Projeto Memórias das comunidades de Paracatu
Entrevista de Ilda Alves Campos
Entrevistada por Nataniel Torres
Paracatu, 15 de setembro de 2022
Entrevista número PCSH_HV1306
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Agora a gente vai começar, eu vou fazer umas perguntas só para gente deixar registrado, tá? Então a senhora fala novamente seu nome completo, por gentileza.
R - Ilda Alves Campos.
P/1 - Qual sua data de nascimento?
R - 25 de agosto de 1943.
P/1 - E onde que a senhora nasceu?
R - Nasci na Fazenda Carneiro.
P/1 - Na cidade?
R - Na roça.
P/1 - Mas aqui em Paracatu mesmo?
R - Em Paracatu, mas na roça. Não foi em hospital, né, nada, foi em casa.
P/1 - Falaram pra senhora como foi o seu dia de nascimento? Como é que foi?
R - Uai, eles falaram para mim que eu nasci de madrugada, umas 4 da manhã e que eu chorei muito. De madrugada, da hora que eu nasci, ninguém mais dormiu. (risos)
P/1 - Mas que foi lá na roça, não foi no hospital que a senhora nasceu?
R - Não, não.
P/1 - Mas como é que fazia assim, que quando era na roça?
R - Ah tinha parteira, vinham nas casas pra...
P/1 - E explicaram pra senhora porquê que deram o nome da senhora de Ilda?
R - Não.
P/1 - Não tem problema. Qual o nome da sua mãe, dona Ilda?
R - Argentina da Fonseca Silva.
P/1 - A senhora chegou a conhecer a família da sua mãe, seus avós, seus tios?
R - Não, não. Nenhum. Conheci a minha mãe e uma tia. Ela era em duas irmãs e cresceram as duas. No fim, ficou tudo sozinha, nova, porque os pais morreram e elas ficaram.
P/1 - E qual o nome do seu pai, dona Ilda?
R - Meu pai chama Prisco Alves Campos.
P/1 - E a família do seu pai, Seus avós por parte de pai?
R - Meus avós chama...
P/1 - Não tem problema. Mas a senhora conheceu os seus avós, seu avô, sua avó por parte de pai?
R - Não. Nem de pai, nem de mãe. Nenhuma conheceu.
P/1 - Mas a senhora sabia se eles eram daqui de Paracatu mesmo?
R - Tudo daqui.
P/1 - Já era tudo, já morava...
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Entrevista de Ilda Alves Campos
Entrevistada por Nataniel Torres
Paracatu, 15 de setembro de 2022
Entrevista número PCSH_HV1306
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Agora a gente vai começar, eu vou fazer umas perguntas só para gente deixar registrado, tá? Então a senhora fala novamente seu nome completo, por gentileza.
R - Ilda Alves Campos.
P/1 - Qual sua data de nascimento?
R - 25 de agosto de 1943.
P/1 - E onde que a senhora nasceu?
R - Nasci na Fazenda Carneiro.
P/1 - Na cidade?
R - Na roça.
P/1 - Mas aqui em Paracatu mesmo?
R - Em Paracatu, mas na roça. Não foi em hospital, né, nada, foi em casa.
P/1 - Falaram pra senhora como foi o seu dia de nascimento? Como é que foi?
R - Uai, eles falaram para mim que eu nasci de madrugada, umas 4 da manhã e que eu chorei muito. De madrugada, da hora que eu nasci, ninguém mais dormiu. (risos)
P/1 - Mas que foi lá na roça, não foi no hospital que a senhora nasceu?
R - Não, não.
P/1 - Mas como é que fazia assim, que quando era na roça?
R - Ah tinha parteira, vinham nas casas pra...
P/1 - E explicaram pra senhora porquê que deram o nome da senhora de Ilda?
R - Não.
P/1 - Não tem problema. Qual o nome da sua mãe, dona Ilda?
R - Argentina da Fonseca Silva.
P/1 - A senhora chegou a conhecer a família da sua mãe, seus avós, seus tios?
R - Não, não. Nenhum. Conheci a minha mãe e uma tia. Ela era em duas irmãs e cresceram as duas. No fim, ficou tudo sozinha, nova, porque os pais morreram e elas ficaram.
P/1 - E qual o nome do seu pai, dona Ilda?
R - Meu pai chama Prisco Alves Campos.
P/1 - E a família do seu pai, Seus avós por parte de pai?
R - Meus avós chama...
P/1 - Não tem problema. Mas a senhora conheceu os seus avós, seu avô, sua avó por parte de pai?
R - Não. Nem de pai, nem de mãe. Nenhuma conheceu.
P/1 - Mas a senhora sabia se eles eram daqui de Paracatu mesmo?
R - Tudo daqui.
P/1 - Já era tudo, já morava aqui, já era daqui da região?
R - Só tem uma coisa, que o meu avô materno, eles procuraram o nome dele nos cartórios, não encontrou. A gente não sabe se ele veio de fora, como é que é.
P/1 - Ah, entendi. Mas e o do seu pai? Esse que a senhora está falando é materno. E os seus avós por parte de pai?
R - Eram todos daqui. Nasceram, criaram aqui.
P/1 - A senhora falou que nasceu na fazenda, né, na Fazenda Carneiro. Sua família já era dessa fazenda?
R - Já.
P/1 - Era dona dessa fazenda, sua família?
R - Era sim.
P/1 - E a senhora tem irmãos, dona Ilda?
R - Tenho, agora... éramos 10, agora tem eu e uma irmã, que chama Maria, e tem dois irmãos, um mais velho, bem mais velho que eu, um dos mais velhos, e eu. Somos quatro agora só.
P/1 - Mas eles tão por aqui por Paracatu, seus irmãos?
R - Um está, uma mora em Brasília, outro mora em São Paulo, um irmão, e o outro tá morando ali no São Sebastião.
P/1 - E vamos falar sobre a sua infância. O que a senhora fazia na época de infância? A senhora estudava, dona Ilda?
R - Olha, estudo antigamente era muito difícil, que eu vi falando... é uma coisa que eu não provo, eu vi falando. E eles criaram uma escola aqui. Então meu avô foi um dos criadores, junto. Aí deixaram tudo para ele pagar. Era pago, nessa época era pago. aí chegou um mês, ele pagou, chegou outro, ele pagou, chegou outro, pagou e ninguém procurou ele mais para pagar.
P/1 - Mas e aí que que aconteceu depois, dona Ilda?
R - Acabou a escola.
P/1 - Mas onde era essa escola?
R - Disse que era na Lagoa, mas não sei se é aquela. Tem uma escola onde eu estudei, inclusive eu estudei lá.
P/1 - A senhora estudou naquela escola que é da dona Maria Trindade?
R - Isso, antigamente era Graciano Calcado.
P/1 - E como é que era a escola naquela época, dona Ilda?
R - Ah, pra nós era boa, que a gente tinha aí era pelo estado, demorava muito às vezes os professor receber, parava a escola. A gente estudava 4, 5, 6 meses, parava, depois voltava de novo.
P/1 - E para ir para escola, como é que fazia pra chegar lá na escola?
R - A pé.
P/1 - A senhora ia de lá da fazenda onde morava a pé pra escola?
R - Pra escola.
P/1 - Mas alguém levava a senhora, a senhora ia com alguém?
R - Não, ia todos os menino, né? Lá em casa era um porção só.
P/1 - Aí vocês juntavam e iam todos andando até a escola?
R - Andando até a escola.
P/1 - E lá na escola...
R - Se chovia, a gente vinha molhando. A professora era dona Maria da Trindade, aí ela, quando armava uma chuva assim, ela mandava os meninos embora logo, que tinha córrego pra passar, de água, dois córregos. Aí mandava a gente embora: “Vai!”, e a gente obedecia. “Vai embora rapidinho e vai pra casa!” Tinha vezes que não dava tempo. Muitas vezes, a gente, antes de chegar em casa, a chuva vinha de cima primeiro, né? Quando a gente chegava, o córrego estava cheio. Aí a gente ficava debaixo do pau assim até esperar esvaziar mais pra eles pegarem cavalo, que a hora que parava de correr os pau, dentro da água. Aí eles pegavam o cavalo e atravessavam a gente pra casa.
P/1 - E quando acontecia isso, ficava um monte de criança junto aí, é isso? Ou às vezes a senhora ficava sozinha?
R - Não. Era 3, 4 crianças. nesse tempo ia 3, 4 pra escola.
P/1 - E vocês ficavam fazendo o que embaixo da árvore? Esperando?
R - Esperando passar a chuva.
P/1 - E vocês não ficavam com medo de ficar lá vendo chuva?
R - Não, não. Esperava a chuva passar, ele vinha também, de lá vinha, né, porque era destampado. Eles já vinham e pagavam o cavalo pra atravessar a gente.
P/1 - E nessa época que vocês eram crianças, que que a senhora fazia além de estudar? Tinha que trabalhar, tinha que fazer, tinha, dava tempo de brincar? Como que era?
R - Brincava nas mangueiras, lá debaixo das mangueira. fazia cozinhado (risos) debaixo das mangueiras, mas trabalhava também. Todo mundo começou de novinho, tudo trabalhando.
P/1 - Mas trabalho tinha que fazer o que na época? Que que a senhora fazia?
R - A gente, criança, meu pai que era fabricador de pinga, a gente pegava, lavava a garrafa, tudo, para eles fazerem essa embalagem, né? e de tudo a gente fazia um pouco.
P/1 - Que mais que ele fazia? A senhora contou que ele tinha plantação também, né?
R - Plantação de milho, criava porco e... deixa eu ver o que mais. Fazia açúcar mascavo. Hoje eu falo sempre, eu vejo o açúcar mascavo que eles fazem aí, não é igual o que antigamente, né? Que tinha as formas, fazia o melado, ‘punha’ para destilar aquilo. Sai um melado preto daquele açúcar e ela ficava clarinha. Era com barro.
P/1 - Mas a senhora viu fazer assim o açúcar, desse jeito?
R - Vi. Muitas vezes. Aqui nós fez.
P/1 - Mas vocês chegaram a fazer na fazenda aqui também?
R - Nessa também fez.
P/1 - Então, aí lá, me explica, fazia o melado e colocava o barro por cima do melado, é isso?
R - Fazia o melado, punha na masseira, ali, a hora que ela granulava... é que quando fala granulado, ela fica aqueles grãozinhos no melado. Aí pega esse melado, tem a forma, limpou, arruma tudo lá, põe, quando está, passa assim, depois batia ela bastante. A gente batia ela bem assim carcado. Depois de bem carcado, eu vinha com uma camada de bagaço da cana mesmo, punha em cima, tapava tudo. E aí fazia. O barro, qualquer barro, sendo uma terra limpa, pegava e fazia aquele barro, jogava em cima do bagaço, deixava lá. Ali ficava dias destilando. A hora que ele destilava, você ia lá abrir, tirava os bagaços, rapava aquelas impurezas de cima, jogava fora e pegava, tirava o açúcar, estava clarinho. Aí punha pra secar.
P/1 - A senhora chegou a ajudar a fazer esse trabalho?
R - Ajudei, nessa aqui eu ajudei.
P/1 - Então, mas quando era criança, não precisava fazer isso?
R - Não, era os outros que faziam.
P/1 - Entendi. A senhora só via fazendo.
R - Via fazendo. Agora, aqui eu ajudei meu pai fazer.
P/1 - Ah, porque seu pai chegou a fazer aqui também?
R - Fez.
P/1 - E nessa época que a senhora fazia esse açúcar, com seu pai, lá na infância, vocês vendiam o açúcar ou era só pra vocês?
R - Ele vendia. Naquela época era procurado, né, pra fazer remédio e tudo. Aquele açúcar era procurado.
P/1 - Ah, o remédio... o açúcar também era usado pra fazer remédio?
R - Era. Um monte de remédio fazia com ele. Fazia doce, tudo, com isso assim.
P/1 - Remédio que a senhora fala é remédio caseiro que o povo fazia?
R - Caseiro.
P/1 - E vocês usavam também remédio caseiro ou seu pai só vendia pros outros fazerem?
R - Não, ele vendia. Agora, o que ele fazia em casa, a gente tomava.
P/1 - Ah, porque ele também fazia remédio caseiro.
R - Fazia.
P/1 - Remédio caseiro, por exemplo, que remédio que vocês faziam?
R - Ele fazia até uma coisa que hoje está difícil demais. É uma salsaparrilha que dá as raízes desse tamanho assim, um pé dá _______ .Aí ele fervia aquilo, fazia o melado, engarrafava tudo. Os que tinha procurado, ele entregava, ia tirava 1, 2, deixava para a gente aqui, para tomar.
P/1 - E aí aquele servia pra quê?
R - Pra muita coisa, para qualquer impureza do sangue serve. essa salsaparrilha tem um valor que muitas vezes ninguém dá valor, mas tem. Ela desmancha qualquer caroço, ela desmancha.
P/1 - E seu pai tinha ela plantada lá na fazenda?
R - Não era plantada. Hoje é que eu falo, vem umas coisas que melhora e piora. aquele morro ali, ó, tinha demais essa salsaparrilha e hoje não tem porque acabou com o ouro.
P/1 - Lá no morro onde tinha? Mas elas eram selvagens, elas nasciam na
natureza mesmo?
R - Na natureza. Você pra arrancar um pé, era um buraco grande.
P/1 - Mas naquela época podia ir lá pegar?
R - Podia. Lá era do meu tio.
P/1 - Era do tio da senhora!
R - É.
P/1 - E depois, o que que aconteceu com o lugar?
R - Com esse negócio de ouro, mineração...
P/1 - Entendi, ele desfez da terra.
R - Ele morreu, né, antes, aí venderam ______.
P/1 - E como é que era a fazenda lá nessa época da infância? Lá quando a senhora nasceu e nessa época quando era criança, como é que eram as coisas lá na fazenda?
R - Igual quase. Melhor que... antigamente chovia muito, tinha fartura de água, tudo, e hoje não tem. Peixe, a gente saía andando assim, ó, você pegava na praia peixe com a maior facilidade e hoje não tem, que até o correguinho seca.
P/1 - O córrego secou, é isso?
R - Seca.
P/1 - Mas o que aconteceu com o córrego, dona Ilda?
R - Uai, correguinho seca aí acabando tudo.
P/1 - E a terra lá era grande, dona Ilda?
R - A fazenda inteira tinha, não sei se era, eu não guardo assim bem na cabeça não, mas tem uns 600, 300... 200 ou 300 alqueires. Eu não sei bem especificar a quantidade.
P/1 - Tranquilo. Mas além do seu pai, também tinha outras pessoas da família que tinham terra próxima, né, que a senhora contou do seu tio. Eram várias famílias?
R - Do meu pai, tinha uma porção de irmão. Tinha tia Joana, tia Maria, tia (Tior?), Júlia, tudo era irmão do meu pai.
P/1 - E cada um tinha uma terra, é isso? E essas terras eram todas próximas?
R - Tudo próxima.
P/1 - Ah então tinha um local que era basicamente só da família da senhora?
R - É.
P/1 - E aí, como é que era, você tinha primos que moravam próximo também?
R - Tinha.
P/1 - E aí, como é que vocês se juntavam? Quando tinha que fazer as coisas pras fazendas, como é que vocês, como é que as famílias... como é que a sua família se juntava? Como é que fazia?
R - A minha família, por exemplo, quando vai, eles falam ‘bater pasto’, é roçar. Meu pai fazia mutirão, juntava, que ele vinha. até na cidade vinha gente para trabalhar, fazer roçada, limpar a roça, tudo vinha. Fazia aquela, matava vaca, tudo, para fazer aquela comida pro povo. Todo mundo vinha satisfeita, alegre. não é igual a hoje, qualquer coisinha que vai fazer uma festa, tem briga e antigamente não, era muito difícil ter uma briga.
P/1 - E o pessoal se juntava pra fazer o mutirão...
R - Juntava.
P/1 - Pra roçar a terra que precisava roçar, é isso?
R - Roçar, capinar, limpar a roça, tudo eles faziam assim mutirão. Juntava gente demais, muita gente. A amizade era grande, né, então juntava muita gente, vinha, trabalhava o dia inteiro à tarde todo mundo preparado para festa.
P/1 - E esse pessoal, que que aconteceu com esse pessoal? Esse que a senhora falou que a amizade era muito grande. Como é que está hoje?
R - Olha, os que existem ainda... a maioria já morreu, né? existe ainda desses mais idosos. Tem a família Teixeira, que ainda tem. Mas tem os novos. A única idosa que tem dos Teixeira chama Anita, essa é a mais velha dos Teixeira. Agora, para cá de Tia Joana, que era a irmã do meu pai, tem a minha madrinha ainda, que é Domingas Duarte. E outros acho que já foi acabando tudo.
P/1 - E a senhora ainda tem contato, o povo ainda tem amizade? Como é que é?
R- Tem, graças a Deus. Às vezes a gente, a idade vai chegando pra gente também, a gente anda menos, tudo, custa mais ver, mas todo mundo se comunica, né? Não tem inimizade, graças a Deus.
P/1 - E deixa eu te perguntar: a gente tava falando da infância, na época lá na fazenda, nas terras da sua família, tinha energia elétrica na época?
R - Não.
P/1 - E aí, como é que vocês faziam?
R - Lamparina. Lamparina de querosene e de azeite. Tinha uma vasilha bem assim ó, e ela tinha meio um bico aqui, a gente fazia um pavio com algodão, torcia ele, punha dentro.
P/1 - Mas vocês mesmos montavam esse pavio?
R - Montava. Qualquer um faz.
P/1 - Mas e o querosene e o azeite, vocês produziam também ou vocês compravam?
R - O azeite, produzia.
P/1 - O azeite também fazia.
R - É, fazia da mamona.
P/1 - Mas fazia o azeite da mamona também?
R - É.
P/1 - Ah não, e como é que era esse azeite da mamona que vocês faziam? A senhora chegou a ver, fazer?
R - Vi! Eles pegavam a mamona, punha num pilão, socava ele e jogava dentro da água, aí a hora que fervia, eles iam apanhando o óleo. Depois fritava aquele óleo, engarrafava, que era de fazer as lamparinas.
P/1 - Aí esse óleo, colocava na lamparina também e ele servia pra...
R - Chamava candeia. O ‘trem’ chamava candeia, que eu ouvi o povo falar. Candeia.
P/1 - E era o que vocês usavam pra iluminar à noite?
R - Pra iluminar. a gente estudava tudo com essas coisas. Às vezes estava trabalhando de noite, acendia as candeias pra poder estudar.
P/1 - E vocês acordavam cedo, dormia tarde? Como é que era?
R - Todo mundo dormia cedo e levantava cedo também. Não era... menina, tudo, levantava cedo.
P/1 - E vocês tinham costume religioso também ou não, dona Ilda?
R - Tinha.
P/1 - Aí quais eram os costumes religiosos de vocês? Como é que vocês cumpriam?
R - A gente ia à igreja toda vida. Que eu conhecia é essa aí, da Lagoa de Santo Antônio.
P/1 - Da igreja da Lagoa mesmo?
R - É. A gente ia pra ela. Do meu tempo pra cá, tinha um mês. Uma vez por mês, no terceiro domingo tinha a missa e a gente ia tudo, todo mundo.
P/1 - E naquela época, como vocês iam? Vocês iam de carro? Como é que vocês faziam pra?
R - Nem existia carro. (risos) Carro era a maior novidade do mundo.
P/1 - Demorou pra ter carro lá?
R - Ô!
P/1 - Por que, vocês faziam as coisas a pé? De que jeito vocês faziam?
R - Carro de boi, tinha carro de boi. Eu lembro do meu pai contar - isso eu não vi -: quando tinha que buscar as coisas, buscavam em Pirapora, eles juntavam aquele tanto de carro de boi e iam lá para pegar as mercadorias. Trazia até pra cidade mesmo, muita coisa para cidade. De carro de boi.
P/1 - E carro, carro mesmo, automóvel, demorou pra ter, dona Ilda?
R - Demorou.
P/1 - Quando vocês foram ter automóvel?
R - Automóvel, eles mesmo, nenhum teve. Era carro de boi, carroça. Daí veio bicicleta, essas que era... andava era a cavalo, não era... tinha carro de boi.
P/1 - A gente...
R - Ia daqui pra Unaí tudinho de cavalo. não era... menino, pra batizar... eu fui batizada numa casinha que tem ali. Hoje é uma casa de festa lá, que era de seu Afonso Rodrigues. Lá, sempre os padres vinham da cidade, ‘posava’ aí. Eu fui batizada aí.
P/1 - E aí a gente estava falando que não tinha energia elétrica. E para escutar música, vocês escutavam música, não escutavam? Como é que era? Porque aí não tinha rádio, né?
R - Nem rádio. Quando veio o primeiro rádio de pilha, vixe, foi uma alegria pra todo mundo. Ouvia os programas de rádio, tudo. Não tinha nada, não tinha luz, energia, né?
P/1 - E quando foi que chegou esse rádio de pilha? Você era criança ainda, dona Ilda, ou não?
R - Era criança, assim, de uns 15 a 16 anos, mais ou menos por aí.
P/1 - E quem trouxe esse rádio pra casa?
R - O primeiro rádio que eu vi foi dum primo meu, que era filho de uma tia. ele vinha com radinho de pilha, chegava e juntava aquele povão, tudo para ouvir. Mas depois que foi melhorando.
P/1 - E o que que vocês ouviam naquela época, dona Ilda, no rádio? Que que tinha no rádio?
R - Ouvia muito o programa de Zé Béttio. Depois vem Aparecida do Norte. De São Paulo, né? Eles falam Aparecida do Norte, mas é de São Paulo. A gente pegava muito a Rádio Aparecida.
P/1 - E música? Que costume que vocês tinham de música? Porque a senhora falou do rádio. Aí quando vocês não ouviam música no rádio, ouvia como? Ou não ouvia?
R - Os povo cantava, né? Naquele tempo, o povo tinha cabelo muito melhor do que hoje, aprendia rapidinho. Ouvia uma vez no rádio, cantava tudo, né? Mas... hoje tem muita facilidade, mas eu acho pior. Muita coisa melhorou, mas muito piorou. A gente saía... se você batesse um facão na cabeça de uma estaca ali, podia ficar até ano lá, ninguém apanhava, ninguém mexia nas coisas, não tinha essa ‘ladroagem’ que tem hoje.
P/1 - E aí depois a senhora tinha contado que estudou, né, que a gente tava falando da escola. e a senhora estudou até quando?
R - Terceiro ano.
P/1 - E aí depois, que que aconteceu?
R - Aí ficava em casa trabalhando. Serviço caseiro, de casa.
P/1 - E aí quando a senhora era mocinha, como é que foi essa época da juventude?
R - Lá em casa, nós éramos 10. Ainda vinha sobrinho do meu pai. Tudo vinha lá para casa, a gente trabalhava, tudo, ficava lá. Era uma meninada de noite, brincava de roda, tudo. (risos)
P/1 - Vocês brincavam de roda naquela época? Mas como é que era essa brincadeira? Como é que vocês faziam, dona Ilda?
R - Ah brincar assim de roda, dava a mão, saia cantando aquelas músicas de antigamente mesmo e brincava.
P/1 - E essa época que a senhora era mocinha, já ia em festa, não ia? Como é que era?
R - Eu fui uma das que menos foi em festa, que eu era mais nova, né? Eram quatro irmãs e uma era de criação, elas três iam sempre na festa, mas eu não ia. E com isso, eu fiquei. Não sou festeira.
P/1 - Mas a senhora naquela época queria ir pra festa ou também não queria?
R - Não importava. A gente importava em ir, não.
P/1 - E as irmãs mais velhas, gostavam de festa?
R - Gostavam! Elas gostavam muito de ir em festa. Iam à cavalo, iam de a pé, longe, tudo, mas ia.
P/1 - Era festa de que, dona Ilda, naquela época?
R - Tinha muitas festas. Eu falei nos mutirão, todos os mutirão tinha festa à noite, né? Então eles iam, tinham essas festas e eles iam.
P/1 - Vamos falar do mutirão, porque tem gente que às vezes não conhece. Como é que é esse costume do mutirão? Conta para mim.
R - O mutirão é assim: por exemplo, você está com uma roça e ela está suja, está plantada, tudo, mas está suja, está precisando limpar, aí faz uma reunião, um chama um, chama outro, chama o outro, vai chamando, e ali vai comunicando, quando você ver tem 100 pessoas para limpar tudo. Limpa tudo num dia só! Deixava tudo limpinho. Se era para limpar a roça de milho, limpava tudo e deixava limpinha.
P/1 - E depois que estava tudo pronto?
R - A festa à noite. Tinha comedoria, biscoito, muito. Hoje acabou tudo, parece que nem existiu essas coisas!
P/1 - E quem montava essa festa quando era do mutirão? Como vocês faziam para montar a festa?
R - O dono da fazenda pegava, chamava uns e ali eles se comunicavam uns com os outros, iam chamando, um chama um, outro chama outro, tudo e...
P/1 - E para fazer os biscoitos, bolo, como é que fazia?
R - Tinha as mulheres também que juntavam tudo para ajudar.
P/1 - Então, e a senhora estava contando que a suas irmãs iam nessas festas, mas a senhora era mais nova e não ia.
R - Não ia.
P/1 - E aí, nessa época, suas irmãs começaram a namorar? Como é que foi esse período?
R - Foi namorando, casou tudo. Uma casou com gente de... todas as duas casou com gente da cidade, e a que foi de criação casou com um moço da roça mesmo também.
P/1 - E essa de criação apareceu como lá na casa da senhora? Como é que foi?
R - Ela apareceu assim: elas perderam pai, mãe, e ficaram duas irmãs, e acho que dois irmãos também. Eles tinham que trabalhar, né, saíam para trabalhar e tudo. Aí a irmã pediu para o meu pai primeiro, aí ele falou com ela: “Não, você fala com a Argentina lá, se ela aceitar, tudo bem”. Aí ela foi e conversou com mãe, pediu... ela perguntou ela o que que ela queria, ela falou assim: “Do que suas filhas usarem, comer, beber, vestir. Só isso que eu quero”. E assim foi. Não era assim exigindo, ordenado, nem nada.
P/1 - E ela ficou como irmã de vocês também?
R - Como irmã. Ela faleceu, 8 anos, daí pra frente. Não sei bem, não. Eu sou meio ruim de idade.
P/1 - Tranquilo! E como é que era... vamos falar do seu pai e da sua mãe agora. vamos falar do seu pai primeiro: como ele era? Como ele era como pessoa?
R - Simples, uma pessoa mais simples possível. Todo mundo era amigo dele, tinha muita amizade, tanto na cidade como na roça. Ele era bem conhecido. e se estivesse aqui hoje para falar...
P/1 - Mas seu pai gostava de conversar?
R - Gostava demais! Ele conversava era muito mesmo. Não é igual a eu, que eu converso muito pouco. Você tá me perguntando e estou respondendo. (risos)
P/1 - E a sua mãe, como é que ela era, dona Hilda?
R - Minha mãe também era mulher simples, humilde. Todo mundo humilde.
P/1 - Mas ajudava nas coisas da roça também?
R - Ajudava, em casa, né, que na roça não dava para ela ir. Além da meninada que tinha, ainda tinha que fazer o serviço de casa, né? Naquele tempo, nem uma máquina para limpar arroz, era a coisa mais difícil, limpava o arroz todo no pilão. Juntava aquela porção de gente, pilava o arroz no pilão pra ter o arroz limpo.
P/1 - E para cozinhar, como é que fazia em casa? Era sua mãe que cozinhava também?
R - Minha mãe e essa minha irmã, as duas mais velhas. A Júlia e a Aurora. Todas as duas já morreram.
P/1 - E o que que elas cozinhavam, dona Ilda?
R - De tudo! Arroz, feijão, abóbora, jiló, carne. O povo comia muita carne naquele tempo. Já eu não sou chegada. (risos)
P/1 - E doce, o povo fazia doce?
R - Fazia doce.
P/1 - Que tipo de doce que elas faziam?
R - Doce de leite, doce de laranja. muito doce, fazia.
P/1 - Mas aí era doce das coisas que vocês produziam mesmo? por exemplo, o leite das vacas, ____ que era do pé da fazenda.
R - É. Tudo da gente mesmo, que lá tinha. Lá tinha um quintal que fazia orgulho da gente ver e tudo: tinha laranjeira, limeira. Você podia deitar no chão assim, ó, apanhar ali e chupar, deitar debaixo do pé. Tinha muita! Depois foi acabando tudo. Vai lá hoje, não tem quase nada.
P/1 - Mas por que que acabou, dona Ilda?
R - Olha, o povo fala que quando o dono morre, que as coisas, desiste na hora. E parece que é. Lá depois também vendeu, né, trocou. De troca. E o que chegou, cortou muita árvore, mangueira. Mangueira de qualidade que eu nunca vi em lugar nenhum por aqui, lá tinha.
P/1 - E a pessoa que comprou depois, cortou tudo isso?
R - Cortou tudo, acabou tudo. Só ficou laranjeira, abacate, que não tem mais também, abacate. Jabuticaba ainda tem, caju. Fruta assim, tudo tinha.
P/1 - E para lavar roupa, como é que fazia na época? Tinha máquina, não tinha? Como é que era?
R - Máquina era a praia. (risos) A gente fala praia, mas aqui não é praia. É um correguinho, né, que era chamado de São Domingos. Hoje eles mudaram o nome dele, não sei porquê. Desde pequena, eu conheço o córrego de São Domingos. Tinha o São Domingo e o Santo Antônio. Aí eles mudaram o nome, ouvi falar em Ribeirão do Neto, ali perto da ponte ali, passa mesmo, Ribeirão do Neto.
P/1 - Mas ainda tem água lá?
R - Tem.
P/1 - Mas o povo não vai mais, não usa mais aquela água?
R - Não. Hoje todo mundo tem tanque, tem máquina, já lava a roupa em casa.
P/1 - Mas naquela época que vocês iam lavar a roupa, como é que fazia pra lavar?
R - Pegava as bacias, ia pra praia, lá lavava roupa, punha para quarar naquela ‘areiona’ lá, quarava. Roupa branca que ficava limpinho! Que só se vendo! Dava gosto de ver.
P/1 - E quem lavava roupa naquela época?
R - Todo mundo.
P/1 - A senhora chegou a lavar lá também?
R - Cheguei. Lavei muita roupa lá. Lembro de um dia que eu estava lá e veio uma chuva. Um sol quente! Veio uma chuva de repente assim, e eu tava meio distraída com pouco eu tava vendo as roupas. Começaram levantando, estava abrindo uma enchente e eu catei a roupa, saí para cima para não rodar, se não rodava.
P/1 - Mas aí conseguiu salvar as roupas?
R - Salvou tudo. Era... ó, uma coisa que existia: honestidade de muitas partes. As mulheres andavam sozinhas, ficavam na praia lavando a roupa, tudo, sem ninguém importunar. Já hoje, qualquer pedacinho que a gente vai andar, a gente já tá cismado, né? Se ver uma pessoa diferente, a gente já fica cismado.
P/1 - E quando é que as coisas começaram a mudar, dona Ilda? Porque a senhora falou que antigamente era de um jeito e hoje não é mais desse jeito, que até o povo fica cismado. Que que será que aconteceu, dona Ilda?
R - Não sei. É essa evolução que teve. Foi bom para um lado, ruim para outro.
P/1 - Então vamos falar dessa época. O que foi acontecendo nessa época que a senhora foi ficando adulta?
R - Já foi mudando tudo.
P/1 - E como é que era lá na sua casa nessa época? Seu pai, sua mãe estavam lá com a senhora, a senhora ficou com a casa, com eles, né?
R - Fiquei.
P/1 - E aí, que que aconteceu nessa época? Que as irmãs começaram a casar e a senhora foi ficando com eles.
R - Eu fiquei com minha mãe, né? Daí ela também adoeceu, logo morreu. E depois que ela morreu, foi que a gente mudou de lá. Vendeu lá e fez aqui.
P/1 - E o que que sua mãe teve, dona Ilda?
R - Ela morreu com problema no coração. Aquele tempo era tudo mais difícil, né, não era igual a hoje. Quando conseguiu tratar, já não valeu mais.
P/1 - Mas naquela época ia pro hospital ou tratava em casa? Como é que era?
R - Ia no médico. E tinha aquele negócio que às vezes a pessoa adoecia também, não ia no médico e ia uma pessoa lá, conversava com o médico, explicava, o médico dava a receita. Deus ajudava, (risos) curava, né?
P/1 - Mas sua mãe chegou a fazer o tratamento do coração?
R - Fez, mas não valeu mais.
P/1 - A sua mãe faleceu com quantos anos, dona Ilda?
R - 61? não sei, 61 ou 62.
P/1 - Enfim, mas aí quando ela faleceu, vocês moravam ainda lá naquela outra fazenda?
R - Morava.
P/1 - Que era sua fazenda de nascimento.
R - Ela morreu um ano... ela morreu em 70, 72 a gente veio pra aqui.
P/1 - Então vamos contar sobre esse período. Por que que vocês acabaram vindo para cá, que que aconteceu, dona Ilda?
R - Porque... agora que eu lembrei o nome do homem. Doutor Hugo trocou uma fazenda pelo pedaço lá, depois ele deu pro asilo esse pedaço.
P/1 - Aquele, essa terra que a senhora morava, hoje é de um asilo, é isso?
R - É. Eles vinham querendo é vender o... que era difícil pra eles, né? O homem que comprou, queria que trouxesse aquela velharada tudo pra cá, pra roça. E lá eles foram criados, mas não é isso que acontece, né?
P/1 - E naquela época que o doutor Hugo então trocou com o seu pai, até, negociou, né, para trocar a terra, aí como é que foi? Seu pai veio visitar essa terra ou foi o doutor Hugo que ofereceu essa aqui para ele? Como é que foi?
R - Ele foi lá e gostou muito de lá, então ele pegou e fez isso. Ele já era de idade também, já era advogado aposentado, tudo, e pegou... ele tinha lá na fazenda São Pedro, que tinha um pedaço lá, então ele trocou.
P/1 - E aí a senhora tava contando que aqui teve que fazer a casa, né, seu pai fez a casa. Como é que foi essa época?
R - Naquele tempo ainda chovia, pra você ver. Chovia, os pedreiros chegaram aqui e acharam que eles iam começar a casa de novo, porque choveu muito e as paredes já estavam altas e feita daqueles tijolinho e falou: “Ô meu Deus, hoje vai, nós vamos fazer parede de novo”, mas não fez.
P/1 - Aí como é que montou a casa? Que a senhora estava me explicando, foi seu pai que montou a casa do jeito que ele queria, né? Ele chamou empreiteiro para fazer, né?
R - Eu não lembro mais o nome dos empreiteiros. Está tudo aí... não, um já morreu, mas outro está aí. dois eram novos, saíram uns dois. Mas eu esqueci, não sei se é Carmelito que ele chama. Eu acho que sim.
P/1 - Aí montou a casa do jeito que seu pai queria.
R - É.
P/1 - E na época que seu pai veio para cá, ele já queria, ele queria continuar cuidando do gado, queria continuar fazendo as coisas?
R - As mesmas coisas.
P/1 - Mas vocês tinham cabeça de gado lá na época?
R - Tinha!
P/1 - E aí trouxe as cabeças de lá para cá?
R - É, trouxe pra aqui. Daqui tinha outro lugar para lá também, na fazenda... uns falam Ribeirão, outros falam Baú, que era para lá.
P/1 - E com a produção do gado, seu pai fazia o que com o gado? É leiteiro o gado, é isso?
R - Não, era gado comum. Naquele tempo fazia queijo, fazia requeijão, fazia creme.
P/1 - Mas seu pai fazia tudo isso também?
R - Fazia. O creme, a gente desnatava o leite, levava para o laticínio pra Paracatu.
P/1 - Para vender ele?
R - É. Aí depois é que veio a cooperativa.
P/1 - Ah porque depois começou a vender para cooperativa?
R - É.
P/1 - Ah não, mas aí como é que foi essa época? Conta para mim. então que antes vocês levavam lá no laticínio, né, que a senhora está falando. e depois, como é que chegou a cooperativa?
R - A cooperativa, eles formaram a cooperativa lá na cidade e aí pegaram os leites no caminhão. Enchia todas as latas, chegava aqui, pegava o da gente e levava. Depois foi normalizando tudo, que hoje vem os caminhões na porta.
P/1 - Mas quem formou a cooperativa? É o próprio pessoal que produzia o leite que formou a cooperativa ou a cooperativa veio de outro lugar?
R - A cooperativa foi formada na cidade e eles, fazendeiros, né, tinham os fazendeiros que juntaram pra fazer...
P/1 - Mas seu pai chegou a ajudar nessa parte também?
R - De conversa, ele ajudou. Mas foi uma conversa que ele era muito amigo do doutor Ademir da Silveira e... esqueci o nome do outro. Os três conversaram lá e nessa conversa, ele usou, juntou e fez a cooperativa. Já ele não participou assim...
P/1 - Sim, mas assim, depois que ele produzia, aí ele sempre mandava para a cooperativa? A cooperativa que vinha buscar o leite, é isso?
R - Ia buscar na porta. Até hoje busca na porta.
P/1 - Ah, isso ainda tem até hoje?
R - Tem.
P/1 - Aí como é que eles fazem agora? eles vem de caminhão, é isso?
R - De caminhão. Os caminhões vêm, pegam... hoje os caminhões já são refrigerados, tudo organizado, o leite chega lá frio.
P/1 - E a senhora ainda produz leite?
R - Ainda. Pouquinho, mas produz.
P/1 - Aí a vaca é ordenhada e vocês colocam o leite num tonel, é isso?
R - Aqui tem o tanque, os tanques pra refrigerar, mas aqui ainda não tem ordenha. Os meninos tão querendo pôr agora, eu falei com eles: “Isso é vocês, não é eu mais”. (risos) Já estou de idade, a gente já não... é igual um negócio que hoje todo dia tem veterinário na porta, pra olhar pé de vaca, esses ‘trem’, mas eu falo: “Tudo isso é o curral, curral acimentado estraga os pés das vacas”. Eles falam que não, mas eu falo assim: “Ó o curral ____ , varrer ele todo dia, raspar, varrer, que fica asseado, a mesma coisa”. Você viu os moços passando aí com as vacas e ele é o tirador.
P/1 - Mas hoje, pra tirar, tira como? Tira na mão mesmo o leite?
R - Ainda está tirando na mão. Agora os meninos tão querendo comprar ordenha porque tá muito difícil você arranjar um vaqueiro que fique na fazenda um ano, dois anos, três anos. Ele já tá com nós desde quando meu pai morreu, ele tá com a gente.
P/1 - Então vamos voltar a falar do seu pai. Então vocês vieram para cá, Ele montou a fazenda, Continuou trabalhando com as coisas aqui, né?
R - As mesmas coisas.
P/1 - E as duas coisas, além do gado, ele também tinha uma roça, né, que cuidava aqui.
R - Tinha, plantava. Agora não está plantando assim mais porque fez tudo pastagem e o tempo agora não ajuda, que naquele tempo chovia muito, você plantava, tinha os tempos certos de plantar, colher e tudo e hoje já tem muita seca, perde muito com seca, então fez tudo pastagem.
P/1 - Mas quando ele produzia a roça aqui, aqui era roça do quê? Nessa terra.
R - De milho. Plantava mais.
P/1 - E aí ele plantava e vendia também o milho ou ele era só para vocês?
R - Ficavam um pouco para casa e vendia também saco de milho.
P/1 - E aí, que que aconteceu com seu pai depois? Que seu pai já faleceu, né, dona Ilda?
R - Já.
P/1 - O que aconteceu com ele depois?
R - Que ele morreu?
P/1 - É.
R - Ele adoeceu, foi pra cidade e não saía sem não pegar o chapéu. Esse dia, a última vez que ele foi, ele não pegou o chapéu. Quando... e eu fiquei aqui. aí um dia eu fui lá para ver ele, ele olhou para mim e falou assim: “Olha, hoje mesmo o médico teve aqui, mas essa remedeira toda que pegou aqui hoje, não vai valer de nada, que hoje mesmo eu vou partir”. Ele falou pra mim assim. E quando foi ali 7 e meia, 8 horas da noite, ele morreu.
P/1 - Aqui na casa da senhora mesmo, ele faleceu?
R - Na cidade.
P/1 - Ele estava na cidade?
R - Estava.
P/1 - E o que que ele tinha? Que que o médico falou que ele tinha, dona Ilda?
R - Eles falaram que foi, era suficiência pulmonar, mas não sei. Era coisa que falava assim. Tinha, fazia exame, tudo, mas não era igual hoje, que hoje... antes, ele teve problema de próstata que foi preciso ir para Belo Horizonte pra operar. Mas operou, ficou são pelo menos, não tinha mais nada.
P/1 - O problema foi o pulmão mesmo?
R - Fala que era. A gente não sabe.
P/1 - Mas seu pai tinha fumado ou não, ele não era fumante?
R - Não... é, foi. De novo, ele _____.
P/1 - Mas isso quando ele era mais novo, ele fumava, era isso?
R - Aí um dia ele foi fazer um cigarro, existia umas binga desse tamanho assim e ele fazia assim, a gente falava reco-reco. Aí ele passou o dedo naquele ‘trem’ até começou a ferir o dedo, e não acendeu o cigarro. Pegou a binga, jogou fora, pegou o fumo, já tava chegando na fazenda de um amigo dele, ele já veio de lá com a palha toda: (risos) “O fumo tem, agora, a benga não, tem não, fogo não”, que ele jogou tudo fora. “A partir de hoje um cigarro, mais um, nem nada”.
P/1 - E depois não fumou mais, mas ele ficou bastante tempo sem fumar depois? Porque isso que a senhora tá contando, ele era mais novo.
R - Era novo ainda, bem mais novo. Daí não se agarrou mais de jeito nenhum. Bebia, mas controlado ele bebia. Ele gostava muito de por aí, fez muita garrafada pros outros. Disse que era pra curar reumatismo, muita coisa. Eu conto uma coisa, todo mundo, às vezes, fala assim: “Ela está inventando”. Ele foi... a minha mãe costurar, mas ela não sabia fazer o paletó. Costurava calça, camisa, mas o paletó ela não dava conta. Ali tinha uma senhora chamada Sineta, ele levou o pano para ela fazer. Chegou lá, ela falou: “Hoje eu não posso, agora não posso fazer pra você. Você vai ter que levar o pano, arranjar outro”. Aí ele falou: “Por quê?”, ela mostrou para ele, ela estava com as pontas dos dedos assim, as pontas dos dedos endureceu. Aí ele falou assim para ela: “Não vou nem levar o pano, vai ficar aí. Vou fazer um remédio para a senhora, você vai ver”. E fez, tinha umas garrafinhas de guaraná desse tamanhinho, ele fez... fazia o litro cheio, aí tirou pra ela na garrafinha. Mandou o menino lá levar. Passou uns dias, foi uma senhora na casa dela com o mesmo jeito, com as mãos, a mesma coisa, as duas tomaram esse remédio e as duras sararam com esse remédio. Eu não sei que raiz foi que ele pôs, nem nada. Tem algum tipo que o povo usa muito que chama cainca.
P/1 - Chama como?
R - Cainca.
P/1 - Cainca?
R - É. Também era assim, ele arrancava e já punha in natura logo, que você pode tomar banho, frio, quente, que a gente não tem nada, mas não deixa secas a raiz para tomar que aí vai fazer mal. E eles levaram para ela, passou uns dias, ela mandou falar “Pode vim buscar o paletó”. As duas sararam. Uma estava assim, tomou, sarou, ela guardou o restinho. A outra chegou lá, ela pegou e deu para ela, pro dedo dela, sarou as duas. Ele fazia um monte de remédio pra gente que disse que era reumatismo, essas coisas. Ele conhecia raiz que… senhora!.
P/1 - Mas a senhora chegou a ficar doente de alguma coisa e tomar algum remédio dele e melhorou? Você lembra de alguma história assim, dona Ilda?
R - Não. Porque essa gente mais velha, uns benzia, fazia muita coisa. Ele mesmo benzia.
P/1 - Mas seu pai benzia também?
R - Benzia. Se uma cobra mordesse uma pessoa ou um bicho, sei lá, o povo já pedia a ele pra benzer logo. Não ia lá não, ele pegava um copo de vidro, desses copos americanos, punha a água dentro e benzia. Se fosse morrer, falava: “Esse não vai escapar”. Se fosse viver, ele falava: “Vai viver! Não vai ter nada!”. Aqui mesmo o moço foi ‘ofendido’ de cobra, ele benzeu, sarou, viveu, morreu há uns poucos anos. Uns 80 e tantos anos.
P/1 - E quem tinha ensinado essa coisa pro seu pai, para benzer? Alguém o ensinou para ele?
R - Não sei, aí eu não sei. Sei que ele tinha esse dom, né, de benzer. Benzia de bicho ruim, benzia de dor de cabeça e fazia remédio, assim, pra muita gente.
P/1 - E alguém da família seguiu esse exemplo dele, ou ninguém seguiu essa coisa do benzer?
R - Não. Eu não...
P/1 - Era só ele mesmo que fazia?
R - Tinha muito irmão que... ele tinha o dom, mas ele não acreditava. Que nós estávamos numa sala lá na outra casa ainda e aí chegou um senhor lá, aí era benzedor também, e aí estava a meninada toda, rapaziadinha, tudo lá, ele pediu um caderno. Aí ele pegou o caderno, deu para ele, ele fez umas orações. Dentro de todos, ele escolheu um. Justo o que não tinha fé! Aí um dia eu tava na outra fazenda e uma vaca passou mal, já tava revirado o olho da vaca, aí o vaqueiro: “Olha, eu não sei ler, você faz essa oração aqui para mim”, a mesma oração que ele tinha ganhado. Ele benzeu a vaca, foi, acabou de benzer a vaca, levantou saiu na carreira. Aí é que ele acreditou que ele tinha uma força dada por Deus, né? não é da gente. Porque muita gente falava: “Eu sei benzer”. “Sei benzer”, mas não tem força. Às vezes até sabe a oração mas não tem força. Depende da força de Deus pra gente, né?
P/1 - Mas depois disso ele passou a acreditar?
R - Passou.
P/1 - Mas aí ele começou a benzer depois disso? Ou não?
R - Só se pedisse também. Se não pedisse, ele não benzia não.
P/1 - Entendi. Mas a partir daí ele começou a fazer porque era uma coisa que ele não fazia antes?
R - É. Ele tinha o dom, mas ele não gostava de fazer aquilo.
P/1 - Então deixa eu falar dessa época que a senhora ficou adulta, a senhora ficou com seus pais. Depois a senhora não casou, né, não teve filhos, mas a senhora me contou que depois criou uma pessoa, o que que aconteceu? Como é que foi essa história?
R - Ele veio pra aqui, foi uma mulher... ela mora ali, ela existe ainda. Ela trabalhava com cajueiro e o cajueiro mudou de lá e largou ela lá, não sei o que que um dia meu irmão foi lá e encontrou ela lá, tava passando necessidade. Ele ficou com dó, pegou ela, trouxe pra aqui. Ela ficou aqui uns tempos, daí saiu. E esse menino, ela me deu ele para batizar. Eu batizei. Aí quando ela saiu, um homem aí, estava numa fazenda e lá não tinha aula, de escola, ela pegou e pediu para ele ficar aqui, se eu quisesse ficar com ele, para eu poder ficar, e eu fiquei com ele. Aí ele estudou aqui no grupo da Lagoa, daí foi pro grupo da cidade, mas só que lá ele começou a (pintar?), tem uma semana inteirinha não foi na escola e ali tem umas meninas que era amiga da gente ali, Maria Josefa e Maria José, me contaram. Ele ficou com uma raiva que contou. Mas voltou para escola, dei nele uma bem dura. Ele voltou para escola. Mas também passou, saiu, não queria estudar mais. Depois disso, já entrou na escola duas vezes até terminar um grau lá que ele queria.
P/1 - Qual o nome dele, dona Ilda?
R - Ele chama Cristóvão.
P/1 - Cristóvão?
R - É.
P/1 - Mas aí ele não quis estudar mais?
R - Não.
P/1 - Mas aí, trabalhava? Ele não estudava, mas trabalhava.
R - Trabalha.
P/1 - Aí trabalhava com o quê?
R - Hoje mexe com caminhão. É motorista.
P/1 - Ele está com quantos anos agora, dona Ilda? Ele já tem trinta?
R - Acho que mais. Eu sou ruim de data.
P/1 - Não, não tem problema. Mas ele já é adulto hoje?
R - É.
P/1 - Hoje ele casou já também?
R - Casou, tem 2 filhos. Inclusive sofreu, que um dos meninos pequeno dele pegou o mal do câncer. Caminhou muito pra Barretos. Mas Graças a Deus o menino sarou. Só se vendo!
P/1 - Ele levava o menino pra tratar, é isso?
R - É, lá em Barretos. Eu mesma fui lá com ele. Ele nessa época não tinha carro e eu tinha, então emprestava pra ele ir lá: “Vamos ir passeando também”, e eu ia. Lá tinha as casas de apoio, né? A gente ajudava, viu? Chegava na casa de apoio, tinha que ajudar. Parte de comida, ajudar a limpar vasilha, tudo, a gente ajudava.
P/1 - Nessas casas de apoio que a senhora está contando?
R - É.
P/1 - Mas o que que eram essas casas de apoio?
R - Que o povo ia pra tratar, ficava nelas.
P/1 - E tinha que ajudar, quem chegava lá?
R - Quem chegasse, ajudava.
P/1 - E aí a senhora ia também e ajudava eles lá?
R - É. eu ia passeando, eles iam pra tratamento. Eu conhecia o hospital lá, tudo em Barretos. Mas que eu ia com eles.
P/1 - Mas o menino curou depois?
R - Curou, está aí são. Mora na cidade, lá no bairro lá. Até esqueci o nome do bairro.
P/1 - Tudo bem. Mas eles ainda vem visitar a senhora aqui?
R - Vem, sempre vem. Um dia... e ele bebe. O dia que ele bebia muito, brigava lá com a mulher, ia parar aqui: (risos) “Vim dormir com a senhora aqui hoje”. E eu um dia tinha tomado um remédio, que eu tava ruim pra dormir, a médica passou um remédio e eu tomei. Mas apaguei de um jeito que ele chegou, chamou até! Eu não vi nada! Aí dormiu dentro do carro. Quando eu levantei cedo, ele tava lá.
P/1 - E deixa eu perguntar dona Ilda, depois a senhora ficou adulta, as suas irmãs tinham casado, e para a senhora, a senhora não quis casar? Ou não... o que que aconteceu na época?
R - Ai, eu acho que tudo é sorte, né? Cada um vem com uma sina.
P/1 - Mas a senhora chegou a namorar? Sim ou não?
R - Não.
P/1 - Ah, nem chegou?
R - Nunca foi ninguém lá em casa: “Ah, esse é o namorado de Ilda”, não.
P/1 - Porque depois a senhora ficou cuidando dos seus pais também, né?
R - Fiquei.
P/1 - A senhora era a filha Caçula, é isso, né?
R - Das mulheres, eu era a caçula. tinha os homens, mais novos, que deles já morreram um bocado. e tem um em São Paulo... Hoje é só quatro. Eu aqui, o outro tá morando ali no São Sebastião, o outro em São Paulo e a outra em Brasília.
P/1 - Que a senhora estava até me contando da sua irmã que mora em Brasília.
R - É, ela mora em Brasília. Os outros...
P/1 - Hoje, aqui na fazenda, a senhora fica sozinha? Ou como é que faz aqui?
R - Não, aquele moço desses lados, ele fica comigo aqui direto.
P/1 - E essa fazenda foi a que era herança dos seus pais, né? Você dividiu com seus irmãos ou ficou só a fazenda para senhora? Como é que vocês fazem hoje isso?
R - Foi dividido pros irmãos todos. Essa, era essa aqui, a que trocou um pedacinho daqui e a outra lá com o Ribeirão. E saiu uma aqui, um pedaço aqui pra um, pra outro.
P/1 - Mas hoje essa fazenda aqui é da senhora e a senhora que administra e...
R - Isso, esse pedaço aqui é meu.
P/1 - A senhora tem acesso a associação, a senhora conversa com o pessoal? Como é que é?
R - Olha, eu ia muito. Hoje... eu fiz até parte da associação, mas daí eu desisti. Vai chegando idade, vai afastando.
P/1 - Mas a senhora chegou a fazer parte da Associação do Cunha?
R - Isso.
P/1 - E como... a senhora viu como é que começou a associação?
R - Começou assim: veio um padre aqui e eu tinha uma cunhada chamava Abadia, ela era muito religiosa. Inclusive, morreu nova. Mas ela tinha esse problema de chagas, né, e morreu nova. Estava no hospital, que tinha um remédio que ela só podia tomar lá, e com essa ela estava lá, meu irmão foi lá visitar ela com este menino aí. Ele não tinha chegado em casa quando a notícia que ela tinha morrido. Mas é da vida, a gente passou por tudo isso.
P/1 - E da associação? Aí a senhora estava contando, foi como isso?
R - A associação foi fundada, foi ela, o padre - esqueci o nome do padre agora - Alfonso Pastore. E esse padre fez muita igreja por aqui. Aí então ele chegou, pediu o lugar, pediu pra ela, mas ela como era nora, ela veio cá, ela ainda me perguntou primeiro: “Será que se eu pedir pro seu Prisco, ele vai dar?”. Aí eu falei: “Ah dá, pra igreja”. Aí ele deu um pedaço. Eles fizeram a igreja juntar a turma toda fazendo ______. Aí tinha... nessa época, era ela, os filhos de cumpadre João Evangelista, tudo fez parte pra fundar a associação.
P/1 - O que a associação reivindicava? O que ela queria? O que ela estava buscando na época?
R - Era a religião, da igreja, né? Católica. Logo que fez a igreja, demorou muito e logo que fez a igreja, morreu também.
P/1 - Qual é o santo da igreja?
R - São Bernardo.
P/1 - Mas aí depois conseguiu fazer a igreja?
R - Fez. A igreja, quando ela morreu, já tava pronta. Um dos dois cabeças da igreja, mais forte que era, era ela e Zé Santana, que é irmão de Benedito Santana.
P/1 - E aí depois que montou a igreja lá, depois que construíram a igreja, aí como era a comunidade naquela época?
R - Olha, vocês que anda assim já mexe com muita coisa, comunidade é uma coisa boa nuns pontos, mas quando você vê, uma pessoa... uns quer aparecer mais do que outros, né? E às vezes quem trabalha mesmo, no duro, é o menos favorecido da comunidade. a gente fala deles, é uma coisa, outra, mas ela não se importava não, ela falava o que tinha que falar, saía daqui, ia pro ______, ficava lá, adquiria... fundou a associação. Depois da igreja, foi associação. Foi seguindo assim.
P/1 - E na época da associação, aí quando fundou a associação, que que a associação estava buscando? Que que eles estavam pedindo?
R - Melhoramento pro lugar.
P/1 - Que tipo de melhoramento, por exemplo? Que que eles queriam que melhorasse na época?
R - Muita coisa. Tinha, na época que fundou a igreja, começou com pesagem de criança, melhoramento para as crianças, tudo, né? Depois das crianças, foi evoluindo cada vez mais, né?
P/1 - Porque eu sei que o pessoal da associação também fazia um forró, não é isso? Tinha o Forró do Cunha que era pra ganhar um dinheiro pra ajudar, não era?
R - É. Esse dinheiro não era tanto pra igreja, não. Ajudava eles lá. Não sei nem quem que... de festa, eu quase não participei.
P/1 - E a senhora falou que até uma época participou da associação.
R - Participei da associação lá na tesouraria. Mas às vezes a gente fala uma coisa, no princípio falou: “Vamos fazer tudo e cada um dá uma quantidade, né?”. E aí eu mesma fui uma dessa que falei: “Podia ter, arrumar uma conta num banco, que o que fosse recebendo, depositava”, né, porque de repente _____ não tem um recurso. Tinha que pagar um acordo de qualquer coisa da associação, tivesse esse dinheiro... mas nunca que fez isso, né, e nada, até hoje.
P/1 - E depois a senhora saiu da associação?
R - E eu saí foi logo, não quis mexer mais não porque a gente é velho, às vezes eles não dão valor. A gente pensa muito bem, mas eles não dão aquele valor devido.
P/1 - Mas hoje a associação está lá, o Passarinho vem aqui conversar com vocês de vez em quando, com a senhora?
R - Eu gosto até muito dele, que da vez que ele já foi candidato uma vez, ele não ganhou, mas teve gente, eu sei que teve gente até da família dele que não votou pra ele, nós tudo aqui votou pra ele. É a mesma coisa do Donato. Eu não votei, eu larguei de votar. falei: “Eu não vou votar mais”, pra quê?
P/1 - A senhora não votou mais por causa da idade, parou de votar.
R - É. Eu parei, eu adoeci. 2 anos de política, eu adoeci, então eu não fui votar. E também não fui justificar. Eu falei: “Ai, gato velho mesmo não precisa mais” e parei.
P/1 - Mas aí a senhora estava contando do Passarinho. Então o Passarinho ele vem aqui conversar com a senhora de vez em quando?
R - Vem. A gente gosta muito dele. Ele é um dos mais, eu falo mesmo a verdade. Depois da Abadia, o mais esforçado é ele. E ela pegou do chão pra cima e ele já tinha esse rancho ali, que até foi ela que construiu esse rancho, eles compraram, foi comprado o lote lá. Mas compadre João ajudou, os filhos dele, tudo ajudou.
P/1 - E hoje, pelo que o Passarinho fala, que que a associação está buscando agora? Que que ele fala pra senhora?
R - Uai, ele pretende muita coisa, inclusive o conserto do rancho, né, que ele pegou para fazer, está lá tentando terminar. tem um negócio da água aí. A gente vai falar, fala demais.
P/1 - Não, fala o que a senhora quiser. Então tem a água, e aí?
R - Quando arrebenta um cano, aí só tem ele, mais uns dois ou três que vai e ajuda pra cavacar, pra trocar aquele cano e tudo. Uai, é obrigação de todo mundo, não é só dele, né? Eu acho assim: se é associação, todos tinham que ajudar.
P/1 - Porque essa água que a senhora está falando, é a água que vai pra todo mundo aqui do povoado?
R - É. E tem o poço... inclusive, o meu poço foi Inácio que deu. o ____ furou, tudo, aí eles fizeram o exame da água, estava dando muita (ferrugem?). E além da ferrugem, diz que deu manganês, não servia mais pro uso da gente. Aí mudou de lugar, foi fazer lá na Mesa de Deus, de Santana. Lá tem outro problema, mas serve pras outras coisas tudo. agora, para beber, essa água não é boa não, que é muito calcário. Ataca os rins demais, né? Então, mas essa aqui serve aí.
P/1 - A senhora tava contando então, esse primeiro poço que tinha manganês, que a senhora contou, era nas terras de vocês?
R - Era logo ali.
P/1 - Vocês doaram pra poder abrir um poço lá?
R - É. Depois desativou o poço.
P/1 - E como é que tá agora, como é que tá essa água do poço?
R - Uai, é lá no quintal de Benedita Santana, ela doou também o lugarzinho lá, furou, montou a bomba. A bomba, eles ganharam, fizeram... foi a RPM que acho que deu. Nessa época até ainda foi Abadia que fez. Ela não pegou dinheiro, não pegou nada e recebeu as coisas tudo. Poço, furou o poço, montou bomba, tudo, ela não pegou nenhum tostão de dinheiro da associação. Eles já dava as coisas, né? E acho que é o mesmo que Passarinho tá conseguindo também.
P/1 - E agora...
R - Eu tenho meio certeza.
P/1 - E agora eu entendi que é essa questão da água também, que precisa resolver, porque é uma água que vai pra todo mundo aqui do povoado.
R - Vai.
P/1 - Mas a senhora tem água sua aqui na sua terra ou não, como é que faz? A senhora tem poço?
R - Hoje eu tenho poço ali dentro de casa, que nunca secou, graças a Deus. De quando fez a casa, fez o poço, nunca secou. Mas pra dar ao gado era muito, né, aí eu furei um mini poço. Também é o que dá para mim aqui, para o vizinho ali, dois vizinhos ali.
P/1 - Tem água da rua também, água de...
R - Eles têm.
P/1 - Ah então tem essa água que vem de cada um dos lugares assim.
R - O dali isolou porque foi de cá para lá. Mas até ainda falei com eles: “Ó, não isola de tudo, porque sei lá se uma hora eu preciso”. Aí, mas tá isolado, até pra lá. vai de lá até aqui.
P/1 - E vamos falar, fazer uma comparação: como era a comunidade antigamente, como é que é a comunidade hoje?
R - Olha, hoje nuns pontos está melhor, porque Passarinho é até muito comunicativo, ele é uma pessoa boa e eu não tenho nada de dizer contra ele. E ele luta para fazer, mas o povo em si não ajuda. Tem gente não gosta de pagar a conta da água. Tem gente aí que desde quando fez, furou o primeiro poço, aí tinha dois que vinha para pegar o dinheiro, nossa, era uma dificuldade para receber esse dinheiro, e hoje ele não paga de jeito nenhum. Tem a água e ele não gosta de pagar, isso eu acho errado, porque se a gente tá sendo beneficiado, por que não pagar? Quando a água vinha aqui para mim, eu o depósito era até esse tanque aí que era pra vacas. Eu pagava todo mês. até ainda falei com ele: “Mesmo eu não sendo beneficiada agora, eu ainda quero... qualquer hora dou a porção, a gorjeta aí pra ajudar, né?
P/1 - E o povoado, como é que ele era no passado? tinha essa quantidade de pessoas, não tinha? Como é que acontecia?
R - Não, aumentou muito. Tem muita gente de fora já, não é só o pessoal daqui mais.
P/1 - Mas o pessoal que era dessa época antiga, ainda está aqui? Como é que está agora?
R - Dessas mais antigas tem Benedita, dos mais antigos. dona Benedita, dona Benzinha, Ali um dos que foi presidente, morreu, que era Zé Santana. Muito morreram e muitos tão aí.
P/1 - E o pessoal que está aqui agora, do povoado, eles ainda seguem aqueles costumes ou não, como é que é agora?
R - Olha, eu, para falar bem a verdade para você, agora eu não estou participando de quase nada. Se eles precisarem de mim com uma coisa, eu tô pronta para servir, eu sirvo, mas eu não vou em reunião, não tô indo em nada. E eu tive doente, fiquei ruim mesmo, um tempo aí, que eu falei: “Agora eu vou embora”, mas Deus é grande que eu sarei, ainda tô aqui. Não ando muito mais não, a idade também já ajuda a gente.
P/1 - E aí depois também chegou a barragem aqui, né? A senhora chegou a ver a barragem sendo construída? Vocês sabiam que a barragem estava sendo construída? Como é que foi esse período?
R - Olha, eles chegaram e já foram... compraram, que na época o meu tio tinha morrido, quem ficou organizando essas coisas daí foi Jeci. E Jeci também já morreu. Eles foram comprando pedacinho por aí, um pedaço aqui, outro ali, outro acolá. Depois veio o medo do povo, da barragem estourar. Todo mundo com medo. até um dia, eu falo, Deus que me perdoe, mas eu sou justa, eu não gosto de injustiça, eles fizeram um negócio lá que um ‘trem’ disparou aí, todo mundo ficou com medo, cego, guiando cego, tinha uma mãe com um filho, os 2 já sem enxergar nada, um deu o braço pro outro, saiu pra rua em tempo de carro matar e tudo. Quer dizer, eles foram tudo correndo, tudo doido, com medo. E eu estava aqui tão tranquila.
P/1 - Mas nesse dia que disparou, a senhora chegou a ouvir o disparo? Ou não?
R - Ouvi, mas eu achei que fosse carro. Passa muito carro aí vendendo as coisas, fica anunciando em alto falante. Eu tava trabalhando, nem estou pensando em nada não, e o povo correndo em tempo de que os que moram aqui pra beira, correram pra cidade, outros correram aí pro lado do ranchão do _____ . Teve muita coisa e eu estava aqui. E aí o menino, o meu sobrinho chegou, falou: “Que que é aquela reunião grande? Tá ali um povão”. Eu falei: “Reunião?”, “É”. Eu falei assim: “Não tô nem sabendo de nada”. Ele falou: “Vou lá saber o que que é”, quando chegou, ficou sabendo que era isso. O povo correndo, um corre pra aqui, outro pra ali, falaram a você a verdade, que eu fiquei com dó desses dois. Ele ainda está aí, se chama... esqueci o nome dele. Era a mãe dele, a mãe morreu, e ele era Lito, não? Esqueci o nome dele. Eu esqueço muito o nome dos outros. Sei que os dois cegos, vendo vulto, mal, e os dois deram o braço e saíram para rua. Falei: “Gente, isso é uma coisa muito ruim para o lugar, porque além de quem tá correndo com medo, só quer saber de correr, né?”. E ainda lembro que aqui tem um menino e ele falou para a mãe dele: “Mãe, a senhora não vai - ele me chama de vó -, você não vai chamar a vó para ir não?”. Aí ela falou: “Não, ela vai”. Ela falou que eu ia, ele calou. Ele lembrou das duas avós, que é Benedita Santa lá e eu aqui. Ele falou assim: “Não vai levar a vó, não? Vai deixar ela aí pra morrer?”, e que todo mundo ficou com medo, né?
P/1 - A senhora está perto da barragem ou a barragem está longe daqui?
R - Daqui vê ela lá. Mas eu acho que é aquela de cá, a de lá _____.
P/1 - Mas por que que a outra a senhora acha que tem perigo?
R - A de cá secaram ela mais ou menos, não tá seca de tudo não.
P/1 - Mas essa aqui é qual? A barragem que a senhora tá falando que tá seca. Qual que é essa?
R - Que eles fizeram de cá do morro e a outra do outro lado do morro e lá vai enchendo de terra, a terra de cá já está igualando com o morro lá. aquilo ali, quando a gente era criança, andava aquilo lá tudo. Meu padrinho morava lá e daí eles venderam, mudou para outro lugar.
P/1 - Mas lá era o que, era mato nessa época, nesse lugar?
R - Era mato. O povo trabalhava fazendo roça por lá, lá chamava Sapateiro, tinha um monte de sapateiro, ou então Santo Antônio, que tinha a praia ali, Santo Antônio.
P/1 - E esse lugar que era o Sapateiro, hoje é o lugar que é a barragem?
R - É, onde é a barragem.
P/1 - Então esse pessoal que era do Sapateiro, tudo teve que sair de lá depois?
R - Saíram tudo. Tinha o meu tio, ele já tinha morrido na época, ele já tinha morrido. Alguns inquilinos dele moravam lá. Até tinha inclusive uma senhora chamada Romana, vendeu um pedaço para ela, separou um pedacinho que ela cuidava, e ajudava a cuidar dele, ele era sozinho, e ela lavava roupa, passava, ia lá sempre. Às vezes ia até mais que a gente, que ela tinha uma meninada, os meninos iam sempre lá, voltavam. Mas ele morreu e depois que ele morreu, aqui vendeu para essa _____ aí.
P/1 - Aí ele vendeu e depois aí esse lugar virou a barragem?
R - Que virou a barragem.
P/1 - A senhora chegou a ir lá na barragem alguma vez, já viu como ela ficou? Ou nunca foi lá?
R - Eu fui lá uma vez, ainda estava baixinha. Ano passado, não sei. O povo teve indo lá, mas eu no dia, eu não fiquei sabendo, não fui não. Não sei ir.
P/1 - E a senhora contou desse negócio de ter disparado e aí depois falou que correu, e aí, o que que aconteceu depois?
R - Uai, eles falaram que foi um alarme falso, não sei como, o que que é. Tem gente que entrou até na justiça por causa disso, mas ninguém até hoje não recebeu nada.
P/1 - Mas o pessoal veio conversar com vocês e falar que era um alarme falso, é isso?
R - Não, ninguém falou.
P/1 - Mas como é que vocês ficaram sabendo?
R - Ficamos sabendo porque a conversa roda, né, e aí a gente ficou sabendo. Mas sei que, fala que é perigoso. E eu, da de cá eu não tenho medo. Agora, da de lá eu tenho, que a de lá o ‘trem’ é perigoso. Eu já vi, quem passa na rodovia vê um mundo d’água tem um descambada assim pro lado, que eu fui lá para ver uma igreja velha, que até eu não sabia o nome, foi esses que eu fiquei sabendo que é Igreja São Sebastião e que era de um pessoal de Uberlândia, antigos de Uberlândia. Eu tive lá e eu li lá coisa de 1700, lá no Cruzeiro. Aí deixou deteriorando, deteriorando, acabou. E eu fui lá e ela já estava... eles tinham até feito, que ela era feita de adobe, então tinha lá os adobe, tudo, pra fazer, refazer. Vi falando agora esses dias que iam refazer ela.
P/1 - Mas ainda tem a ruína da igreja lá? Ainda tem o alicerce da igreja?
R - Tinha. Eu não sei explicar se ainda tem, porque dizem que puseram fogo lá. Eu não sei.
P/1 - Puseram fogo na mata, na região?
R - Eu sei que eu fui lá pra ver, aqui tinha um menino que ele morava, morou lá por perto, então eu pedi a ele: “Vamos lá” e ele me levou lá. Nós fomos de carro.
P/1 - Mas a senhora chegou a ver a estrutura da igreja?
R - Vi, parecia que era muito bonita a igreja, tinha um coro igual essa da igreja, dessa Igreja Santo Antônio, que tem um coro, lá também tinha e dentro... eu não sei, eu achei muito bonito. Quem morria era enterrado, não sei se era o povo da família, não sei como é que é, era enterrado tudo dentro dessa igreja. Tinha umas coisas, ramada, tudo bonita, uns no chão, outros na coisa da parede. Achei muito bonito lá essas coisas.
P/1 - Essa igreja é pra que lado, dona Ilda? Essa que a senhora está contando agora, em São Sebastião.
R - Agora não vou lembrar o nome de lá.
P/1 - Mas é lá perto da barragem, esse lugar que a senhora está contando?
R - Fica pra baixo. Tá tem uma fazenda assim ____ eu falei: “Esses aqui, se remendar, só a alma escapa”, nada recupera lá não. Que cá tem lá um (bastião?) assim.
P/1 - E lá está bem perto da barragem?
R - Não está perto, mas se arrebentar, vai tudo. E essa fazenda, não sobra nada. se por exemplo arrebentar, for de dia ou de noite, é difícil até pra correr, que correr pra baixo, a água lá vai atrás, né? E pra onde é alto, não dá pra voltar.
P/1 - E deixa eu te perguntar, a senhora sabe por que que deram o nome de Povoado do Cunha aqui nessa região?
R - Ó, eu tenho uma sobrinha que ela fez uns estudos disso aqui tudo, aí ela descobriu porque: tinha um fulano, um senhor com o nome de Cunha. Eu não sei.
P/1 - Cunha era o nome de uma pessoa, é isso, de um senhor?
R - De um senhor. E ele era uma pessoa idosa, antiga, e tinha esse nome de Cunha.
P/1 - Era uma pessoa que morava nessa região aqui, que onde hoje é o povoado?
R - É. Conheci muito dos velhos aí, São Miguel Coelho, que é irmão... ele era pai de Benzinha, esse Miguel Coelho... não! Miguel Coelho era irmão de Benzinha, o pai dela eu não conheci não. O seu Miguel, eu conheci, era um homem alto, falante. Boa pessoa.
P/1 - E esse é o pessoal mais antigo que a senhora lembra daqui do povoado?
R - Que eu lembro, tinha o Teófilo, dois Teófilo, um Perez, o Teófilo Perez e o outro Teófilo, que eu não sei sobrenome. Tudo morou por aqui.
P/1 - Aí, dona Ilda, a gente vai para as últimas perguntas, tá? Aí tem umas perguntas que a gente faz para fazer o fechamento. Então é assim, a primeira pergunta é o que a senhora gostaria de deixar como legado?
R - Tudo que for de bom eu gostaria que acontecesse. Que eu nem passei por isso, mas que ficasse para os outros, né? Porque a gente vê as coisas acabar, é ruim, e eu gostaria que tudo seguisse evoluindo, né, com evolução. A evolução numas partes para aqui, foi muito bom, outras já foi mais ruim, né? Que eu lembro que quando ia passar essa rodovia aqui, lá nessa casa onde eu nasci, ela ia passar que ia ficar uma largurinha assim da casa. Na casa do velho (Benvindo?) Teixeira, ia passar dentro do quintal também dele, estragava a frente. Lá, mais para lá, mais para perto da cidade, tinha outras pessoas, tudo, que ia ser uma coisa ruim, aí eles foram em Belo Horizonte, uma turma, foi meu pai, (Benvindo?) Teixeira, Jeci Teixeira, os outros de lá também que eram donos dos terrenos, aí eles conseguiram mudar ela um pouco de lugar. Não adiantou quase nada, que aqui eu fiquei na beirinha. (risos)
P/1 - Mas antigamente não tinha essa rodovia, que a senhora tá contando que ela foi construída. Antes era tudo de terra, é isso?
R - De terra. Nem tinha... tinha estrada de, que eles falavam Estrada Real. Era de terra, passava gado, carro de boi, carroça, gado, essas coisas.
P/1 - E a rodovia chegou depois, essa de asfalto, a senhora viu quando construiu a rodovia?
R - Vi, desde o princípio. Nós ainda morava lá em cima. depois que inaugurou ela é que a gente veio para cá.
P/1 - E lá em cima onde a senhora morava, a rodovia também era próxima lá? Porque aqui a senhora tá atrás da rodovia. quer dizer, na frente.
R - Aqui tá perto.
P/1 - É, perto. E lá?
R - Lá era mais longe.
P/1 - Mas lá também dava para ver?
R - Se saísse no primeiro programa que eles tinham feito, ia passar quase que riba da casa, de todos desses que eu falei tudo, ia passar quase em riba da casa. Aí eles mudaram. Foram lá, conversaram e mudaram, conseguiram mudar, que veio para esse lugar aí.
P/1 - E a senhora mudou para cá e agora tá perto.
R - É, mas tudo bem, passou tudo dentro do terreno da gente. Tanto faz, todos esses que têm pra essa beira aqui tudo, dali do, para lá do Sabor de fazenda um pouco, tudo era gente, parente, tudo.
P/1 - Então a última pergunta que a gente faz, dona Ilda, é assim: como foi contar sua história de vida? Como foi sentar aqui e contar a sua história de vida, dona Ilda?
R - Apesar da gente não dar conta de falar tudo que foi, mas é bom, porque tá contando um pouco do passado que a gente viveu e ainda continua vivendo ainda, graças a Deus. Apesar que a gente, a memória falha muito, mas para mim tá bom.
P/1 - Então, a gente do Museu da pessoa, os meninos aqui da Click de Paracatu, a gente agradece a senhora ter contado a sua história. Muito obrigado, dona Ilda!
R - De nada. Sempre às ordens.
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