um dia indo para faculdade, já no último ano, eu fiquei pensando, se eu quisesse empreender, a primeira coisa que eu preciso, são clientes, se eu não tenho cliente, eu não vou conseguir manter a porta aberta do escritório, então preciso entender onde estão meus clientes. E passei a notar que todo mundo ficava no celular o tempo inteiro, na faculdade, andando, na rua, todo mundo o tempo inteiro no celular. Aí eu falei, é ali que eu tenho que estar, porque a atenção de todo mundo está ali. E comecei a estudar tudo sobre marketing. Aí abri um perfil profissional, que ainda era a engenheira Cristiane Marian, não era uma marca e fazia tudo sem a menor estratégia, postava o que eu queria. Eu lembro que, na época, eu não tinha foto de obra bonita, eu tinha alguns projetos pequenos, bem iniciando. E quando eu comecei, eu lembro que um colega meu falou: “Para de ficar postando foto de projeto e me passa aquele material, que tem prova semana que vem.” E eu falava: “Não, na verdade eu não vou parar, eu vou continuar só que eu vou fazer ainda melhor.” Então, eu entrei nesse processo de aprender a usar a rede social para divulgar trabalho, conectar com cliente e fazer todo esse processo da construção.
P/1 - E como foi esse momento em relação, assim, que eu sei que você tem uma relação com outras mulheres, como que foi esse momento de se relacionar com outras mulheres dentro da engenharia?
R - Então, Bruna, foi um processo muito natural, muito natural! Porque quando eu comecei a empreender, no primeiro ano, até o primeiro ano, eu não tinha pego nenhuma obra, só tinha pego projetos, continuava com projetos. Apareceu a minha primeira cliente que me chamou para cuidar da obra dela, então a minha primeira cliente foi uma mulher, inclusive me deu essa joia da Engenharia, com símbolo da Engenharia, foi bem especial, reformei a casa que era da família dela. E aí depois tive outras clientes mulheres, mulheres, mulheres. Tive a Cris, que abriu uma loja sozinha, o marido dela trabalhava o dia inteiro, não conseguia estar na obra. E nesse processo, de atender elas na obra, eu ainda não tinha equipe própria, eu só administrava para elas. Eu passei a observar algumas coisas que aconteciam da mão de obra, que eu me questionava, será que eles fazem isso com homem também. Eu vou te dar um exemplo, teve uma obra, que a gente… da Cris, a gente foi instalar uma câmera frigorígena, que era para manter salgados da loja dela. E o cara foi lá instalar essa câmera, eu não tava, ele passou a tubulação por fora, que é aquela tubulação branca de ar condicionado, bem horrorosa! E a Cris me chamou à noite, quando eu passei na obra dela e falou: “Eu não gostei daquela ali!” E realmente, a loja dela era toda bonita, com aquele tubo branco passando. Eu falei: “Não Cris, vamos rasgar esse gesso, a gente embute e a gente fecha.” E aí, no outro dia, ela chamou esse cara para refazer, ele falou que não dava para fazer: “Ah, não, a senhora… vamos ter que deixar assim, isso aqui não dá para fazer!” E no mesmo momento que ele estava com ela, eu pisei na obra, eu cheguei na obra, eu pisei na obra, o cara começou a fazer o que eu tinha pedido para ele fazer. E aí, eu pensei, essas mulheres, elas precisam de apoio! Quanta mulher que não tem um marido para reformar o apartamento, para abrir uma loja, para reformar o escritório. E aí nasceu esse desejo de ter uma empresa de engenharia, para mulheres. Isso foi em 2019, bem no comecinho do ano, talvez ali em maio, junho. E aí, no primeiro momento, eu tinha muita vergonha, imagina, eu, sou super ativa, como que eu vou ter uma empresa de mulherzinha na engenharia, talvez não aconteça. Eu fiquei com vários pensamentos sabotadores, eu falei, não, eu preciso de uma sócia para abrir a empresa, sozinha não dou conta! Eu fui me sabotando, eu fui me sabotando e o desejo foi crescendo. E aí, em setembro, eu fiz uma viagem para o Chile, eu ia tirar uma semana de férias para o Chile e eu fiquei três dias totalmente offline, porque eu fui da Bolívia, até o Chile, pelo interior de carro, três dias sem internet, sem nada. E a única coisa que eu conseguia pensar, era nessa empresa de engenharia para as mulheres. E aí, não tinha encontrado a minha sócia, a sósia que eu tinha pensado, a gente não fechou muito bem os nossos conceitos. E aí, voltei para o Brasil, falei, eu preciso dar um jeito nisso! Porque era um desejo muito forte, era algo que só em pensar eu me arrepiava, eu preciso fazer! E eu lembro que eu decidi fazer no final de outubro, em uma semana eu estava com tudo pronto, CNPJ, logo, tudo pronto! E resolvi que ela ia não só servir para atender mulheres, Womma, engenharia de mulheres, como a logo seria rosa. Então, eu lembro que eu liguei para um grande amigo meu, Mark, ele é designer, porque eu não tinha o dinheiro, na época, para fazer esse logo, identidade visual. Liguei para ele, falei, Mark, na realidade eu vou abrir uma empresa para eu, mulheres, eu já comentei, eu tenho que fazer a logo, eu quero a logo rosa e vai ser assim, vai ser uma empresa de engenharia cor-de-rosa. E aí, ele é muito paciente, falou, não, você não precisa me pagar, eu quero fazer um projeto de airbnb em El Calafate, que era no interior da Argentina. Faz esse projeto, eu faço a arte, o site, faço tudo para ti! E aí, deu certo! Aí eu lembro que uma semana depois, ele me ligou, falou: “Crica, sonhei com a tua logo, acordei às 03:30 da manhã, sonhei com a tua logo, desenhei ela no papel para não esquecer, mas eu vou passar isso por todas as minhas ferramentas, para te entregar.” Ele entregou, a gente não mudou nada, como ele entregou a gente fez! Lógico, entrou um cinza na marca, para trazer a força do concreto e a cor de rosa, foi a primeira logo rosa e a primeira empresa de engenharia para mulheres. E aí isso foi tomando proporções muito grandes, porque eu jamais poderia imaginar o tamanho que isso iria se tornar, o tamanho de pessoas que iriam se conectar. E aí outras vontades vieram junto com isso, então eu tinha que pedir pedreiro, eletricista, pintora e fui colocando as mulheres, a equipe interna também para obras, estagiárias, engenheiras mulheres. E aí, a gente foi crescendo esse negócio de forma natural, foi surgindo e a gente foi abraçando.
P/1 - E como foi trabalhar com outras mulheres dentro das obras?
R - Foi muito bem! Na realidade, dentro das obras, a gente sempre tinha que pedir homens também, equipe de mulheres. Então, eu vejo, até hoje, que a mulher e o homem junto na obra, é um circuito que fecha muito bem. Porque são, antropologicamente falando, são olhares diferentes. E a gente não está aqui falando de força, enfim, de forma antropológica. Então, era maravilhoso trabalhar com elas, elas traziam opiniões, a gente debatia, funcionou super bem! E lógico, quando a gente fala, isso eu aprendi na prática, quando a gente fala de incluir mulheres no canteiro, principalmente no terceiro setor, mas também na engenharia, não tem como a gente falar de inclusão, sem falar de equidade, é uma palavra que ela precisa coexistir. Então, hoje a gente escuta muito falar de ESG, inclusão, mas se não tiver equidade, a equipe também entender, que aquela mulher que está ali, ela continua sendo uma mulher, não funciona! Porque a equipe também, de homens, toda a equipe precisa entender, que ela é uma mulher, ela tem necessidades diferentes, isso elimina piadinhas, do tipo, quando você vai carregar um saco de cimento. Então, elimina isso e faz com que também na obra… Na última obra que eu tive, que eu coloquei uma estagiária, eu lembro que o homem que trabalhava lá, o mestre de obra, ele era muito cuidadoso com a minha estagiária, ele que fez o escritório dela na obra, ele trouxe uma cadeira da casa dele, que ele tinha, uma cadeirinha azul, sabe aquelas de escola? “Ah, trouxe para ela!” Ele arrumou tudo para ela. Então, quando a gente fala em equidade, nesse treinamento, é conscientizar, que ela continua sendo uma mulher, a gente consegue o ambiente colaborativo. E o trabalho, com certeza, muito diferente, que rende muito mais.
P/1 - Você contou um pouco desse episódio da obra da Cris. E eu queria saber se tem outros episódios, assim? Que foram marcantes em obras para você, sejam episódios tristes, episódios felizes, engraçados?
R - Teve vários episódios, assim, com mulheres, que a gente foi mudando. Mas eu acredito que um dos episódios bem engraçados que aconteceu, foi quando eu decidi fazer a minha equipe de obra toda com uma blusa pink, toda com uma blusa rosa pink. Então, a gente estava trabalhando num condomínio, e aí muitas vezes a gente ia receber material, então o próprio zelador do condomínio, ele já sabia quando que era a gente, quando o material era para a gente, quando a gente estava indo pegar material, pelo pontinho rosa andando pelo condomínio. Era bem engraçado.
P/1 - E como foi esse momento da pós-graduação, que você contou?
R - Ela foi super tranquila na realidade, eu fiz ela online, uma parte. E eu sempre gostei de coisas mais dinâmicas, então, além de pós, eu tenho inúmeros outros cursos, sempre voltados para a comunicação, voltados para marketing, vendas, oratória. Tudo que você possa imaginar eu já fiz.
P/1 - E sei que tem um canal no YouTube, como ele surgiu? Como que foi, foi um caminho natural? Você estava falando que já tinha uma relação com a internet. Como foi esse momento?
R - Sim! O canal de YouTube, ele surgiu, quando a Womma estava crescendo, a empresa já tinha mais ou menos dois anos, eu já fazia um pequeno trabalho no YouTube, de falar sobre empreendedorismo para mulheres, para respirar. E quando a empresa estava crescendo muito, eu sentia um vazio muito grande, eu não me conectava mais em estar ali. E aí, eu sempre fui muito espiritualizada, já tinha minha conexão muito forte e eu pedi orientação, porque eu estava sentindo aquilo, de não me sentir preenchida, E aí, eu percebi, que só estar com as mulheres na obra, era insuficiente, que eu teria que ajudar mais mulheres. E aí, eu saí da engenharia, saí dessa empresa em 2021, sai dessa empresa, para me dedicar, para ajudar mais mulheres. E aí, depois nasceu a Wonce, a Wonce delas. Então eu passei a me dedicar, eu ainda tinha a Engenharia, ainda estava ali envolvida, fiz o processo de sair e era um chamado muito grande de ajudar outras mulheres. Então, sempre participei muito de eventos, palestras, sempre fui chamada para falar como que faz a inclusão, como que faz para incluir. Então, isso me movia! Então, eu entendi naquele período, que só engenharia não ia me sustentar, me nutrir como profissional, estando apenas ali. Então esse perfil no YouTube, ele surgiu e foi ganhando força, para levar essa educação para mulheres. Em como se comportar na obra, muitas vezes. Em como lidar como uma piadinha de mau gosto, como que a gente retarda a nossa resposta para conseguir dar uma resposta mais assertiva. E eu penso, Bruna, que o autoconhecimento e a autoconfiança, ela é a base para a gente crescer como profissional. E não importa se você tem uma empresa ou se você é CLT. Eu não sei se você já viu, mas muitas mulheres costumam falar, eu sou mais qualificada e ganho menos. Inclusive, tem um estudo do Sindicato de Engenheiros da Bahia, que fala que mulheres ganham 28% menos que homens, na mesma tarefa, mais qualificadas. Então, muitas mulheres têm menos salário e são mais qualificadas, porque elas acreditam que mais conhecimento técnico, vai trazer autoconfiança e poder pessoal. Que são duas coisas diferentes, autoconfiança você constrói e poder pessoal é algo que você ativa. E na realidade o que ela precisa, é autoconfiança. E aí, eu vou falar algo que muitas vezes incomoda, tem gente que não gosta, quando eu falo isso, tem gente que bate um pouquinho no coração, faz sentido e tem gente que cai a ficha. Porque imagina, por que existem vagas de Analistas de Engenharia por R$2.000,00? Porque existe demanda! Então, se uma mulher não aceita um emprego de que um homem também tem com uma salário inferior, ela vai receber mais por isso. E isso está atrelado a autoconfiança, de não receber menos por aquilo que ela sabe que ela merece. Então, eu penso que autoconfiança é a base, que é um alicerce, a fundação alicerce bem construída, você consegue crescer. E foi isso que eu precisei fazer também, na minha carreira. Então, tudo que eu aprendi, a não colocar preço barato nos meus projetos, a entender o meu valor, a não responder cliente no final de semana de graça, a crescer. Então, tudo isso eu passei pelo YouTube, outras ferramentas que a gente tem, porque eu acredito muito nisso. Eu acredito que a mulher na construção é a grande inovação, porque o homem a gente já tem bastante, o olhar masculino, a dinâmica. E a mulher na construção é a inovação, só que a gente precisa estar muito segura também, para entrar e atuar. E a segurança é a base, Se a gente está segura no que a gente faz, mesmo com medinho, como eu fui a primeira vez para escola, eu fui com medinho, mas eu sabia o que eu queria, porque o medo, ele vai existir, mas quando você está autoconfiante, você consegue um salário bom, você consegue atuar. Mesmo que venha uma piada, sabendo quem você é, você não vai aceitar essa piada para você, você vai entender que ela não é para você, tem mais a ver com o outro do que com você. Então, eu acredito que isso é a base para ter uma carreira dentro da engenharia.
P/1 - Eu ia perguntar exatamente isso, o que que você acha que é necessário para mais mulheres acessarem a construção civil?
R - Autoconfiança! Se você soubesse a quantidade de casos que eu recebo todos os dias, até no direct do Instagram, num grupo que a gente tem do Wonce Delas, de mulheres que desistiram por causa de uma piada. Foram para a obra, alguém, um profissional fez uma piada com ela, foi hostil com ela e ela desistiu da carreira, desistiu da obra. Muitas vezes falam que obras não são para mulheres. É sim! Se a gente quer estar lá, lá é para mulher. Então, eu penso que é isso, é preciso ter autoconfiança, entender que a sua escolha é a escolha certa! E por mais que a gente não tenha um papel educativo e, muitas vezes, a gente está falando com pessoas do Terceiro Setor que não têm o mesmo nível de consciência que a gente. A gente já tem um nível de consciência que sabe, que a mulher pode, que a mulher tem a competência! A gente tá lidando com outros níveis de consciência. Então, talvez essa pessoa ainda não entendeu que mulher pode estar ali. Então, a gente tem que explicar, às vezes, perguntar, se aquilo que ela está falando faz sentido, tem coerência. Quebrar esse viés do inconsciente, ele é muito forte, até para mim, para todos nós! A gente tem o paradigma inconsciente, “Ah, mulher não é boa para isso! Mulher é detalhista!” Bom, talvez nem todas sejam detalhistas. Talvez o canteiro seja para mulher. Talvez como você fez a vida inteira não seja a forma correta, você pode repreender algo novo. Então, quebrar esse viés inconsciente. Isso é muito forte.
P/1 - Teria algum episódio de hostilidade… Você falou hostil, eu fiquei com essa palavra. De hostilidade com você em alguma obra, ou nunca?
R - Já, já aconteceu! Mas eu já tinha autoconfiança bem alicerçada naquele momento. Eu lembro que eu implantava BIM, naquele período, como autônoma. Eu implantava BIM em incorporações. E o mestre de obras falou para mim: “Eu não gosto de mulher na obra!” E isso há cinco anos atrás, então não era novidade também, né! Aí eu pensei, bom, eu sou mulher, estou na obra, ele não gosta de mulher, mas ele não falou que ele não gosta de mim, é só uma concepção que ele tem e está tudo certo. Então, foi um momento que eu entendi como foi importante construir minha auto confiança, para naquele momento aquele comentário não me tirar do meu eixo, não me colocar em questionamento, se aquele lugar era para mim. E foi muito interessante, assim, ter essa clareza. E eu vim de uma família super humilde, do interior, e a gente quando criança, a gente tem sempre essa necessidade de agradar, a gente precisa entender também nossos mecanismos. E eu aprendi muito! Sempre fui uma mulher muito insegura, não sabia o meu preço, por vir de uma família super humilde. Então, começo a trabalhar em Engenharia e, em Engenharia, a gente fala em Ticket médio alto. Então, eu tinha dificuldade de cobrar um projeto que fosse mais de R$5.000,00, na época. Imagina, calculava projeto grande, passou de R$5.000,00, eu já não conseguia cobrar, já calculava desconto antes de ir para reunião. Tenho certeza que várias fazem isso, porque elas comentam para mim. Então, essa construção de autoconfiança, me ajudou, inclusive no meu valor no mercado. Hoje eu sei o mercado que eu quero pegar, o mercado que eu estou inserida e sei do meu preço.
P/1 - E como está a sua fase de carreira hoje? Como você está trabalhando? Com o que você está trabalhando?
R - Então, aí nesse período, surgiu a Wonce. E a Wonce surgiu de uma história minha também da obra, como sempre as minhas histórias, elas sempre trazem um gatilho para a gente crescer. Em 2021, quando eu já tinha decidido sair um pouco da obra, eu digo que eu decidi sair da Engenharia para voltar a sentir o que eu queria fazer, e isso é importante. Eu estava tocando uma obra junto com a minha equipe e, nessa obra, a gente teve um aditivo de contrato. E o cliente me pediu uma reunião na obra. Bom, fomos fazer uma reunião na obra, para minha surpresa ele trouxe o arquiteto junto para a obra. E esse arquiteto começou a barganhar o meu preço na frente de toda minha equipe. E foi uma situação muito ruim, porque eu fiquei imaginando se isso acontece com outras empresas, com empresa de um homem, talvez, será que alguém vai lá, vai te contratar como advogado, por exemplo, vai chamar um outro advogado para barganhar o teu preço, não faz muito sentido! E aquilo me deixou no choque muito grande, porque eu penso que a valorização profissional, ela é de dentro para fora, então se os profissionais se valorizam, se a gente não aceita um salário de R$2.000,00 como auxiliar, se a gente não precifica o trabalho do outro, se a gente trata o trabalho do outro, o projeto do outro com respeito e a gente cresce juntos, a gente expande na nossa carreira. E aí, nesse processo, saí dessa empresa, morei um tempo fora, morei três meses fora, tive todo o meu processo de entender o que eu queria fazer e voltei para me dedicar ao projeto da Wonce. Então, a Wonce, nasceu com objetivo de levar valorização profissional e principalmente a liderança feminina dentro da construção civil. Que eu acredito que a gente ainda está no momento de construção, porque a insegurança, ela é muito forte e quando a gente constrói mulheres mais autoconfiantes, com poder pessoal mais estruturado, a gente também vai evitar esse tipo de situação dentro do canteiro e dentro da vida, dos negócios, CLT, não importa como ela trabalha. Então, ela nasceu disso! Então, hoje eu tenho esse projeto, a gente tem o portal, o portal Wonder, que chama, então é para elas. Lá a gente tem um encontro a cada quinze dias, é online, então a gente tem aí mulheres do Brasil inteiro. E aí a gente fez uma ferramenta também muito bacana, que é um grupo fechado para elas no Telegram. Então, geralmente quando a gente começa a empreender, uma das inseguranças é você perguntar, perguntar um projeto, ou uma situação na obra, como que faz? Muitas vezes, mesmo tendo sócia, você tem essa dificuldade, vão surgir situações que você nunca viu. Então, lá é um grupo onde todos se ajudam, onde todos podem perguntar, trazer dúvida técnica, trazer dúvida de apresentar proposta, de portfólio. Tudo que ela precisa, de precificação, que, às vezes, é um grande gap para quem empreende também. Então, a gente tem esse grupo. E lógico, lá a gente faz network entre a gente, a gente cresce o nosso negócio, troca clientes, aí a gente vai atender em outros lugares e vai expandindo também o horizonte dessas mulheres. E elas entendendo cada vez mais, que unidas a gente faz, gente tem. Aí paralelo a gente também faz treinamento com homens também, porque eles pedem, eles reclamam. Eu tenho material de webinário gravado, que os meninos mandam mensagem, “Crica, você só fala para mulher!” Tá bom, vou parar de falar, vai ter treinamento para vocês também. Então, a gente fomenta isso junto. Lógico, a gente separou Wonce delas, não no sentido de separar, mas os temas muitas vezes para as mulheres, é diferente, a gente tem outros gaps. E a gente junta homens e mulheres de vez em quando e a gente discute junto. Porque uma coisa que eu penso, que o papel do homem, dentro da inclusão da mulher, é importantíssimo. Isso de uma forma antropológica, tem homens que quando a gente fala eles não escutam, isso é uma questão do viés inconsciente também, é antropológico, o homem não consegue escutar uma mulher, não consegue entender. Então, quando o homem fala que sim e o homem contrata uma mulher para obra, inclui ela com equidade, treina a equipe para receber aquela mulher com equidade, se ele está presente, essa construção é muito mais forte ainda. Então, ele tem sim um papel importantíssimo também, nessa construção.
P/1 - E você se mudou para São Paulo. Como está esse momento?
R -
Mudei para São Paulo. Desde que eu vim de fora, eu já sabia que eu queria morar em São Paulo. Então, morei em Floripa por um tempo, arrumei todos os meus trâmites que eu tinha lá ainda para arrumar e vim para São Paulo, para expansão da Wonce, então a gente tem eventos aqui, faz eventos em Floripa também, dia 06 de junho, a gente vai ter um encontro lá, que eu vou estar por lá! Mas a grande maioria vai acontecer aqui em São Paulo. Eu já era apaixonada por São Paulo, no modo turista, agora eu continuo apaixonada por São Paulo, no modo moradora. Eu estou naquele clima que até o trânsito eu gosto, a fila do restaurante está ótima, adoro!
P/1 - E como é o seu dia a dia hoje?
R - O meu dia a dia é bem intenso, porque ainda divido muito, gravar, atender. Dou mentoria também individual, para
muitas mulheres. Então, eu estou sempre nesse momento de encaixar. Uma coisa que é inegociável no meu dia, é o meu tempo de qualidade de manhã, que eu faço as minhas atividades. E no resto do dia, liga o modo foguete, atendo todo mundo, responde, participa do grupo também, tô sempre ali participando com as mulheres, atendendo elas também. E na melhoria contínua, eu não paro de estudar. Então, eu acredito que a gente com o passar do tempo traz mais ferramentas para a gente crescer.
Tudo que eu aprendo, eu compartilho, porque se doeu para mim em algum momento, eu aprendi na dor, ela não precisa passar por isso, ela já tem um caminho. Por mais que o erro seja importante no processo, na carreira, ele vai existir, a gente não pode se apegar na perfeição nunca. Se já existe um caminho das pedras, que a gente pode seguir os passinhos, é mais fluido, é melhor.
P/1 - E o que você gosta de fazer nos seus momentos de lazer?
R - Eu gosto de ler! E preferencialmente num café com bolinho bem gostoso, no final de semana, aquele cheirinho de bolinho de laranja. Mas eu gosto bastante de ler, geralmente. E gosto de fazer nada, porque a gente já faz muita coisa, gosto de fazer nada, gosto de hidratar o cabelo, ficar com a roupa, exercer o meu direito de ser feia, ficar sem maquiagem, nada, inacessível, é maravilhoso! Eu digo que é o nosso momento de ser mulher, que a gente entra na Engenharia, às vezes, a gente entra no modo masculino bem forte e eu tive esse processo também. Então, quando eu estou no dia a dia eu tenho esse modo mais ativo. E quando eu estou no meu momento é no meu direito, exercer o meu direito de ser feia, ali cuidando da minha pele, tendo tempo. Porque uma coisa que eu falo dos nossos paradigmas, quando eu comecei a empreender, eu não tinha tempo nem de fazer a minha unha, e tinha orgulho disso. Não tenha orgulho disso! Eu falava: “Ah, eu não tenho tempo! Sou uma empresária!” Bobagem, você tá negando algo que você precisa ter tempo também. Então, a qualidade de tempo é essencial, ter um tempo para não fazer nada.
P/1 - E o que é importante para você hoje?
R - A coisa mais importante hoje é o que eu faço estar sempre alinhado com propósito espiritual, é o mais importante. Então a Womma, eu lembro quando a Womma nasceu, muitas pessoas vinham me chamar no direct, “Nossa, que estratégia de marketing maravilhosa! Uma empresa de engenharia só para mulher!” E nunca foi uma estratégia de marketing. Quando ela começou, ela nasceu do coração. Quando eu entendi que eu trabalharia com mulheres, que ela teria uma questão social, eu fui fazer uma mentoria, para ela se tornar uma empresa social, me encaixei no ESG, na ODS, porque não queria falhar como líder, diante daquelas mulheres, eu precisava fazer aquela inclusão da maneira mais correta possível. É lógico, talvez não tenha acertado 100%, e nem quero, eu errei! Mas eu fui buscar isso. E a mesma coisa dá Wonce, quando a Wonce nasceu foi de uma inquietude, de uma insatisfação, de um desejo que veio. Eu sempre alinho isso muito bem com aquilo que eu vim para fazer. E alinho sempre para quem eu estou empregando, então to sempre perguntando, qual é a tua dificuldade, vamos fazer, vamos se ajudar, vamos crescer. É o mais importante!
P/1 - E quais são os seus sonhos, profissionais e pessoais?
R - Profissionais? Vamos começar pelos profissionais. O meu sonho é que a gente tenha uma rede de mulheres muito grande, homens e mulheres, que se ajudam, que crescem. Eu tenho desejo que toda mulher, que hoje fala que é autônoma, se enxergue como autônoma, como uma engenheira, se enxergue como uma
empresária, que ganha para isso! Que toda mulher que também está na obra, se valorize, possa trilhar sua carreira. Então, acho que isso é um desejo muito profundo, no profissional. E no pessoal, eu tenho desejo de ter uma casa bem grande cheia de gatos, é um desejo bem simples. Hoje moro num apartamento, mas tenho desejo de ter uma casa, com quintal bem grande, cheia de gatos, adoro gato!
P/1 - Você tem gatos hoje?
R - Eu tenho dois! Na realidade eles estão com guarda compartilhada com a minha irmã mais velha. Quando eu fui morar fora, o Alfredo e a Amora, ficaram, assim, se eu levaria, era uma viagem longa e eu conversei com a minha irmã, meu sobrinho adorou essa história. Falei com a minha irmã, eles já estavam habituados com meu sobrinho, com ela, a gente fez uma adaptação, levou eles, eles ficariam provisoriamente na casa da minha irmã, porque eu ia morar seis meses fora. E aí, quando eu voltei, até voltei de forma antecipada. Eu não tive condições de tirar eles de lá, porque o meu sobrinho, não tinha como. Isso porque ele tem doze anos, uma conversa rolaria. E aí, eu conversei com a minha irmã e falei: “Não, deixa eles aqui, eu visito, fica uma guarda compartilhada.” E aí, eles estão lá, o Alfredo e Amora, estão os dois lá. Amo gato!
P/1 - Crica, qual o legado que você deixa para o futuro?
R - Eu acho que o legado é a inclusão da mulher, é a liderança feminina. Mas é a liderança feminina, não pela força, não pela imposição, a gente escuta muito isso, como me impor na obra? Qual momento eu me imponho? Mas sim, entendendo quem você é realmente, em essência e se colocando a serviço do seu trabalho. Eu falo que a liderança feminina, ela tem um valor, se ela é pelo feminino e não pela imposição. Quando a gente precisa ter um impasse, uma luta, ela não é sustentável a longo prazo, a gente entra em Burnout, a gente tem dificuldade de lidar. Então, eu acho que o legado é isso, é ser mulher forte, corajosa e feminina na Engenharia.
P/1 - A gente já está chegando ao fim, tenho só mais duas perguntas: a primeira delas, é se você gostaria de deixar alguma mensagem ou contar alguma coisa que eu acabei não te perguntando?
R - As perguntas foram muito bacanas, acho que deu para contar bastante da minha história. E a mensagem que eu deixo, é sempre, não desista! Se hoje está com uma dor, se alguém te falou algo que balançou a tua carreira, se isso está te impedindo de ir para um próximo passo, te deixou em questionamento, se é Engenharia ou Arquitetura, a obra é para você. Vejo muitas arquitetas também passarem isso na obra, de acharem que não podem estar na obra, e podem! Não desista! Venha para perto de quem está fazendo, se aproxime, vai trocando ideia. Às vezes, tudo que uma mulher precisa é ter um ouvido, um lugar seguro para comentar um acontecido, para desabafar, entender que ali existe um aprendizado, mas que existe também um caminho de como fazer isso de forma mais leve. Acho que o grande recado é esse.
P/1 - A última pergunta é o que você achou de contar um pouco da sua história hoje para o Museu da Pessoa?
R - Maravilhoso! Eu quero na realidade agradecer muito o convite! E adorei saber da história do museu ali nos bastidores, com você Bruna. E contar histórias, isso é muito bacana! Muitas vezes a gente não dá valor a nossa história. E a nossa história importa, ela não é só minha, que seja inspiração, de cada mulher. Então, a história é muito importante, é muito bacana! Obrigada pelo convite! Parabéns pelo projeto, é lindíssimo! Eu acredito que quanto mais iniciativas levando mulheres a falar, contar histórias e mostrando mulheres da engenharia, isso é uma onda e vai reverberar para tantas mulheres. E vai servir de inspiração com certeza, não minha história, mas todas! Para muitas mulheres saberem que mesmo que, às vezes, o caminho tenha pedras, vale a pena!
[Fim da Entrevista]Recolher