O COMEÇO DE TUDO O objetivo de resgatar e registrar os acontecimentos referentes à formação educativa no presente é demonstrar para outras pessoas que sonhos e expectativas de uma vida melhor podem ser alcançados por meio da esperança, da dedicação e da educação.
A maior parte dos meus estudos na educação básica foi realizada em escola pública na década de 1980, numa escola municipal do subúrbio do Rio de Janeiro.
A minha relação com a escola e com a educação sempre foram muito boas, pois sempre tive sede de conhecimento, nutria uma curiosidade em saber como as coisas funcionavam, por isso sempre fui dedicado aos estudos e nunca tive grandes dificuldades para ser aprovado.
Em quase todas as séries do antigo primário fui o primeiro aluno da turma.
A minha primeira ida ao Planetário da Gávea foi fruto de uma seleção dos melhores alunos de cada turma da escola e o meu nome era um dos primeiros da lista.
Porém, muito mais que simplesmente aprender, havia algo latente e pulsante em meu íntimo de querer transmitir tudo o que eu aprendia, mais do que isso, queria tentar de alguma forma tornar proveitoso para mim e para os que me rodeavam tudo aquilo que eu havia aprendido na escola.
Apesar dos elogios dos professores, não havia de fato um incentivo, uma motivação que me lançasse para um futuro melhor.
Quando atingi o nível da antiga 7ª série ginasial, meus pais entenderam que ali naquela escola não havia grandes oportunidades e que minha capacidade, assim como o meu rendimento escolar seriam melhor aproveitados se eu estudasse num colégio particular, especializado na preparação para concursos e assim o fizeram.
Meu pai mantinha o sustento de toda a família: minha mãe, dona de casa; eu, o filho caçula e mais quatro irmãos.
Com dois empregos para manter a família, o salário de um deles era gasto integralmente no custeio do oneroso Colégio-curso Martins, em... Continuar leitura
O COMEÇO DE TUDO
O objetivo de resgatar e registrar os acontecimentos referentes à formação educativa no presente é demonstrar para outras pessoas que sonhos e expectativas de uma vida melhor podem ser alcançados por meio da esperança, da dedicação e da educação.
A maior parte dos meus estudos na educação básica foi realizada em escola pública na década de 1980, numa escola municipal do subúrbio do Rio de Janeiro.
A minha relação com a escola e com a educação sempre foram muito boas, pois sempre tive sede de conhecimento, nutria uma curiosidade em saber como as coisas funcionavam, por isso sempre fui dedicado aos estudos e nunca tive grandes dificuldades para ser aprovado.
Em quase todas as séries do antigo primário fui o primeiro aluno da turma.
A minha primeira ida ao Planetário da Gávea foi fruto de uma seleção dos melhores alunos de cada turma da escola e o meu nome era um dos primeiros da lista.
Porém, muito mais que simplesmente aprender, havia algo latente e pulsante em meu íntimo de querer transmitir tudo o que eu aprendia, mais do que isso, queria tentar de alguma forma tornar proveitoso para mim e para os que me rodeavam tudo aquilo que eu havia aprendido na escola.
Apesar dos elogios dos professores, não havia de fato um incentivo, uma motivação que me lançasse para um futuro melhor.
Quando atingi o nível da antiga 7ª série ginasial, meus pais entenderam que ali naquela escola não havia grandes oportunidades e que minha capacidade, assim como o meu rendimento escolar seriam melhor aproveitados se eu estudasse num colégio particular, especializado na preparação para concursos e assim o fizeram.
Meu pai mantinha o sustento de toda a família: minha mãe, dona de casa; eu, o filho caçula e mais quatro irmãos.
Com dois empregos para manter a família, o salário de um deles era gasto integralmente no custeio do oneroso Colégio-curso Martins, em Madureira.
Para honrar o investimento de meu pai, estudei dia e noite durante os dois anos que lá permaneci (7ª e 8ª séries).
Fui destaque em quadros de honra e consegui boas colocações em quase todos os simulados que a escola promovia.
Concluí o antigo Primeiro Grau com chave de ouro, culminando na aprovação em várias Escolas Técnicas, mas não consegui atingir o meu objetivo que era estudar no Colégio Naval da Marinha, visando o oficialato.
Assim findei o antigo Primeiro Grau, aprovado em vários exames, mas decepcionado com o resultado final.
Escolhi então realizar o antigo Segundo Grau (atual Ensino Médio) no CEFET/RJ.
MEMÓRIAS DE 1º GRAU
Em 1991, adentrava os portões do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), no bairro Maracanã.
Não queria estar ali e não me identificava com os cursos oferecidos, o que me pareceu uma escolha razoável realizar o Curso Técnico em Meteorologia.
Parecia bem promissor, pois o CEFET era a única instituição na América do Sul que ministrava aquela modalidade de curso.
Já não era mais aquele aprendiz aplicado de outrora: comecei a acumular pendências nas disciplinas, precisando realizar aulas e provas de recuperação em algumas matérias.
Cheguei a entrar em conflito.
Por onde andava aquele aluno exemplar e ávido de conhecimento?! Assuntos sobre a ciência do tempo, mudanças climáticas e massas polares já não satisfaziam a minha curiosidade.
Como trabalhar nessa área, que foi se mostrando restrita e mal remunerada?! No último ano da escola técnica, caminhava para a maioridade, meu pai em constante dificuldade financeira e incluído no PDV (Plano de Demissão Voluntária) e eu naquele curso com o qual não havia qualquer identificação e sem perspectiva.
Pensei em ingressar numa faculdade, todavia, não me sentia em condições de enfrentar um vestibular, dada a restrição do curso técnico e sem poder aquisitivo para custear uma faculdade particular.
A solução seria passar em algum concurso prático e conseguir alcançar algum ofício que me levasse à independência financeira.
Minha crise só foi amenizada quando vi um anúncio no jornal: “Seja Sargento do Exército!” Foi exatamente isso que me tornei, mas a minha vida na caserna já seria assunto de um novo memorial.
MEMÓRIAS DE SEGUNDO GRAU
Em 1993, o meu estágio de conclusão do Curso de Meteorologia foi interrompido pela convocação da Escola de Sargentos das Armas, informando que eu havia sido aprovado no concurso e ingressaria nas fileiras do Exército no Curso de Formação de Sargentos da Turma de 1994.
Eram apenas dez meses de duração e após a formatura, eu teria um ofício técnico (optei por Sargento Técnico em Enfermagem) e um salário acima da média dos salários de nível médio.
Não pensei duas vezes e abandonei o estágio da Escola Técnica para ingressar na carreira militar.
Mais uma vez contrariado, para quem havia tentado ser Oficial da Marinha há três anos, agora estava prestes a compor o “baixo clero do baixo clero” das Forças Armadas: Praça do Exército.
Como conseqüência da não conclusão do estágio técnico, perdi o Curso de Meteorologia, recebendo somente o diploma de conclusão do Ensino Médio, mesmo assim, à custa de muita luta.
UM HIATO NOS MEUS SONHOS
Após o meu ingresso nas Forças Armadas, seguiu-se um hiato de vinte anos referente a qualquer continuidade nos estudos.
Focado em outros assuntos em diversas etapas da vida e cercado por variadas circunstâncias sócio-político-econômicas, entre cumprir as exigências da nova carreira, recuperar a adolescência roubada pelos estudos, dedicar-me fervorosamente à religião, casamento e filhos, afastei-me completamente dos bancos escolares.
O tempo passou e alguma coisa incomodava-me internamente.
Uma leve inquietação tomava conta de meu ser quando estava sozinho, acometido por meditações e indagações sobre a profissão ideal, mobilidade social e orgulho próprio.
Aquele incômodo era um sinal de que o sonho acadêmico estava apenas adormecido.
Em 2013, com trinta e oito anos de idade, ou seja, vinte anos depois do último diploma de conclusão de curso em instituição de ensino regular, o panorama de minha vida era de uma carreira desvalorizada, um salário defasado e a perda de benefícios causados pela política de governos antimilitares.
Mas havia uma questão que me consumia ainda mais: o grau de instrução.
Isso, de alguma forma esbarrava no meu brio, tolhia a minha realização pessoal; era frustrante ter que admitir que havia estacionado no Ensino Médio.
Vi pessoas que mal sabiam pronunciar a Língua Portuguesa e outras que até ensinei matérias básicas, concluírem de uma forma e de outra o 3º grau.
Estava começando a sentir-me antiquado, ultrapassado, quase excluído socialmente.
Sentia que tinha capacidade para ir além, todavia, faltava uma oportunidade ímpar para alcançar o tal objetivo.
Quando despertei para o fato de que até as crianças que eu havia tomado no colo e que vi crescer estavam cursando mestrado, resolvi reagir e decidi que iria retomar os estudos e concluir, pelo menos, o nível superior.
Objetivava melhorar meu grau de instrução, complementar a minha renda e atualizar o meu conhecimento.
Nas minhas condições, somente uma faculdade que oferecesse ensino na modalidade à distância seria satisfatório.
Com muitas pendências financeiras, a remuneração mal dava conta de sustentar de forma segura esposa e três filhos.
Novo impasse surgia: sem preparo para o vestibular e sem poder aquisitivo para custear um curso preparatório ou mesmo uma faculdade privada, como realizar o sonho acadêmico? Assim mesmo comecei a traçar metas, estudar as possibilidades e viabilizar uma forma de ingressar no ensino superior.
OS 3 DESAFIOS
Evidentemente, até 2012, eu ainda não conhecia a Fundação CECIERJ/Consórcio CEDERJ.
No início de 2013, acessei, por acaso, a página eletrônica do CEDERJ e tudo se fez novo.
Fiquei profundamente extasiado com aquelas oportunidades.
Era tudo o que eu precisava: ensino gratuito de qualidade, à distância, oferecido pelas sete universidades públicas consorciadas.
Ali mesmo não só tomei conhecimento do processo seletivo para o ingresso no nível superior, como também me entusiasmei com o projeto do Pré-vestibular Social (PVS).
Foi nesse momento que a chama acadêmica reacendeu com toda força e trazia novas perspectivas em detrimento do conflito interno que me consumia anteriormente.
Estava lançado o primeiro desafio: ingressar no PVS, como forma de preparação para enfrentar o processo seletivo do CEDERJ.
Na verdade, eu não tinha ciência de que outros desafios estavam por vir.
Enquanto aguardava a convocação para o pré-vestibular, resolvi iniciar os estudos em casa por conta própria, resolvendo as questões de provas anteriores do CEDERJ.
Após muita burocracia, duas reclassificações e uma longa espera, finalmente, em 01 de junho de 2013, venci o primeiro desafio e tornei-me aluno do PVS, afim de me preparar para enfrentar um possível vestibular em novembro.
As aulas eram apenas aos sábados, de 08:00 às 17:00 horas.
Ótimos professores, orientação acadêmica e até almoço servido no refeitório.
Logo percebi que a minha relação com a educação e com o conhecimento científico era promissora, afinal, o gigante (sonho) adormecido tinha despertado.
A interação espontânea com os professores, as respostas rápidas e a paixão pelo ensino me fizeram reencontrar aquele aluno exemplar e brilhante do primário.
A crise estava sendo paulatinamente superada e aquele novo contexto me fez enxergar que o universo acadêmico estava reservado para mim, prova disso era que muito cedo romperia limites e teria a minha própria sala de aula.
Diante do bom desempenho como aluno do PVS, decidi encarar um segundo desafio: realizar o vestibular do meio do ano, mais precisamente na semana seguinte ao 1º dia de aula, no dia 08 de junho.
Bingo! Aprovado em primeiro lugar no Curso de Licenciatura em Pedagogia, no polo de Belford Roxo.
A essa altura, até a divulgação do resultado final, eu já completava dois meses de PVS.
Já conhecido da maioria dos professores e dos alunos da turma, fui aplaudido e elogiado por todos, tendo em vista que fui o único a passar da minha sala e um dos poucos do PVS de Mesquita, CIEP 364 – Nelson Ramos, a ser aprovado no vestibular CEDERJ-2013.
2.
Estava vencido o segundo desafio.
Tive que deixar o PVS para ingressar na faculdade, levando comigo uma experiência enriquecedora, onde obtive bons conselhos e deixei boas amizades, em especial o Professor de História, Tutor Representante daquele polo, que muito me orientou nas escolhas acadêmicas.
Ao iniciar as aulas de graduação, tudo era maravilhoso, excerto a localização e a estrutura do polo, o CIEP 027 - Vinicius de Moraes, que exibia condições precárias de conservação, situado numa comunidade carente entre os municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, lugar extremamente longe e perigoso para quem deveria participar de algumas atividades presenciais noturnas, de frequência obrigatória.
Particularmente, a sensação não era de estar cursando uma faculdade, dado o isolamento da região, mesmo entendendo que a maior parte do curso seria realizado à distância.
Era uma sensação de imobilidade social, do tipo “termine a faculdade e permaneça por aqui mesmo”.
Após inúmeras tentativas, consegui entrar em contato com a Direção do CECIERJ, explicitando a minha condição de militar, que era incompatível com a hostilidade da região.
Dessa forma, fui transferido para o polo de Nova Iguaçu, o meu polo atual.
Foi nessa ocasião da transferência que conheci a Vice-presidente do CECIERJ, Professora Masako, educadora competente e discreta, com a qual mantenho contato até os dias atuais.
Depois de resolvido esse impasse, a adaptação ao ensino à distância foi rápida e o rendimento acadêmico logo se mostrou eficaz.
Foi aí que resolvi enfrentar um terceiro desafio, após tomar conhecimento do processo seletivo para Tutor do Pré-vestibular Social do CECIERJ.
Estudei atentamente o edital e observei que havia oportunidades para graduandos.
Ninguém acreditou que fosse possível a minha aprovação nesse processo seletivo, nem mesmo a minha esposa.
Ainda no 1º período, como graduando de Pedagogia, dei início aos preparativos para o mais novo desafio: tornar-me tutor do curso que há alguns meses eu era apenas aluno, com a responsabilidade de ocupar a vaga da minha ex-professora de Redação, que havia deixado o cargo.
O concurso consistia em três etapas: prova geral, prova específica com redação e prova didática (prática).
Candidatei-me à única vaga de Tutor de Redação do polo de Mesquita, cujos concorrentes eram, em sua maioria, formados em Letras.
Havia ainda no certame, mestrandos, doutorandos e professores das redes de ensino municipal e estadual; por isso o desafio era imenso, quase utópico.
Nesse período apliquei-me intensamente aos estudos, usando o colégio dos meus filhos para ensaiar a prova de aula (prova didática) e adquiri um quadro branco para intensificar os treinos em casa.
Preparei meticulosamente planos de aula que satisfaziam a exigências do concurso.
Tomei nota de algumas orientações importantes de alguns ex-professores do PVS, principalmente o Tutor de História, que teve papel fundamental nesse novo processo.
Entretanto, justamente a Tutora de Redação estava viajando e não pude contar com as suas valiosas orientações.
Todo o preparo não foi em vão, apesar dos fortes candidatos e do meu recente ingresso no mundo acadêmico, consegui ser aprovado; não foi no pólo de Mesquita, para o qual eu havia me inscrito, mas fui convocado para ser Tutor de Redação do Pré-vestibular Social do CECIERJ, no polo de Rio Bonito/RJ e ministrar aulas para seis turmas que totalizavam 240 alunos.
Estava concluído o meu terceiro desafio.
O detalhe é que eu era o único graduando do polo, todos os demais eram mestrandos e doutorandos, porém, o bom trabalho realizado desde o início não deu espaço para qualquer tipo de discriminação.
Ali, fiz boas amizades, entre alunos e tutores das outras disciplinas; inclusive o Diretor daquele polo, com o qual pude desenvolver um projeto de produção textual; lá, tive a prazerosa oportunidade de realizar acompanhamento didático-pedagógico com vários alunos.
Posteriormente, muitos deles foram aprovados em diversos cursos por meio dos vestibulares do ENEM, UERJ e CEDERJ.
Contudo, uma aluna mereceu atenção especial, porquanto vinha tentando por três anos consecutivos passar no vestibular para cursar Medicina, sem êxito.
O empenho e abnegação da aluna somados a um trabalho didático-pedagógico específico sobre suas demandas, durante todo o ano letivo, logrou êxito e possibilitou à vestibulanda alcançar 960 pontos na redação do ENEM 2014, elevando sua média global e culminando na sua aprovação no Curso de Medicina da UFF, por meio do sistema SISU, para a nossa imensa alegria.
Não há como mensurar o valor desse tipo de conquista, é uma riqueza inestimável que vou recordar por toda a minha vida, carregando em minhas memórias a imagem de cada aluno aprovado, em especial a atual Caloura de Medicina da UFF, e a sensação do dever cumprido com louvor.
Considerações Finais Estas, pois, são as minhas recordações de uma trajetória escolar/acadêmica/profissional de muitos rumores e mudanças de rumos, sem as quais eu não quebraria paradigmas, não transporia limites, não redescobriria a minha identidade e não me reconheceria como cidadão capaz, consciente e crítico.
Deve-se, portanto, lançar continuamente um olhar para o que ficou para trás, sob uma ótica investigativa, para que se possa refletir e repensar sobre o que fomos, o que somos e o que devemos vir a ser enquanto educadores ou simplesmente cidadãos, pois viver é também ter recordações, é esse transcorrer e compartilhar de histórias, saberes e vivências produzindo mudanças em todos os níveis e segmentos.
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