Memória Lello 70 Anos
Entrevista de José Carlos Coletti
Entrevistado por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 17 de agosto de 2023
Entrevista nº LELLO_HV004
Realização: Museu da Pessoa
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(0:21) P/1 - Bom dia, Colletti! Tudo bem?
R - Bom dia! Tudo ótimo e você, como vai?
P/1 - Tudo certo! Então, vamos começar com a pergunta mais simples: Seu nome completo, a sua data de nascimento e que cidade você nasceu.
R - Sou o José Carlos Colletti, nasci na cidade de Santo André, em 22 de junho de 1968. Um canceriano.
(0:41) P/1 - Qual o nome dos seus pais?
R - Meu pai é Carlos e minha mãe é Marli. Carlos Coletti e Marli Colletti.
(0:49) P/1 - O que eles faziam, ou fazem?
R - Bom, hoje os meus pais são aposentados. O meu pai era torneiro mecânico e minha mãe sempre foi doméstica, nunca trabalhou fora de casa. Antes do casamento trabalhava como vendedora de loja de sapatos. É isso que eles faziam. Hoje [são] aposentados.
(1:14) P/1 - E você tem irmãos?
R - Tenho um irmão falecido, faleceu com 33 anos; Antônio César, o nome dele. Tenho uma irmã quatro anos mais velha que eu, chamada Rosi. Tenho sim, então.
(1:28) P/1 - E quais eram os principais costumes da sua família?
R - Nossa! Bom, a gente foi tendo costumes diferentes ao longo do tempo, mas um que permanece até hoje é a reunião em família. Eu sou descendente de italianos, então quando a nonna era viva, nós tínhamos o hábito de nos reunirmos na casa da nonna, toda a família ia para lá. Esse hábito não se perdeu, ele se perpetuou com os demais familiares.
O principal hábito da gente era reunir as famílias em torno das refeições. Nós todos morávamos perto, eu, meus primos, tios, na mesma cidade, então os cafés da manhã, os almoços, os jantares, eram realmente os costumes e os hábitos que a gente tinha.
[Era uma] família muito trabalhadora, então todo mundo saía muito cedo de casa, todo mundo voltava muito...
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Entrevista de José Carlos Coletti
Entrevistado por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 17 de agosto de 2023
Entrevista nº LELLO_HV004
Realização: Museu da Pessoa
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(0:21) P/1 - Bom dia, Colletti! Tudo bem?
R - Bom dia! Tudo ótimo e você, como vai?
P/1 - Tudo certo! Então, vamos começar com a pergunta mais simples: Seu nome completo, a sua data de nascimento e que cidade você nasceu.
R - Sou o José Carlos Colletti, nasci na cidade de Santo André, em 22 de junho de 1968. Um canceriano.
(0:41) P/1 - Qual o nome dos seus pais?
R - Meu pai é Carlos e minha mãe é Marli. Carlos Coletti e Marli Colletti.
(0:49) P/1 - O que eles faziam, ou fazem?
R - Bom, hoje os meus pais são aposentados. O meu pai era torneiro mecânico e minha mãe sempre foi doméstica, nunca trabalhou fora de casa. Antes do casamento trabalhava como vendedora de loja de sapatos. É isso que eles faziam. Hoje [são] aposentados.
(1:14) P/1 - E você tem irmãos?
R - Tenho um irmão falecido, faleceu com 33 anos; Antônio César, o nome dele. Tenho uma irmã quatro anos mais velha que eu, chamada Rosi. Tenho sim, então.
(1:28) P/1 - E quais eram os principais costumes da sua família?
R - Nossa! Bom, a gente foi tendo costumes diferentes ao longo do tempo, mas um que permanece até hoje é a reunião em família. Eu sou descendente de italianos, então quando a nonna era viva, nós tínhamos o hábito de nos reunirmos na casa da nonna, toda a família ia para lá. Esse hábito não se perdeu, ele se perpetuou com os demais familiares.
O principal hábito da gente era reunir as famílias em torno das refeições. Nós todos morávamos perto, eu, meus primos, tios, na mesma cidade, então os cafés da manhã, os almoços, os jantares, eram realmente os costumes e os hábitos que a gente tinha.
[Era uma] família muito trabalhadora, então todo mundo saía muito cedo de casa, todo mundo voltava muito tarde, mas sempre que possível, o principal hábito, as principais rotinas, eram os almoços e as refeições em família. Muitas conversas e muitos papos.
(2:33) P/1 - Tem algum cheiro, alguma coisa que te lembra até hoje da sua infância?
R - Nossa, comidas com certeza tem! Contrariando a tudo e a todos, eu amo chuchu e a minha avó fazia bolinhos de chuchu, então eu lembro muito disso, desse tipo de refeição quando ela fazia para mim.
Cheiros, não muito. Eu acho que [foi] a comida mesmo que sempre pautou mais a família, então eu lembro do famoso bolinho de chuchu da minha avó.
(3:09) P/1 - E falando dos seus avós, você teve contato com seus avós paternos e maternos, ou não?
R - Tive contato com os paternos, ambos, minha avó e meu avô. Por parte de mãe, apenas com a minha avó; quando eu nasci o meu avô já era falecido. Mas tive.
Foi uma infância boa. Eles eram do interior de São Paulo, eles não moravam aqui; óbvio que é um interior próximo, Piracicaba, então eles estavam sempre indo e vindo, nós íamos, eles vinham, então era muito legal, muito bacana. Mas tive contato, tem uma influência boa.
(3:49) P/1 - E os seus pais, também vieram do interior para São Paulo?
R - Também, da mesma cidade, Piracicaba, eles moravam lá e vieram para cá. Eu já nasci aqui.
(3:59) P/1 - E você sabe por que eles vieram? Foi para trabalho, algum motivo?
R - Foi. O meu pai tinha um projeto de ser policial rodoviário. Recebeu uma oportunidade de trabalho aqui em São Paulo, passou nos exames, veio aqui para São Paulo e foi por isso, por motivo de trabalho.
Eu sou o caçula da família. Eles me contam até hoje que foi difícil para minha mãe; minha mãe não queria vir de jeito nenhum, não queria largar a cidade dela, mas vieram e foi por esse motivo, o trabalho.
(4:36) P/1 - Você se lembra da casa onde você passou a sua infância?
R - Lembro, porque os meus pais moram nela até hoje, então eu lembro. Eu moro a dois quarteirões dessa casa, então lembro sim. Lembro da casa, do bairro - eu vivi a expansão do bairro, a construção dele. Quando eu nasci nessa casa, tinha muitos terrenos, na frente da nossa casa a rua era de terra, depois obviamente foi tudo expandindo, foi tudo crescendo. Hoje é um bairro bacana, lá da cidade de Santo André. Mas lembro sim, ela está lá até hoje.
(5:14) P/1 - E do que você gostava mais de brincar nessa época?
R - Nossa, eu sempre fui um menino de rua. Na minha época se permitia mais ter uma infância mais livre, então eu gostava de jogar bola, gostava de brincar de polícia e ladrão, de correr, de nadar. Tinha um rio ali perto da minha casa, gostava muito de nadar com os amigos. Gostava de ficar na rua mesmo, mas jogar bola era uma das minhas atividades prediletas.
(5:44) P/1 - Você tinha algum sonho de infância?
R - Desde pequenininho eu sempre gostei muito de cuidar das pessoas. Eu tenho um propósito de vida, isso pautou bastante as minhas decisões de carreira. Meu propósito de vida é tornar a vida das pessoas o melhor possível.
Quando eu era pequenininho eu falei: “Olha…” O meu sonho não estava ligado assim, “quero ser alguma coisa.” Eu quero fazer atividades que me permitam ajudar as pessoas, torná-las melhor do que elas são, da forma que eu conseguir. Esse sempre foi o meu desejo, mas nunca [foi] analisado para alguma coisa em específico. Eu sempre pensei: “Aquilo que eu farei, eu vou sempre utilizar como meio para atingir esse meu propósito.” Então, sim, tenho um propósito desde criança, não necessariamente um sonho. Mas tinha aquelas coisas: eu queria casar, eu queria ter família, queria ter filhos, queria ter uma menina, por exemplo. “Quando eu me casar, quero ter uma menina como filha”, enfim.
(6:53) P/1 - E avançando um pouquinho na sua infância. Quais as primeiras lembranças que você tem da escola?
R - Não foram muito boas. Eu sempre gostei muito de ler e nunca gostei muito do modelo de ensino das escolas, então desde pequenininho não gostava de ir para escola, porque eu queria aprender alguma coisa e era forçado a aprender outras coisas. Muitas coisas eram inutilidades, então o início da minha vida escolar não foi muito auspiciosa, não. Eu não gostava de ir, eu chorava. Depois eu fui me ambientando, eu fui acostumando com aquele ambiente, mas as minhas primeiras lembranças foram essas. Não estudava numa escola particular, nada, [era] numa escola pública.
Era isso. As minhas lembranças de começo de escola eram essas: lembro que eu não gostava muito de ir, não, mas por conta disso, havia uma dicotomia muito grande: “Quero aprender tal coisa e ficam querendo me ensinar outra. Eu não quero saber disso, eu vou usar isso para quê?” Essas coisas, enfim.
Essas são as primeiras lembranças que eu tenho. Mas isso [foi no] primário, primeiro, segundo, terceiro ano.
(8:11) P/1 - E um pouco mais para frente, tinha alguma matéria que você gostasse mais, algum professor que tenha te marcado?
R - Tem dois professores que me marcaram, um positivamente e outro não, mas tudo é aprendizado.
Eu fui pegando um gosto danado por estudar. Quando eu fui pegando esse gosto por estudar, lembra que eu falei que eu gostava muito de ler? A escola, óbvio, me propiciou avançar. Eu não tinha dinheiro, a minha família não tinha muitas condições e eu tinha acesso a livros na escola, então desse ponto eu gostava muito; não gostava muito da sala de aula, mas gostava bastante da biblioteca, então gostava muito de ir lá.
Gostava muito das aulas de literatura. Eu tinha um professor chamado… Isso já na quinta série, sexta, sétima; era o mesmo professor de literatura, chamado Belchior. Ele influenciou bastante a minha vida, porque era uma pessoa bastante atenta às pessoas, era um velhinho e ele incentivava bastante a gente a ler, fazer resumos e contar histórias. Você lia e depois tinha que fazer apresentação do que você tava lendo. Foi uma influência muito positiva essa, do professor Belchior.
E na quarta série eu tive uma professora chamada dona Ada. Eu já tinha a nota suficiente para não precisar terminar o número de aulas que precisava e ela havia liberado eu de frequentar as aulas naquele período de final de ano. Cheguei em casa e falei que não precisava mais ir, que a professora tinha me liberado. Resumindo: eu não fui, reprovei por falta. Ela me marcou negativamente por causa disso, ela mesmo falou que eu não precisava ir, não fui e acabei sendo reprovado por falta. Mas a influência positiva mesmo foi esse professor, o professor Belchior nas aulas de literatura. Lembro até hoje dele. Tive vários professores ao longo da minha vida, mas ele foi o que mais marcou.
(10:08) P/1 - Era uma escola perto da sua casa? Você ia a pé ou não?
R - Perto. Dava, sei lá, algo em torno de um quilômetro e meio, mais ou menos. Sim, eu ia a pé. Como eu disse, quando eu era mais jovenzinho, os índices de violência, o contexto social era outro, então a gente era bem livre mesmo. Eu ia a pé para escola, com os amigos; todo mundo estudava na mesma escola, todo mundo morava junto, então a gente ia pra escola junto, voltava da escola junto também. [É] uma escola que existe até hoje.
(10:45) P/1 - E no seu ensino médio, você chegou a mudar de escola ou não?
R - Mudei. Essa escola da minha primeira infância só ia até a quarta série do primário. E depois tinha uma escola mais adiante, num outro bairro; ficava a uns quatro, cinco quilômetros da minha casa, chamada Tocantins. Lembro [dela] até hoje, também existe até hoje lá. Aí eu mudei para lá, da quinta até a oitava série. Antes era da primeira à oitava, lembra?
Da quinta a oitava série eu estudei nesse novo ginásio. Era também uma escola pública, de um nível melhor, ficava num bairro melhor do que eu morava. Mas sim, também ia a pé para lá; eram uns quatro, cinco quilômetros por dia, de ida e volta para minha casa.
(11:36) P/1 - E chegando na sua adolescência o que você gostava mais de fazer? Como foi essa mudança de gostos que acontece nesse período?
R - Eu gostava de namorar. E eu sempre tive paixões, desde pequenininho. A primeira moça que eu gostei [foi] na quarta série, uma menina, na quarta série, e depois outra na quinta, outra na sexta, então eu gostava bastante mesmo de namorar.
Eu sempre fui uma pessoa mais reservada, mais discreta. Não gostava muito de ficar falando, muito menos na frente das câmeras. Sempre fui de bastidor, mas sempre fui meio saidinho. Como eu gostava de me movimentar mais sozinho, então o que eu gostava de fazer era conhecer as meninas e namorar com elas, era isso que eu gostava de fazer na minha adolescência.
O pessoal queria bagunçar, queria brigar, queria fazer um monte de coisa; eu não. Tudo que ia fazer: “Vai ter um jogo contra a turma lá do outro bairro”... Eu já ia querendo saber quais meninas estariam assistindo o jogo e me relacionar com elas. Era isso que eu gostava de fazer na adolescência.
(12:56) P/1 - E nesse período do ensino médio, você já sabia o que queria fazer depois, como ensino superior?
R - O meu pai, como ele trabalhava na área de metalurgia, como torneiro mecânico, sempre tentou influenciar a gente, eu e meus irmãos, a seguir nessa linha, que a gente fizesse Engenharia. Meu irmão foi nessa linha, a minha irmã foi na linha da matemática, sempre nessa linha mais [de] exatas. Só que como eu tinha essa questão do propósito, de cuidar das pessoas, eu sempre me dei melhor em Ciências Sociais, então não queria fazer Engenharia, apesar da pressão da família.
Eu já sabia que eu faria algo relacionado a Ciências Sociais, porque eu sempre fui um pouco líder dos grupos que eu participei. Sempre gostei de organizar as coisas, de comandar, de tomar decisões, então eu já sabia que eu ia fazer uma carreira nessa linha. Para isso eu teria que fazer algo relacionado à Economia, Administração, alguma coisa nesse sentido. Então sim, já no ginásio eu já tinha em mente o que eu queria. Queria liderar.
(14:13) P/1 - E como foi para você prestar vestibular, começar a faculdade, como você se sentiu com essa transição?
R - Hoje as pessoas me perguntam assim: “Você recomenda que as pessoas façam faculdade?” Sou um professor universitário e falo: “Olha, a faculdade é muito mais do que simplesmente você aprender coisas. Ali você aprende a socializar com as pessoas, é um rito de passagem mesmo.”
Acho que a vida é feita de ritos, não é isso? Na infância, pré-adolescência, as meninas tinham, agora não tem mais, mas tinha lá a coisa dos quinze anos. Então eu acho que foi tranquilo para mim, porque eu sempre gostei de me relacionar com as pessoas, então a faculdade para mim era uma ótima oportunidade.
A minha preocupação era a questão financeira, eu não tinha condições financeiras, e aí eu falei: bom, como é que eu vou fazer então? O vestibular, para mim, foi muito tranquilo! Eu já gostava de ler, gostava de estudar, sempre tive boas notas, então passei tranquilo no vestibular. O ponto era: como é que eu vou pagar a faculdade? Isso era uma preocupação, aí resolvi vender batons. Falei: “Bom, eu preciso fazer alguma coisa para pagar a faculdade”. Aí tive essa ideia: “Vou comercializar batons e aí faço as duas coisas que eu gosto: namorar, porque eu gostava de namorar, e arrumava dinheiro.” Então eu vendia batom na faculdade, eu era conhecido como cara do batom. E de vez em quando rolava um test drive.
A minha única preocupação na transição era como é que eu vou pagar a faculdade, aí encontrei essa solução. Mas foi tranquilo para mim, eu sou uma pessoa tranquila, lido com calma, com paciência com as coisas. Eu não crio muitas expectativas sobre as pessoas, então eu me frustro pouco. Não espero muito de você, não espero muito da entrevista, não espero muito de nada, então o que vier de legal soma de forma positiva. Para mim foi tranquila essa passagem.
(16:21) P/1 - E além da venda de batons que você comentou, tem algum momento marcante que você se lembra desse período da faculdade?
R - A faculdade foi onde eu tive a primeira menina que eu gostei mesmo, que eu achava que ia casar com ela, que o mundo ia acabar, sabe essas coisas todas? Isso foi o que mais me marcou, e a passagem para a vida adulta, mesmo.
Obviamente, a partir da faculdade consegui um trabalho, comecei a trabalhar também, além da venda de batons. Eu me lembro disso, dessa influência.
Tenho amigos da faculdade até hoje, então isso foi muito legal também. Acho que é isso.
Eu me lembro de uma passagem importante na faculdade, legal. Foi a primeira vez que eu tive que fazer uma apresentação em público, nunca tinha feito. E bem na minha vez de fazer a apresentação, o professor resolveu ir para o auditório e chamou quatro salas. Lembro que deu um branco na hora de fazer a apresentação, esqueci de tudo. Mudei de tema na hora, porque eu já estava envolvido com o Projeto Tamar e ia falar sobre petróleo; eu não sabia nada sobre petróleo, aí mudei o tema na hora e comecei a falar do Projeto Tamar. Isso marcou também de uma forma importante.
Quem diria que depois eu ia me tornar um professor, que ia ficar na frente de alunos! Como eu falei, eu era mais reservado, então me considerava um pouco tímido. Quando eu estou representando um papel, não. Quando estou diretor da Lello, não me sinto tímido, porque é o diretor da Lello que está ali; o Colletti, pessoa física, é uma pessoa muito reservada.
(18:07) P/1 - Você falou sobre começar a trabalhar. Qual foi a sua primeira experiência?
R - Foi um estágio. Eu entrei como estagiário na Linhas Corrente, empresa que fazia linhas. Entrei na faculdade e arrumei esse estágio, logo no primeiro ano de faculdade; mais ou menos no meio do primeiro ano consegui esse estágio e comecei a trabalhar lá. Comecei a trabalhar estagiando na área de PCP, planejamento de controle de produção. Foi aí que eu já fui me inclinando um pouco para essa questão da área produtiva, isso veio por causa desse estágio.
(18:44) P/1 - E o próximo passo que você deu depois desse estágio, você se efetivou lá dentro ou foi para outra empresa?
R - Sim! Eu fiquei nas Linhas Corrente, estagiando, acho que uns seis meses. Depois eu fui efetivado como analista de planejamento e controle de produção.
Fui crescendo, me tornei supervisor. Acho que depois de uns cinco anos que eu estava na empresa, mais ou menos, teve um programa para trainee gerencial; me inscrevi nesse programa, fui aprovado nele. Foi que a minha vida financeira, a carreira, deram um salto importante, mesmo.
Ao longo do meu programa de trainee, a empresa tinha um diretor francês. Ele estava com uma ideia de pegar a fábrica de agulhas e alfinetes, que ficava aqui em São Paulo, no Ipiranga, e levar para o Nordeste, só que não era nas capitais, era no interior do Nordeste, numa cidade chamada Macaíba, que fica a trinta quilômetros, mais ou menos, de Natal. E ninguém quis ir, passar por essa aventura junto com ele. Eu era solteiro, jovem, nada me prendia aqui; vi isso como uma boa oportunidade para mim e aceitei, então depois de cinco anos migrei para o Rio Grande do Norte, para ajudar ele a construir essa fábrica.
Lá eu morei dois anos. Deu um salto muito grande na minha vida, foi aí que eu conheci a minha atual esposa. Quando eu cheguei lá no Rio Grande do Norte, precisava contratar as pessoas para trabalhar na fábrica. Contratei uma empresa, ela era recrutadora de profissionais, então eu tinha reuniões com ela.
Daqui a pouco a gente fala sobre ela, mas foi aí que dei um grande salto profissional. Eu saí de um trainee já para um gerente de operações, criando, montando uma fábrica, construindo ela do zero. Foi um projeto muito legal que eu tive na minha vida. Numa cidade estranha - até então sempre tinha morado com os meus pais - fui morar sozinho, tive que aprender a me virar. “Aprende aí!” Tive que aprender a lavar, passar, cozinhar, tive que me virar. Foi uma experiência muito positiva para mim, muito legal.
(21:15) P/1 - E depois desses dois anos que você passou lá, você voltou para São Paulo?
R - Voltei. Conheci a minha esposa lá, me casei lá, com ela. E depois de mais de seis meses, nós tivemos uma filha.
Voltei para São Paulo, porque eu tinha um contrato de dois anos. O meu salário era muito alto para a região, então era um contrato fixo mesmo, de dois anos. [Quando] terminou o contrato eu voltei para São Paulo, porque acreditava que aqui eu teria mais oportunidade do que lá; [no] Rio Grande do Norte não tinha grandes empresas, [era] mais voltado para o setor do turismo, para o setor alimentício. Eu falei: “Não, não é uma área que eu quero, então eu vou voltar para São Paulo.”
Voltei para São Paulo e fui trabalhar na Coca-Cola, logo que cheguei em São Paulo, em uma semana já fui contratado para trabalhar na Coca-Cola. Entrei lá também como analista, mas em seis meses eu tinha virado gerente, então foi uma experiência boa também. Fui para o setor de bebidas e foi muito legal para mim, porque trabalhando na Coca-Cola eu trabalhava muito com a distribuição dos produtos, então esse trabalho me permitiu conhecer muito a cidade de São Paulo. Eu distribuía em toda a cidade, então eu tinha que fazer roteirização, conhecer as ruas, os buracos, os lugares, as comunidades que a gente tinha que entregar. Foi uma experiência muito legal de vida para mim, me permitiu conhecer a cidade muito bem.
Fiquei dois anos lá, na Coca-Cola.
(22:58) P/1 - E qual o nome da sua esposa?
R - Quênia. Assim como o país africano, Quênia.
P/1 - E ela teve dificuldade, a Quênia, de se adaptar a São Paulo?
R - Não teve! Por incrível que pareça, não teve. Ela é muito descolada. Ela não gostava de morar lá, porque ela também tinha uma ambição profissional, queria crescer, queria estudar e era muito humilde lá onde ela morava. A família dela é bem humilde mesmo, então ela queria muito sair de lá. Ela me conta até hoje que sonhava que alguém ia vir de fora, de uma cidade grande e ela ia se casar com essa pessoa. E aconteceu o sonho dela. Se você tivesse perguntando para ela “qual era o seu sonho”, acho que ela ia falar isso. E eu apareci, obviamente a trouxe para São Paulo.
Foi muito tranquila a adaptação dela, porque era o que ela queria, é o que ela desejava. Fez amigos rapidamente, ela é bem descolada, se relaciona bem com as pessoas. É uma nutricionista.
(24:04) P/1 - E depois da Coca-Cola, me conte qual foi o próximo passo.
R - Depois da Coca-Cola, eu fui para a área de pesquisa. Fui trabalhar no Instituto Gallup de pesquisa, e [foi] também uma experiência maravilhosa.
Eu era… Nessa oportunidade eu saí como gerente da Coca-Cola. Recebi uma oportunidade para fazer um curso de especialização na Califórnia. Fui para a Califórnia, estudei na Universidade de Irvine. Ali eu fui fazendo amigos, naquela região. E lá no meio-oeste dos Estados Unidos, numa cidade chamada Omaha, fica o Instituto Gallup de pesquisa - a sede, a matriz. Conheci pessoas que trabalhavam lá e nasceu um namoro, eles me convenceram, aí eu saí da Coca-Cola e fui trabalhar no Instituto Gallup, mas como gerente de consultoria. Eu não fazia a pesquisa, mas pegava os dados da pesquisa e com esses dados eu trabalhava junto com os presidentes das companhias, tomando ações e montando os planos de ações para melhorar a performance e o desempenho das empresas. Trabalhei lá também por bastante tempo.
Depois de lá, do Instituto Gallup, foi que eu comecei a sentir vontade de empreender, porque eu tinha muito contato com empresários e comecei a perceber que tudo que eu falava dava certo na empresa. Falei: “Ué!” E foi muito bom para minha carreira, porque pude testar as coisas em que eu acreditava. Obviamente, o que me motivou sempre foi as pessoas, o meu propósito nunca descolou de mim, então sempre onde eu estava eu me doava para ajudar as pessoas se tornarem melhores do que elas eram. Eu falei: “Bom, então eu acho que eu vou empreender.”
Resolvi sair do Instituto Gallup, depois de três anos que eu estava lá e abri uma empresa de consultoria. Foi nessa época que eu comecei a dar consultoria, já com o desejo de ministrar aulas também, porque eu estava fazendo MBA, especialização. Tive a oportunidade de ministrar uma aula-teste na Fundação Getúlio Vargas e estou lá já há vinte anos, ministrando aula na FGV.
Saí do Instituto Gallup, montei uma empresa de consultoria e fiquei muitos anos [nela]. Tenho empresa aberta até hoje. Não atuo mais nessa empresa de consultoria, justamente por causa da Lello.
(26:55) P/1 - Mas antes da gente chegar na Lello, eu queria que você comentasse um pouco de como você começou a ser professor. Você deu uma aula e embarcou?
R - Sim e não. Eu tinha o desejo, porque falei: “Bom, se o meu propósito é ajudar as pessoas, como eu posso impactar mais pessoas mais rapidamente? Dando aulas! Porque eu tenho uma turma toda à minha disposição para ajudar essas pessoas, torná-las melhor, influenciá-las positivamente, compartilhar o meu o meu propósito. Quem sabe eu faço alguns seguidores de propósito e eles vão multiplicando isso? Daqui a pouco a gente está ajudando todas as pessoas, então vou ministrar aulas.”
Não foi tão fácil quanto eu imaginava, falei “vou dar aula” e as pessoas saíram me contratando para dar aula. Eu não tinha mestrado. Na oportunidade, as universidades de primeira linha, que é onde eu queria ministrar aulas, exigiam o mestrado, então eu não tinha oportunidades, nem de fazer teste, nada.
Lembro uma vez que eu fui na Uniban, fiz uma aula-teste lá e não passei no teste. Falei: “Nossa, mas eu me achei tão maravilhoso na minha aula-teste…” Não fui aprovado na aula-teste. Fiquei bravo!
Bom, eu acredito muito em Deus, e vim ali, falando: “Mas Senhor do céu, como é que pode um negócio desse? Eu quero uma chance, ninguém me dá uma chance, nada!” Vim do trajeto dessa aula-teste até a minha casa reclamando com Deus. Estacionei o carro na garagem, entrei em casa; meu telefone tocou, era a FGV [Fundação Getúlio Vargas]. [Era] uma professora, amiga minha, falando que um professor estava com problema de saúde e eles não estavam conseguindo trocar, arrumar um professor substituto. Ela perguntou se eu gostaria de preencher aquela vaga, naquela aula. Óbvio, aceitei na mesma hora. E essa foi a minha aula-teste.
Na verdade, a minha aula-teste foi uma aula prática mesmo, porque era na vida real. Deu certo, dei a aula, fui super bem-avaliado e estou lá até hoje.
Foi um pouco assim essa transição para eu começar a dar aula. Depois da minha primeira aula foi tranquilo, porque me senti muito bem. Hoje o local que eu me sinto melhor é na sala de aula, realmente ali é o meu ambiente preferido.
(29:42) P/1 - Você estava falando também da sua empresa de consultoria. Você a manteve paralelamente à docência?
R - Sim, porque na FGV ministro aula para os cursos de especialização, pós-graduação, MBA; eu não dou aula na graduação, eu já entrei na pós-graduação - o que é meio raro de acontecer. Primeiro que eu não tinha o mestrado, já foi uma coisa inusitada me chamarem para dar aula, porque você tem que ter o mestrado. E ter permanecido sem ter o mestrado, isso lá no começo…
Enfim, eu dava aulas à noite, porque na especialização a aula ou é à noite, ou aos finais de semana - sexta, sábado e domingo de manhã, então eu tinha o dia todo livre. Ao longo do dia eu ministrava a consultoria nas empresas e à noite eu ministrava as minhas aulas, então, sim, eu tocava as duas atividades paralelas.
Foram muitas empresas [em] consultoria. Quando você começa a empreender não é fácil, no Brasil não é fácil você empreender. Comecei dando consultoria… O primeiro cliente foi uma banca de jornal, para vocês terem uma ideia; depois foi salão de beleza, padaria, até que eu consegui fechar um contrato com o Banco Mercedes, aí sim, a minha vida deu outro salto positivo. Mas sim, fazia as duas coisas ali simultaneamente.
Também nessa coisa de dar consultoria, eu fui acionada por uns biólogos da Pró-Carnívoros, eles me procuraram. Foi aí também que eu comecei a trabalhar com a ONG Pró-Carnívoros.
(31:24) P/1 - Conte um pouco dessa situação na Pró-Carnívoros.
R - Isso é muito legal. Falei: “Bom, eu estou ampliando o meu leque de ajudar. Agora eu não vou ajudar só as pessoas, vou ajudar os bichos também.”
A Pró-Carnívoros é uma ONG de biólogos. Através da pesquisa científica, a proposta é influenciar as políticas públicas, para que quando elas forem elaboradas, se considere o animal carnívoro brasileiro - é focada no animal carnívoro. Por exemplo, eles estão pensando em fazer uma rodovia aqui; tem um estudo científico que mostra onde estão os corredores dos animais, onde eles passam com frequência, onde eles bebem água. Se você colocar uma rodovia aqui, esse animal vai ser altamente prejudicado, pode levar à extinção dele, coisas desse tipo.
Eles são muito apaixonados pela causa, só que biólogos não sabem ganhar dinheiro, então eles precisavam de pessoas que tivessem um mindset financeiro para ajudá-los a conseguir fundos para financiar as pesquisas. Foi aí que eles me encontraram.
A minha atuação sempre foi neste eixo dentro da ONG, prover os recursos financeiros, para que os pesquisadores pudessem avançar em suas pesquisas. Eu era quase que um [representante] comercial; visitava as empresas, que também já fazia parte do meu trabalho, propunha que essas empresas se juntassem a nós e, obviamente, que depois elas poderiam fazer propaganda, atrelar a marca dela como uma empresa responsável, que cuida dos bichos brasileiros. [É] muito legal, muito bacana mesmo!
Participei da captura de onça, para fazer pesquisa com onça. No Projeto do Lobo, por exemplo, a gente visitava as cidades no interior, porque o pessoal no mato mata o lobo. O lobo é um animal carnívoro brasileiro e a gente cuidava dele, não queria que as pessoas matassem o lobo. Só que o lobo rouba galinhas, assusta as pessoas que moram no campo, então a gente tinha o projeto do galinheiro: a gente levava o cinema para aquelas cidadezinhas, montava na praça e passava lá o filme do lobo, para transformar o lobo num amigo das crianças e tal. Fazia a reforma dos galinheiros do sítios etc. Foi muita coisa legal que a gente fez.
É uma questão proteger o animal carnívoro, mas tinha uma questão social muito grande também, importante, então foi bem legal também, foi uma experiência bem bacana.
Dá um medinho. Já participou de captura de onça?
(34:10) P/1 - Não!
R - Enquanto ela tá quieta, tudo bem. Na hora que ela resolve abrir a boca dá um certo medo, mas é muito legal.
(34:19) P/1 - Então vamos começar a falar um pouquinho da Lello. Você já conhecia a Lello antes de trabalhar lá?
R - Quando eu fui trabalhar nas Linhas Corrente… Lembra que eu contei a história que entrei como estagiário? Lá nas Linhas Corrente tinha um profissional da área de Recursos Humanos, que se tornou o diretor de Recursos Humanos da Lello. Certa vez, meu telefone toca, e eu tinha perdido contato - é Altair o nome dele. Eu tinha perdido o contato com ele há anos, bota anos nisso. Lembra que eu contei? A minha vida foi mudando, abri a consultoria, fui dar aula, entrei na Pró-Carnívoros. E toca o meu telefone, era o Altair.
Demorei um pouco, inclusive, para lembrar. Só lembrei porque eu trabalhei muitos anos nas Linhas Corrente. Ele falou: “Olha, não sei por que, nós estamos com uma oportunidade aqui na empresa em que eu estou trabalhando e pensei em você para essa posição, me veio o seu nome na mente.” Eu falei: “Mas em que empresa você está trabalhando?” Ele falou: “Na Lello.” “Mas quem é a Lello, que eu não conheço?” Nunca tinha ouvido falar, porque na região do ABC, a Lello não é tão forte quanto ele é na capital. Agora sim, eu já estou na Lello há nove anos, fiz nove anos no mês passado, mas há nove anos, na região do ABC, ela não era tão popular como ela é hoje, por exemplo.
Ele me fez essa proposta e eu falei: “Olha, peraí.” Já dei uma “googlada” ali, pra ver quem que era a Lello, e vi lá, imobiliária. Falei: “Altair, pô, que legal você ter me ligado! Mas não tenho interesse, não quero trabalhar numa imobiliária” - eu não tinha dimensão da empresa. “Porque eu estou bem resolvido, tô dando aula, estou fazendo meus trabalhos de consultoria. Estou com uma vida legal, descolada, sem amarras, mais livre e tal.” E ele ficou lá, insistindo. “Então vem aqui! Vamos tomar um café, vamos conversar, enfim…”
Eu queria vê-lo, bater um papo. É sempre legal você encontrar pessoas do seu passado e poder conversar com elas. E fui! Fui visitá-lo e estava tendo lá uma dinâmica para recrutar um profissional para essa vaga, que ele tinha me falado. Acabei participando da dinâmica com eles.
Eu vou contar uma coisa agora. Eles vão saber disso daqui que eu vou falar? Era um segredo até agora.
Fui para a dinâmica. Eu era professor e ministro [aulas] na área de negócios, eu aplico cases nos meus alunos. O case da dinâmica de grupo da Lello era um case que eu estava cansado de aplicar nas minhas aulas, então conhecia, sabia de cor e salteado. Eu já tinha inclinação para liberar, já tinha desenvoltura, porque eu trabalhava com consultoria, já ministrava aulas e ainda eu vou participar de uma dinâmica onde o case é um case que eu deito e rolo nele, então me destaquei na dinâmica de grupo.
Tinha uma banca, avaliando ali os profissionais que eles iam escolher. Na banca estavam o [Antônio] Couto, que é um dos sócios da empresa, o diretor-geral da empresa hoje, que é o [Alexandre] Ximenes - na época não era, mas hoje ele é o diretor-geral, estava o Altair, que era na época o gerente de Recursos Humanos e a recrutadora. Eles assistiram o trabalho que a gente fez, as apresentações do case e acabou que eles, conversando, decidiram me propor outro desafio, que não tinha muito a ver com aquela vaga, porque era um perfil de vaga para uma vaga mais mercadológica, de relacionamento com clientes.
O Couto e o Ximenes tinham uma necessidade de criar fábrica mesmo, transformar a operação da Lello numa fábrica de serviços, que pudesse se tornar mais produtiva - tudo a ver com o meu mindset de gestão de empresas, porque eu cresci com essa linha de formação, introdução; fui programador de produção. Apesar de ser uma empresa da área de serviços, o Couto, visionário como ele é, ele desmembrou: “Olha, esse cara aqui pode ajudar a gente a organizar isto.” E conversaram entre eles.
Depois o Altair me chamou de novo e fez uma proposta. Eu refleti bastante, não foi fácil tomar essa decisão, porque ela mudaria bastante a minha vida, uma vida de “hoje eu estou aqui, amanhã eu estou lá e agora eu vou ficar, de certa forma, fidelizado a essa empresa”. Ponderei bastante sobre tudo e decidi aceitar.
A proposta financeira era boa. Eu já tinha estudado, já tinha visto que eu estava falando ali da principal administradora de condomínios do país, muito grande no seu setor e com muitas oportunidades no mercado, que é pouco profissional. O mercado de administração de condomínios ainda nem é tão profissionalizado quanto poderia ser, há nove anos era muito menos, então eu falei: “Olha, tem muitas oportunidades aqui para realizar.” Sem falar que administrar um condomínio é cuidar de uma comunidade, pessoas moram num condomínio, isso tudo a ver com o meu propósito. Eu teria uma posição que me permitiria cuidar de muitas pessoas ao mesmo tempo.
A Lello hoje tem 3100 prédios, então a gente está falando, se a gente for extrapolando, [de] quantos apartamentos, quantas famílias moram nesses apartamentos? A gente está falando de um milhão de pessoas que envolvem essa relação. Falei: “Nossa, vou poder melhorar a vida de muita gente. Se eu ajudar a Lello a fazer uma boa administração de um condomínio” - não sei se vocês moram em condomínio ou não - “você muda a vida daquelas pessoas para melhor, não é isso?”
Administrar condomínio é que nem casamento: acabou o dinheiro, acabou o amor. Não, não é bem assim, é brincadeira. Mas quando falta dinheiro quando há muita dificuldade, tudo fica mais difícil na relação de um casal. É a mesma coisa num condomínio. Então se eu levar o meu conhecimento, a minha experiência, a minha garra e principalmente o que eu tenho de melhor, que é o meu coração, para dentro desse negócio, eu vou impactar mais pessoas simultaneamente ainda, do que eu estou impactando, porque eu já achava que impactava bastante. Isso me levou para dentro da Lello, a opção de ir para a Lello foi por conta disso. Oportunidades profissionais, de aprender, conhecer um mercado diferente, mas principalmente ter a oportunidade de impactar mais pessoas. Foi isso que me fez escolher a Lello.
Foi uma mudança bem radical de vida, porque eu fiquei fidelizado a uma instituição, mas continuo dando aula.
(41:59) P/1 - E como é que foi essa sua adaptação?
R - [Quando] eu cheguei na Lello não existia essa posição, então é diferente quando você entra numa empresa substituindo alguém. No meu caso não foi assim. Eu tinha uma missão: congregar os processos produtivos e dar a eles um sentido de produção, os tornando rentáveis, sustentáveis, coisas desse tipo, operando com eficiência, com qualidade, essas coisas todas.
Foi muito legal a minha transição, porque não tinha aquela urgência. Você não está substituindo ninguém, você está chegando para criar uma coisa nova que não tem, então tive a oportunidade na Lello de chegar com calma, do jeito que eu gosto, com tranquilidade.
Fiquei bastante tempo percorrendo as áreas da Lello. Fiz uma integração [que] eu acho que nunca vi na Lello ninguém fazer; literalmente conheci todas as áreas da Lello, todas as pessoas da Lello. E já com o meu perfil de gostar de gente, foi maravilhoso para mim. Fiquei muito tempo ali, me inteirando, conhecendo, me relacionando.
Quando falei “bom, agora chega, vamos fazer a coisa acontecer”, eu já estava muito ambientado, mas muito por conta da minha característica: uma pessoa que é reservada, mas que gosta de gente. Lello é uma empresa de serviços, não tem máquina, só tem gente, então pronto! Eu acho que foi um casamento perfeito.
Realmente foi um caso de amor com a Lello, foi impressionante, porque eu não tinha mais intenção de voltar para o mercado, estava bem resolvido com a minha vida, mas eu não sei, alguma coisa aconteceu que deu match. Sabe quando dá match e você não sabe explicar bem por quê? Deu match, gostei muito. E a mesma paixão que eu tinha lá no primeiro dia, há nove anos - entrei no dia 26 de julho - eu continuo com ela até hoje. É incrível, todo dia que eu vou para a Lello é como se eu estivesse na Lello no meu primeiro dia. Então tem… Não sei explicar, mas tem um caso de amor grande com essa empresa.
(44:20) P/1 - E como você avalia as mudanças que aconteceram nesses nove anos que você está lá?
R - Bom, teve algumas e uma muito relevante. Quando eu cheguei na Lello, já teve uma primeira mudança significativa, que eu, obviamente, ajudei a provocar. Quando não existe uma área produtiva e você tem uma missão de congregar esses processos, reuni-los, dar forma para eles e fazer com que essa coisa se harmonize, você muda de certa forma o jeito da empresa trabalhar. Ali na minha chegada já foi uma mudança importante, coincidiu com o movimento muito grande - isso foi em 2014 - do pensamento digital da Lello.
A Lello já vinha com um mindset digital. O Couto, o José Roberto [de Toledo], que são os acionistas da empresa, já tinham essa visão de futuro: “Olha, isso vai migrar de forma muito acelerada para o modelo digital, então a gente precisa começar a movimentar, a se mexer agora, para no futuro a gente poder acompanhar o mercado.” Quando eu cheguei tinha esses dois movimentos. Criar essa questão produtiva, então eu estou transformando a forma de trabalhar dos processos, dando ritmo, dando padronização, criando indicadores, essas coisas. Organizando mesmo a vida da empresa. E isso mexe com a empresa, então aqui já foi uma primeira mudança importante.
Somado a isso, a Lello tinha acabado de lançar a sua prestação de contas digital, que já foi uma ruptura no mercado, ela deu um salto de qualidade bastante grande. Quando eu cheguei na Lello nós tínhamos 1.666 prédios, na área produtiva 173 funcionários; só para vocês terem uma ideia de dimensão, hoje a gente tem 3100 prédios, então nós dobramos a carteira de clientes em nove anos e eu aumentei o headcount em 35%. Isso significa que eu aumentei a produtividade em quase 50% da área produtiva, e você não faz isso sem uma certa perturbação.
Em administração a gente sabe que três coisas vão acontecer numa instituição qualquer: vai acontecer atrito, confusão e queda de desempenho. Como conhecedor sempre dessas coisas, quando eu trabalho, quando eu opero, quando eu tomo decisões, eu sempre penso como uma decisão que a gente vai tomar vai contribuir para melhorar uma dessas três coisas.
Essa foi a primeira mudança significativa que eu presenciei na Lello. Depois foram tendo outras. A Lello começou a expandir os seus negócios, era muito centrada na cidade de São Paulo, mas com um desejo enorme de expansão. Ela realmente começou a expandir para o interior, aí foi uma outra grande mudança de mentalidade da empresa, porque para operar na cidade de São Paulo você tem um tipo de logística, um tipo de movimentação. Apesar da cidade de São Paulo reunir todo tipo de gente, é diferente quando você vai operar numa outra cidade. A forma daquelas pessoas se relacionarem muda, a cultura daquela região é diferente, você tem que se adaptar.
Quando a gente começou a ir bastante para fora, mas ainda dentro do estado de São Paulo, que tem uma certa similaridade, eu percebi que teve ali também um impacto importante; a empresa está se transformando numa outra coisa, porque agora ela está lidando com culturas diferentes, que até então ela não precisava lidar. E num processo de aceleração muito grande, crescendo, então foram nove anos de crescimento muito acelerado. Isso vai transformando a cabeça das pessoas, de uma forma até perigosa às vezes, você começa a se achar o cara, porque eu percebia que nós assim, às vezes a gente se achava mais do que a gente era, então “gente, desce do salto todo mundo”.
Essa coisa da mentalidade que acho que foi mais impactada ao longo desses anos. Essa coisa do digital, congregar os processos produtivos, depois a expansão para o interior…Foi uma outra mudança muito relevante que eu percebi na empresa.
Bom, aí veio a pandemia. Fomos obrigados, todo mundo vai para casa. Em 48 horas, toda a Lello estava em home office, organizada, posicionada, com equipamentos. Foi incrível a capacidade de mobilização que a gente teve, o que demonstra o estado de prontidão que os executivos da Lello têm. Ali foi uma mudança realmente importante - não só para nós, o mundo mudou totalmente. Mas é o que eu percebi nessa questão: o cliente mudou. O cliente, a partir da pandemia, em que o lar das pessoas começou a ser o tudo delas… As pessoas começaram a valorizar mais o seu ambiente pessoal, o que foi bom para nós, porque a gente administra a casa das pessoas. Todo mundo foi para casa, todo mundo valorizou mais o seu espaço, então, para nós, foi muito bom, porque é o que a gente faz. A gente administra as comunidades, a casa das pessoas.
Eu percebi que o mindset da comunidade mudou. As pessoas ficaram menos tolerantes, mais imediatistas e mais ad hoc: “Agora eu quero é do meu jeito!”
Uma administradora de condomínios, uma imobiliária do tamanho da gente, para que seja produtiva, encontre um ponto de equilíbrio entre a lucratividade e a excelência na prestação de serviços, ela precisa de escala, precisa de padrão; uma área de produção tem que ter padrão. Lembra do Ford T? “Pode pintar o carro de qualquer cor, desde que seja preto.” Os carros todos são pretos, você não tem que ficar trocando, pintando de outra cor. Para que a produção seja cada vez mais produtiva, você precisa produzir muito do mesmo jeito - até a pandemia foi assim, muito do mesmo jeito, o que de certa forma engessou um pouquinho a nossa operação. Como o mercado mudou, o mindset do nosso cliente muda profundamente, não é assim? Hoje você está com os seus amigos em casa, você pede uma pizza; quinze, vinte minutinhos, no máximo, é mais ou menos o que a pessoa está disposta a esperar. Passou disso, você já está ligando: “O que aconteceu com o meu pedido?” Ou está mandando uma mensagem no aplicativo. As pessoas ficaram muito imediatistas e nós sofremos um baque importante. Para mim foi a mudança mais significativa, porque nós estamos nela ainda, mudou o mindset do mercado e nós estamos nos adaptando a esse mindset.
A Lello cresceu muito. Paramos no platô, estamos nesse platô, entendendo essa movimentação de um mercado como um todo, mas ali eu acho que foi a mudança mais significativa mesmo, porque os nossos processos, do jeito que eles estavam, não podiam mais ficar. Agora você tem que ser mais assertivo, mais flexível, mais ágil. Foi bastante difícil para a gente essa modificação, que exigiu da gente acelerar o processo digital. Claro, a pandemia ajudou, porque está todo mundo em casa, então a gente foi lançando uma série de aplicativos de conveniência para o cliente; isso acelerou o Programa Papel Zero, então reduzimos bastante a impressão de folhas. A gente ficou mais sustentável, a gente avançou bastante em muitas áreas, realmente foi uma mudança muito importante. Mas a Lello foi incrível também porque ela teve um coração gigante e aí eu fiquei mais apaixonado ainda pela Lello, porque as pessoas ficaram muito carentes, ficaram isoladas, presas nas suas casas e a gente foi lançando uma série de programas. Então [teve] a Música Na Varanda, tinha um saxofonista que a gente contratou para ir tocar nos condomínios para as pessoas, e aí as pessoas saíam na varanda para dançar, foi muito legal!
Desafios e mudanças sempre fizeram parte da Lello. A Lello é a principal empresa do setor, então ela sempre foi protagonista. E é mais difícil você ser protagonista, porque você sai na frente, você se arrisca mais, erra mais e isso incomoda às vezes. A gente não acerta sempre. Quem acerta sempre? É humano, o erro faz parte! E é isso.
Eu acho que esse foi um dos principais marcos de mudança, pelo menos que me marcaram mais profundamente. Agora, mais recentemente, já superada essa questão da pandemia, a gente também tem um projeto de expansão para fora de São Paulo. A gente tem um projeto piloto lá em Maceió, fizemos uma parceria com uma imobiliária importante da região e nós estamos operando lá, [em] administração também, lá em Alagoas. É uma experiência nova, vai trazer para a gente também uma nova mudança, um novo mindset, uma nova forma de trabalhar, porque o Nordeste opera de uma maneira diferente do nosso tipo de trabalho.
Acho que foram essas as principais mudanças, alterações e desafios. No meio de tudo isso, gente, as pessoas são impactadas, então como você lida com elas é que faz a diferença. E a Lello sempre foi uma empresa muito justa, que te dá liberdade para trabalhar - isso é uma das coisas que mais me atrai até hoje na Lello, tem muita liberdade, acho que os meus colegas também têm. Ela é uma empresa justa, que nem um pai. O pai faz o que é certo para os filhos, não necessariamente o que eles querem que seja feito. A Lello é um pouco assim, muitas vezes incompreendida pelo público interno, porque ela faz o que tem que fazer, não necessariamente aquilo que as pessoas querem que seja feito, porque obviamente que a gente trabalha de forma muito colegiada na Lello, então a gente conversa, troca ideias e via de regra a gente chega num consenso nas tomadas de decisão. E quando as coisas são feitas assim, elas são feitas de melhor, porque você envolveu as pessoas no processo de escolha.
Então é isso, em linhas gerais eu acho que essas foram as grandes mudanças. A transformação é diária. No passado mais distante, você tinha ciclos de mudanças; hoje eu vejo a mudança presente no dia a dia, eu não tenho mais um dia igual ao outro, o mercado está se mexendo muito rapidamente. A tecnologia trouxe isso. A velocidade da expansão tecnológica é exponencial, só que o ser humano tem uma linha de raciocínio mental linear, então tecnologia exponencial, uma linha de raciocínio linear… Como é que você lida com isso? A tecnologia é muito mais rápida do que a nossa capacidade de adaptação, isso exige da gente um estado permanente de mudança.
Hoje, se essa pergunta for ser feita para os meus colegas, eu acho que todo mundo vai ter exemplos diários do que muda todo dia, porque muda tudo o tempo todo. Mas é isso, essas foram as transformações que eu percebi na Lello que mais me impactaram.
(56:57) P/1 - E voltando à questão da pandemia, eu queria que você me contasse como foi para você pessoalmente também, essa experiência. No trabalho, como foi ficar no isolamento? O que você fazia para se distrair? Me conte um pouco.
R - Foi péssimo para mim, porque eu sou filho único, canceriano, que é meloso para caramba, cinestésico, para terminar esse triângulo aqui. Eu sou uma pessoa cinestésica. Eu aprendo com experiências, eu preciso tocar nas pessoas, eu gosto de abraçar as pessoas. As pessoas até às vezes ficam ‘assim’ comigo, porque eu chego, abraço e beijo as pessoas; eu preciso do contato humano para me relacionar, para que eu possa me comunicar. Então foi péssima para mim a pandemia, porque de repente, ué, cadê as pessoas? Ainda que você as tenha perto de você, no modo digital, para mim é muito diferente, então eu sofri, particularmente. Tanto que hoje, apesar do mundo ter adotado, na média, pelo menos, o sistema híbrido de trabalho, quando as pessoas me perguntam: “Colletti, qual é o seu modelo de trabalho ideal?” “Presencial!” Não por conta do trabalho, por conta do meu perfil de me relacionar com as pessoas, então eu gosto do contato pessoal.
“Colletti, vamos fazer uma entrevista pelo remoto.” Não, vamos fazer presencial que é mais legal. Foi difícil para mim, bem difícil mesmo. Imagina, eu me relaciono todo dia com muita gente, dou aula, vou lá no conselho, vou na ONG, estou toda hora me movimentando, de repente me ver ali entre quatro paredes… Claro, ter uma boa condição financeira, ter um bom escritório home office… Tenho muito conforto na minha casa. O problema não era esse, o problema era realmente o distanciamento das pessoas, então para mim foi muito ruim.
A minha distração é ler, me dá um livro e tá tudo certo. Eu li muitos livros nessa pandemia, é a forma que eu encontro de espairecer. E a questão da religião, como eu disse para vocês, eu sou evangélico, então me dedico muito a essa parte também na igreja; fico meio de fora da conversa, mas também tem um trabalho muito comunitário lá na igreja. E aí, apesar da pandemia, todas as ações comunitárias que a gente faz, não tem como, tem que pegar o alimento e levar lá para a pessoa. Não tem outra forma de você fazer as coisas acontecerem.
Mas foi difícil para mim, eu estava contando os dias para a pandemia acabar e a gente voltar a se relacionar, minimamente como era antes. Foi difícil, mas como em tudo na vida, a gente faz o que tem que ser feito. Não sempre o que a gente gosta, mas o que tem que ser feito. É isso? Vamos fazer isso.
Foi difícil para mim.
(1:00:02) P/1 - E o retorno? A gente teve uma série de vaivéns da pandemia. Como isso ficou na Lello?
R - Para mim, pessoalmente, foi maravilhoso, porque eu estava ansiando por voltar. Mas claro, quando a gente voltou… A Lello, como protagonista que é, ela saiu muito à frente do que os próprios meios de comunicação, em termos de mandar informação para os condomínios, alertar sobre os protocolos de saúde. E claro, como ela saiu na frente sendo protagonista na comunicação, na nossa comunidade, ela fez a mesma coisa internamente conosco, com os seus funcionários. A gente preparou bastante bem os nossos ambientes para receber as pessoas no retorno, então praticando o distanciamento, todo aquele protocolo de higienização, nós tomamos todos os cuidados.
Eu acho que as pessoas responderam no início positivamente, porque acho que tava todo mundo mais ou menos na mesma vibe, “quero sair de casa um pouco”. Uma coisa é você fazer uma opção por home office, sabendo que você pode sair a qualquer momento. “Não, quero trabalhar em home office, mas à noite eu vou ao cinema, vou ao teatro, eu vou sair, vou namorar, vou paquerar, vou para um bar, vou fazer alguma coisa, vou para academia.” Isso é uma coisa. Outra coisa é você não poder fazer nada, então as pessoas ficaram meio querendo mesmo se relacionar, ver gente, então no começo foi super bem recebido. Mas o mindset das pessoas mudou, as pessoas perceberam que: “Olha, eu posso ter uma qualidade de vida melhor.”
Eu comando a área produtiva da Lello, então são pessoas que vêm da comunidade, vêm de localidades mais simples. Essas pessoas pegam trem, pegam o metrô, três, quatro ônibus para chegar na Lello. E elas perceberam: “Quando eu estava aqui no home office eu comia melhor. Eu não perdia duas horas do meu dia me deslocando, eu não pegava aquele trem lotado. Minha vida ficou mais gostosa, eu fico perto dos meus filhos, consigo agora levar alguém na escola, eu via mais o meu marido, a minha esposa, meu parceiro”, enfim, não importa. Elas perceberam que era legal, que elas tinham mais qualidade de vida naquele ambiente.
Elas voltaram felizes, porque queriam se relacionar, queriam ver os amigos. O tempo foi passando e isso foi amadurecendo; rapidamente a gente entendeu que o modelo híbrido iria encaixar melhor, porque a gente permitiria às pessoas, em algum momento do dia - do dia não, da semana - ter aquela qualidade de vida legal e também estar presente no escritório para se relacionar com as pessoas. Acho que a gente foi para um lugar legal ali quando a gente saiu do presencial, porque a gente tava remoto, presencial, híbrido e a gente foi para o híbrido, e aí acho que a gente ficou ali com todo mundo feliz, as pessoas se relacionaram bem etc.
Bom, nessa transição toda - e agora é uma tese, eu não vou afirmar com toda certeza, porque eu não pesquisei sobre essa minha tese. Nós temos uma operação de atendimento a clientes, então tem uma grande área, talvez a mais importante do nosso negócio, na parte de administração de condomínios que eu estou falando. Essa área se relaciona diretamente com o cliente, certo? Não é uma área de backoffice como a minha, por exemplo. Ao longo dos anos, a gente tinha uma estratégia de ir trazendo a operação que estava presente na ponta, no relacionamento com o cliente, para dentro da minha operação backoffice. “Tira essa tarefa que é administrativa do nosso consultor e traz para operação, tira essa também e traz para operação.” Tudo isso para permitir que aquela pessoa que está no front tivesse todo o tempo do mundo para fazer o que ela tem que fazer, que é se relacionar com o cliente, atendê-lo em sua necessidade, sem a preocupação de ter que fazer coisas. Deixa que eu faço as coisas, que eu sou backoffice.
Bom, mas olha o que aconteceu: na minha opinião, a gente foi para home office a fórceps; nesse período pessoas entraram, pessoas saíram. Essas pessoas, quando entram na Lello, elas entram já nesse contexto e não fazem mais algumas operações que eram feitas aqui, então elas entram e não aprendem, porque agora quem faz o que eles faziam é o backoffice. A gente foi tendo uma certa dificuldade nesse sentido, então, a gente foi perdendo um pouco de know-how na ponta do nosso atendimento, ao meu ver. A gente começou a reter menos clientes do que estava acostumado a reter. Isso preocupou a gente, o corpo diretivo da empresa, é claro. E a gente falou… Bom, eu não sei se de forma de inconsciente coletivo, mas acho que todo mundo pensou mais ou menos isso que eu pensei e decidimos que um retorno presencial corrigiria esse problema, porque o pessoal volta, se relaciona com os demais colegas e aprende. Assim que a gente aprende. Você vai para uma sala de aula, o professor fica falando com você; por mais que você crie um debate, se você não tiver uma experiência, você não viver aquilo, você não vai aprender de fato a fazer aquilo. Aí nós decidimos voltar para o presencial, que é o momento que nós estamos agora. A gente está nesse debate do presencial, do híbrido e tal, mas a gente concluiu nesse momento que o presencial é o melhor formato, até que a gente tenha recomposto esse expertise em toda a nossa massa de profissionais.
O pessoal não está gostando muito dessa ideia, por causa disso, principalmente a minha equipe se desloca, como eu já falei para vocês, mas o momento é esse. A Lello sempre tratou… Como eu disse para vocês, a Lello faz o que é certo, ela é muito justa nesse sentido. E os funcionários percebem, reconhecem. Vocês vão entrevistar as pessoas aqui, não sei quantos vocês já entrevistaram, mas eu acho que esse elemento paixão, o quanto a gente se identifica com a marca, eu acho que deve estar presente em todo o mundo, porque realmente a gente gosta de trabalhar lá. É muito legal.
(1:07:14) P/1 - E está mesmo, viu? Você é o terceiro entrevistado e está mesmo.
R - Mas é muito nítido, se você fizer uma pesquisa lá. Vai lá fazer uma pesquisa. O pessoal gosta muito, tem uma conexão que não dá para explicar muito bem. Você vai numa unidade, vai na outra, você vê essa coisa presente. Pessoas vêm de fora, porque como nós somos o principal player desse mercado, eu, por exemplo, recebo muitas visitas. O tempo todo lá na minha operação vem alguém, a empresa X, meus concorrentes vão todos lá visitar. “O que você está fazendo? Como é que você faz tal coisa?” E a gente abre, “pode ver”. Uma coisa é você saber, outra é você fazer.
As pessoas chegam, elas percebem esse engajamento das pessoas com a marca. É claro, como toda a família, tem problemas. Lembra que eu falei, atrito, confusão e baixo desempenho é inerente a qualquer negócio. A gente também sofre desse mal, por isso que tem a liderança, mas a paixão é um elemento presente na Lello. É incrível, isso.
(1:08:20) P/1 - E como você vê o futuro da Lello?
R - Eu sempre estou falando para as pessoas, lá na minha sala eu desenhei a pirâmide de Maslow. A pirâmide de Maslow começa com a hierarquia das necessidades, aquilo que é básico para o ser humano, mas em algum momento dela a gente fala de crescimento e desenvolvimento. E a Lello, ela permite demais que as pessoas cresçam e se desenvolvam, desde que, obviamente, elas estejam interessadas em crescer e se desenvolver.
Só fazendo um parêntese aqui, eu já retomo esse tema. Na questão do meu propósito, que eu falei para vocês, que é ajudar as pessoas a se tornarem melhores, tem uma continuação desse meu propósito: desde que ela queira. É mais ou menos como uma recuperação de uma pessoa que está viciada em qualquer coisa; se ela não quiser é muito difícil, por mais que você tente forçar isso.
A Lello é uma empresa de muitas oportunidades. A Lello, ao meu ver, ela está se transformando numa outra coisa, como muitas empresas que cresceram e se fortaleceram no ramo, foram se transformando ao longo dos anos e viraram outras coisas. Hoje eu não vejo a Lello mais como…. Se alguém perguntar quem são os concorrentes da Lello, eu não consigo mais falar com propriedade. Até um tempo atrás eu falaria “olha, tem essa empresa, tem essa”, que são as empresas que fazem a mesma coisa que a gente. Mas a gente foi para um lugar de inovação tão diferente do que tem no mercado hoje, que não dá mais para comparar. Então se eu for numa convenção, por exemplo, de administradoras de condomínio, o meu lugar não é mais aqui. Talvez seja lá naquele senso tecnológico, talvez seja em outro lugar. Então a Lello tá mudando muito o jeito dela, o que ela faz; ela só não perde essa preocupação com a gestão da comunidade.
A gente fala muito de cuidar das cidades do futuro. Nós temos um centro de pesquisa chamado Lellolab, e ele foi criado para isso, para estudar a cidade do futuro, para ver como nós podemos contribuir nesse processo, para a gente ter uma comunidade ampliada melhor, a gente se relacionar melhor com a cidade que a gente vive. Então eu vejo a Lello crescendo nesta linha, numa linha muito social mesmo, uma empresa totalmente diferente do que ela é hoje e com amplitude nacional. Hoje a gente está presente no Estado de São Paulo, com essa experiência em Maceió, que eu falei para vocês, mas eu vejo a Lello num futuro bem próximo, expandindo para todo o Brasil.
Hoje nós já estamos entre as principais administradoras de condomínios do mundo, por exemplo. A Moira mesmo que esteve aqui com vocês, ela foi recentemente para o Oriente Médio, porque nós fomos premiados entre os maiores do mundo. Então eu vejo a Lello com muita possibilidade, muita. Eu sou a prova viva, hoje eu sou um diretor da empresa, com muita autonomia de tomada de decisão, então é uma empresa de oportunidades. Mas eu vejo a Lello crescendo, se tornando uma outra coisa. Não sei definir muito bem ainda o que ela será, mas uma coisa eu tenho certeza: ela vai continuar fazendo a diferença na vida da comunidade, das pessoas. É assim que eu vejo a Lello.
(1:12:05) P/1 - Então a gente vai para o último bloco de perguntas. Elas são um pouco mais pessoais.
R - Tá bom!
P/1 - Você já tinha me falado de como você conheceu a sua esposa, que você teve uma filha e vocês vieram para São Paulo. Você teve mais filhos depois?
R - Não, só tem uma menina, Beatrice. É um nome italiano. Tem 25 anos hoje e se casa no dia oito de outubro. Não tive outros filhos, tive só ela mesmo.
(1:12:33) P/1 - E como é que foi para você ser pai?
R - Nossa, foi incrível! Lembra que eu falei lá atrás, uma das coisas que eu já antevia era: “Eu vou ter a minha família, vou ter a minha independência, vou me casar e vou ter uma filha.” Eu sabia que eu ia ter uma filha, não sabia se eu ia ter vários filhos, mas uma menina eu sabia que ia ter. Então foi incrível para mim, foi incrível, porque eu desejava ter uma filha. E tive! O desejo era tão forte…
Tem essa coisa meio assim, não sei se é mística, mas normalmente aquilo que passa pela minha cabeça, que eu desejo, acaba acontecendo na minha vida. Eu acho que quando a gente deseja uma coisa e a intenção é boa, acho que o destino conspira para presentear a gente. Então foi maravilhoso, não sei se você tem filhos ou não. Não tem nada melhor. Eu amo a minha filha, nossa, é incrível. Foi uma experiência muito boa.
Como eu disse, eu sou preocupado com as pessoas, imagina com aquelas pessoas que estão pertinho de mim, que eu amo, então eu cuido, mimo mesmo, tô sempre atento. Foi bem legal.
Eu sempre fui notívago, então tinha muita dificuldade para dormir à noite. Agora eu já corrigi isso, mas eu sempre tive muita dificuldade. Então eu ia dormir às quatro horas da manhã e às seis horas já estava de pé, dormia poucas horas por noite. Imagina, você com um bebezinho, notívago, tá tudo certo! Porque pensa no bebê que resolve passar a noite inteira acordado.
Foi muito legal, foram madrugadas bem legais, que eu lembro com carinho até hoje. Foi legal, foi muito bom! Até hoje eu gosto da paternidade, é muito legal.
(1:14:28) P/1 - E quais são as coisas mais importantes para você hoje em dia?
R - Família. Minha família é o mais importante, é o meu principal valor, não tem nada que eu decida contra a família. O meu trabalho, eu amo trabalhar, então as pessoas gostam de fazer coisas. “Qual o teu hobby?” Sei lá, academia, jogar futebol e tal. “Colletti, qual o teu hobby?” “Trabalhar!” “Mas você prefere sair de férias ou trabalhar?” “Trabalhar, saio de férias porque tenho que sair de férias, mas eu prefiro trabalhar.” Ao ponto de, para vocês terem uma ideia, uma vez ir para um resort… Eu ia ficar sete dias naquele resort, não estava aguentando mais ficar. Procurei o gerente do hotel e me propus a dar uma palestra. E dei uma palestra no hotel. Obviamente que eu barganhei pelas diárias, mas eu dei uma palestra. Ele descobriu que eu era professor na Fundação Getúlio Vargas.
Eu amo trabalhar. Nossa, como eu gosto de trabalhar. Os meus valores são a família e o trabalho. E claro, sobretudo, as pessoas.
(1:15:38) P/1 - Quais são os seus sonhos?
R - Eu pretendo ainda voltar a empreender. Apesar de estar muitos anos já incrustado no coração do ensino - a FGV influencia bastante a educação no nosso país - eu não estou contente com o modelo de ensino que o Brasil tem. Aliás, eu acho péssimo, sempre achei - quando eu entrei, lembra que eu falei? Eu já não gostava do modelo de aula que a gente tinha, continuo achando que só piorou.
Eu vejo muitos alunos formados em pós-graduação, MBA, que não tem condições, saem mal preparados mesmo, ou chegam no MBA muito mal preparados, que torna o MBA até fraco, porque você tem que voltar e ensinar coisas que eles deveriam saber, então eu gostaria ainda de empreender na área de educação.
A Lello tem uma ideia, um projeto de universidade corporativa, então imagina, eu estou aqui, ansiosíssimo para que o destino conspire favoravelmente. Espero que essa entrevista chegue no Couto, no Zé Roberto, porque eu sei que eles querem a universidade corporativa. O meu propósito de vida é transformar a vida das pessoas para melhor e eu amo a educação, então eu gostaria de empreender com eles na área de ensino, formando líderes.
O líder transforma a sociedade. Quando você tem líderes bons, forjados em caráter bom, você transforma a sociedade para melhor. As empresas fazem isso. Então, se você formar bons líderes, eles tomarão boas decisões, que vão favorecer a vida das pessoas. A empresa é formada por gente, certo? Por mais que seja uma indústria, tem alguém lá apertando o botão. Quando você cuida das pessoas, elas cuidam do seu negócio, certo?
As coisas nunca, nunca, serão mais importantes que as pessoas. Eu continuo achando que a educação, a formação das pessoas, transforma. Meu grande sonho agora é esse, é empreender na área de educação, de preferência aqui, com os sócios da Lello.
(1:18:11) P/1 - Tem alguma coisa que você gostaria de falar sobre a Lello que a gente não abordou aqui?
R - Nossa, eu acho que a gente abordou [tudo]. Eu queria só deixar registrado o quanto eu me sinto feliz trabalhando lá na Lello com a minha equipe, as pessoas se doando. Mas eu acho que a gente cobriu tudo. Acho que não ficou nada de fora, não. Estou satisfeito com a entrevista.
(1:18:40) P/1 - Então vamos para a última pergunta. Como foi para você contar um pouco da sua história e da sua história na Lello para gente hoje?
R - Não sei ainda, ao certo. Preciso pensar um pouco sobre isso, sobre essa questão. Mas foi bem inusitado, fazia muito tempo que eu não pensava nas coisas que você me perguntou. Quando eu era pequenininho, relembrei da minha casa, dos meus avós que já não estão mais conosco. Eu me senti bem, me senti bem mesmo, de verdade, porque eu só lembrei de coisas gostosas aqui, coisas boas.
É claro que na entrevista, você vai contando tudo aquilo que deu mais certo, mas para que todas as coisas acontecessem, teve muita transpiração, muito suor, teve sofrimento, teve angústia, teve um monte de coisas. Então foi importante, foi legal eu ter revisitado a minha história e ter relembrado. E deve ter muita coisa que a gente acabou não abordando. Mas foi bacana, foi muito legal essa experiência.
(1:19:54) P/1 - Bom, então em nome da Lello e do Museu da pessoa, a gente agradece a nossa conversa de hoje.
R - Legal! Eu que agradeço! Obrigado!
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