Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020 e 2021
Entrevista História de Vida HV_056
Pedro Semprini - Irmãos Semprini
Ribeirão Preto, 23 de abril de 2021
Transcrita por Selma Paiva
P1- “Seu” Pedro, pra começar eu gostaria que você falasse o seu nome completo, a data do seu nascimento e o local que o senhor nasceu.
R- Data de nascimento: 16 de outubro de 1944.
P1- Legal. E o local?
R- Ribeirão Preto.
P1- E o seu nome completo é Pedro Semprini, ou tem mais nome?
R- Não. Pedro Semprini, só.
P1- Legal. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R- Meu pai era João Semprini. E minha mãe, Emília Pasquini Semprini.
P1- E o senhor conheceu os seus avós?
R- Não.
P1- Não chegou a conhecer?
R- Não cheguei a conhecer.
P1- O senhor sabe de onde eles vieram, pra chegar em Ribeirão?
R- Eles vieram de Rimini, Itália.
P1- Sim. E vieram direto pra Ribeirão, ou passaram por algum lugar antes?
R- Não, vieram pra Ribeirão.
P1- Pra trabalhar em Ribeirão. E o seu pai e a sua mãe, qual a profissão deles? O senhor sabe?
R- O meu pai era serrador. A minha mãe era do lar.
P1- E eles moravam na zona rural, ou na cidade?
R- Moravam em chácara. Cidade, né?
P1- Sim. Meio em volta da cidade, né?
R- É.
P1- Legal. O senhor tem irmãos?
R- Tenho.
P1- Quantos?
R- Nós éramos em quatro homens e duas mulheres.
P1- Sim. O senhor lembra da sua infância? Quando o senhor nasceu, onde o senhor morava?
R- Eu moro aqui desde quando nasci. Eu nasci na Rua Piauí, número três.
P1- E o senhor tem na memória como era a Rua Piauí? Onde o senhor morava quando era criança? Como eram as brincadeiras? Como era o ambiente lá? O senhor lembra?
R- Aqui era o seguinte: era chácara. As ruas de terra, entendeu? E a gente brincava de cadeirinha de cavalo, de bets. Brincava também de esconde-esconde, entendeu? (risos)
P1- Sei. Quer dizer...
R- Era uma série de brincadeiras que a gente tinha, que era muito saudável.
P1- Sim. Sim. E era perto, assim, se o senhor andasse um pouquinho, o senhor saía da cidade e ia pro mato? Tinha rio aí, onde o senhor pescava? O senhor gostava de nadar no rio? Tinha isso?
R- Não. Eu nunca gostei de água. (risos) Eu, de rio, assim, nunca fui atrás, não. Mas tinha rios, perto.
P1- Perto, né? E o senhor lembra se tinha na sua família alguma tradição italiana que veio dos seus avós? Tipo assim: comida italiana, música, dança, alguma festa italiana?
R- Não. Nessa parte aí, a minha família não tinha, não.
P1- Sim. Sim.
R- Música, essas coisas. Porque o meu pai era trabalho, trabalho e trabalho.
P1- E a serraria dele, “seu” Pedro, ficava em casa? Ou era longe de casa?
R- Não. Ficava no Centro da cidade.
P1- Sim. Ele saía e...
R- Ficava na Rua Sergipe, 116, era a marcenaria. E 125, era a serraria.
P1- Era a serraria. E o senhor costumava ir lá todo dia, quando era criança, assim? O senhor ia lá pra ajudar...
R- É. Eu levava o almoço, lá.
P1- Ah, levava o almoço?
R- É. Pros meus irmãos e pro meu pai.
P1- Ah, está certo. E o senhor lembra alguma coisa, assim, de final de semana, quando seu pai e a sua mãe levavam o senhor pra passear? Onde é que vocês iam, em Ribeirão?
R- A gente ia muito no bosque, né?
P1- O bosque que existe até hoje, né?
R- É.
P1- Sei. Muito legal. E na escola? O senhor frequentava a escola? Como era o seu dia a dia?
R- Eu fiz até a admissão. Eu fiz a quarta série. E a admissão. Só. Daí eu parei. Aí eu fui me tornar mecânico. (risos)
P1- Ah, sim. O senhor foi trabalhar com o seu pai, ou arrumou um emprego diferente?
R- A empresa era da família. Eu trabalhava com todos eles ali: meu pai, meus irmãos.
P1- Ah, sim. E como era o seu dia? O senhor saía de casa e ia pra escola primeiro, depois ia trabalhar? Ou quando o senhor começou a trabalhar já deixou a escola?
R- Não. Eu saía de casa, levava o almoço pra firma. E ia pra escola. Retornava e aí eu ia ajudar o meu pai a tirar serragem da ______ (6:20). Era uma serra que tinha um buraco, que a serragem caía. E, quando enchia, tinha que tirar. E eu ajudava o meu pai a fazer isso.
P1- Sim, entendi. E como era o comércio nessa época aí? Como era a cidade? A cidade era muito diferente, né? O senhor lembra de Ribeirão?
R- Ah, era diferente. O mercado era à beira do rio, na Francisco Junqueira.
P1- Sim. E a cidade era muito pequenininha, né? Comparando com hoje, né? Não era?
R- É. Comparando com hoje, era muito pequena.
P1- Sim. Sim. E o seu pai tinha muitos clientes, assim? Como era o dia-a-dia lá na serraria? Muita gente?
R-O meu pai era funcionário do meu irmão. O meu irmão mais velho que era o proprietário.
P1- Entendi. Muito bom. E aí o senhor, então, parou de estudar na quarta série e aí foi direto pro trabalho?
R- Aí trabalhei um tempo na marcenaria. Depois fui trabalhar de mecânico. Montei firma em 1971.
P1- Em 1971? Olha!
R- É. Eu montei uma firma: Auto Elétrica e Mecânica Semprini. É até hoje.
P1- Certo. E aí, já separado de seu pai e do seu irmão? Ou junto com eles?
R- O meu pai faleceu, né? Eu tenho um irmão também, que faleceu. Então, eu trabalhei com o meu irmão mais velho, que ele parou com a oficina e montou na casa dele, né, uma firma. Eu vim trabalhar com ele. Foi daí que eu montei, que eu fui trabalhar de mecânico.
P1- Sim. Sim. E onde o senhor aprendeu a mecânica? O senhor estudou em algum lugar? Ou foi na raça, mesmo?
R- Na raça. Eu sou especialista em Mercedes Benz. Em veículos.
P1- Sim.
R- É. E nós fazíamos aqui a parte elétrica e a parte mecânica. Eu fiz bomba injetora também.
P1- Que legal, ‘seu’ Pedro! Ma como o senhor conseguiu a prática pra conseguir montar a empresa mecânica de caminhões? O senhor pediu pra alguém deixar o senhor mexer no caminhão? Como foi?
R- Não. Quando eu montei a oficina, eu já era especializado. Eu trabalhava em concessionária.
P1- Ah, sim.
R- Até, na época, eu fui chefe da oficina, na concessionária.
P1- Então, antes de o senhor montar a oficina de caminhões Irmãos Semprini, o senhor foi trabalhar em outro lugar, numa concessionária?
R- Ah, sim. Trabalhei na ________ (09:30) S/A, que era concessionária Mercedes e trabalhei no Rápido Ribeirão Preto.
P1- Então, foi lá que o senhor aprendeu a mexer nos Mercedes Benz, no caminhão?
R- Eu aprendi desde novo, né? Quando eu fiz curso na Mercedes. Eu fiz dois cursos na Mercedes. Então, especializado.
P1- E esse curso foi lá em São Paulo? Ou foi em Ribeirão?
R- Foi em São Paulo. Na Mercedes, mesmo.
P1- Sim. Sim. E daí, como o senhor sentiu esse desafio de montar a própria empresa de mecânica de caminhões? Foi difícil, ou o senhor conseguiu os clientes mais rápido?
R- Pra mim foi muito fácil.
P1- Por quê?
R- Porque o conhecimento, eu saí de concessionária. Quando eu abri a oficina, freguês não faltava, entendeu?
P1- Sim. Entendi.
R- Então, a gente, até hoje, trabalha pra muitas empresas aqui de Ribeirão Preto. Estamos andando aí. Estamos com quarenta e seis anos de firma.
P1- Olha, que bom! Ô, “seu” Pedro, desde o início era no mesmo lugar a Irmãos Semprini?
R- É. Sempre no mesmo lugar.
P1- Certo. Entendi. E, por acaso, essa clientela que o senhor arrumou, que vinha deixar os caminhões com o senhor, era tudo gente de Ribeirão? Ou era caminhoneiro que vinha de tudo quanto é lugar do país?
R- De todo lugar. Tinha de todo lugar, tinha serviço. Cliente... tinha empresa e particulares, você está entendendo? Muitos caminhoneiros.
P1- Sim, entendi.
R- Nós fazemos trabalho hoje pra Companhia Paulista de Força e Luz.
P1- Ah, sei, pros caminhões dele?
R- Nós fazemos serviço pra Hemocentro.
P1- Entendi. “Seu” Pedro, o senhor só conserta Mercedes? Ou conserta as outras marcas também?
R- Não. Nós fazemos outras coisas também.
P1- Sei. E outra pergunta, “seu” Pedro: o senhor, no comércio, achou qual área do comércio mais difícil, assim? Porque tem o atendimento ao cliente, tem que consertar o caminhão, tem que fazer contabilidade, tem que saber preço de mercadoria que compra, que vende. O que é mais difícil no comércio, pro senhor?
R- O comércio, se você analisar, nada é fácil. Tudo você tem que correr trás, né?
P1- Sim.
R- Inclusive, quando eu trabalhava na concessionária, na vila tinha a Eucatex, tinha tudo, era por aí que a gente saía, né? Então, você passava a ter conhecimento de toda forma, número de peça, facilitava. Então, quando a gente montou a oficina, é lógico, nessa fase era um pouco mais difícil pra gente, porque a gente trabalhava com pouca gente e tinha que fazer quase tudo, entendeu?
P1- Sim.
R- Tinha um pouco de cada coisa e fazer.
P1- Está certo. E nesses anos todos, “seu” Pedro, o Brasil passou por um monte de crises econômicas, né? O senhor se lembra dessas crises? O que o senhor teve que fazer pra...
R- Eu, desde a Aeronáutica, eu sempre na Quarta Zona Aérea. Eu fiz o meu serviço militar na Aeronáutica, em Cumbica, onde hoje é o aeroporto internacional. E o restante foi em Pirassununga, o destacamento _______ (13:35) de escola da Aeronáutica de Pirassununga. E daí eu vim, voltei pra Mercedes. Aí eu fui fazer curso na Mercedes, de trinta dias. Fui duas vezes. Fiz curso da Bosch. Então, a gente, quando montou a oficina, a gente montou com certas bagagens, entendeu?
P1- Entendi. Sim.
R- E por aí, a gente foi adquirindo, fazendo, melhorando. Porque a gente construía a firma, trabalhando. Hoje praticamente nós estamos com quarenta e seis anos e estamos mexendo ainda na parte da firma. É sempre os reparos têm que ser feitos, né? A gente tem que correr atrás.
P1- Certo. E, “seu” Pedro, conforme a firma foi crescendo, o senhor foi contratando mais gente? Quantos funcionários o senhor chegou a ter?
R- Nós estamos em sete, oito funcionários. Assim, contando com os meninos, né, que limpam a oficina.
P1- Sei. E os caminhões que vão pra lá, ficam guardados aonde? Cabem lá dentro? Ou ficam em volta?
R- Não entendi.
P1- Os caminhões que o senhor conserta lá, na firma, ficam onde? Porque tem que ficar do dia pra noite, né? Cabe tudo lá no pátio?
R- O meu pátio lá é de trezentos e seis metros quadrados.
P1- Nossa!
R- É grande.
P1- Cabe tudo lá?
R- Cabe.
P1- Certo. Ô, “seu” Pedro, ainda falando sobre o comércio, né, sobre a parte do comércio, por exemplo: contabilidade, senhor era bom de Matemática, pra fazer contabilidade da empresa?
R- Não. Não muito.
P1- Passava pra alguém?
R- É. A gente tem contato, muito, com o escritório, está entendendo, de contabilidade. Fica próximo. Então, quando a gente tem alguma dúvida, vai pro escritório.
P1- Entendi. E, na época que o senhor começou a empresa e depois ela foi se desenvolvendo, onde o senhor adquiria peças? Quem eram os seus fornecedores? Onde o senhor comprava?
R- Nós tínhamos ______ (16:14), entendeu? Nós pegávamos peças da antiga Laguna e peça da concessionária Mercedes.
P1- Sei. A Mercedes entregava aí pro senhor, já? O senhor não precisava ir buscar?
R- Entregava.
P1- Entendi.
R- E Autopeça Nacional.
P1- Certo. Viu, “seu” Pedro, e conforme a empresa foi andando, chegaram os seus filhos. O senhor tem quantos filhos?
R- Eu tenho um casal.
P1- Um casal.
R- É. Que hoje, quem toca a oficina é um filho.
P1- Sei. O Junior. Eu falei com ele.
R- O Junior, é, porque eu me tornei diabético. Aí começou a me faltar um pouco de visão, entendeu? Eu fiz uma cirurgia no pé, precisei amputar uns dedos. Então, eu me afastei um pouco. Mas ele e um sobrinho tocam a oficina.
P1- Ah, está certo. E o seu irmão ainda é sócio do senhor na empresa?
R- É. Sebastião Semprini.
P1- Sebastião Semprini. Então, os dois primos tocam.
R- É isso. O Sebastião é eletricista. Eu sou o mecânico.
P1- Ah, está certo. Entendi. E como é que foi isso de passar a empresa que o senhor ficou tantos anos, pros filhos? Dá um certo...
R- Não. Foi automaticamente. Eles vêm crescendo e aprendendo com a gente. Quando pegou a mão, a gente soltou na mão deles.
P1- Interessante. Legal.
R- Mas já são eles que vão tocar.
P1- Sim. É verdade. Ô, “seu” Pedro, e como o senhor, ao longo desses anos todos, fez propaganda? O senhor fazia propaganda na rádio, no jornal? Ou era tudo boa a boca, mesmo?
R- Ah, eu fui membro da associação comercial, está entendendo?
P1- Sim.
R- E a gente, quando saiu da Mercedes e veio, a gente já montou com um nome. Daí eu não fiz muita propaganda, não. Veio tudo assim, normalmente, entendeu? Então, clientes da Mercedes vieram pra mim. E foi dessa forma. E foi crescendo. E tem época que você não consegue nem fazer tudo que aparece pra fazer, entendeu?
P1- Certo. E, “seu” Pedro, como o senhor foi se atualizando? Porque os caminhões de hoje são tudo modernos, tudo por computador, quase.
R- É.
P1- E os caminhões antigos eram diferentes. Como o senhor foi se adaptando a essa mudança aí?
R- Curso.
P1- Curso? O senhor foi fazendo curso.
R- É. Fazendo curso. Palestra. Tinha palestra de serviço, a gente estava. Pela Sindirepa, Sindicato de Reparação de Veículos do Estado de São Paulo.
P1- Interessante. Aí ia atualizando, né?
R- Ia atualizando. Hoje, o meu filho, por exemplo, faz muita eletrônica na firma. Porque hoje tem muitos veículos que vêm tudo na parte eletrônica. Eu mesmo não conheço a área. E eles já estão por dentro. É por isso que eu digo que, de agora pra frente, são eles que têm que tomar a reta, mesmo.
P1- É verdade. Ô, “seu” Pedro, o senhor não acha que os carros antigos, os caminhões antigos eram mais fáceis de mexer, do que esses de hoje? Hoje quebra uma peça de um carro ou de um caminhão, custa uma fortuna, porque é tudo eletrônico, né?
R- É.
P1- Antigamente, você trocava uma pecinha lá. O que o senhor acha disso?
R- Mas antigamente tinha muita falta de peça, viu?
P1- Ah é?
R- É. Tinha muita coisa que precisava ser recondicionada.
P1- Sim. Sim.
R- Então, a gente tinha que esperar muito tempo. Demorava mais tempo. Já hoje, não. Hoje tem mais facilidade com peça.
P1- Certo. E, na mecânica de caminhões, existiam formas de pagamento? No comércio antigo o pessoal tinha uma caderneta lá, que deixava marcado ______ (20:49).
R- Deixava marcado. Era tudo _______ (20:49).
P1- O senhor tinha isso?
R- Marcava. Eles pagavam por mês. Porque caminhoneiro, por exemplo, ia lá pra Porto Velho, longe, entendeu? Então, nem aqui eles ficavam, tanto. Então vinham, arrumavam e iam embora. Quando ia, voltava e vinha acertar.
P1- Ah, era assim? Hoje em dia não existe mais isso, né, no comércio?
R- Hoje, não. Hoje, ______ (21:16) mais fácil.
P1- Certo. Ô, “seu” Pedro, o senhor lembra quando começou a existir os computadores no comércio? O que o senhor achou disso? O senhor foi aprender a mexer?
R- Pra juventude, eu acho ótimo. Agora, pra mim, é caso do passado, já.
P1- Certo. Entendi.
R- Na associação comercial, eu fui dirigente de uma repartição da ACI. Que aqui em Ribeirão Preto nós temos os bairros. E cada bairro tem uma loja da associação comercial. E eu sou fundador de uma dessas lojas, aqui no Ipiranga, entendeu?
P1- Certo.
R- E faço parte do Lions, também.
P1- Ah, do Lions. Legal.
R- Do Lions.
P1- Sim.
R- O Lions é um clube de serviço que paga pra trabalhar. (risos)
P1- Sim. Eu sei. Eu conheço o Lions.
R- Conhece?
P1- Conheço. Ô, “seu” Pedro, e além do trabalho, né? Eu imagino que o senhor trabalhou pra burro, pra montar a empresa. E a empresa está de pé até hoje, né? Mas fora do horário de trabalho, o que o senhor gostava de fazer? Ou gosta até hoje, assim?
R- Olha, a minha maior fonte de renda é o trabalho. Porque a gente, como trabalhava com pouco funcionário, motores mesmo, é um serviço... eu montava motores só depois da hora, entendeu? E fim de semana, às vezes, sobrava resto de serviço da semana, no fim de semana eu terminava, com a porta fechada.
P1- Olha! Então, o senhor saía de casa cedinho, chegava lá na empresa que horas? E ia embora só de noite? Como era o horário?
R- Eu entrava às oito horas da manhã e ia até onze horas da noite, dez e meia.
P1- Muito trabalho, né?
R- Muito trabalho.
P1- E até final de semana, o senhor trabalhava, então?
R- Final de semana. Eu dava assistência a uma fazenda aqui na região, do finado “seu” Quintino Facci. E ele tinha fazenda de cana. E eu dava assistência pros tratores dele no fim de semana.
P1- Ah, olha. Quer dizer que o senhor nunca gostou de, por exemplo, passear um pouco aí em Ribeirão, ver o jogo do Botafogo, o senhor não ia?
R- Ah, o Botafogo, o Comercial, a gente ia.
P1- Ah, sei. O senhor torce pra qual, Botafogo ou Comercial?
R- Botafogo.
P1- Botafogo?
R- É.
P1- Tem a rixa aí, né? Sei. Ô, “seu” Pedro, e como é que foi a pandemia na empresa do senhor? Deu problema lá? Teve que fechar uns dias? Como é que ficou, na pandemia?
R- Lá fecha também.
P1- Fechou?
R- Fechou.
P1- Mas e aí? Os caminhoneiros ficaram como, assim? Não dava pra consertar?
R- A pandemia, você sabe que anula tudo, né?
P1- Sim.
R- Então, está todo mundo de acordo com isso aí.
P1- Sim. É verdade.
R- Mas nós, donos, nós, não estamos. (riso)
P1- Sim. É verdade. Viu, ô, “seu” Pedro, o que o senhor acha pro futuro? O seu filho tem intenção, assim, de ampliar a empresa, de abrir uma filial em outro lugar? Você já conversou com o seu filho sobre o futuro da Irmãos Semprini?
R- Olha, na verdade, nós estamos assim, o seguinte: nós temos a ideia de fazer o pé de meia. O pé de meia ajuda. (risos) Então, quando você tem certa idade, que nem no meu caso, eu não dependo mais da oficina.
P1- Sim.
R- Então, eu fiz as rendas. Eu tenho alguma coisa alugada, tudo. E é a minha vida.
P1- Entendi. Agora fica com o Junior, lá, né? Se ele quiser ampliar...
R- E ele já está bem começado, já. (risos)
P1- Já está bem começado. Certo.
R- Bem começado.
P1- Ô, “seu” Pedro, o senhor já tem netos?
R- Tenho dois netos.
P1- Dois netos. Certo.
R- Um de dez anos e um de sete.
P1- E um de sete. E a sua filha faz o quê? Que eu conversei com ela.
R- A minha filha trabalha na Johnson, em São José dos Campos.
P1- Sim. Que legal, né? E me diz uma coisa: como o senhor conheceu a sua esposa aí em Ribeirão? Como foi o encontro?
R- Eu trabalhava na Mercedes. E ela trabalhava na Bosch. E a firma era em frente. (risos)
P1- Ah. (risos) E o senhor a via, quando o senhor saía da...
R- Via.
P1- Entendi. Mas e aí? O senhor teve que ir lá, falar com ela, pra conhecer, né? Como é que foi?
R- A gente sempre estava conversando, né? Até uma hora que deu certo da gente sair e se dar certo. Assim foi a vida da gente.
P1- Interessante. Ô, Cláudia, você tem alguma dúvida, alguma pergunta aí?
P2- Eu tenho. Ô, “seu” Pedro, queria que o senhor falasse um pouco, assim, como era Ribeirão Preto, antigamente? Onde o senhor ia brincar? Descreve pra gente como era a cidade antiga.
R- Ah, Ribeirão era assim: nós, quando tinha a fábrica, o meu irmão tocava a fábrica de móveis, eu com doze anos, mais ou menos, ia na estação ferroviária despachar os móveis, né, pro estado de Minas, tudo. E era tudo selo. Naquela época, você tinha que ir no... como chama? Bom, ia _______ (27:48).
P2- Cartório?
R- Ahn?
P2- Ia no cartório?
R- É. Pegar o selo. E, na hora, eu ficava lá mais _______ (27:56), eu colava o selo na hora, porque senão eles roubavam, entendeu? (risos) Aí selava e despachava.
P1- E naquela época era tudo por trem, né?
R- Era por trem. Era trem. Naquela época, era trem.
P1- E o trem ficava, a estação ficava onde hoje é a rodoviária, né?
R- É onde hoje fica o que é a rodoviária, aqui de Ribeirão.
P1- Certo. E o senhor viajou muito de trem? O senhor pegou trem bastante tempo?
R- Muito pouco.
P1- Pouco, é?
R- É.
P1- Quando o senhor foi estudar em São Paulo, o senhor não foi de trem? Ou já tinha ônibus? Já era ônibus?
R- Fui de ônibus até perto de Pirassununga. E de Pirassununga a gente tomou o trem, que foi até São Paulo. Foi até Pirassununga, né? Aí eu fiz o recrutamento em Pirassununga, assim e depois eu fui pra Aeronáutica e _______ (29:12).
P1- Sim.
R- Lá eu fui de papa-filas. (riso). Era um ônibus grande, entendeu?
P1- Papa-filas. É.
R- ________ (29:20) seis, sete meses, no aeroporto.
P1- Certo.
R- Onde era o quartel da Aeronáutica.
P1- Sim.
R- Depois, aí eu fui soldado de primeira classe, também. Enquanto que aqui em Ribeirão Preto eu ganhava quatrocentos e poucos mil, naquela época, na Aeronáutica eu ganhava mil e duzentos.
P2- Nossa!
P1- Pouco, né?
R- É. Aí eu terminei o recrutamento aqui em Pirassununga. No destacamento precursor _______ (29:59) da Aeronáutica em Pirassununga.
P1- Certo. E o senhor chegou a aprender a mecânica de avião, também?
R- Não. Eu trabalhava em hangar. Mas o que eu fiz muito foi andar nos aviões da esquadrilha da Fumaça. Isso aí eu andei muito. (risos)
P1- É mesmo?
R- Eram quatro manutenções de hangares _______ (30:26), quatro manutenção de hangares. Aí eu dei baixa. Aí a minha mãe até... eu queria continuar. Hoje eu podia ser um oficial da Aeronáutica, né? Mas aí eu dei baixa. Aí eu vim, porque eu trabalhava na Mercedes, né?
P1- Certo.
R- E, assim que eu vim, fiquei mais uns tempos. Depois passei a chefe de oficina. E foi assim, a minha vida inteira, _______ (30:55).
P2- Quando o senhor deu baixa, o senhor voltou pra Ribeirão?
R- Ah, Ribeirão.
P2- Mas o senhor voltou pra qual bairro?
R- O bairro que eu moro?
P2- É. Quando o senhor voltou pra Ribeirão, que bairro o senhor foi morar?
R- No mesmo lugar. E vim morar a cinquenta metros longe de onde eu nasci. (risos)
P2- É na Vila Tibério? Ou não?
R- É Ipiranga.
P2- Ipiranga.
R- Antigo Barracão.
P2- Descreve pra gente como era o Ipiranga antigamente, “seu” Pedro.
R- Como?
P2- Como era o Ipiranga, antigamente?
R- Era uma consequência, uma coisa vinha atrás da outra, né? Então a gente viveu uma vida sempre com regras, tudo com método.
P2- É? E, assim, vocês iam na praça, brincar, passear? Na quermesse?
R- Praça. O dia inteiro. Toda semana. Todo sábado e domingo ia na praça. Era um cineminha e uma praça, né? (risos)
P2- Que praça era, “seu” Pedro?
R- Bom, eu ia na Praça XV, na Praça Coração de Maria, na Vila Tibério. E, no futuro, aqui no Ipiranga mesmo, na Pedro Biagi, Praça Pedro Biagi.
P2- Fazia um footing?
R- Ahn?
P2- Fazia o footing?
R- (risos) Fazia.
P2- Que era onde paquerava, né?
R- É. Era uma época boa, né, da vida. (risos)
P2- Ô, “seu” Pedro, e tinha festa da igreja, assim, quermesse, essas coisas? Ou não?
R- Igreja?
P2- É.
R- Igreja, eu sou cursinista. Então, a gente participou da igreja. E participa até hoje, né?
P2- Que igreja o senhor frequentava?
R- Na Vila Tibério, Coração de Maria. Hoje, aqui no Ipiranga, nós temos uma grande igreja, né?
P2- É?
R- Paróquia de São Pedro.
P2- E, assim, o cinema que o senhor falou, que cinema o senhor ia, “seu” Pedro?
R- Eu ia no Cine Avenida. Marrocos, o Cine Marrocos. O Cine Centenário
P1- Era tudo ali no Centro, né?
R- É.
P1- Tudo em volta ali da Praça XV.
R- O Marrocos era na Vila Tibério.
P1- Na Vila Tibério tinha cinema?
R- É. Agora, o Centenário, o São Paulo, eram no Centro.
P1- Entendi.
P2- E que filmes o senhor gostava de assistir?
R- Ah, bang-bang. (risos)
P1- Tinha muito.
P2- É clássico, né?
R- É.
P1- Certo.
P2- Muito bom. E hoje, o que o senhor mais gosta de fazer, “seu” Pedro?
R- Como?
P2- O que o senhor gosta de fazer, hoje, assim, como lazer?
R- Olha, eu pouco estou saindo de casa, entendeu? Eu gosto muito é de comer. (risos) Comer. Comida.
P2- Bons restaurantes?
R- Um peixe, né? Um peixe. Uma picanha também. (risos)
P2- Ô, “seu” Pedro, e o Pinguim?
R- Como?
P2- O Pinguim? A choperia.
R- O Pinguim, o chopinho, né, é muito bom.
P2- É bom ali, né?
R- Ahn?
P2- É bom ali?
R- É bom. O Pinguim é ótimo. Hoje, o chopp está em todo lugar, né? Nos shoppings tudo tem, na área de alimentação tem chopp, tem cerveja, tem de tudo.
P1- Certo. Antigamente, só tinha o Pinguim, de choperia? Ou tinha mais?
R- Não. Tinha mais. Mas o Pinguim era famoso, era um movimento muito grande aí, no Centro, né?
P1- E, “seu” Pedro, o senhor conheceu gente do Brasil inteiro, no seu trabalho? Porque tinha caminhoneiros que vinham de todos os lugares?
R- Você fala “concessão”?
P1- Não. Se o senhor conheceu clientes, caminhoneiros do Brasil inteiro? Eles iam na sua loja?
R- Conheci muitos do estado, né? Aqui em Ribeirão Preto, as empresas, por exemplo: bebida, tinha muito vinho que vinha do sul, né? Então, todos os reparos que tinha, eu tinha um cliente que tinha Bebidas MN, que quando chegava e tinha problema nos veículos, a gente que fazia socorro, pra eles.
P1- Certo. E da onde que tinha mais caminhoneiro? De que parte do Brasil vinha mais caminhoneiro?
R- Ah, isso aí é uma coisa... o caminhoneiro não tem ponto, você está entendendo? Hoje ele está num estado; amanhã está em outro. Cruza muito o transporte. Até hoje, né? Até hoje. Hoje, o caminhoneiro não para, né? É o que transita, é o que leva o Brasil pra frente, em cima de rodas.
P1- Exatamente.
P2- É verdade. Maravilha.
P1- Bom, Cláudia, você tem mais alguma pergunta?
P2- Eu tenho a última, né, que eu gosto de fazer: ô, “seu” Pedro, o que o senhor achou, assim, do nosso projeto, do senhor ter conversado com a gente, ter feito essa entrevista pra um museu, assim? O que o senhor achou de ter feito a sua história pra um museu?
R- Excelente. Muito bom. A gente agradece até a oportunidade de falar com vocês. E foi um prazer.
P1- Tá legal.
P2- Maravilha.
P1- Viu, “seu” Pedro, eu agradeço muito a participação do senhor. E o nosso fotógrafo aí do Sesc de Ribeirão, vai ligar pra senhor ou pra sua esposa, porque sempre que eu liguei, eu falei com a sua esposa, pra ele fazer uma sessão de fotos, talvez com o Junior, lá na mecânica, na Irmãos Semprini, pra poder sair no nosso material aqui também. Se tiver fotos antigas de quando o senhor era criança, quando o senhor começou nesse trabalho todo, ele também pode copiar, pra gente colocar na exposição, no livro, quando o livro sair. Tá bom?
R- Ótimo.
P1- Ele vai entrar em contato com o senhor, então. Então, eu agradeço muito o senhor. Desejo tudo de bom.
R- Pra todos.
P2- Obrigada, “seu” Pedro.
R- Obrigado vocês.
P2- Tchau, tchau. Bom dia. Tchau, tchau.
R- Tchau.
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