Depoimento de Thiago Dalla Bernardina Daher
Entrevistado por Marcia Trezza
Vitória, 28 de novembro de 2018
Depoimento PCSH_HV664
Realização: Museu da Pessoa
Revisado e editado por Bruno Pinho
P/1 - Thiago, para a gente começar, você diz, por favor, o seu nome completo, onde você nasceu e a data.
R - Meu nome é Thiago Dalla Bernardina Daher, eu nasci em Vitória, Espírito Santo, no dia 04 de janeiro de 1980.
P/1 - Fala o nome dos seus pais.
R - Meu pai se chamava Francisco Jorge Daher Neto e minha mãe, Sandra Mara Dalla Bernardina Daher.
P/1 - Fala um pouco deles, como eles são, o que eles fazem.
R - Então, meu pai era comerciante, ele já é falecido. Ele faleceu em julho de 2002. Era comerciante, viajava muito e minha mãe sempre foi dona de casa, a Sandra, sempre foi do lar.
P/1 - Sei, e que lembranças você tem de quando você era criança do seu pai e depois da sua mãe?
R - Eu sempre tive ótimas lembranças dele, entendeu, desde quando era, sei lá, desde muito pequeno; lembrava da gente viajando muito, ele gostava muito de acampar. A gente viajava muito acampando, e ele era um cara muito alegre, muito feliz, proativo, sempre gostava de fazer as coisas. E a minha mãe, também, sempre foi essa companheira dele. A gente sempre via os dois sempre juntos, minha mãe também sempre muito prestativa lá em casa, com a gente, comigo na lição de escola; cuidava dos 4 filhos. Foi uma coisa assim bem... que me marcou muito.
P/1 - E você lembra de alguma história na época que vocês acampavam, algum causo que aconteceu com vocês?
R - Nossa, tem vários. Comigo, só comigo?
P/1 - Não, com você, mas pode ser sozinho ou com a família, não é?
R - Deixa eu lembrar aqui. Tem muitos. Ah, de fora de... de estacionar a moto-home, de plugar errado, ele começar a ir para um lado, minha mãe ficar com medo de ver ele começar a descer algum morro, e coisas de cozinhar, também, meu pai sempre gostou de fazer coisas, assim, sempre gostou de cozinhar e cozinhar para o pessoal do camping todo. É bem interessante, entendeu?
P/1 - Vocês ficavam dentro do carro?
R - É, o moto-home era um ônibus adaptado e dentro desse carro tinha cozinha, tudo - cama, ar-condicionado, TV, então a gente viajava pelo Brasil todo. Meu pai trabalhava como representante comercial, então ele aproveitava para viajar. Ia para Bahia, Maceió; enquanto ele trabalhava, a gente ficava no camping. Foi uma fase muito boa.
P/1 - E iam os 4 filhos nesse...
R - Olha, os 4 nem sempre juntavam, até porque era muita gente, mas sempre ia 2, assim, 3, entendeu?
P/1 - E sua mãe sempre junto?
R - Sempre junto, minha mãe sempre junto com meu pai.
P/1 - Você disse que tem - vocês são em 4?
R - Sim.
P/1 - Conta um pouco dessa história dos 4 irmãos que... quem é o mais velho, depois quem nasceu...
R - O mais velho é o Renzo, a minha diferente de idade para ele, se eu não me engano, são 3 anos, aí depois eu sou o do meio, o Thiago, e tem os gêmeos, que são os caçulas, o Hugo e a Silvia; nasceram depois com diferença de idade de 2 anos.
P/1 - Você lembra quando eles nasceram, como foi ter irmãos gêmeos?
R - Olha, lembro muito pouco. Eu lembro mais quando eles ficaram um pouquinho maiores, por volta dos 2, 3 anos. Quando nasceu, não.
P/1 - E o que você lembra quando eles tinham essa idade?
R - Ah, eu lembro que foi uma coisa, assim, que chegaram mais 2 irmãos na casa, foi bem, como que eu vou te explicar?
P/1 - Quando você era maiorzinho, que você se lembra deles?
R - Maior? Ah, maior foi... eu lembro de muitas coisas; minha irmã sempre foi a protegida de casa por ser a única mulher e o Hugo muito arteiro. Isso aí... perfeitamente.
P/1 - O Hugo e o Enzo, que é o mais...
R - ...Renzo...
P/1 - ...Renzo; vocês faziam muitas coisas - como era a convivência?
R - Então, nessa época, eu saía muito com meu irmão mais velho, a gente brincava muito na adolescência. O Hugo e Silvia eram um pouco mais novos, então acaba que a gente tinha um pouco - grupo de amigos, eu era o mais novo do grupo de amigo deles, mas a gente saía muito para jogar bola, ir a clube, essas coisas. E mais tarde, até saía com ele, quando ficaram um pouquinho mais velhos, a gente saía mesmo para... sair de casa, para rua, enfim.
P/1 - Aí já não tinha tanta diferença com o Hugo?
R - Já não tinha. Já não tinha.
P/1 - Ainda quando você era criança, como era a rotina da casa de vocês? Se você puder falar um pouco.
R - A rotina?
P/1 - Que que vocês faziam quando crianças, além de viajar?
R - Bom, tinha a época de escola, tinha época também que a gente fazia os esportes; lá em casa todo mundo sempre foi muito de fazer esportes. Ia para o basquete, um fazia vôlei, outro judô, e sempre depois da escola tinha alguma atividade, essas - ou ia para casa de algum primo.
P/1 - Sempre em Vitória?
R - Sempre em Vitória. Família toda é de Vitória.
P/1 - Você pode falar um pouco ou da casa ou das casas que você morou; sempre foi apartamento ou se morou em casa?
R - Sim, a gente sempre morou em apartamento. Moramos na Praia do Suá. Era um apartamento que eu nasci, eu acho que fui para lá, se não me engano. Não morei em nem um outro lugar. Meus irmãos também, então a gente cresceu lá, nesse apartamento, lá na Praia do Suá. Era um apartamento de 3 andares, tinha bastante vizinhos, que a gente brincava muito também. Naquela época era bem tranquilo, não é, antigamente brincar por ali.
P/1 - Podia brincar na rua?
R - Naquela época sim; hoje em dia nem tanto. As casas...
P/1 - ...o pré... pode falar.
R - As casas tinham - o prédio tinha um muro baixo, então a gente brincava de bola na rua, andava de skate. Não tinha esse tanto problema quanto violência.
P/1 - E nessas brincadeiras de rua era perto da praia?
R - Não, não tão perto. Não tão perto. Vamos dizer que lá na Praia do Suá eram... a praia é uns 2km, mas íamos muito a praia também; mais no final de semana.
P/1 - Com a família ou só vocês crianças?
R - Mais com a gente e os amigos, entendeu? Com a família iam menos. No camping, a gente ia mais.
P/1 - Sei. Quando criança podia ir para praia sozinho assim?
R - Sempre tinha um amigo mais velho, que tinha 15, 16 anos que levava a gente, aí a gente ia.
P/1 - Aquela turma.
R - É, uma turma.
P/1 - Conta um pouco como era na praia.
R - Bom, a gente gostava muito de pegar onda; na época a gente pegava onda de morey boogie - morey board - e ia sair (inint) [00:08:43] todo mundo, uns 4, 5 meninos. É como eu te falei, nesse ponto, o Hugo já não ia e eu ia com Renzo, meu irmão, e os amigos mais, entendeu? Era bem legal.
P/1 - E por você ser o mais novo da turma, tinha alguma coisa, alguma situação que você lembra?
R - Tem. Tinha uma situação - a gente em um clube, jogando futebol de salão, e me botaram para ser goleiro. Chutaram a bola mais forte, eu caí no chão meio que sem ar, foi... pois é, botaram o menor para agarrar.
P/1 - Mas pelo jeito você agarrou bem.
R - É, agarrei.
P/1 - Thiago, também na praia teve algum momento marcante que você até hoje tem aquela lembrança que aconteceu alguma coisa? Uma aventura...
R - ...na praia...
P/1 - ...uma situação de perigo.
R - Na praia, teve uma vez em Conceição da Barra, que é onde meu pai nasceu, que é o norte do estado, bem ao norte do estado, quase divisa com a Bahia, e era uma praia que puxava muito, tinha muito buraco, aí teve uma vez que eu salvei meu irmão, o Hugo; estava quase se afogando, entendeu?
P/1 - Gente.
R - Essa foi uma coisa que me marcou muito, assim.
P/1 - Como foi essa sensação?
R - Ah, eu, na verdade...
P/1 - ...conta a história toda...
R - ...bom, a gente estava na praia e aquela coisa, você não podia muito ir para o fundo, geralmente com a água no raso, só que lá como tinha buraco, você caminhava, às vezes você caía em um buraco e ficava até quase o pescoço. Nessa hora, eu acho que eu não lembro se eu estava - se o Hugo estava do meu lado ou estava um pouco mais afastado, que o Hugo estava do meu lado e de repente ele sumiu; aí eu fui atrás dele, consegui pegar ele assim e minha reação foi me afundar para levantar ele, então, eu quase também afoguei, mas deu tudo certo no final.
P/1 - Que idade você tinha mais ou menos?
R - O Hugo devia ter 8 anos, eu deveria ter 10 para 11 anos. Mas lá em casa... eu já fazia natação desde pequeno, o Hugo, não. Só que hoje é capaz dele nadar melhor que eu.
P/1 - Qual a origem da sua família, seus avós, que que eles faziam?
R - A origem da minha família por parte de pai é libanesa. Meu avô sempre foi comerciante, tinha um mercado - secos e molhados, que eles chamavam na época - e foi prefeito de Conceição da Barra também, e minha avó também sempre foi do lar, porque na época acho que eram acho que 7 filhos, se eu não me engano, que ela teve, entendeu? E a casa era muito cheia, eu lembro disso.
P/1 - Seu pai, então seguiu comerciante...
R - ...meu pai seguiu comerciante, viajava - ele era representante comercial; viajava muito.
P/1 - De que ramo?
R - Era uma empresa de vidro. Ele era comerciante de uma empresa de vidro.
P/1 - E do lado da sua mãe?
R - O lado de mamãe a família Dalla Bernardina que foi de origem italiana. Minha mãe nasceu em Colatina, que é uma cidade mais ao norte... noroeste do estado, não é, e ela sempre foi... meus avós que eu não tinha tanta... não consegui meus avós maternos. Meu avô faleceu com... assim, bem mais cedo, e minha avó faleceu se eu não me engano quando eu tinha 1 ano de idade, entendeu, 1 aninho. Aí eu não pude conhecer meus avós maternos, mas se eu não me engano meu avô também tinha comércio, minha avó do lar.
P/1 - E da escola, primeiras lembranças da escola? Que que você lembra bastante?
R - Primeiras? Ah, eu lembro do jardim I, eu não querendo ir para a escola, e eu fui com meu irmão, Renzo, que Renzo já estudava lá, e ia com ele para a escola, eu lembro chorando, não querendo ir. Isso eu lembro perfeitamente também.
P/1 - E ele te deu apoio?
R - Sim. Me deixou lá na sala.
P/1 - E de brincadeiras com as crianças, tinha alguma que você gostava mais?
R - Quando eu era mais novo, a gente brincava muito de bola, lá na escola, nos parquinhos da vila, Educação Física, era muito legal. Aí a gente foi ficando mais velho... na verdade, era uma escola bem bacana, porque era aqui na Praia do Canto, a gente estudava no Sacré-Coeur, então tinha uma praia na escola, então às vezes a gente fugia um pouco para praia; foi bem legal essa fase.
P/1 - A praia fazia parte da escola?
R - Fazia. Fazia, tinha a praia embaixo, tinha a quadra de - uma quadra poliesportiva que a gente fazia Educação Física, e a praia.
P/1 - E vocês usavam a praia para atividades?
R - Sim, tinha o piquenique às vezes, tinha os passeios de turma na praia. Era bem legal.
P/1 - Thiago, se você pudesse falar como a praia é para você, dessa fase, que que deixou em você?
R - Bom, a praia no... sempre quando eu tomava banho de água de mar, no início, era muito ruim por conta da alergia, porque machucava, mas depois de um tempo, eu segurava e parava de arder; mas depois disso - eu gosto muito de praia, não é, mas tinha esse bloqueio de início, principalmente nos verões quando a gente saía para viajar, sempre para praia e no início era sempre muito difícil, mas depois que eu caindo, me acostumando, nem sentia mais nada.
P/1 - E na areia?
R - Na areia?
P/1 - Tinha algum contato... o contato era...
R - Não, o contato da areia era normal, sempre ficava na areia, não tinha problema nenhum.
P/1 - O que era incômodo era o sal?
R - Era a água salgada, por conta das feridas, que coçavam, então tinha essa questão da água salgada irritar a pele e arder um pouco.
P/1 - Você lembra da... aí você está falando da dermatite?
R - Sim.
P/1 - Você lembra como começou, o que que você lembra, então, já que você fala dessa alergia desde criança...
R - ...sim...
P/1 - ...como foi esse começo? Do que que você lembra?
R - Eu lembro eu muito novo e meu pai me levando para tomar banho de mar muito novo, eu lembro disso, e eu chorava, tal, mas depois de um tempo, eu não sentia mais a ardência, então era aquele primeiro contato mesmo, entendeu? Tanto que, por exemplo, depois de 15, 20 dias na praia, ardia acho que os primeiros 4, 5 dias só, depois eu ficava - podia entrar no mar e não sentia nada, entendeu?
P/1 - Entendi.
R - Então esse primeiro contato com a água do mar que era sempre traumatizante, mesmo.
P/1 - Ficava durante bastante tempo, assim, uns minutos ardendo?
R - Uns minutos, uns 15, 20 minutos ardendo bem, mas não tinha o que fazer.
P/1 - E era no - que parte do corpo?
R - Geralmente nas dobras, atrás do joelho, no cotovelo, em cima; nas dobras, mais nas dobras.
P/1 - Sei e essa convivência com essa alergia, com a dermatite, não é, nessa fase de criança, além desse contato com o mar, que era mais difícil, teve outras situações que você pode contar para a gente?
R - Sim, em épocas de crise, não queria ir para escola, era uma coisa bem - queria ficar deitado no colchão mesmo lá de casa, não queria sair. Às vezes eu ia para a escola no verão com camisa de manga comprida para esconder. Essa coisa de criança, assim mesmo.
P/1 - Sei. Você, além de querer esconder, tinha algum incômodo?
R - Ah, ficava incomodado, sim; mais pela aparência, mesmo. Tentava esconder, tinha um certo incômodo, sim.
P/1 - Sei. E você lembra de alguma situação ainda criança, criança que você diz - com que idade começou?
R - Por volta de 2 anos e meio, 3 anos. 2 anos e meio. E ela evoluiu até recentemente, até, vamos botar, a crise, até os 18, 19 anos. Até os 18 anos, depois foi melhorando.
P/1 - Sei. Você quer contar um pouco dessa evolução, algumas situações que você acha importante contar sem eu precisar perguntar?
R - Bom, você diz progressivamente...
P/1 - ...como foi esse processo. Depois a gente volta para cada momento, mas se você quiser contar um pouco essa evolução até os 18 anos, por exemplo.
R - Quando criança foi isso que eu te falei, a parte dos 3 anos eu já não lembro muita coisa, lá para os 6, 7 eu começava a lembrar das coisas, de escola, de - e sempre tinha uma crise maior, vocês aí - o pessoal aqui de casa achava que era alimento, entendeu? A gente tentou tirar algumas coisas, eu fiquei por muito tempo sem poder comer ovo, chocolate, aí passava a Páscoa, não comia chocolate. Acabou que eu acostumei, também, não foi tão ruim, não, mas isso já na parte de criança. Na adolescência, eu... aí acaba você ficando mais vaidoso, sempre buscando - passando muito hidratante, mas ficava com um pouco de vergonha também de ficar aparecendo assim, as pessoas perguntam às vezes que que é, não é, que às vezes empola muito, você fica muito empolado; você coloca, sei lá, uma roupa que está guardada um pouco mais tempo no armário, você fica bastante empolado e as pessoas perguntam. Às vezes, me irritava um pouco, mas depois de um tempo eu já não ligava mais, entendeu? Isso foi evoluindo até os 18 anos, que depois disso diminuiu bem, mas ainda continuou, entendeu?
P/1 - Sei, e vamos pegar - conversar um pouquinho dessa fase, não é, de criança e de... você diz que a alimentação começou a ser cerceada, mas quem que orientava isso?
R - Médico. Às vezes os médicos - ah, evita tomar leite, faz um tipo de exame, exame de sangue, que eles fazem um rastreio, aí tira o amendoim, tira ovo. Na verdade, era tipo uma tentativa e erro, não é, mas tinha épocas que eu comia e não dava nada, épocas que pioravam, então isso era uma coisa bem... não sei também se de qualidade do ar, como aqui também tem muito pó de minério. Quando eu viajava, por exemplo, de férias para Conceição da Barra, pegava muita praia, sol, melhorava a alergia, entendeu?
P/1 - Entendi, e quando criança, além dessas situações que você colocou, tinha alguma situação que fazia ou até não incomodava, mas acontecia, entendeu, quando criança ou eram só essas, mesmo, situações?
R - Não, era mais questão de esconder dos colegas mesmo, entendeu? Das namoradas não tinha como, então elas já sabiam que eu convivia com aquilo, mas era mais questão do incômodo de mostrar, das pessoas perguntarem que que é. Só isso.
P/1 - Sei. Isso desde criança, não quando adolescente? Desde criança?
R - Desde de criança. Não, desde criança, desde criança.
P/1 - E teve alguma situação que te causou constrangimento maior... preconceito, por falta de informação, estou dizendo.
R - Assim, isso eu não lembro se quando eu era mais novo se aconteceu.
P/1 - Você não percebia?
R - Eu não percebi por ser novo. Agora, na questão de... mais velho, um pouco, de eu me lembrar, eu não me recordo de preconceito, não. Não, não me recordo.
P/1 - Só de as pessoas perguntarem?
R - É, incomodado de perguntarem o que que é isso, tal, se isso é contagioso; aí você fica um pouco com preguiça de ficar respondendo.
P/1 - Entendi. Você falou dessas situações todas de... a sensação mais no corpo, assim, se você puder contar um pouco mais, além da praia, que era a ardência, não é.
R - Bom, você diz a sensação o que eu sentia com a alergia?
P/1 - É.
R - Assim, fora da água, qualquer água, água do mar ardia mais, mas banho também ardia.
P/1 - Sei.
R - Eu lembro de passar também muito - testar muito produtos, vários tipos de hidratantes, até coisas mais naturais de passar (inint) [00:22:28] na pele; e no inverno, sempre que - eu lembro que no verão amenizava muito, mas chegava o inverno, era uma época muito ruim que eu não gostava, entendeu? Não gostava do inverno, porque eu sabia que a minha pele ia piorar, aí ficava mais em casa, me cobria mais. Gostava quando chegava o verão.
P/1 - Entendi. Agora, voltando a sua adolescência. Além da praia, o que mais vocês faziam para se divertir? Além das brincadeiras, como era?
R - A gente andava muito de bicicleta quando era mais novo, ficava brincando também... e a gente ia todo mundo para a casa da minha avó; minha avó morava em um bairro próximo e aí juntava os primos, a gente ia para o clube, ficar brincando, isso eu lembro muito bem. Apostava corrida de bicicleta. Ah, tinha bastante coisa, a gente fazia muita coisa.
P/1 - E tinha situações que aconteciam que eram costume da turma fazer ou então situações engraçadas?
R - Bom, era certo era sair da escola sexta-feira a gente ia jogar bola na casa de um conhecido nosso ou no clube, tinha um clube perto da casa da minha avó, e deixa eu ver... não me recordo de situação engraçada...
P/1 - ...não, não precisa ser engraçada, não, eu só falei como exemplo, mas pode ser...
R - ...eu lembro que a gente sempre andava em bando, muita gente, mesmo, aí meus primos também iam, tinham os amigos da escola, entendeu? Era bem legal.
P/1 - Você tinha muitos amigos.
R - Muitos, muitos amigos. Ainda tenho.
P/1 - Como você - a tua relação com eles, se você puder falar um pouquinho.
R - Ah, eu tenho até hoje amigos de mais de 20 anos de idade, até hoje a gente é próximo. Todo mundo às vezes marca uma viagem junto, a gente sai junto; está sempre se encontrando. Um indo na casa do outro, entendeu? É bem legal. Até hoje a gente está junto.
P/1 - E como foi a primeira namorada? Você lembra da história?
R - A primeira namorada? Deixa eu - lembro, lembro.
P/1 - Conta como foi, como você conheceu, como começaram a namorar.
R - Bom, a primeira namorada eu acho que tinha menos... era namoradinha; namorava até meio que a distância, a gente se encontrava em Conceição da Barra, ela era de Colatina, até a terra da minha mãe; e a gente se encontrava mais no verão, a partir de dezembro, mas era aquela coisa, ficava de dezembro, janeiro até o carnaval, aí ela ia para Colatina, eu vinha para Vitória, e às vezes a gente fazia - na época a gente tinha cartinha ainda, não é, trocava cartas. Às vezes, ela vinha para Vitória, também, que tinha um tio dela que morava aqui...
P/1 - ...que idade você tinha, você lembra?
R - Ah, uns 15 anos. 15 anos.
P/1 - Foi a primeira assim?
R - Foi, namorada, foi a primeira.
P/1 - E foi - você teve uma paixão?
R - Ah, sim, naquela primeira namorada é aquela coisa, foi, foi sim.
P/1 - E foi ela que você deu o primeiro beijo?
R - Foi, foi ela.
P/1 - E como foi a sensação?
R - Ah, no início, fiquei com muita vergonha, mas depois foi tudo certo, a gente deu aquele beijinho, todo mundo olhando. Aquela coisa de criança. Ela devia ter uns 12 anos.
P/1 - Descreve a cena, onde vocês estavam, detalhes.
R - Bom, nós estávamos em Conceição da Barra, era verão - era janeiro e foi em um local, foi no cais da cidade que era um lugar um pouco mais escuro e tinha muita gente por perto, então ninguém ficava sozinho nessa época, mas foi acompanhado ali, a gente foi em um canto, eu pedi para ela, ela falou que não sabia, mas no final das contas ela deixou; aí foi o primeiro beijo. Aí aquela coisa - beijou, está namorando. Então a gente começou a namorar ali.
P/1 - O nome dela?
R - Poliana.
P/1 - E durou quanto tempo esse namoro?
R - Ah, durou, vamos dizer aí, durou uns 2 verões.
P/1 - E o que mais vocês faziam nesse namoro de praia?
R - Ah, juntava aquele bando todo que tinha as primas dela, os meus primos, então a gente brincava muito, marcava de ir para a praia, às vezes ia tomar banho de piscina na casa de um amigo em comum. Aí saía a noite para um lugar que todo mundo ficava na praça, ali, aquela coisa de criança mesmo.
P/1 - Eu ia te perguntar, ainda... que a relação de vocês, seu pai, sua mãe com você, em relação a dermatite; como que você sentia, se seu pai levava você para o mar...
R - ...sim...
P/1 - ...mas tinha outras situações que você...
R - ...tinha, tinha...
P/1 - ...que ficaram fortes na sua memória?
R - Eu lembro que meu pai sempre - eu lembro muito meu pai quando eu tinha problema de asma, também, bronquite asmática, e eu lembro meu pai também ter me levado algumas vezes no hospital infantil que tinha próximo de casa para fazer nebulização; ele ficava bastante preocupado também em relação a alergia. Minha mãe, também, sempre buscando hidratantes novos, sempre preocupada, ia para cama dela para ela me passar hidratante. Eles foram bem atentos nessa questão; buscava médicos, medicamentos, foi... eles eram bem atentos a isso mesmo. Passaram uma fase bem difícil na época da crise.
P/1 - Eram crises que aconteciam? Quantas vezes ao ano, por exemplo? Tem ideia?
R - Eram crises. É que a questão... no verão, menos, mas começava a temperatura mudar, diminuir, chegando perto no inverno, começava. Vamos botar aí, durante o ano, umas 4 crises bravas, entendeu?
P/1 - Tinha relação - você acha, ou você tem a informação, ou achava que tinha relação com a temperatura ou com outras coisas da época?
R - Com outras - eu acho que também tinha muito a questão do emocional, também, entendeu. Tem muito a questão do emocional também.
P/1 - Por exemplo?
R - Por exemplo, está nervoso com alguma coisa ou ansioso, ansiedade, eu acho que acaba se coçando mais, entendeu? A temperatura, porque a pele fica mais ressecada, não é; o banho quente eu acho já não tomava. Não podia tomar banho quente, então às vezes quando escapava, estava no inverno, queria tomar banho um pouco mais quente, aí prejudicava.
P/1 - Era sempre frio, mesmo no inverno?
R - É, sempre frio. Não podia, porque o banho quente prejudicava muito a minha pele; ela não produz oleosidade. Então por isso que eu tenho que estar sempre passando hidratante, não é, ter esse cuidado maior, também.
P/1 - E você disse emocional?
R - Emocional, sim, eu acho que eu lembro - pelo que eu lembro, quando eu ficava mais nervoso ou ansiedade com alguma coisa, eu coçava. Até hoje é assim, mas é muito mais controlado.
P/1 - E você falou da asma, não é? Mas como era essa situação?
R - Sim. Então, a bronquite asmática eu não me lembro como ela vinha, mas eu lembro perfeitamente de ter que ir na casa de vizinho buscar nebulizador para fazer. Teve uma vez que a gente voltando de um camping, também, eu fiquei com uma crise brava também no domingo, aí busquei o nebulizador e depois fui para o hospital infantil com meu pai. Só que eu não lembro como ela chegava, essa crise.
P/1 - E afetava ou não afetava toda essa brincadeira que você tinha com os seus amigos, porque vocês tinham uma atividade grande de turma.
R - Não, afetava, afetava, acaba ficando mais em casa. Não podia ir para - às vezes, se eu ia dormir na casa de algum amigo, às vezes a colcha, por exemplo, se estava muito mais tempo ali, eu ficava me coçando; isso eu lembro também que era determinante para a alergia, entendeu? Cachorro, gato, não podia - e olha que a gente tinha um cachorro na época que meu pai comprou. E mesmo com ele ali em casa, eu ainda ficava - brincava com ele, tal, pegava no colo, mas o cachorro me prejudicava bastante. Até hoje prejudica, cachorro e gato.
P/1 - Entendi. Thiago, você foi aprendendo a lidar - fala um pouco disso, porque desde 2 anos?
R - 2 anos e meio.
P/1 - Então, fala um pouco dessa relação toda.
R - Depois que eu comecei a ficar - passar da fase da adolescência, eu comecei a meio que aceitar aquilo e - como é que eu digo? Eu já sabia como funciona. Quando ela piorava, o que deveria fazer, entendeu, e não fazer. E como ela começou a melhorar depois dos 18 anos, não teve mais crise, coçava, aparecia ainda umas feridas, mas eu chegava uma hora eu olhava e tirava aquilo de letra. Ah, eu vi que estava um pouco machucada a pele, mas não... a minha namorada falava - a Lívia: “Ah, Thiago, a sua pele está machucada”. Eu falava: “não, mas ela está até melhor. Já estive pior”, então acaba que se acostuma com aquilo, entendeu?
P/1 - Entendi. A Lígia é essa que você hoje é...
R - ...a Lívia, a esposa... isso...
P/1 - ...como é o nome dela?
R - Lívia.
P/1 - Lívia. Você falou das crises, só para a gente também registrar o que é - como ficava o corpo quando tinha crise?
R - Como coçava muito e nas dobras praticamente ficava bem machucadas, não é, tanto na parte interna do joelho, quanto essa parte aqui em cima do cotovelo, que eram os piores locais; e ficava meio ferido mesmo, entendeu, com as pústulas e era bem... na época, era bem - fica até meio feio sair de casa; ficava com vergonha. Nas crises, ficava com bastante vergonha de sair de aula, tanto que faltava a aula, tal.
P/1 - Sei, mas aí podia - você no inverno cobria?
R - Cobria, cobria. Usava camisa de manga comprida, calças jeans, entendeu? Eu tentava disfarçar quanto eu podia.
P/1 - E sentimentalmente, emocionalmente, você quer contar alguma situação em relação a isso... que você acha importante?
R - Bom, sentimentalmente, eu acredito que isso me deixava um pouco mais sozinho, não é? Um pouco mais triste por não estar saindo com meus amigos, jogando bola, fazendo algumas outras coisas, sentindo um pouco com vergonha, mas acredito que isso não afetou muito a minha autoestima; pode ser que tenha afetado quando eu era pequeno, mas hoje eu vejo que isso não me prejudicou, entendeu? Não prejudica.
P/1 - E mesmo tendo lembrança da sua adolescente, você... em relação a autoestima, você acha que foi quanto?
R - Na adolescência, eu acredito que mais quando eu tinha para 18 anos, um pouco mais velho, que eu comecei a aceitar mais isso; eu acho que antes, a adolescência de 15, eu ainda ficava com muita vergonha ainda, entendeu?
P/1 - Sei, e mesmo assim você teve as namoradas.
R - Sim, sim.
P/1 - Muitas namoradas?
R - Não, não muitas, não muitas. Namoradas, mesmo, acho que tive umas 4 só. Só.
P/1 - Você comentou dessa primeira e na escola, você comentou das brincadeiras, e como foi evoluindo a sua vida escolar e de atividades, também?
R - Bom, de atividades - eu estudei a minha vida inteira nesse... minha vida inteira assim, do jardim I a 8ª série, no Sacré-Coeur até os 15 anos, depois do Sacré-Coeur eu saí, fui tentar fazer escola técnica, acabei não passando e fui fazer o 1º ano em outra escola, no Jardim Camburi. Aí foi bom que eu pude fazer outras amizades nessa outra escola, conhecer gente nova. Eu já tinha 16 anos e depois eu terminei o segundo, terceiro grau, fiz vestibular para Educação Física, entrei na Educação Física na UFES, Universidade Federal, e cursei o primeiro ano, o segundo ano eu tinha acho que 21, foi, 21 anos, meu pai faleceu, aí nesse meio tempo eu tranquei, como meu pai era - na verdade meu pai era o... minha mãe do lar, tinha meu irmão mais velho, que nessa época eu já trabalhava com meu pai e meu irmão, a gente tinha uma salinha comercial que a gente vendia acessório para vidraçaria e decoração; aí nessa época foi que eu saí, tranquei minha matrícula e fui trabalhar só com meu irmão. Meu irmão, no caso, ele teve que trabalhar onde meu pai trabalhava, e por ali eu fiquei até uns 2, 3 anos trabalhando ali, depois eu fiz, tentei fazer Administração, fiz 3 anos - não, 2 anos de Administração e tranquei, e trabalhando o tempo - continuei trabalhando.
P/1 - Você tinha uma vontade de ser educador físico, você...
R - ...olha, quando eu entrei lá na Educação Física da UFES, eu vi que era uma coisa mais para bacharelado - dar aula, até achei interessante, mas na época era uma coisa muito, que eu fiz era muito nova em Vitória; ou você dava aula, ou você dava personal, não é. Hoje em dia as coisas são muito mais abertas a isso, mas eu sempre gostei de esporte, fiz minhas coisas. Eu até me identifico bem, mas na Administração também. Hoje eu sou comerciante, sou sócio em uma loja de roupa e gosto muito. Gosto muito, então acho que as duas coisas são meio ligadas para mim, entendeu? Tanto a Educação Física, quanto a Administração.
P/1 - Por que o esporte sempre fez parte da sua rotina?
R - Sempre.
P/1 - Qual esporte que era mais...
R - ...bom, de criança, a gente surfava com bodyboard, depois veio a bicicleta, aí na adolescência...
P/1 - ...futebol?
R - Não, futebol mais no camping, até com 15, 16 anos que a gente (inint) [00:38:42] muito, juntava o pessoal, eu não prolonguei muito. Com 18, 20 anos, eu comecei a fazer corrida de rua, aí meu irmão mais novo, o Hugo, começou a fazer triatlo com 21 anos; eu sempre vi ele nas provas, tal, mas não era muito interessado, aí eu com 25, 26 que eu comecei a fazer também. Aí a gente foi até hoje. Até os 30 e poucos.
P/1 - Corrida, natação e ciclismo?
R - Isso, nada, pedala e corre. Já viajei muito para fazer prova, ele também.
P/1 - Vocês têm patrocínio?
R - Não, não. Na época, o meu irmão tinha o patrocínio, eu não. Tem que bancar do bolso mesmo.
P/1 - Qual a sensação de praticar esse esporte, inclusive das diferentes fases?
R - Olha, na corrida, quando eu comecei a correr, eu não nadava e pedalava, pedalava, mas não era sério, e é uma sensação muito boa. Eu gosto de correr, de pedalar, acho que te dá uma liberdade, você pensa muito na vida e enfim. É questão mesmo da endorfina mesmo, e eu preciso dar uma corridinha para refletir mesmo; o gato gosta disso.
P/1 - Teve algum momento revelador, impactante na corrida? Antes de ser essa modalidade...
R - ...triatlo...
P/1 - ...ainda só a corrida. Teve momentos ou um mais importante?
R - Na corrida?
P/1 - Que você falou que pensa, que dá liberdade.
R - Na verdade, a questão da corrida é mais o pensamento diário. Às vezes você está com alguma dúvida, você vai, dá uma espairada mesmo; você volta mais leve também de um dia duro de trabalho, aquilo dá uma aliviada. Agora revelador, não.
P/1 - Assim, eu falo de - ah, teve uma vez que aconteceu isso, eu estava correndo. Especial, não revelador. Especial.
R - Pior que eu não me recordo.
P/1 - Não, não precisa recordar; só se tivesse.
R - Não, não me recordo.
P/1 - Thiago, e fazendo os 3 esportes, como é essa...
R - ...no caso, quando eu comecei a me interessar mesmo no triatlo, eu entrei em uma assessoria, tinha um professor que me passava as planilhas diárias para fazer e eu acho interessante é a questão da disciplina, você estar fazendo - seguir aquela planilha por 6 dias da semana, questão de dormir cedo, deixar de sair à noite com os amigos. Foi uma - hoje, eu estou até um pouco parado - hoje eu só estou pedalando -, mas eu sinto falta dessa rotina. Pretendo voltar em breve, também.
P/1 - Como foi essa passagem, você começar a entrar nessa nova rotina? Teve alguma situação que você lembra?
R - No início, foi difícil conciliar a questão de trabalho, treinar e a esposa, então a minha sorte que na época que eu fui fazer uma prova importante, ela estava fazendo - estudando para concurso, então ela sempre tinha que estar lá com os livros e eu saía para treinar; acordava muito cedo, chegava em casa, tomava o banho e trabalhava, e depois do trabalho ainda tinha que fazer mais o treino, então - e ela também sempre estudando, mas ela entende perfeitamente que era uma coisa que eu tinha que fazer, e eu também entendi que ela tinha que estudar, então acaba que deu tudo certo.
P/1 - Você disse que o seu irmão foi trabalhar na empresa de representação que o seu pai...
R - ...isso, isso...
P/1 - ...então ele continua viajando?
R - É, meu irmão continua viajando por um tempo, fazendo as mesmas escalas que meu pai fazia, e ele casou nesse meio tempo, e a empresa abriu uma filial em Eunápolis, na Bahia, e o presidente da empresa perguntar se ele não queria assumir a gerência dessa empresa em Eunápolis; meu irmão aceitou e foi morar em Eunápolis. Hoje ele está lá - há tem 8 anos em Eunápolis, morando em Eunápolis, teve 2 filhos.
P/1 - E você ficou sozinho com a loja que era de produtos...
R - ...não, nesse - antes dele viajar para Eunápolis, a gente desfez a loja. Aí eu fui - nesse meio tempo que eu abri uma outra loja, esse comércio de roupa até com meu primo, que eu sou sócio dele hoje, e ele foi para Eunápolis.
P/1 - E vocês decidiram - conta um pouquinho esse processo de resolver abrir uma loja de roupa?
R - Então, a loja de roupa foi o seguinte: a minha tia já tinha uma loja de roupa há muitos anos, há uns 15 anos, e sempre havia sobra de mercadoria. Passava coleção, não vendia, ela estocava essa mercadoria; isso durante 15 anos. Aí esse meu primo, Eugênio, falou comigo: “puta, então tem um monte de roupa lá da minha mãe, queria vender”, ele até começou a vender alguma coisa, aí eu falei para ele: “poxa, mas vamos abrir uma loja. Vamos vender isso, vamos vender essa sobra de mercadoria como, sei lá, uma ponta de estoque, uma outlet”. Aí ele - vamos. Começou isso, começou em 2009; vai fazer 10 anos em março já.
P/1 - Deu certo?
R - É, deu certo. Está dando.
P/1 - A gente estava falando da relação sua com a dermatite e aí foi e você falou quando chegou - foi chegando 18 anos, foi melhorando. Teve algum tratamento que você acha que deu mais certo?
R - Olha, a gente sempre escutava que... lia a respeito e os médicos falavam que quando chegasse a puberdade, iria diminuir. Aí chegou 15, 16, não diminuiu tanto, mas eu acredito muito que foi questão de avanço, mesmo, de hidratantes, a questão de a gente saber também evitar, por exemplo, eu te falei a história do cachorro lá de casa, acabou que o Tobias faleceu - que era o nome do cachorro -, aí melhorou um pouco também a dermatite. Então é isso, é questão de hidratante, a pele foi melhorando. Medicamento, eu acho que começou a melhorar mesmo, não com medicamento mesmo, eu acho que era mais coisas tópicas, cuidado tópico, mesmo, entendeu? Medicamento... eu estou até fazendo tratamento agora que está melhorando bem, mais recente, mas antigamente, não, era mais...
P/1 - ...e qual é esse que você diz que está fazendo e está melhorando bem?
R - É um remédio que eu estou tomando, só que eu esqueci o nome dele agora, que é um nome complicado. Você toma uma vez por semana esse remédio e ele até associado para quem tem esclerose, assim, mesmo - e está dando resultado, eu estou gostando; e continuo passando hidratante sempre, não é.
P/1 - É um remédio que interfere na imunidade ou não?
R - Na imunidade... interfere na imunidade sim, interfere, tanto que ele é um pouco forte, eu tenho que tomar até um remédio para fígado.
P/1 - Teve algum médico, alguma médica, que foi marcante? Que fez toda a diferença? Você lembra?
R - Tenho, tenho. Fez a diferença... eu acho que quando eu comecei a melhorar mesmo, teve a Faradiba e o Denis Ottoni, também. Esses dois.
P/1 - E por quê? No que que eles fizeram de diferente?
R - Faradiba me indicou um hidratante específico para eu passar na pele depois do banho, essas coisas, e teve uma - ela me indicou um medicamento, também, que aliviou muito a coceira. Eu não me recordo o nome; e aliviando a coceira, você fica um pouco... e o Denis me indicou esse remédio que eu estou tomando atualmente.
P/1 - Ele é que especialidade?
R - Ele é dermatologista.
P/1 - E a Faradiba?
R - Então, a Faradiba eu acho que ela é dermatologista, mas ela tem - pesquisa muito - não sei se ela é infecto... alguma coisa, entendeu? Eu não me recordo.
P/1 - Entendi. Essa coisa da coceira é uma sensação... teve algum momento, alguma situação que você acha importante registrar, uma história que você conseguiu...
R - ...de coceira?
P/1 - É, que você acha importante contar como uma parte dessa tua caminhada toda.
R - Mas teve várias, não é, deixa eu tentar uma marcante.
P/1 - Que você acha importante para contar como é essa relação, entendeu?
R - Ah, eu - por exemplo, teve uma história que eu fui visitar minha atual esposa em casa e peguei uma camisa do meu irmão emprestada que estava guardada há mais tempo e eu comecei antes de chegar na casa comecei a me coçar, me coçar muito. Quando encontrei com ela, eu tive que ficar segurando aquela coceira para não ficar feio, não ficar coçando na frente dela, aquilo para mim foi... coça muito, ainda roupa guardada há muito tempo, e eu tive que me segurar ali, ficar enfim, foi bem - foi difícil.
P/1 - Aquela situação de autocontrole total.
R - Exato - total, total. E coçando, você não pode coçar; é agoniante.
P/1 - Thiago, como é que você conheceu a sua atual - foi a primeira pessoa que você morou foi ela?
R - Sim. Sim, a Lívia.
P/1 - Conta então como que você conheceu, como foi esse namoro.
R - Eu conheci ela através de um grupo de amigas da minha irmã, entendeu, a Silvia. Foi em 2002, se eu não me engano, foi na Copa do Mundo de 2002 que eu conheci ela. Aí aquela coisa, eu conheci, peguei telefone, trocamos mensagens e fomos namorar.
P/1 - O que é que encantou um ao outro?
R - Bom, do meu lado foi mais o jeito dela, aquele jeitinho, assim, toda muito simpática, sorridente, uma pessoa bem amiga, assim, foi isso.
P/1 - E você lembra um momento importante que agora é o relacionamento...
R - ...engrenou, não é?
P/1 - Ou um momento romântico, enfim.
R - Teve, teve vários.
P/1 - Você percebe que eu peço os detalhes?
R - Bom, eu - teve um momento marcante que a gente ainda estava começando a se conhecer, que foi do falecimento do meu pai, que ela estava - meu pai faleceu em... foi perto de São José dos Campos, ele estava em viagem com a minha mãe e os dois menores, acampando de moto-home. Aí ela estava do meu lado quando eu recebi - na verdade, não me deram a notícia diretamente; ligaram para um amigo, para avisar que - ah, está me esperando em algum lugar específico para eu ir. Ela foi comigo; isso me marcou muito, porque foi no início do nosso relacionamento.
P/1 - Seu pai morreu de repente?
R - Foi, ele teve um aneurisma. Tinha 53 anos, se não me engano.
P/1 - E seus irmãos eram pequenos?
R - Eu tinha 22... não, foi 2002. É, eu tinha 22 anos, Silvia e Hugo não tão pequenos, eles tinham 19 e meu irmão mais velho, 25. Isso, 25.
P/1 - Porque a diferença era pequena, é verdade.
R - Pouca.
P/1 - É porque você falou que eles estavam viajando juntos, aí eu fiz uma relação de serem menores.
R - Não, foram mais grandinhos. Aí eu e meu irmão ficamos aqui em Vitória trabalhando nessa empresa, nessa sala que meu pai tinha e eles viajando.
P/1 - Se você puder falar o que que seu pai deixou para você de história ou de ensinamento.
R - Ah, eu acho que questão que meu pai, que eu fiquei bem, que eu guardo para mim, é essa questão dele de ser um cara bom, prestativo com as pessoas, entendeu? A imagem que eu tenho dele é ele sempre fazendo - juntando o pessoal para fazer coisas, muito proativo, gostava de viajar, gostava de, sei lá, vamos fazer alguma coisa aqui, vamos fazer um almoço, vamos fazer isso; juntava o pessoal. Muito trabalhador, também. Só tenho coisas boas.
P/1 - Thiago, a gente de tempo em tempo volta para essa relação com a dermatite. Ele e você, em relação a sua situação, teve alguma postura dele importante? Além do cuidado. Eu digo da postura, da relação com você por conta de você ter que conviver com essa alergia.
R - Então, como meu pai viajava muito - meu pai às vezes ficava 2 semanas fora, 1 semana em casa -, eu lembro muito mais da pessoa da minha mãe, entendeu? Meu pai, eu lembro que minha mãe falava: “nossa, seu pai fica triste, tal”, às vezes eu via o meu pai um pouco angustiado vendo aquilo, mas nessa questão de cuidar acho que minha mãe era mais próxima; tenho mais lembranças da minha mãe cuidando de mim.
P/1 - E se você, então, puder descrever a postura dela, o jeito, que que foi - cuidados eles tinham, mas o jeito, sabe? Que que você percebe como marcante nessa relação?
R - No jeito, assim, eu não me recordo de - assim, sempre jeito muito carinhoso, sempre me tratava igual aos outros irmãos, nunca teve uma coisa diferente por conta disso, não. Não estou me recordando de algo marcante sobre isso.
P/1 - Então o tratamento era...
R - ...sim...
P/1 - ...que já é uma postura, não é?
R - Claro.
P/1 - E era um cuidado mesmo.
R - Isso, essa preocupação, não é, sempre está com roupa de cama limpa, trocava de 2 em 2 dias roupa de cama que eu dormia. Era coisa - eu já vi que às vezes trocava do irmão de 1 vez por semana. A minha era sempre, a roupa também; sempre estava lavando roupa minha, não deixava nada guardado.
P/1 - Mas na relação?
R - Não, na relação...
P/1 - ...entre você, ela e seus irmãos.
R - Eu acho que ela ficava muito preocupada o que eu comia, a questão de alergia; frutos do mar nem pensar. Assim, um amendoim, uma coisa diferente. Tinha medo de eu passar mal comendo alguma coisa. Tinha essa questão mesmo de preocupação.
P/1 - Hoje você só namora ainda sua companheira ou vocês já estão casados?
R - Já estamos morando juntos há 3 anos. Não casamos ainda no papel, mas já me considero casado com ela.
P/1 - E como foi essa união?
R - Partiu de mim de chamar ela assim: poxa, vamos? A gente estava só namorando, ela na casa do pai dela, eu já morava sozinho nessa época e eu chamei ela para morar comigo; ela ficou um pouco assim, não sei o que meu pai vai pensar, tal, mas o pai dela é muito gente boa também, me conhece há muitos anos, aí não teve muito problema não. Aí estamos morando juntos há 3 anos, já.
P/1 - Thiago, como é essa história de resolver morar sozinho? Mesmo que não casado, como foi essa decisão? Conta para a gente.
R - Então, é uma coisa que eu acho que eu sempre quis, ter um canto meu, não é, só meu. Não sei se é porque também lá quando a gente morava lá na Praia do (inint) [00:55:54] dormia em 3 em um quarto só, se isso fez alguma diferença, mas eu sempre quis ser mais independente, ter as minhas coisas, entendeu? Não precisar tanto dos meus pais - da minha mãe (inint) [00:56:11]. E foi uma experiência boa, muito boa. Eu comecei morando com amigos, dividindo apartamento com amigos, e depois de um tempo fui mesmo morar sozinho, mas foi uma experiência boa. É para tudo, você não tem a mãe do lado. É difícil, mas você tem que fazer a sua comida, tem que fazer supermercado, tem que... eu acho interessante, gostei.
P/1 - Tem alguma história aí nessa transição?
R - História? Bom, fazendo comida principalmente - várias; deixar queimar, não saber fazer, tentar fazer uma coisa e não conseguir. Às vezes liga para a mãe pedindo conselho para, sei lá, como é que faz coisa na máquina, como é que... quanta quantidade de sabão eu jogo. Então, ela me ajudou muito nessa questão de me adaptar a morar sozinho, mas curiosidade, não. Ah, ela morre de medo de deixar a panela queimada; isso aí uma vez eu deixei e foi um pouco... difícil.
P/1 - Conta como foi.
R - Não, na verdade, eu acabei dormindo no sofá e aí o vizinho bateu lá, perguntou se tinha coisa queimando e na hora que eu fui ver, a panela estava preta, foi engraçado.
P/1 - Você profissionalmente agora é comerciante com essa loja...
R - ...sim, sim...
P/1 - ...e a tua perspectiva é de continuar mesmo?
R - No momento, sim. Gosto muito do comércio, entendeu? Minha família toda tem comércio e minha perspectiva é continuar.
P/1 - Qual desafio nesse ramo de roupas e do comércio para você?
R - No momento, o desafio é se manter aberto, vendendo, porque hoje a gente passa por um momento difícil, não é, no país, e a gente tenta trabalhar com isso; comprar um pouco menos, tenta vender um pouco mais barato, fazer girar, entendeu? Tem uma coisa mais enxuta, com menos funcionário, isso tudo ajuda, minimiza essa crise que está acontecendo.
P/1 - Você continua com o seu sócio?
R - Continuo com meu sócio, temos mais uma vendedora.
P/1 - Tem muitas lojas de roupa, vocês continuam firmes como você falou, administrando as dificuldades...
R - ...sim...
P/1 - ...e a família comerciante. Para uma loja dar certo o que que precisa para vocês? O que que faz a diferença, entendeu?
R - Então, lá, acredito que nós 2 estamos lá quase sempre, se eu não estou, ele está; ter um custo fixo o menor possível, entendeu? E vender um pouco mais - ter um atrativo que é o preço. Não tem jeito, você tem que ter um preço mais em conta que o seu concorrente. Nem sempre você consegue, não é? Mas eu acho que principalmente você estar ali na loja, às vezes vendendo, às vezes sabendo que está faltando de mercadoria ou o que pessoal está procurando mais, entendeu? Eu acho que esse é o importante, que às vezes as lojas não têm esse feedback; às vezes o dono não está lá e ele não sabe o que está acontecendo dentro da loja. Deixa na mão de vendedor, às vezes o vendedor não passa o que está faltando, o que está saindo mais. Então acaba que quando a gente está lá, a gente já sabe. A gente faz a compra, a gente vende, tem essa noção; acho que isso que é o diferen... não é que é diferencial, eu acho é muito importante todo mundo saber fazer isso.
P/1 - Tem alguma coisa também da relação de vocês com o público?
R - Tem, acredito como uma pessoa está lidando de frente com você que é o proprietário, às vezes muita gente pede desconto, aí vai, chora desconto, você faz, você dá um certo desconto, você divide a mais no cartão, uma parcela a mais. Você tem que saber lidar; como já tem 10 anos, a gente já tem uma clientela que vai lá, às vezes vira até amigo, não é, de tanto que vai lá.
P/1 - A família de comerciante, que que a marca de vocês?
R - A marca? Olha, o pessoal - a gente trabalha muito também, muito, todos, as minhas tias têm loja também, trabalha muito e essa coisa de lidar com o cliente, entendeu? Saber falar, saber conversar, escutar crítica - isso não está legal, isso não está legal -, isso é muito importante também, não é. Principalmente se vender o que eles querem - saber o que vender; o que o pessoal está procurando.
P/1 - Você lembra também de alguma situação no começa da loja, enfim, uma história para contar para a gente - você comerciante.
R - Quando a gente abriu a loja, a gente não tinha muita noção de venda; eu não era vendedor e meu primo também não. Na verdade, a gente abriu em 2009 aquilo, colocamos as araras com as roupas e... começou. Acabou sendo até uma coisa natural, eu acredito que no início as pessoas devem ter até meio que estranhado a gente estar ali, vendendo - poxa, mas esse cara não sabe muito bem, tal, mas aí você vai conhecendo marca... a sorte que a mãe do Eugênio, que é meu sócio, já tinha essa loja, camisaria que ajudou muito, dando feedback de marcas, enfim, ajudou muito. Então não foi tão traumatizante, não.
P/1 - E é roupa masculina?
R - Masculina.
P/1 - E vende todo tipo de peça?
R - É, todo tipo de peça: camisa, calça, bermuda, tênis.
P/1 - De esporte - não juntou uma coisa com a outra?
R - Não, não - mais roupa social, para você ver.
P/1 - Eu vou pedir para parar um pouquinho só para controlar o nosso tempo... só beber água aqui também...
M: ...a gente vai rodando...
P/1 - ...corta, pode cortar... Thiago, você comentou desse seu trabalho como comerciante, foi o primeiro trabalho seu ou teve outros antes?
R - Não, não, comerciante eu trabalhei nessa empresa que meu pai montei para mim e para o meu irmão, e depois com a loja, só.
P/1 - Sim, mas antes você teve algum outro trabalho?
R - Não, não. Antes não.
P/1 - E essa situação, essa sensação de ter o seu sustento, você fazer o teu próprio sustento, você lembra como foi o primeiro ganho?
R - Lembro, lembro, foi justamente na lá loja que meu pai montou para mim e para meu irmão que eu começava a receber um salário, não era um salário muito alto, mas eu já pude comprar minhas coisas. Eu achei aquilo bem - foi muito bom para mim ter o meu dinheiro para comprar o que eu quisesse, sem depender do meu pai de mesada, por exemplo. Eu lembro muito de ter comprado acho que óculos de sol na época, que aquilo, poxa, foi bacana. Acho que foi a primeira coisa que eu comprei com meu dinheiro, foi óculos.
P/1 - Você trabalhava nessa loja - era do seu pai a loja?
R - Era do meu pai.
P/1 - E ele pagava salário para vocês?
R - Pagava salário. A gente na verdade vendia as mercadorias e tinha um salário e a gente também - era um salário que meu pai pagava; não lembro se ele pagava mais por, acho que meu irmão viajava mais que eu ganhava um pouco mais, meu irmão mais velho, porque eu ficava pouco tempo, porque nesse meio tempo eu estudava na UFES, a sala lá era perto, eu tinha um horário, se não me engano, de 9h à 12h e aí eu ia para a faculdade, para a universidade e depois voltava; era umas 4 horas diárias, entendeu? De segunda a sexta-feira.
P/1 - Conta a história dessa primeira compra com seu dinheiro desses óculos. Teve um desejo antes, como é que foi?
R - Sei lá, eu acho que eu vi esses óculos em algum lugar, ou algum amigo usando, ou na própria ótica que eu passei; eu acho que foi um amigo meu que já tinha uns óculos desses que eu achei bacana e quis comprar também. Foi assim.
P/1 - Seu pai era, na época de mesada, ele era muito rigoroso, ele controlava muito?
R - A gente recebia na época a chamada - na verdade era por semana tinha a semanada, que dava igual para todo mundo nessa época. Não para o meu irmão mais velho, porque meu irmão mais velho também trabalhava desde de mais cedo, mas era igual, para todo mundo igual.
P/1 - Que idade você tinha nesse primeiro trabalho?
R - Eu comecei a trabalhar com meu pai com 17 anos.
P/1 - E o fato de você parar a faculdade, o que que significou para você? Como foi essa passagem, essa situação?
R - Então, eu parei, eu tranquei a faculdade, eu tentei voltar outras vezes, só que eu não consegui conciliar o trabalho com o estudo, entendeu? Eu trabalhava de manhã de 8h às 18h, e depois pegava faculdade de 7 às 10, 10 e meia. Acaba que aquela rotina era um pouco cansativa para mim e eu falei: “não, vou tentar”. Fiz o que pude fazer e tranquei, sempre na esperança de voltar, mas ainda penso em concluir, quando as coisas derem mais uma acalmada.
P/1 - Inclusive na Administração.
R - Sim, na Administração. Educação Física, talvez, não conseguiria, não. Mais para Administração, mesmo.
P/1 - A Educação Física é a prática.
R - É a prática. Até tenho interesse sobre algumas coisas da matéria, fisiologia, como as coisas funcionam, mas é coisa mais de curiosidade mesmo para saber como que é, como que reage o corpo mesmo.
P/1 - Falando em reagir o corpo, você pode dizer que você teve aprendizados com a dermatite? Não precisa ser aprendizados só de informação, mas teve aprendizados? Conviver com a dermatite.
R - Eu acho que aprendizado teve. Sempre você acaba levando alguma coisa para você dessa... mesmo a dermatite sendo uma coisa que causava um pouco de incômodo, mas eu acho que me deixou uma pessoa mais, como é que vou te dizer? Por incrível que pareça, não ligar muito para besteiras, com coisas meio banais, entendeu? Aprendi a... até aceitar aquilo, a dermatite em mim. Aquilo eu acho que me deixou um pouco até mais forte, assim, para essa questão, de tudo, da vida.
P/1 - Você lembra de passagens que você foi construindo isso de aceitar, de não ligar? Teve alguma situação?
R - Eu acho que eu na verdade eu cansei um pouco de ter que ficar ali escondendo, às vezes também ficar passando hidratante toda a hora, remédio, pomada. Chegou uma fase para mim eu falei: “ah, quer saber, vou ser do jeito que eu sou mesmo”, de aceitar mesmo, entendeu? Justamente de cansar mesmo. Não teve uma... a própria história da minha dermatite que é desde pequeno evitando várias coisas, evitando chocolate, evitando de sair, poeira, cachorro, aí que eu pensava: “não, se eu fizer tudo isso, eu não vou viver”, entendeu? Ficar me podando, cortando tudo, eu falei: “não, pode piorar, pode fazer isso, mas eu vou segurar”.
P/1 - Aí você não ficava evitando mais ou...
R - ...chegou uma hora que não, só quando começava a piorar muito que eu falava: “não, opa, espera aí”, aí voltava a me cuidar, hidratante, procurava médico. Interrompi muitos tratamentos também de médicos por achar que - ah, dermatite não tem cura, a dermatite é... vou passar a minha vida inteira passando hidratante, entendeu? Aí eu meio que ficava desleixado; minha mãe puxava minha orelha, a Lívia - não, vai lá no médico - ficava insistindo. Hoje eu me cuido mais, hoje eu me cuido mais.
P/1 - Teve momentos de largar tudo mesmo e dane-se, por exemplo?
R - Teve, teve. Teve vários, muitos momentos de comer coisas até camarão, que eu não posso comer frutos do mar, entendeu? Coisa que eu gosto, bobó; as pessoas comem muito caran... caranguejo eu não gosto muito, não, mas bobó de camarão sempre gostei muito de comer. Aí eu falo assim: “ah, vou comer, vai acontecer nada. Vai piorar minha pele, aliás, mas depois melhora”, entendeu? Sempre penso isso.
P/1 - E piora? Piorava mesmo?
R - Coça muito.
P/1 - Com esses alimentos de fato piorava.
R - De fato. Camarão, principalmente frutos do mar, mas às vezes eu não deixava de comer, entendeu? Por gostar e porque depois eu pensava: “ah, depois eu vou me tratar”, enfim.
P/1 - Fala um pouco disso, mesmo que você tenha que repetir o que eu estou falando, mas essa relação que você - eu estou entendendo isso, você foi aprendendo a custo benefício, entendeu? Então, eu vou aguentar depois. E o depois como era? Conta um pouco como que acontecia.
R - O depois a pele prejudicava muito e eu tinha um tempo, vou botar de duas semanas até que ela voltasse a ficar uma pele não normal, mas mais aceitável, assim, pelo menos para mim e para a Lívia, principalmente, que ela até hoje fala: “passa hidratante, não está legal”, enfim. Eu já olho e acho que está bom. A minha visão é essa, é um pouco diferente das pessoas. Acho que por tanto já ver ela muito ferida, muito machucada, eu já não tenho essa visão quando a pele está ruim - a meu ver. Então, tem essa questão também, mas em relação...
P/1 - ...vale a pena...
R - ...tem que botar muito na balança. Depende. Hoje em dia eu penso mais - eu estou na fase mais de me cuidar, eu estou nessa fase, não estou naquela fase de - ah, não, vou comer, deixa isso aqui, mas que não eu nunca mais vou fazer novamente, entendeu? Mas hoje eu estou me cuidando mais.
P/1 - Você lembra que fase foi essa de mais instabilidade, posso dizer, que época era?
R - Geralmente, em épocas de festas. Festas ou verão, final de ano na casa de pessoas que estão comendo, às vezes a pessoa faz um prato de frutos do mar e eu fico até meio sem graça de não comer ou não aceitar. Quem me conhece já de esperto, já faz até um outro prato para mim, mas eu já cansei de - não, vou comer, tal; não falo para ninguém, entendeu? E também de vontade mesmo de comer quando as pessoas estão fazendo algum camarão ou alguma coisa assim - não, vou comer, hoje eu vou comer. Tem isso.
P/1 - Não sei se eu estou exagerando, mas pode dizer que você está tendo um certo controle?
R - Sim, tem um controle. Eu acredito que hoje eu tenho um controle sobre isso.
P/1 - Explica um pouco isso.
R - Bom, na verdade, a questão do controle que eu estou tendo é mais em me manter com a pele boa, não é. Esse é o controle. Não, hoje eu não quero comer, quero continuar o tratamento certinho, e não quero que ela volta à estaca zero novamente. Essa é a decisão que eu tenho, não que por exemplo, eu posso comer um pouco ou então... o camarão, por exemplo, sem casca não me dá tanta alergia quanto com casca, então você consegue evitar um pouco, entendeu? Por exemplo, tem um prato de camarão, tem um prato de polvo, polvo eu não tenho alergia, eu gosto muito de polvo; eu peço um prato de polvo. A questão do controle eu acho que é mais em relação a como eu quero que minha pele fique, entendeu? O controle não é porque eu sinto desejo, vontade, às vezes me dá vontade, mas aí eu simplesmente não como, eu peço outra coisa ou pego um só.
P/1 - Vai conseguindo atingir um equilíbrio?
R - É, hoje eu sou uma pessoa com certeza mais equilibrada em relação a minha alergia. Eu sei quando vai piorar ou quanto vai piorar, também, o que que eu devo fazer se piorar. O tempo que vai levar para ela, por exemplo, melhorar a pele. Às vezes eu tenho alguma coisa para ir, algum evento, praia, geralmente que você fica mais exposto, sem camisa, bermuda, sunga - não. Então, vamos fazer um tratamento certinho até o verão, tudo direitinho para ficar com a pele boa.
P/1 - Cansa ficar tendo que tratar? Ou já entrou na...
R - ...já, hoje já entrou na minha rotina. Hoje está muito mais fácil, é um hidrante após o banho, os banhos de manhã, não uso sabonete, tenho um shampoo específico, o remédio hoje é muito mais fácil, tomar uma vez por semana só; antigamente era quase todos os dias, mais de um, então hoje eu estou achando mais fácil manter esse tratamento.
P/1 - E você diz que já sabe como que vai evoluir, não é? Como é que é tempo, se você por algum motivo descompensa, como que depois leva de tempo?
R - Olha, geralmente, em um final de semana piora nessa questão de comidas, às vezes noite mal dormida também acontece muito e é a noite que eu me coço mais, quando estou deitado. De dia você até consegue se controlar mais, só que durante o sono que você se coça mais e você percebe mais como a cama fica no dia depois, não é, ou com muita pele ou alguma coisa, e hoje eu consigo avaliar que em um final de semana desse de jogar - vou falar assim - as coisas para o alto, eu vou melhorar na sexta-feira da outra.
P/1 - Entendi.
R - Entendeu? Eu tenho essa percepção já. Passo a semana toda me tratando, hidratante, tal, remédio, na sexta eu - a alimentação também acho que conta muito; você comer coisas mais saudáveis, evitar coisas industriais, corantes, acho que isso também ajuda muito na recuperação.
P/1 - Na verdade, é o que todo mundo tinha que fazer, não é?
R - É. Tem muito alimento inflamatório. Eu acredito que até o glúten para mim é inflamatório, apesar de nunca ter feito um exame específico para glúten.
P/1 - Os alimentos inflamatórios provocam mais?
R - Sim. Irritação na pele, não é? Camarão que é muito alergênico. Tem o amendoim. Hoje talvez ovo não, porque eu como ovo quase todos os dias, mas eu acho que a alimentação balanceada ajuda muito na questão da minha alergia também, entendeu?
P/1 - E em relação da - você falou dos aprendizados, como lidar e também você está dizendo das questões mais físicas, do que funciona mais ou menos, e em relação ao convívio com a Lívia, teve situações que vocês foram vivendo, como foi? Ou não teve nada a ver? Como foi desenvolvendo a relação com ela.
R - Ela como me conhece há muito tempo, ela já me pegou - já me viu várias, várias fases da minha alergia, e como... quando a gente começou a morar junto, ela começou a ver com mais frequência, como ela dormia do meu lado, ela viu quando eu estava em crise ou não, e ela sempre falando assim: “não, vai procurar um médico, vai não sei que”. Eu às vezes ficava - eu sou um cara meio assim que não gosto de médico, não gosto de remédio, e ela insistia muito, tanto que eu fui, fiz esse último tratamento por causa dela; e ela me ajuda muito nessa questão, principalmente, ela pode comer camarão, mas vai comigo, ela não come. Tem essa questão de... ela não faz questão de contar comigo e vir comer, porque ela sabe que eu gosto e vou querer comer também.
P/1 - Além da comida e dos cuidados com tecido, com ambiente, tem alguma outra coisa que tem que ficar atento?
R - Então, o animal de estimação que a gente não tem por conta da minha alergia, que ela adora também. Adora, mas ela sabe que não funciona... eu acho que não; alimentação, mesmo, e o animal, o gato ou cachorro também provoca alergia, porque meu irmão tem um cachorro também, o mais velho, e quando eu vou para Campinas eu tenho que tomar um antialérgico para ficar perto dele, para amenizar um pouco.
P/1 - Entendi...
R - ...então é uma coisa...
P/1 - A relação com a sua esposa, você quer falar um pouco mais de como...
R - ...nossa relação?
P/1 - Ai, a barriga. Espera aí. Pode... corta um pouquinho. E vocês pensam em filhos, como é?
R - Penso, nós pensamos, mas para o ano que vem. A gente pensa em ter um filho, sim, hoje já estou com 38, ela está com 35 - 36 - e ela pensa também, eu penso; a gente está programando para ter ano que vem.
P/1 - E além desse projeto, tem algum outro?
R - Bom, no momento, é o filho, mesmo. Meu projeto maior seria o filho, mesmo, algum outro... aí depois do filho que vão aparecendo outros, não é? Mas a gente está mesmo focado nesse projeto, mesmo, mais recente.
P/1 - E o esporte, em que pé está?
R - O esporte nessa hora vai ter que ficar um pouco de lado, mas ainda continuo fazendo. Ela também faz, também ela gosta de caminhar, de se cuidar, também, mas a gente que acredita que ano que vem a gente vai ficar um pouco em função desse filho.
P/1 - Desse projeto, não é?
R - Desse projeto.
P/1 - Voltando um pouco ainda a dermatite, vocês têm algum contato com outras pessoas que têm também a alergia ou... como funciona isso, ou você, ou se conhece grupos?
R - Então, dermatite eu não conhe... eu conheço pessoas que têm psoríase, que não é a dermatite atópica, mas engraçado a dermatite - eu não conheço pessoas com dermatite. Conheço pessoas com alergia, que é diferente, e a psoríase que é diferente, mas dermatite, não.
P/1 - Digo assim se você tem contato com algum grupo?
R - Não, não, grupo, não. Não tenho. Já pesquisei alguma coisa na internet, sei que existe um grupo de dermatite atópica na internet, onde o pessoal dá depoimentos também, conta sobre produtos, hidratantes, cremes, mas não faço parte; já pesquisei a respeito.
P/1 - Você acha importante, ou não, ou não importante ter grupos, pessoas que falem sobre para outras pessoas?
R - Eu acho importante pela troca de informação que você tem ali, não é, é uma coisa muito pessoal. Às vezes nem sempre o que eu faço vai ficar bem para outra pessoa, mas eu acho válido pela troca de informação, pelo menos você tenta, uma tentativa de fazer... te dá um norte, no caso, eu acho válido, sim.
P/1 - Teve coisas que você encontrou que te ajudaram nessas redes?
R - Eu já encontrei sobre hidratantes, coisas interessantes. Inclusive, já encontrei esse hidratante que a médica Faradiba me indicou nesses grupos, também, mas tratamento não. Tratamento eu estou satisfeito já com esse que estou fazendo atualmente. Esse eu não tinha achado na internet, nem nome do remédio.
P/1 - Para você, você segue mais a orientação médica ou você... qual é a sua preferência?
R - Então, atualmente eu estou seguindo a orientação médica, e também tenho essa sensibilidade de ver, prestar atenção no meu corpo que que está acontecendo; por tantos anos que você está com isso, você já acaba meio que sabendo quando que vai piorar, quanto que tem que passar a mais, tem que ter mais cuidado. Como eu te falei, no inverno tem que redobrar o cuidado. No verão, a pele melhora. Mesmo a gente morando em uma cidade que tem bastante humidade, não é, no inverno piora um pouco, mas se você for fazer uma viagem para, por exemplo, para São Paulo ou para Brasília, onde que as coisas são mais secas, prejudica bem, então você tem que passar mais hidratante mais vezes ao dia; esses cuidados que têm que ter.
P/1 - Eu posso dizer que você realmente... é importante esse conhecido do corpo de você se conhecer mais do que, vamos dizer que é parte de dar certo, assim.
R - É, eu acho que sim, eu acho que hoje você ter essa percepção do corpo, da alergia, do progresso da alergia é fundamental, sim, para a pessoa, não é? Para ajudar até a lidar mesmo com a dermatite, entendeu, por tudo, para o tratamento também... às vezes você dá uma dica para o médico, fala que você comeu alguma coisa, troca informação também, isso eu acho que é muito importante também, com o médico. Acho que isso tudo é muito válido.
P/1 - Você com seu próprio corpo?
R - Sim.
P/1 - É esse o conhecimento que a gente está falando...
R - ...sim, sim. Acho que isso é até interessante, foi até meio do esporte também que eu levei isso, não é, da corrida, aquele momento que você está sentindo que você está cansado ou um joelho doendo, você troca um pouco a posição, acho que você saber escutar o corpo, e isso serve para tudo, não é, tanto para a dermatite, quanto na corrida, também
P/1 - Você acha que uma coisa veio primeiro que a outra? Esporte e esse autoconhecimento em relação a tudo ou...
R - ...eu acho que o esporte te traz um autoconhecimento. Eu já me autoconhecia através da minha dermatite, em relação a dermatite, agora o esporte dá um autoconhecimento mais corporal, de movimento, de cansaço, de fadiga, mas eu sou uma pessoa que sempre fico tentando perceber o que está acontecimento comigo, fico sempre olhando, monitorando batimento, tem vezes que você está - acorda, não dorme bem. Às vezes você diminui a velocidade, porque está cansado ou está doendo alguma parte do corpo. Eu acho que a pessoa tem que saber se autoconhecer também.
P/1 - Em todos os sentidos.
R - Em todos os sentidos.
P/1 - Porque o estresse também...
R - ...o estresse também, exatamente. O estresse, como tem a questão da... eu acho que como afeta muito a parte que você coça; ansiedade, também, então às vezes é bom você parar um pouco, não é, pensar em outras coisas, dar uma espairecida. E questão de controlar, mesmo, às vezes você começa a coçar e você tem que parar e pensar: “que que eu estou fazendo? Não é para coçar”, porque geralmente é automático, a gente não percebe, principalmente a noite. A noite não tem como.
P/1 - E você não acorda?
R - Não acordo. Não acordo de jeito nenhum; e a Lívia até brinca: não sei como que você consegue dormir, porque às vezes você levanta a perna, levanta o braço, coça por horas, mexe para um lado, para o outro - e não acordo. Eu não lembro de nada. É automático, mas é mais a questão de quando você está acordado e coçar, ver e parar e perceber que está coçando, entendeu? É isso.
P/1 - E é possível, não é?
R - É, é essa questão do autocontrole.
P/1 - Muito bom. Agora, pensando nos projetos que você diz, do filho, não é... deixa eu te perguntar agora só mais 2 coisas: você acha que essa nossa entrevista se ela for publicada, pelo menos algumas partes, você acha que seria importante para outras pessoas que têm a mesma... os mesmos sintomas. No que que poderia ser importante ou não?
R - Eu acho que seria importante para ele conhecer também que às vezes a pessoa com dermatite, ela fica muito fechada, muito introspectiva, até como mamãe falou: “ah, Thiago é muito introspectivo”, mas isso é reação normal da pessoa, às vezes, uma criança ou um jovem que tem vergonha do próprio corpo mesmo; não quer mostrar para os amigos, tem, sente vergonha de estar com aquela pele machucada, mas é bom para eles verem que isso é uma fase da vida, entendeu? E mesmo que não passe, tem como aliviar através de medicamento, cremes hidratantes; eu acho que é interessante a pessoa que tem saber que isso é possível, entendeu? Às vezes a pessoa ainda é mais nova - eu já estou com 38, então... e lido muito bem com isso hoje em dia.
P/1 - Thiago, você acha que você era introspectivo por causa disso ou não, é a tua personalidade...
R - ...acho que sim. Acredito que além da personalidade, mas eu acho que também por conta de querer - justamente na crise, querer de faltar na escola, às vezes ter vergonha de ir para festa com amiguinho, que está com problema. Acaba que você fica um pouco mais introspectivo em relação a isso. Acredito que sim, tem a ver.
P/1 - Chegava a ser tristeza, não? Era mais um...
R - ...tristeza não. Acho que era uma coisa mais minha, que eu ficava em casa, aí eu procurava ficar jogando videogame, que eu não era triste, em casa eu não era triste, mas às vezes eu ficava - poxa, mas eu podia estar saindo. Naquela época era uma mistura de sentimentos, mas não era tristeza, isso eu posso falar que não era tristeza.
P/1 - Alguma vez você ficou com raiva?
R - Ah, já, já - por que que isso está acontecendo comigo? Por que só eu aqui de casa tenho? Todos os meus irmãos não têm. Já fiz essas perguntas, mas passou.
P/1 - O que prevaleceu não foi a revolta?
R - Não, não foi a revolta. Justamente porque lá em casa minha mãe, meu pai sempre foram bem... me ajudaram muito, cuidaram muito de mim, e eu nunca tive revolta por ter essa... a dermatite. Ficava um pouco triste em certos momentos, mas os momentos melhores foram muito maiores, muito mais vivência de momentos melhores.
P/1 - Influenciou muito mais?
R - Muito mais, os momentos bons. Muito mais.
P/1 - Agora, só para fechar mesmo esse ciclo - se você lembra do diagnóstico e qual foi o impacto?
R - Então, como eu era muito novo, eu ainda não sabia o que era dermatite atópica. Depois de certo tempo, minha mãe foi avisando: “olha, você tem dermatite atópica”, aí vamos botar depois de 15, 16 anos que eu pude entender saber o que que era; o que que é dermatite e o que que é atópica, que é uma doença de pele, tópico é pele e é uma doença que você nasce com ela - é autoimune - por fatores genéticos e que realmente não tem cura. Quando eu recebi essa notícia, eu me agarrava na esperança, nessa época, que os médicos falavam para mim que na puberdade poderia melhorar, e isso eu com 15 para 16 anos. Bom, atingi 15 anos, 16 anos, e não melhorava, 17 anos, eu falei: “bom, não vai melhorar, eu vou ter que conviver com isso”. A partir daí que eu comecei a pesquisar outros médicos, eu fui ao - pelo que eu me lembro - a uns 5 médicos diferentes, e as pessoas me passavam tratamentos diferentes, mas eu sabia que não ia ter cura. Para te falar a verdade, com 17, 18 anos, foi uma fase que eu meio que entreguei a toalha, que eu falei: “ah, não vou cuidar, não sei que, não tem cura mesmo”, aí eu comecei a comer as coisas, tal, tomar banho quente, me descuidar nessa questão do tratamento, mas com 18, 19 anos que eu voltei, falei: “não, tem como melhorar”, entrou a internet que me ajudou muito, pesquisei muito na internet sobre a doença, os tipos de tratamento. Existe site também de dermatite atópica Brasil, se não me engano, só pesquisar no Google que tem, e essa informação, gostava muito - buscava informação, médicos, também, novos trazendo novas esperanças e continuo até hoje.
P/1 - E o que fez você com 18 anos voltar a querer...
R - ...me cuidar...
P/1 - ...que que fez? Aconteceu alguma coisa?
R - Eu acho é mais questão de vaidade, você está ali querendo ficar com a pele legal, entendeu? Você começa a namorar, essa questão; foi mais questão de vaidade mesmo.
P/1 - Então, a pergunta aqui que eu ia fazer era se sobre tudo da tua vida em geral, se você quer falar alguma coisa, contar alguma história que a gente não te perguntou?
R - Bom, deixa eu lembrar aqui. Da minha vida em geral...
P/1 - ...ou da relação com a dermatite, também.
R - É, essa relação da dermatite eu já meio que já falei desse caso que eu tive de amor e ódio com ela, de saber controlar, de não me descontrolar com ela, também, mas eu acho que o mais importante mesmo acho que é a pessoa se autoconhecer e saber que ela não tem cura, mas ela pode ser muito suavizada, entendeu? Ela é uma doença que com certeza você pode levar ao pé da letra para o resto da vida por muito, muito tempo.
P/1 - Thiago, eu falei que ia ser a última, mas não vai ser. Além de novos tratamentos, mais informações, teve alguma coisa que você acha que fez melhorar bastante depois dos 18 anos, além de informação, o controle?
R - Eu acho que depois dos 18 anos foi mais questão da minha vontade mesmo de continuar o tratamento mais longo para ela; continuar na questão de se hidratar bem, não tomar banho quente, evitar o uso de sabonete, é ter a disciplina, na verdade. É ter a disciplina de manter um tratamento longo. Eu acho que isso faz total diferença.
P/1 - E você de 18 para 38 são 20 anos...
R - ...sim...
P/1 - ...teve algum momento difícil nesses 20 anos?
R - Já, nesses 20 anos já tive... já deixei de me tratar algumas vezes, mais em épocas de viagem, festa, mas vamos botar aí que dos 32 para frente... estou seguindo uma linha mais certinha no tratamento, mas nesse meio tempo já tive várias recaídas de ah, não quero me tratar, vou comprar o hidratante mais barato, não quero comprar o hidratante mais caro, entendeu? Tem essa questão também do hidratante, que hoje aqui no Brasil um hidratante bom que me foi indicado não é muito barato.
P/1 - Você lembra do nome?
R - Cetaphil Retoraderm. Ele na farmácia ele custa por volta de... 200mL custa R$149,00. Aí no inverno eu uso três.
P/1 - Por mês?
R - Por mês.
P/1 - Entendi.
R - No verão eu uso menos, preciso de menos, entendeu?
P/1 - Sei.
R - Aí é aquela coisa ah, não vou gastar dinheiro com isso, mas não dá, tem que botar na cabeça que aquilo é parte do meu tratamento. É mesma coisa de usar um shampoo determinado. Você não vai comprar qualquer um, mas às vezes você está na casa de alguém viajando, você está sem hidratante, está sem shampoo, o banho não é legal, a roupa de cama não é legal; é difícil manter um tratamento 100% todo tempo, principalmente quando você está fora de casa.
P/1 - Mas estando em casa, a disciplina...
R - ...é, não tem cachorro, as roupas estão limpinhas, tem tudo que eu preciso ali.
P/1 - Aí a perseverança?
R - É, é isso aí. Se manter focado no tratamento, não é? É disciplina mesmo; é mais disciplina, a questão é essa, ter disciplina no tratamento.
P/1 - Muito bom. E que que você achou de fazer essa entrevista com a gente?
R - Eu achei legal, falar um pouco de mim, da dermatite para as pessoas. Espero que possa ter ajudado alguém que tenha alguma dúvida e que com certeza eu vou pesquisar também lá, ver se tem outros relatos, não vi todos ainda; que eu acho que compartilhar essas informações é muito bom. Tem gente que às vezes não tem uma certa informação, está desanimado com o tratamento. A gente acaba ajudando, acho.
P/1 - Você acha que - você pode dizer que hoje você está animado?
R - Estou, hoje eu estou animado. Hoje eu estou animado, atualmente sim.
P/1 - Mais alguma reação... coisas que você queira falar desse momento?
R - Não, eu acho que hoje eu vivo um momento bom com minha pele. Hoje a gente vive em harmonia; acredito que a palavra é essa, que estou bem com ela e procuro ainda manter, continuar o tratamento tudo certinho e não penso tão cedo em pisar na bola, não é, voltar, regredir, no caso. Quero continuar mantendo isso aí e na esperança também de cada dia surgir novos medicamentos, novos, sei lá, remédios. A gente nunca pode perder... eu sei que ela não tem cura, mas ela pode aliviar muito e há muito mais tempo.
P/1 - Você quer perguntar alguma coisa? Para fechar mesmo, falar da sua vida.
R - Da minha vida?
P/1 - Como foi?
R - Bom, difícil, não é? Por inteiro, assim?
P/1 - Não, eu estou perguntando assim, falar, contar uma história da sua vida toda, como foi, o que que significou para você.
R - Bom, minha vida... eu acho que aquilo... por exemplo, aqui em casa as coisas são... eu acredito que a gente, foi todo mundo aqui foi um vencedor, entendeu, aqui em casa. Meu pai criou a gente muito bem, com a minha mãe, sempre todo mundo muito unido, crescemos, aí teve essa questão do meu pai que faleceu muito jovem e a gente tendo meio que assumir... eu e meu irmão ter essa missão de continuar trabalhando, a família vindo, mamãe como dona de casa, meus irmãos também, a gente ajudando na formação, que a minha irmã já estava no 1º ano de faculdade, Hugo ainda não. O meu irmão a gente ajudou a ele formar em Medicina, isso eu acho que foi muito legal; hoje ele é formado, já está no 4º período. Eu acho que a minha história está continuando, vai ser escrita, mas até agora, acho que foi uma coisa bem... eu sinto muito orgulho de mim, dos meus irmãos, do meu pai, da minha mãe também.
P/1 - Muito bom. Parabéns pela sua história, viu?
R - Obrigado...
P/1 - ...e agradeço bastante você ter compartilhado com a gente.
R - Ah, obrigado. Agradeço vocês.
[01:40:50]
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