Projeto Memórias do Comércio de 2020-2021 - Módulo Bauru
Entrevista de Valéria Carvalho
Entrevistada por Luís Paulo Domingues e Guilherme Dias Foganholo
Bauru, 27 de janeiro de 2021
Entrevista HV002
P1 - Valéria, primeiro é pro forma a gente perguntar, que você dissesse seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R1 – Valéria de Carvalho Costa, nasci em Bauru, 19 de dezembro de 1954.
P1 – E qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Moacir Costa, Neide Carvalho Costa.
P1 – E dos seus avós, você sabe algo, assim? Você conviveu com eles? Qual era o nome deles?
R1 – Eu convivi com meus avós maternos, Manoel Carvalho e Tereza Matos Carvalho.
P1 – E você tem irmãos?
R1 – Tenho. Uma irmã e um irmão.
P1 – Sim, e qual é o nome deles?
R1 – Cláudio e Paula.
P1 – E você sabe alguma coisa sobre a origem da família? Eles vieram de fora? Como é que eles foram parar em Bauru?
R1 – Meus bisavós eram portugueses. Ao quadrado.
P1 – E como eles vieram morar em Bauru? Pra fazer o quê? Você sabe?
R1 – Não. Eles vieram. Meu avô paterno acho que trabalhava em ferrovia. Eu acho. Eu sempre achei que essas histórias iam estar muito, ali, presentes, sempre e então eu nunca fui de prestar muita atenção, porque achava que sempre... e daí as pessoas vão indo embora e você vai ficar sem fonte, né?
P1 – Está certo.
R1 – Mas meu irmão é mais ligado nisso. Ele pode me informar, um pouco.
P1 – Sim, mas eles tinham, ainda, sotaque português? Tinha comida portuguesa?
R1 – Meu bisavô sim. Minha vó fazia umas comidas, umas bacalhoadas, uns peixes bem com cara de português, mesmo. Eu gosto muito.
P1 – Legal. É uma delícia a comida portuguesa.
R1 – É.
P1 – E na infância, quando você nasceu, você morava em que local de Bauru?
R1 – Meus pais moravam na Júlio Prestes. Ali em frente aquele que seria até um armazém da ferroviária.
P1 – As oficinas, ali, da Noroeste, né?
R1 – É, da Noroeste.
P1 – Legal. E você tem memórias da sua infância, quando você era criança?
R1 – Muito pouco.
P1 – Como é que era o bairro?
R1 – Muito pouco.
P1 – Brincadeiras. O que você brincava, na rua?
R1 – Eu era o dodói do meu avô, então assim: meu avô tinha caminhões de transporte de combustível, eu tinha macacão, sabe, pra entrar no tanque do caminhão, pra fazer restauração, junto com ele. Isso quando eu era bem pequenininha. Eu lembro disso, eu lembro quando eu comecei a fazer balé, que sempre foi uma grande paixão minha e eu tenho muito pouca memória da minha infância. Muito pouca, mesmo.
P1 – Está certo. E o balé durou até que época da sua vida?
R1 – Até eu engravidar. Eu parei um tempo, depois eu voltei. Eu comecei com cinco anos. Aí eu fui até vinte anos, vinte e um, aí eu parei.
P1 – E na escola, você estudou onde?
R1 – Eu comecei estudando no São José, aí eu era extremamente tímida e eu não fazia leitura, eu tinha vergonha de falar, daí uma psicóloga falou pra me mandar pra uma escola mista, aí eu fui para o instituto.
P1 – O instituto, qual era, mesmo?
R1 – Aqui, em frente a prefeitura. Do lado da prefeitura. Ernesto Monte.
P1 – Isso aí foi o que, colegial?
R1 – Terceiro ano primário.
P2 - __________ (07:09) memória também ou só sobre a infância, nessa época já tem mais memórias?
R1 – De quando?
P2 – Dessa época. Com quantos anos você estudou lá no Ernesto Monte?
R1 – Eu fui no terceiro ano pra lá e estudei. Aí tinha que prestar aquela provinha, pra fazer... aí eu estudei lá.
P1 – Pra ir pro ginásio? Sei.
R1 – Pra ir pro ginásio, tal. Depois eu fiz Direito. Eu parei um tempo, depois eu fiz Direito, sou apaixonada por Direito, acho Direito fantástico, mas nunca advoguei, porque entre o que está ali na lei, o que é escrito e o que acontece, na realidade, é uma diferença muito absurda, né?
P1 – Sim.
R1 – O que vale pra um, não vale pro outro e...
P2 – E você nunca praticou, então?
R1 – Não. Nunca advoguei.
P2 – Entendi.
P1 – Na escola, durante o período da escola, pra você escolher Direito, você então tinha algumas matérias que você gostava mais? Você lembra?
R1 – Eu gostava de... não lembro o que eu gostava. Acho que eu achava escola um saco. Mas meu pai era promotor, né?
P1 – Sei.
P2 - ___________ (08:41)?
R1 – Sim e tem uma coisa, assim, de senso de justiça, que cada um tem um, que é uma coisa de você ver coisas que te falam: “Meu, não pode ser assim. Você tem que fazer alguma coisa por isso”, saca? E o fato de ver meu pai sendo promotor, eu acho que dentro do Direito, é o lugar que você mais pode ser justo, sendo promotor. Porque você pode pedir pela absolvição, como você pode dar o sangue pra condenar. Depende do que tudo te diz, se é real ou não é, né? Então, eu achava incrível, era meu sonho ser promotora. Mas aí não rolou. Aí rolou Armazém. (risos)
P1 – E na época da faculdade, você foi fazer onde? Na ITE? Como é que foi?
R1 – Na ITE. Aí eu fui escolhendo todos os meus professores, eu não pegava os professores que a minha turma pegava. Eu: “Quem é o melhor de processo penal?” “O Tourinho” “Vou esperar o Tourinho. Quem é o melhor de penal?” “Não sei quem” “Vou esperar não sei quem”. Eu fui fazendo assim, sabe? A faculdade inteira eu escolhi meus professores. Dessas matérias. De outras, nem tanto.
P1 – Seu pai era promotor público e sua mãe fazia o quê? A profissão dela.
R1 – Era professora.
P1 – Professora do que era?
R1 – De primário. De primeiro grau, né? Fundamental.
P1 – Então, seu pai que te inspirou? A profissão dele inspirou você a fazer o Direito, né?
R1 – Sim.
P1 – Você tem memórias da faculdade?
R1 – Sim. Eu acho que também teve um primo meu que morou com a gente, eles faziam Direito, meu pai e ele, meu pai fez Direito depois, ele não fez Direito... eu tinha, sei lá, uns cinco, seis, nove, dez anos. Não sei. Quando estourou a revolução de 1964 esse meu primo era procurado pela... ele era comunista, então tinha ordem de prisão pra ele. Como não tinha crime político, era como caranguejeiro, ladrão de carros. E saiu no jornal e meu pai que foi pra lá, pra avisá-lo. Então, tudo isso te faz pensar em termos de... não são assim as coisas, né? A lei não pode ser usada dessa forma. Aí meu pai se forma, passa um tempo, ele presta em Mato Grosso, era Mato Grosso, passou lá em primeiro lugar como promotor e foi pra lá. Meus pais se separaram e eu lembro de férias que eu ia, que eu assistia um monte de júri seguido, dele, então é uma coisa que me encanta até hoje, júris.
P1 – Onde que era isso?
P2 – Foi com um primo seu, desculpa, que aconteceu isso, Valéria, que você disse?
R1 – Um primo da minha mãe. Ivan Gibin de Mattos.
P2 - E aí, no final, deu alguma coisa ou não?
R1 – O partido o tirou do Brasil, ele voltou só quando teve a anistia irrestrita, em 1979. Ele só pôde voltar pro Brasil depois de 15 anos. O partido, parece que... ele estudou na Rússia e na Tchecoslováquia, em Praga, ele foi mestre por Praga e, no fim, ele estava dando aula em Bolonha. Ele ficou em Bolonha um tempo, dando aula, antes de vir pro Brasil. Ele morreu, já.
P1 – Você ia muito pro Mato Grosso visitar seu pai? Era Campo Grande, né?
R1 – Nas férias. Primeiro era Dourados, depois ele ficou em Campo Grande também, mas a princípio era Dourados, ele teve uma época em Glória de Dourados também, que era um ovo. Era legal.
P1 – E quando é que começou - acredito que foi antes da faculdade – sua paixão pela música, pelo rock and roll?
R1 – É uma história de mudança de tudo, né, o rock. O rock mudou tudo: visão de vida, política, forma de se vestir, tudo, né? É uma coisa que altera tudo. Chega uma coisa que você olha e é alteração de tudo, não tem como não gostar, não ser tocado pela coisa, né? É muita mudança. É muita possibilidade. Que eles te colocam num mundinho estreito, é isso e aquilo, sabe e de repente você vê toda aquela mudança, desde a coisa do negro sendo aceito, a música negra, que era rejeitada.
P1 – Sim, é verdade. E no rock é presente, né?
R1 – Sim. E aceita. Apesar de todas as brigas que aconteceram, que continuam acontecendo, mas é importante a influência deles, né?
P2 – Você lembra, Valéria, mais ou menos em que período da sua vida, assim, houve esse contato com o rock, que você meio que inconscientemente percebeu essa quebra de paradigmas, essas coisas novas e tal, assim?
R1 – Eu tinha uns 13, 14 anos.
P1 – Na época da escola ainda.
P2 – Bem isso de quebrar paradigmas, de ser um negócio diferente, que você estava falando.
R1 – Sim. E de você ver que toda a linguagem é outra, sabe? A forma de se vestir, de se comportar, é tudo muito diferente. O que é proposto, a abertura que aquilo pode te dar, sabe? Que não funcionou muito, né? Porque a gente vê um monte (risos) de roqueiro hoje, que é completamente... mas, pra alguns funcionou, né? (risos) Ainda bem que pra alguns funcionou, pelo menos, né?
P1 – E naquela época sua acho que funcionava mais, porque o rock estava muito identificado com essa revolta da sociedade. Você não sentiu isso?
R1 – Sim. Eu era bem nova, né, quando isso começou, assim, mas você está lá, assistindo, né? Você está vendo. O (Stinguel? 15:57), que fez parte da minha história.
P1 – Quem era o (Stinguel? 16:03), pra você?
R1 – Ele foi o vocalista da banda Vodu, que é uma banda que fez história e tal, mas antes disso ele foi marido da minha mãe. Ele era muito mais novo que minha mãe e eles viveram juntos 25 anos e foi o relacionamento mais legal que eu já vi na vida, sabe? Eles foram felizes, saca? Imagina você enfrentar, em Bauru, um relacionamento com uma pessoa vinte anos mais novo que você. Minha mãe fez isso, sabe? E é muito louco, porque uma coisa que eu tenho muito forte, uma coisa que eu aprendi com meu pai, espero ter aprendido: a forma que ele respeitava o individualismo. Ele era amigo da minha mãe e do (Stinguel? 17:03), saca? E é uma coisa que hoje é raro de ver. E ele aceitava, sabe? Ele vinha pra Bauru e ia visitar. Quando eles iam pra lá, pra ver meu irmão, ele chamava pra almoçar em casa, sabe? É uma coisa que eu acho muito legal, essa abertura que meu pai tinha, apesar da idade.
P1 – E pra Bauru era um escândalo isso ou não?
R1 – Ah, era. Mas de boa.
P1 – Nessa época você morava com a sua mãe e com o (Stinguel? 17:49) ainda, nesse período?
R1 – Sim.
P1 – Aí vocês foram pra qual bairro? Você lembra onde vocês moraram?
R1 – A gente morou perto da Odonto. Ali já rolou o Armazém.
P1 – Sim. Mas como você entrou no rock? O que você ouviu primeiro, que te encantou? Você fazia balé, né? Balé era uma coisa mais música clássica.
R1 – Sim, só clássico, porque eu só fazia balé clássico, também. Eu não gostava de balé moderno, de jazz, nada.
P1 – E aí? Como era o nome da sua professora de balé? É importante, isso.
R1 – Eu tive a Ineide, teve a Lucila e tinha uma que eu não lembro, que era quando eu tinha cinco anos, que ela era lá do Teatro Municipal e ela vinha pra Bauru, dar aula aqui. Ela era muito brava, isso eu lembro bem. (risos)
P1 – Como é que você conheceu o rock and roll? Quem que te apresentou o primeiro som? E que som que era, se você lembra? Os primeiros.
R1 – A gente tinha amigos. O Carlinhos Faria era super amigo da gente. Ele era dono da discoteca de Bauru. Então, eu lembro de ouvir Led, sabe, essas coisas, um monte dessas coisas. O Carlinhos recebia, a gente sentava pra ouvir à tarde, era muito bom.
P1 – E aí você começou a ouvir rock, começou a comprar disco de vinil, que nem todo mundo, né?
R1 – Sim. Eu também participei do vinil. Ouvia em casa...
R1 – Eu sempre gostei muito de ler, de comprar livro. Isso era uma coisa que... e meu pai me deixava uma conta aberta, saca, que eu podia comprar livros. (risos) Isso era legal, também.
P1 – E o que você lia, nessa época, quando você era bem jovem ainda? Bem no começo.
R1 – Eu li muito Clarice, eu li Nietzsche... li muita coisa. Hermann Hesse. Eu li O Lobo da Estepe, acho que eu tinha uns 15 anos. Eu lembro que eu fiquei absurdada com o livro, até hoje eu acho maravilhoso. Demian.
P1 – E a vida do rock and roll, como era, antes de existir o Armazém? Tinha algum lugar pra vocês ouvirem uma banda tocar? Ou algum bailinho?
R1 – O Tênis fazia, né, com banda. Tinha algumas bandas que tocavam lá. Sim, o Tênis fazia. Mas era uma coisa bem...
P1 – E você ia?
R1 – Ia. Mas não era uma coisa que tinha direto. Acho que era férias, não lembro. Mas tinha.
P1 – E causava uma estranheza em certa parte das pessoas, eu acredito, também, né?
R1 – Ah sim. Bauru é Bauru, né?
P1 – Até hoje.
R1 – Até hoje. Tem uma... tem gente, tem aquela coisa que o Armazém é um bar que vende drogas, sabe? Aí você fala: “Cara, como a gente estaria, há quarenta anos? Só vocês sabem, sabe?” Mas assim, por outro lado acho que ajuda, porque cria uma lenda, sabe, em cima da coisa. Vamos usar, né? Já que é assim que eles gostam, (risos) de fazer esse carnaval, que seja. E a gente acho que é o bar mais chato que existe no mundo, sabe? Nossa, a gente regula tudo, tudo a gente presta atenção, sabe? Se um cara vai incomodar uma menina, a gente chega nele: “Não, meu, aqui não”, sabe? E leva a fama de... mas, de boa. Faz parte.
P1 – Então, quando vocês resolveram montar o Armazém, não tinha outro lugar...
R1 – Eu não participei da montagem do Armazém. Eu cheguei no Armazém logo depois que foi montado.
P1 – Então conta como foi a ideia.
R1 – O Paulo trabalhava na Shell, ele saiu, ele era casado com a Patrícia, que era uma holandesa e eles foram pra Holanda e ficaram lá X tempo, não sei quanto exato e, quando eles voltaram, ele resolveu montar o bar. E eles se separaram, eu cheguei e estou lá até hoje.
P1 – E conta pro pessoal, porque essa entrevista vai ficar no portal do Museu, do Sesc, pro Brasil inteiro ver, quem era o Paulo, que criou o Armazém e que ano foi isso.
R1 – O Paulo montou o Armazém, é de Campinas, veio pra Bauru trabalhando com a Shell e acabou ficando pra sempre. Hoje ele é muito mais bauruense que campineiro. Ele abriu dia 20 de novembro de 1980 e um bar que, segundo algumas pessoas, pela localização, por tudo, não ia durar seis meses, sabe? (risos) O lugar foi porque as faculdades que tinha em Bauru eram a ITE e a Engenharia lá, que era... como que chamava?
P1 – A FEB.
R1 – É, mas tinha um nome ali. Daqui há pouco eu lembro. Que era tudo ali, uma do lado da outra. A ITE e onde tinha a Fundação. Era Fundação. E todo caminho dos estudantes passava pelo Armazém, porque a maioria das repúblicas era tudo naquela região. Então, montar um bar ali tinha toda a lógica do mundo, né? E ali eles montaram. Quando eu cheguei, o bar já estava lá. Aí aconteceram algumas mudanças, mas o básico do Armazém já estava lá.
P1 – E já começou como bar de rock and roll, com música ao vivo?
R1 – Não. Começava, sabe quando rola alguém pegar um violão, fazer, mas era alguma coisa meio MPB, mas não aquele MPB classicão, sabe? Mas quando começou banda, já começou com banda de rock. E daí foi...
P1 - ... evoluindo. E ele era diferente de hoje, né? Era menorzinho. Tenta descrever, na sua cabeça, o que você lembra do início, assim.
R1 – Ele tinha paredes cobertas de pedaços de caixote, né? Uma parte que nós cobrimos inteira (risos) de cortiça. Gente, era uma loucura as coisas que a gente fazia! Que era uma sala que era à parte, ali, em frente onde fica o banheiro, tinha uma sala que a gente chamava de Expo, porque ali acontecia as exposições de quadros, de coisas e ela era menor do que ela é atualmente, porque depois foi aumentado uma parte e uma parte do palco e foram tiradas algumas paredes, pra todo mundo ter visão de palco, de coisa geral, né? E tinha a história do banheiro, que o banheiro do Armazém era unissex. Não. Sempre teve o banheiro feminino e o masculino, as pessoas só não respeitavam, porque aí já era opcional delas, sabe? (risos) A gente punha plaquinhas, as pessoas arrancavam. Então, tinha lá, um do lado do outro, mas, sabe, (risos) o povo adora falar que o banheiro do Armazém era...
P1 – Valéria, aí você começou a ir no Armazém, então, como frequentadora, no início?
R1 – Então, eu não gostava do Armazém. É louco isso, né? (risos) Eu não gostava. Meus amigos, a gente saía da faculdade, todo mundo ia pro Armazém e eu ia sozinha pra outro lugar, sabe? (risos) Aí um dia eu cheguei e fiquei pra sempre.
P1 – Aí gostou.
R1 – Sim. É filho, né? Depois de quarenta anos, é filho, né?
P1 – (risos) É. E como foi essa sua entrada no Armazém? Um dia você foi lá, gostou e começou a frequentar, né?
R1 – É. Eu e o Paulo acabou rolando, a gente ficou junto, teve uma filha. Então, a gente tem um bar e uma filha, em sociedade. E mesmo que a gente separou há muito tempo, não me pergunta quanto tempo, porque eu não tenho ideia, mas há muito tempo e a gente trabalha super bem juntos, tanto que nós abrimos o Luna juntos, estando separados, não tendo mais nada a ver, porque se tem uma coisa que a gente faz bem junto é trabalhar. A gente discorda em tudo, sabe? (risos) Tipo de som, tudo. Mas a gente, na hora de decidir as coisas, se afina e dá certo, sabe? É muito louco isso.
P1 - Legal. E esse início do Armazém, você já lá dentro, primeiro como frequentadora, depois como namorada do Paulo...
R1 – Foi muito rápido. Eu já fui pra trás do balcão muito rápido.
P1 – Sei. Mas aí, nessa época, o bar abria todo dia? Teve uma época que abria...
R1 – De terça-feira a domingo.
P1 – Porque era um bar de universitários, no início, né? Como você disse.
R1 – Era um bar que todo pessoal de jornal ia pra lá, todo o pessoal... cara, era muito legal! O clima, sabe, era outro. Era muito legal. Era 1980, 1981. Aquela coisa de fim da ditadura, sabe? As pessoas com aquela gana de mudar as coisas e acreditar em mudanças possíveis. Era legal. Era muito legal. Tem um texto que ele usou o nome Teófilo alguma coisa, que ele escreveu sobre o Armazém, que eu acho que, assim, é exatamente o que era o Armazém. Ele escreveu no aniversário de 19 anos do bar, lembrando disso, das pessoas com o copo na mão, de junto, especial, brindando, esperando pelo fim da ditadura. Era muito legal.
P1 – Legal. E aí, como é que vocês fizeram pra começar a selecionar bandas, né? Porque depois logo já começou a ir as bandas de rock, aí era rock, mesmo, né?
R1 – Rock, só.
P1 – E numa cidade que não oferecia muitas opções ou oferecia? Como que era isso, na época?
R1 – Tinha muita banda. Teve uma época que tinha muita banda. E daí começa... tinha banda que hoje é a Hell, que era o Mauad, o pessoal era tudo molecadinha, sabe? Muito molecadinha. Era muito louco isso.
P2 – Nasceram muitas ali no Armazém, né? Nasceram várias bandas ali.
R1 – Muitas. Nasceram muitas. A maioria do pessoal... aí tinha o Vodu, que era uma puta banda. Era muito, muito, muito legal. E muita molecada ia assistir e era aquele cara, o Carlinhos, que ia tocar de calça social, camisa, sabe? (risos) O (Stinguel? 30:54), que era um cara mais gordinho, sabe? Não tinha nada a ver com o rock, sabe? O Turco, que era... ninguém tinha aquela coisa de cabeludo, sabe? Só que o som que eles faziam era incrível. E a molecada que ia assistir começava: “Meu, eu vou montar uma banda pra tocar aqui”. E a maioria, se você conversar, fala: “Eu assisti o Vodu e por causa do Vodu eu quis tocar aqui, eu quis ter banda por causa do Vodu”. E o Vodu foi até, eu não lembro se em 1995, acho que foi... minha mãe morreu em 1994, o (Stinguel? 31:35) ainda continuou tocando um tempo e daí ele parou, eu não lembro se foi em 1995 ou 1996. Mas eles tocaram de 1981 a 1995, 1996. E era muito legal.
P1 – Sim. Eu tive o prazer de ver várias vezes a Vodu e era interessante, eles não seguiam aquele cardápio de muitas bandas, né?
R1 – Não.
P1 – E isso não... incomodava o público. Tem muita gente que vai: “Mas não conheço esse som, não sei o que”, mas o Vodu era... e como foi a evolução dessa época? Porque depois teve algumas reformas, o bar foi ampliando...
R1 – Aí teve uma reforma em 1995, que foi quando o bar pegou essa cara de hoje. E foi aberta uma sala, aumentado o palco, aumentou outra sala, foram tiradas algumas paredes. Aí nós fizemos aquele projeto Armazém Bauru Blues, que era de blues e soul, que Bauru não conhecia. Era impressionante a gente ir atrás de patrocínio, as pessoas olhavam: “Mas o que é isso?” Louco, né?
P2 – Esse negócio de contratar as bandas, chegou um momento que as bandas iam mais a vocês ou vocês que procuravam as bandas, pela notoriedade do bar? Como funcionava isso?
R1 – Em relação a esse projeto Armazém Bauru Blues, no começo a gente que ia atrás, porque Bauru não existia no cenário dessas bandas. Aí a gente começou a trazer. Nós trouxemos a Clara Ghimel, que era uma cantora baiana que, gente, dava pra ficar três dias ouvindo aquela mulher cantar, sabe? Era um absurdo de lindo! Era um blues meio jazz, sabe? Uma coisa assim. Ela tinha, nossa, a mulher era um absurdo, maravilhosa. A Orquestra Paulista de Soul, Irmãos Cara de Pau, Irmandade do Blues. A gente fez mais de um ano um projeto que, de 15 em 15 dias, vinha uma banda. Aí, assim, nas primeiras você vai atrás. Aí chega num ponto que você não precisa mais, porque eles conversam entre si e vão...
P2 – Um negócio maior.
R1 – É. Daí chega uma hora que você não precisa mais assinar contrato, fazer mais nada, porque o combinado é cumprido, sabe? E, meu, teve um cara que, assim, mesmo já tendo trabalhado uma vez com a gente: “Não, porque sem contrato eu não vou”. Então tá, vamos aí, sabe? Mas a maioria não: “A gente já ouviu falar de vocês”, sabe? Porque a gente também não dá o passo maior que a perna. Tem banda que chega, oferece pra gente. Não tem como, o Armazém é pequeno. Não adianta eu achar que eu vou conseguir, sabe, pagar uma banda que não dá pra pagar, saca? Então, a gente fica dentro do que cabe pra gente, mesmo.
P2 – E vocês chegaram a errar nisso alguma vez ou vocês sempre acham que sempre acertaram? Teve alguma que vocês: “Puts, aqui foi demais, não dava pra gente”? Isso chegou a acontecer ou não?
R1 – Em termos de retorno, você diz?
P2 – Não. Em termos que nem você falou, de encher muito. Não sei se você quis dizer nesse sentido de encher muito o local ou da banda ser muito cara. Eu não sei se você já passou...
R1 – Não. A gente, assim, sempre jogou muito limpo. Cara, aqui cabem tantas pessoas. Segundo os bombeiros, no Armazém hoje cabem 445 pessoas. Com trezentos, trezentos e trinta, a gente fecha o portão. Meu, não dá pra trabalhar. E ultimamente tem sido difícil essa coisa de colocar trezentas, trezentas e trinta pessoas, porque mudou muito as coisas. As pessoas querem ouvir funk. A gente não vai se vender. É legal? Pode ser. Não sei. Aqui é um bar de rock. Então, a gente vai continuar se mantendo fiel a isso. E quem quiser ouvir, vem aqui. Muitas vezes a gente ficou super mal. Mas mal, mesmo. Teve dia que teve cinco pessoas dentro do bar. Mas a gente não abriu mão de continuar sendo um bar de rock, saca? A gente não se vendeu. Está certo? É burrice? Pode até ser, sabe? Mas é legal você estar lá e um dia, de repente, você olha e o bar está com gente de novo, saca? E é legal quando você está lá no bar, está tocando uma banda de rock e lá tem uma coisa: é muito mais rock clássico, né, Lu?
P1 – Verdade.
R1 – Um monte de gente briga conosco. Aí, entra molecada e de repente ouve um Led Zeppelin e surta, sabe? “Nossa, meu, tararan”. Pô, é lindo ver isso, sabe? Porque está tudo bem, mudou, tem um monte de coisa nova, mas isso é bom, vai ser bom pra sempre, sabe? Pra alguns, pra outros não. Mas pra mim isso vai ser bom pra sempre, sabe? Ozzy vai ser bom pra sempre. Então, não sei, sabe? Eu acho que é legal você se manter firme numa linha.
P2 – Na sua identidade.
R1 – Sim. A gente, sabe, se ferra, mas continua ali. Mas é legal.
P1 – Valéria, vocês abriram em 1980 e estão ativos até hoje. Então, vocês passaram por vários perrengues...
R1 – Pra caramba.
P1 - ... teve um monte de épocas que a inflação era demais ou senão teve um outro plano, do Collor, que ferrou tudo, né? Como é que vocês aguentaram essa coisa? Faziam promoção? O que vocês faziam pra passar, continuar?
R1 – Não. A gente sempre fez assim, (risos) funciona assim: sabe o esquema do bar? (risos) É real, é bem real. Não, a gente nunca teve espírito de fazer promoção. É isso. Teve época não só de perrengue econômico também, porque meu, teve uma época que você rodava pela cidade, as pessoas estavam de chapéu e cinturão, com aquele CD, sabe, porque eles só ouviam sertanejo. Era uma época que, pra gente, era... eu lembro o dia que a Clara Ghimel tocou, nós tínhamos umas mesas ocupadas, estava tendo exposição, a exposição estava entupida de gente e com aquela mulher maravilhosa tocando, tinha as mesas ocupadas. Porque o povo, na real, não está a fim de ver uma coisa diferente, sabe? É muito louco isso. Eles querem o mesmo.
P1 – Então, é interessante que as maiores crises pelo que o Armazém passou foi mais por causa de modismos, que Bauru sofreu com modismos, aí o pessoal corre atrás da novidade, que vai o povão lá e diminui um pouco a frequência do Arma, né?
R1 – Sim. O pessoal adora uma coisa nova, né? Abriu um bar novo. Não interessa o que é. Aí o cara: “Eu só gosto de rock”. Aí tem gente que fala pra mim assim: “Eu não vim aqui, porque eu não gosto de Pearl Jam”. Eu também não gosto de Pearl Jam, mas sabe, a banda tem uma puta qualidade. Eu não gosto, sabe? A banda é fantástica, que toca Pearl Jam. Eu não gosto assim: vou ouvir a noite inteira, em casa? Não. Mas gosto de várias coisas, tal. Mas não é minha banda predileta. “Tá, mas eu só gosto de rock”. Onde você foi? Porque não tem outro lugar que faz rock. Mas aí foi e ouviu um funk. Não sei.
P1 – E também tem um assunto interessante que envolve o Armazém, que é sobre as bandas covers e autorais.
R1 – Você sabe.
P1 – Eu sei muito bem, né? (risos) Eu nunca achei que isso era tão importante, que banda boa vai lá e vai tocar no Armazém, não é verdade?
R1 – Sim.
P1 – Conta como você pensa...
R1 – O que eu penso a respeito?
P1 – É, eu lembro que você peitou essas críticas de um jeito muito interessante.
R1 – Eu acho que assim, meu, o cover é música autoral de alguém, pra começar. Simples assim, sabe? Então, assim, eu acho um porre, tipo já aconteceu Norman, que eu amo, tocar no Arma e entrar um casal, virar e falar assim: “Norman, o que eles tocam?” “Norman” “Mas eles não fazem cover?” “Não” “Ah, então eu não gosto” “Mas você já ouviu?” “Não”. Sabe? É como uma vez que tocou Universo Elegante no Sesc, eu fui lá, cheguei em casa, tinha uma discussão na internet que Bauru não abria espaço pra banda autoral e eu comecei a perguntar por que eles não estavam no Sesc, vendo uma banda autoral. Porque ninguém vai, sabe? Vocês estavam fazendo lançamento.
P1 – É cultura.
R1 – É. Mas eles gostam de reclamar. Meu, eu não ponho som pra eu ouvir. Mas tem que me agradar. Eu conheço música? Não conheço nada. Eu sei o que eu escuto e me agrada e acho que eu faço certo, porque as bandas que tocam lá são boas. Você pode não gostar do estilo, mas você não pode falar: “Nossa, essa banda é um lixo”. Não dá pra falar isso. E a gente tenta levar por esse caminho. Eu gosto de um som mais pesado, não extremamente, mas gosto. O Paulo já não gosta, mas aceita, sabe? A gente põe. Agora, pra extremos, death metal, essas coisas, não vai rolar, sabe? Acho que não precisa. Toda vez que a gente...
P2 – Queria te perguntar sobre isso: qual que é amplitude? Deve ter tocado todo tipo de banda, já, de cover, assim, talvez, falando mais de cover, que as pessoas conhecem, mas deve ter tocado todo tipo de rock, já, quase, aí. Não sei, você falou que os novos talvez não toquem muito.
R1 – Porque é muito louco, porque assim, por exemplo, tem bandas que nem são, hoje, tão novas, mas que eu não gosto e que eu ponho, às vezes, porque o pessoal começa: “Você põe som pra você, dadada” e não funciona, sabe? É muito louco. Dei sorte pra burro, sabe, meu? (risos) O público tem mais ou menos o mesmo parâmetro que eu, mas, assim, a única coisa que a gente não colocou... já rolou... eu não vou lembrar o nome dessas bandas agora, mas bandas que fazem turnê fora, sabe, de autoral pesado, não vou lembrar os nomes mesmo agora, não vão vinte pessoas no bar. Que é metal, metal, sabe? Não vão. E daí não adianta, porque não adianta você abrir uma noite pra fazer, sabe? Eu vivo do Arma. Eu e o Paulo vivemos do Arma. A gente não tem essa de... porque tem gente que abre bar porque é legal ter bar, porque é divertido, porque acha que você trabalha pouco, que você ganha muito e não é bem assim que funciona, né? A gente, não, a gente vive de lá. Então, não tem como você abrir um bar pra ir vinte pessoas, que não vão consumir nada, sabe? Então, você não tem portaria, consumo, nada. Então, fica difícil.
P1 – Valéria, e os festivais? Já teve vários: festival de música autoral, que o pessoal falava mal...
R1 – Pra caramba!
P1 – O próprio aniversário anual do Armazém é um festival, né?
R1 – Sim.
P1 – Conta como que foi. Já teve algum... que nem todos eu acho que eu conheci.
R1 – Festival?
P1 – Festivais.
R1 – Festival nós fizemos aquele, de música autoral. Aí o problema era porque tinha um prêmio, que era uma gravação de duas músicas e música não pode ser julgada, como se os festivais da Record, que todos os festivais que houvesse sempre tinha um ganhador, mas boa, sabe? Aí, o pessoal que faz autoral, em vez de ajudar e ‘vamos fazer esse, vamos ver como funciona e depois a gente faz um outro’, ajeitando todas as possibilidades, não. Todo mundo enche o saco, todo mundo briga, todo mundo fala mal e a gente fez. Foi o Tavinho, o Davi e eu que montamos e fizemos e foi um trabalho, foi foda, foi cansativo. Você reunia toda semana pra ver como ia fazer, ser e gente lá enchendo, metendo o pau, falando. Nossa! Fizemos.
P1 – Mas foi um sucesso. Eu lembro.
R1 – Foi super legal. Quinta-feira, nove horas da noite, o bar lotava, sabe? O pessoal assistindo, prestando atenção, sabe? Foi lindo! Acabou, vamos fazer outro? Não mais. Não. (risos) Obrigada, sabe? Aí, passa um tempo, você fala: “Puta, eu podia fazer”, né? Teve também o Armazém Rock Gol.
P1 – Lembrei desse.
R1 – Que era muito louco também, né? Um trabalho insano também.
P1 – Conta como era.
R1 – As bandas se inscreviam. Então, eram sempre 27, 29. Foram dois, né? No segundo acho que teve 29 bandas. Então, ia jogar. Aí o Paulo, o pessoal montava as tabelas dos jogos. Quem perdesse primeiro, subia e tocava, saca? E eram jogos (risos) de quinze minutos, dez minutos, não sei e o pessoal, (risos) cinco minutos de jogo: “Me tira, por favor, me troca”, morrendo em campo. (risos) Ai, era muito divertido. Foi muito divertido. Mas foi super legal.
P1 – Eu lembro disso, foi uma coisa sensacional. Foi lá na Duque, lá em cima, né? No Rock...
R1 – O segundo foi lá e o primeiro foi na FIB.
P1 - Ah, o primeiro foi na FIB! Com certeza.
R1 – E no da FIB era meio-dia que começava e o Juiz de Menores de Bauru proibiu a entrada de menores. Meio-dia. Foi uma super ajuda, sabe? (risos) Foi muito legal.
P1 – Dava resultado pra vocês, financeiramente?
R1 – Não.
P1 - Porque eu lembro que vocês tinham que montar uma baita de uma estrutura, lembra? Tinha que montar o palco...
R1 – Sim. Tinha que alugar palco, som... no da FIB nós tivemos que alugar um caminhão gerador. Nós tivemos que pôr a iluminação lá na FIB, porque no campo, ali, não tinha. Mas ali a FIB emprestou pra gente, sabe? Ali não era nada cobrado. Aí você tinha que ir atrás de gente que ia vender as coisas, mandar fazer camiseta, que a única coisa que as bandas pagavam era isso: fazer a camiseta. Eu mandava fazer, pra ficar tudo igual. Então, cada time tinha uma cor de camiseta. Era muito divertido, gente, olhando de longe, assim. (risos) Muito divertido. Aí as bandas iam perdendo e subindo e tocando, sabe? Era muito legal.
P1 – A última que tocava era a vencedora do futebol.
R1 – Sim.
P1 - Que na última, nesse que você foi, foi o Mandrake que ganhou.
P2 - Mandrake de Jaú?
R1 – É.
P2 – Sim, conheço.
R1 – Tudo era jogador de futebol. O Oscar. Claro que ganharam! (risos) Mas era divertido. Foi divertido isso.
P1 – Valéria, conta um pouco sobre um evento que eu acho que é um dos melhores da cidade e do Armazém, que é sempre o aniversário do Armazém, né? Que lota mesmo e são várias bandas. Quando vocês começaram a fazer isso?
R1 – Uma memória que eu tenho, no aniversário de quatro anos do Arma, nós morávamos... não, não morávamos lá ou morávamos? Não lembro. Eu sei que eu achei que ia ser legal a gente ficar aberto o dia inteiro, sabe? Começar duas horas da tarde, quem quisesse chegava lá e tocava. (risos) Se arrependimento matasse! (risos) Porque dez horas da noite tudo que eu queria era matar todo mundo, sabe? (risos) Porque fica aquela gente pingando o dia inteiro, aí você vai ficando cansado, né? Porque é o dia inteiro. Mas depois disso eu não lembro quando começou exatamente ter essa coisa de um monte de banda. Mas eu lembro que teve aniversário de ter 21 bandas tocando. Ave, é um pouco de loucura, também! Porque a banda, todo mundo quer tocar, todo mundo fala que quer tocar, aí chega o dia, todo mundo tem um problema e precisa ser o primeiro: a tia de alguém está ruim, o pai está, eu estou com um problema, vou ter que acordar amanhã cedo. Sempre. Sempre. Sempre. Imagina quando você tem sete bandas e todas as bandas têm esse problema: quer ser a primeira, sabe? É uma coisa que me estressava muito. Hoje eu já falo: “Meu, vocês se viram”, sabe? E normalmente são as bandas que estão com a gente o ano inteiro que vão e fazem o aniversário.
P2 – Vocês sempre fizeram essas coisas, assim, que dá na telha, essas ideias meio loucas, pelo que você está falando: “Vamos fazer tal coisa, vamos experimentar e vamos embora”. E faz. Vocês sempre fizeram assim? Bem legal isso, bem diferente, assim, do Armazém. Vocês sempre fizeram isso?
R1 – Sim, a gente: “Vamos tentar?” “Vamos”, sabe? Às vezes o Paulo é mais pé no chão, fica: “Não, mas vamos tentar”, sabe? Aí tenta e vira. O Rock Gol é paixão dele, por ele, ele fazia direto. Se ainda compensasse um pouco, sabe, sem morrer de trabalhar, boa, mas nunca compensou. Porque daí a gente cobrava... imagina, 27 bandas, 28, 29, põe com quatro caras cada banda, põe trinta dá cento e vinte, certo? Todo mundo tem namorada, mãe, amigo e ninguém queria pagar entrada, sabe? “Mas a minha namorada vai pagar?” Cincão. Era cincão, sabe? A gente tinha que pagar as coisas, sabe? Não era tudo de graça.
P2 – É difícil lidar com bandas, assim, Valéria? Como que é? Ou não, a maioria não dá problema? Como que é? As maiores dão problema, as menores nem tanto.
R1 – Não. A gente tem grandes amigos que saíram das bandas, do convívio no Arma. Eu acho que os nossos amigos hoje são muito mais pessoal de banda, que foi chegando e ficando, sabe? A gente tem banda que está com a gente há trinta anos, sabe?
P1 – Mas no fundo dava certo, porque lotava pra caramba o aniversário do Arma. Sucesso, né?
R1 – Sim. O aniversário sempre foi legal. Sempre foi.
P1 – Eu adorava. Exatamente porque _________ (55:15) eu acho legal.
R1 – Sim, um monte de banda. Estilos mais ou menos... tinha uma unidade, mas assim mesmo tinha diferença, né?
P1 – Sim. Agora vamos falar de umas coisas mais pitorescas, assim. A gente teve personagens que frequentaram o Armazém. Tem alguns lendários, outros reais, né? O que você lembra de pessoas que frequentaram o Armazém?
R1 – Tem tanta, né?
P1 – Tem muita. Gente tipo o Quartieri, eu estou pensando.
R1 – Eu pensei no Quartieri. Eu também penso. Ele faleceu esses dias, você ficou sabendo, né?
P1 – Infelizmente. Ele já era bem velho, né?
R1 – Ele estava doente. Não estava bem.
P1 – Sim. Pessoas famosas, assim, na mídia, que vinham pra Bauru, iam no Armazém também, não iam?
R1 – Iam.
P1 – Fala umas aí que você deu de cara com eles lá.
R1 – O Luiz Melodia.
P1 – Tem uma história interessante, mas não sei se é bom (risos) contar aqui.
R1 – Não. Besteira. Deixa quieto. Ele estava meio passado, né?
P1 – Sim.
R1 – Mas legal, era o sonho do Paulo, que o Luiz Melodia fosse no Armazém, sabe? Era o sonho. No começo tinha uma fita, que era bem roots, mesmo, o Arma, que tinha Luiz Melodia, umas coisas nesse estilo, assim, que era Ébano, Magrelinha, tocava a noite inteira essas fitas. Era muito legal. Boas lembranças. E o Paulo tinha, nossa, Luiz Melodia aqui, um dia, foi...
P1 – Ele foi.
R1 – Foi. Ele veio tocar acho que no negócio dos bancários e daí eles foram pro Arma, depois.
P1 – Sim.
R1 – Era uma noite que estava tocando a Hell. Lembro até hoje.
P1 – O Caetano é mentira, né? Ou é verdade?
R1 – No começo o Paulo tinha um sócio e a gente dividia, a gente trabalhava uma semana e ele trabalhava uma semana. Então, várias pessoas foram. O Sá e Guarabira foram.
P1 – Foi também?
R1 – Foi. Muita gente ia lá. Muita gente.
P1 – E, por exemplo: você falou da Clara Ghimel, ela é uma pessoa muito conceituada no universo musical brasileiro. Quem mais desse naipe vocês chamaram? Eu lembro que pouco tempo atrás vocês trouxeram uma banda da Austrália, não foi?
R1 – Foi. Eles vieram três vezes. É muito incrível aquela banda, porque é um pique... o som é completamente diferente, a flauta, a garota que tocava flauta aprendeu chorinho aqui e largou a banda. Jarrah Thompson, acho que era que chamava.
P1 – Sim.
R1 – E ela virou, ela toca chorinho agora, tá? (risos) E era muito legal a banda, só que o público do Arma chegava e falava assim: “Mas isso não é rock”, sabe? (risos)
P2 – E era o que, exatamente, pra mim, que não conheço?
R1 – Puta, como eu vou te definir?
P2 – Uma música com flauta, você imagina algo medieval, assim, talvez ou nada a ver.
R1 – Não. Não era no estilo de _________ (59:08), não. Era funk, mesmo, não é, Lu, o Jarrah Thompsom?
P1 – É, eu acho que sim. Uma MPB da Austrália.
R1 – Só que tinha uma qualidade absurda! A menina era linda tocando, sabe? O Jarrah também era um cara que puta, tinha uma performance muito legal. Mas, assim, o povo quer ouvir a mesma coisa sempre. É impressionante isso!
P1 – Viu, Val e como é que vocês fazem quando vocês chamam bandas, porque tem as bandas que já são meio da casa, né, que são aqui de Bauru, da região, de Jaú, vêm de Marília...
R1 - ... Ribeirão...
P1 – De vez em quando eu vou lá, aparece uma banda de Campo Grande. Você lembra uma banda muito fera? Tem um adesivo atrás de onde você fica, ali.
R1 – Sim.
P1 – Como que chama aquela banda, mesmo, que eu esqueci?
R1 – (risos) Seria bom lembrar.
P1 – É sensacional!
R1 – O Bando do Velho Jack.
P1 – Exatamente. Como você traz uma banda como O Bando do Velho Jack lá de Campo Grande? Vocês fazem um bem bolado...
R1 – Meu irmão mora em Campo Grande. Aí conhecia a banda, daí a Natasha fez faculdade em Campo Grande, conhecia a banda também. Uma banda que a gente sempre quis trazer e nunca conseguiu foi os Bêbados Habilidosos. Já ouviram falar dessa banda?
P1 – Já abri o show dos Bêbados Habilidosos lá em Campo Grande, o Norman abriu, quando nós fomos.
R1 – É muito legal, não é?
P1 – É.
R1 – Nós nunca conseguimos trazer, nunca deu certo. Mas como trazia O Bando do Velho Jack? Eles iam fazer um show em algum lugar e dava pra passar por Bauru. Porque senão, não tem como. É inviável. Tem um monte de banda que procura a gente, que quer tocar aqui e é de sei lá de onde. É inviável, porque o Armazém não vai dobrar de tamanho pra eu poder pagar a banda no fim da noite, saca? E tem que pagar a banda no fim da noite, né? Não tem jeito.
P2 – Valéria, mudou muito nos últimos anos, com mais rede social, essas coisas, pra contatar as bandas, pra você falar com elas ou é mais no boca a boca, que você falou que lá de Campina Grande seu irmão trouxe, porque ele mora lá, tal?
R1 – Campo Grande.
P2 – Campo Grande, desculpa. É mais ou menos diferente? O que você acha dessa mudança, assim?
R1 – Não, a gente tinha... a gente sempre recebeu muito material de banda. CDs, assim, que chegavam absurdamente, sabe? Trazido por alguém, alguém que é da cidade vizinha ou da cidade, tem uma banda e está aqui, sabe? O Velhas Virgens teve uma noite, o Armazém estava entupido, o portão fechado, alguém passou uma fita pra gente, com telefone, sem DDD e era dos Velhas Virgens.
P2 – Nossa!
R1 – A gente foi testando o DDD, até que a gente foi no 011, era São Paulo e era o Paulo, saca? E a gente trouxe e ninguém conhecia Velhas Virgens. A gente trouxe três vezes. Aí, depois já começou esses outros bares e a gente para. Foi como Irmãos Cara de Pau: a gente trouxe, show, nossa, incrível, pararan, aí de repente os outros bares começam a chamar também.
P2 – Então, parte desse trabalho quase que manual, assim, de vocês pegarem um CD e ouvir e: “Vamos ligar pra esses daqui”?
R1 – Sim.
P2 – É quase que um __________ (01:02:58), vocês acabam trazendo pro seu trabalho.
R1 – Sim. Tinha mão da gente sentar na sala com pilha de CD e começar a ouvir, porque tem mais do mesmo. Eu lembro a primeira vez que eu ouvi a Daísa Munhoz cantando. Ela foi no bar, levou um CD...
P2 – Ela é do Vandroya, né?
R1 – Do Vandroya. Ela levou o CD de cover, tinha algumas autorais e cover. Aí legal, não sei o que, pararan. No dia seguinte eu peguei o CD pra ouvir. Na hora que ela abriu a boca, eu falei: “Caramba, meu, quem é essa menina?” Ligamos pra ela, virou prata da casa, porque dali ela conheceu Soulspell, Vandroya tocou acho que por quase um ano ou mais, todo mês. Independente de ter cinco, dez pessoas, sabe? Porque uma coisa que as pessoas não veem, a gente é super chato: banda do Armazém, que nasceu dentro do Armazém, fez nome dentro do Armazém, toca no Armazém. Se quer tocar em outro bar, vai tocar em outro bar. E o que as pessoas não entendem é isso: que a gente dá espaço, mesmo que não vá ninguém. E a gente dá de novo e de novo e de novo. Se a gente acredita, até virar. Ou até todo mundo desistir. Norman Bates já tocou lá pra ninguém. E acho que foi um dos melhores show do Norman que eu já vi. Estava um frio do cacete, nós fechamos a porta, você lembra disso? Tinha cinco pessoas dentro do bar. Foi maravilhoso!
P1 – E meses depois tocava lotado.
R1 – Voltou. Lotado. Sim, não tem... é o momento.
P1 – E eu lembro que, pra completar o que você falou, que é difícil que eu sou o repórter aqui, mas eu estava nesse dia, eu participei, mas pra gente que tocou e eu acho que em outras vezes que aconteceu isso pras bandas que tocaram, é divertido do mesmo jeito. Eu lembro que você sentou na frente do palco com o Paulão e falou: “Vai, toca aí”. E nós tocamos três horas, né?
R1 – Sim e foi lindo! E acho que a banda que não está disposta a fazer isso, a tocar pra um bar vazio, desiste, meu, porque um dia vai estar cheio e um dia vai estar vazio. É a mesma coisa: eu só vou abrir o bar quando o bar está cheio? Ótimo, seria lindo, mas não é assim que funciona, sabe? Eu tenho que abrir o bar e tem dia que não vai entrar ninguém ou quase ninguém e tem dia que vai lotar. E que bom! Mas é legal, muito legal e a gente tem uma convivência muito legal com músicos, saca? É um pessoal que... eu vejo, assim, nessa pandemia, de bandas ligando: “Conta com a gente”. Outro dia, por exemplo, a última vez que eu trouxe acho que o Kernunna, eu não lembro, ou o Tuatha, que o Bruno falou no placo que o Armazém foi a primeira casa que acreditou neles como banda, pra pô-los tocando sozinhos pela primeira vez. Ele falou que ele tem o cartaz até hoje guardado, no quarto dele, sabe? É muito legal essas coisas. Você saber que você fez uma banda saber que alguém acreditou nele. E a primeira vez que eu trouxe foi péssimo. Ninguém conhecia. Aí eu trouxe de novo. E já lotou, sabe? E já trouxe de novo e já foi ruim. Então, não tem garantia. Tem um monte de gente que fala assim: “Não, mas se fizer propaganda”. Não tem a ver. O povo vai onde eles querem ir. Independe tanto de propaganda. Eles vão onde eles querem, sabe?
P2 – É muito do momento. É difícil medir isso nas pessoas, né?
R1 – Não tem. É como uma vez, tinha tocado Pearl Jam, eles tocam acho que há 11 anos, fora o ano que nós paramos, todo mês no Armazém. Eles tinham tocado no sábado seguinte, a banda desmarcou tipo na terça-feira, quarta-feira. O Paulo falou pra mim: “Fala com o Pearl Jam”. Eu falei: “Eles acabaram de tocar”. O Paulo falou: “Você conseguiu alguma outra banda?” Eu falei: “Não, ninguém pode”. Ele falou: “Então fala com eles”. Você acredita que lotou de novo? Eu não consigo entender, mas sabe, é real. (risos)
P2 – Não gosta de Pearl Jam. Eles já tinham acabado de tocar, tocaram de novo e encheu. É pra ser Pearl Jam.
R1 – Eu falo pra eles assim: “Mas vocês gostam mesmo de Pearl Jam?” e eles: “Claro, Valéria!”, sabe? Porque é o único rock, mesmo. (risos) Não, não é assim também, mas não é a minha banda predileta, sabe? Nenhum pouco.
P2 – Você tocou num assunto aí que tem uma pergunta aqui na nossa lista: propaganda, isso é importante pro Armazém, não é? Vocês fizeram propaganda em jornal alguma época, rádio? Como que é?
R1 – Fizemos, na época do Armazém Bauru Blues. Nós fizemos... teve outras épocas que nós fizemos, sim. Eu, de verdade, nunca vi retorno, sabe? Eu acredito piamente que as pessoas vão quando elas querem ir. Independe. O que tem de gente que entra no Armazém e me pergunta: “Quem vai tocar?” Então não foi por causa de nada, foi porque foi, sabe?
P1 – Exatamente.
R1 – Tem gente que vai pela banda, exclusivamente. Mas tem gente que vai porque vai. Não estava preocupado com quem ia tocar, com quem não ia. Então, é complicado você... claro, eu acho que Facebook, mídia social hoje eu acho que você tem que estar ali falando. A Raíra faz um trabalho no Insta, do Arma, que eu acho muito legal, a forma que ela escreve, que ela lida com a informação. Eu acho que o trabalho dela no Insta, do Arma, muito legal. Acho que a Raíra, realmente, leva o maior jeito pra isso. Mas eu vejo assim: às vezes você patrocina lá o fim de semana, aí tem mil e tantas curtidas, só que as pessoas só curtem ali, né? Porque elas não vão. Então, não sei.
P1 – Sei. (risos) E muitas que nem viram isso, porque tem gente que nem Instagram tem, vai, porque é no boca a boca: “Vamos lá no Arma?”
R1 – É. Sim. Em jornal é complicado, porque eles faziam todo ano uma matéria no aniversário porque, gente, o Armazém é um bar completamente fora de circuito. Completamente. Você só vai passar em frente ao Armazém se você for passar em frente do Armazém, porque não tem nenhum motivo pra você passar ali.
P1 – É.
R1 – Há quarenta anos fazendo a mesma coisa, com os mesmos donos, sabe? E que não são pessoas que estão... a gente está fora. A gente não tem mais saco de sair, de ficar... nem cabe mais pra gente, isso. A nossa visão já é outra. Eu acho que a cabeça da gente é muito de boa, porque a gente só convive com gente nova, com a moçada e isso faz toda a diferença, na forma que você vê tudo, né? Mas tem muitas coisas que eu escuto as pessoas falando, de festas, que eu não acho que cabe no Armazém e talvez seja ultrapassado, mas eu não gostaria de pagar pra ver que outro modelo funcionaria.
P2 – Você não se arrepende das suas escolhas, de ter escolhido?
R1 – Não, não, não. E, assim, eu acho que hoje tem que se pensar em um outro modelo, outro formato, pela pandemia. Então, se for reabrir, eu acho que pouca gente, distanciamento, mais comida, por causa dos horários. Então, fortalecer o pique de comida, que a gente já tem experiência, porque teve o Luna. Então, a gente mexeu oito anos com comida, né? Então, dá pra entrar, já sabendo o que está fazendo, né? Não é vou, sabe, ver como é que é. A gente sabe como é que é. Então, acho que desses outros formatos, baseados nisso. Mas mexer no formato do bar, tem um monte de gente que fala pra mim: “Põe DJ”. Não, sabe? Não sou assim.
P1 – Fala dessa experiência, um pouquinho, do restaurante que você teve com o Paulão, o Luna.
R1 – Paixão, paixão, paixão. Era lindo lá, não era? Você ia lá sempre.
P1 – Eu ia sempre. Eu ia direto. Mas como você decidiu, assim: “Eu vou ficar com o Armazém, mas também vamos abrir um restaurante”. Como é que foi?
R1 – Não. Uma vez, uma amiga nossa, a Márcia, ligou. Do Alex, ali, sabe? O fundo, ali, onde é o Parrilla, lá, hoje. Não sei como chama, o Parrilla. Ela falou: “Meu, está vazio aqui, precisa ser um bar”. E eu fui lá, conhecer o lugar. Eu lembro que não tinha teto, era na telha, assim. E tinha um mezanino pequenininho. Eu lembro que eu entrei, virei e falei assim: “Cara, tem que ser uma coisa medieval: flor pendurada ao contrário, roda de carroça fazendo a roda do ano. Super pagão”. Na minha cabeça eram velas e tatata. E daí não deu certo de ser lá. Aí eu falei com o Paulo e o Paulo assim: “Não, vamos fazer lá uma coisa super moderna”. Eu falei: “Não, então você monta um bar e eu monto outro”. E um dia, procuramos por mais de ano um lugar pra montar. Um dia eu cheguei na porta - me falaram onde era o Luna, onde é o Nomad hoje – olhei e vi o bar montado. Eu vi a roda de carroça ali na entrada, tudo como ia ser. E foi um barato, porque aí eu pedi no Fran’s um café e falei: “Entrega no Luna”, sabe? (risos) Eu já tinha decretado que ali era o Luna, sabe? Aí o Fran’s não queria deixar a gente abrir, porque o contrato era que só teria comida no Fran’s e tal, mas no fim, depois de muitos e muitos meses, a gente conseguiu abrir, aí nós reformamos, montamos. Foi muito legal, teve aquele boom, depois aquela caída, porque já não é mais novidade, né? Mas a gente continuou firme e forte, ali e virou, ficou super legal depois. A gente, quando vendeu, vendeu por cansaço mesmo, foram oito anos de Luna, Luna e Armazém, juntos.
P1 – É pesado. Todo dia, né?
R1 – Menos domingo e segunda-feira. Era de terça-feira a sábado.
P1 – Era pesado.
R1 – Era. E é comida, é muita compra, muita coisa: cozinheira, garçom... nossa, é pesado. Mas foi muito legal.
P1 – Além disso o Luna trabalhou, muito, com cultura, né? Lançamento de livro. (risos) Um monte de coisas.
R1 – Sim. Livro seu.
P1 – Sim.
R – Foi. Música já era outro... mais nacional, mas tinha banda de rock também. Foi legal, nossa, foi muito legal.
P1 – Está certo. Aí ficou só com o Armazém, mesmo? Voltando ao Armazém, tem certas coisas que são pitorescas e únicas no Armazém, como a decoração. Você falou um pouquinho no início, mas por exemplo: aquelas mesas só existem lá. Nunca vi em nenhum lugar. Como é que vocês arrumaram aquelas mesas?
R1 – É carretel de fio. Aliás, na minha casa eu tenho duas mesas dessas, sabe? (risos)
P1 – Mas foi a ideia mais perfeita. Vocês olharam aquilo em 1980 e falaram: “Isso pode ser mesa”? Como é que foi?
R1 – Sim, o Paulo montou já com aquelas mesas. Tinha duas mesas ali na entrada, na frente do balcão, que eram de portas, saca? Colocadas de assim. Aí depois trocou por quatro mesinhas de carretel, mesmo. Mas isso foi desde o começo e isso vai ficar pra sempre lá, sabe? Essas mesinhas são pra sempre.
P1 – E os bancos do balcão, também são...
R1 - Latões de leite. Os antigos são muito legais, porque é um peso, cara, saca? Muito. Os novos, não são, mas tem dois que são dos antigos ainda e eles são muito pesados.
P1 – E as pingas? Como vocês tiveram essa ideia? Porque é um dos diferenciais, né? As pingas de sabor, muitas. Isso aí foi o quê?
R1 – O Paulo já fazia, já curtia. Eu tenho algumas que são minhas, que são especiais, que eu que fiz: mel com alecrim. Tem algumas que são minhas, assim. Essas duas, especialmente. E agora, com a pandemia, eu virei licoreira, né? (risos) Eu faço licor, loucamente. (risos)
P1 – Eu vi a propaganda.
R1 – Licor de leite, de chocolate, de hibisco, de figo, de café. Nossa, virei – limão – a maior licoreira. Estou adorando.
P1 – Que legal! Conta pra gente – isso a gente está perguntando em todas as entrevistas – qual foi o maior desafio, como foi passar esse desafio que ainda está, da pandemia? O que aconteceu com o bar? Como é que vocês resolveram passar por isso? Como que você resolveu?
R1 – Lu, eu acho que não tem muita possibilidade, sabe? Eu vejo uma galera aí brigando, achando que não, que tem que abrir. Cara, é minha vida também que está em risco, sabe? Então, não dá pra ficar, ir lá e abrir e achar que está tudo bem, sabe? Foi difícil, está sendo, mas a gente teve ajuda de algumas... a Talita montou uma vaquinha; outro dia o Bruno, com a banda dele, fizeram uma noite pra gente, saca? Abriram outra vaquinha e fizeram. E são ajudas que, puta, é muito legal você receber esse tipo de ajuda, né? É muito legal.
P1 – É verdade.
P2 – O bar se encontra fechado no momento, é isso? Não abre faz um tempo, já, desde o começo?
R1 – Desde o dia 14 de março. A última noite que nós abrimos foi 14 de março. E a gente quer ver se agora em março a gente consegue voltar.
P1 – Agora você vai fazer um - que a gente estava falando antes de começar a entrevista – pequeno especial agora, né?
R1 – É, eu acho que enquanto não tiver isso melhorado, enquanto não tiver vacina, enquanto não tiver uma solução, acho que a única forma é montar um esquema novo, né? Tem que ter alguma coisa diferente pra tornar possível, porque uma vez uma menina me perguntou: “Põe alguém pra trabalhar no seu lugar”. Cara, se é perigoso pra mim, é perigoso pra outra pessoa. Não tem essa. Tá, eu não vou e você vai lá e trabalha no meu lugar e se arrisca no meu lugar. Não, né? Não. Acho que não. Acho que um pouco de responsabilidade.
P2 – É difícil ver dono de bar, não sei se talvez concorde com você, não sei qual a sua opinião sobre isso, mas que nem você falou, mesmo podendo fazer isso, sua escolha é não fazer. Talvez não seja uma opinião muito popular hoje, não sei, no seu ramo. Não sei.
R1 – Não, não é. As pessoas acham que têm que abrir. Eu entendo, pra gente não está fácil também, a gente vive daquilo. Mas, sabe, a gente é grupo de risco. Não dá pra pensar em falar: “Vamos deixar pra lá, vamos abrir, vamos arriscar”. Eu não vou arriscar. Não acho que vale a pena. Mais um pouco, sabe? Vamos tentar mais um pouco. A hora que ficar inviável, a gente vê o que acontece.
P1 – Fala um pouco sobre o projeto que você tem, que é importantíssimo, que já faz anos, que é o Esquadrão do Rock. Como que apareceu?
R1 – Ah, o Esquadrão é filho do coração, também. (risos)
P1 – Inclusive eu sei que ocupa sua casa quase inteira, né, o Esquadrão?
R1 – Atualmente está... mas foi muito legal, foi no inverno de 2016, que fez muito frio, né? Muito frio. Aí eu falei com o Douglas, pra gente fazer uma noite, pra arrecadar roupas. Não. A preocupação, naquele momento, era frio mesmo, porque estava absurdamente frio. Isso foi num sábado pra domingo da madrugada, nós fizemos na quinta-feira uma jam, uma grande jam. Nós arrecadamos muita roupa, muita roupa. Aí a gente fez sanduíche e saiu pra entregar a roupa. E daí nós saímos no domingo e na segunda-feira. Aí nós começamos a sair uma vez por semana. Aí parou de ser sanduíche, começamos a fazer comida, eram trinta marmitas, cinquenta marmitas, daí chegamos a fazer duzentos e vinte marmitas, já, né? E é muito legal, porque a galera da rua, gente, é impressionante. Você encontrar uma pessoa que não tem nada e ela olha pra você fala assim: “Não, obrigada, eu já comi hoje, mas ali tem gente que não comeu. Vocês podem levar?” Cara, pra mim, assim, é um tapa na cara, sabe? Eu lembro nessa primeira leva das roupas, cheguei num cara na ferroviária, perguntei se ele aceitava um casaco, uma blusa, uma coberta e ele falou que ele aceitaria a comida, porque ele não tinha comido. A roupa ele não precisava, porque ele tinha muita. Ele tinha duas blusas. Eu nunca mais vou esquecer isso: “Eu tenho muita, eu tenho duas blusas”.
P1 – E como é que você organizou isso? Na sua casa é toda terça-feira?
R1 – Toda terça-feira. A gente tem amigos que dão dinheiro pra gente, trazem mantimentos. O pessoal do grupo que arrecada também. Durante a pandemia eu cozinho umas cinquenta marmitas. A Marli e a Marlene cozinham mais umas cinquenta, sessenta e tem a Rosa, que faz mais umas quinze, vinte. Aí a gente junta tudo e um pessoal vem pra entregar. E a gente leva também doce, ração pra cachorro, água, roupa. Nós acabamos de comprar duzentos cobertores, já pro inverno, agora, porque aproveitar preço, sabe, porque daqui a pouco sobe também. E a gente tem um amigo que ajuda, pagando transporte, guardando os cobertores, porque na minha casa não cabe, né? (risos) Você sabe como é a minha casa, não cabe aqui. Já não cabe eu, quase, aqui dentro. Mas é legal, bem legal. Uma coisa que ensina muito a gente, saca? Eu era super consumista. De repente você ouve um cara falando que ele não precisa de uma blusa, porque ele tem muita, ele tem duas blusas.
P1 – É fogo, né, ouvir isso.
R1 – É.
P1 – E vocês cobrem a cidade inteira, praticamente, né? Quando uma semana vocês não vão num lugar, vocês vão no outro, na outra semana.
R1 – A gente faz o Terra Branca, tem uns catadores ali. Tem um pessoal que mora ali perto da praça. No caminho, ali, tem alguns. Aí a gente faz ali do lado da Unip, tem uns catadores que moram ali também, logo na esquininha ali da rodovia. São, acho, que 12 casinhas ali, 12 pessoas. O Postão 30 tem uma galera que fica. A gente faz a Nações, a Getúlio, rodoviária, porque tem alguns grupos que, durante a pandemia, foram nascendo e tal. Então, quando a gente sabe que não foi ninguém na rodoviária, a gente vai lá. Às vezes a gente vai na São Manuel, se sobrar marmita, porque o nosso foco realmente é morador de rua, né? A Câmara, ali, a gente passa também, pra entregar. Na Rua Sete tem uma pensão que, nossa...
P1 – Terrível. E é interessante, que o pessoal que se uniu pra fazer isso com você, muita gente - eu sei que não é todo mundo - é ligado à música.
R1 – Sim, tem uma galera.
P1 – É o pessoal que gosta das bandas, que vai no Armazém.
R1 – Sim.
P1 – É interessante um grupo desses se unir, que saiu da música, né?
R1 – Sim.
P1 – Pelo menos, eu tive essa impressão aí, quando eu fui.
R1 – Sim e toda vez que precisou fazer uma festa pra arrecadar roupas, coisas assim, porque a gente arrecada roupa e o que vem de grana a gente usa em cobertor. Os músicos todos se predispuseram a ir lá, fazer de boa, sabe? Sem nenhum problema. A fim de ajudar. É muito legal. Você sabe, né? Você já participou, você sabe como é.
P1 - E espero poder voltar brevemente.
R1 – Sim.
P1 – Val, fora musicalmente, quais são os outros problemas de ter um bar como o seu? Tem problema pra você conseguir comprar bebida, fazer a comida? Tem os sanduíches aí. O que é difícil, pra administrar um bar?
R1 – Eu não sei, eu acho que talvez pelo tempo que a gente tenha, eu acho que as coisas foram ficando mais fáceis. A gente tem as parcerias, né? Porque pra mim banda é parceiro. A banda precisa do bar e o bar precisa da banda. Então, não tem essa de ‘eu estou te dando um lugar’. Não. Um precisa do outro e é uma troca. E o cara que vende bebida também precisa de alguém que compre. Então, a gente tem fornecedores, assim, que viraram amigos também. O João, da Vero, fornece pra gente há quanto tempo, já. E, assim, se a gente chegar e falar: “Meu, estou sem grana agora”, de boa, saca? Porque já conhece a gente, já sabe que a gente tenta fazer as coisas certinho. Tudo mais certinho.
P1 – Mas ajuda o nome e o tempo, né? Quarenta anos. Então, acho que os fornecedores já estão mais...
R1 – Sim. As bandas também é a mesma coisa, saca? É rara a banda que: “Eu quero um contrato”.
P1 – Aqui temos uma pergunta sobre formas de pagamento. Como é que a gente paga no Arma? Com dinheiro, com cheque, com cartão ou ainda tem a caderneta, que seria...
R1 – (risos) Nossa, meu, tem várias contas lá sobrando, sabe? Não, hoje paga com cheque, com cartão. Demoramos pra começar a aceitar cartão, né, mas hoje a gente aceita. Não tem, tem coisa que não dá. Chega uma hora que: “Tá bom, eu aceito”. (risos) E as pessoas falavam: “Mas como vocês aceitam cheque?” A gente não tinha problema.
P1 – O cheque era mais perigoso, né? Dependendo do...
R1 – É, todo mundo acha. Teve cheque sem fundo? Claro que teve. Mas se você contar o que você paga de taxa pra maquininha, acho que dá na mesma.
P1 – Sei. Val, atualmente sua filha está onde? Cadê a Natasha, que é aniversário dela hoje, né?
R1 – Hoje é aniversário dela. A Natasha está em Brasília. Olha que legal!
P1 – Ela se formou em Biologia, né?
R1 – É. Ela fez mestrado em Ecologia e Conservação e doutorado na USP, ela mexe com sensoriamento remoto. E ela trabalha com isso, hoje.
P1 – Que legal!
R1 - E a Tati, que está morando em Bauru também, por incrível que pareça, porque...
P1 – Ela sempre rodou o mundo, né?
R1 – É, a Tati tem rodinha no pé, né? Vive fuuuuuuu. Agora ela deu uma estacionada aqui.
P1 – Sim.
R1 – As duas são ótimas. A Tati é da dança, da arte. É completamente... uma é super nerd e a outra é super arte.
P1 – Val, a gente está chegando um pouquinho já mais pro final, e pro futuro? Isso é importante perguntar. Como é que você imagina o Armazém pós pandemia? Assim, eu já nem vou perguntar pra você se você pensa em expandir, que eu acho que você não ___________ (01:32:14).
R1 – Não.
P1 – Mas o que você pensa do futuro do Armazém?
R1 – Eu queria fazer, porque eu me descobri cozinheira também, né? (risos) Licoreira, cozinheira. Aí eu queria fazer umas comidas no Arma também, sabe? Tudo que fala, eu falo assim: “Não, porque daí, de vez em quando eu faço uns filés”, sabe? Lança lá na internet, tal: dia tal vai ter um filé. As pessoas fazem adesão e daí vão lá e comem o filé, mas eu cozinhando. Não sei, eu penso em comida no Arma, sabe? Não sei se pra sempre ou enquanto isso, sabe? Não sei se a hora que puder voltar, se um dia vai poder voltar tão já aquela coisa de um colado no outro num show. Então, eu acho que tem que ter alternativa. Eu gostaria, mesmo, de fazer esse pique de ter comida. Uma comida bem feita, diferente, sabe? Diferente assim, né? Um filé com molho, alguma coisa... um pernil bem feito, sabe? Nada de coisas estranhas, diferentes. Não, o básico bem feito, gostoso. Eu acho legal. Não sei. Pode ser que não funcione. Não sei.
P1 – Apesar que vocês têm uma comida que é tradicionalíssima, que é o Quarteiro à Bernardina.
R1 – É. É muito bom, né, aquele sanduíche?
P1 – É. E você fala o que tem, você fala: “Não pode ser tão bom”. Aí você come e é.
R1 – (risos) Sim. Tinha uma pessoa, um amigo do Paulo, que um dia ele falou que ele queria entrar na cozinha, pra ver fazendo, porque era mentira que era só aquilo que punha. Só aquilo. Aí tudo bem, pode entrar. Ele: “Ah, é isso, mesmo, só que comer aqui é diferente de comer em casa”. Tem gente que fala: “Mas a pinga especial que vocês vendem pra levar é a mesma que vocês servem no bar?” Claro! “Mas é diferente”. É claro que é diferente! Você beber num ambiente que tem um monte de gente, que tem música, é diferente.
P1 – Claro!
R1 - Sim.
P1 – É verdade, porque assim: a maioria dos comércios que a gente fala sobre o futuro, a pessoa já tem a ideia de expandir, tal, mas o Armazém tem essa forma que deu certo por quarenta anos. Então, você não pensa nem em mudar os dias, por exemplo? Abrir outros dias: quinta-feira, sexta-feira e sábado?
R1 – Depende. Se continuar esse horário das sete da noite às onze, que nem isso agora pode, mas se for esse o horário, eu abriria quinta-feira, sexta-feira e sábado, no mínimo. Mas se for das onze da noite até a hora de fechar, não, é sexta-feira e sábado. Eu lembro uma festa de aniversário que eu mudei a data, porque o dia 15 de novembro era uma segunda-feira e eu peguei e estendi, eu fiz quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo. No domingo eu olhava pras pessoas e chorava, mas chorava de verdade, escorria lágrima, sabe? (risos) Um amigo meu, o Cabelo, chegou pra mim e disse assim: “Por que você está chorando?” e eu falava: “Porque eu quero ir embora, eu quero que vocês vão embora, eu não aguento mais ficar aqui quatro dias, com quatro, cinco, seis bandas por noite. É insano, não dá, eu não tenho mais idade pra isso”.
P1 – É verdade. E muitos consumidores, clientes também não têm. A pessoa vai ficando velha.
R1 – Não. E o pessoal reclama que abre às onze, que a banda começa uma hora da manhã. Aí você pega e se propõe: “Vou abrir o bar às nove, a banda vai começar às onze”. Vai alguém? Não vai. Todo mundo...
P1 – Pois é. Val, tem alguma coisa que a gente não perguntou, que você acharia legal falar na entrevista? Assim, que você gostaria de falar sobre o Armazém, sobre você...
R1 – Eu acho que, assim, uma coisa que eu gostaria de deixar, que eu acho que eu posso falar por mim e pelo Paulo, é agradecer aos músicos do bar, aos amigos que a gente fez dentro do bar, pelo tanto de carinho. Outro dia o Davi mandou pra gente um negócio que era, assim, alguma coisa falando de vacina e alguém falando: “Vacina o pessoal do Armazém logo”. Então, é uma coisa que, pô... outra, assim: banda ligar e falar: “Meu, quando voltar, conta comigo. Não se preocupa com nada. Só conta comigo”. E eu acho que tudo isso você faz porque rola respeito mútuo, valorização do trabalho dos dois lados. O Palhinha fala que, quando ele começou a trabalhar com a gente, ele achava o Paulo extremamente chato com horários de passagem de som, não sei o que. E o Paulo é extremamente chato. Ele falou: “Depois de um tempo eu comecei a entender que isso só ia me fazer crescer como profissional. Então, começar a me portar, realmente. Eu faço isso profissionalmente, então vou me portar como profissional”. E é muito legal você receber esse feedback, sabe, das pessoas, saber que as pessoas estão torcendo por você, dispostas a te ajudar, saca, num momento. ________ (01:38:17), quando fez a live lá, eles me ligaram e falaram: “Meu, nós vamos fazer, tudo bem?” “Claro que tudo bem! Obrigada!”, sabe? A Talita, quando fez a coisa, porque tinham entrado no bar. Eu só posso agradecer a essas pessoas. E amigos que a gente faz, que foi por causa do bar, sabe? Você veio do bar. Uma galera vem do bar. O bar deu muita coisa para gente: muita experiência, muito amigo, muito tudo.
P1 – E pode ter certeza que é recíproco dos clientes. Eu conheço muita gente que fala que passou momentos sensacionais no Armazém.
R1 – Sim. Que bom, né?
P1 – Períodos da vida muito bons, sabe?
R1 – Sim.
P1 – Isso é legal. Então eu queria agradecer, Valéria, participar do Memórias do Comércio. Vai ser muito interessante essa entrevista lá. No futuro, todos os Memórias do Comércio dá origem a um livro muito legal, que o Sesc faz livros fantásticos. Com a pandemia vai demorar mais esse livro, um pouquinho mais, mas vai estar no portal a nossa entrevista, do Museu da Pessoa, que vai pro mundo inteiro, no Sesc e também depois, futuramente, nesse livro. Por isso você vai receber uma ligação do nosso fotógrafo Fabrício, pra marcar um dia de fazer um ensaio fotográfico. Você vai lá no Armazém com ele, ele tira umas fotos contigo e a nossa produtora vai te ligar, pra ver com você umas fotos antigas, que você possa deixá-la copiar, que te devolve num dia. Fotos, matéria de jornal, se você tiver.
R1 – O Paulo tem mais coisa que eu. Tem de Doctor Sin, quando vinha no bar. Desse povo, assim, tudo mocinho, sabe? (risos) É uma coisa muito louca. Muito legal.
P1 – E pegar essas coisas, assim, que vocês acharem que seja legal aparecer nas suas fotografias de história.
R1 – Sim.
P1 – E só mais uma coisa: você vai receber um e-mail pra autorizar a gente colocar essa entrevista – é o direito de imagem – no portal, tá legal?
R1 – Tá bom.
P2 – E antes da gente terminar só queria fazer uma última pergunta. A gente conversou de um monte de coisa aqui da sua vida, do bar e tudo, né, Valeria, o que faz você sentir, assim, depois de ter conversado tudo isso? Dá uma nostalgia, te deixa feliz, alguma coisa te deixou triste? Como que você se sente agora, nesse momento? Você gostou?
R1 – Gostei. E, assim, eu detesto isso. O Lu sabe. Eu não faço, sempre me recuso e puta, o Lu falou comigo, eu pensei N vezes em ligar pro Lu e falar: “Cara, não vai rolar”. Eu detesto mesmo e, assim, foi muito legal, porque ao mesmo tempo que te faz lembrar de um monte de coisa boa que aconteceu, um monte de coisa, também, estranha e papapa, mas, assim, pô, é uma história, sabe? É uma vida dedicada a alguma coisa que, de alguma forma, pra muitos pode ser que... a gente não ficou rico. Um monte de gente fica rica com bar. A gente não ficou. Muito pelo contrário. Mas a gente tem uma coisa que eu acho que é muito importante, que é respeito e, assim, eu sinto isso até em vocês chamarem um de nós pra fazer essa entrevista, está vinculado a isso, de alguma forma. Pelo menos é a minha forma de ver. Então, pô, é uma coisa muito legal. Não tenho como, sabe? Claro que foi legal!
P2 – Legal, maneiro, eu agradeço mais ainda por ter aceitado o convite, que é tão difícil uma entrevista com você. Então, legal, também.
R1 – Não. É, assim, que eu tenho uma... ele falou de foto, eu já falei: “Puta, pior ainda”. (risos) Vocês não acabam essa coisa! Aqui eu já consegui quebrar o gelo, né?
P2 – Legal.
P1 – Foto pode ser do jeito que você quiser. Pode ser lá do interior do Arma, se você não quiser aparecer, mas eu acho que você devia aparecer. Você e o Paulão.
R1 – Tá, a gente combina.
P1 – Já acabou a entrevista, por isso que nós estamos conversando. Depois vamos conversar aquilo lá. Eu quero, sim, viu, o Norman lá. Bota pra frente aí, tá bom?
R1 – Assim que acabar tudo isso, aí vocês vão todos lá no Arma, pra gente sentar e comemorar um pouco.
P1 – No primeiro dia que abrir o Arma, eu vou. Você pode ter certeza.
R1 – Legal.
P1 – Estamos aí, pode contar!
R1 – Vai lá, Guilherme.
P2 – Eu já fui uma vez lá, mas agora que eu conheço você, sei das histórias de dentro, vai ser mais legal ainda, ir de novo.
R1 – Legal. Mas vai lá. Jaú é aqui do lado.
P2 – Sim, eu morava aí até outro dia, mas eu vou de novo também, quando abrir agora eu quero ir, com certeza.
R1 – Vai lá. Daí vocês combinam, vão e a gente relembra as histórias, né, Lu?
P2 – Com certeza.
R1 – Porque tem muita! (risos)
P2 – Vai ser um prazer, com vocês.
R1 – Obrigada, viu, gente? Obrigada, mesmo.
P1 – Obrigado! Agradeço muito. Tchau, Val.
R1 – Beijo, obrigadão!
P1 – Até mais!
R1 – Tchau.
P2 – Tchau.
R1 – Obrigada!
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