Retiro dos Artistas
Depoimento de Helena de Lima
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 11/04/2016
Realização Museu da Pessoa
RDA_HV01_Helena de Lima
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Helena, você pode falar o seu nome completo?
R – Helena de Lima.
P/1 – Qual a sua data de nascimento?
R – Dezessete de maio, 1926. Corajosa dizer a data da idade (risos).
P/1 – Em que lugar que a senhora nasceu?
R – Em nasci em 1900…
P/1 – Em que lugar?
R – Rua do Catete. Não, não, Tavares Bastos. É, Catete... Tavares Bastos.
P/1 – Seus pais nasceram no Rio de Janeiro?
R – Nasceram.
P/1 – E seus avós?
R – Também. Todo mundo brasileirinho.
P/1 – Você conviveu com os seus avós por parte de mãe e parte de pai?
R – Sempre, sempre.
P/1 – Você lembra do nome deles?
R – Meu pai se chamava Alfredo Vitor de Lima, minha mãe se chamava Maria Francisca de Lima, eh, memória boa, hein!
P/1 – O quê que o seu pai fazia?
R – Meu pai era garçom. [cantando] “Garçom, apague essa luz”.
P/1 – E sua mãe?
R – Dona de casa.
P/1 – Onde que era a sua casa de infância? Você sabe como eles se conheceram, seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Ah não! Não vou me lembrar disso agora.
P/1 – E onde que era a sua casa de infância?
R – Rua Tavares Bastos, ali no Catete.
P/1 – Como é que era a casa, você lembra da casa?
R – Casa boa, casa confortável.
P/1 – Você tem irmãos, irmãs?
R – Um irmão.
P/1 – Mais velho ou mais novo?
R – Mais velho. Nasceu primeiro (risos).
P/1 – Como é o nome dele?
R – Alberto Vitor de Lima.
P/1 – E quais eram as brincadeiras que vocês tinham de infância?
R – As brincadeiras? As de criança, jogar bola, peteca, brincar de esconder, adorava brincar de esconder (risos).
P/1 – E tinha muita festa na sua casa? Como é que era?
R – Muita festa? Não, não, não.
P/1 – Aniversário, comemoravam?
R – Não. Uma casa pequena, modesta. As festas normais, de fim de ano, das crianças.
P/1 – Você teve educação religiosa? Fez Primeira Comunhão?
R – Fiz, naturalmente. Até há pouco tempo, eu tinha foto aí, eu toda vestidinha de branco, com a mãozinha. Compenetrada. Mas não tenho mais. Muito tempo, né? Tempo à beça (risos).
P/1 – E na sua casa, se escutava muita música?
R – Música é parte da vida de todo mundo, né, minha linda. A primeira coisa que qualquer um de nós faz de manhã, acorda, escova o dente, toma o cafezinho, liga logo o som, não é, filha? Que a música é parte da vida de tudo e todos, distrai.
P/1 – Quem que escutava mais música na sua casa? Seu pai? Sua mãe?
R – Todos!
P/1 – O quê que vocês ouviam quando você era pequena?
R – Música popular brasileira, sempre.
P/1 – O quê que tocava naquela época?
R – Música brasileira, samba, marchinhas... música brasileira.
P/1 – E quando que você começou a cantar?
R – Olha, eu comecei a cantar no colégio Deodoro, que eu estudei no colégio Deodoro, fiz o primário lá e todo fim de ano tinha festa de encerramento do ano. Eu era sempre a escolhida para cantar porque eu fui sempre extrovertida. Eu que cantava as músicas que as professoras escolhiam pra gente cantar (risos).
P/1 – Essa escola era perto da sua casa?
R – Colégio Deodoro?
P/1 – É.
R – É ali no Flamengo, Flamengo não, Catete, rua do Catete. Tem a rua Cândido Mendes, tem um pedacinho, colégio Deodoro.
P/1 – Que outras lembranças você tem do colégio?
R – As boas, as melhores. Colegas, os amigos. Até as briguinhas. De vez em quando, saía uma briguinha, né? Mas passava logo, coisa leve.
P/1 – E os professores?
R – Ótimos!
P/1 – Você lembra deles?
R – Mais ou menos, né, minha linda.
P/1 – O quê que você lembra?
R – Tem muito tempo, né? Lembro com carinho... carinho é tudo. Educação, delicadeza, recordar é viver.
P/1 – Nessas festas de fim de ano, o quê que vocês cantavam? Quais eram as músicas, você lembra?
R – Naquele tempo era [cantando] “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil.” Faz tempo, né, minha linda? Você não, você é uma menina.
P/1 – E aí, depois da escola, o quê que você fazia em casa?
R – O quê?
P/1 – Depois da escola, você ia para casa…
R – Ia para casa, almoçar, descansar, depois estudar os deveres para o dia seguinte. Vida normal de menina, de menino.
P/1 – E na adolescência, você começou a cantar super nova?
R – Hein?
P/1 – A senhora começou a cantar super jovem.
R – Não me chama de senhora…
P/1 – Você. Desculpa, desculpa. Você começou a cantar, profissionalmente, com quantos anos?
R – Jovem ainda, porque no colégio, fim de ano tinha festa de encerramento, né, e os cantores mais descontraídos, mais extrovertidos, que cantavam, eram convidados para cantar nas festas de fim de ano. Eu era uma delas porque eu sempre fui assanhada (risos). Cantava, cantava, descontraída, eu brinquei, nem ponha isso, assanhada, hein! Sempre fui descontraída, aliás, eu sou descontraída, não é, olha eu aqui!
P/1 – E quando você começou a cantar profissionalmente?
R – Depois de uns… depois de algum tempo. As pessoas passavam, me ouviam cantar e eu fui convidada para cantar sempre na Rádio Nacional, no Programa do Guri. Você nem lembra, você nem era nascida. Programa do Guri, eu ia.
P/1 – Quem te chamou para cantar no Programa do Guri?
R – Quem? Agora, minha filha, não vou lembrar. Tanta gente amiga, tenho medo de esquecer o nome de um e não falar o nome do outro. Mas todos os amigos.
P/1 – Aí foi no Programa do Guri?
R – Foi. Na Rádio Nacional.
P/1 – Quem mais cantava nesse programa?
R – Nesse momento, não me lembro, não.
P/1 – Que música você cantou lá? Qual foi a primeira?
R – Naquele tempo, era... a música do momento era… não era essa, não. Faz muito tempo, meu amor. Pode por a “Cidade Maravilhosa”, porque é uma música que todo mundo canta, todo mundo sabe, não é, meu filho? Põe “Cidade Maravilhosa”.
P/1 – Canta pra gente, como é que é?
R – [cantando]: “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil. Berço do samba e das lindas canções que calam n’alma da gente, és o altar dos nossos corações, que cantam alegremente”. Oh memória (risos), bom né?
P/1 – Muito bom.
R – Mas quem canta, minha linda, desenvolve muito o sentido de decoração, não é muita vantagem lembrar… bem, há uma ou outra letra que a gente não lembra, ninguém é de ferro, né? Mas desenvolve muito o sentido de decoração.
P/1 – E em boate, quando que você começou a cantar em boate?
R – Quando? Logo que eu comecei a cantar, dar o ar da minha graça como cantora, fui logo cantar no Cangaceiro, ali na rua Fernando Mendes. Conhece o Cangaceiro?
P/1 – Quem que ia no Cangaceiro? Qual que era o público?
R – Público de amigos, senhoras, senhores, menores não entravam, não era permitido, né? Senhoras, senhores.
P/1 – Era toda semana?
R – Todo dia.
P/1 – Todo dia?
R – Todo dia! Toda semana, todo dia!
P/1 – É mesmo?
R – É mesmo.
P/1 – Que horas que você começava a cantar?
R – Que horas? Oito e meia, oito horas, oito e meia.
P/1 – Ia até que horas?
R – Bem, era… vamos botar dez e meia, onze horas, porque muita gente ficava pra jantar, para conversar um pouquinho com os amigos. Um ambiente sempre sadio, maravilhoso, calmo. É mesmo, não tem agora nenhuma boate por aí, tem? Você conhece alguma boate por aí?
P/1 – Não.
R – É, não tem. Que pena! Porque era um lugar onde as pessoas se encontravam para conversar, ouvir novidades.
P/1 – Quanto tempo você cantou no Cangaceiro?
R – O quê que eu posso te dizer? Dez anos.
P/1 – Dez anos todo dia?
R – É, porque o Cangaceiro era uma casa de amigos, então qualquer novidade era no Cangaceiro, qualquer encontro era no Cangaceiro. Era ali na rua Fernando Mendes, o Cangaceiro e um ambiente também muito tranquilo, não tinha discussão, não tinha brigas, só encontro de amigos. Então, tava sempre cheio, sempre agradável por isso. As pessoas marcavam encontro no Cangaceiro.
P/1 – Você lembra de alguns amigos seus de lá?
R – Lembro. Ah, mas agora de manhã, lembrar o nome daquela gente toda! De manhã é difícil, hein, minha filha! (risos) Ninguém é de ferro, não?
P/1 – Que músicas você cantava lá?
R – [Cantando]: “Quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba. Vê, estão voltando as flores, vê…” “Cidade maravilhosa…”, essa eram as músicas da noite. E você sabe, filha, eu não sei como está à noite por aí agora, que eu não tenho saído. Você tem saído à noite? Eu não sei, mas o Cangaceiro tinha sempre gente. Às sete horas, já tinham pessoas pra jantar, inclusive. Marcava encontro lá para jantar com os amigos, com as pessoas amigas. Um ambiente muito calmo, nunca saiu uma briga lá. Incrível, né, filha, porque sempre sai uma… discussão não é briga, né? Discussão é o que nós estamos fazendo agora, mas briga não saía. Não tinha briga. Quando alguém tava mais agitado, um senhor ou outro, iam para a rua, resolviam o problema ali na calçada do Cangaceiro. Eh Cangaceiro. Eu sinto saudades.
P/1 – Como que foi o convite para você gravar “Estão voltando as flores”?
R – O “Estão voltando as flores”, que é do Paulo Soledade, que é meu querido e grande amigo, ele fez essa música para a linda senhora dele e para as crianças, filhos, que numa manhã, linda como a de hoje, voltavam da praia e ele fez: “Vê, estão voltando as flores, vê, nessa manhã tão linda, vê, como é bonita a vida, vê, há esperança ainda”. Musicou e foi atrás de quem? Da amiga dele, Helena de Lima: “Heleninha, fiz uma música, canta pra mim? Não precisa se preocupar muito, canta pra eu ouvir.”, e começou a cantar, linda! Até hoje existe “Estão voltando…”, se canta, aliás “Estão voltando as flores”, né?
P/1 – Que outra música que você fez, outros compositores também…
R – Outra: [cantando] “Quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba”, eh, tempo bom!
P/1 – Como é que foi o convite para essa?
R – Hein?
P/1 – Como é que foi o convite para você gravar essa música?
R – Normal. O Cangaceiro era uma casa muito simpática, muito calma e os amigos e cantores, e compositores se encontravam lá para tomar um drinquezinho, conversar um pouquinho e tava sempre animado e, lá, a gente cantava, alguns compositores compuseram muitas músicas lá no Cangaceiro…
P/1 – Quais compositores?
R – Eu preciso de tempo para lembrar porque faz muito tempo, minha filha (risos). Faz tempo à beça.
P/1 – E, naquela época, você namorava?
R – Eu namorava, sempre!
P/1 – Na época do Cangaceiro, no começo, você namorava quem?
R – (risos) Um homem muito querido, muito amado, tá vivo ainda, está bem.
P/1 – Pode falar o nome?
R – Não. Absolutamente.
P/1 – Foi o que você mais gostou?
R – Foi. Pronto. Muda de assunto, por favor?
P/1 – Mudo.
R – Chato esse.
P/1 – E depois do Cangaceiro?
R – Depois do Cangaceiro, fiquei cantando em boate sempre, em festas, em jantares, em reuniões, sempre cantando.
P/1 – Que outra boate você cantou, depois do Cangaceiro?
R – Só cantei no Cangaceiro, Não, cantei também ali… não vou me lembrar agora, minha linda.
P/1 – Posso pegar? Eu tenho uns dados aqui, só um instantinho.
R – Chato isso, sabe? Enjoado! Chega, chega, minha filha.
P/1 – E a sua participação? Você participou num filme, também, né?
R – Eu não vou me lembrar agora.
P/1 – “Samba da Vida”? Você lembra desse filme? “Samba da Vida”.
R – “Samba da Vida”? Não.
P/1 – Você não participou?
R – “Samba da Vida”? Não.
P/1 – Musical do Jaime Costa?
R – Não.
P/1 – Você morou fora do Brasil, também?
R – Não, não. Sempre no Brasil.
P/1 – Já cantou fora do Brasil?
R – Não, não.
P/1 – Nunca saiu pra cantar?
R – Não, não. Sempre nas mediações.
P/1 – Você conseguiu ganhar dinheiro cantando?
R – Hein?
P/1 – Você ganhou dinheiro com a música?
R – Não. Dinheiro, não. Dava para o gasto, né? Sempre tinha um programa, um cachê que todo mundo… sempre tinha um dinheirinho, né, que não faz mal a ninguém um dinheirinho, né?
P/1 – Você… e disco? Quantos discos você gravou?
R – Uns dez, bom, né?
P/1 – Você lembra deles, quais são?
R – “Uma noite no Cangaceiro”, “Outra noite no Cangaceiro”, “Estão voltando as flores”, essas músicas todas lindas. Ui…
P/1 – A Dolores Duran era sua amiga?
R – Muito! Querida amiga. E como cantava bonito, né? Oh meu Deus do céu! Uma musicalidade! Era uma pessoa de poucos amigos, mas sincera, autêntica! Quando ela escolhia uma pessoa para amigo, aí ela ficava perto. É bom amizade, patrimônio, né?
P/1 – Como que você conheceu a Dolores? Você lembra?
R – Lá, no Cangaceiro. O Cangaceiro era o reduto da música popular do Brasil. As pessoas todas iam para lá de noite. Era um lugar calmo, não tinha briga, não tinha aborrecimento, era só amizade.
P/1 – Você também interpretou Lupicínio Rodrigues?
R – Oh, quem não o interpretou, Lupicínio Rodrigues?
P/1 – O quê que você cantou dele?
R – Pois é. Agora que você me pegou. Não vou me lembrar agora. Nesse momento não me lembro.
P/1 – Johnny Alf.
R – Johnny Alf, outro querido amigo, né? [cantando]: “Foi a noite, foi o mar eu sei. Foi a lua que me fez pensar…”, gente boa. Meu Deus, quanto tempo isso. Você um dia vai ser entrevistada, você vai ver o que eu tô passando (risos), você vai ver o que é bom para tosse (risos). Você vai ver o que é bom para tosse (risos). Minha filha, bom humor é saúde. Custa um sorriso? Nada. Custa uma palavra de carinho? Nada. A vida continua, tem outra vida? não tem. Então, nessa que existe, você segura. Olha nos olhos. É gostoso falar com uma pessoa olhando nos olhos, não é? Você tá falando com uma pessoa, a pessoa tá assim, eu digo: “Olha pra mim”, aí a pessoa olha, né?
P/1 – Helena, e na boate Acapulco? Você cantou na boate Acapulco?
R – Cantei, cantei. Tempo! Muito tempo. Meu Deus, como o tempo passa, né?
P/1 – Helena, e como é que você veio morar aqui no Retiro dos Artistas?
R – Porque o Retiro dos Artistas é um lugar muito aprazível, muito calmo, muito agradável. As pessoas todas se dão, as pessoas todas são amigas e melhor… nada melhor do que estar num lugar onde todos se estimam, se conhecem e conversam, relembram que a vida continua, né? Então, relembram as coisas e aqui é o lugar ideal para isso. Por isso se chama Retiro dos Artistas.
P/1 – Quanto tempo você mora aqui?
R – Aqui, eu moro já há cinco anos. Tempo à beça, né?
P/1 – E parentes? Você tem parentes?
R – Hein?
P/1 – Seus parentes, quem são?
R – Alguns estão no céu, né? Mas meu irmão vem aqui, minha cunhada, os amigos. Sempre visitam, porque aqui, inclusive, é um lugar muito agradável, muito calmo, você não acha?
P/1 – Muito. Uma delicia.
R – Calminho, né? E bonito. Um lugar bonito. Aquela árvore linda ali, linda! Todo dia eu olho para ela. De vez em quando, vão lá e cortam tudo, coitada (choro), mas ela teimosa, daqui a pouco, ela sobre outra vez (risos).
P/1 – E qual que é a rotina da senhora aqui? O quê que a senhora faz…
R – Senhora, não. Você.
P/1 – Desculpa. Tem atividades?
R – Hein?
P/1 – Aqui tem muitas atividades? O quê que você faz…?
R – Tem gente boa, gente amiga, mas principalmente, vem a família, os amigos, né? Que aqui é um lugar, relativamente, pequeno.
P/1 – Mas aqui tem show, você canta?
R – Tem, tem aquele palquinho lá, de vez em quando tem shows ali.
P/1 – Você já cantou aqui?
R – Já. Claro!
P/1 – Qual foi o último show que você participou?
R – O último? O penúltimo, né? Há tempo, já. Eles não fazem muitas festas aqui. Deviam fazer, porque aqui é um lugar muito agradável. Lá, digo “aqui”, é lá. É um lugar muito agradável, deviam fazer mais festas, porque tudo que distrai é uma boa, não é, minha filha? Mas eles é que mandam.
P/1 – Qual que é o seu maior sonho hoje?
R – Meu sonho?
P/1 – É.
R – Primeiro, a saúde, a família, a alegria de viver, os amigos, que é patrimônio, esses são os melhores sonhos da vida da gente.
P/1 – Tá cansada?
R – Não. Ainda não.
P/1 – Posso fazer mais umas perguntas do passado?
R – Pode!
P/1 – O LP “Não há de quê”…
R – [Cantando]: “Não há de que meu bem, amor não se agradece, se eu gosto de você é que você merece”, lindas. Lindas músicas. Eu gravei lindas músicas. Bom, gravei “Estão voltando as flores”, né? (risos)
P/1 – E esses LPs, eles vendiam muito? Esse primeiro LP vendeu bastante?
R – Relativamente. Tudo vende relativamente, né, filha?
P/1 – Você casou ou nunca se casou?
R – Não.
P/1 – E seu irmão era músico também? Ele te acompanhava?
R – Não, não.
P/1 – Seu pai, sua mãe?
R – Não, a única artista da família era eu.
P/1 – Algum tio? Você foi a única artista…
R – Nada, só eu.
P/1 – Tem alguma coisa que você queira deixar registrado? Tem alguma história que você queira contar, deixar gravado aqui?
R – Não. Vida que todos sabem, que eu sempre cantei à noite, sempre gostei, preferi sempre cantar à noite. Claro, cantava em festas de aniversários, em jantares, mas sempre gostei de cantar à noite. Principalmente no o Cangaceiro. Era o reduto do samba lá, da música popular do Brasil.
P/1 – Você tinha algum empresário?
R – Não.
P/1 – Quem que negociava cachê, tudo?
R – Eu mesma. Falavam diretamente comigo.
P/1 – E pra receber também o cachê?
R – Tudo, nunca tive problema nenhum com nenhum amigo, com nenhum empresário em nenhum lugar em que eu sempre cantei, trabalhei. Era tudo amizade, carinho, educação, delicadeza, comportamento, tudo de bom. Não tenho nenhuma queixa pra te falar disso, aquilo, aconteceu isso… nada, só amizade, amor, carinho, música. Que bonitinho, isso dá samba: amizade, amor, carinho e música: [cantando]: “Amizade, amor, carinho, música, amizade, amor, carinho, música”, isso dá samba.
P/1 – Para encerrar a entrevista, o quê que você gostaria de falar?
R – Que eu tive muito prazer, tenho muito prazer na presença de vocês, porque relembrar toda uma vida, graças a Deus, calma, tranquila, sossegada de cantora é um prazer e ter alguém que me entreviste, venha entrevistar, aliás, e possa ouvir o que a gente tem para contar ainda daquele tempo… daquele tempo não é tanto tempo, mas é algum tempo, é um prazer, é uma felicidade. Relembrar todas as coisas que a gente sempre fez cantando. Modéstia à parte, encantando também, né, porque a presença da gente, de uma certa maneira, encanta. Não é encantar a beleza, a presença, o olhar nos olhos, como eu tô te olhando agora. Relembrar um fato, amigo, sempre melhor, sempre a bondade, a beleza, o carinho, a educação, que a vida continua. Essa frase, minha filha, é uma frase definitiva na vida de tudo e todos e a vida continua. E não continua? Tua vida não continua? A tua? A tua? Bom?
P/1 – Lindo. Obrigada.
R – Obrigada você, querida. Um beijo. Eu vou cantar um pedacinho de uma música para você, olha: [cantando] “Vê, estão voltando as flores, vê, nessa manhã tão linda, vê…”, é do Paulo Soledade essa música, “…como é bonita a vida, vê, há esperança ainda”, legal?
P/1 – Lindo! Helena, você tem fotografias?
R – Pois é, não tem aquele provérbio que diz: “Casa de ferreiro, espeto de pau”. Quem é que tem fotografia? Nunca tem. Vem um, leva, vem o outro, leva, vem o outro, leva, de repente, acaba… eu preciso fazer umas fotos, mas preciso me embelezar, né, filha?
P/1 – E discos, tem aqui? Você tem?
R – Não. Nem pensar!
P/1 – Não, pra gente olhar.
R – Não, meu amor.
P/1 – Não tem? Só para filmar.
R – Vou olhar daqui a pouco.
P/1 – Quero tirar uma foto com você, posso?
R – Deve!
Recolher